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de perguntar

O que você
precisa saber sobre
DEPENDÊNCIA
QUÍMICA
e tem medo
de perguntar
O62 Oppermann, Clarice Móttola de Oliveira.
O que você precisa saber sobre dependência química e tem
medo de perguntar / Clarice Móttola de Oliveira Oppermann.
— Novo Hamburgo : Sinopsys Editora, 2023.
64 p. ; 23 cm.

ISBN 978-65-5571-137-0

1.Vício em drogas. 2.Abuso de substâncias. I. Título.

CDD 362.29

Catalogação na publicação: Vanessa Levati Biff — CRB 10/2454


Clarice Móttola de Oliveira Oppermann

O que você
precisa saber sobre
DEPENDÊNCIA
QUÍMICA
e tem medo
de perguntar

O que você
precisa saber sobre
DEPENDÊNCIA 2023

QUÍMICA
© Sinopsys Editora e Sistemas Eireli, 2023.

Supervisão editorial: Paola Araújo de Oliveira


Capa: Maurício Pamplona
Preparação de originais: Marquieli de Oliveira
Editoração: Juliano Gottlieb

Todos os direitos reservados à


Sinopsys Editora
(51) 3600-6699
atendimento@sinopsyseditora.com.br
www.sinopsyseditora.com.br
AUTORA

Clarice Móttola de Oliveira Oppermann. Psicóloga. Sócia-diretora,


psicóloga clínica e supervisora do Núcleo de Terapia Cognitivo-
-comportamental Modus Cognitivo, em Porto Alegre (RS). Professora
do curso de Formação em Terapia do Esquema da Wainer Psicologia
Cognitiva. Professora do Programa de Ensino e Pesquisa em Transtornos
de Humor do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Professora de Terapia
Cognitiva para os Transtornos por Uso de Substâncias no curso de
Especialização em Psiquiatria do Centro de Estudos José Barros Falcão.
Professora convidada em cursos de pós-graduação em Terapia Cognitivo-
-comportamental e Terapia do Esquema em vários estados brasileiros.
Coordenadora de grupos terapêuticos para o tratamento da dependência
química e obesidade. Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental
pelo Instituto WP. Possui formação em Terapia do Esquema pela Wainer
Psicologia Cognitiva. Membro da Diretoria da Associação Brasileira
de Estudos do Álcool e outras drogas (ABEAD) – gestão 2019-2021.
Presidente da Associação de Terapias Cognitivas do Rio Grande do Sul
(ATC-RS) – gestão 2022-2025.
DEDICATÓRIA

Ao Paulo, meu querido companheiro de vida, e aos meus queridos filhos,


Paula e Fernando Henrique, meus amores para sempre.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao psicólogo e amigo Fernando Elias José pelo convite para es-
crever este livro e pela confiança no meu trabalho, assim como ao editor
Ricardo Gusmão, que apostou nesta ideia, tornando possível sua conclu-
são.
Aos pacientes da Unidade de Internação e do Ambulatório para o
tratamento de Dependentes Químicos do Hospital Psiquiátrico São Pe-
dro, bem como aos pacientes de meu consultório, dedico meus sinceros
agradecimentos, pois foi com eles que aprendi e aprendo, diariamente,
como compreender e tratar os dependentes químicos.
Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram a me tornar a psicóloga
que sou hoje, de um modo muito especial à psicóloga Renata Brasil Araú-
jo, grande amiga e sócia, por ter sido minha supervisora e um modelo
e exemplo a ser seguido, me proporcionando o aprendizado do melhor
formato de terapia para o tratamento das adições.
Sou grata a meus colegas e amigos, pelas trocas profissionais e por
tudo o que me proporcionaram.
SUMÁRIO

Introdução................................................................................................................ 13

1 O que é dependência química?.................................................................... 15

2 O que significa tolerância e síndrome de abstinência?.................................. 19

3 O que é codependência?.............................................................................. 21

4 Outros transtornos que podem acompanhar a dependência química............ 23

5 Uso de álcool e outras drogas ao longo da vida............................................. 27

6 O que acontece no cérebro de quem tem dependência química?.................. 31

7 Sinais de que a pessoa pode estar sofrendo de dependência química............. 33

8 O que deve ser feito para tratar o dependente químico................................. 35

9 Como é o tratamento da dependência química?........................................... 47

10 Como o paciente pode fazer para não sofrer uma recaída?............................ 51

11 Fortes aliados do processo terapêutico.......................................................... 57

12 Mitos e verdades sobre a dependência química............................................. 59

Considerações finais.................................................................................................. 61

Referências................................................................................................................ 63

