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LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.

Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e


redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata
esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo,
orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e
ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares
ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único
deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II – ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde,
visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III – ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV – ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V – ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não
de sua hospitalização involuntária;

VI – ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII – receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII – ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX – ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a


assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a
devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de
saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em
saúde aos portadores de transtornos mentais.

Art. 4º A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos


extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

§ 1º O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu


meio.

§ 2º O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência


integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência
social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

§ 3º É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições


com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2º e
que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2º.

Art. 5º O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de


grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte
social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida,
sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser
definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.

Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico


circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:


I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II – internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de


terceiro; e

III – internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar,
no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do


paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8º A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico


devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina – CRM do Estado onde se localize o
estabelecimento.

§ 1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser


comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no
qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva
alta.

§ 2º O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou


responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

Art. 9º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz
competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à
salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão
comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao
representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo
máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas
sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida
comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.
Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional
para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

EPIDEMIOLOGIA DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL. Mello MF, Mello AAF, Kohn


R, organizadores. Porto Alegre: Artmed; 2007. 207 pp.

ISBN: 85-363-0754-4

Considerando o momento brasileiro de reestruturação da atenção pública em Saúde


Mental, e a escassez de informação epidemiológica em nosso meio, a edição do
livro Epidemiologia em Saúde Mental no Brasil, organizado por Marcelo Feijó de
Mello, Andréa Feijó de Mello & Robert Kohn, foi extremamente oportuna por
apresentar um primeiro compilado de estudos brasileiros na temática, preenchendo
uma lacuna importante para o planejamento das ações neste setor, disponibilizando
indicadores da magnitude dos problemas de saúde mental. Todos reconhecem a
importância de que políticas, intervenções ou programas sejam baseados em
informação derivada de estudos em saúde mental realizados principalmente no
próprio país, permitindo colaborações proveitosas entre pesquisadores e os
envolvidos na tomada de decisão.

No primeiro capítulo, Regina Marsiglia e colaboradores caracterizam a realidade


social brasileira demonstrando indicadores de emprego, renda, pobreza e
desigualdade, abordam a questão das políticas públicas e das disparidades
regionais, ficando com o Nordeste o pior índice nacional de desenvolvimento
humano. Sendo que as condições de vida repercutem nos indicadores de saúde
mental, esta nos pareceu a razão para a inclusão deste primeiro tópico.

Segue-se para o segundo capítulo no qual o Coordenador Nacional de Saúde Mental


em conjunto com sua equipe, abordam os desdobramentos da Reforma Psiquiátrica
e as incursões do Ministério da Saúde para realizar a substituição progressiva do
leito hospitalar pela rede integrada de atenção em saúde mental, privilegiando o
tratamento em serviços de base comunitária. Dimensiona-se um CAPS para cada
100 mil habitantes, registrando-se o funcionamento de 689 unidades no país. A
assistência de base comunitária para a infância e adolescência surge somente a
partir de 2003.

No terceiro, Sergio Andreolli apresenta um panorama da rede nacional de


assistência em saúde mental, analisando indicadores de hospitais e dos Centros de
Atenção Psicossocial para avaliar o impacto das medidas comunitárias de atenção.
Demonstra que 36% de redução dos leitos psiquiátricos ao longo de 11 anos foram
devidos em grande parte à região Sudeste, em oposição à região Norte que se
manteve estável com seu número de leitos. Observa ainda que 40% de redução
dos gastos com internação psiquiátrica não passaram automaticamente para
serviços comunitários, verificando ainda, carência de Psiquiatras e de Enfermeiros
especializados.

Avançamos para o capítulo quatro no qual Isabel Bordini & Cristiane de Paula
apresentam um quadro pormenorizado e claro acerca dos estudos epidemiológicos
da infância e adolescência, discutindo nove estudos populacionais brasileiros
publicados a partir de 1980, para os quais explicitou critérios de inclusão e
exclusão. Penso, porém, que o subtítulo "Estudos Populacionais e Prevalência" não
denominam corretamente os aspectos metodológicos da revisão ali tratados.
Estudos que combinaram dados de dois ou três informantes demonstraram altas
taxas de prevalência - 22 e 24,6% - entre famílias de baixa renda. Assinala-se
ainda que características familiares como mãe solteira, ausência paterna, brigas
freqüentes entre os pais, têm sido associadas com atrasos no desenvolvimento
mental e motor de menores de três anos que freqüentam creches.

As taxas de prevalência obtidas com instrumentos de rastreamento variaram de


13,5 a 35% quando pais ou substitutos foram os únicos informantes. Quando o
próprio adolescente informava, tivemos variações de 12,6% a 13,1%. Sendo o
professor informante exclusivo ocorria variação entre 8,3 e 10,3%. Usando
instrumentos diagnósticos e combinando informações de pais, professores e
adolescentes as taxas variaram entre 7 e 12,7%.

No capítulo cinco nos confrontamos com a extensão dos transtornos psiquiátricos


na população adulta brasileira por meio da contribuição de Jair Mari, Miguel Jorge &
Robert Kohn, apresentando índices padronizados por sexo e idade para cada região
do país. Estima-se que dez milhões de pessoas demandam atenção psiquiátrica
especializada. Esses resultados propiciam uma estimativa da demanda de saúde
mental no Brasil e das necessidades de serviços para absorvê-la.

No capítulo seis, Sergio Blay et al. apresentam prevalências de 7% para demência


em maiores de 65 anos, e taxa de incidência de 13,8 para cada mil habitantes. Para
a doença de Alzheimer encontraram uma incidência de 7,7/1.000 habitantes. O
nível educacional tem sido apontado como um fator de proteção.

