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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS


PROFESSOR MILTON SANTOS
BACHARELADO INTERDISCIPLINAR DE SAÚDE

ALISSON DOS ANJOS SANTOS


ANA PAULA MEIRA GOMES DE CARVALHO
DAVID ROSA GONÇALVES
JÚLIA SPÍNOLA ÁVILA
LHAÍS RODRIGUES GONÇALVES
NAIARA FONSECA DE SOUZA

ANSIEDADE/DEPRESSÃO EM ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA

Salvador
2019
ALISSON DOS ANJOS SANTOS
ANA PAULA MEIRA GOMES DE CARVALHO
DAVID ROSA GONÇALVES
JÚLIA ÁVILA SPINOLA
LHAÍS RODRIGUES GONÇALVES
NAIARA FONSECA DE SOUZA

ANSIEDADE/DEPRESSÃO EM ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA

Trabalho apresentado à docente Letícia


Marques, na disciplina HACA 78 – Oficina de
textos acadêmicos em saúde do Bacharelado
Interdisciplinar em Saúde da Universidade
Federal da Bahia, como parte das avaliações
do semestre 2019.1.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Letícia Marques

Salvador
2019
RESUMO

A ansiedade e a depressão podem ser consideradas, atualmente, como as


responsáveis por grande parte dos transtornos mentais enfrentados por estudantes de
universidades, com consequências significativas para a qualidade de vida, saúde e
desempenho acadêmico dos estudantes. Dessa forma, este artigo, tem como objetivo
identificar, por meio de uma revisão sistemática de literatura, os principais aspectos
familiares, sociais e individuais, que contribuem para a ocorrência de ansiedade e
depressão em universitários. Para a realização da investigação, foram usados somente
artigos empíricos, que estivessem em língua portuguesa e que foram publicados entre
2009 e 2019. A busca foi realizada nas bases de dados Scielo e a Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), com os descritores: universitários AND saúde mental AND depressão OR
ansiedade; universitários AND transição AND depressão OR ansiedade; universitários
AND mercado de trabalho AND depressão OR ansiedade; universitários AND família
AND depressão OR ansiedade; universitários AND social AND depressão OR ansiedade.
A partir dos resultados da busca, foram encontrados 16.416 textos, que após o emprego
dos critérios de exclusão e inclusão, mais a eliminação de trabalhos que fugiam da
proposta da relação universidade/transtorno, sobraram 68 artigos. Posteriormente, foi
realizada uma nova fase de exclusão, na qual os artigos repetidos e os trabalhos com fuga
de tema foram eliminados, tendo, assim, como resultado final, 21 artigos. Com base na
revisão, os estudos indicam que as relações dos estudantes com o meio em que se
relacionam são relevantes para o desenvolvimento dos transtornos mentais, especialmente
considerando a pressão sofrida pelos genitores e a relação inadequada com os familiares.
Ademais, a questão da socialização dentro da universidade, sem o apoio devido, gera uma
liquidez de relações e, sendo elas superficiais, tendem a propiciar o individualismo, o que
pode causar competição, estresse, decepções, entre outros aspectos, relacionados à
ansiedade e depressão. Para as questões individuais e pessoais, a exposição ao mundo
universitário pode ser um agravante, devido a imaturidade de diferentes estudantes que,
pela falta de experiência, não conseguem se adaptar a este novo processo de
aprendizagem, constituindo, assim, fatores que intensificam tais adversidades. Destarte,
é visto que no universo estudantil, as relações dos estudantes geram situações que podem
expor os mesmos a desafios, sendo necessário apoio externo, podendo vir da família, de
amigos ou até mesmo de grupos da Universidade, para que esse período de
desenvolvimento estudantil não seja de surgimento de transtornos mentais, mas sim de
aprendizado e evolução do indivíduo.
Palavras-chave: ansiedade; depressão; universidade.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4
2. METODOLOGIA ............................................................................................ 7
2.1. ESTRATÉGIA DE BUSCA .............................................................................. 7
2.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE ARTIGO ........................... 7
2.3. SELEÇÃO DOS ESTUDOS .............................................................................. 8
2.4. ESTRATÉGIA DE ANÁLISE .......................................................................... 10
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 10
3.1. ASPECTOS FAMILIARES: COMO A FAMÍLIA PODE INFLUENCIAR NA
OCORRÊNCIA DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS? .................................................................................................... 10
3.2. ASPECTOS SOCIAIS: QUAIS FATORES RELACIONADOS À SOCIEDADE
ATUAL QUE INFLUENCIAM A OCORRÊNCIA DE ANSIEDADE E/OU
DEPRESSÃO EM UNIVERSITÁRIOS?
………………………………….................................................................................... 13
3.3. ASPECTOS INDIVIDUAIS: COMO CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
SERIAM INDICATIVOS DE POSSÍVEIS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E/OU
DEPRESSÃO? …………............................................................................................... 19
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 23
5. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 24
4

1. INTRODUÇÃO

O termo ansiedade vem do latim anxietas, que significa “inquietação intensa e

penosa; angústia” (LAROUSSE CULTURAL, 1992, p. 63 apud BRANDTNER;

BARDAGI, 2009, p. 82). A ansiedade é um transtorno similar ao medo, porém este se

caracteriza, primordialmente, por um perigo concreto/real e que representa uma ameaça

externa. A ansiedade, no entanto, vem como um perigo interno, no qual o indivíduo reage

de maneira vaga, sem uma real justificativa para o medo (ASSOCIAÇÃO AMERICANA

DE PSIQUIATRIA, 2014).

