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CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE: REFLEXÕES


ACERCA DOS IMPACTOS PSICOSSOCIAIS
DECORRENTES DESTE PROCESSO

Carla Cristina Sobreira Reis

Muriaé - MG
2019
CARLA CRISTINA SOBREIRA REIS

CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE: REFLEXÕES


ACERCA DOS IMPACTOS PSICOSSOCIAIS
DECORRENTES DESTE PROCESSO

Trabalho apresentado como requisito parcial para a Conclusão do Curso de


Bacharelado Em Psicologia do Centro
Universitário UNIFAMINAS.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________
Profa. Ms. Maira Ribeiro de Souza
Centro Universitário UNIFAMINAS

Muriaé, 18 de novembro de 2019


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REIS, Carla Cristina sobreira. Criminalização da Juventude: Reflexões acerca


dos impactos psicossociais decorrentes deste processo. Trabalho de
Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em Psicologia. Centro Universitário
UNIFAMINAS, 2019.

RESUMO Comentado [1]: Inserir resumo!

Palavras-chave:

REIS, Carla Cristina Sobreira. Título em inglês. Completion of course work.


Bachelor's Degree in Psychology. University Center UNIFAMINAS, 2019.

ABSTRACT

Key Words: Comentado [2]: Inserir informações!


4

SUMÁRIO Comentado [3]: Inserir informações!

INTRODUÇÃO............................................................................................00
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................00
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................00
5. REFERÊNCIAS......................................................................................00
5

INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso inserido no campo de estudos da


Psicologia Social Sócio-histórica traz como temática a criminalização da juventude
no Brasil. Parte-se nesta pesquisa da concepção da juventude como uma
construção social, perpassada por marcadores sociais de classe social, gênero,
raça/etnia, território, sexualidade, geração, entre outros (MAYORGA; PINTO, 2013).
Tal perspectiva se justifica, pois conforme os autores Esteves e Abramovay (2007,
p. 21) “a realidade social demonstra que não existe somente um tipo de juventude,
mas grupos juvenis que constituem um conjunto heterogêneo, com diferentes
parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e poder nas sociedades”.
Através desta perspectiva busca-se compreender porque a criminalização
afeta uma parcela específica da juventude: negra, pobre e da periferia que acabam
se tornando vítimas de preconceitos e alvos das práticas repressivas e punitivas do
governo por constituírem um potencial perigo para a sociedade por pertencerem a
uma classe visualizada como perigosa. Neste contexto, o imaginário social de um
criminoso que vigora no Brasil se baseia em preceitos racistas e classistas que
associa a periculosidade a pobreza vigorando no senso comum a percepção de que
ser jovem, pobre, negro e de periferia é ser perigoso (ALMEIDA, 2014; LONGO,
2012).
É válido ressaltar que as desigualdades acumuladas na experiência social
dos jovens, e em especial os jovens negros e pobres são graves e múltiplas,
afetando a capacidade de inserção desta população às possibilidades de acesso a
bens e serviços em diferentes áreas, comprometendo o projeto de construção de
um país democrático e com oportunidades para todos os cidadãos (PASSOS,
2010).
A partir deste panorama, a fim de problematizar essa temática o presente
trabalho teve como objetivo geral refletir sobre a criminalização da juventude no
Brasil, destacando os principais impactos psicossociais decorrente deste processo.
Como objetivos específicos buscou-se conceituar juventude através do olhar
psicossocial; discorrer sobre as características históricas do contexto brasileiro e
suas imbricações sobre a criminalização da juventude; problematizar a
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criminalização enfatizando os principais impactos materiais, simbólicos e subjetivos


decorrente deste processo para a juventude.
O método adotado na formulação deste trabalho, encontra-se em
concordância com a proposta de estudo, a qual encontra-se adequada por meio dos
objetivos a serem alcançados. O desenvolvimento da ciência tem como base o
alcance de resultados que permite validar hipóteses sobre determinado
acontecimento ou fato, presente em nossas vidas, ou não. A pesquisa é de
fundamental importância para a evolução dos conhecimentos em determinado
campo de estudo, ou seja, por meio da pesquisa pode-se ampliar os horizontes de
conhecimento sobre determinado tema.
Na efetivação disso, o estudo teve como delineamento metodológico a
pesquisa qualitativa, através da revisão bibliográfica. Conforme Gil, (2008) a
pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em referências
teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos e outros. Busca também por meio
dela, conhecer e analisar conteúdos científicos sobre determinado tema. Como
perspectiva teórica utilizou-se a Psicologia Social Sócio-histórica (BOCK ET. AL,
2007; SPINK, 2003).
Em seus muitos anos de existência a Psicologia tem como marco
considerado como área específica na ciência o ano de 1875, todas transformações
decorrentes são consideradas condições históricas para auxiliar no surgimento da
ciência moderna e conseguinte da Psicologia. A Psicologia Sócio-Histórica possui
como base a teoria de Vygotsky que declara o que desenvolvimento humano ocorre
por meio das interações sociais em que o indivíduo participa durante sua vida, visto
que desde que nascemos dependemos socialmente de outras pessoas,
consequentemente entramos em um processo de formação de conhecimento entre
o que o mundo nos oferece e as nossas percepções sobre ele. Esta abordagem se
fundamenta no marxismo, vê o homem como ativo, social e histórico e a sociedade
como produção histórica (BOCK et. al 2007).
Para a busca dos materiais, definiu-se como critérios de exclusão artigos que
não atenderam os objetivos propostos no estudo, não disponíveis na íntegra e
publicados em língua estrangeira. Quanto aos critérios de inclusão foram escolhidos
artigos científicos publicados em português. Os materiais foram retirados de livros,
revistas, pesquisa de manuais e artigos publicados em bancos de dados online
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como: Scielo, BVS Psi e Google Acadêmico utilizando a combinação dos seguintes
descritores/palavras-chaves na busca: “juventude e criminalização”; “jovens e
criminalização”; “impactos psicossociais e criminalização”.
Esse tema tem relevância, uma vez que a posição em que esses jovens se
encontram é predominantemente social, visto que a sociedade cria estereótipos de
enxergar o jovem que pertence a um certo grupo ou classe social menos favorecida
como um sujeito perigoso e propício a cometer delitos. Neste contexto de
desigualdades, os mesmos passam a vivenciar uma realidade imposta e em alguns
casos não encontram ferramentas para lidar com a situação. Esses mesmos fatores
geram discriminação e o crescimento das desigualdades sociais. Assim, a
motivação para o estudo do referido tema se deve ao fato da crescente e evidente
abordagem que os meios de comunicação e políticas públicas vêm lidando com a
criminalização.
Para melhor organização do conteúdo, esta monografia encontra-se
estruturada em três capítulos: o primeiro busca apresentar os aspectos conceituais
que envolvem a temática da juventude; o segundo discutirá sobre a realidade
brasileira e seus atravessamentos sobre a criminalização da juventude e o terceiro
discutirá sobre e seus impactos psicossociais da criminalização para a juventude.

1 ASPECTOS CONCEITUAIS: DE QUE JUVENTUDE FALAMOS?

No que se refere a construção histórica do conceito de juventude, pode-se


perceber que predominou o uso da concepção adolescência, especialmente quanto
aos estudos desenvolvidos no campo da Psicologia. Mas, é válido ressaltar que
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mesmo este conceito nem sempre existiu. Na antiguidade grega, por exemplo, não
existia o conceito de adolescência, sendo o desenvolvimento humano dividido
apenas em infância e fase adulta. Neste contexto, era exigido do indivíduo que
deixasse de ser criança, e que assumisse posturas e responsabilidades referentes
a um adulto (ARIÈS, 1973). Foi a partir da Revolução Industrial que surgiu o
conceito de adolescência pela necessidade de especialização de mão de obra para
ocupar postos de trabalho nas fábricas. O processo se iniciou quando o domínio
das máquinas começou exigir dos trabalhadores cada vez mais qualificação, na qual
a preparação deveria vir de um período de formação (SANTOS, 2008).
Surge assim, a etapa intermediária entre infância e vida adulta, conhecida
como um período de transição, em que vigora a visão de que esse ciclo de vida se
caracteriza pela preparação do indivíduo para a vida adulta (GONÇALVES;
GARCIA, 2007). A visão transicional da adolescência tem como sustentação teórica
a Psicologia do Desenvolvimento que identifica essa etapa através de diversas
mudanças físicas e psicológicas. Neste período, o indivíduo abandonaria a condição
de criança, exigindo assim o exercício de novos papéis sociais (ABERASTURY,
2008). O psiquiatra Levisky (1995, p. 15):
Utiliza o termo "revolução" em sua definição sobre adolescência.
Para o autor, a adolescência é um processo que ocorre durante o
desenvolvimento de uma pessoa humana, que se caracteriza por
uma revolução biopsicossocial. Já a visão médica sobre a
adolescência, foca o período nas mudanças causadas pela
puberdade, com destaque nas mudanças corporais, eclosão
hormonal e evolução da maturação sexual.
De acordo com Ozella (2002, p. 16), a concepção acerca do período da
adolescência está ligada a vários estereótipos, desde que Stanley Hall a identificou
como uma etapa marcada por “tormentos e conturbações vinculadas à emergência
da sexualidade”, ou seja, tal fase está ligada a preconceitos negativos. Essas
perspectivas possuem, de maneira geral, um ponto em comum, o fato de terem
caráter biologicista em suas análises que desconsideram as diversidades advindas
do atravessamento dos marcadores sociais e as desigualdades sociais (MAYORGA
E PINTO, 2013).
Neste contexto, é válido ressaltar que essa perspectiva não se direcionava
para todo esse contingente populacional, tendo em vista que para os adolescentes
que pertenciam a uma classe social menos favorecida a visão que predominava era
de potencial perigo para a sociedade (GONÇALVES; GARCIA, 2007). Por não se
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encaixarem nos modos de vida ditados pelo sistema capitalista, seu controle
mediante as diversas instituições tais como: as escolas, polícia e programas
assistenciais e até mesmo seu extermínio são autorizados pelo Estado (LOPES,
2008).
Tal perspectiva, inclusive, obteve respaldo no âmbito do ordenamento
jurídico brasileiro como pode ser verificado pelo Código Menores, que vigou desde
1927, revisto em 1978, substituído somente em 1990 com a promulgação do
Estatuto da Criança e do adolescente - ECA. Este Código, apresentou-se em um
período conturbado no cenário histórico brasileiro, onde se estabeleceu a
preocupação com a criminalidade e marginalização juvenil. Assim, dentro deste
contexto, lavra-se o Código de menores, sancionado em 1927, o chamado “Código
Mello Mattos”, em homenagem ao autor do projeto. Segundo a autora Paes (2013.
p): Comentado [4]: Inserir número de página