A epidemiologia do suicídio constitui o capítulo sete, com Saint-Claire & Neury


Botega trazendo uma introdução conceitual do fenômeno e revisão do panorama
internacional. Ocorreram no Brasil 7.861 suicídios em 2003, correspondendo a 1%
do total de mortes, sendo mais freqüentes para os homens entre 20 e 29 anos e
para as mulheres entre 15 e 19. O coeficiente de mortalidade por 100 mil
habitantes tem se mantido em torno de 4 mil. A região sul tem os maiores
coeficientes enquanto o nordeste os menores.

No capítulo oito, Renato Marchetti & Jose Gallucci discutem a epidemiologia da


epilepsia, com uma introdução clara e informativa. Dispõe-se apenas de medidas
de prevalência com estimativas variando entre 0,2 e 2% da população
apresentando uma ou mais crises durante a vida. O impacto econômico da epilepsia
a colocou como responsável por 1% dos dias perdidos com doença em todo o
mundo. Prevalência de epilepsia é aproximadamente 9 vezes maior em unidades de
atendimento psiquiátrico agudo.

A questão da pesquisa em saúde mental na América Latina é abordada no capítulo


nove, no qual Ricardo Zorzetto et al. assinalam um envolvimento maior do México,
Brasil e Argentina segundo o critério de publicação de artigos científicos. Finaliza-se
então com o capítulo dez de autoria dos três organizadores, focalizando o ônus das
doenças mentais por meio de uma medida de incapacidade ajustada para os anos
de vida.

O livro é de extrema utilidade para os profissionais do campo.

Considerações gerais sobre a doença mental

Por Michael B. First, MD, Columbia University

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FATOS RÁPIDOS

Os transtornos mentais (psiquiátricos ou psicológicos) incluem as alterações de


pensamento, emoções e/ou comportamento. Pequenas alterações nesses aspectos
da vida são comuns, mas quando essas alterações causam angústia significativa à
pessoa e/ou interferem na sua vida cotidiana, elas são consideradas uma doença
mental ou um transtorno de saúde mental. Os efeitos de uma doença mental
podem ser duradouros ou temporários.

Cerca de 50% dos adultos tende a sofrer de doença mental em algum momento da
sua vida. Mais de metade dessas pessoas sentem sintomas de moderados a graves.
Na verdade, quatro das dez principais causas de incapacidade nas pessoas com
cinco anos de idade ou mais se devem a transtornos de saúde mental, sendo a
depressão a principal causa de todas as doenças que causam incapacidade. Apesar
dessa prevalência elevada de doenças mentais, apenas cerca de 20% das pessoas
que têm doença mental procura assistência médica.

Ainda que se tenha alcançado grandes avanços na compreensão e no tratamento


das doenças mentais, o estigma que as rodeia ainda persiste. Por exemplo, a
pessoa com doença mental pode ser culpada pela sua doença ou considerada
preguiçosa ou irresponsável. A doença mental pode ser interpretada como menos
real ou legítima do que a doença física, gerando desinteresse no que diz respeito ao
pagamento do tratamento por parte dos responsáveis de saúde e das companhias
de seguros. No entanto, a crescente conscientização sobre o quanto a doença
mental afeta os custos dos planos de saúde e o número de dias de trabalho
perdidos está mudando essa tendência.

Como identificar a doença mental

Nem sempre é possível diferenciar com clareza uma doença mental de um


comportamento normal. Por exemplo, pode ser difícil diferenciar a mágoa normal
causada pelo luto da depressão propriamente dita em pessoas que sofreram uma
perda significativa, como a morte do cônjuge ou de um filho, porque ambas
englobam tristeza e humor deprimido. Da mesma forma, decidir se o diagnóstico de
um transtorno de ansiedade se aplica a pessoas que estão preocupadas e
estressadas devido ao seu trabalho pode ser desafiador a maioria das pessoas
sente isso em algum momento. A linha divisória entre ter determinadas
caraterísticas de personalidade (por exemplo, ser metódico ou organizado) e ter um
distúrbio de personalidade (por exemplo, transtorno obsessivo-compulsivo) pode
ser tênue. Assim, é melhor se a doença mental e a saúde mental forem
consideradas como fazendo parte de um espectro contínuo. Uma eventual linha
divisora costuma se basear nos seguintes quesitos:

A gravidade dos sintomas


Por quanto tempo os sintomas duram

De que maneira os sintomas afetam a capacidade de funcionamento na vida diária

Causas

Atualmente, considera-se que a doença mental é causada por uma interação


complexa de fatores, incluindo fatores:

Genética

Biológicos (fatores físicos)

Psicológico

Ambientais (incluindo fatores sociais e culturais)

A pesquisa tem demonstrado que fatores genéticos influenciam muitos transtornos


de saúde mental. Frequentemente, um transtorno de saúde mental ocorre em uma
pessoa cuja composição genética a torna vulnerável a esses transtornos. Essa
vulnerabilidade, juntamente com os estresses da vida, por exemplo, problemas
com a família ou trabalho, podem dar origem ao desenvolvimento de um transtorno
mental.

Além disso, muitos especialistas acreditam que uma disfunção no controle dos
mensageiros químicos no cérebro (neurotransmissores) pode contribuir para os
transtornos de saúde mental. Técnicas de diagnóstico por imagem como, por
exemplo, ressonância magnética (RM) e tomografia por emissão de pósitrons (TEP),
frequentemente mostram alterações no cérebro de pessoas com transtorno de
saúde mental. Por isso, muitos transtornos de saúde mental parecem ter um
componente biológico, semelhantemente aos transtornos que são considerados
neurológicos (por exemplo, a doença de Alzheimer). Contudo, ainda não está claro
se as alterações observadas nos exames de imagem são a causa ou o resultado do
transtorno de saúde mental.