Já o termo depressão, em latim depressio, significa “aluimento, abaixamento de

nível, causado por peso ou pressão; enfraquecimento físico ou moral; desânimo,

abatimento; aumento de intensidade ou duração de tristeza” (LAROUSSE CULTURAL,

1992, p. 319 apud BRANDTNER; BARDAGI, 2009, p. 83). Nesse ínterim, fica o

entendimento que a depressão é um transtorno patológico caracterizado por um humor

melancólico e perda de prazer em atividades do cotidiano, podendo evoluir para um

quadro de sequelas físicas e psicológicas no indivíduo, caso não seja tratado. Existem

estudos que enfatizam a comorbidade da depressão e da ansiedade, que, juntas,

potencializam os sintomas, agravando os distúrbios (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE

PSIQUIATRIA, 2014).

Nesse sentido, é perceptível o quão relevante é o tema da depressão e da ansiedade

por tratar de algo que incapacita o indivíduo, acarretando, inclusive, em sequelas.

Destarte, é necessário avaliar o fato da prevalência apresentar-se cada vez maior tanto na

perspectiva global, quanto no Brasil. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde

(2017), a depressão é um transtorno cuja ocorrência é alta, haja vista que, em todo o

mundo, estima-se mais de 300 milhões de pessoas, das diversas faixas etárias, que sofrem

com a depressão, possuindo um aumento superior a 18% entre os anos de 2005 e 2015.
5

De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (2018), a

depressão é considerada como o quinto estado de saúde mais incapacitante ao homem, no

qual grande parte dos indivíduos que vivenciam esta enfermidade mundialmente

corresponde à uma faixa etária relativamente jovem, de 15 a 50 anos. Em relação aos

países da América, o Brasil configura-se em segundo lugar no ranking de população com

depressão e como primeiro no ranking de população com ansiedade (ORGANIZAÇÃO

PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2018). Assim, a ocorrência de ansiedade/depressão é

uma realidade constante no Brasil, a qual prejudica a saúde mental de milhões de

indivíduos, afetando, principalmente, os jovens.

Alguns estudos epidemiológicos indicam, inclusive, que a presença de transtornos

mentais não psicóticos entre universitários é significantemente maior que na população

geral e que em adultos jovens não universitários (IBRAHIM et al, 2013). Deduz-se, então,

que o ambiente universitário, devido ao seu contexto complexo, pode fomentar a

ocorrência desses transtornos. Nesse sentido, Medeiros; Bittencourt (2017) trazem em seu

estudo que quase a totalidade dos universitários apresentam graus de ansiedade que

podem variar do nível mínimo até a severo, sendo a ansiedade o problema mais comum

de saúde mental, promovendo, assim, déficits em diversas instâncias da vida acadêmica.

Neste ambiente, os estudantes experienciam vários eventos estressores, os quais

referem-se às demandas dessa época, fazendo-se necessário que o indivíduo se torne

agente ativo nesse meio e amadureça. Esses momentos de tensão, somados à

características do próprio indivíduo, podem intensificar problemas de saúde mental já

existentes ou elevar a possibilidade de ocorrerem, provocando o desenvolvimento de

ansiedade/depressão entre os estudantes (BOLSONI-SILVA; GUERRA, 2014). Desse

modo, é perceptível que a discussão desses processos de adoecimento no ambiente

universitário é muito importante por influenciar a forma como o estudante vivenciará esse
6

espaço e lidará com suas questões subjetivas (ARIÑO; BARDAGI, 2018; BOLSONI-

SILVA; GUERRA, 2014).

Nesse ínterim, é preciso ratificar que, apesar de existirem muitos estudos, os quais

trabalham diversos fatores universitários relacionados à ansiedade/depressão com focos

específicos, não se encontra, na literatura, trabalhos que discutam essa perspectiva de

forma integrada em um mesmo estudo. Diante disso, o presente trabalho traz uma grande

contribuição à literatura ao abordar - de maneira inovadora - os aspectos vivenciados

pelos alunos na Universidade agrupados em diferentes categorias, entre elas: aspectos

familiares, sociais e individuais, de forma que todos influenciam no desenvolvimento de

ansiedade\depressão e podem coexistir concomitantemente. Assim, pode-se compreender

melhor o que, de fato, influencia ou não a ocorrência dos transtornos de humor citados

anteriormente nesse público.

Sob essa égide, o presente trabalho parte do pressuposto de que aspectos

familiares, sociais e individuais relacionados à vida acadêmica podem prejudicar a saúde

mental desta população, provocando alta prevalência de transtornos mentais na mesma,

com destaque para a ansiedade e depressão.

Diante desse cenário, algumas ações estão sendo adotadas, visando mitigar os

efeitos da ansiedade e da depressão em estudantes universitários. Entre elas, algumas

universidades, como a Universidade Federal da Bahia (UFBA), vêm oferecendo

atendimento psicológico ao estudante. No entanto, tal atendimento não supre as demandas

e as expectativas dos estudantes por, majoritariamente, não oferecer atendimento a longo

prazo como relatado por Amaral et al (2012), o que contribui para ratificar a importância

da investigação de fatores envoltos a essa problemática para, de fato, pensar em como a

enfrentar.
7

Nesse sentido, o presente artigo possui como objetivo identificar, através de uma

revisão sistemática de literatura, os principais aspectos sociais, familiares e individuais

que influenciam na ocorrência de depressão e ansiedade em universitários.

