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O conceito de transição epidemiológica refere-se às mudanças ocorridas, no tempo, nos padrões de morbidade,
invalidez e morte que caracterizam uma população específica e diante do fenômeno do envelhecimento da
população brasileira, existe a premente necessidade de estruturação de serviços e de programas de saúde que
possam responder às demandas emergentes do novo perfil epidemiológico do país. O aumento da população idosa
modifica o panorama dos agravos à saúde (transição epidemiológica). As afecções clínicas crônicas não
transmissíveis, assim como a associação entre elas, tornam-se mais prevalentes.
Mudança na morbimortalidade:
Então se eu mudar o fator Razão, posso evitar a morbidade e mortalidade ainda haja o fator causa. Sendo essa
uma das ações necessárias para a preparação para lidar com a nova realidade demográfica.
Então, qual a razão dos óbitos dos idosos brasileiros? A maioria das mortes ocorre como complicações de
doenças cuja prevenção e controle têm custo relativamente baixo e não envolvem procedimentos tecnológicos
complexos. Muitas delas são provocadas por hábitos de vida deletérios e a maioria, especialmente as neoplasias, o
diabetes e as cardiopatias, poderiam ser adiadas, prevenidas ou detectadas precocemente, em estágios ainda
suscetíveis à cura. Estas mortes “evitáveis” representam no Brasil 2/3 dos óbitos de idosos de 60 a 79 anos, e
subtraem 20% da sua expectativa de vida aos 60 anos (Kanso et al., 2013).
A prevenção ou o controle das “doenças evitáveis” por meio de procedimentos de baixa complexidade
possibilitará a redução dos gastos com internações hospitalares e seu redirecionamento para os programas de saúde
de nível ambulatorial. Estas ações contribuiriam não só para a redução adicional dos custos, mas principalmente para
a melhora da qualidade de vida dos idosos.
Considerando o período sobre o qual existem informações, pode-se dizer que a população brasileira vivenciou as
mais elevadas taxas de crescimento entre as décadas de 1950 e 1970, chegando a 3% ao ano. A partir daí, iniciou-se
um processo de declínio, como resultado de uma redução acentuada nos níveis de fecundidade, iniciada na segunda
metade dos anos 1960. Esta redução mais do que compensou a queda da mortalidade, também em curso no país
desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Esses dois processos já provocaram duas consequências. A primeira, mencionada anteriormente, uma queda nas
taxas de crescimento da população como um todo. A segunda é expressa por mudanças significativas na estrutura
etária no sentido do seu envelhecimento. Isso significa uma alteração na proporção dos diversos grupos etários no
total da população.
Uma das preocupações apontadas na literatura com relação a esse processo diz respeito ao crescimento
acentuado de um segmento populacional considerado inativo ou dependente visàvis a um encolhimento do
segmento em idade ativa.
Antes de iniciar a discussão sobre o processo de envelhecimento populacional, convém ressaltar as diferenças
entre envelhecimento individual e populacional. Um indivíduo envelhece à medida que a sua idade aumenta. Este é
um processo irreversível, natural e individual. É acompanhado por perdas progressivas de função e de papéis sociais,
um processo único que depende de capacidades básicas, adquiridas e do meio ambiente. Pode ser medido pela
esperança de vida ao nascer.
Aceitando que é a idade que define essa fase da vida, o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso definem
como população idosa a de 60 anos ou mais.
A contemporaneidade contribuiu para longevidade e pode ser exemplificada pela comparação de outras
décadas, um idoso em 2024 tem mais ferramenta para o cuidado do que um em 2000. Além da contribuição da
cultura do cuidado.
Feminização da velhice:
Mesmo que a velhice não seja universalmente feminina, tem forte componente de gênero. Por exemplo,
mulheres idosas experimentam maior probabilidade de ficarem viúvas e, muitas vezes, em situação socioeconômica
desvantajosa. Além disso, embora vivam mais do que os homens, passam por um período maior de debilitação física
antes da morte do que eles (Nogales, 1998; Camarano et al., 2007), o que as torna mais dependentes de cuidado,
apesar de serem as tradicionais cuidadoras. O cuidado com membros dependentes da família é determinado pelas
trocas intergeracionais e apresenta fortes características de gênero (Camarano, 2005). Cuidar de netos é, em geral,
visto como uma extensão do trabalho doméstico feminino. No Brasil, é relativamente elevada a proporção de
mulheres morando sozinhas, aproximadamente 18% em 2013, e de residentes na casa de outros parentes, 13%. 10
Também predominam entre os residentes nas instituições de longa permanência; constituem aproximadamente
57,6% do total (Camarano et al., 2010).