Desinstitucionalização

Em décadas recentes, surgiu um movimento para trazer pessoas mentalmente


doentes para fora das instituições (desinstitucionalização) e ampará-las de modo
que elas possam viver em comunidade. Esse movimento tornou-se possível com o
desenvolvimento de medicamentos eficazes em conjunto com algumas mudanças
de atitude com relação aos doentes mentais. Devido a esse movimento, foi
colocada uma ênfase maior na visão de que pessoas com doenças mentais
pertencem a famílias e comunidades. Uma decisão da Suprema Corte dos EUA em
1999 contribuiu significativamente para essa mudança. Essa decisão, denominada
decisão Olmstead, requer que os estados providenciem tratamento de saúde
mental em comunidades sempre que essa iniciativa for considerada medicamente
apropriada.
Pesquisas demonstram que determinadas interações entre uma pessoa com doença
mental grave e membros da família podem melhorar ou piorar a doença mental.
Nesse sentido, desenvolveram-se técnicas de terapia familiar que evitam a
necessidade de readmitir pessoas com doenças mentais crônicas em instituições de
saúde mental. Atualmente, a família de uma pessoa com uma doença mental
envolve-se mais do que nunca no tratamento, como uma aliada. O clínico geral
também desempenha um papel importante na reintegração da pessoa com doença
mental na sociedade.

Além disso, uma vez que houve um aperfeiçoamento na eficácia da farmacoterapia,


há uma chance menor, em relação ao que era antigamente, de que as pessoas com
doença mental que precisassem ser internadas precisem ser colocadas em
isolamento ou contenção. Além disso, elas frequentemente recebem alta e são
transferidas para centros de tratamento de dia no prazo de poucos dias. Esses
centros de tratamento de dia custam menos que as instituições que internam os
pacientes, porque precisam menos de pessoal, dão ênfase à terapia de grupo em
vez da terapia individual e os pacientes pernoitam em seu domicílio ou em
albergues em vez de no hospital.

Contudo, a desinstitucionalização trouxe seus próprios problemas. O tratamento


necessário e a proteção contra danos que costumavam ser oferecidos nas
instituições não foram devidamente substituídos por serviços comunitários de saúde
mental devido à falta de recursos financeiros. Assim, muitas pessoas não têm
conseguido receber o cuidado com a saúde mental de que precisam. Ademais, as
leis atuais agora impedem que pessoas com doença mental que não representam
um risco para si próprias ou para a sociedade sejam internadas em instituições de
saúde mental ou medicadas contra sua vontade. Assim, muitas pessoas que
adoecem novamente fora do hospital se tornam sem teto ou acabam indo para a
prisão. Muitas delas morrem jovens devido à exposição aos elementos, infecção ou
problemas médicos sem tratamento adequado. Ainda que essas medidas legais
protejam os direitos civis das pessoas, elas fazem com que seja mais difícil
proporcionar o tratamento de que muitos doentes mentais necessitam, sendo que
alguns podem agir de forma extremamente irracional se não tratados.

Devido aos problemas relativos à desinstitucionalização, novos tipos de tratamento,


como o tratamento comunitário assertivo (TCA), foram desenvolvidos. Eles auxiliam
na formação de uma rede de proteção para pessoas com doenças mentais crônicas
sérias. O TCA utiliza uma equipe de assistentes sociais, especialistas em
reabilitação, conselheiros, enfermeiras e psiquiatras (uma equipe multidisciplinar).
A equipe presta serviços individualizados a pessoas que sofrem de doenças mentais
graves e que não podem, ou não querem, procurar auxílio médico ou uma clínica.
Os serviços são prestados na casa da própria pessoa ou na vizinhança, por
exemplo, em restaurantes, parques ou lojas próximas.

Apoio social
Todas as pessoas necessitam de uma rede social para satisfazer a necessidade
humana de serem tratadas, aceitas e apoiadas emocionalmente, sobretudo em
períodos de estresse. As investigações demonstraram que um apoio social solidário
pode acelerar de forma significativa a recuperação de doenças físicas e mentais.
Mudanças na sociedade diminuíram o tradicional apoio que, antigamente, os
vizinhos e os familiares proporcionavam. Alternativamente, surgiram grupos de
autoajuda e de ajuda mútua em muitos países.

Alguns grupos de autoajuda como os Alcoólicos Anônimos ou os Narcóticos


Anônimos, dedicam-se ao comportamento dependente. Outros atuam como
defensores de determinados segmentos da população, como pessoas com
deficiência e idosos. Ademais, há centros, como a Aliança Nacional para Doentes
Mentais (National Alliance for the Mentally Ill), que dão apoio aos familiares de
pessoas com doenças mentais graves.

Classificação e diagnóstico das doenças


mentais
Por 

Michael B. First

, MD, Columbia University

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Em 1980, a Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association)


publicou a terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-III),
representando a primeira tentativa de abordar o diagnóstico de doenças mentais
por meio de definições e critérios padronizados. A mais recente edição, o DSM-5,
publicado em 2013, fornece um sistema de classificação que faz uma tentativa de
separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos
sintomas (isto é, o que dizem e fazem as pessoas como reflexo do que pensam e
sentem) e no curso da doença.
A Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (International
Classification of Disease, 10th Revision) (CID-10), que foi publicada pela primeira vez
em 1992 pela Organização Mundial de Saúde, utiliza categorias diagnósticas
semelhantes às do DSM-5. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças
mentais específicas está sendo feito de forma mais consistente e padronizada em
todo o mundo.
Mudanças de comportamento e personalidade
Por Michael B. First, MD, Columbia University
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Pessoas saudáveis diferem significativamente em geral na sua personalidade, humor
e comportamento. Cada pessoa também varia de dia para dia, dependendo das
circunstâncias. Entretanto, uma mudança importante e repentina na personalidade
e/ou comportamento, especialmente se não estiver relacionada a um evento óbvio
(como tomar um medicamento ou perder uma pessoa amada), em geral indica um
problema.