2. METODOLOGIA
2.1 ESTRATÉGIA DE BUSCA

O método aplicado para este trabalho foi o de revisão sistemática da literatura, que

é uma ferramenta essencial de pesquisa utilizada para acompanhar o progresso científico

publicado até dado momento, visando, através da literatura, preencher brechas e

orientações possíveis que ainda não foram elucidadas em determinados temas

(GALVÃO; PEREIRA, 2014).

A revisão teve como alvo o levantamento de produções científicas relacionados à

depressão e à ansiedade em estudantes universitários e os aspectos sociais, familiares e

individuais associados. Foram utilizados como bases de dados a Biblioteca Virtual de

Saúde (BVS) e o portal da SCIELO e os descritores empregados foram: universitários

AND saúde mental AND depressão OR ansiedade; universitários AND transição AND

depressão OR ansiedade; universitários AND mercado de trabalho AND depressão OR

ansiedade; universitários AND família AND depressão OR ansiedade; universitários

AND social AND depressão OR ansiedade.

2.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE ARTIGO

Foram incluídos no presente trabalho artigos empíricos em português, publicados

entre 2009 e 2019, que relacionassem depressão, ansiedade e universidade, e fossem

desenvolvidos com população universitária. Foram excluídos os artigos repetidos,

aqueles que tratavam de revisão de literatura e outros que, após a leitura do título e do
8

resumo abordassem depressão, ansiedade e universidade separadamente, ou

desenvolvidos com outras populações que não universitários, por exemplo, docentes ou

idosos.

2.3 SELEÇÃO DOS ESTUDOS

Na pesquisa realizada apenas com as palavras-chaves, percebeu-se uma vasta

literatura, tendo como soma total o número de 16.416 artigos. Ao aplicarmos o critério

do idioma Português, os resultados reduziram para 2.840 artigos. Além disso, excluíram-

se todos os artigos que não foram publicados nos últimos 10 anos, restando 1.573 artigos.

Apesar dos critérios aplicados, restaram uma grande quantidade de artigos, sendo

necessária uma avaliação, a qual baseou-se na leitura dos respectivos títulos, visando a

seleção de artigos que se adequassem aos critérios de inclusão e exclusão, para assim

obter um aprofundamento e aperfeiçoamento na investigação.

Após esta investigação, foram excluídos 1.505 artigos que tratavam de depressão,

ansiedade ou universidade separadamente, restando 68 artigos para uma análise mais

aprofundada. Nesta etapa final da revisão, identificaram-se 6 artigos repetidos, que foram

excluídos. Além disso, encontraram-se 41 trabalhos que não abordavam a temática da

influência da universidade na ocorrência de ansiedade e da depressão em estudantes

universitários. Foi perceptível que muitos desses textos realizavam experimentos em

universitários e tratavam da ansiedade e/ou da depressão, porém não relacionam esses

transtornos de humor com a universidade. E, por fim, excluíram-se 2 artigos que tinham

como metodologia a revisão de literatura. Após a avaliação completa de cada trabalho,

limitou-se em 19 artigos para análise na presente revisão.

A partir da confecção do artigo, verificou-se a necessidade de incluir 2 artigos

encontrados nas referências de uma das obras selecionados para a revisão por corroborar
9

com o tema proposto por neste trabalho. Assim, tais obras foram inseridas na seleção de

fontes para discussão, resultando em 21 estudos para análise (Figura 1).

Figura 1 - Fluxograma referente a etapa final de seleção dos artigos


10

2.4 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE

Nesta etapa, as informações das publicações escolhidas foram classificadas de

acordo com o tema abordado, considerando aspectos sociais, individuais e familiares

relacionados à ocorrência de depressão entre universitários. Acerca dos aspectos

familiares, foram identificados aspectos relacionados ao apoio material e psicológico e

ao relacionamento da família com o universitário. Já a respeito do tópico social, foram

extraídos dados ligados às relações entre os amigos, professores, adaptação ao ambiente

universitário e cursos ofertados (área, período e escolha). Por fim, com relação aos

elementos individuais, questões como sono, gênero, uso de drogas, dificuldades de

deslocamento e pessoais, habilidades sociais e atividade física foram identificadas como

itens associados ao desenvolvimento de depressão e ansiedade em universitários.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 ASPECTOS FAMILIARES: COMO A FAMÍLIA PODE INFLUENCIAR


NA OCORRÊNCIA DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS?

A estrutura familiar, enquanto primeira instância da socialização do indivíduo,

representa uma das principais fontes de apoio social, sendo responsável pelas referências

culturais, percepções, valores e crenças sobre si, a forma como irá se relacionar com o

outro e como vê o mundo (DIAS; SÁ, 2014; OLIVEIRA; DIAS, 2013; DIAS; SOARES,

2012). Por essa perspectiva, a influência da família é uma temática que demanda maior

aprofundamento na análise sobre a ocorrência de depressão e ansiedade em estudantes

universitários.

Ao analisar a literatura pesquisada, identificaram-se evidências que constatam

como as questões negativas envoltas na relação do estudante com a família, como o não
11

receber apoio emocional e material necessário e estar exposto às expectativas e à pressão

da família é um fator de risco para desenvolvimento de transtornos mentais, como a

depressão e ansiedade nos estudantes universitários (BOLSONI-SILVA; GUERRA,

2014).

