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LAWRENCE
/CLÍNICA
C, RC,LB
Esta 14 ediçúo em português é traduçao e adaptaçúo da 80 ediç{o do original
Modern Clinicai Psychiatry, by Lawrence C. Kolb
Copyright @ 1973 by W. B. Saunders Company
Este livro n'O pode ser reproduzido, total ou parcialmente, sem autorização escrita do editor.
Neuroses
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NEUROSES 377
conhecidas pelo paciente.
pode, sem nenhuma Por exemplo, ele mente organizada. as psiconeuroses,as expe-
razio aparente e sem um
conteúdo ideativo, riências internas nio transtornam o compor-
desenvolver um ataque de tamento exterior em grande extensão ou de
ansiedade, uma reaçio
multidão ou a ansiedade do tipo de pânico de uma forma anormal, assim como ocorre nas
abertos. Outras vezes, sentida nos espaços psicoses. No indivíduo psicótico, a capacidade
sem
mento de suas funções nenhum reconheci- de discriminar a experiênciasubjetiva e a rea-
çio, o paciente pode superficiaisde prote- lidade pode estar muito prejudicada. No in-
que indica um escape apresentar uma invalidez divíduopsiconeurótico,não há grave interfe-'
Outro paciente pode das situações difíceis. rência com os testes da realidade; o ego per-
te persistência de umexperimentar a recorren- manece sintónico e se há alguma evasão da
horrível ou repugnante realidade ela é parcial e, em termos de com-
pensamento ou sentir uma
ção para a repetição,ou repentina imposi- paração,ela é feita muito pouco às expensas
de atos com aparência para a representação da personalidade. Como assinala Freud: "O
para desviar a ansiedade.ritualística que servem neurótico não nega a existência da realidade,
os desejos hostis podem A agressividadeou ele simplesmente tenta ignorá-la; o psicótico
tomar-se
çadores que o paciente tem que tão amea- nega a realidade e tenta substituí-la por al-
gum mecanismo neurótico para empregar al- guma outra coisa."
Estas defesas muitas
manejá-los. O psicótico cria um novo ambiente ao qual
vezes estorvam tanto o
ego que elas se tornam onerosas
ao
ele atribui as forças e propriedadesda rea-
Muitas pessoas que apresentam esta paciente.
varieda- lidade. Ele pode distorcer ou falsificar a rea-
de de sintomas, e que são conhecidospelo lei- lidade na forma de um delírio ou das aluci-
go com termos tais como "inválidos nervosos", nações. O ambiente do psiconeurótico perma-
sofrem de desordens psiconeuróticas.O termo nece imutável, ainda que certos elementos
"nervoso" é eufemísticoe evasivo, uma vez que, possam est4r investidos de valores afetivos
de fato, não há distúrbiosfisiológicosdo siste- anormais. O pensamento no psicótico pode ser
ma nervoso. Cada caso é um problemade di- dereístico, um tipo de pensamento que não
namica emocional. acontece com o psiconeurótico. O conteúdo do
pensamento no psiconeuróticopode estar tem-
porariamente restrito por causa das idéias pre-
Psiconeuroses Versus Psicoses valentes; no entanto, uma verdadeira forma-
çáo delirante não aparece. As associaçõeses-
Têm sido sugeridos muitos critérios para tão freqüentemente perturbadas no psicótico
diferenciação entre as psicosese as psiconeu- e nos psiconeuróticoselas não estão danifica-
roses. As grandes variações nestes pontos de das. Os desejose os motivos são freqüente-
vista, indicam que eles são superficiais. Alguns mente projetados pelo psicótico; mas, nos psi-
autores designam as psicoses como "reações coneuróticos,eles não são assim tão exteriori-
maiores" e as psiconeurosescomo "reações zados, ao ponto extremo de produzir delírios.