Por outro lado, as mulheres, mais do que os homens, participam de atividades extradomésticas, de organizações
e movimentos de mulheres, fazem cursos especiais, viagens e trabalho remunerado temporário. Diferentemente do
que fizeram na sua vida adulta, progressivamente assumem o papel de chefes de família e de provedoras (Camarano,
2003). Já homens mais velhos têm maiores dificuldades de se adaptarem à saída do mercado de trabalho (Goldani,
1999; Simões, 2004).
Uma mulher que completou 80 anos em 2015 deverá viver em média mais 10 anos, enquanto um homem deverá
viver mais 8 anos. Em 2030 esta sobrevida será de 11 e 10 anos, respectivamente.
Erikson fala de duas principais possibilidades: procurar novas formas de estruturar o tempo e utilizar sua
experiência de vida em prol de viver bem os últimos anos ou estagnar diante “do terrível fim”, quando desaparecem
pouco a pouco todas as fontes de carícia se vão e o desespero toma conta da pessoa.
Erikson (1987), faz uma ressalva acerca das crises e de suas consequências na construção da personalidade. Em
suas palavras, “uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de
personalidade (...). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu
desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade
vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades
da vida – com algumas sobras de entusiasmo vital?” (Erikson, 1987, p. 91)
A avaliação geriátrica ampla (AGA) é a resposta a essa complexidade e geralmente inclui a avaliação do paciente
em vários domínios, sendo mais comumente incluídos o físico (médico), o mental, o social, o funcional e o ambiental.
A condição funcional do paciente com idade avançada é um dos parâmetros mais importantes da avaliação
geriátrica. O termo funcional é usado em seu sentido estrito, cujo significado é a habilidade do idoso de funcionar na
arena da vida diária. A evidência de declínio funcional faz pressupor a existência de doença ligada ao quadro e que,
algumas vezes, não está diagnosticada, decorrente, em geral, das manifestações clínicas atípicas inerentes a essa
faixa etária, constituindo um desafio à prática clínica.
A AGA pode ser feita pelo médico em seu consultório, no entanto, é melhor realizada por uma equipe
interdisciplinar, nos diferentes locais de atendimento ao idoso, como prontosocorro, enfermaria, centro de
reabilitação, ambulatório, clínicas de outras especialidades e em programas de atendimento domiciliar.
Os parâmetros avaliados pela AGA são: Equilíbrio, mobilidade e risco de quedas; Função cognitiva; Condições
emocionais; Deficiências sensoriais; Capacidade funcional; Estado e risco nutricional; Condições socioambientais;
Polifarmácia e medicações inapropriadas; Comorbidades e multimorbidade; Outros.
• Avaliação de sarcopenia: A mensuração da massa muscular pode ser feita por meio de métodos
antropométricos, e/ou da bioimpedância e/ou da densitometria corporal total.
• Velocidade de marcha: É medida pelo tempo, em segundos e milésimos de segundo, que o indivíduo leva para
percorrer 4 metros. O cálculo é feito pela média de três tentativas (normal > 0,8 m/s) e avalia o desempenho
muscular.
• Circunferência da panturrilha: É a medida mais sensível e mais utilizada para avaliação da massa muscular em
idosos (normal ≥ 31 cm). A técnica para realizar esta medida é descrita no tópico “Estado e risco nutricional”
neste mesmo capítulo.
• Força de preensão palmar: Está relacionada a força total do corpo. Utilizase o dinamômetro manual modelo
Jamar ® e é realizada com o indivíduo sentado com ombro aduzido e neutramente rodado, cotovelo flexionado a
90°, antebraço em posição neutra e o punho entre 0° e 30° de extensão e 0° a 15° de desvio ulnar. Quase não
utilizado pois não há consenso nos resultados normais na literatura.
• Fluência verbal: A fluência verbal (FV) avalia predominante a linguagem e a memória semântica, além da função
executiva. Tratase de teste rápido e com notas de corte definidas pela escolaridade. Solicitase ao paciente
relacionar o maior número de itens de uma categoria semântica (p. ex., frutas, animais) ou fonêmica (palavras
que se iniciam com determinada letra) em um minuto. Em nosso meio, utilizase mais frequentemente a categoria
semântica nomeando animais/minuto. A interpretação é a contagem do número de itens, excluindo as
repetições, as oposições regulares de gênero (p. ex., gato/gata computa apenas 1 e boi/vaca computa 2). O
normal para indivíduos com escolaridade menor que 8 anos é de no mínimo 9 itens e para indivíduos com
escolaridade de oito e mais anos é de no mínimo 13 itens.
• Teste do desenho do relógio: O teste do desenho do relógio (TDR) avalia as funções executivas, memória,
habilidades visuoconstrutivas, abstração e compreensão verbal. Tem a vantagem de ser de fácil aplicação. Para
realizálo, forneça ao paciente papel em branco, lápis ou caneta. Em seguida, solicite ao indivíduo que desenhe
um relógio com todos os números e os ponteiros marcando 2:45 (duas horas e 45 min). Devido à limitação deste
teste em indivíduos com baixa escolaridade, recomendase utilizar naqueles com no mínimo 4 anos de
escolaridade.