Destarte, como bem trabalhado por Leão e colaboradores (2018), em um estudo

conduzido com 476 alunos do primeiro ano de 5 cursos da área da saúde em que foi

aplicado 3 questionários, envolvendo dados sociodemográficos e inventários sobre

ansiedade e depressão, se destacam alguns fatores de risco relacionados à maior

prevalência de depressão e ansiedade em estudantes universitários. Entre esses fatores, o

relacionamento entre os familiares chama a atenção, haja vista que, para a população

universitária, aqueles que apresentam um relacionamento insatisfatório com a família

exibem uma maior prevalência de depressão e ansiedade em comparação com quem

apresenta bom relacionamento familiar.

Corroborando a ideia do efeito da família sobre a ocorrência de depressão em

universitários, tem-se um estudo acerca do impacto da depressão para as interações

sociais com 64 universitários diagnosticados clinicamente para depressão e 64

universitários sem diagnóstico realizado por Bolsoni-Silva e Guerra (2014). Esta

investigação constatou que os estudantes universitários com depressão se sentem mais

despreparados, inseguros e com medo do que os não depressivos. Isso se deve ao

relacionamento no grupo familiar ser insatisfatório, o qual se baseia, principalmente, nas

muitas críticas, no interesse reduzido dos familiares em conversar e nas dificuldades dos

universitários - oriundas das críticas e do pouco interesse familiar na escuta - em

demonstrar sentimentos negativos e positivos (BOLSONI-SILVA; GUERRA, 2014).

Outrossim, de acordo com Oliveira e Dias (2013), a influência da família pode ser

identificada facilmente no momento da escolha profissional do indivíduo. O apoio

oferecido pelos genitores aos seus filhos pode ser expresso através da “aprovação,
12

incentivo e compreensão das escolhas dos filhos” (OLIVEIRA; DIAS, 2013, p. 62) e no

auxílio à resolução de problemas. Estas autoras discutem que, na visão dos próprios

genitores, o apoio emocional pode ser expresso de diversas formas, tanto em fomentar o

encorajamento da exploração dos interesses dos filhos e o asseguramento das suas

escolhas, quanto em amparar as inseguranças propiciadas pelo espaço universitário e

pelas relações construídas neste. Para além do apoio emocional, os pais ainda podem

oferecer amparo material, que, segundo as autoras, pauta-se, majoritariamente, em

propiciar sustento para facilitar ou, até mesmo, possibilitar as atividades estudantis dos

filhos.

Por essa perspectiva, os estudos mostram que muitos indivíduos fazem escolhas

importantes em sua trajetória universitária e profissional que não estão de acordo com

suas vontades e interesses pessoais. Essa situação, deixa-o inseguro, ou seja, com medo

de tornar-se um profissional mal sucedido e de desapontar as expectativas criadas por ele

mesmo e por sua família, tanto pela ascensão econômica e social, como pela mudança

que isso implicará (DIAS; SOARES, 2012; DIAS; SÁ, 2014). Pode-se afirmar, então, que

esses universitários não passaram plenamente pela passagem da adolescência para a vida

adulta e ainda sofriam muito com a influência da família em suas escolhas, haja vista que,

para Souza; McCarthy (2010), a independência financeira dos pais é vista como um

importante rito de passagem da adolescência para a vida adulta, assim como a tomada de

decisões sem ajuda familiar.

Para além disso, é importante ratificar que as expectativas dos pais, diante da

escolha profissional do filho, aparecem de diversos modos. Entre eles, têm-se o excesso

de incentivos à escolha do curso, a qual está fortemente de acordo com os interesses dos

pais, o que impulsiona os filhos a optarem por sua futura profissão influenciados por um

demasiado respaldo familiar (OLIVEIRA; DIAS, 2013). Sob essa égide, é possível inferir

que quando as expectativas dos genitores se transformam em imposição da vontade


13

pessoal sobre as escolhas do filho - que é um sujeito diferente, com vontades e

especificidades particulares - há uma problemática, pois, os pais estariam interferindo

negativamente no sentimento e na vontade do jovem frente à escolha profissional. Nesse

sentido, “processa-se, nos discursos dos jovens, a afirmação que o diploma é seu desejo

e, ao mesmo tempo, remete aos desejos de seus outros significativos, no caso, de sua

família” (DIAS; SOARES, 2012, p.277). Assim, ratifica-se que muitas das escolhas

profissionais dos estudantes são com base nos desejos de sua família.

Por isso tudo, o suporte familiar é um fator influenciador na ocorrência de

transtornos mentais, como a ansiedade e a depressão, ou seja, quanto maior a percepção

do jovem universitário acerca do suporte oferecido pela família, menor o número de

sintomas associados aos transtornos citados (LEMOS, BAPTISTA; CARNEIRO, 2011).

Entende-se, então, que a família é uma importante rede de apoio para o estudante, sendo,

predominantemente, a primeira rede. Entretanto, além dela alguns outros fatores - como

a fragilidade das relações com amigos e colegas, o mercado de trabalho, dificuldades de

adaptação do indivíduo, entre outros - também influenciam nos casos de ansiedade e

depressão nesse público. O que envolve, portanto, outros aspectos a serem analisados,

além dos familiares, que serão abordados na próxima seção.

