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Muriaé - MG
2019
CARLA CRISTINA SOBREIRA REIS
COMISSÃO EXAMINADORA
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Profa. Ms. Maira Ribeiro de Souza
Centro Universitário UNIFAMINAS
Palavras-chave:
ABSTRACT
INTRODUÇÃO............................................................................................00
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................00
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................00
5. REFERÊNCIAS......................................................................................00
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INTRODUÇÃO
como: Scielo, BVS Psi e Google Acadêmico utilizando a combinação dos seguintes
descritores/palavras-chaves na busca: “juventude e criminalização”; “jovens e
criminalização”; “impactos psicossociais e criminalização”.
Esse tema tem relevância, uma vez que a posição em que esses jovens se
encontram é predominantemente social, visto que a sociedade cria estereótipos de
enxergar o jovem que pertence a um certo grupo ou classe social menos favorecida
como um sujeito perigoso e propício a cometer delitos. Neste contexto de
desigualdades, os mesmos passam a vivenciar uma realidade imposta e em alguns
casos não encontram ferramentas para lidar com a situação. Esses mesmos fatores
geram discriminação e o crescimento das desigualdades sociais. Assim, a
motivação para o estudo do referido tema se deve ao fato da crescente e evidente
abordagem que os meios de comunicação e políticas públicas vêm lidando com a
criminalização.
Para melhor organização do conteúdo, esta monografia encontra-se
estruturada em três capítulos: o primeiro busca apresentar os aspectos conceituais
que envolvem a temática da juventude; o segundo discutirá sobre a realidade
brasileira e seus atravessamentos sobre a criminalização da juventude e o terceiro
discutirá sobre e seus impactos psicossociais da criminalização para a juventude.
mesmo este conceito nem sempre existiu. Na antiguidade grega, por exemplo, não
existia o conceito de adolescência, sendo o desenvolvimento humano dividido
apenas em infância e fase adulta. Neste contexto, era exigido do indivíduo que
deixasse de ser criança, e que assumisse posturas e responsabilidades referentes
a um adulto (ARIÈS, 1973). Foi a partir da Revolução Industrial que surgiu o
conceito de adolescência pela necessidade de especialização de mão de obra para
ocupar postos de trabalho nas fábricas. O processo se iniciou quando o domínio
das máquinas começou exigir dos trabalhadores cada vez mais qualificação, na qual
a preparação deveria vir de um período de formação (SANTOS, 2008).
Surge assim, a etapa intermediária entre infância e vida adulta, conhecida
como um período de transição, em que vigora a visão de que esse ciclo de vida se
caracteriza pela preparação do indivíduo para a vida adulta (GONÇALVES;
GARCIA, 2007). A visão transicional da adolescência tem como sustentação teórica
a Psicologia do Desenvolvimento que identifica essa etapa através de diversas
mudanças físicas e psicológicas. Neste período, o indivíduo abandonaria a condição
de criança, exigindo assim o exercício de novos papéis sociais (ABERASTURY,
2008). O psiquiatra Levisky (1995, p. 15):
Utiliza o termo "revolução" em sua definição sobre adolescência.
Para o autor, a adolescência é um processo que ocorre durante o
desenvolvimento de uma pessoa humana, que se caracteriza por
uma revolução biopsicossocial. Já a visão médica sobre a
adolescência, foca o período nas mudanças causadas pela
puberdade, com destaque nas mudanças corporais, eclosão
hormonal e evolução da maturação sexual.
De acordo com Ozella (2002, p. 16), a concepção acerca do período da
adolescência está ligada a vários estereótipos, desde que Stanley Hall a identificou
como uma etapa marcada por “tormentos e conturbações vinculadas à emergência
da sexualidade”, ou seja, tal fase está ligada a preconceitos negativos. Essas
perspectivas possuem, de maneira geral, um ponto em comum, o fato de terem
caráter biologicista em suas análises que desconsideram as diversidades advindas
do atravessamento dos marcadores sociais e as desigualdades sociais (MAYORGA
E PINTO, 2013).