menores"; a distinção é feita pela extensão No psicótico, a repressão pode ser destruída, e o
do envolvimentoda personalidade. ego se torna tão diferente que ele tolerará os
De um modo geral, o diagnóstico de psicose impulsos reprimidos ou as fantasias sem ne-
implica em maior severidadedo distúrbio da nhuma crítica, ou então fracassa em reconhe-
personalidade, em relação ao que ocorre nas cer que elas surgem dele mesmo. Nas psiconeu-
psiconeuroses. As defesas psiconeuróticas con- roses, a repressão parece ser mantida, mas
tra a ansiedade são amplamente substitutivas sernunca um material reprimido retorna, a não
ou simbólicas; as defesas psicóticassão mais
numa forma distorcidaque é aceita pelo
ego.
severas e de grau mais extremo,regressivase
totalmente desligadas da realidade. Existem A conação pode estar profundamente per-
diferenças nos vários aspectos do aparecimen- turbada no psicótico, mas somente em ligeiros
to destas reações com relação à integridade graus ela aparece como sofrimento do psico-
da personalidade. 8as psicoses,a distorção ou neurótico. No psicótico,as mudanças de afe-
a desorganizaçãoda personalidadeé grande tos podem ser grandes e a labilidade afetiva
e o seu funcionamentosocial está altamente está freqüentemente diminuída, enquanto que
perturbado, enquanto que, nas psiconeuroses,a as modificações afetivas do psiconeurótico são
personalidade normalmente permanece social- leves e a labilidadeé mantida. Se há algum
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exemplo, ainda que seja o mais notável e ca- problemasda personalidade e da conduta.
racterístico sintoma do estado de ansiedade, Estes sintomas da infância podem ser vistos
é muitas vezes um importante quadro noutras como evidência de que conflitos específicos e
formas. Ê exatamente por isso que a distin- fatores situacionais produziram a ansiedade e
ção entre as psiconeurosese as psicoses não que eles podem induzir a sintomas neuróticos
está claramente definida, como também aque- ou a traços de caráter. É necessário, no en-
Ia entre as psiconeurosese muitos traços ca- tanto, não somente examinar o background
racterológicosda assim chamada "pessoa nor- infantil, as circunstâncias especiais pelas ci-
mal" que persistentementeutiliza-sede "pro- catrizes remanescentes da primeira infância,
cessos neuróticos" para desviar a ansiedade. mas também estar alerta para o descobrimen-
Quando os traços caracterológicosdo distan- to dos sentimentos de culpa, conflitos incons-
ciamento vão mais além da realidade eles são, cientes, para acontecimentos significativos da
na verdade, formações neuróticas reativas que vida, tensões e stresses recorrentes, cumulati-
servem como defesas. Os ajustes neuróticos vos, ligados a dificuldades de relacionamento
sindrómicos dos padrões da personalidade de interpessoal,e para os stresses diários da vida
um individuo estão relacionados com as técni- cotidiana familiar, inclusive os problemas ma-
cas que ele empregou em toda a sua vida para trimoniais e sexuais. O papel que cada um de-
o manejo de suas situações. sempenha no estabelecimento da distorção pri-
múria do processoneurótico,no aparecimento
secundário do estado de ansiedade, culpa e
Causas vergonha e as defesas terciárias de negar, de
acordo com o estilo de vida, através de de-
Quando investigamos as causas das psico- fesa sintomática, somente são compreensíveis
neuroses, concluímos que as emoções e os fa- através de um cuidadoso e detalhado estudo
tos significativos desempenham um papel pre- dos processos consciente e inconsciente da vida
dominante e em um sentido mais amplo,tal- de um paciente.
vez, um papel exclusivo. Freqüentemente o
psiconeurótico, desde os primeiros anos de sua É também muito importante considerar
imediata não são
vida, mostra traços de personalidade que estão que os fatores da realidade etiológicos,
tão profundamente enraizados no quadro in- sempre fatores fundamentalmente Freqüentemente
dividual que alguns autores referem-se a eles mas causas precipitantes.
como constitucionais. Provavelmente estes tra- vê-se que um
ajustamento superficial está
encobrindo tempestuosos problemas que já
cos são adquiridos em determinadas condições preexistiam, há muito tempo, sob a superfície.
