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AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA

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1. NOSSA HISTÓRIA

A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário

1. NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................... 1

Sumário .................................................................................................................... 2

2. Introdução ........................................................................................................... 3

3. Avaliação geriátrica ampla................................................................................. 5

1. História da AGA ........................................................................................................... 7

2. Benefícios e utilidades da AGA .................................................................................... 9

4. Conceitos fundamentais para saúde do idoso e AGA ................................... 10

1. Grandes Síndromes Geriátricas ................................................................................. 12

5. Classificação clínico-funcional do idoso........................................................ 14

6. Testes de avaliação das atividades da vida diária ......................................... 20

1. Escala de Katz ............................................................................................................ 20

2. Protocolo GDLAM ...................................................................................................... 22

3. Escala de Lawton ....................................................................................................... 23

7. Referências ....................................................................................................... 26

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2. Introdução

Temporão ao prefaciar o Caderno de Atenção Básica, n. 19 - Envelhecimento e Saúde


da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006) pontua que a longevidade é, sem dúvida, um triunfo.
Há, no entanto, importantes diferenças entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento. Enquanto, nos primeiros, o envelhecimento ocorreu associado às
melhorias nas condições gerais de vida, nos outros, esse processo acontece de forma
rápida, sem tempo para uma reorganização social e da área de saúde adequada para
atender às novas demandas emergentes.

Portanto, é função das políticas de saúde contribuir para que mais pessoas alcancem
as idades avançadas com o melhor estado de saúde possível. O envelhecimento ativo
e saudável é o grande objetivo nesse processo. Se considerarmos saúde de forma
ampliada torna-se necessária alguma mudança no contexto atual em direção à
produção de um ambiente social e cultural mais favorável para população idosa.

Ele ainda alerta sobre dois grandes erros que devem ser continuamente evitados. O
primeiro é considerar que todas as alterações que ocorrem com a pessoa idosa sejam
decorrentes de seu envelhecimento natural, o que pode impedir a detecção precoce
e o tratamento de certas doenças e o segundo é tratar o envelhecimento natural como
doença a partir da realização de exames e tratamentos desnecessários, originários de
sinais e sintomas que podem ser facilmente explicados pela senescência.

O maior desafio na atenção à pessoa idosa é conseguir contribuir para que, apesar
das progressivas limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir
possibilidades de viver sua própria vida com a máxima qualidade possível. Essa
possibilidade aumenta na medida em que a sociedade considera o contexto familiar e
social e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas idosas.
Portanto, parte das dificuldades das pessoas idosas está mais relacionada a uma
cultura que as desvaloriza e limita.

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As doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) podem afetar a funcionalidade das
pessoas idosas. Estudos mostram que a dependência para o desempenho das
atividades de vida diária (AVD) tende a aumentar cerca de 5% na faixa etária de 60
anos para cerca de 50% entre os com 90 ou mais anos.

Dentro do grupo das pessoas idosas, os denominados “mais idosos, muito idosos ou
idosos em velhice avançada” (idade igual ou maior que 80 anos), também vêm
aumentando proporcionalmente e de forma muito mais acelerada, constituindo o
segmento populacional que mais cresce nos últimos tempos, 12,8% da população
idosa e 1,1% da população total.

É nesse contexto que a denominada “avaliação funcional ou avaliação geriátrica


ampla” torna-se essencial para o estabelecimento de um diagnóstico, um prognóstico
e um julgamento clínico adequados, que servirão de base para as decisões sobre os
tratamentos e cuidados necessários às pessoas idosas. É um parâmetro que,
associado a outros indicadores de saúde, pode ser utilizado para determinar a
efetividade e a eficiência das intervenções propostas.

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3. Avaliação geriátrica ampla
O idoso é um ser em fase complexa, daí uma avaliação geriátrica ampla possibilita
conhecer dentre outras questões:

a)Doenças ocultas:

São múltiplas doenças crônicas coexistem, frequentemente de forma oculta, sendo


que algumas só se tornam aparentes quando causam complicações agudas.

b)Coexistência de múltiplas doenças (Multimorbidade):

Seria a coexistência, em um mesmo indivíduo, de duas ou mais doenças crônicas,


sem relação de causa e efeito e sem que nenhuma delas possa ser considerada como
problema principal.