Nesse diapasão, o Estado assume a responsabilidade legal pela tutela da


criança órfã e abandonada. A criança desamparada, nesta fase, fica
institucionalizada, e recebe orientação e oportunidade para trabalhar. A
primeira codificação voltada para os menores tornou-se um marco
referencial, cumprindo papel histórico. Todavia, com o passar dos anos, o
Código de Menores, em determinado momento, tornara-se insuficiente,
frente à realidade modificada. Na transição entre uma e outra realidade,
sob novos mecanismos de atenção ao problema da criança, destaca-se a
atuação dos Juízes de Menores.

A visão da memorização e da situação irregular começou a mudar


especialmente a partir da promulgação da Constituição de 1988 em que estabelece
outra legislação imprescindível é o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA
promulgado em 1990. Neste documento, a adolescência passa a ser definida pelo
recorte etário, entre 12 a 18 anos incompletos e as ações direcionadas para esse
público passam a ser pensadas pela perspectiva da proteção integral. O aspecto
etário é importante uma vez que vai orientar a consolidação de políticas públicas,
definindo critérios daqueles que serão ou não contemplados pelas ações estatais.
Por sua vez, a perspectiva da Proteção Integral representa um avanço na medida
em que vai visualizar a criança a o adolescente como sujeitos de direitos
(FONSECA et al., 2013).

Em todo o mundo, por vezes, os termos juventude, adolescente, criança


foram traçados como sinônimos. Para alguns autores são fenômenos diferentes.
Quanto a terminologia Juventude observa-se que é mais comum sua utilização nos
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estudos desenvolvidos no campo da Sociologia, Antropologia e da Psicologia


Social. De maneira geral, essas vertentes teóricas consideram a juventude como
uma categoria socialmente construída, perpassada por marcadores sociais de
classe social, raça/etnia, território, gênero, sexualidade, entre outros, que irão
compor a diversidade da condição juvenil bem como a presença de desigualdades
a medida em que estes marcadores se articulam e produzem situações de
vulnerabilidades sociais (BATISTA, 2008; MAYORGA E PINTO, 2013).
Neste contexto, a juventude é compreendida uma experiência pessoal
marcada pelas normas culturais ou tradições de uma dada sociedade (ALVES;
MOLJO, 2015). Por ser uma construção social, a (re)produção social de uma
determinada sociedade sobre esse público é originada a partir das múltiplas formas
de ver os jovens, produção na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos,
momentos históricos, múltiplas referências, além de diferentes e diversos
marcadores sociais. No que diz respeito à juventude, de maneira mais específica, a
construção social em torno dela é, via de regra, carregada de significados negativos,
prevalecendo o rótulo de geradora de problemas, cujos desdobramentos e
consequências se fazem sentir tanto em seu cotidiano quanto na sua relação com
as diversas instituições sociais de que participa, tais como a família, a escola etc.
Isto, especialmente quanto a juventude negra, pobre e da periferia (ALMEIDA, 2014;
LONGO, 2012).
A Organização das Nações Unidas define a juventude como pessoas entre
as idades de 15 e 24 anos, e declara a educação como uma fonte para essas
estatísticas. No entanto reconhece que isso pode variar, sem causar prejuízo de
outras faixas etárias. Uma distinção útil dentro da própria ONU pode ser feita entre
adolescentes (ou seja, aqueles entre as idades de 13 e 19) e jovens adultos
(aqueles entre as idades de 18 e 32), enquanto procura impor alguma uniformidade
nas abordagens estatísticas, a própria ONU está ciente das contradições entre as
abordagens em seus próprios estatutos. Assim, o período da juventude pode ser
pré-definido entre a idade de 15 a 24 anos (introduzida em 1981), as crianças são
definidas como aquelas com idade inferior a 14 anos, ao abrigo da Convenção de
1979 sobre o Direitos da Criança, os menores de 18 anos são considerados
crianças (PINHEIRO, 2010).
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Uma importante legislação brasileira criada foi o Estatuto da Juventude


sancionada em 2013, pois veio ampliar para 29 anos o recorte da juventude, sendo
considerados jovens indivíduos entre 15 a 29 anos. É válido ressaltar que tal
legislação aponta que para os jovens entre 15 e 18 anos vigoram, prioritariamente,
as normas de proteção integral do adolescente estabelecidas pelo ECA (BRASIL,
2013).
Neste contexto, as concepções e o lugar social ocupado pelos jovens
modificarão, especialmente em um país desigual como o Brasil. As desigualdades
sociais ocorrem quando os recursos de uma determinada sociedade são
distribuídos de forma desigual, tipicamente através de normas de alocação, que
determinam padrões específicos às categorias de pessoas. Essa diferenciação se
expressa pelo acesso desigual aos bens sociais provocados por poder, religião,
parentesco, prestígio, raça/etnia, gênero, idade, orientação sexual e classe
(OLIVEIRA, 2002).
Os direitos sociais incluem o acesso ao mercado de trabalho, a fonte de
renda, a assistência médica e a liberdade de expressão, a educação, a
representação política e a participação social. As desigualdades sociais ligadas à
desigualdade econômica, são descritas com base na distribuição desigual de renda
ou riqueza, e são frequentemente estudadas por disciplinas como a economia e a
sociologia. Embora usem diferentes abordagens teóricas para examinar e explicar
a desigualdade econômica, ambos os campos estão ativamente envolvidos nas
pesquisas sobre essa temática trazendo contribuições diversas. É válido ressaltar
que além dos recursos puramente econômicos, os recursos sociais e naturais
também estão distribuídos de maneira desigual na maioria das sociedades e podem
contribuir para o status social. Normas de alocação também podem afetar a
distribuição de direitos e privilégios, poder social, acesso a bens públicos como
educação ou sistema judicial, habitação, transporte, crédito e serviços financeiros,
tais como serviços bancários e outros bens e serviços sociais (OLIVEIRA, 2002).
Muitas sociedades em todo o mundo afirmam ser meritocracias, isto é,
distribuem recursos exclusivamente com base no mérito. O termo "meritocracia" foi
cunhado pelo sociólogo Michael Young em seu ensaio distópico de 1958 " A
ascensão da meritocracia" para demonstrar as disfunções sociais que ele previa
surgir em sociedades nas quais as elites acreditam que seriam bem-sucedidas,
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inteiramente, com base no mérito. A adoção desse termo em inglês sem conotações
negativas é irônica (YOUNG, 1958).
O autor Batista (2008), considerava o mérito como "inteligência-mais-
esforço”, seus possuidores identificados em tenra idade e selecionados para uma
educação intensiva apropriada e que a "obsessão com quantificação, pontuação de
teste e qualificações" apoiado criaria uma elite de classe média educada às custas
da educação da classe trabalhadora, inevitavelmente resultando em injustiça e,
eventualmente, revolução.
Embora o mérito seja relevante até certo ponto, em muitas sociedades,
pesquisas mostram que a distribuição de recursos em sociedades que seguem
categorizações sociais hierárquicas entre pessoas em grau significativo para
garantir que essas sociedades sejam “meritocráticas”, já que mesmo inteligência
excepcional, talento ou outras formas o mérito pode não ser compensatório para as
desvantagens sociais que as pessoas enfrentam. Em muitos casos, a desigualdade
social está ligada à desigualdade racial, à desigualdade étnica e à desigualdade de
gênero, bem como a outros status sociais, e essas formas podem estar relacionadas
à corrupção (POCHMANN, 2008).
A métrica mais comum para comparar a desigualdade social em diferentes
nações é o coeficiente de Gini criada pelo estatístico Corrado Gini, que mede a
concentração de riqueza e renda em uma nação de 0 (riqueza e renda
uniformemente distribuídas) a 1 (uma pessoa tem toda a riqueza e renda). Duas
nações podem ter coeficientes de Gini idênticos, mas economia (produção) e/ou
qualidade de vida diferentes, de modo que o coeficiente de Gini deve ser
contextualizado para que sejam feitas comparações significativas (EUZÉBIO,
2009).
Com a maior população mundial de jovens de todos os tempos, milhões de
jovens estão sendo preteridos pelo mundo e estão arcando com o ônus de múltiplas
desigualdades sociais, econômicas e políticas. Eles não têm acesso aos direitos
básicos e muitos não têm uma possibilidade real de alcançar seu potencial na vida.
Essas múltiplas desigualdades recaem com mais intensidade sobre jovens
mulheres, minorias étnicas, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais e
jovens marginalizados, que em muitos lugares do mundo enfrentam preconceito e
discriminação (ALVES E MOLJO, 2015).
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Muitas vezes, os jovens sofrem discriminação múltipla ou interseccional