que impressionaram o enfermo durante anos,
estando em restrita associação de dependên• Esta é a razão pela qual uma reaçáo neu-
cia com tais acontecimentos e com as relações rótica pode-se manifestar subitamente, seja
do indivíduo com vários membros de fami- na meia-idade ou, ulteriormente, na idade
lia. Muitos padrões neuróticos de reaçáo são avançada. Conseqüentemente, assim nos pa-
basicamente dependentes dos conflitos, senti- rece possível que o compulsivo e bem sucedido
mentos e atitudes que surgiram na infância; trabalhador de nossa cultura ocidental pode
por isso, para compreender uma neurose de ser erivolvido pela ansiedade e depressão em
um paciente, pode-se fazer a tentativa de co- face de uma aposentadoria obrigatória ou pela
nectar os sintomas presentes com uma deter- perda daquelas habilidades necessárias para a
minada situação infantil não resolvida.Pode- manutenção do seu desempenho.
mos concordar com Freud quando ele diz que Quaisquer que sejam os determinantes de
o analista trata da cicatriz e não lida com a suas personalidades, parece-nos que os indivi-
ferida aberta. duos especialmente sensíveis às tensões, e aos
Muitas vezes a infância do psiconeurótico conflitos da vida, sio pessoas que nunca, na
enfrentaram os seus problemas e são
foi caracterizada por distúrbios tais como so- verdade,
especialmente propensas a resolver suas ten-
nambulismo, terror noturno, enurese, distúr-
bios da fala, idiossincrasiasalimentares,delí- sóes, desejos e conflitos através de reaçóes de-
rio concomitante com ligeira elevação da tem- feituosas ou neuróticas. Ainda que a eficiên-
peratura, destrutividade, excitabilidade emo- cia de muitas pessoasseja diminuída, enfra-
cional, maldade, fobias, convulsões, timidez, quecida, pelas tendências neuróticas, muitos
trabalhos do mundo são feitos
roer unha e outros distúrbios encarados como dos melhores
NEUROSES
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duta aparentemente razoável para a con- que em 330 por mil e Chaves, demonstrou
ininteligível será dada mas dos residentesos sinto-
quando a sua psicodinâmica neuróticos foram insuficientes
observamos também é estudada. Nós var o paciente para le-
que as síndromes a solicitar atenção médica. Oi-
ticas tendem a ajustar-se neuró- tenta e um por mil
procuraramajuda do clí-
nos da personalidade, aos padrões inter- nico geral para tais sintomas,44 por mil
padrões estes já esta- ram fo-
belecidos e que se tornam atendidos por um departamento psiquiá-
cas que o indivíduo empregou aliados das técni- trico ambulatorial e
1,9 por mil foram admiti-
vida para manejar as suas em toda a sua dos ao hospital para um período de tratamen-
situações difíceis. to.Em vários estudos em
Em algumas reaçóes ambulatórios dos ser-
viçosdos hospitais gerais, assim como por in-
cularmente nos estadospsiconeuróticas, parti-
de ansiedade, o pa- formes da prática do médicogeral, vê-se que
ciente freqüentemente tem medo acima de 30 a 40 por cento dos pacientes que
uma doença física séria, ainda de que haja vieram para tratamento foram considerados
dos sintomas sejam, de fato, que as causas como tendo uma psiconeuroseseja como pri-
puramente psi-
cogênicas. Em tais casos é comum que meiro diagnóstico,
ou em conjuntocom uma
ciente não aceite a garantia de uma boao pa- outra doença. Um recente estudo de médicos
de física que lhe dá o psiquiatra a nãosaú- residentes,internos de um hospital na cida-
que o médico faça primeiro um cuidadoso ser
de de Nova York, descobriu que aproximada-
exame físico e se mostre aberto, convencido mente IO por cento dos pacientes examinados
e interessado naquilo que concerne
à possível na primeira visita referida pelos práticos ge-
existênciade uma doença física, como se isto rais tinham doença mental, psiconeurose ou
pudesse levar o paciente a aceitar o que foi desordens da personalidade; provavelmente a
estabelecido pelo médico, quanto a não haver grande maioria era psiconeurótica.