Neste contexto, é válido ressaltar que essa perspectiva não se direcionava
para todo esse contingente populacional, tendo em vista que para os adolescentes
que pertenciam a uma classe social menos favorecida a visão que predominava era
de potencial perigo para a sociedade (GONÇALVES; GARCIA, 2007). Por não se
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encaixarem nos modos de vida ditados pelo sistema capitalista, seu controle
mediante as diversas instituições tais como: as escolas, polícia e programas
assistenciais e até mesmo seu extermínio são autorizados pelo Estado (LOPES,
2008).
Tal perspectiva, inclusive, obteve respaldo no âmbito do ordenamento
jurídico brasileiro como pode ser verificado pelo Código Menores, que vigou desde
1927, revisto em 1978, substituído somente em 1990 com a promulgação do
Estatuto da Criança e do adolescente - ECA. Este Código, apresentou-se em um
período conturbado no cenário histórico brasileiro, onde se estabeleceu a
preocupação com a criminalidade e marginalização juvenil. Assim, dentro deste
contexto, lavra-se o Código de menores, sancionado em 1927, o chamado “Código
Mello Mattos”, em homenagem ao autor do projeto. Segundo a autora Paes (2013.
p): Comentado [4]: Inserir número de página
inteiramente, com base no mérito. A adoção desse termo em inglês sem conotações
negativas é irônica (YOUNG, 1958).
O autor Batista (2008), considerava o mérito como "inteligência-mais-
esforço”, seus possuidores identificados em tenra idade e selecionados para uma
educação intensiva apropriada e que a "obsessão com quantificação, pontuação de
teste e qualificações" apoiado criaria uma elite de classe média educada às custas
da educação da classe trabalhadora, inevitavelmente resultando em injustiça e,
eventualmente, revolução.
Embora o mérito seja relevante até certo ponto, em muitas sociedades,
pesquisas mostram que a distribuição de recursos em sociedades que seguem
categorizações sociais hierárquicas entre pessoas em grau significativo para
garantir que essas sociedades sejam “meritocráticas”, já que mesmo inteligência
excepcional, talento ou outras formas o mérito pode não ser compensatório para as
desvantagens sociais que as pessoas enfrentam. Em muitos casos, a desigualdade
social está ligada à desigualdade racial, à desigualdade étnica e à desigualdade de
gênero, bem como a outros status sociais, e essas formas podem estar relacionadas
à corrupção (POCHMANN, 2008).
A métrica mais comum para comparar a desigualdade social em diferentes
nações é o coeficiente de Gini criada pelo estatístico Corrado Gini, que mede a
concentração de riqueza e renda em uma nação de 0 (riqueza e renda
uniformemente distribuídas) a 1 (uma pessoa tem toda a riqueza e renda). Duas
nações podem ter coeficientes de Gini idênticos, mas economia (produção) e/ou
qualidade de vida diferentes, de modo que o coeficiente de Gini deve ser
contextualizado para que sejam feitas comparações significativas (EUZÉBIO,
2009).
Com a maior população mundial de jovens de todos os tempos, milhões de
jovens estão sendo preteridos pelo mundo e estão arcando com o ônus de múltiplas
desigualdades sociais, econômicas e políticas. Eles não têm acesso aos direitos
básicos e muitos não têm uma possibilidade real de alcançar seu potencial na vida.
Essas múltiplas desigualdades recaem com mais intensidade sobre jovens
mulheres, minorias étnicas, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais e
jovens marginalizados, que em muitos lugares do mundo enfrentam preconceito e
discriminação (ALVES E MOLJO, 2015).
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primária universal gratuita é vital para capacitar meninas e mulheres jovens a terem
mais controle sobre suas vidas, ajuda a evitar o casamento infantil, incentiva menos
filhos e leva a uma posição econômica mais forte na sociedade (TELLES, 1992).