quando suas identidades se sobrepõem, criando fortes barreiras à participação
significativa na sociedade. Em alguns países, as meninas são mais propensas a
morrerem no parto do que a terminar a escola, e estima-se que uma em cada três
meninas esteja casada antes dos dezoito anos, algumas com apenas oito anos.
Mais de quinhentos milhões de jovens vivem com menos de dois dólares por dia e
quase 126 milhões deles não conseguem ler uma sentença completa. Essa situação
desafiadora pode ser atribuída em grande parte ao crescimento explosivo da
extrema desigualdade econômica que o mundo viu nos últimos 30 anos (ALVES,
2013). A concentração de grande parte da riqueza e dos recursos do mundo nas
mãos de poucos (em 2016, os 62 indivíduos mais ricos do mundo possuíam tanta
riqueza quanto a metade mais pobre da população mundial aumentou a
desigualdade entre jovens e idosos, com efeitos desproporcionais jovens)
(BORGES, 2017).

O fundamentalismo de mercado e a captura política pelas elites estão no


centro da extrema desigualdade econômica e limitam as possibilidades de vida de
milhões de jovens em todo o mundo de várias maneiras. Em primeiro lugar, a
desigualdade econômica limita a mobilidade social, ou as perspectivas de que, ao
longo de toda a vida, um jovem será capaz de trabalhar em uma situação econômica
melhor (BLAY, 2000).
A relação entre desigualdade econômica e mobilidade social, mostrando que
em países com maior desigualdade de renda, uma maior fração de vantagem
econômica e desvantagem é passada entre pais e filhos, desigualdade de gênero
também influência a mobilidade. Um estudo da Brookings Institution mostra que
mulheres jovens nos Estados Unidos são menos propensas do que homens jovens
a escapar da pobreza de seus pais. Os jovens de hoje não têm as mesmas
oportunidades que os jovens de ontem, a menos que venham de fundos
privilegiados (OLIVEIRA, 2002).
A desigualdade econômica também afeta o acesso à educação, saúde e
outros serviços para os jovens. A pobreza interage com a desigualdade econômica
para criar “armadilhas de desvantagem” que empurram as pessoas mais pobres e
marginalizadas para baixo e as mantêm lá. Os serviços públicos gratuitos de saúde
e educação são armas fortes na luta contra a desigualdade econômica. A educação
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primária universal gratuita é vital para capacitar meninas e mulheres jovens a terem
mais controle sobre suas vidas, ajuda a evitar o casamento infantil, incentiva menos
filhos e leva a uma posição econômica mais forte na sociedade (TELLES, 1992).
O acesso à Internet também é um serviço que deve ser estendido a mais
jovens do mundo, pois essa tecnologia permite que a educação e o acesso às
informações vão além da sala de aula, constituindo-se uma plataforma inestimável
para a comunicação social e política da juventude. O ativismo digital representa hoje
uma importante ferramenta para os movimentos sociais, pois é uma linguagem
jovem que possibilita o engajamento político e social destes atores, sendo uma das
modalidades que mais cresce. Porém, é válido ressaltar que essa ferramenta está
restrita àqueles que têm acesso aos fundos e à tecnologia necessários, que são
predominantemente homens jovens (OLIVEIRA, 2002).
A partir do exposto, a presente pesquisa caminha-se para apresentar a
realidade brasileira e seus atravessamentos sobre a criminalização da juventude,
no capítulo a seguir irá retratar como o Estado tem lidado com essa parte da
população, além de como as desigualdades sociais afetam de fato os jovens
brasileiros citando as desigualdades sociais e regionais.

2 DELINEANDO A REALIDADE BRASILEIRA: DE QUAL CONTEXTO


HISTÓRICO E SOCIAL FALAMOS?

Segundo Souza (2015), o Brasil experimentou ondas de concentração de


renda em diferentes climas políticos. De fato, a desigualdade aumentou durante a
Era Getúlio Vargas (1937-1945) e o regime militar. Tal situação relaciona-se com a
natureza desses regimes autoritários. As democracias sempre pressionam os
atores políticos a melhorar a qualidade de vida das massas. Os políticos sob uma
democracia dependem de votos para permanecer no poder; portanto, se não
puderem melhorar as condições de vida, não serão reeleitos. Um regime autoritário
não depende da votação, portanto não governa a maioria.
Durante a era do Novo Estado [Getúlio Vargas], o regime permitiu à elite
econômica se beneficiar da Segunda Guerra Mundial, que aumentou a
desigualdade. Sob o regime militar em 1964, os sindicatos foram automaticamente
declarados inimigos do Estado. Sem enfrentar oposição por muitos anos, o regime
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passou por uma série de reformas que aumentaram a concentração de renda entre
os ricos, apesar das reformas supostamente promoverem crescimento para todos.
Como não são responsabilizados por diferentes grupos de interesse, as ditaduras
passam por reformas que só beneficiarão seus aliados (SIMÕES, 2011).
No decorrer dos anos as crises políticas afetam a desigualdade no Brasil.
Para o autor Neri (2019), em tempos de agudas crises políticas e econômicas, o
governo passa por reformas mais drásticas enfrentando uma crise, mesmo sob a
democracia, você não pode operar como sempre, é necessário inovar, isso abre
possibilidades para grandes mudanças na desigualdade.
Souza (2015) destaca que muitos autores se referem ao passado de
escravidão como uma razão pela qual a desigualdade ainda persiste no Brasil. No
entanto, o autor também salienta que o Brasil teve muitas oportunidades de superar
os encargos da escravidão, mas seguiu o caminho em direção a uma maior
desigualdade. Como o mesmo relata, o Brasil é um país profundamente afetado
pela escravidão. A escravidão colocou o Brasil em um nível muito alto de
desigualdade, mas outros países em níveis semelhantes de desigualdade foram
capazes de superá-la.
Após a Segunda Guerra Mundial, em dezenove anos de democracia, o Brasil
encontrou uma pequena diminuição do índice de desigualdade, entretanto, após o
golpe militar de 1964, ocorreu totalmente o oposto, onde o país percebeu um grande
aumento de desigualdade, destacando-se os oito primeiros anos do regime. Nesta
mesma época, considera-se que o regime analisou e reagiu de forma incorreta
perante a crise econômica, onde esperavam que que a redução de salários e o
aumento da lucratividade atraíssem investimentos e promovessem o crescimento.
Das expectativas, conseguiram alcançar os crescimentos, porém desigual e
desproporcional, onde a renda da população aumentou e a diferença de benefícios
proporcionados entre as classes disparou. Observa-se que o regime falhou em suas
políticas econômicas também na década de 1980, onde outras crises poderiam ter
sido evitadas, como a recessão e hiperinflação que atingiu a classe pobre de
maneira devastadora (ROLLEMBERG, 2011).
Surgiu no Brasil no início do século XX a “esterilização” dos denominados
degenerados e inadequados, com a ideia de acabar com os males sociais, o que
incluía toda a população que não acrescentava no capitalismo, o movimento
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higienista, formado por renomados psiquiatras da elite brasileira, possui base em


teorias racistas, na eugenia e no darwinismo social, se declarava totalmente contra
negros e mestiços, defendia o aperfeiçoamento da raça e embranquecimento da
população. Com a ideia de criar uma “nação moderna” obtinham propostas de
medidas que promoviam o “saneamento moral” do país, o que incluía a pobreza
como um mal a ser extinto (COIMBRA; NASCIMENTO 2003).
O movimento higienista acreditava que vícios e virtudes eram geneticamente
repassados, o autor Rizzini (1997) fez uma distinção entre os pobres, sendo
denominado “pobres dignos”, os que possuíam emprego e mantinham uma família
unida, e os “pobres viciosos” que não possuíam um emprego representavam um
perigo social, pois possuíam características como a delinquência e o mal caráter, o
que necessitava de medidas coercivas, pois os mesmos possuíam um “potencial
destruidor e contaminador”. Porém, a periculosidade também poderia estar
presente entre os “pobres dignos” visto que por sua natureza pobre, corria riscos de
se “contaminar”. Com isto, surgiram preocupações com as crianças e jovens
descendentes desses pobres, pois herdariam dos seus pais o potencial para compor
uma “classe perigosa”, e com isso há uma necessidade de colocar ordem e controlar
essas crianças e jovens, diante disso ocorreu a criação do Código de Menores,
derivado disto a terminologia “menor”, um termo direcionado a menores de idade
pertencentes à classe social pobre, legislação criada em 1927 reformulado em
1979. Essa legislação volta-se para o público-infantojuvenil em situação irregular,
ou seja, que estavam em risco ou que eram considerados um risco para a
sociedade, entre eles, crianças e adolescentes em situação de rua e aqueles que
cometiam algum ato infracional. As ações do Estado neste contexto tinham um foco
punitivista e de controle social sobre crianças e jovens pobres, pois deveria evitar
que essa população se tornasse em um futuro próximo um criminoso. Neste
contexto, eram visto como um potencial perigo por pertencerem a dita “classe
perigosa” (COIMBRA; NASCIMENTO 2003).