A multimorbidade torna-se progressivamente mais comum a medida que idade avança.


Está associada a elevada mortalidade, declínio funcional e aumento do uso de
serviços de saúde ambulatoriais e hospitalares.

Idosos procuram, na maior parte das vezes, ajuda médica para seus vários problemas
e não apenas para uma doença especial (GORZONI; COSTA; LENCASTRE, 2011).

d)Polifarmácia:

O uso da Polifarmácia é a prescrição, administração e/ou uso de muitos


medicamentos

e)Incapacidade e perda funcional:

É a dificuldade para realizar atividades típicas e pessoalmente desejadas na


sociedade. Aqui, a avaliação da capacidade funcional dos idosos é importante para
se conhecer como eles vivem os anos adicionais ganhos com o aumento da
longevidade (PARAHYBA et al, 2005).

Segundo Costa (2005), muitos idosos, mesmo recebendo o tratamento adequado para
as doenças que os acometem, continuam apresentando incapacidade para executar
as AIVD e/ou AVD, o que implica em comprometimento da qualidade de vida e pode
significar que existam doenças ainda não diagnosticadas.

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A incapacidade funcional prévia é fator preditivo independente de desfecho
desfavorável em idosos com doenças agudas.

f)Síndromes Geriátricas:

Define-se por múltiplas alterações que concorrem simultaneamente para um único


fenômeno clínico (GORZONI; COSTA; LENCASTRE, 2011).

g)Apresentações atípicas:

Apresentações atípicas são sinais e sintomas que embora não clássicos de uma
doença, mas trazem pistas de uma ou mais doenças que podem estar envolvidas no
processo.

É necessário um alto índice de suspeição, pois geralmente são responsáveis por


diagnósticos tardios e atrasos no tratamento. Isto é, quando não se reconhece o
quadro clínico, há mais hospitalizações, estas podem ser tardias, prolongadas e levar
à mortalidade.

Como afirmam Paixão e Reichenhein (2005),

A Avaliação Geriátrica Ampla é a forma mais adequada de se avaliar o idoso e planejar


as intervenções visando a manutenção e/ou a recuperação da capacidade funcional.

Outras definições para AGA:

A avaliação geriátrica ampla consiste em uma ferramenta composta por escalas que
dimensionam globalmente o paciente idoso permitindo identificar quais são os idosos
com maior fragilidade, além de questão escala avalia multidimensionalmente o
indivíduo e utilizando o método centrado na pessoa.

Várias escalas e exames utilizados aqui não são específicos, portanto podem ser
usados para várias idades. O AGA avalia tanto a autonomia como independência.

A funcionalidade global é a capacidade do indivíduo de cuidar de si mesmo. Ela é


medida pela Escala de Katz (atividades básicas da vida diária) e pela Escala de
Lawton e Brody (atividades instrumentais da vida diária) (CARVALHO, 2018).

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1. História da AGA

A avaliação clínica deve ser individualizada em cada fase da vida. Não há sentido em
se usar o arsenal semiotécnico do recém-nascido para um paciente adolescente.
Assim também ocorre em relação ao idoso. Muitas condições peculiares nessa faixa
etária, como as demências e as quedas, passam despercebidas ou são mal
dimensionadas pela avaliação clínica padrão.

O processo diagnóstico e, por vezes de direcionamento terapêutico do idoso é


conhecido como “Avaliação Geriátrica Ampla” (AGA).

Figura 1 - AGA

A AGA começou a ser utilizada no Reino Unido, no final da década de trinta, com base
no trabalho da médica britânica Marjory Warren. Em 1936, ela assumiu a chefia de
uma unidade do West Middlesex County Hospital, de pacientes crônicos, acamados,
para os quais se acreditava que permaneceriam na instituição pelo resto de suas vidas.