(Consulte também Considerações gerais sobre a doença mental.)

Mudanças de personalidade e de comportamento podem ser basicamente


classificadas da seguinte forma:

Confusão ou delirium
Delírios
Fala ou comportamento desorganizado
Alucinações
Extremos de humor (por exemplo, depressão ou mania)
Essas categorias não são transtornos. Elas são apenas uma maneira que os médicos
usam para organizar diferentes tipos de pensamento, fala e comportamento
anormal. Essas mudanças de personalidade e de comportamento podem ser
causadas por problemas de saúde física ou mental.

As pessoas podem ter mais de um tipo de mudança. Por exemplo, pessoas com
confusão devido a uma interação medicamentosa às vezes têm alucinações e
pessoas com extremos de humor podem ter delírios.

Confusão e delirium
Confusão e delirium dizem respeito a uma perturbação da consciência. Ou seja, a
pessoa está menos consciente do seu ambiente e, dependendo da causa, pode ficar
excessivamente agitada e violenta ou sonolenta e lenta. Algumas pessoas alternam
entre falta de atenção e excesso de atenção. O seu pensamento parece nebuloso e
lento, ou não apropriado. A pessoa tem dificuldade de se concentrar em perguntas
simples e demora a responder. A fala pode ficar arrastada. Frequentemente, a
pessoa não sabe que dia é, e é possível que ela não consiga dizer onde está. Algumas
não conseguem dizer o seu nome.

O delírio frequentemente resulta de uma problema físico grave recém-surgido ou de


uma reação a um medicamento, especialmente em pessoas idosas. As pessoas que
têm delirium precisam de cuidados médicos imediatos. Se a causa do delírio for
identificada e corrigida rapidamente, com frequência ocorre a resolução do delírio.

Delírios
Delírios são crenças fixas falsas que a pessoa tem, apesar de existirem provas em
contrário. Alguns delírios estão baseados em uma interpretação errada de
percepções e experiências reais. Por exemplo, a pessoa pode se sentir perseguida,
pensando que ela está sendo seguida pela pessoa que está atrás dela na rua ou que
um comum acidente é uma sabotagem propositada. Outras pessoas pensam que
música lírica ou artigos de jornal contém mensagens que se referem especificamente
a elas.

Algumas crenças parecem mais plausíveis e podem ser difíceis de identificar como
sendo delírios, porque elas poderiam ocorrer ou já ocorreram na vida real. Por
exemplo, pessoas são ocasionalmente seguidas por investigadores do governo ou
têm o seu trabalho prejudicado pelos colegas. Nesses casos, é possível classificar a
crença como sendo um delírio devido à insistência da pessoa em continuar a manter
a crença apesar de existirem provas em contrário.

Outros delírios são mais fáceis de identificar. Por exemplo, em delírios religiosos ou
de grandiosidade, a pessoa pode crer que ela é Jesus ou o presidente do país. Alguns
delírios são bastante estranhos. Por exemplo, a pessoa pode pensar que seus órgãos
foram todos substituídos por peças mecânicas, ou que sua cabeça contém um rádio
que recebe mensagens do governo.

Fala desorganizada
Fala desorganizada se refere à fala que não contém as ligações lógicas esperadas
entre os pensamentos ou entre perguntas e respostas. Por exemplo, a pessoa pode
pular de um assunto para outro sem nunca concluir um pensamento. Os assuntos
podem ser pouco relacionados ou totalmente não relacionados. Em outros casos, a
pessoa responde a perguntas simples com respostas longas e divagantes, cheias de
detalhes irrelevantes. As respostas podem ser ilógicas ou completamente
incoerentes. Esse tipo de fala difere da dificuldade em expressar ou compreender a
linguagem (afasia) ou de formar palavras (disartria) que é causada por um distúrbio
cerebral como, por exemplo, um acidente vascular cerebral.

Ocasionalmente, uma fala incompreensível ou intencionalmente evasiva, rude ou


humorística pode não ser considerada uma fala desorganizada.

Comportamento desorganizado
Comportamento desorganizado se refere a fazer coisas bem fora do comum (como
se despir ou se masturbar em público ou gritar e xingar sem uma razão aparente),
ou não ser capaz de se comportar normalmente. A pessoa com comportamento
desorganizado em geral tem dificuldade para realizar suas atividades diárias normais
(como manter uma boa higiene pessoal ou comprar alimentos).

Alucinações
Alucinações dizem respeito a ouvir, ver, sentir o odor, sentir o gosto ou sentir coisas
que não existem de verdade. Ou seja, a pessoa percebe coisas, aparentemente
através dos seus sentidos, que não são causadas por estímulos externos. Isso pode
ocorrer com qualquer sentido. As alucinações mais comuns incluem escutar coisas
(alucinações auditivas), geralmente vozes. As vozes fazem em geral comentários
negativos sobre a pessoa ou ordenam a pessoa a fazer alguma coisa.

Nem todas as alucinações são causadas por transtornos mentais. Alguns tipos de
alucinações têm maior probabilidade de serem causadas por um transtorno
neurológico. Por exemplo, antes de uma convulsão ocorrer, a pessoa pode sentir o
cheiro de algo quando na realidade não há nenhum cheiro (uma alucinação olfativa).