3.2 ASPECTOS SOCIAIS: QUAIS FATORES RELACIONADOS À


SOCIEDADE ATUAL QUE INFLUENCIAM A OCORRÊNCIA DE
ANSIEDADE E/OU DEPRESSÃO EM UNIVERSITÁRIOS?

A partir das análises dos artigos selecionados, foi possível identificar a dificuldade

ou sobrecarga das relações sociais, demandas do mercado de trabalho, área de

conhecimento dos cursos universitários e período da graduação como os aspectos sociais

que mais influenciam no surgimento de ansiedade/depressão (ARIÑO; BARDAGI, 2018;

CARLOTTO; TEXEIRA; DIAS, 2015; LEÃO et al, 2018; SOARES et al, 2015;
14

LANTYER et al, 2016; RONDINA et al, 2018; BOLSONI-SILVA; GUERRA, 2014;

BRANDTNER; BARDAGI, 2009; DIAS; SOARES, 2012; CARVALHO et al, 2015).

Há um consenso entre os autores que a dificuldade nas relações sociais podem

afetar negativamente na vida acadêmica e na saúde mental dos estudantes, pois a falta de

uma rede de apoio no ingresso à universidade pode favorecer a solidão, como também a

falta de capacidade de enfrentamento dessa nova fase, desencadeando, assim, problemas

como ansiedade e depressão (ARIÑO; BARDAGI, 2018; CARLOTTO; TEIXEIRA;

DIAS, 2015; LEÃO et al, 2018; SOARES et al, 2015; LANTYER et al, 2016;

RONDINA et al, 2018; BOLSONI-SILVA; GUERRA, 2014). Por outro lado, o

desenvolvimento das relações sociais também pode beneficiar o universitário, uma vez

que, segundo Carlotto, Texeira e Dias (2015), o fortalecimento do suporte social do

indivíduo pode influenciar positivamente no bem-estar do acadêmico. Nesse sentido, ter

boas relações com familiares, colegas, amigos, cônjuges e professores vai muito além de

só melhorar as vivências nos ambientes estudantis, mas também trazer um fortalecimento

emocional e psíquico ao estudante.

Desse modo, torna-se evidente que o ingresso no Ensino Superior se configura

como uma nova etapa de vida, com transformações importantes, sendo relevante estar

atento ao desenvolvimento de sinais de aviso, os quais podem ser prenúncios de

transtornos mentais (RONDINA et al, 2018). Nesse período, o aluno pode vivenciar

situações mais complexas, incluindo vivências sociais, trazendo novos parâmetros de

relacionamentos, seja com familiares, professores e colegas (ARIÑO; BARDAGI, 2018).

Portanto, a adaptação à essa nova fase torna-se mais difícil, podendo impactar na

percepção da sociabilidade do aluno, como também na sua autoconfiança, devido às

dificuldades de ajustamento desse novo ciclo.

De acordo com Ariño e Bardagi (2018) e Leão e colaboradores (2018), caso haja

uma dificuldade em construir relações sociais, o estudante se prejudicaria, pois,


15

desfavorecia a criação de vínculos com pessoas do âmbito universitário. Desse modo,

Leão et al (2018) conduziu um estudo em uma Instituição de ensino superior da região

Nordeste do Brasil, com intuito de investigar a relação de depressão e ansiedade em

estudantes universitários na área da saúde. Os autores aplicaram questionários próprios e

os inventários Beck de Depressão e Ansiedade adaptados à realidade brasileira. Com isso,

encontraram que há uma associação entre maior prevalência de depressão e ansiedade em

acadêmicos com níveis insatisfatórios de relações sociais em comparação com estudantes

que possuíam boas relações afetivas. Entre essas associações, aqueles ligados às

interações sociais apontaram que baixos níveis de relacionamentos com familiares,

amigos, docentes e colegas acarretam em sofrimento psíquico, suscitando “insegurança,

tristeza, medos, preocupações, dificuldades de atenção e baixa autoestima” (LEÃO et al,

2018, p. 62), podendo causar ansiedade e depressão.

Destarte, pode-se inferir que más vivências sociais podem trazer grandes danos

para os alunos ingressantes, assim como ter o apoio e o afeto de outras pessoas torna-se

indispensável para o enfrentamento dessa adaptação, para que esse vínculo origine

estudantes psicologicamente saudáveis com intuito de que a depressão e a ansiedade

atinjam menos estudantes universitários.

Essa realidade se encontra em consonância com a concepção de Modernidade

Líquida abordada por Zygmunt Bauman (2001). Nessa perspectiva, o autor defende que

há uma tendência global de individualização, no qual as relações sociais caracterizam-se

como líquidas, isto é, superficiais, efêmeras. A partir da contribuição das redes sociais,

diversas comunicações são feitas no cotidiano, porém não são criados vínculos sólidos de

afeto e coletividade. Assim, os efeitos negativos decorrentes desse processo são

evidentes, inclusive no ambiente universitário, no qual os estudantes, ao não conseguirem

estabelecerem relações consolidadas, tendem ao isolamento e, consequentemente, podem

apresentar ansiedade/depressão.
16

No entanto, apesar de altos índices de suporte social influenciar na melhoria da

vida do estudante, o excesso de ajuda na resolução de estressores, pode causar a falta de

habilidade em lidar com os problemas de forma individual, facilitando a geração de

reações ansiosas, inseguras e dependentes (CARLOTTO; TEIXEIRA; DIAS, 2015).