Por meio da avaliação sistemática, com detalhado trabalho diagnóstico, apoio da


enfermagem e da reabilitação, muitos deles receberam alta do hospital.

A AGA é sempre multidimensional, frequentemente interdisciplinar e tem por objetivo


determinar as deficiências e incapacidades apresentadas pelo idoso, objetivando o
planejamento do cuidado e de acompanhamento a longo prazo.

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Ela integra o processo clínico padrão, mas enfatiza a avaliação da capacidade
funcional e da qualidade de vida. Parâmetros objetivos de avaliação, com escalas e
questionários padronizados, são muitas vezes empregados para esse fim.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a


especialidade da Geriatria conta com o procedimento Avaliação Geriátrica Ampla,
procedimento este já inserido na Classificação Brasileira Hierarquizada de
Procedimentos Médicos – CBHPM. É fundamental para avaliação e seguimento
clínico dos pacientes idosos, que por características intrínsecas ao processo do
envelhecimento humano e sua susceptibilidade e vulnerabilidade para múltiplas
condições médicas, de caráter biológico, psicológico e/ou social, necessitam de uma
avaliação médica mais abrangente.

A AGA é composta de vários instrumentos de avaliação, muitos já validados no Brasil,


com farta literatura científica que comprova, não somente sensibilidade e
especificidade nestes rastreios, mas principalmente redução do risco de desfechos
indesejados na saúde global de uma pessoa idosa.

A SBGG, no seu último Congresso bianual em maio de 2012, lançou oficialmente a


AGA-Laudo Técnico da SBGG, que agora disponibiliza aos associados titulados em
Geriatria no formato PDF, com a logomarca, para ser utilizada em documentos oficiais
e nas negociações junto às operadoras de saúde (https://sbgg.org.br/publicacoes-
cientificas/avaliacao-geriatrica-ampla/).

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2. Benefícios e utilidades da AGA

São benefícios potenciais da AGA

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4. Conceitos fundamentais para saúde do idoso e AGA

INDEPENDÊNCIA: É a capacidade individual de executar algo com os próprios meios,


sem a ajuda de outra pessoa.

AUTONOMIA: É a capacidade individual de decisão e comando sobre as ações


(autogoverno), estabelecendo e seguindo as próprias convicções.

CAPACIDADE FUNCIONAL OU FUNCIONALIDADE GLOBAL:

Entende-se por capacidade funcional a capacidade do indivíduo para a manutenção


plena das habilidades físicas e mentais desenvolvidas ao longo da vida, necessárias
e suficientes para que se tenha um cotidiano com independência e autonomia. A
funcionalidade global é a base do conceito de saúde do idoso, que é considerado
saudável quando é capaz de realizar suas atividades sozinho, de forma independente
e autônoma, mesmo que tenha doenças.

Independência e autonomia estão intimamente relacionadas, mas são conceitos


diferentes. Existem pessoas com dependência física, mas capazes de decidir as
atividades de seu interesse. Por outro lado, há pessoas que têm condições físicas
para realizar determinadas tarefas do cotidiano, mas não têm condições de decidir e
escolher com segurança sobre como, quando e onde se envolver nessas atividades.
A perda da independência nem sempre se associa à perda de autonomia: um idoso
com perda da capacidade de deambular, pode perfeitamente gerenciar sua vida com
autonomia e participação social (MORAES; MORAES, 2016).

A cognição é a capacidade mental de compreender e resolver os problemas do


cotidiano. É constituída por um conjunto de funções corticais, formadas pela memória
(capacidade de armazenamento de informações), função executiva (capacidade de
planejamento, antecipação, sequenciamento e monitoramento de tarefas complexas),
linguagem (capacidade de compreensão e expressão da linguagem oral e escrita),
praxia (capacidade de executar um ato motor), gnosia (capacidade de reconhecimento
de estímulos visuais, auditivos e táteis) e função visuoespacial (capacidade de
localização no espaço e percepção das relações dos objetos entre si).

O humor é a motivação necessária para os processos mentais.

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A mobilidade é a capacidade de deslocamento do indivíduo. Depende da
postura/marcha, da capacidade aeróbica e da continência esfincteriana.

