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CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

2.ºANO BTP1

ANA MARGARIDA ALVES DE OLIVEIRA

CLAUDIA SOFIA CORTESÃO OLIVEIRA

GONÇALO CÁ DA SILVA

MARIANA LOPES CATARINO

PATRICIA SOFIA CARDOSO COSTA

RAQUEL NEVES ALBERTO

VITILIGO E O MODELO BIOPSICOSSOCIAL


DA SAÚDE E DA DOENÇA

Coimbra, 2023
ABREVIATURAS

ESenfC – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra


EUA – Estados Unidos da América
GETE – Guia de Elaboração de Trabalhos Escritos

ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................................................................ 3
1.1 ANSIEDADE E DEPRESSÃO ............................................................................................. 3
1.2 MODELO BIOPSICOSSOCIAL DA SAÚDE E DA DOENÇA ......................................... 4
2. VITILIGO E O MODELO BIOPSICOSSOCIAL DA SAÚDE E DA DOENÇA ................ 4
REFLEXÃO CRITICA ..................................................................................................................... 6
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 7
INTRODUÇÃO

No âmbito da unidade curricular de Psicologia da Saúde, relativa ao primeiro semestre do segundo


ano da Licenciatura em Enfermagem, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, foi-nos
proposta a realização de um estudo sobre os efeitos psicológicos decorrentes de doenças, e neste
sentido, focamos o nosso estudo na doença de vitiligo, sob orientação da Professora Doutora Ana
Paula Camarneiro.

Este trabalho tem como objetivos pesquisar, analisar, sintetizar e apresentar a doença de vitiligo numa
perspetiva psicológica; saber mobilizar os conhecimentos da unidade curricular para maior
compreensão psicológica da situação em estudo; desenvolver competências de pesquisa científica em
motores de busca internacionais, e mostrar capacidade de articulação de conhecimentos e síntese de
ideias e conteúdos individuais e em grupo.

Para a concretização do presente trabalho, primeiramente, procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica


e à recolha de artigos científicos sobre os efeitos psicológicos do vitiligo, publicados nos últimos dois
anos, nas plataformas B-on e EBSCO e, posteriormente, foi feita a análise e síntese dos artigos
científicos selecionados.

Relativamente à estrutura do trabalho, este encontra-se dividido em capa, abreviaturas, introdução,


enquadramento teórico, no qual explanamos os conceitos major deste estudo; desenvolvimento, que
contempla a explicação da doença e os efeitos psicológicos apresentados em doentes com vitiligo
tendo em conta a interpretação dos dados recolhidos na pesquisa bibliográfica e a articulação com os
conteúdos lecionados numa breve reflexão critica, e, por último, a conclusão onde refletimos sobre o
cumprimento dos objetivos e a temática do trabalho, e por último as referências bibliográficas.

Para a referenciação da bibliografia utilizada ao longo do trabalho, utilizamos o programa Mendeley


Desktop Manager e este trabalho segue as orientações fornecida pelo Guia de Elaboração de
Trabalhos Escritos (GETE) da ESenfC (Guia de Elaboração de Trabalhos Escritos, 2016).

1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1 ANSIEDADE E DEPRESSÃO

A psicologia oferece uma perspetiva abrangente sobre a ansiedade e a depressão, considerando os


aspetos emocionais, cognitivos e comportamentais dessas condições. A ansiedade pode ser
considerada uma resposta natural do organismo a situações de stress ou perigo quando não se trata
de uma reação exacerbada, desempenhando um papel importante na sobrevivência, preparando o

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corpo para reagir a ameaças. Ou pode levar a comportamentos de hesitação, nos quais as pessoas
evitam situações ou atividades que desencadeiam ansiedade, perpetuando-a num ciclo vicioso. Já a
depressão é classificada como um transtorno do humor pela psicologia, envolvendo um estado
persistente de tristeza, perda de interesse e prazer nas atividades quotidianas, bem como uma série de
sintomas físicos e cognitivos (Ogden, J.,2004). Estes estados estão muitas vezes associados a pessoas
em que a qualidade de vida é afetada pela doença, como por exemplo em doenças dermatológicas que
provocam impacto na vida social do doente. Vários estudos indicam que a ansiedade, depressão, a
condição de obsessivo-compulsivo, e a intenção de suicídio são alguns dos problemas psicológicos
experienciados em doentes com vitiligo, urticária, alopecia, psoríase, entre outras.