Nesse sentido, é importante ter bons vínculos sociais, porém é indispensável que haja um

equilíbrio na utilização desse suporte. Dessa forma, deve-se buscar mesclar o auxílio de

amigos e familiares com a própria iniciativa para a resolução de problemas, pois essa

união pode trazer grandes benefícios para o indivíduo na sua adaptação, como também

provocar o seu fortalecimento para que este não seja afetado pela depressão e ansiedade.

A literatura revela que existem questões acerca da área de conhecimento do curso

que promovem a ocorrência depressão e/ou ansiedade (LEÃO et al, 2018; CARVALHO

et al, 2015; BRANDTNER; BARDAGI, 2009). A partir das pesquisas realizadas por

Leão et al (2018) e Carvalho et al (2015), os estudantes da área da saúde são mais

vulneráveis a terem esses transtornos mentais, sendo constatado que o curso de

fisioterapia apresentava a maior quantidade de alunos com depressão. De acordo com a

revisão realizada não foi possível identificar uma justificativa para a ocorrência desse

fenômeno nos cursos da área de saúde. Contudo, é possível supor que, pelos cursos desta

área possuírem extensas cargas horárias, tenha efeitos negativos para os estudantes, os

quais, consequentemente, não terão tempo de dormir de forma adequada, realizar

atividades físicas regulares e, até, sair com amigos e familiares. Assim, os universitários

não realizariam atividades que representam como válvula de escape para eventos

estressores vivenciados no meio acadêmico, criando uma situação propícia para a

ocorrência de ansiedade/depressão (LEÃO et al, 2018).

Já Brandtner e Bardagi (2009), em análise dos níveis de depressão e ansiedade de

200 estudantes de uma universidade privada do sul do Brasil, a partir da aplicação do

questionário Sócio-demográfico e dos Inventário Beck de Depressão e Ansiedade,


17

constataram índices maiores para a depressão nos cursos de Letras e Psicologia em

comparação com os cursos de Educação Física, Engenharia de Alimentos e

Administração. Os autores explicam esse dado pela proximidade que esses cursos têm na

convivência com pessoas, tornando os estudantes mais emotivos e empáticos e

aumentando a disposição para a ocorrência de depressão. É necessária uma certa

criticidade ao deparar-se com essa elucidação por não se configurar como uma evidência

plenamente confiável, considerando-se um equívoco generalizar a associação de pessoas

com maior sensibilidade do próximo ao desenvolvimento de depressão.

Em relação ao período do curso que apresenta maior probabilidade de provocar a

ocorrência de estudantes mais ansiosos/depressivos, há controvérsia nas evidências

encontradas na literatura (CARVALHO et al, 2015; BRANDTNER; BARDAGI, 2009).

Segundo Carvalho e colaboradores (2015), os universitários egressos apresentam maiores

preocupações acerca da inserção no mercado de trabalho, sendo presente o medo do

desemprego e a falta de experiência necessária para trabalhar. Dessa forma, para estes

autores, os concluintes seriam mais vulneráveis à depressão/ansiedade. No entanto,

Brandtner e Bardagi (2009) avaliaram que alunos de início de curso são mais propensos

a ter estes transtornos, pois passariam por um período de mudança de vida no qual

precisam se adaptar a novos amigos e professores, as intensas exigências e

responsabilidades e, em alguns casos, a mudança de cidade e afastamento da família.

Com referência ao que foi citado, a divergência nos resultados dos estudos pode

estar relacionada às ações da Universidade na adaptação do aluno no início do curso ou

na transição do meio acadêmico para o mercado de trabalho. Assim, universidades que

promovam práticas de integração entre os calouros e discussões que abordem as

dificuldades pelas quais os alunos poderão passar nesse período inicial, irão obter

menores índices de ansiedade/depressão em ingressantes. Já outras instituições

universitárias possuem maior foco em moldar os estudantes para a passagem ao primeiro


18

emprego, assim, buscam, por exemplo, associação entre grandes empresas para criar

oportunidades de estágios direcionados aos alunos dessa Universidade em específico,

diminuindo incertezas acerca de desemprego e, consequentemente, os números de

ansiedade\depressão.

Dessa forma, é possível afirmar que, independentemente de qual período os

estudantes, realmente, apresentam maiores índices de depressão, os ingressantes e os

concluintes experienciam fases que possuem dificuldades particulares e significantes a

serem consideradas.

O mercado de trabalho é outro fator social que pode influenciar os universitários,

principalmente, na escolha da graduação. De acordo com Dias e Soares (2012), os

concluintes do ensino médio têm certa limitação ao escolher uma profissão por ter que

ponderar a distância em relação à sua moradia, condições econômicas familiares e apoio

social. Argumenta ainda que muitos dos ingressantes na universidade fazem essa escolha

de forma equivocada, baseada na valorização social, no retorno financeiro ou apenas na

importância de se inserir na hierarquia dos diplomados, mais do que pela afinidade ao

curso.

Assim, é evidente que, muitas vezes, esses indivíduos ingressam na universidade

escolhendo de forma descuidada e/ou insegura seus cursos. Esta escolha irá acompanhar

o estudante em toda a graduação, haja vista que a carência na certeza da formação

universitária optada contribui para uma menor satisfação em relação à escolha feita.

(SOARES; DIAS, 2012). A partir da literatura, é possível afirmar que alunos

inconformados com o curso ou que não estão cursando sua primeira opção podem

desenvolver depressão mais facilmente do que aqueles que se identificam com o curso

escolhido, sendo estatisticamente quatro vezes maior a probabilidade (ARIÑO;

BARDAGI, 2018; LEÃO et al, 2018).