A comunicação é a capacidade de estabelecer relacionamento produtivo com o meio


(habilidade de se comunicar). Depende de visão, audição e fala (MORAES; MARINO,
SANTOS, 2010).

Figura 2 – Domínios de saúde do idoso

O declínio funcional é a perda da autonomia e/ou da independência, pois restringe


a participação social do indivíduo. Por sua vez, a independência e a autonomia estão
intimamente relacionadas ao funcionamento integrado e harmonioso de sistemas
funcionais como a cognição, humor/comportamento, mobilidade e comunicação. A
perda da independência e/ou autonomia é decorrente das principais incapacidades
associadas ao envelhecimento, conhecidas como as “Grandes Síndromes Geriátricas”
ou “Gigantes da Geriatria” (PEREIRA; ROSA, 2018).

Qualquer avaliação de saúde dos idosos deve ter seu início com a avaliação da
funcionalidade global. Para isso, existem diversas propostas como as escalas de Katz
e Lawton (PEREIRA; ROSA, 2018).

Descritas inicialmente por Isaacs, as grandes síndromes geriátricas não incluíam a


incapacidade comunicativa e a insuficiência familiar. Sua inclusão deve ser

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contemplada, pois são síndromes frequentes e que atuam diretamente na saúde do
idoso. Diversas outras condições são hoje consideradas como síndromes geriátricas
e entre elas merecem destaque a fragilidade e a sarcopenia.

1. Grandes Síndromes Geriátricas


A perda das funções faladas acima leva à incapacidade cognitiva, instabilidade
postural, imobilidade e incapacidade comunicativa que compõem o quadro das
grandes síndromes geriátricas.

Figura 3 – Grandes síndromes geriátricas

O desconhecimento das particularidades do processo de envelhecimento pode gerar


intervenções capazes de piorar o estado de saúde da pessoa idosa – a iatrogenia,
que representa todo o malefício causado pelos profissionais da área de saúde. A
incontinência urinária também é reconhecida como uma das grandes síndromes
geriátricas. Ela afeta a independência do indivíduo, comprometendo, indiretamente, a
função de mobilidade. O idoso com incontinência esfincteriana sofre limitação de sua
participação social, em virtude da insegurança gerada pela perda do controle

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miccional. A família, por sua vez, é outro elemento fundamental para o bem-estar
biopsicossocial e sua ausência, a insuficiência familiar, é capaz de desencadear ou
perpetuar a perda de autonomia e independência do idoso (PEREIRA; ROSA, 2017).

Reparem nas ilustrações acima e esta que contempla um modelo multidimensional de


saúde do idoso.

Figura 4 – Modelo multidimensional de saúde do idoso

Anote aí:

Moraes e al (2017) reforçam que a presença de declínio funcional capaz de restringir


a autonomia e a independência do indivíduo não pode ser atribuída ao envelhecimento
normal, mas sim à presença de incapacidade funcional, resultante das Grandes
Síndromes Geriátricas, de forma isolada ou associada (poli-incapacidades).

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Este declínio funcional não deve ser considerado “normal da idade”, pois representa
o principal determinante de desfechos negativos, como o desenvolvimento de outras
incapacidades e piora funcional, institucionalização, hospitalização e morte.
Usualmente as causas são múltiplas e multifatoriais, frequentemente associadas à
presença de doenças crônico-degenerativas, polifarmácia, sarcopenia e alto risco de
iatrogenia.

5. Classificação clínico-funcional do idoso

A funcionalidade global do indivíduo sempre foi fundamental para qualquer


classificação de idosos. Em 1943, Marjory Warren, considerada a “mãe da geriatria”
(“mother of geriatrics”), propôs uma classificação baseada na presença de vários tipos
de incapacidades, como a instabilidade postural, imobilidade, incontinência urinária e
incapacidade cognitiva.

Esta classificação pioneira de idosos internados em enfermaria permitiu o


planejamento de recursos humanos e materiais necessários para a implementação de
ações específicas para cada grupo de idosos.