1.2 MODELO BIOPSICOSSOCIAL DA SAÚDE E DA DOENÇA

O Modelo Biopsicossocial da Saúde e da Doença apresenta a doença como o produto da influência


multifatorial e do comportamento entre o indivíduo e o meio. Deste modo, tem em conta os fatores
sociais, biológicos e psicológicos de cada indivíduo para entender o seu processo de saúde ou doença.
Este modelo defende que a pessoa é responsável pela sua doença e o tratamento da mesma é feito
numa perspetiva holística que engloba crenças, coping e adesão às recomendações. Em relação aos
fatores psicológicos, podem ser considerados consequências da doença, mas também contribui para
a sua etiologia. Além disso, este modelo considera que a mente e o corpo interagem. As duas entidades
são vistas numa perspetiva de influências mútuas (Engel, 1977).

2. VITILIGO E O MODELO BIOPSICOSSOCIAL DA SAÚDE E DA DOENÇA

“A ideia de que somos seres biopsicossociais aumenta ainda mais a conceção das doenças
psicossomáticas e o vitiligo é um exemplo dessas doenças” (Aquino et al., 2022). Caracterizado por
máculas de despigmentação da pele devidas à perda de melanócitos, o vitiligo tem uma etiologia
desconhecida, associada ao stress e ansiedade, problemas hormonais e autoimunes ou mesmo fatores
genéticos e ambientais (Ning et al., 2022). Segundo os dados analisados da bibliografia utilizada, o
vitiligo afeta cerca de 1% da população mundial e é igualmente prevalente entre homens e mulheres.

Segundo Haseeb e os seus colaboradores, o vitiligo não é apenas uma doença que cause incapacitação
física mas, psicologicamente, tem um impacto enorme (Haseeb et al., 2023), já que a pele tem um
papel importante na nossa interação com o mundo, e a cor da pele é um fator importante na perceção
da saúde das pessoas (Ning et al., 2022).

As máculas visíveis na pele dos indivíduos alteram a imagem corporal e, como tal, levam à
estigmatização por parte da sociedade. Tal estigmatização desperta nas pessoas sentimentos de

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ansiedade, angústia e tristeza, isolamento social e raiva, agravam distúrbios de autoconfiança e
insegurança e conduzem os indivíduos à depressão (Domingues et al., 2022). No estudo feito por
Domingues e os seus colaboradores, realizado no Brasil, consideraram-se 86 indivíduos com vitiligo,
e, contrariamente ao apresentado nos restantes estudos, neste, o vitiligo revelou-se prevalente nas
mulheres (81.4%), consideradas mais propensas a um quadro depressivo e de ansiedade. 65,2% dos
participantes consideram que sofrem de preconceito, mas que, por outro lado, têm suporte familiar
que lhes permitem ultrapassar alguns problemas decorrentes de estigma social (Domingues et al.,
2022). Ainda no decorrer deste estudo, os autores concluíram que os doentes com esta patologia
prestam mais atenção aos cuidados de pele para poderem participar ativamente em atividades ao ar
livre, sociais/lazer. Estes tendem a aprender técnicas para poderem disfarçar as manchas para que
estas não causem um impacto tão grande na sociedade e têm mais atenção à evolução da doença para
poderem antecipar tratamentos das manchas que vão surgindo, melhorando, assim, a sua qualidade
de vida (Domingues et al., 2022).