2.1 VIOLÊNCIA E DESIGUALDADE SOCIAL

A articulação dos conceitos de violência e desigualdade social geralmente é


feita de maneira ambígua. É costume afirmar que os estratos mais pobres da
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população são mais violentos e causam desordens sociais e perturbações que


assolam o país. Com raras exceções, os meios de comunicação de massa (jornais
e televisão) tendem a reproduzir e reforçar esse preconceito. Essa tendência de
culpar as classes mais baixas pela violência social predominante obedece a uma
ideologia que justifica o "status quo". Idealiza a paz do privilégio social e absolve os
perpetuadores da exploração extrema. Atribui sucesso à sociedade ao esforço
individual e explica a pobreza do resto como "preguiça", "indolência", "falta de
aspirações" ou "doença social". Essa ideologia predominante vê os pobres,
sobretudo os negros, como fonte de violência, isto é, como "criminosos
preferenciais" (ROVARON, 2013; COIMBRA; NASCIMENTO 2003).
A desigualdade social está entre as maiores causas da violência entre jovens
no Brasil. Ela é o grande contexto, o plano de fundo, onde vive a população mais
atingida por esse problema. Em muitas ocasiões, a mídia sem o devido uso de
evidências sólidas, caracteriza muitos jovens e negros de favela com termos ligados
a eventos criminosos como “ladrões” ou “traficantes de drogas”. Em contraste,
percebe-se quando eventos se tratam de suspeitos brancos a caracterização é
totalmente contrária com o uso de termos como “estudantes”, “adolescentes”,
“jovens residentes da Zona Sul que fizeram uma escolha errada”, “jovens de classe
média”, “fizeram justiça nas próprias mãos” ou “contestaram a lei”. Desta forma,
percebe-se o sensacionalismo midiático onde fatos são omitidos, proporcionando
incoerência entre ficção e realidade, incutindo a ilusão de que as favelas devem ser
consideradas como lugares perigosos, com habitantes propensos e voltados a atos
criminosos. A mídia passou a ignorar as condições estruturais e sistêmicas inerente
à violência e criminalidade que não ocorrem somente nas favelas quando começou
apresentar estes índices como aspecto naturalizado do cotidiano dessas
comunidades (MOTA, 2011).
É muito difícil explicar a violência. Filósofos, cientistas sociais, sociobiólogos
e psicólogos estão entre os especialistas que tentaram, sem sucesso, chegar a um
conceito definitivo. Não há consenso sobre o assunto; entre outras razões, é
acusada de interesses socioeconômicos e políticos, de experiências e limitações
culturais, e porque articula concepções éticas, religiosas e morais (DOMENACH,
1981; JOXE, 1981; HEGEL, 1969; COSTA, 1986).
18

É possível verificar que a violência que assola a sociedade brasileira é um


fenômeno complexo, com raízes nas próprias configurações da sociedade para um
tipo de desenvolvimento que exacerba as relações sociais desiguais e se expressa
tanto nos indivíduos (considerando até suas disposições pessoais) quanto nos
grupos, tanto em sociedade civil e do Estado e nas instituições como um todo e
seus componentes e proponentes. A violência não pode ser simplesmente atribuída
a um grupo ou classe, porque sempre revela uma rede de cumplicidade, um dado
padrão sociocultural, um nível de consciência social construída historicamente que
fornece a base para definir limites para a tolerância e conflitos pessoais e sociais,
sendo que está presente nas relações sociais urbanas e rurais. Neste contexto, é
necessário levar em consideração que a constituição do Brasil enquanto nação foi
constituída a partir da violência pelo processo colonizador dos portugueses brancos
sobre os povos indígenas que aqui habitavam. Posteriormente, esse processo se
perpetuou sobre a população negra escravizada, população do campo violentada
pelos grandes latifundiários. Hoje, atualizadas, essas situações se expressam sob
novas novas roupagens, reflexos desses processos históricos e sociais se
expressam, por exemplo, no extermínio material e simbólico da juventude pobre,
negra e da periferia (MEDEIROS; PAIVA, 2013; COIMBRA; NASCIMENTO 2003).
As manifestações de violência social podem ser classificadas em quatro
tipos: a primeira, é a violência estrutural, do tipo que separa na sociedade as
classes, grupos e nações econômica e politicamente dominantes, uma violência que
usa leis e instituições para manter uma situação de privilégios como se fosse algo
natural; o segundo tipo é a violência cultural, inseparável da violência estrutural,
embora vá além do primeiro. Inclui dominação chauvinista masculina, ou
"machismo" e suas consequências: racismo, nacionalismo, preconceito de cor,
imposição de adultos por outras faixas etárias e todas as formas de expressão
cultural que diminuem alguns seres humanos (e exaltam outros) e limitam sua vida,
criatividade e liberdade; o terceiro tipo de violência é a delinquência presente em
todas as sociedades e que deve ser vista à luz da violência estrutural e cultural.
Enquanto o senso comum tende a ver a delinquência de forma independente como
uma ameaça externa à sociedade, ela revela o grau de exacerbação nos
relacionamentos, conflitos e contradições, e de uma maneira muito peculiar mostra
o grau de desintegração dos valores tradicionais. No Brasil, a delinquência revela
19

um chauvinismo masculino profundamente arraigado, desrespeito pelos direitos


individuais e sociais (PINHEIRO, 1979; 1984).
Finalmente, um quarto tipo de violência é a resistência de classes e grupos
socioeconômicos, políticos e culturais em face da subjugação. Muitos autores
expuseram esse tema, perguntando se a violência contra a opressão pode não
gerar mais violência. Não há resposta simples para esta pergunta. De qualquer
forma, grupos, classes e nações dominantes praticando violência contra seus
subordinados como uma "lei natural" geralmente o fazem em nome do poder
estabelecido. Muitos autores justificam formas de resistência, como guerras de
libertação, greves, rebeliões etc., como formas de estabelecer a justiça (MINAYO,
1990).
No Brasil, a violência social é claramente expressa nesses quatro tipos. No
entanto, para os fins desta análise, o principal objeto de atenção no presente
trabalho será a violência estrutural. Ao analisar as desigualdades, os dados
fornecidos no estudo são identificados objetivamente como a própria expressão da
violência estrutural, ou seja, sobrevivência com um salário mínimo insignificante,
crianças, adolescentes e jovens em situação de rua, implorando, trabalhando ou
envolvidas em atos infracionais; falta de escolas ou condições para frequentar a
escola; cuidados médicos e outros cuidados de saúde inadequados ou
completamente ausentes; falta de saneamento básico; perda progressiva dos
direitos sociais adquiridos anteriormente (HORA, 2013).
Atualmente o Brasil se configura como um dos países com maior população
privada de liberdade no mundo, o aprisionamento faz da violência e da força
instrumentos de controle social, utilizados como métodos de intervenção nos
conflitos sociais e garantidor do status quo. Esse processo de encarceramento em
massa é realizado a partir da lógica da seletividade penal em que os crimes
praticados pelas classes marginalizadas são alvo preferencial de intervenção penal
pela pena privativa de liberdade, ou seja, a seletividade penal tem sua força no
encarceramento maciço de jovens, negros, pobres e excluídos do mundo do
trabalho alimentada por determinismos cegos, mecânicos e simplistas que
caracterizam os exames criminológicos (REISHOFFER; BICALHO, 2017). Assim
como discutiu Michael Foucault (1999) a prisão é o dispositivo do poder disciplinar
que tem como objetivo o exercício do poder de punir, suprimindo o tempo de
20

liberdade do detento. Mais ainda, é organizada para produzir submissão dos


detentos através de coação do apenado.

Neste contexto, devemos entender a criminalização da juventude, problema


desta pesquisa, como questão social, pois é um fenômeno produzido política, social
e economicamente visível em diversas situações (ALVES E MOLJO, 2015). O
conceito de “criminalidade”, por exemplo, é utilizado a determinados sujeitos por
meros estereótipos a eles direcionados fundamentado na errônea situação entre
crime, pobreza e raça. De acordo com Thompson (1998) o criminoso, como inimigo
interno do Estado no contexto brasileiro, é o homem, jovem, negro, de origem pobre,
associando de forma naturalizada que ser pobre é caracteristicamente ser
criminoso, um perigo que precisa ser controlado e punido pelo Estado. Este status
não é atribuído pelo ato cometido em si, mas pela classe em que eles fazem parte,
sua trajetória de vida e pelo lugar que ocupam na sociedade, especialmente se
houver uma relação deste homem jovem com o tráfico de drogas, alvo preferencial
das ações policiais e de controle penal:
[...] o juiz deveria examinar a prova do processo para concluir [...]. Na
prática, há uma inversão na operação: faz-se o exame da pessoa do réu,
a ver se se adéqua ao estereótipo do delinquente. Não interessa o que ele
fez, mas o que ele é (THOMPSON 1998, p.94).