19

Para além dos fatores relacionados à coletividade, é essencial detalhar elementos

referentes à particularidade de cada indivíduo, pois cada fator exterior citado irá repercutir

de formas diferentes nos diversos estudantes. Assim, é necessário distinguir as

características individuais - gênero, aspectos emocionais, ambiente de moradia, qualidade

do sono, comportamento nas atividades em público e entre outros - que podem, também,

impactar nas dimensões familiares e sociais e influenciar no desenvolvimento de

ansiedade/depressão. Portanto, torna-se necessário a avaliação dos aspectos individuais,

além dos familiares e sociais, para uma maior compreensão dessa problemática, a qual

será abordada na próxima seção.

3.3 ASPECTOS INDIVIDUAIS: COMO CARACTERÍSTICAS PESSOAIS


SERIAM INDICATIVOS DE POSSÍVEIS TRANSTORNOS DE
ANSIEDADE E/OU DEPRESSÃO?

Os aspectos individuais que caracterizam as pessoas, a exemplo dos sentimentos

e reações comportamentais diante de uma nova situação ou exposição frequente da

mesma, podem contribuir para a ocorrência de depressão e ansiedade nos universitários.

Tal afirmação consiste no fato de que esses aspectos podem colaborar para a instabilidade

emocional do estudante, o que contribui para o comprometimento da saúde mental do

mesmo (CAIXETA, 2011; FONSECA et al, 2015; GARRIDO, 2015; LANTYER et al,

2016; LEÃO et al, 2018; RONDINA et al, 2018).

Diante dos artigos analisados, o sexo feminino se apresentou como o mais

propenso à ocorrência de ansiedade/depressão. Dessa maneira, Lantyer et al (2016)

afirma que a fisiologia feminina possui particularidades singulares, tanto na puberdade

como nos ciclos hormonais (fase pré-menstrual), onde os hormônios da progesterona e

do estrogênio se encontram em constantes variações, ficando, assim, mais suscetíveis a


20

alterações no humor, e, consequentemente, nas emoções. Este fator, pode também ser

relacionado com o tratamento social-cultural, onde a mulher, dentro da universidade - e

sociedade - é tratada como o sexo “frágil”, tendo que enfrentar, assim, pressões,

julgamentos e discriminações, que acabam acarretando em aspectos que infringem a sua

saúde mental (LANTYER et al, 2016).

Diversos autores afirmam que o início da vida no ambiente universitário envolve

alterações significativas, as quais são caracterizadas pela formação de novos vínculos e

problemáticas relacionadas aos mesmos. Como exemplificação desse cenário temos o

maior contato com várias pessoas, que, por meio de relações e vivências consideradas

negativas, como brigas e discussões, podem favorecer o isolamento social e,

posteriormente, o desenvolvimento de quadros depressivos. Outro exemplo é a quebra de

expectativa e dúvidas em relação à carreira escolhida por determinado indivíduo, os quais

podem colaborar para o surgimento de excessivas preocupações sobre o seu futuro,

criando um ambiente propício para que o mesmo possa desenvolver a ansiedade

(LANTYER et al, 2016). Dessa forma, supõe-se que tais aspectos podem explicar o fato

de a ocorrência da ansiedade e depressão serem transtornos tão recorrentes em discentes

no nível superior.

Os estudos revisados indicam que a depressão em estudantes universitários pode

ter relação direta com o ambiente de moradia, principalmente em se tratando das moradias

estudantis - repúblicas. As vivências neste espaço podem ser proveitosas ou prejudiciais,

por trazerem novos desafios para o estudante. Este meio de relação tem impacto direto na

aprendizagem, pois estimula o convívio com contextos variados, de pessoas, cidades,

crenças, condições financeiras diferentes, entre outros aspectos. Porém, segundo a

abordagem realizada por Garrido (2015), esses universitários também enfrentam vários

problemas, como a falta de recurso financeiro, saudade de casa, ausência das relações

familiares e privacidade afetada devido ao convívio com pessoas desconhecidas.


21

No âmbito da Universidade - o qual se exige um esforço muito grande - o cansaço

é um desafio rotineiro. Nesse sentido, o sono é importante para a construção física e

emocional do indivíduo e, se não acontecer devidamente, é capaz de causar uma série de

problemas, como: insônia, insatisfação, fadiga, fraqueza e a ansiedade/depressão (LEÃO

et al, 2018). Outro fator relacionado ao sono, é a utilização de medicamentos e drogas

que, dependendo da necessidade, visam tanto animar como acalmar o indivíduo. Esse

costume é problemático, haja vista que inibe, somente, o cansaço superficial, causando,

e até mesmo agravando, o estado de exaustão do organismo (FONSECA et al, 2015).

Entre os estudantes que convivem com o processo de adoecimento por ansiedade

e/ou depressão, há uma maior tendência ao desenvolvimento do uso de drogas do que

aqueles que estão saudáveis psicologicamente. Esses psicoativos os tiram do cenário

presente de solidão e insatisfação com o envolvimento social na universidade e,

consequentemente, com o curso, transpondo-os em uma existência de vida mais

suportável. A problemática se intensifica na medida em que certos tipos de drogas, como

a maconha, podem aumentar as chances de depressão, consolidando ainda mais essa

realidade e propiciando um ciclo nocivo de vícios (RONDINA et al, 2018).