Em 1963, Katz (Katz et al., 1963 apud MORAES et al, 2017) desenvolveu um índice
capaz de estratificar os indivíduos conforme o grau de dependência nas atividades de
vida diária relacionadas ao autocuidado. Com o índice, houve uma clara distinção
entre idosos independentes e dependentes para as atividades de vida diária básicas
(AVD básicas), associada a uma clara hierarquia entre os idosos dependentes.

Assim, o idoso pode ser classificado em:

Independente: realiza todas as atividades básicas de vida diária de forma


independente;

Semi-dependente: apresenta comprometimento de uma das funções influenciadas


pela cultura e aprendizado (banhar-se e/ou vestir-se e/ou usar o banheiro);

Dependente incompleto: apresenta comprometimento de uma das funções


vegetativas simples (transferência e/ou continência), além de, por decorrência lógica,

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ser dependente para banhar-se, vestir-se e usar o banheiro. A presença isolada de
incontinência urinária não deve ser considerada, pois é uma função e não uma
atividade;

Dependente completo: apresenta comprometimento de todas as funções


influenciadas pela cultura e aprendizado e, também, das funções vegetativas simples,
incluindo a capacidade de alimentar-se sozinho. Representa o grau máximo de
dependência funcional.

Posteriormente, em 1969, Lawton e Brody, confirmaram a importância da avaliação


da funcionalidade do indivíduo nas atividades básicas de vida diária, mas sugeriram a
avaliação de competências mais complexas do funcionamento humano, denominadas
AVD instrumentais, relacionadas à automanutenção.

Assim, os idosos podem ser independentes ou dependentes parciais ou totais para as


AVD instrumentais. Usualmente o declínio funcional segue uma hierarquia, iniciando-
se pelas AVD mais complexas (avançadas e instrumentais) até comprometer o auto-
cuidado (AVD básicas). Além disso, pode ser consequência do envolvimento isolado
ou associado de domínios funcionais.

A estratificação clínico-funcional do idoso depende diretamente desta classificação


funcional. Estas escalas são indispensáveis para uma avaliação objetiva do idoso e
para formulação, implementação e avaliação do plano de cuidados.

A síntese de todos estes conceitos e definições foram integrados para uma nova
metodologia de Classificação Clínico-Funcional do Idoso, baseado em uma visão de
saúde pública, fortemente ancorado na multidimensionalidade dos determinantes da
saúde do idoso, sem desprezar a importância das doenças ou das alterações físicas,
como a sarcopenia.

Neste Modelo Multidimensional de Saúde do Idoso proposto por Moraes e Lanna


(2014), utiliza-se uma Escala Visual de Fragilidade (EVF), onde se apresenta a
relação inversamente proporcional entre vitalidade e fragilidade e, consequentemente,
a presença de declínio funcional iminente e estabelecido, o grau de dependência
funcional nas atividades de vida diária, além dos determinantes do declínio funcional.
A EVF sintetiza todas as informações úteis para o diagnóstico e elaboração do plano
de cuidados do idoso.

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Figura 5 – Escala visual-analógica de fragilidade

A definição do estrato clínico-funcional deve considerar o melhor desempenho atual


nas atividades de vida diária. Assim, se o idoso é capaz de realizar algumas AVD
instrumentais, ele deve ser classificado no estrato 7, mesmo que tenha perdido
alguma AVD básica.

Além da heterogeneidade funcional, os idosos frágeis também apresentam diferenças


quanto à complexidade clínica e necessidade de acompanhamento geriátrico-
gerontológico especializado. Desta forma, estes grupos podem ser agrupados em:

a) Idoso Frágil de Baixa Complexidade: apresenta declínio funcional


estabelecido e baixo potencial de reversibilidade clínico-funcional. Nestes
idosos, o acompanhamento geriátrico-gerontológico especializado não
necessita ser feito de forma intensiva e o foco das intervenções é a prevenção
da piora funcional.