Este modelo vincula os problemas de segurança pública a questões sociais


e as tornam sinônimas de questões criminais. A criminalização da questão social é
vista como um mecanismo de controle social, esses sujeitos são reduzidos a
estereótipos que explicarão sua condição. A pobreza é produto de uma sociedade
desigual, os conflitos resultantes dessa desqualificação enquanto questão pública,
política e nacional, aparece pela face violenta e consequentemente demanda de um
controle punitivo. Além disso, fatos não criminalizados mas extremamente danosos
socialmente são descartados e frequentemente tratados como problemas de origem
natural, como por exemplo a fome, a desnutrição, falta de saneamento, falta de
acesso a saúde básica, educação, dentre outros problemas considerados como “má
sorte” que uma grande parte da população enfrenta, é maquiada pela ideia que o
fator ameaçador da “paz social” são as ações individuais de alguns sujeitos em
cometer algum delito (ALVES E MOLJO, 2015).
Este cenário implica no aumento do medo da população, o que impulsiona a
criação de instrumentos de vigilância como câmeras, guaritas, porteiros,
21

seguranças e etc, no sentido de aumentar a segurança privada, além de criar uma


imagem ilusória de punição como fórmula para resolução das complexas questões
enfrentadas pela sociedade disciplinar (FOUCAULT, 1999). O Estado possui gastos
financeiros altíssimos com espaços privativos de liberdade, o que implica em um
desperdício de recursos públicos, o desrespeito e a desumanização que imperam
nesses locais são de valores incalculáveis. Foi realizado uma análise criteriosa do
sistema penal brasileiro, e podemos observar o perfil dos sujeitos que se encontram
privados de liberdade:
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2013 indicou que a maior
parte da população carcerária adulta é formada por homens (93,8%)
pardos (43,8%) e negros (17,0%) com idade entre 18 e 29 anos (54,8%).
No que se refere aos jovens em cumprimento de medida socioeducativa
de internação, o relatório produzido pelo Conselho Nacional de
Justiça/CNJ, em 2012, indicava a predominância do sexo masculino (90%);
com idade entre 16 e 18 anos (76%); negros (mais de 60%); que não
frequentavam a escola (51%) e não trabalhavam (49%) (ALVES; MOLJO
2015, p. 273)

Podemos observar às características prevalentes retratados nos dados


acima: a origem étnica e social, o gênero e também a faixa etária pertinente nos
números, e constatar os fatores determinantes do processo de criminalização da
juventude no Brasil (ALVES E MOLJO, 2015). O tráfico de drogas é um crime
crescente em todo o Brasil, o número de pessoas envolvidas nessas ações só tem
crescido durante os anos e indiscutivelmente é predominante em favelas e em
bairros mais pobres das grandes cidades, por terem estruturas territoriais
adequadas, resultado do descaso por parte do Estado em relação aos direitos
humanos e investimentos públicos. Porém, isso não significa que toda a população
ocupante desses bairros está envolvida com o tráfico, a violência e a desigualdade
tendem a se intensificarem em locais onde já estão instaladas a exclusão social.
Mas, é válido ressaltar que nas periferias encontram-se o varejo do tráfico de
drogas, que, inclusive, abastece o consumo da população do “asfalto”. Sem contar,
que os cargos de poder neste contexto são dos chefes engravatados envolvidos
com o narcotráfico e ocupam lugares de poder e decisão em postos políticos
(FRAGA, 2003).
O envolvimento com o tráfico de drogas têm sido iniciado cada vez mais
cedo pelos jovens, os mesmos entram para o tráfico visando melhoria na qualidade
de vida. Porém, ocorre também um aumento de vítimas fatais dessa faixa etária
decorrente das atividades ilegais à quais participam. O tráfico produz uma intensa
22

violência por movimentar grande quantidade de dinheiro e poder. É comum nos


depararmos com afirmações que culpabilizam os jovens e suas respectivas famílias
pela inserção nesta atividade ilícita, tratando isso como uma escolha autônoma e
resultado de uma “família desestruturada”. No entanto, a entrada dos jovens no
narcotráfico é demarcada por fatores importantes a serem discutidos, como uma
sociedade marcada pelo consumismo e construção da identidade e valorização do
eu (FRAGA, 2003).
Em pesquisas realizadas pelo autor Fraga (1998, 1999) foi observado que
grande parte dos jovens que entraram para o narcotráfico já desempenharam
diversas outras atividades remuneradas. Mas, a alta desvalorização como sujeito e
o baixo retorno salarial fizeram com que percebessem que a atividade
desempenhada não era digna e não os levariam ao patamar que almejavam
alcançar. Consequentemente, esses jovens enxergam as escolas que têm acesso
como desinteressantes e incapazes de oferecer ajuda na capacitação para competir
com outros jovens de classe média no mercado de trabalho. Por outro lado, ainda
há jovens que acreditam poder vencer todas essas condições sem se envolver com
atos ilícitos, como ressalta o autor Fraga “submeter-se ao trabalho indigno, mas
honesto, ou dedicar-se ao trabalho desonesto, perigoso, porém rendoso, parecem
ser lados distintos de uma mesma realidade, produtora de subjetividades
assujeitadas” (FRAGA, 2003, p. ). Comentado [5]: Inserir página, pois é uma citação
direta.
Existe um consenso reducionista de que a população mais pobre possui uma
probabilidade maior de cometer um ato ilegal. Segundo o autor Edmundo Campos
Coelho (1978) a relação de causalidade entre marginalidade e criminalidade urbana
é determinante de um enfoque socialmente errôneo sobre a criminalidade. Possui
um caráter tendencioso a respeito dessa parcela da população, visto que os
indivíduos pertencentes a esses grupos são estigmatizados e se tornam alvos de
repressão e controle social. Assim, como destaca Caldeira (2003):
se a desigualdade [social] é um fator explicativo importante, não é pelo fato
de a pobreza estar correlacionada diretamente com a criminalidade, mas
sim porque ela reproduz a vitimização e a criminalização dos pobres, o
desrespeito aos seus direitos e a sua falta de acesso à justiça (p.134).

A vinculação entre pobreza e criminalização no caso de jovens é mais


significativa, essa associação é denominada como um paradigma, pelo motivo de
serem vistos como indivíduos em formação se tornam sujeitos mais vulneráveis aos
resultados das injustiças sociais. Segundo Moraes (2008), os jovens são vistos
23

como incompletos e instáveis, por isso o estigma de potencial perigo, principalmente


se esses jovens forem negros e pobres. Dessa forma, observa-se a associação
biologicista fundamentada inclusive em saberes psis que associa a juventude,
denominada por estas perspectivas como adolescência, compreendida como uma
fase do desenvolvimento marcada por transformações físicas e psicológicas e
momentos de crise o que marcaria a instabilidade emocional e comportamentos
deste público, especialmente os jovens pobres que eram considerados como
problemáticos por sua natureza conforme discutido no capítulo um desta
monografia (ABERASTURY, 2008).

2.2 DESIGUALDADES SOCIAIS E DISTRIBUIÇÃO REGIONAL

O Brasil tem sido considerado um país de grande potencial, mas também


enfrenta grandes desafios em relação às suas dimensões socioespaciais totais,
enfrentando sérios problemas sociais, políticos, econômicos, ambientais e
espaciais. Para pesquisadores como Oliveira (2003), Brandão (2007) e Araújo
(2007), esses problemas decorrem em parte de nossa condição de país
subdesenvolvido ou de um país nação "incompleto".
Nesse contexto, um dos aspectos mais relevantes que caracterizam o país
são as desigualdades espaciais, principalmente as regionais. Qualquer que seja o
indicador socioeconômico usado para avaliá-los, eles sempre seguem o mesmo
padrão macrorregional: as áreas norte e nordeste do Brasil têm as piores taxas,
enquanto a área central tem taxas intermediárias e as regiões sul e sudeste têm as
melhores taxas, como mostrado no mapa a seguir (figura 1). Embora os indicadores
tenham melhorado nas últimas décadas, ainda existem disparidades espaciais
(MEDEIROS; PAIVA, 2013).
FIGURA 1: ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO
24

FONTE: Programa das Nações Unidas para desenvolvimento (PNUD) e Ipea

Desde a consolidação das políticas regionais pela administração pública


brasileira, em meados do século XX, os debates sobre a problemática regional têm
gerado grande controvérsia. Seja no campo da produção acadêmica ou na
formulação de políticas públicas, destacam-se alguns fatores: a ausência de
consenso sobre a definição e delimitação de regiões; a conceituação das
desigualdades regionais; e a seleção de indicadores capazes de avaliar sua
dinâmica, bem como as proposições contrastantes sobre as ações a serem tomadas
para mitigar as desigualdades regionais. Essas controvérsias mostram quão
complexo é esse assunto e nos alertam para os grandes desafios que o país
enfrenta para combater as desigualdades espaciais que o caracterizam (HORA,
2013).
25

De acordo com os autores Castro e Aquino (2008) a principal demanda de


um jovem estão relacionadas à educação, para posterior inserção no mercado de
trabalho. As capitais Manaus, Salvador e Belém, por exemplo, possuem
porcentagem inferior à média nacional (57,24%) de conclusão do ensino
fundamental entre jovens de 15 e 17 anos. Em contrapartida, ao analisar jovens de
18 e 24 anos, nenhuma das três possuem inferioridade à média nacional de 74%,24.
Os menores índices de escolarização se encontram em capitais das regiões Norte
e Nordeste. A idade média em que os jovens concluem o ensino fundamental é de
16 anos e para o ensino médio 19 anos, idade um pouco tardia. Porém, nos
indicadores da média brasileira as capitais apresentam níveis adequados, apenas
demonstrando diferença em pequenas cidades e meios rurais. As regiões que
obtiveram os melhores resultados no tocante à escolarização foram as Regiões
Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Segundo a Cepal (2014) o principal problema
enfrentado pela educação do país à desigualdade de condições educacionais, está
relacionado a inclusão diferencial e oportunidade de permanência, o que implica na
adesão de jovens nas instituições de ensino como, por exemplo, jovens pobres e
em situação de vulnerabilidade social (MENEZES, 2015).