Na Índia procedeu-se a um estudo em que avaliaram 200 doentes, 84 doentes apresentavam vitiligo
generalizado e 116 vitiligo localizado. Dos 84 doentes com vitiligo generalizado, 12% mostraram que
o vitiligo tem um enorme efeito na qualidade de vida destas pessoas enquanto 8,5% demonstram que
a doença tem um efeito moderado na qualidade de vida destas. Dos doentes estudados, 15,5% dos
doentes com vitiligo generalizado apresentaram depressão severa enquanto apenas 1,5% dos doentes
com vitiligo localizado apresentaram a mesma condição. A insónia, sentimento de culpa e ansiedade
foram os sinais de depressão severa apresentados em maior percentagem de doentes (Padmakar et al.,
2023).

Na China, (Ning et al., 2022) realizaram a um estudo que contou com a colaboração de 117 indivíduos
com vitiligo, identificando, à semelhança de Domingues e os seus colaboradores, em que as mulheres
tendem a ter mais distúrbios sociais e mentais por prestarem grande atenção à sua autoimagem. Neste
estudo Ning et al., verificaram que homens e mulheres têm reações diferentes quando lidam com esta
doença e que as mulheres têm medo que o vitiligo influencie na escolha de parceiros e no
relacionamento conjugal, vulnerabilizando-as (Ning et al., 2022). Este estudo demonstrou também
que pessoas com vitiligo sentem dificuldade a iniciar as suas atividades sexuais por vergonha das
máculas despigmentadas da pele. Além disso verificaram que doentes vitiligo não casados têm mais
sintomas de ansiedade e depressão do que utentes casados (Ning et al., 2022).

De acordo com González et al (2023) a maior afetação sexual feminina manifesta-se na diminuição
da excitação sexual, lubrificação vaginal, capacidade de alcançar o orgasmos e satisfação do mesmo,
enquanto nos homens apenas foi mais notória a diminuição da satisfação sexual. Neste estudo
realizado em Espanha, verificaram ainda que o risco de sofrer depressão em pacientes com vitiligo é
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4,96 vezes maior em comparação com controlos saudáveis, e a prevalência de depressão em pacientes
do sexo feminino ou asiáticos com vitiligo é maior do que em pacientes caucasianos ou homens
(González, 2023).

Os estudos acima mencionados correspondem a estudos de pessoas sem distúrbios psicológicos e


com mais de 18 anos, numa outra faixa etária, um estudo realizado nos EUA considera que a infância
é determinada por um período crucial do desenvolvimento psicossocial, incluindo a formação de
identidade. As crianças com vitiligo estão predispostas à solidão, pela visibilidade das
despigmentações da pele, têm dificuldade em fazer amigos e sofrem de bullying, têm problemas de
aceitação social, depressão e ansiedade, e preferem não praticar atividade física como por exemplo
natação pela necessidade de exposição do corpo. Tais comportamentos marcam fortemente a criança,
fazendo -as recorrer aos amigos e familiares como rede de apoio e suporte (Cruz et al., 2023).

REFLEXÃO CRITICA

O vitiligo pode induzir stress psicossocial e distúrbio psiquiátrico. A pesquisa realizada indica que as
mulheres, pela importância que dão à imagem, são mais suscetíveis de avançar para um quadro de
depressão e ansiedade, comparativamente aos homens. Além disso, pessoas com vitiligo exposto em
diversas partes do corpo desenvolvem mais facilmente problemas psicossociais do que pessoas com
vitiligo localizado numa diminuta área corporal.