uma base orgânica para os seus sintomas. Po-
der-se-ia enfatizar, no entanto, que o diagnós-
NEUROSE DE CARATER
tico de psiconeurosenão pode ser feito mera-
mente pela exclusão dos fatores orgânicos; Ainda que os esquemas oficiais de classi-
ele somente pode ser feito quando positiva- ficaçãodas neuroses designem as subvarieda-
mente se descobrem fatores da esfera psicoló- des em termos de
defesas psicológicaspredo-
gica suficientemente pertinentes para oferecer minantes, geralmente reconhece-se pela prá-
uma explicação lógica para os sintomas. Evi- tica psiquiátricaque cada paciente psiconeu-
dentemente isto será encontrado pelo estudo rótico tem uma estrutura de caráter distinta.
da personalidade do paciente, objetivado por Esta estrutura caracterológicahoje é usual-
uma análise do quadro que se apresenta e uma mente designada como neurose de caráter.
reconstrução da seqüência das experiências Serve como meio de conter a ansiedade,de
psicológicas que influenciaram o desenvolvi- reprimi-la naquele movimento contínuo de
mento da personalidadee a sua estrutura. individuo em sua transação interpessoal.Este
Com freqüência nós observamos que, com o caráter é traído pelas atitudes mais ou menos
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é suficiente para controlar a ansiedade. Como pânico com duração de poucos momentos até
resultado disto, a ansiedade, não sendo deslo- uma hora. O paciente queixa-se de um rá-
cada como no caso das reaçóes fóbicas, nio pido batimento cardíaco, palpitações, descon-
sendo "convertida" em sintomas funcionais, forto precordial, náusea, diarréia, desejo de
como no caso da histeria, não sendo descarre- urinar, dispnéia e uma sensação de abafamen-
gada por meio de uma grave desorganização to ou sufocação. As pupilas estão dilatadas, a
da personalidade, tal como a dissociação, fuga face ruborizada e há sudorese; o paciente
ou amnésia e não sendo automaticamente apresenta parestesias e tremores, sente verti-
controlada por um pensamento ou ato repe- gem ou desmaio e freqüentemente tem uma
titivo, permaneee difusa e incontrolável e, sensação de fraqueza e de morte iminente A
como resultado disto, o paciente fica em um inquietude e os tremores são agudos. Os me-
estado de constante expectativa ansiosa. Ê canismos de hiperventilação descritos talvez
por isso que a reaçio ansiosa é algumas vezes sejam a causa desses sintomas, na maioria das
considerada como sendo a forma mais sim- crises de ansiedade. Outras expressões fisio-
ples de neurose. lógicas da ansiedade aguda talvez ocorram
do siste-
Se a ansiedade difusa não é tão doloro- pela ativaçáo dos vários segmentos supra-re-
sa, ela pode ser expressa ou controlada atra- ma nervosoautónomo e da medula agudo de
vés de certos traços de personalidade. Os in- nal e suas secreções.Num ataquepode estar
divíduos que estão constantemente como que reaçâo ansiosa, o quadro clínico
Isto
"cercados ou sitiados" pela ansiedade são ca- matizado por uma situação traumática. das
racteristicamente tensos, tímidos, apreensivos, é bem ilustrado nó ataque de ansiedade
neuroses de combate.
sensíveis à opinião dos outros e facilmente se
embaraçam e se afligem. Muitas pessoas com O paciente que está sujeito a um ataque
tais sensações constantes de ansiedades são de ansiedade aguda normalmente sofre tam-
autodistantes, dadas a sentimentos de infe, bém de um estado crónico de ansiedade. Ele
rioridades, experimentam dificuldade em to- experimenta dificuldade de conciliar o sono,
mar decisõese são temerosos de cometer qual- é perturbado por pesadelos, sofre de tremores
quer erro. Comumente eles são escrupulosos, ou "estremecimentos" e queixa-se de uma sen-
superconscienciosos,ambiciosos e sentem que sação desagradável como se tivesse uma faixa
devem viver ou proceder de acordo com a au- apertada em torno da cabeça, ou de um aba-
to-imposição de pesados padrões. Ainda que Io ou "aperto" no estômago.Ele se sente au-
tais pessoas sofram aflições moderadas devi- sente, com a sensação de cabeça vazia e pa-
do à apreensão e aquelas outras tendências rece atormentado sem saber acerca de quê e
previamente descritas, a tensão de modo geral por quê. Ele queixa-se de que sua mente está
não é intolerável.Se, no entanto, a ansiedade constantemente atordoada e que não é capaz
Ele está
torna-se mais perturbadora, ela pode-se ex- de controlar os seus pensamentos.