O fato de haver múltiplas interpretações sobre as desigualdades regionais do


Brasil não é um problema em si, mas a falta de consenso sobre os determinantes
das desigualdades regionais e a própria essência das ações que devem ser
tomadas para mitigá-las. Isso dificulta a formulação de uma teoria mais sólida, que
possa aumentar nossa compreensão da dinâmica do cenário regional do Brasil
atual, pois teorias e metodologias substancialmente divergentes tornam impossível
comparar essas pesquisas ou até mesmo vê-las como complementando-se. Além
disso, em um ambiente político e institucional marcado por instabilidade,
descontinuidade de políticas públicas, departamentalização, fragmentação e falta
de cooperação entre órgãos governamentais (SCHERER, 2013).
Segundo Furtado (2009), a integração do mercado nacional brasileiro gerou
as sementes da problemática regional, pois “(...) replicou a mesma divisão
geográfica do trabalho que viciaria o desenvolvimento de todo o mundo global.
Economia, com suas metrópoles industrializadas e suas colônias produtoras de
matéria-prima.” Como resultado desse padrão, à medida que a industrialização
avançava, as desigualdades no Brasil tenderiam a aumentar, porque a
26

simultaneidade de um sistema industrial de base regional e um conjunto de


dependentes, economias subordinadas de base primária tendiam a criar relações
econômicas exploradoras. Existe, portanto, uma analogia centro-periferia das
proposições teóricas da CEPAL.
Como observa Brandão (2013), acredita-se que as desigualdades regionais
estão dentro de um processo de malformação estrutural, que está no centro do
subdesenvolvimento, no qual as dimensões ecológicas, econômicas, sociais e
políticas se entrelaçam. Em termos de estruturas, a heterogeneidade regional do
Brasil em meados da década de 20, criou uma infinidade de formas de
subdesenvolvimento gerado no âmbito de um processo histórico. Essa área de
regiões com diferentes níveis de desenvolvimento, grande heterogeneidade social
e sérios problemas sociais permanece até hoje, afirmam os economistas.

2.3 PRINCIPAIS FATORES DE DESIGUALDADE NO BRASIL

2.3.1 Divisão urbana e rural

Existem vários níveis de desenvolvimento econômico nas áreas urbanas e


rurais. Os que vivem nas comunidades rurais enfrentam falta de educação, saúde
e infraestrutura adequadas. A falta de acesso à tecnologia, educação formal e
treinamento de habilidades resultou em menos oportunidades de emprego e,
portanto, contribui para diminuir as receitas das pessoas que vivem nas áreas rurais
(BURITY, 2005). A falta de acessibilidade a educação, por exemplo, impacta
diretamente o período de formação do indivíduo jovem. É válido afirmar que a
educação possibilita que o jovem possa ter contato com a cultura, levando-o a
conhecer áreas diferentes do que possui uma área rural, além de valorizar sua
cultura e modo de vida, permitindo sua permanência no campo de forma valoriza e
com condições dignas de vida neste contexto (HORA, 2013). Conforme apontado
por Carneiro (1993) é necessário a construção projetos de desenvolvimento
voltados especificidades do contexto rural levando em consideração a cultura local,
as potencialidades e características. Neste contexto, pode-se citar a importância da
valorização de políticas que fomentem a agricultura familiar sustentável bem como
outras fontes de trabalho não agrícolas que possam ser desenvolvidas pela
27

população jovem do campo possibilitando a construção de projetos de vida


sustentáveis e autônomos.

2.3.2 Baixos níveis de educação

O baixo nível de educação no Brasil em geral tem sido uma preocupação,


pois perpetua a situação de desigualdade de renda ao diminuir a mobilidade social.
Isso limita as oportunidades daqueles em grupos de baixa renda, diminuindo suas
chances de diminuir a diferença de renda. O Brasil tem uma taxa de analfabetismo
de 10,2% e uma má qualidade da educação. Dados do programa PISA da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostraram
que o Brasil está muito atrás de outras nações em termos de aprendizado em várias
áreas do conhecimento, com a maioria de seus alunos atingindo apenas os níveis
mais baixos de aprendizagem nas disciplinas (BOCCHIN, 2014).
A oportunidade de receber educação de qualidade é, infelizmente, restrita a
determinadas pessoas no país. Percebe-se que fatores sociais impactam na
frequência e continuação de estudos para o jovem, por exemplo, muitos jovens
veem a oportunidade de trabalhar como mais benéfica do que cursar o ensino
médio, para que possam complementar sua renda familiar. Fatos como este
deveriam ocorrer de maneira inversa, a educação deveria possuir tal qualidade que
se demonstra a acessibilidade e o benefício de continuidade dos estudo e sua
continuação para formação profissional, para que neste sentido, um trabalho digno,
de qualidade fosse acessível para estes jovens (MEDEIROS, 2011). Pode-se
destacar aqui que a oportunidade de acesso a emprego digno, na maioria dos
casos, exige escolaridade e capacitação do profissional, o que pode relegar o jovem
com baixa escolaridade ou com acesso a educação precarizada a postos de
trabalho subalternos, com baixa remuneração e condições insalubres bem como
pode levá-lo a vivenciar situações de desemprego e envolvimento com formas
ilícitas ou informais de ocupação perpetuando as condições de pobreza e
desigualdade a que está submetido (HORA, 2013).

2.3.3 Tributação
28

Os pesados impostos do Brasil embutidos nos preços ao consumidor incluem


altos impostos sobre alimentos, o que sobrecarrega os pobres. A carga tributária
das pessoas com renda mais alta que ganham mais de 30 vezes o salário mínimo
por mês era de 26,3%. Por outro lado, aqueles com renda mensal inferior a duas
vezes o salário mínimo eram tributados quase o dobro do valor em 48,8% (SILVA,
2015).
Como citado anteriormente, muitos jovens passam a trabalhar em seu
período estudantil para complementar sua renda familiar. Um dos fatores que
provocam a evasão escolar para esta finalidade por exemplo, são as leis tributárias
brasileiras, onde a família de classe pobre é impactada pelo alto nível de taxativas
tributárias, tornando muitos recursos inacessíveis para eles, destaca-se que não se
trata somente de impostos como imposto de renda (pessoas de baixa renda, nem
se quer se enquadram nesta tributação), mas sim dos impostos incididos sobre
alimentação, sobre medicamentos, se o salário de uma família já é baixo, mediante
os custos básicos para viver, ele se mostra insuficiente. Dessa forma, percebe-se
que a renda da família pobre mal dá para satisfazer as necessidades básicas de
alimentação, moradia e saúde, o que leva, muitas vezes, além da adoção de dupla
jornada pelo jovem (escola-trabalho) como também influencia na evasão escolar.
Neste contexto, os jovens se encontram excluídos das possibilidades de usufruir do
consumo de bens e serviços, lazer e sociabilidade nos padrões de vida ditados pelo
mundo capitalista (ROVARON, 2013).

2.3.4 Alta concentração de propriedade da terra

A expansão de um agronegócio impulsionado pela exportação levou à


concentração da propriedade da terra (o censo do IBGE registra um índice GINI de
0,872). O governo implementou uma reforma agrária que reassentou muitas
fazendas familiares, que empregam cerca de 74% dos trabalhadores agrícolas. No
entanto, foi relatado que a concentração da propriedade da terra é alta, mesmo em
áreas onde as fazendas familiares são instaladas. Essa é uma questão preocupante
no que diz respeito à desigualdade de renda, pois as fazendas familiares acham
difícil competir com os produtores em grande escala (SIQUEIRA, 2006).
Onde há a alta concentração de propriedade de terra há a concentração de
renda. Não é um tópico atual notar essas disparidades entre a população. A alta
29

concentração da propriedade da terra, impossibilita que pequenos produtores


cresçam territorial e economicamente. É justo destacar que cenários como este
impactam sobre os trabalhadores destas propriedades e se ousa dizer que eles são
o destaque nesta questão. O sistema funciona como uma avalanche, em que o
impacto é percebido com maior intensidade em níveis mais baixos (GARNER,
2011). Conforme Torres, Ferreira e Bitar (2003, p.99-100)
a pobreza urbana não é só uma questão de nível, ou índice, mas também
de concentração espacial e social, envolvendo desigualdade, separação e
homogeneidade espacial. Esse problema também está ligado às políticas
públicas, que deveriam ser criadas para melhorar a situação dessas
pessoas.

Embora o fenômeno da desigualdade e da ausência de equidade na


distribuição dos benefícios advindos do processo de urbanização esteja presente
nas reflexões teóricas no âmbito internacional, existe uma ampla ênfase na questão
da divisão entre grupos sociais e da homogeneidade social das várias partes da
cidade, esquadrinhando a divisão espacial da população através de uma
estruturação especialmente baseada pelos marcadores sociais de etnia e pela raça.
Neste contexto, “a segregação nas cidades brasileiras é semelhante, com a pobreza
tendendo a ser altamente concentrada em termos espaciais” (TORRES,
FERREIRA, BITAR, 2003, p. 100).