b) Idoso Frágil de Alta Complexidade: apresenta dependência funcional nas


atividades de vida diária associada a condições de saúde de difícil manejo,

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devido a dúvida diagnóstica ou terapêutica. O termo “alta complexidade” sugere
elevado potencial de ganho funcional ou de qualidade de vida. Estes idosos
são aqueles que mais se beneficiam do acompanhamento intensivo de equipes
geriátrico-gerontológicas especializadas.

c) Idoso Frágil em Fase Final de Vida: apresenta alto grau de dependência


funcional e sobrevida estimada menor que seis meses. Apesar da existência
de uma clara associação entre maior grau de declínio funcional e maior
mortalidade, alguns idosos podem estar relativamente preservados
funcionalmente e apresentar doenças com alto potencial de mortalidade, como
determinados tipos de neoplasia, por exemplo. O foco das intervenções é o
cuidado paliativo, baseado no conforto do paciente e seus familiares.

A escala visual de fragilidade apresenta as seguintes vantagens:

Abrangência: a escala está ancorada na multidimensionalidade dos determinantes


da saúde do idoso, sem desprezar a importância das doenças ou das alterações
físicas, incluindo os marcadores de fragilidade descritos por Fried (2001 apud
PEREIRA; ROSA, 2017), além das doenças, a polipatologia e a polifarmácia;

Facilidade na aplicação: não exige nenhum instrumental sofisticado ou de difícil


acesso, podendo ser aplicada em qualquer cenário de atendimento a idosos, como
ambulatório, domicílio, instituição de longa permanência, centro dia e em ambiente
hospitalar. Concilia aspectos objetivos e subjetivos da avaliação do idoso.

Clareza e facilidade de visualização: a escala é visual e incorpora conceitos


fundamentais para a compreensão do processo de envelhecimento, como
senescência, senilidade, vitalidade, fragilidade, declínio funcional e AVD. Os estratos
de 1 a 10 valorizam a heterogeneidade entre idosos da mesma faixa etária.

Monitoramento longitudinal: permite o acompanhamento longitudinal da saúde do


idoso, facilitando a visualização dos resultados das intervenções geriátrico-
gerontológicas implementadas;

Planejamento dos serviços de saúde: a escala estabelece critérios mais objetivos


de acompanhamento geriátrico-gerontológico especializado;

Definição de metas terapêuticas e priorização dos cuidados: a estratificação


clínico-funcional facilita a definição dos objetivos a serem atingidos em cada paciente,

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individualizando as metas terapêuticas. Assim, nos idosos robustos, as metas
terapêuticas podem se assemelhar àquelas estabelecidas pelas diretrizes clínicas
baseadas em doenças. Por outro lado, nos idosos com maior grau de dependência ou
em fase final de vida, as metas terapêuticas devem priorizar o conforto, pois a perda
funcional já é significativa e as estratégias preventivas clássicas devem ser revistas.

Moraes (2017) frisa que a definição do estrato clínico-funcional e do plano de cuidados


exige a realização de uma avaliação multidimensional do idoso.

Reforçamos que a AGA é considerada o padrão-ouro para o manejo da fragilidade do


idoso. Diversas evidências têm demonstrado sua efetividade tanto em relação a
custos para o sistema como em resultados de saúde para o paciente. Idealmente deve
ser realizada por equipe geriátrico-gerontológica especializada e sua duração média
varia de 60 a 90 minutos.

Classicamente, é necessária a aplicação de diversos instrumentos ou escalas de


avaliação funcional (resumidos no quadro abaixo) e de avaliações específicas
realizadas pela equipe interdisciplinar (neuropsicologia, fisioterapia, terapia
ocupacional, fonoaudiologia, farmácia, nutrição, serviço social e enfermagem). Muitas
vezes propedêutica complementar mais sofisticada (tais como densitometria óssea,
tomografia computadorizada, ressonância magnética) também é necessária
(MORAES et al, 2017).

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Figura 6 – Escalas da avaliação funcional

Na última unidade apresentamos alguns destes testes.