Extremos de humor
Humores extremos incluem ataques de raiva, períodos de extrema euforia (mania)
ou depressão e, inversamente, uma expressão constante de pouca ou nenhuma
emoção (a pessoa parece não responsiva ou apática).

Causas
Embora às vezes as pessoas presumam que mudanças de personalidade,
pensamento ou comportamento são todas devidas a transtornos mentais, existem
muitas causas possíveis. Em última análise, todas as causas envolvem o cérebro, mas
dividi-las em quatro categorias pode ser útil:

Transtornos mentais
Drogas (incluindo intoxicação por drogas, abstinência e efeitos colaterais)
Transtornos que afetam principalmente o cérebro
Transtornos em todo o corpo (sistêmicos) que também afetam o cérebro
Transtornos mentais
Transtornos mentais incluem

Transtornos de ansiedade
Transtorno bipolar
Depressão
Transtornos dissociativos (quando a pessoa se sente desconectada de si própria ou
do mundo ao seu redor)
Transtornos obsessivo-compulsivos
Transtornos de personalidade
Esquizofrenia
Transtornos somáticos (quando fatores mentais são expressos na forma de sintomas
físicos)
Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
Medicamentos
Drogas podem afetar a personalidade ou o comportamento quando elas causam

Intoxicação: Particularmente álcool (quando consumido em grandes quantidades),


anfetaminas, cocaína, alucinógenos (como LSD) e fenciclidina (PCP)
Abstinência: Álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos e opioides
Efeitos colaterais: Medicamentos cuja ação afeta a função cerebral (incluindo
anticonvulsivantes, antidepressivos, antipsicóticos, sedativos e estimulantes),
medicamentos com efeitos anticolinérgicos (por exemplo, anti-histamínicos),
analgésicos opioides e corticosteroides
Raramente, certos antibióticos e medicamentos usados para tratar hipertensão
arterial causam mudanças de personalidade e de comportamento.

Distúrbios que afetam principalmente o cérebro


Esses distúrbios podem afetar a personalidade, o humor e o comportamento. Eles
incluem

Doença de Alzheimer
Infecções no cérebro, como meningite, encefalite e infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV) que afeta o cérebro (um quadro clínico denominado
encefalopatia associada ao HIV)
Tumores cerebrais
Traumatismos cranianos, como concussão e síndrome pós-concussão
Esclerose múltipla
Doença de Parkinson
Transtornos convulsivos
Acidente vascular cerebral
Distúrbios em todo o corpo que também afetam o cérebro
Distúrbios em todo o corpo que também afetam o cérebro incluem

Insuficiência renal
Insuficiência hepática
Baixa glicemia (hipoglicemia)
Lúpus eritematoso sistêmico (LES ou lúpus)
Distúrbios da tireoide, como glândula tireoide hipoativa (hipotireoidismo) ou
glândula tireoide hiperativa (hipertireoidismo)
Com menos frequência, a doença de Lyme, a sarcoidose, a sífilis ou a deficiência de
vitaminas causam alterações de personalidade e comportamento.
Avaliação
Durante a avaliação inicial, o médico tenta determinar se os sintomas são devidos a
um distúrbio mental ou físico.

As seguintes informações podem ajudar as pessoas a decidirem se a avaliação


médica é necessária e a saberem o que esperar durante a avaliação.

Sinais de alerta
Em pessoas com mudanças de personalidade ou comportamento, certos sintomas e
características são causas de preocupação. Esses sinais de alerta incluem

Sintomas que aparecem subitamente


Tentativa de prejudicar a si própria ou outras pessoas, ou ameaça de fazer isso
Confusão ou delirium
Febre
Dor de cabeça intensa
Sintomas que sugerem deficiências no cérebro, como dificuldade de andar,
equilibrar ou falar, ou problemas de visão
Um traumatismo craniano recente (com menos de algumas semanas)
Quando consultar um médico
Pessoas que demonstram sinais de alerta devem ser examinadas por um
profissional de saúde assim que possível. Pode ser necessário solicitar auxílio policial
se a pessoa se mostrar violenta.

Pessoas que não mostram sinais de alerta devem procurar um médico dentro de um
dia ou dois se a mudança de personalidade ou comportamento for recente. Se a
mudança ocorrer gradativamente por período, a pessoa deve procurar um médico
assim que possível, mas uma espera de mais ou menos uma semana não é
prejudicial.

O que o médico faz


Primeiro, o médico faz pergunta sobre os sintomas e o histórico médico. Em seguida,
o médico faz um exame físico, incluindo um exame neurológico juntamente com um
exame de estado mental (que avalia, entre outros, a capacidade de prestar atenção,
a memória, o humor e a capacidade de pensar de modo abstrato, obedecer a
comandos e usar a linguagem). O que for encontrado durante o histórico e exame
físico geralmente sugere uma causa possível para a mudança e quais exames talvez
precisem ser realizados (consulte a tabela Algumas causas e características das
mudanças de personalidade e comportamento).
São feitas perguntas para saber quando os sintomas começaram. Muitos transtornos
mentais começam durante a adolescência ou na faixa dos 20 anos. Se um transtorno
mental começar em uma idade intermediária ou mais tarde, especialmente se não
houver nenhum fato desencadeador óbvio (como a perda de uma pessoa querida), é
mais provável que a causa seja um distúrbio físico. Também é mais provável que a
causa seja um distúrbio físico quando houver uma mudança significativa nos
sintomas mentais durante a meia-idade ou posteriormente em uma pessoa com um
transtorno mental crônico. Se a mudança tiver começo de maneira súbita e
repentina em pessoas de qualquer idade, o médico perguntará sobre os quadros
clínicos que podem desencadear essa mudança. Por exemplo, ele perguntará se a
pessoa recentemente começou ou parou de tomar algum medicamento sob receita
ou uma droga ilícita.