3 CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE

3.1 CONTEXTO MACROSSOCIETÁRIO DA CRIMINALIZAÇÃO DA


JUVENTUDE

A criminalização do jovem pobre é um fenômeno de maus-tratos e


preconceitos enfrentados pelos membros mais pobres da sociedade devido às suas
circunstâncias econômicas, muitas vezes influenciadas e perpetuando o racismo e
outras formas de discriminação. Pode se manifestar de várias formas, com
exemplos comuns, incluindo multas excessivas por pequenos delitos, leis e políticas
destinadas serviço social, vigilância arbitrária, prisões ilegais e, em sua forma mais
sinistra, violência física ou assassinato (SCHERER, 2013).
No Brasil, a marginalização e criminalização de jovens negros e pobres têm
uma fundação que remonta às origens do próprio país. No início de sua história, a
30

economia do país utilizava muito trabalho escravo, importando mais escravos do


que qualquer outro país do mundo - cerca de dez vezes mais que os Estados
Unidos. Uma pequena população de proprietários de terras, geralmente de pele
mais clara, acumulou e consolidou grandes quantidades de poder e território,
criando uma lacuna sistematicamente entrincheirada entre aqueles que
controlavam a terra e os meios de produção e os que não o faziam (BRANDÃO,
2013).
Essa divergência entre os estratos da sociedade brasileira se expressou na
opinião pública em relação aos jovens pobres. Os escritos produzidos por
“arquitetos, assistentes sociais e médicos que entraram nas favelas no início dos
anos 1900” descreveram essas comunidades como “retrógradas, insalubres e
excessivamente sexualizadas”. Hoje, essas mesmas noções de que comunidades
pobres são lugares “sujos” em uma cidade bonita, ou que são a fonte de problemas
de segurança, são expressas tanto no recente retorno às políticas de despejo
quanto na continuação dos programas militarizados de policiamento das favelas
(SCHERER, 2013).
Assim, com o passar dos anos, nas últimas décadas, o crescimento da
atividade de gangues nas favelas para suprir as demandas nacionais e
internacionais de drogas levou a uma ligação social das favelas com drogas e
violência urbana , embora as estimativas acadêmicas sugiram que menos de 1%
dos moradores das favelas estão envolvidos no tráfico de drogas, onde sua grande
composição é de jovens e adolescentes. Em vez de ver a violência nas favelas como
resultado da desigualdade sistêmica, algumas pessoas consideram a violência uma
característica inerente às próprias favelas e bairros pobres (LONGO, 2012).

O paternalismo e o intervencionismo do sistema de ofensas de status


remontam à virada do século XX. Os primeiros tribunais juvenis foram construídos
com base na doutrina de que o Estado tem a responsabilidade e autoridade para
proteger pessoas legalmente incapazes de agir em seu próprio nome. Para os
jovens, acreditava-se que o comportamento ilegal era o resultado de pais pobres,
caso em que o Estado era mais adequado para cuidar, controlar e reabilitá-las.
Como os tribunais juvenis decidiram "consertar" a juventude, sua jurisdição se
31

expandiu para incluir comportamentos não criminais, mas desagradáveis


(SOARES, 2011).
Essas crenças continuam a orientar os sistemas atuais de ofensas de status,
à medida que os adultos mandam os jovens para o tribunal "para seu próprio bem"
- seja em um esforço consciente para obter acesso aos serviços certos ou para
corrigir seu comportamento usando sanções. Essas respostas criminalizantes
geralmente estão sujeitas a preconceitos sem controle e causam danos aos jovens
- ao mesmo tempo em que utilizam recursos e um sistema que visa manter as
comunidades seguras (MAYRINK, 2011).
Essa caracterização negativa de jovens pobres e em grande parte não
brancos está sincronizada com o impulso mais amplo de substituir os serviços
sociais pela criminalização. Como cada vez mais bairros populares têm acesso
negado a bens e serviços públicos, a empregos e escolas decentes, seus jovens
são criminalizados como “os piores dos piores” para garantir que os problemas
nessas comunidades sejam entendidos como falhas morais individuais e de grupo,
e não como resultado de forças de mercado vorazes e um Estado oco. Os jovens
também continuam sendo criminalizados nas escolas (BARATA, 2012). Mayorga e
Pinto (2013, p. 110) em uma uma intervenção desenvolvida com jovens em uma
escola pública de uma favela de Belo Horizonte observou práticas bastante
autoritárias e desqualificadoras da experiência de jovens moradores desta
comunidade por parte dos professores. Em uma intervenção desenvolvida em sala
de aula, através de observação participante, as autoras observaram que um
professor direcionou sua fala a um aluno jovem dizendo que seu futuro “era a prisão
ou o caixão, revelando uma faceta forte da escola contemporânea de reprodução
das desigualdades sociais”. Conforme as autoras tal processo está fundamentado
em uma sociedade adultocêntrica, relação baseada na hierarquização dos adultos
sobre os jovens.
Um dos principais objetivos das políticas públicas destinadas à jovens e
adolescentes é o fortalecimento de vínculos e prevenção a violência, mas sempre
partindo da perspectiva da segurança pública, o que nos remete à outro caso
interessante. O Estado oferece projetos centrados na profissionalização destes
jovens e não na promoção de novos espaços de sociabilidade que oferecem
inserção dos mesmos ao mercado de trabalho (COIMBRA; NASCIMENTO 2003).
32

Outra atuação massiva do Estado direcionada para o público juvenill


periférico é o encarceramento em massa conforme já destacado anteriormente
nesta pesquisa. Esse processo pode, sem dúvida, ser considerado uma das
situações de fronteira a que Karl Jaspers, psiquiatra e filósofo alemão, cita em um
trabalho chamado General Psychopathology, publicado em 1913: “” Os humanos
tomam consciência de si mesmos em situações de fronteira" (JASPERS, 1913).
Diferentes coordenadas existenciais devem ser levadas em consideração
sempre que se estuda os seres humanos. Os principais estão relacionados ao
espaço, tempo e corpo, além de identidade e emoção. A questão fundamental que
afeta os presos é o encarceramento do corpo. Para os presos, existem duas linhas
de tempo que se movem em velocidades diferentes. O primeiro está ligado à sua
rotina diária e é extremamente repetitivo. Os presos não podem escolher quando
comer, tomar banho, dormir ou acordar. A segunda linha do tempo refere-se ao
mundo externo, com o qual o prisioneiro está completamente fora de sincronia
(ROVARON, 2013). Neste contexto, vigora o que Michael Foucault (2005) definiu
como Racismo de Estado como uma estratégia de poder nas sociedades
contemporâneas em que vigora a Biopolítica. Segundo o biopoder tem como
objetivo maximizar a vida, fazer viver. através de práticas de normalização da vida
em sociedade. Neste contexto, além é possível além de fazer viver o Estado deixa
morrer material e simbolicamente aqueles que não se inserem na lógica de vida
capitalista baseando-se em critérios morais e normalizantes e na política criminal
do direito penal do inimigo (BATISTA, 2003). Neste contexto, “a regulação seletiva
e racista da vida de alguns em detrimento de outros é um efeito dos mecanismos
de segurança e das práticas biopolíticas” (LEMOS et. al, 2017, p. 168). Isto, pautado
em um discurso salvacionista de que para a sociedade seja protegida deve
exterminar os indesejados (FOUCAULT, 2005). Lemos et. al (2017, p. 168)
acrescentam que:
regular coletivamente os corpos, utilizando o método de separação de
segmentos, implica organizar a multiplicidade humana por traços e
comportamentos, por olhares e exames, por local de moradia e
escolaridade, por profissão e cor da pele, por pertencimento a uma cultura
e a um tipo de família, pela comunidade onde está e pela faixa etária.

No contexto, da temática da juventude este aspecto pode ser visualizado pelo


extermínio de jovens pobre pelo agentes de segurança pública ou por envolvimento
com o tráfico de drogas, conforme o Mapa da Violência que trouxe os índices de
33

homicídios de jovens no Brasil. Conforme este estudo, a principal causa de morte


de jovens no Brasil por causas externas é o homicídio por arma de fogo. O estudo
também aponta que no Brasil são os jovens os que mais morrem e os que mais
matam por causas violentas (WAISELFISZ, 2013). Lemos e colaboradores (2017)
realizam uma análise acerca da prática de extermínio de jovens pobres e negros,
com baixa escolaridade, moradores das periferias urbanas brasileiras como uma
prática biopolítica a partir dos pressupostos estabelecidos por Foucault. Conforme
os autores:
o crescente e massivo genocídio desse grupo, somado ao aumento do
contingente de aprisionamento dessa população, assinala que o Brasil
optou por duas táticas de segurança em defesa social contra um suposto
inimigo penal: cadeia e caixão. Interrogar essa realidade e colocá-la em
questão é uma inquietação de quem atua com pesquisas em direitos a
serem garantidos e protegidos (LEMOS et al, 2017, p. 164).