O acesso à Internet também é um serviço que deve ser estendido a mais
jovens do mundo, pois essa tecnologia permite que a educação e o acesso às
informações vão além da sala de aula, constituindo-se uma plataforma inestimável
para a comunicação social e política da juventude. O ativismo digital representa hoje
uma importante ferramenta para os movimentos sociais, pois é uma linguagem
jovem que possibilita o engajamento político e social destes atores, sendo uma das
modalidades que mais cresce. Porém, é válido ressaltar que essa ferramenta está
restrita àqueles que têm acesso aos fundos e à tecnologia necessários, que são
predominantemente homens jovens (OLIVEIRA, 2002).
A partir do exposto, a presente pesquisa caminha-se para apresentar a
realidade brasileira e seus atravessamentos sobre a criminalização da juventude,
no capítulo a seguir irá retratar como o Estado tem lidado com essa parte da
população, além de como as desigualdades sociais afetam de fato os jovens
brasileiros citando as desigualdades sociais e regionais.
passou por uma série de reformas que aumentaram a concentração de renda entre
os ricos, apesar das reformas supostamente promoverem crescimento para todos.
Como não são responsabilizados por diferentes grupos de interesse, as ditaduras
passam por reformas que só beneficiarão seus aliados (SIMÕES, 2011).
No decorrer dos anos as crises políticas afetam a desigualdade no Brasil.
Para o autor Neri (2019), em tempos de agudas crises políticas e econômicas, o
governo passa por reformas mais drásticas enfrentando uma crise, mesmo sob a
democracia, você não pode operar como sempre, é necessário inovar, isso abre
possibilidades para grandes mudanças na desigualdade.
Souza (2015) destaca que muitos autores se referem ao passado de
escravidão como uma razão pela qual a desigualdade ainda persiste no Brasil. No
entanto, o autor também salienta que o Brasil teve muitas oportunidades de superar
os encargos da escravidão, mas seguiu o caminho em direção a uma maior
desigualdade. Como o mesmo relata, o Brasil é um país profundamente afetado
pela escravidão. A escravidão colocou o Brasil em um nível muito alto de
desigualdade, mas outros países em níveis semelhantes de desigualdade foram
capazes de superá-la.
Após a Segunda Guerra Mundial, em dezenove anos de democracia, o Brasil
encontrou uma pequena diminuição do índice de desigualdade, entretanto, após o
golpe militar de 1964, ocorreu totalmente o oposto, onde o país percebeu um grande
aumento de desigualdade, destacando-se os oito primeiros anos do regime. Nesta
mesma época, considera-se que o regime analisou e reagiu de forma incorreta
perante a crise econômica, onde esperavam que que a redução de salários e o
aumento da lucratividade atraíssem investimentos e promovessem o crescimento.
Das expectativas, conseguiram alcançar os crescimentos, porém desigual e
desproporcional, onde a renda da população aumentou e a diferença de benefícios
proporcionados entre as classes disparou. Observa-se que o regime falhou em suas
políticas econômicas também na década de 1980, onde outras crises poderiam ter
sido evitadas, como a recessão e hiperinflação que atingiu a classe pobre de
maneira devastadora (ROLLEMBERG, 2011).
Surgiu no Brasil no início do século XX a “esterilização” dos denominados
degenerados e inadequados, com a ideia de acabar com os males sociais, o que
incluía toda a população que não acrescentava no capitalismo, o movimento
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2.3.3 Tributação
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3 CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE
Tal fato pode ser verificado em diversas batidas policiais realizadas em bailes
funks da cidade do Rio de Janeiro sob a justificativa de perturbação do sossego.