O médico pergunta sobre outros sintomas que podem sugerir uma causa, como

Palpitações: Possivelmente uma glândula tireoide hiperativa ou abstinência de uma


droga
Tremores: Doença de Parkinson ou abstinência de uma droga
Dificuldade para andar ou falar: Esclerose múltipla, doença de Parkinson, derrame
ou intoxicação causada por um opioide ou um sedativo
Dor de cabeça: Infecção no cérebro, tumor no cérebro ou sangramento no cérebro
(hemorragia)
Dormência ou formigamento: Derrame, esclerose múltipla ou deficiência de vitamina
Além disso, pergunta-se à pessoa se ela já foi diagnosticada e tratada por causa de
um transtorno mental ou convulsivo. Se ela já foi tratada, o médico pergunta se ela
parou de tomar seus medicamentos ou diminuiu a dose. No entanto, uma vez que a
pessoa que sofre de transtornos mentais também pode desenvolver distúrbios
físicos, o médico não presume automaticamente que qualquer comportamento
anormal novo seja causado pelo transtorno mental.

O médico pergunta sobre outros distúrbios físicos que a pessoa pode ter (por
exemplo, diabetes) e sobre seu estilo de vida (como estado civil, situação
empregatícia, formação acadêmica, uso de álcool e entorpecentes e condições de
moradia). O médico também pergunta se alguma pessoa da família já teve algum
distúrbio físico que pode causar sintomas mentais (como esclerose múltipla).

Durante o exame físico, o médico procura por sinais de distúrbios físicos que podem
causar alterações no estado mental, em especial:

Febre e/ou frequência cardíaca acelerada (sugerindo uma infecção, abstinência de


álcool ou o uso de altas doses de anfetaminas ou cocaína)
Confusão ou delírio (sugerindo intoxicação por drogas ou abstinência)
Alterações durante o exame neurológico, como, por exemplo, dificuldade em formar
palavras ou compreender a linguagem (o que possivelmente sugere um distúrbio
cerebral)
É mais provável que confusão e delirium resultem de um transtorno físico. Pessoas
com transtornos mentais raramente são confusas ou delirantes. Contudo, muitos
distúrbios físicos que causam mudança de comportamento não causam confusão ou
delírio, mas eles geralmente causam outros sintomas que podem parecer um
transtorno mental.

O médico força o pescoço da pessoa para frente. Se fazer isso for difícil ou doloroso,
a causa pode ser uma meningite. O médico examina as pernas e o abdômen quanto
a inchaço, o que pode indicar insuficiência renal ou hepática. Se a pele ou o branco
dos olhos estiverem amarelados, a causa pode ser uma insuficiência hepática.

É possível que o médico examine o interior dos olhos com um aparelho portátil que
se parece com uma pequena lanterna (denominado oftalmoscópio). Se o médico
observar que há inchaço em parte do nervo ótico (papiledema), é possível que a
pressão dentro do crânio esteja elevada e tumores ou sangramento cerebral talvez
sejam a causa dos sintomas mentais.

TABELA
Some Causes and Features of Personality and Behavior Changes
Icon
Exames
Normalmente, os exames incluem:

Medição do nível de oxigênio no sangue por meio de um sensor que fica preso na
ponta do dedo (a denominada oximetria de pulso)
Exames de sangue para medir o nível de açúcar (glicose) no sangue
Exames de sangue para medir a concentração de álcool e os níveis de
anticonvulsivantes que a pessoa esteja tomando
Exames de urina para verificar a existência de drogas
Um hemograma (HMG) completo
Às vezes, exames de sangue para medir os níveis de eletrólitos e avaliar a função
renal
Para a maioria das pessoas com transtorno mental conhecido, não há necessidade
de fazer mais exames se os seus únicos sintomas forem a piora dos seus sintomas
tradicionais, se elas estiverem despertas e alertas e se os resultados desses exames
e do exame físico forem normais.

Geralmente, são realizados exames de sangue para detectar uma infecção pelo HIV
na maioria das outras pessoas.
Outros exames são realizados com base principalmente nos sintomas e nos
resultados dos exames (consulte a tabela Algumas causas e características das
mudanças de personalidade e comportamento). Os exames podem incluir

Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) do cérebro: Se os


sintomas da disfunção mental acabaram de aparecer ou se a pessoa tem delirium,
dor de cabeça, um traumatismo craniano recente ou qualquer anormalidade
detectada durante o exame neurológico
Uma punção lombar: Se a pessoa tiver sintomas de meningite ou se os resultados da
TC forem normais em pessoas com febre, dor de cabeça ou delirium
Exames de sangue para verificar a função da tireoide: Se a pessoa estiver tomando
lítio, tiver sintomas de distúrbio na tireoide ou tiver mais de 40 anos de idade e tiver
mudanças de personalidade ou comportamento que começaram recentemente
(particularmente pessoas com histórico familiar de distúrbio na tireoide e mulheres)
Radiografia torácica: Se a pessoa tiver febre ou tosse produtiva ou tossir sangue
Culturas de sangue (para verificar se há bactérias na corrente sanguínea): Se a
pessoa estiver muito doente ou tiver febre
Exames de sangue para avaliar a função do fígado: Se a pessoa tiver sintomas de
distúrbio do fígado ou histórico de abuso de álcool ou drogas, ou se não houver
informações específicas sobre ela
Tratamento
Corrige-se ou trata-se o quadro clínico subjacente se possível. Seja qual for a causa, a
pessoa que é um risco para si própria ou para outros, geralmente precisa ser
internada no hospital e tratada independentemente da sua vontade. Muitos estados
exigem que essas decisões sejam tomadas por alguém nomeado para tomar
decisões sobre cuidados com a saúde de pessoas com doenças mentais (o
denominado procurador). Se a pessoa não nomeou alguém para tomar decisões, o
médico pode fazer contato com o parente mais próximo, ou um tribunal pode
nomear um guardião de emergência.