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6. Testes de avaliação das atividades da vida diária

Segundo Vale et al (2017), a avaliação funcional, preconizada pela Política Nacional


de Saúde da Pessoa Idosa, determina o comprometimento funcional da pessoa idosa
e a necessidade de auxílio. Pode ser compreendida como uma tentativa sistematizada
de avaliar de forma objetiva os níveis nos quais uma pessoa está funcionando em
numa variedade de áreas utilizando diferentes habilidades. Caso não seja, deve-se
verificar se essa necessidade de ajuda é parcial, em maior ou menor grau, ou total.
Usualmente, utiliza-se a avaliação no desempenho das atividades cotidianas.
Didaticamente, essas atividades são subdivididas em: AVDs e atividades
instrumentais da vida diária (AIVDs). As AVDs relacionam-se ao autocuidado, sendo
atividades essenciais para cuidar do próprio corpo. São exemplos de AVDs: alimentar-
se, banhar-se, vestir-se, mobilizar-se, deambular, ir ao banheiro e manter controle
sobre suas necessidades fisiológicas.

As AIVDs são as atividades necessárias para a adaptação e a interação com o meio.


Elas abarcam: utilizar meios de transporte, manipular medicamentos, realizar compras,
executar tarefas domésticas leves e pesadas, utilizar o telefone, preparar refeições e
cuidar das próprias finanças. As AIVDs estão, portanto, relacionadas à participação
do idoso em seu entorno social e indicam a capacidade de levar uma vida
independente dentro da comunidade. As avaliações funcionais enfatizam as AVDs. O
Índice de Katz é uma escala muito utilizada. Outro instrumento que vem sendo
bastante citado e utilizado para avaliar a autonomia funcional nas AVDs é o protocolo
GDLAM de autonomia. Em relação às AIVDs, Lawton propôs um instrumento para
avaliá-las. Alguns destes instrumentos de avaliação são descritos a seguir.

1. Escala de Katz

O Índice de Independência em Atividades Básicas de Vida Diária de Sidney (Katz) é


um dos instrumentos utilizados para avaliar a capacidade funcional nas AVDs.

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Essa escala foi planejada para avaliar a habilidade do idoso em desempenhar
atividades cotidianas, classificando-o como independente ou dependente em seis
funções: tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, transferência, continência e
alimentação. Tais funções são consideradas básicas e biopsicossocialmente
integradas.

Cada função possui três opções categorizadas desde independente até dependente.
A partir dos resultados, pode-se determinar possíveis necessidades de intervenção. A
independência significa que a função é realizada sem supervisão. É válido frisar que
essa avaliação é feita de acordo com a situação real do idoso e não com a habilidade
de realizar a tarefa sem auxílio de terceiros. Portanto, se o sujeito tem capacidade de
executar uma função, mas se nega a cumpri-la, ou se as condições ambientais são
desfavoráveis, considera-se que ele não a realiza.

Por exemplo, um idoso que necessita da presença de alguém dentro do banheiro para
que possa tomar banho é considerado dependente, apesar de ser capaz de realizar o
ato sem o auxílio direto. Abaixo é descrita a classificação do Índice de Katz pelo
número de funções nas quais o indivíduo avaliado é dependente (VALE et al, 2017).

Figura 7 – Escala de atividades básicas de vida diária – Índice de Katz

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A escala mostra-se útil para evidenciar a dinâmica da instalação da incapacidade no
processo de envelhecimento, estabelecer prognósticos, avaliar as demandas
assistenciais, determinar a efetividade de tratamentos, além de contribuir para o
ensino do significado de “ajuda” em reabilitação.

2. Protocolo GDLAM

A autonomia funcional (AF) voltada para o desempenho das AVDs pode ser analisada
por intermédio do protocolo GDLAM de autonomia funcional, o qual é constituído por
cinco testes: caminhar 10 m (C10m), levantar-se da posição sentada (LPS) cinco
vezes consecutivas, levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV), levantar-se da
cadeira e locomover-se pela casa (LCLC) e o teste de vestir e tirar uma camiseta
(VTC).