De acordo com o modelo biopsicossocial da saúde e doença, a pessoa com vitiligo é a corresponsável
na sua doença, o que se traduz na monitorização articulada entre a pessoa e os profissionais de saúde.
O vitiligo não tem repercussões biológicas significativas, no entanto, o seu tratamento deve ter em
conta a pessoa no seu todo e atender às suas crenças, mecanismos de coping e adesão às
recomendações. Dada a relação contimuum de saúde e doença, a pessoa deve estar desperta aos sinais
e sintomas da mesma, tanto físicos como psicológicos, uma vez que se verifica uma interligação dos
processos psicológicos e biológicos que culminam no comportamento em situação de saúde e doença.
A psicologia na saúde e na doença é, então, fulcral para a compreensão dos processos psicológicos
experimentados pelas pessoas e consequentemente para o ensino e sensibilização dos profissionais
de saúde.

De forma minimizar o impacto psicossocial e o desequilíbrio emocional que pessoas com vitiligo
podem sofrer, é essencial um trabalho multidisciplinar sobre o processo saúde-doença-cuidado, para
que se consiga prestar um cuidado adequado às necessidades das pessoas com vitiligo. Desta forma,
a intervenção de enfermagem e o papel da psicologia na saúde e na doença, são essenciais nos
cuidados de saúde em doentes com vitiligo.
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CONCLUSÃO

Este trabalho, marcado pela análise de conteúdo científico adequado ao vitiligo, contribuiu para
aperfeiçoar a nossa capacidade de olhar para uma pessoa com vitiligo de uma forma mais informada,
não só acerca da doença, mas também do impacto que esta condição tem na vida das pessoas.
Contribuiu, ainda, para aprimorar o nosso pensamento critico e reflexivo nas diferentes situações que
possivelmente ocorrerão enquanto estudantes de enfermagem e, futuramente, enquanto profissionais
de saúde.

É essencial considerar a importância de abordagens holísticas que considerem não apenas os aspetos
biológicos, mas também os fatores psicológicos e sociais na compreensão e tratamento do vitiligo. O
apoio da família e da comunidade desempenha um papel fundamental na promoção do bem-estar
destas pessoas e de uma melhor qualidade de vida. Esta pesquisa enfatiza a necessidade contínua de
estudos e intervenções que considerem a complexidade do vitiligo sob o Modelo Biopsicossocial, a
fim de melhorar o apoio e o tratamento oferecido aos indivíduos que vivem com esta condição.

Este trabalho proporcionou-nos desenvolver espírito crítico e de equipa, e a capacidade de organizar


e sintetizar informação, capacidades que são cruciais para a nossa vida futura enquanto enfermeiros.
Consideramos que os objetivos definidos foram atingidos com sucesso.

As principais dificuldades sentidas pelo grupo foram a escolha dos artigos sustentadores do trabalho
e a síntese organizada dos conteúdos dos mesmos. Contudo, através da conversação entre o grupo,
distribuição de tarefas e da disponibilidade dos membros para a entreajuda, fatores facilitadores deste
trabalho, conseguimos superar estas dificuldades. Um outro fator facilitador bastante relevante para
a concretização do presente trabalho foi a prestabilidade e orientação da professora, sempre que
necessitámos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Cruz, S., Lei, D. K., Carr, H., & Rosenblatt, A. (2023). The psychosocial impacts of vitiligo,
psoriasis, and alopecia areata on pediatric patients. Dermatology Online Journal, 29(2).
https://doi.org/10.5070/D329260765
Domingues, E. A., Silva, F. de S., Kaizer, U. A. de O., Fonseca, J. P. S., Silva, R. S., &
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Dzivielevski, A. M. O. (2022). Living With Vitiligo: Impact of the Disease on the Individuals’
Quality of Life. ESTIMA, Brazilian Journal of Enterostomal Therapy, 1–8.
https://doi.org/10.30886/estima.v20.1231_in
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González, M. C. (2023). Vitíligo y su expresión en la mente; un enfoque humanista. Dermatología
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Haseeb, S., Tariq, H., Batool, S., Rehman, N., Asad, F., Aman, S., & Majeed, A. (2023).
Understanding vitiligo as a psychosocial dilemma. Journal of Pakistan Association of
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