Leituras recomendadas.............................................................................................. 64
INTRODUÇÃO

Durante minha prática clínica, tenho observado que, na maior parte das
vezes, as pessoas que sofrem de dependência química (transtornos por
uso de substâncias) procuram tratamento por influência de familiares e
amigos, que chegam ansiosos por informações e soluções de como lidar
com o problema, aonde ir e o que fazer.
Quando recebi o convite para escrever a respeito desse tema, pensei
que seria um bom momento para elaborar um manual que pudesse es-
clarecer e orientar as pessoas por meio de uma visão geral sobre o que é
dependência química, os tipos de substâncias psicoativas que existem e
quais são os seus efeitos agudos e crônicos, os sintomas de abstinência,
as intervenções farmacológicas e psicoterápicas, sobre a necessidade de
internação, sobre a importância da rede familiar para a efetividade do
tratamento, qual é o suporte oferecido pelos grupos terapêuticos, como
se configura o trabalho nas clínicas de internação e comunidades terapêu-
ticas, entre outras questões importantes que envolvem o tratamento da
dependência química.
Por muito tempo, a dependência química foi compreendida como
uma característica ligada ao caráter da pessoa, que era vista como de má
índole, agressiva, violenta, mentirosa, preguiçosa e com comportamentos
desajustados e inadequados. Contudo, a partir de estudos e experiências
realizadas ao longo do tempo, passou a ser considerada uma doença trata-
da no âmbito da medicina. Por fim, com a evolução das ciências no século
XX, inclusive da psicologia e das ciências sociais, a etiologia da doença
passou a ser considerada multifatorial, ou seja, diversos fatores podem de-
sencadear o transtorno, incluindo a quantidade e a frequência do uso da
substância, a condição de saúde do indivíduo, a predisposição genética,
assim como outras questões biológicas, psicológicas e ambientais.
14  Introdução

Em função disso, o tratamento da dependência química necessita de


um planejamento adequado a cada paciente, considerada a sua individua-
lidade, a fim de se obter melhores resultados. As terapias cognitivo-com-
portamentais têm sido referenciadas como abordagens eficazes para o tra-
tamento desse tipo de transtorno psiquiátrico. No decorrer deste livro,
serão apresentadas algumas das principais estratégias e técnicas utilizadas
durante o tratamento psicoterápico.
1
O QUE É DEPENDÊNCIA QUÍMICA?

A dependência química tem uma categoria diagnóstica bem definida den-


tro dos manuais diagnósticos psiquiátricos, sendo uma doença mental
complexa, caracterizada por compulsão, fissura, procura e uso de substân-
cias apesar dos prejuízos de várias ordens que isso possa trazer.
Para o critério de diagnóstico, existem atualmente dois códigos in-
ternacionais: a publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS),
conhecida como Classificação estatística internacional de doenças e proble-
mas relacionados à saúde (CID), que está em sua 11ª edição (CID-11), e
o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, em sua 5ª edição
revisada (DSM-5-TR, American Psychiatric Association, 2022).
De acordo com o DSM-5-TR, o diagnóstico é fundamentado nas
seguintes evidências:

Critério A: padrão problemático de uso de determinada substância, que leve a


comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo, percebido por pelo
menos dois dos critérios a seguir, que devem ocorrer pelo período mínimo de
12 meses:
• A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por
um período maior que o pretendido.
• Desejo persistente ou esforços malsucedidos na tentativa de reduzir ou con-
trolar o uso da substância.
• Muito tempo é gasto em atividades relacionadas a obtenção, utilização ou
recuperação dos efeitos do uso da substância.
• Fissura, desejo intenso ou mesmo necessidade de usar a substância.
• Uso recorrente da substância, resultando em fracassos no desempenho de
papéis em casa, no trabalho ou na escola.
• Uso contínuo da substância, apesar dos problemas sociais ou interpessoais
persistentes ou recorrentes causados ou piorados por seus efeitos.
• Abandono ou redução de atividades sociais, profissionais ou recreativas im-
portantes ao indivíduo devido ao consumo de substâncias.
(Continua)
16  O que é dependência química?

• Uso contínuo da substância mesmo em situações nas quais esse consumo


represente riscos à integridade física.
• O consumo é mantido apesar da consciência de se ter um problema físico ou
psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado
por esse uso.
• Tolerância, definida como: efeito acentuadamente menor com o uso conti-
nuado da mesma quantidade de substância e/ou necessidade de quantidades
progressivamente maiores de substância para atingir o mesmo grau de intoxi-
cação.
• Abstinência manifestada por: síndrome de abstinência característica da subs-
tância utilizada e/ou uso da substância ou de similares na intenção de evitar
os sintomas de abstinência.