Os idosos avaliados devem executar duas tentativas em cada teste, com intervalo de
cinco minutos entre elas. Registra-se o menor tempo em segundos. Após a
mensuração do tempo de cada teste, calcula-se o índice GDLAM de autonomia (IG)
em escores utilizando-se a seguinte fórmula:

Em que C10m, LPS, LPDV, VTC e LCLC correspondem ao tempo aferido em


segundos e IG é o índice GDLAM de autonomia em escores. Quanto menor for o
escore, melhor é o resultado. A análise dos resultados pode ser feita observando-se
a categoria de idade a cada cinco anos a partir dos 60 anos de idade conforme
classificação do IG (VALE et al, 2017).

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3. Escala de Lawton

As Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs) são consideradas mais complexas


do que as AVDs. O desempenho nessas atividades está diretamente relacionado à
capacidade de vida comunitária independente. Realizar tais atividades torna as
pessoas idosas mais autoconfiantes para a vida. O grau de limitação apresentado
para o desempenho das AIVDs permite determinar se o idoso é ou não capaz de
manter uma vida independente.

O objetivo da escala de Lawton é avaliar o desempenho funcional do idoso em termos


de atividades instrumentais. São avaliadas nove funções da AIVD. As questões são
respondidas com uma escala de Likert, que vai de 3 a 1. As opções são,
respectivamente: sem ajuda, com ajuda parcial e não consegue.

Para cada questão, a primeira resposta significa independência, a segunda,


dependência parcial ou capacidade com ajuda, e a terceira, dependência. A
pontuação máxima é de 27 pontos. Essa pontuação serve para o acompanhamento
do idoso, tendo como base a comparação evolutiva. As questões 4 a 7 podem ter
variações conforme o gênero e podem ser adaptadas para atividades como subir
escadas ou cuidar do jardim. Com os resultados, sugere-se a elaboração de um
projeto terapêutico para os idosos classificados como mais dependentes.

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Figura 8 – Escala de Lawton

O Brasil será, em breve, um dos países com maior contingente de idosos no mundo.
Todos devemos nos preparar para enfrentar os desafios econômicos, sociais, e
sobretudo de saúde, para que possamos encontrar maneiras mais apropriadas de
conduzi-los. A abordagem das condições de saúde do idoso não deve ser
exclusividade de especialistas. Ferramentas como as apresentadas neste texto
permitem avaliar rápida e eficientemente a situação de saúde de um indivíduo e se
tornam, para qualquer profissional de saúde, passo fundamental na condução
terapêutica da pessoa idosa (UNIMED/BH, 2015).

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Anote aí:

Três conceitos importantes são interdependentes e interligados: autonomia,


independência e dependência.

A autonomia pode ser entendida como o autogoverno e se expressa na liberdade para


ação e tomada de decisões.

A independência denota a capacidade de realizar as atividades sem ajuda de outra


pessoa.

Em contrapartida, a dependência significa não ser capaz de realizar as atividades


cotidianas sem o auxílio de alguém.

Dessa forma, a capacidade funcional pode ser definida como um conjunto de


competências comportamentais relacionadas ao manejo da vida diária sem ajuda de
outra pessoa, e está dimensionada nos termos da habilidade e independência para
realizar determinadas atividades. Ela pode ser expressa como a funcionalidade do
indivíduo na saúde física em sua independência cognitiva.

Esse conceito forma um indicativo da saúde para a avaliação do idoso.

No envelhecimento saudável, há uma interação multidimensional entre saúde física e


mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e
independência econômica.

O conceito de saúde do idoso está relacionado com sua capacidade funcional de


decidir e executar as AVDs com autonomia e independência.

Nesse sentido, a avaliação do nível de capacidade funcional pode balizar as


intervenções direcionadas a essa população, pois é importante para a determinação
do risco de dependência futura, da complicação ou instauração das doenças crônicas,
de probabilidade de quedas e de índices de morbimortalidade (ANDREOTTI; OKUMA,
1999).

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7. Referências
ANDREOTTI, R.A.; OKUMA, S.S. Validação de uma bateria de testes de atividades
da vida diária para idosos fisicamente independentes. Rev Paul Educ Fís.
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