pressar em sintomas tais como a apreensivo e tem medo de ficar só, ainda que
insónia, irritabilidade, inquietude, uma para- não deseje conversar. O paciente sente-se mui-
lisadora indecisão e distúrbios psicossomáti- to cansado para tentar alguma coisa construti-
cos, explosões de agressividade, va e continuamente procura uma explicação
crises de cho-
ro e sensação de inadequaçãoe inferiorida- física para os seus aflitivos estados mentais.
de, acompanhados, talvez, por uma atitude Os médicos, carecendo de uma apreciação
paranóide. Habitualmente o paciente com rea- dos fatores psicológicosda produção dos sin-
ções ansiosas sente-se cronicamente fatigado tomas, têm em certas ocasiões errado pela fa-
e se queixa de incapacidade de concentração. lha de reconhecer que os fatores precipitan-
Alguns expressam o medo de já estarem "fi- tes os quais induzem ao ataque de angústia,
cando loucos". são psicológicose não fisiológicos. Têm eles
diagnosticado estes estados como doenças do
CriSesde Ansiedade coração, tireotoxicose, hiperinsulinismo ou
desinsulinismo.
Em termos de diagnósticodiferencial,
as
A manutenção da fobia depende, muitas
fobiaspodem ocorrerem associaçõescom mui-
vezes, dos ganhos secundários obtidos através
tos outros sintomas e síndromes psiquiátricas.
do controle que os sintomas podem exercer
Estes são discriminados dos pensamentos
sobre aqueles com quem o paciente vive. A
obsessivos pelos estados afetivos que estão a
esposa fóbica, então, deixa a sua vida do lar
eles associados. Nas fobias a afetividade é an-
somente na companhia do marido e, somente
siosa com culpa obsessiva. Muitos adultos so-
com o riscodo aparecimento de um ataque de
frem de medos menores de uma certa natureza
ansiedade,ele pode deixá-la só. Este é o emocional que podem transitoriamente,impe-
aspecto da reação fóbica que é tão conspícua
dir,mas não afetar sua função social.De
na fobia à escola das crianças, que requer tra-
acordo com Marks, podem-se classificaras
tamento para as pessoas ccmprometidas na
fobias do adulto naquelas relacionadas com as
simbiótica perpetuação dos sintomas.
situações externas, das quais a síndrome ago-
O doente fóbico freqüentemente vem de rafóbica é a mais comum e a mais aflitiva,
uma família na qual a mãe é cheia de medo ou naquelas resultantes das situações inter-
da sua própria agressão, é ela mesma fóbica nas. A síndrome agorafóbica relaciona-secom
e incapaz de ter uma conduta exatamente de os estados irracionais e repetitivos de apre-
conformidade com isto,exceto através de ati- ensão e ansiedade, iniciando-se na vida adul-
tudes de insistência aborrecida para com as ta, relacionada ao medo de entrar em lugares
crianças e até mesmo para com o pai. Se o públicos ou de sair sozinho. Estes estados são
pai se conforma abertamente com as insistên- sujeitosa tratamento com psicoterapias di-
cias fóbicas da mãe, ainda que pareça firme, namicas e do comportamento. Alguns autores
algumas das crianças podem tornar-se fóbi- informam que eles podem ser aliviados por
cas desde que isto se torne a adaptação do- meio de uso de medicações antidepressivas.
minante de controle.As associações simples
As fobias do estímulo interno, relaciona-
são consideradas por muitos como aquilo que
das com supostas doenças tais como o câncer,
determina a escolha do objeto fóbico e para doenças do coração, doença venérea e outras
o qual ocorre o deslocamento.A teoria psica- semelhantes,muito frequentemente têm um
nalítica, entretanto, sugere que a escolha do caráter obsessivo e são descobertas nos
objeto fóbico é feita na base dos seus signifi- estados
neuróticos hipocondríacos ou como
cados simbólicos. sintomas
da esquizofrenia incipiente.