Tipos de substâncias psicoativas e os efeitos que


provocam no cérebro
Em suma, existem três tipos de substâncias psicoativas:
y Drogas depressoras: diminuem a atividade cerebral, levando o
cérebro a funcionar de forma lentificada, o que dificulta o pro-
cessamento e o entendimento das informações. Essas drogas di-
minuem a atenção, a concentração, a capacidade intelectual e a
tensão gerada pelo emocional. Exemplos: ansiolíticos, tranquili-
zantes, álcool, inalantes, cola, morfina e heroína.
y Drogas estimulantes: aumentam o nível de percepção e redu-
zem o cansaço. Essas drogas aumentam a atividade cerebral, fa-
zendo o cérebro funcionar de forma mais acelerada. Elas costu-
mam ser utilizadas para se obter um estado de euforia, para se
manter acordado por longos períodos, para diminuir o apetite,
entre outros. Exemplos: cafeína, tabaco, cocaína, crack e anfeta-
minas.
y Drogas alucinógenas: alteram a percepção do tempo, diminuem
a sensação de medo, causam alucinações visuais, aumentam a
frequência cardíaca e a pressão arterial, entre outros sintomas.
Exemplos: maconha, ecstasy, LSD e outras substâncias derivadas
de plantas e cogumelos.
O que você precisa saber sobre dependência química e tem medo de perguntar  17

Fonte: itakdalee/Shutterstock.com

O uso de uma droga pode levar ao consumo de outra, como, por


exemplo, álcool e cocaína. Ao usar cocaína, a pessoa fica mais tensa e agi-
tada, então pode usar o álcool para relaxar. Na situação inversa, ela pode
estar com sono por beber álcool e então usar a cocaína para manter-se
acordada (muito comum acontecer isso em festas noturnas). Muitas pes-
soas não sabem do risco que correm ao usar duas ou mais substâncias ao
mesmo tempo. A utilização simultânea de álcool e cocaína, por exemplo,
resulta em uma terceira composição, o cocaetileno, uma substância for-
mada no fígado após a metabolização do álcool e da cocaína, com efeitos
mais longos e duradouros do que os da cocaína utilizada isoladamente, o
que provoca um maior nível de intoxicação e risco cardíaco.
O uso de drogas também pode levar ao desenvolvimento de outras
doenças, como ansiedade e depressão. Isso não vale apenas para drogas
ilícitas, como cocaína, ecstasy e anfetaminas, mas também para as legaliza-
das, como o álcool e a nicotina presente nos cigarros.

O que é fissura ou craving?


No exato momento em que a pessoa vê a droga, seu cérebro começa a se
preparar para recebê-la, disparando um mecanismo chamado de craving
ou fissura, um desejo de repetir a experiência dos efeitos prazerosos que
ela gera. Trata-se de uma vontade forte de usar a substância, que pode
18  O que é dependência química?

ocorrer tanto na fase de consumo quanto no início da abstinência, ou


após um longo tempo sem utilizá-la. Essa vontade costuma vir acom-
panhada de alterações no humor, no comportamento e no pensamento.
O condicionamento que leva à busca pela droga fica tão enraizado nos
circuitos cerebrais, que pode causar episódios de fissura mesmo após lon-
gos períodos de abstinência. A pessoa deixa de ser usuária, mas a depen-
dência persiste, motivo da cronicidade da doença.
Depois que a pessoa se tornou dependente, é muito difícil ver a droga
e resistir ao desejo de usá-la. Por isso, principalmente na fase inicial do
tratamento, aconselha-se que o usuário se afaste completamente de todos
os estímulos que o levem a lembrar da substância, a fim de que possa
aprender a lidar com as fissuras.
Por esse motivo, voltar aos locais em que a droga foi consumida e
estar na presença de pessoas que a utilizam leva a um estado mental que
predispõe ao uso, pressionando o usuário a repetir a dose. A maioria dos
gatilhos para iniciar a fissura e o comportamento de procurar drogas en-
volve pessoas, objetos, lugares, circunstâncias e estados emocionais as-
sociados ao uso anterior. Esses gatilhos acionam uma espécie de “piloto
automático” do usuário de volta àquelas situações em que ele utilizava a
substância, gerando a fissura ou desejo de consumir. Exemplos de gati-
lhos: filmes, feriados, dinheiro na mão, convívio com parceiros de uso,
solidão, tédio, depressão, parafernálias para uso das drogas, fotografias,
loja de bebidas e bares.

Fonte: Sensvector/Shutterstock.com

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