A pessoa que não representa um risco para si própria ou para outros pode recusar a
avaliação e o tratamento, apesar das dificuldades que a sua recusa pode criar para si
mesma ou sua família.
Tratamento das doenças mentais
Por Michael B. First, MD, Columbia University
Última revisão/alteração completa mar 2020| Última modificação do conteúdo mar
2020
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FATOS RÁPIDOS
Ocorreram avanços extraordinários no tratamento das doenças mentais. Como
resultado, atualmente, é possível tratar muitos transtornos de saúde mental quase
com tanto êxito como os físicos.

A maioria dos métodos para tratar os transtornos de saúde mental pode ser
classificada como

Somáticos
Psicoterapêuticos
Os tratamentos somáticos incluem medicamentos, eletroconvulsoterapia e outros
tipos de terapia que estimulam o cérebro (por exemplo, estimulação magnética
transcraniana e estimulação do nervo vago).

Os tratamentos psicoterapêuticos incluem psicoterapia (individual, de grupo ou


familiar e conjugal), técnicas de terapia comportamental (por exemplo, métodos de
relaxamento ou terapia de exposição) e hipnoterapia.

Grande parte dos estudos sugere que, para transtornos de saúde mental
importantes, uma abordagem terapêutica que contemple tanto medicamentos como
psicoterapia é mais eficaz do que qualquer um dos métodos de tratamento
utilizados isoladamente.

Os psiquiatras não são os únicos profissionais de saúde mental preparados para


tratar a doença mental. Outros profissionais incluem psicólogos clínicos, enfermeiros
com formação avançada e assistentes sociais. Entretanto, psiquiatras (e enfermeiros
práticos de psiquiatria em alguns estados) são os únicos profissionais de cuidados
com a saúde mental com permissão para receitar medicamentos. Outros
profissionais da saúde mental trabalham, sobretudo, com psicoterapia. Muitos
clínicos gerais e outras categorias de médicos também receitam medicamentos para
tratamento de transtornos de saúde mental.

TABELA
Types of Mental Health Care Practitioners
Icon
Farmacoterapia
Muitos medicamentos psicoativos são altamente eficazes e amplamente usados por
psiquiatras e outros médicos. A classificação desses medicamentos costuma ser feita
de acordo com o principal transtorno para o qual eles são receitados. Por exemplo,
antidepressivos são utilizados para tratar a depressão.

A classe de antidepressivos mais amplamente usada é


Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) como, por exemplo, a
fluoxetina, a sertralina, a paroxetina e o citalopram
Outras classes de antidepressivos incluem

Inibidores de recaptação de serotonina-noradrenalina (IRSNs) como, por exemplo, a


venlafaxina, a duloxetina ou a desvenlafaxina
Inibidores de recaptação de noradrenalina-dopamina como, por exemplo, a
bupropiona
Antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina e a nortriptilina, são raramente
usados atualmente para tratar a depressão devido aos seus efeitos colaterais.
Contudo, esses medicamentos podem ser utilizados se a pessoa também tiver um
distúrbio que causa dor crônica que interfere com as atividades e o trabalho. Os
antidepressivos tricíclicos podem ajudar a aliviar determinados tipos de dor.

Inibidores da monoaminoxidase talvez sejam eficazes, mas são raramente utilizados,


exceto quando outros antidepressivos não funcionaram.

Medicamentos antipsicóticos mais antigos, como a cloropromazina, o haloperidol e o


tiotixeno, são úteis no tratamento de transtornos psicóticos, como a esquizofrenia e
determinados problemas de comportamento. Medicamentos antipsicóticos mais
recentes (que costumam ser chamados de antipsicóticos atípicos ou de 2ª geração)
agora são geralmente utilizados no tratamento inicial. Os medicamentos
antipsicóticos mais recentes incluem o aripiprazol, a asenapina, a cariprazina, a
lurasidona, a olanzapina, a quetiapina, a risperidona e a ziprasidona. Para pessoas
que não respondem a outros medicamentos antipsicóticos, a clozapina está sendo
cada vez mais usada.

ISRSs e medicamentos ansiolíticos, como o clonazepam, o lorazepam e o diazepam,


assim como outros antidepressivos, são usados para tratar transtornos de ansiedade
como o transtorno de pânico e fobias.

Estabilizadores de humor, como lítio, carbamazepina, valproato, lamotrigina e


topiramato, são usados para tratar o transtorno bipolar. Além disso, vários
medicamentos antipsicóticos podem ser utilizados para tratar o transtorno bipolar.
Eles incluem o aripiprazol, a asenapina, a cariprazina, a lurasidona, a olanzapina, a
quetiapina, a risperidona e a ziprasidona.

Eletroconvulsoterapia
No caso da eletroconvulsoterapia, são colocados eletrodos na cabeça e, com a
pessoa sob anestesia, é aplicada uma série de descargas elétricas no cérebro para
induzir uma breve convulsão. Essa terapia demonstrou consistentemente ser a mais
eficaz para tratar a depressão grave. Muitas das pessoas tratadas com
eletroconvulsoterapia têm perda temporária da memória. No entanto,
contrariamente às informações repassadas por alguns meios de comunicação, a
eletroconvulsoterapia é segura e raramente dá origem a outras complicações. O uso
atual de anestésicos e relaxantes musculares reduziu, em grande parte, qualquer
risco para o paciente.