Ademais, alguns estudantes na presença das atividades de exposição em público

e troca de ideias com outros colegas e professores, mesmo tendo um bom desempenho e

contínua repetição dessas ações, se sentem tímidos, o que colabora para o sentimento de

angústia quando existe a necessidade de realizar esses tipos de tarefas. Porquanto,

experiências excessivas de timidez favorecem o desenvolvimento da fobia social, a qual

tem como características principais um medo acentuado, desproporcional e recorrente

frente a situações sociais. Diante da exposição desses eventos a resposta imediata que o

ser humano tem é a ansiedade, na qual, nesse caso, o indivíduo reconhece que o seu medo

é irracional ou excessivo, entretanto isso não evita a ocorrência da situação (CAIXETA,

2011).
22

Dessa forma, pode-se afirmar que a maturidade psicossocial e a preparação

acadêmica dos discentes influenciam de maneira direta no processo de adaptação dessa

nova fase, pois capacidades pessoais como resiliência, metas, alcance de autonomia e

domínio sobre o conhecimento são facilitadores neste processo. Assim, as formas de

enfrentamento para as problemáticas advindas do espaço acadêmico serão geradas com

base na estrutura psíquica do sujeito (COSTA; OLIVEIRA, 2010 apud CAIXETA, 2011).

Evidências demonstraram, através do estudo realizado por Ariño e Bardagi

(2018), a relação existente entre fatores acadêmicos e a saúde mental de estudantes

universitários. Assim, verificou-se que as vivências na universidade apresentaram

relações negativas, sendo estas estatisticamente significantes com as dimensões da

vulnerabilidade psicológica dos discentes, as quais são definidas por esses pesquisadores

como a presença de sintomas indicativos de ansiedade, estresse e depressão. Assim, a

exposição ao ambiente universitário torna o acadêmico mais suscetível a desenvolver tais

transtornos.

A pesquisa mencionada contou com a participação de 640 estudantes brasileiros

inscritos em Universidades do país, foi utilizado itens do Depression Anxiety Stress Scale

para verificar a presença de depressão, ansiedade e estresse no público estudado e a Escala

de Autoeficácia para Formação Superior foi utilizada para investigar a capacidade dos

discentes em exercer as ações necessárias para sua formação. O questionário de vivências

acadêmicas foi aplicado para a obtenção de informações a respeito da experiência neste

ambiente com base em cinco dimensões, sendo elas Pessoal/Emocional, Interpessoal,

Curso/Carreira, Estudo e Institucional (ARIÑO; BARDAGI, 2018).

Nessa perspectiva, foi encontrada uma associação forte e estatisticamente

significante entre os escores na dimensão Pessoal/Emocional das vivências no ambiente

acadêmico e transtornos de ansiedade. Na dimensão referida são avaliadas as percepções

de bem-estar psicológico e físico, bem como otimismo, afetividade e independência


23

(ARIÑO; BARDAGI, 2018). Dessa forma, quanto maior for a instabilidade emocional, a

qual pode ser entendida como as dificuldades que um indivíduo possui para lidar com os

seus os sentimentos e emoções, possivelmente maiores chances são as chances de o

universitário progredir para um quadro ansioso.

Portanto, percebe-se que a ocorrência de depressão e ansiedade, neste público,

pode ser ocasionada por alguns fatores como a situação de vulnerabilidade, seja

psicológica ou física, a falta de suporte familiar e estudantil, as particularidades de gênero

e imaturidade para a vida adulta como acadêmico.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises das literaturas é possível afirmar que há um consenso entre

os autores de que as vivências negativas nos aspectos familiares, sociais e individuais,

corroboram para a incidência e prevalência de ansiedade e depressão em universitários,

uma vez que a Universidade se configura como um ambiente propício para desenvolver

esses transtornos mentais. Desse modo, os estudantes universitários são mais suscetíveis

a desenvolverem ansiedade e depressão, uma vez que esses estudantes, em sua maioria,

estão em processo de transição para fase adulta e mais vulneráveis a conflitos internos.

Todavia, vale ressaltar que a presente pesquisa está limitada à escolha de títulos

publicados em português, o que restringiu a vinculação dos resultados apenas às

instituições brasileiras, excluindo, assim, qualquer outra informação advinda de

instituições estrangeiras.

Isto posto, os estudos reforçam a necessidade de um cuidado especial para com a

população universitária, tendo em vista que, ter vínculos familiares fortes e habilidades
24

sociais e individuais, auxiliam fortemente na adaptação às mudanças típicas do período

universitário e na diminuição da depressão e da ansiedade nesta população. Diante disso,

é importante que o indivíduo ao iniciar sua trajetória universitária se prepare para os

desafios que a mesma oferece, buscando encontrar meios de fortalecer sua maturidade

psicossocial, podendo contar, para isso, com o auxílio de profissionais habilitados nessa

área.

Dessa forma, há uma necessidade de ampliação de estudos e políticas públicas

que devem ser postas em práticas pela própria Universidade como programas de

acolhimento aos estudantes e serviços de apoio à saúde mental, além de ampliar o

conhecimento dos genitores, amigos, colegas e todo grupo social, para estarem mais

atentos e envolvidos com o próximo, dando apoio, estabelecendo conversas, buscando

ajuda quando necessário e respeitando os interesses e escolhas do indivíduo.

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