• Escala de depressão geriátrica: A GDS é utilizada para rastreio de quadros depressivos em idosos, pois nesta faixa
etária as manifestações são muito atípicas.
Deficiências sensoriais:
Os déficits sensoriais são muito comuns nos idosos e representam motivo de perda de qualidade de vida,
tornando-se empecilho para a realização das atividades de vida diária. Essas limitações sensoriais podem levar ao
isolamento social, ao risco maior de quadros confusionais e a quedas.
Capacidade funcional:
A capacidade funcional é definida como a aptidão do idoso para realizar determinada tarefa que lhe permita
cuidar de si mesmo e ter uma vida independente em seu meio.
As escalas mais utilizadas para avaliação das atividades básicas de vida diária (ABVD) no nosso meio são a
Escala de Katz e o Índice de Barthel.
• Katz:
• Berthel:
Viver sozinho desestimula o indivíduo a preparar alimentos; restrições funcionais podem incapacitá-lo de ir às
compras e de cozinhar, por exemplo. Pacientes em condições sociais adversas e do sexo masculino são mais
suscetíveis aos quadros de desnutrição.
Condições socioambientais:
Polifarmácia:
Comorbidades e multimorbidade:
Outros parâmetros:
Um parâmetro importante é a autoavaliação da saúde do indivíduo que tem sido muito utilizada em
trabalhos populacionais, mas que é um importante item a ser avaliado na AGA, pois tem se mostrado uma
informação relevante sobre a saúde do indivíduo.
VES–13 – Vulnerable Elders Survey (Inquérito de Idosos Vulneráveis) 13: foi desenvolvido com o objetivo de
identificar idosos vulneráveis residentes na comunidade.
FONTE: Tratado de Geriatria e Gerontologia, 4°ed.
A perda auditiva pode ser classificada como de condução (em que o estímulo sonoro se perde em estruturas
do ouvido externo ou médio, sem atingir a cóclea), sensorineural (em que há problemas cocleares ou no nervo
vestibulococlear) ou mista. A perda auditiva de condução também é chamada de periférica, enquanto a
sensorineural é denominada de central. A partir da quarta década de vida, o aparelho auditivo humano
(especialmente nos homens) é progressivamente mais suscetível às consequências do envelhecimento.
A presbiacusia é a doença neurodegenerativa mais comum. Pode ser consequência de lesões nas células
sensórias do órgão de Corti (com perdas para sons de alta frequência), nos neurônios aferentes (com perda na
capacidade de discriminar palavras), na estria vascular (com redução do volume do som ouvido), na membrana
basilar (com perda de mais de 50 dB em todas as frequências) ou no sistema nervoso central (com dificuldade de
compreender o som que é ouvido).
Na presbiacusia, apesar do aumento do limiar para a percepção sonora (os sons precisam ter maior intensidade para
serem ouvidos), a tolerância à intensidade do som mantém-se inalterada, estreitando o espectro acústico útil. O
fenômeno do recrutamento, em que a sensação de intensidade sonora experimentada pelo paciente cresce
desproporcionalmente ao real aumento da intensidade física do som, prejudica ainda mais sua capacidade auditiva.
Queixas de zumbido podem ocorrer, na medida em que a perda auditiva torna-se mais significativa.
Exposição a ruídos, solventes, tabagismo, diabetes melito, doenças das vias respiratórias, infecções (vírus e bactérias)
e medicamentos (diuréticos, quimioterápicos e antibióticos) podem estar relacionados com a enfermidade.
Medicamentos e solventes industriais causam perda auditiva por meio da indução de lesão oxidativa.
Supõe-se que as alterações metabólicas decorrentes do diabetes melito levariam à hipoxia celular, com liberação de
radicais livres de oxigênio, desestabilizando colágeno e microtúbulos celulares. Essas alterações levariam à apoptose
celular, com perda auditiva. Assim como o diabetes melito, a dislipidemia e a hipertensão arterial sistêmica também
podem comprometer a irrigação da estria vascular, causando disfunção na produção de endolinfa e, em última
análise, interferindo na transmissão coclear do som.
A reabilitação aural tradicional compreende o treinamento auditivo e a instrução para compreensão da fala.
Ambos podem facilitar a aceitação da realidade da perda auditiva, auxiliar na adaptação inicial ao aparelho de
amplificação sonora individual e melhorar a percepção sonora mais intensamente que em idosos não treinados. O
objetivo da reabilitação é facilitar a comunicação a partir do aproveitamento total da capacidade auditiva residual.