A fobia do sucesso é uma súbita expressão As fobias de animais são habitualmente,
desta reação. O homem ou a mulher com esta medos monossintomáticos incomuns
fobia, inconscientemente, temem que se
a "retalia- iniciam na infância antes da idade
cão" por causa das aspirações agressivas e so- dos 8 anos.
Marks afirma que os pacientes com tais con-
frem ansiedadenaqueles momentos em que dições fóbicas são diferentes dos pacientes fó-
NEUROSES 387
As fobias de animal,
bicosadultos. freqüente- seqüentes a este período. A diferenciaçáo en-
mente, respondem bem às técnicas conduti- tre uma amnésia organica e a dissociativa
dessensibilização,em contraste
vistasde agorafóbicas dos adultos. com será feita pelo fato de que o súbito retorno da
síndromes
as memóriaindica que a sua perda é dissociati-
va. O ataque da amnésia dissociativa é tam-
NEUROSES bém súbito.
As reaçóes dissociativas são caracterizadas
weaçóesDissociativas por sintomas mentais que envolvem os distúr-
bios da consciência.Estes distúrbios podem ser
Em certo momento a ansiedade pode em forma de estupor ou das várias formas de
inundar tanto a personalidade e desorganizá- "estado crepuscular". Freqüentemente os úl-
alguns dos seus aspectos ou funções
1a que se timos sugerem o delirium. Tais estados de de-
dissociados uns dos outros. Em alguns
tornam lírios psicogênicossão habitualmente precedi-
casos, a personalidade pode estar tão desor- dos de exposições a experiências emocionais
zada que os mecanismos de defesa gover- marcantes e consistem em estados oníricos
nam a consciência e a memória e, tempora- acompanhadosde um estado mais ou menos
riamente, até mesmo todo o indivíduo, com confuso,posturas e atitudes dramáticas e um
pequena ou nenhuma participação da parte excessivofluir de uma linguagem que parece
conscienteda personalidade. Em tais casos o sem sentido, mas na qual há referência de
paciente pode parecer psicótico. No passado experiências afetivas muito fortes. O delirium
as reaçóes dissociativas foram classificadas dissociativo, muitas vezes, representa, como
comoum tipo de conversão histérica. no sonho, a realização de um desejo ou um
CV a das reaçóes mais comuns estimula dramático reviver, na fantasia, de uma expe-
das pela ansiedade, defensivas e dissociativas, riência afetivamente traumática. A obnubila-
é a amnésia. O esquecimento é um expedien ção da consciênciae a presença de ilusões e
simples.Não é surpreendente, por isto,que as alucinações excluem a realidade do mundo
amnésiasobliterem ou apaguem as lembran- externo, pode falsificá-la de acordo com os
ças, particularmente períodos de tempo defi- motivos profundos e os desejos insatisfeitos.
nidos e circunscritos A amnésia dissociativa Ocasionalmenteum paciente enreda fantásti-
não é, no entanto, um mero esquecimento.
cas histórias. Tais casos representam, habi-
Ela é um processo ativo, um apagamento da tualmente, um esforço para prover romance e
consciênciadê fatos desagradáveis. Os perio- drama a uma vida desprovida de satisfações
dos de estupor ou os estados crepusculares emocionais.