Os autores apontam para a necessidade de realização de uma análise


crítica acerca da militarização do cotidiano e às subjetividades baseadas no medo
e na insegurança como estratégias do Estado brasileiro, trazendo inclusive uma
convocação da Psicologia enquanto ciência comprometida com a transformação
social como importante porta voz desta discussão, seja na prática profissional, na
formação de futuros profissionais, nas atividades de extensão, pesquisa e
publicação científica (LEMOS et. al, 2017).
Pode-se observar a criminalização da juventude também no âmbito
simbólico ao associar sua cultura como o hip hip e o funk como práticas associadas
ao tráfico, desqualificando suas expressões e vivências. Facina (2009, s/p) traz uma
interessante discussão acerca da desqualificação do funk como uma de
criminalização da pobreza. Conforme a autora “o funk carioca sempre foi visto como
um ritmo marginal por boa parte da imprensa e por determinados segmentos da
sociedade”. No contexto atual, observa-se a construção de um aparato legal para
legitimar o funk como problema vinculado a segurança pública, e não como uma
temática relaciona com as políticas culturais. A autora explicita que o funk é
música que faz parte do estilo de vida de milhões de jovens cariocas,
sobretudo os que vivem nas periferias e favelas, funk é central em
processos de construção identitária relacionados à etnicidade e aos
lugares de moradia, contribuindo para valorizar pertencimentos que
geralmente são fonte de estigmatização. Em tempos de criminalização da
pobreza, nos quais essa juventude passa a ser vista como ameaça à
ordem, essa expressão cultural potente torna-se alvo de perseguição
policial e de preconceitos que são estimulados e mesmo fabricados pela
grande imprensa (FACINA, 2009, s/p).
34

Tal fato pode ser verificado em diversas batidas policiais realizadas em bailes
funks da cidade do Rio de Janeiro sob a justificativa de perturbação do sossego.
Além disso, ocorre também, por vezes, a impossibilidade de realização destas
atividades de lazer. Por tanto, pode-se concluir que para que ocorra o processo de
criminalização da pobreza e da juventude pobre é necessário que se convença a
sociedade que ser pobre é ser perigoso, é ser uma ameaça, processo que faz
reviver o mito das classes perigosas que fundamentou os primórdios de
consolidação do sistema capitalista. “E isso envolve não somente legitimar o envio
de caveirões para deixar corpos no chão nas favelas, mas também criminalizar seus
modos de vida, seus valores, sua cultura”. Neste contexto, percebe-se então que o
funk está no centro desse processo (FACINA, 2009, s/p).

3.2 IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DA CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE

Embora a Constituição de 1988 prometesse reformas e benefícios para os


membros mais pobres da sociedade brasileira, o duro policiamento pós era militar
continuou com o pretexto de combater a atividade de gangues. A “guerra às drogas”
ameaça particularmente os pobres moradores jovens negros das favelas. Os
residentes, independentemente do seu envolvimento, continuam correndo o risco
de serem ameaçados, feridos ou mortos, por causa de sua presença nesses
territórios. Muitos moradores e observadores de favelas argumentam que a polícia
continua sendo o principal representante do Estado, mesmo nas favelas das
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), apesar da intenção original declarada do
programa de trazer outros serviços ao lado da segurança (SOARES, 2011).
Em tempos onde a violência tem sido foco, paralelamente há um crescimento
acelerado e constante de medo e insegurança na população. No Brasil, o aumento
do crime e do medo, cresce entre as cidades brasileiras, o que acarretou numa
alteração da vida cotidiana da população marcada pela individualização e
privatização dos modos de vida. Como destacado anteriormente, não é novidade
os estereótipos estabelecidos para quem é considerado um criminoso, onde sempre
estão em destaque pessoas jovens, negras e pobres. Partindo deste pressuposto,
35

pode-se levantar ocorrências pelo país que reafirmam tais suposições (LONGO,
2012).
Nas mídias sociais, é comum o relato de pessoas negras que estiveram sob
suspeita e vigilância ao caminhar por uma loja, e muitos dos relatos são feitos por
pessoas brancas que presenciaram tal ocorrido. Estes estereótipos estão tão
enraizados na mente humana que é naturalizado, por exemplo, uma pessoa ficar
mais atento ao passar por uma calçada próxima a pessoas pobres ou negras, ou
até mesmo mudarem de sentido na rua. Isso tudo só reafirma o preconceito
existente quanto ao negro e pobre, onde muitos são classificados com potenciais
envolvidos com tráfico, com a criminalidade e milícias (BRANDÃO, 2010).
Infelizmente, relatos e ocorrências como estas produz desesperança para
aqueles que são vítimas destas situações. Se a sociedade brasileira for analisada
neste aspecto ao longo da história, encontrarão uma sociedade preconceituosa,
mas subentendida pelo mito da cordialidade, e que ao passar dos anos, tal aspecto
apenas se camuflou com contas e programas criados para amenizar este tipo de
situação (SOARES, 2010).
Enquanto o jovem, negro e pobre continuar sendo o principal suspeito,
mesmo em meio a um grupo de jovens brancos, a sociedade jamais conseguirá
enxergar de forma diferente, pois, a exclusão nunca foi resultado eficaz para sanar
diferenças. Pelo contrário, a interação e igualdade são diretrizes para que o jovem
negro da periferia, por exemplo, veja um caminho para seu futuro que possa ser
trilhado sem se preocupar com apreensões e revistas sem justificativas
(ROVARON, 2013). Diante de um cenário tão preocupante como esse, torna-se
fundamental refletir sobre modos de enfrentamento ao extermínio simbólico e
material direcionado contra a juventude brasileira. As justificativas de práticas
punitivas e de controle social desta população são perpetradas por naturalizações
e criminalizações cotidianas em torno do estigma direcionado ao jovem atravessado
pelos três ps: pobre, preto e de periferia como discutido por Isis Longo (2012) e
muitas reforçado por profissionais, pela mídia e população em geral. As violações
de direitos a que estes jovens são submetidos devido a sua classe social, cor de
sua pele e idade são, por vezes, omitidas ou negligenciadas das análises científicas
e das práticas desenvolvidas no contexto das políticas públicas (MAYORGA,
PINTO, 2013; SANTOS et. al, 2012).
36

Neste contexto, torna-se fundamental superar práticas e medidas punitivas e


coercitivas utilizadas contra a juventude sob o pressuposto de garantia da
segurança da sociedade, por acreditar que esse jovem representa um perigo
potencial para a sociedade. Faz-se necessário, então, compreender a implicação
da ausência intervenções estatais garantidora de direitos, pois o que se vê no
contexto atual das periferias brasileiras é uma situação de precariedade das
estruturas dos dispositivos e serviços públicos ofertados, cujo fato, colabora
negativamente para construção da desigualdade a que essa juventude se encontra
exposta SANTOS et. al, 2012).
Diante da complexidade desta problemática, é primordial o investimento em
políticas sociais que tenham como norte de suas ações os pressupostos
estabelecidos na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescentes,
Estatuto da Juventude e outras legislações que apontam o público infantojuvenil
como sujeitos de direitos e público prioritário das diversas políticas públicas. Além,
disso, torna-se fundamental o desenvolvimento de pesquisas e intervenções que
construam técnicas, instrumentos e modos de atuação que sejam “capazes de
fornecer subsídios para uma atuação contextualizada e compromissada com os
direitos humanos, a promoção da cidadania e do protagonismo, no combate à
desigualdade social” e que valorizem o território simbólico e as potencialidades de
cada comunidade a fim de “promover e assegurar os direitos, a cidadania e a
dignidade da população” juvenil (SANTOS et. al, 2012, p. 535).
A inserção da Psicologia nessas políticas de singularização é relevante e
deve estar de forma indissossiável perpassada pela atuação comprometida com a
transformação social que busque garantir equidade, integralidade, intersetorialidade
e universalidade na proteção social, na produção de saúde de forma crítica e
historicizada dos atendimentos de crianças, adolescentes e jovens no contexto dos
diferentes setores. “Caso as políticas públicas, com seu orçamento e qualificação,
não ocorram em um sistema de garantia de direitos mais do que de defesa social,
ficaremos consternados com o aumento progressivo dessa realidade” (LEMOS et
al, 2017, p.175).
37
38

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio do desenvolvimento desta pesquisa foi possível entender que as


disparidades ainda encontradas no país são marcantes, fruto de um contexto
histórico, social e cultural marcado pela colonização, violência, desigualdade,
racismo e o preconceito. O fato da criminalização da juventude se destacar entre a
classe pobre e em sua grande e esmagadora maioria negra, revela o quanto essa
herança histórica continua arraigada na sociedade brasileira.
Viu-se que a população brasileira possui uma estereotipação quanto a
criminalidade ao dito dito criminoso, onde se associam estes atos à indivíduos com
características muito específicas. Prova disso são os diversos casos ainda existem
de, por exemplo, um jovem negro receber uma abordagem policial pelo fato de estar
caminhando em uma rua a noite.
Outro fator visto ao longo do trabalho que exerce grande influência sobre
esse estereótipo é a mídia que tem se tornado cada vez mais tendenciosa. Mesmo
que a legislação brasileira garanta que todos os indivíduos sejam iguais, percebe-
se que na prática não é o que ocorre, onde a pobreza, a falta de acessibilidade
educacional e saúde se evidenciam em bairros e comunidades pobres,
impulsionando a perpetuação da desigualdade e da pobreza no Brasil.
Enfim, conclui-se que ainda há muito o que avançar para que a juventude
pobre, negra e de periferia seja considerada como sujeito de direitos e para que sua
cidadania e dignidade sejam efetivadas e não execradas pelo Estado. Neste
contexto, reforça-se a importância da Psicologia neste contexto, para que em suas
diversas possibilidades de atuação junto a esta juventude possa problematizar e
partir do poder do discurso contribuir para a transformação desta cruel realidade.
39

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