Outras terapias de estimulação do cérebro


Outras terapias que estimulam o cérebro, como a estimulação transcraniana
magnética repetitiva e estimulação do nervo vago, estão em fase de estudo e podem
ser benéficas para pessoas com depressão que não respondem a medicamentos ou
psicoterapia. Essas terapias envolvem a ativação ou estimulação do cérebro
diretamente com imãs ou implantes que estimulam o nervo vago. Espera-se que as
células estimuladas liberem mensageiros químicos (neurotransmissores), que
ajudam a controlar o humor e assim aliviar sintomas de depressão.

Psicoterapia
Nos últimos anos, houve importantes avanços no campo da psicoterapia, que às
vezes é denominada terapia de conversa. Ao criar um ambiente de empatia e
aceitação, o terapeuta é capaz de ajudar a pessoa, frequentemente, na identificação
da origem do seu problema e a considerar as alternativas para enfrentá-lo. A
intuição emocional e a introspecção que a pessoa obtém com a psicoterapia dão
lugar, com frequência, a uma mudança de atitude e de comportamento, permitindo
que a pessoa tenha uma vida mais plena e satisfatória.

A psicoterapia é apropriada e eficaz para uma grande variedade de doenças. Mesmo


as pessoas que não sofrem de transtornos mentais podem encontrar ajuda na
psicoterapia para enfrentar alguns problemas, como dificuldades profissionais,
perda de ente querido ou doença crônica na família. Igualmente, a terapia de grupo,
a terapia conjugal e a terapia familiar estão sendo muito utilizadas.

A maioria dos profissionais de saúde mental pratica um dentre os seis tipos de


psicoterapia:

Terapia comportamental
Terapia cognitiva
Terapia interpessoal
Psicanálise
Psicoterapia psicodinâmica
Psicoterapia de apoio
Terapia comportamental
A terapia comportamental implica um determinado número de intervenções que
têm como objetivo ajudar o paciente a desaprender comportamentos inadequados,
aprendendo ao mesmo tempo comportamentos adequados. A terapia da exposição,
frequentemente utilizada para tratar fobias, é um exemplo de terapia
comportamental. Na terapia de exposição, a pessoa é exposta a objetos, atividades,
ou situações que ela tem em um ambiente seguro. A finalidade é reduzir o medo e
ajudar a pessoa a parar de evitar as coisas que lhe causam medo.

A terapia comportamental está relacionada com a terapia cognitiva. Por vezes,


utiliza-se uma combinação das duas, conhecida como terapia cognitivo-
comportamental. A base teórica da terapia comportamental é a aprendizagem da
teoria que defende que os comportamentos anômalos são consequência de uma
educação incorreta.

Terapia cognitiva
A terapia cognitiva ajuda a pessoa a identificar as distorções do seu pensamento e a
compreender de que maneira essas distorções causam problemas na sua vida. Por
exemplo, a pessoa talvez pense de uma maneira do tipo “tudo ou nada” (“se eu não
for um sucesso total, então sou um fracasso total”). A premissa é a de que o modo
de sentir e de se comportar é determinado pela forma como a pessoa interpreta
suas experiências. Graças à identificação das crenças e suposições fundamentais, a
pessoa aprende a pensar de formas diferentes sobre as suas experiências,
reduzindo sintomas e resultando numa melhora do comportamento e dos
sentimentos.

Terapia interpessoal
A terapia interpessoal foi concebida inicialmente como um breve tratamento
psicológico para a depressão, e tem como objetivo melhorar a qualidade dos
relacionamentos da pessoa com depressão. Ela dá enfoque a:

Sofrimento não resolvido


Conflitos surgidos quando a pessoa precisa desempenhar um papel que difere de
suas expectativas (por exemplo, quando uma mulher inicia um relacionamento
esperando ser mãe e dona de casa e descobre que também precisa ser a principal
fonte de sustento da família)
Transição para papéis sociais (por exemplo, passar de ser trabalhador ativo para
aposentado)
Dificuldade em se comunicar com os outros
O terapeuta ensina a pessoa a melhorar os seus comportamentos nas relações
interpessoais, como, por exemplo, a superar seu isolamento social e a responder de
um modo diferente do habitual aos demais.

Psicanálise
A psicanálise é a forma mais antiga de psicoterapia e foi desenvolvida por Sigmund
Freud no início do século XX. A pessoa costuma deitar-se num divã, no consultório do
terapeuta, entre quatro a cinco vezes por semana, e diz o que lhe vem à mente –
uma prática denominada de livre associação. A maior parte do tratamento se
concentra em ajudar a pessoa a entender de que maneira os padrões de
relacionamentos pessoais do passado se repetem no presente. A relação entre
paciente e terapeuta é um ponto-chave deste enfoque. O conhecimento de como o
passado afeta o presente ajuda a pessoa no desenvolvimento de formas novas e
mais adaptadas de atuação nas suas relações pessoais e profissionais.

Psicoterapia psicodinâmica
A psicoterapia psicodinâmica, como a psicanálise, coloca a ênfase na identificação de
padrões inconscientes nos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Neste
caso, o paciente costuma estar sentado em vez de deitado num divã e tem apenas
entre uma e três sessões por semana. Além disso, menos ênfase é dado ao
relacionamento entre o paciente e o terapeuta.

Psicoterapia de apoio
A psicoterapia de manutenção, que é mais comumente usada, se baseia no
relacionamento empático e de manutenção entre a pessoa e o terapeuta. Ela
estimula a expressão dos sentimentos e o terapeuta dá suporte na solução de
problemas. Psicoterapia voltada a problemas, uma forma de psicoterapia de
manutenção que pode ser usada com sucesso por clínicos gerais.

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