podempreceder a amnésia, a qual tende en- Para serem diferenciados do delirio dis-
tão a tornar-se seletiva e limitada ao elemen- sociativo estão aquelas súbitas rupturas do
to particular ou à experiência que a evocou. funcionamento do ego que surgem de stresses
Entre as experiências que suprimem a habili- emocionais severos nas personalidades histé-
dade para levar à consciência os dados perti- ricas. Estas condições referidas como psicoses
nentes aos fatos, estão aquelas que envolvem histéricas são transitórias e raramente persis-
grande terror, como as da guerra, ou as que tem mais do que três ou quatro semanas. Ha-
encobrem períodos e atividades ou condutas bitualmente a erupção dessas experiências
relacionadascom a vergonha, culpa ou outras delirantes-alucinatórias agudas surgem dra-
emoçõesintensas. A maneira pela qual uma maticamente após um periodo de importantes
amnésiaexerce satisfatoriamente a sua fun- frustrações num relacionamento pessoal im-
ção protetora e/ou seu propósito de escape é portante. Muitas vezes os acontecimentos im-
demonstradapela maneira imperturbável pela portantes da ansiedade são ocorrências da
qual o paciente aceita a sua perda de memó- percepção de uma ameaça ou perda de um
ria.Muitas vezes, no entanto, as amnésias relacionamentoimportante e significativo, a
dissociativasapagam períodos longos da vida morte ou algum ato de agressão. Na análise,
do indivíduo ou até mesmo, algumas vezes, descobre-se que as experiências alucinatórias
toda a vida anterior do paciente. Em tais ca- e delirantes podem estar representadas pelos
sos, há uma reversão para um período mais familiares, preocupações ou persistentes ansie-
precoceda vida do paciente, com amnésia dades. Elas estão, como estabelecem Richman
retrógrada para aqueles acontecimentos sub- e White, sintonizadas com a família. A con-
388 NEUROSES
os ensinamentos de Hipócrates de que a histe- to, inteiramente bem sucedida e o desejo, por
ria era causada pelo deslocamento do útero isto, se expressa em uma forma disfarçada,
dentro do corpo procura de umidade, a pela "conversáo" ou na transformação em
crença do século XVII de que as suas mani- sintomas. Então a natureza e a localizaçio
festaçóes impressionantes observadas neste dos sintomas produzidossão mais do que eles
período, fossem o resultado de bruxarias e de simbolizam ou fornecem as expressões disfar-
possessões demoníacas e a convicção agora çadas do desejo reprimido e ao mesmo tempo
geralmente aceita de que ela é uma técnica de proporcionam algum grau do seu cumprimen-
ajustamento ao qual a personalidade pode to ou do alívio do estado emocional conflitivo.
recorrer. Muitos psiquiatras que aceitam o papel da
Entre aqueles que mais têm contribuido repressão na produção dos sintomas histéri-
para o nosso entendimento da conversão e cos hesitam em aceitar a crença de Freud de
das reaçóes dissociativasestão Charcot, Janet, que o complexo de Édipo reprimido é uma
Bernheim, Babinski, Morton Prince e Freud. condição essencial para o desenvolvimentoda
Ainda que seus pontos de vista sejam inteira- histeria.
mente neurológicos,Charcot foi o primeiro a
demonstrar que as manifestações dramáticas No presente momento, a explicaçáo mais
da histeria poderiam ser produzidase acalma- amplamente aceita dos mecanismos conhe-
das pela sugestão hipnótica. Ele assim de- cidos como conversão, é que os impulsos e
monstrou que as influências psicológicaspo- os elementos desajustados, reprimidos, da
deriam afetar os mecanismoscorporais. Ainda personalidade, altamente carregada de emo-
que com a sua fraca aptidão para a investiga- çáo, são os produtores da ansiedade. A an-
çáo psicológica,ele presumiu que a degenera- siedade é então mitigada e dispersada, sendo
çáo hereditária era um pré-requisito essen- "convertida" em sintomas funcionais mani-
ciai para o fenómeno histérico ou hipnótico. festos na musculatura voluntária ou em sis-
Sua descoberta, no entanto, deixou os funda- temas especiais dos órgãos dos sentidos. O
mentos para um trabalho de investigaçãoa processo exato envolvido nesta "conversão" é
outros. incerto.