Além disso, ocorre também, por vezes, a impossibilidade de realização destas
atividades de lazer. Por tanto, pode-se concluir que para que ocorra o processo de
criminalização da pobreza e da juventude pobre é necessário que se convença a
sociedade que ser pobre é ser perigoso, é ser uma ameaça, processo que faz
reviver o mito das classes perigosas que fundamentou os primórdios de
consolidação do sistema capitalista. “E isso envolve não somente legitimar o envio
de caveirões para deixar corpos no chão nas favelas, mas também criminalizar seus
modos de vida, seus valores, sua cultura”. Neste contexto, percebe-se então que o
funk está no centro desse processo (FACINA, 2009, s/p).
pode-se levantar ocorrências pelo país que reafirmam tais suposições (LONGO,
2012).
Nas mídias sociais, é comum o relato de pessoas negras que estiveram sob
suspeita e vigilância ao caminhar por uma loja, e muitos dos relatos são feitos por
pessoas brancas que presenciaram tal ocorrido. Estes estereótipos estão tão
enraizados na mente humana que é naturalizado, por exemplo, uma pessoa ficar
mais atento ao passar por uma calçada próxima a pessoas pobres ou negras, ou
até mesmo mudarem de sentido na rua. Isso tudo só reafirma o preconceito
existente quanto ao negro e pobre, onde muitos são classificados com potenciais
envolvidos com tráfico, com a criminalidade e milícias (BRANDÃO, 2010).
Infelizmente, relatos e ocorrências como estas produz desesperança para
aqueles que são vítimas destas situações. Se a sociedade brasileira for analisada
neste aspecto ao longo da história, encontrarão uma sociedade preconceituosa,
mas subentendida pelo mito da cordialidade, e que ao passar dos anos, tal aspecto
apenas se camuflou com contas e programas criados para amenizar este tipo de
situação (SOARES, 2010).
Enquanto o jovem, negro e pobre continuar sendo o principal suspeito,
mesmo em meio a um grupo de jovens brancos, a sociedade jamais conseguirá
enxergar de forma diferente, pois, a exclusão nunca foi resultado eficaz para sanar
diferenças. Pelo contrário, a interação e igualdade são diretrizes para que o jovem
negro da periferia, por exemplo, veja um caminho para seu futuro que possa ser
trilhado sem se preocupar com apreensões e revistas sem justificativas
(ROVARON, 2013). Diante de um cenário tão preocupante como esse, torna-se
fundamental refletir sobre modos de enfrentamento ao extermínio simbólico e
material direcionado contra a juventude brasileira. As justificativas de práticas
punitivas e de controle social desta população são perpetradas por naturalizações
e criminalizações cotidianas em torno do estigma direcionado ao jovem atravessado
pelos três ps: pobre, preto e de periferia como discutido por Isis Longo (2012) e
muitas reforçado por profissionais, pela mídia e população em geral. As violações
de direitos a que estes jovens são submetidos devido a sua classe social, cor de
sua pele e idade são, por vezes, omitidas ou negligenciadas das análises científicas
e das práticas desenvolvidas no contexto das políticas públicas (MAYORGA,
PINTO, 2013; SANTOS et. al, 2012).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
HORA, Carlos Eduardo Pereira. Anuário Natal 2013. Natal: SEMURB, 2013.
LONGO, Isis S. O estigma dos três ps: pobre, preto, da periferia. A visão de
adolescentes da Comunidade Heliópolis. Anais. Colóquio Internacional
Culturas Jovens Afro-Brasil América: Encontros e Desencontros: Encontros
e Desencontros, 2012.
MEDEIROS, Fernanda Cavalcanti de, PAIVA, Ilana Lemos de, BEZERRA, Marlos
Alves. A relação drogadição-violência sob a perspectiva dos jovens da
periferia. Infância e juventude em contextos de vulnerabilidades e resistência/
organizadores Ilana Lemos de Paiva ...[et al.]. São Paulo: Zogodoni, 2013. p. 239-
252.
NASCIMENTO, Maria Lívia do; CUNHA, Fabiana Lopes da; VICENTE, Laila Maria
Domith. A desqualificação da família pobre como prática de criminalização da
pobreza. Revista Psicologia Política, 7.14: 0-0, 2007.