Bernheim expressou a opinião de que to- Na histeria de conversão encontramos
dos os sintomas histéricoseram o resultado uma excelente ilustração de ambos os ganhos,
da sugestão. Babinski acrescentou a opinião o ganho primário e o ganho secundário. O
os fenómenos his-
de que não apenas poderiam mecanismo de conversão produz um ganho
téricos ser produzidospela sugestão, mas tam- neurótico primário através da sua função de
bém que eles poderiam ser removidos pela per- defesa contra a ansiedade. Ele também pro-
suasio. porciona um ganho secundário dando algu-
Hoje, universalmente, concorda-se que a ma coisa bem vantajosa ao paciente. Uma pa-
histeria de conversão e as reaçóes dissociati- ralisia histérica, por exemplo, pode capacitar
vas são de origem psicogénica.A maior in- uma pessoa a fugir de uma situação que ela
fluência para a criação deste ponto de vista se sente incapaz de dominar.
está nas contribuições de Freud. Muitas das A maneira pela qual a conversão ou um
teorias psicogénicas,tais como a da natureza conflito emocional que produz ansiedade se
da histeria de conversão,retrocedem ao con- transformam num sintoma especifico,o modo
ceito de conflito e de repressão. De acordo pelo qual pode ser aliviada a ansiedade cau-
com Freud, o desejo ou um outro material re- sada pelos desejos conflitivos do paciente e
primido ao qual não se permite a expressão ao mesmo tempo produzir um ganho secundá-
franca é realizado numa forma disfarçada, rio que incapacita o enfermo a fugir de uma
através dos mecanismos de conversão, por situação extremamente desprazerosa é ilustra-
meio dos quais o conflito psíquicoé transfor- do pelo caso seguinte:
mado num sintoma físicoou mental. Freud
M., um jovem que havia sido dançarino e acrobata
explicou os sintomas histéricos como causa- de circo, alistou-se no exército durante de
dos por um conflito entre o superego e algum paz. Ele achou a disciplina rígida, seus deveres fas-
desejo que, em virtude de sua natureza, é re- tidioscz e sua experiência monótona. Ele aspirava a via-
primido pelo superego, sendo conscientemen- das
lar, as excitaçóes,a atençaoe a oportunidade
te objetivado. Esta repressão nio é, no entan- exibiçóes gozadas em sua vida anterior. A situaçAo
395
NEUROSES
tornou-se quase que intolerável, mas
ria que ele poderia ser tratado deixar significa- a si mesmo a verdadeira natureza da sua
Uma reaçáo de conversao histérica,
como um desertor.
induzida por dois doença, esforço que é bem sucedido desde
conflitivos, um deles, conformar-se
com as que a personalidade consciente nio tenha
exigências da vida militar, ou outro,
de uma situaçao odiada, forneceu a escapar seguro acesso à causa da doença. Ê também univer-
permitiu atingir O seu próprio soluçao que lhe sal a tendência de projetar as próprias difi-
modo
objetivo final, que
era obter imunidade das experiências
e tarefas despra- culdades em alguma coisa tangível. De
zerosase ao mesmo tempo o alívio da sua ansiedade, semelhante, uma base física para a explica-
e a manter sua auto-estima. Quando
ele chegou ao çáo do sintoma é algo bem recebido e
a ela
hospital, para o qual tora transferido,n'O podia nem papel.
andar, nem ficar de pé e suas pernas estavam anes- é atribuído um importante
tesiadas até mesmo para uma vigorosa picada de agu- Em conexão com as reaçóes de conversão,
tais cómo a citada, é. necessário lembrar que
lha. Ao mesmo tempo exibia, uma significativa atitude
de tranqUilidade Ia bene inddiftérence) com referência
as suas incapacidades,ainda que pelo que ele achava, muitos fatores, habitualmente, desempenham
elas eram totais e incuráveis. A sua ausência de preo- o seu papel na determinaçãoda natureza es-
cupaçaoé explicadapelo fato de que a penalidadeera pecífica da reaçáo neurótica. Esta concorrên-
menor do que o ganho, ainda que n'O se pode con- integração das funções adaptativas
cluir se este balanço de vantagens e desvantagens cia e a
era obJeto da sua reflexáo consciente. Uns poucos
inconscientes, desempenhadas pelos sinto-
meses mais tarde, o hotnem foi desligado do exército mas, são conhecidas como superdeterminaçáo.
por meio de um certificado de incapacidade dada por Através desse processo, um sintoma simples
um cirurgiáo. Logo as funçóes motoras e sensoriais
suspensas retornaram. Persistentes esforços para andar
ou a reaçáo neurótica pode ser uma com-
foram gradualmente,com sucessoe em três me- plexa formação de compromisso, para cuja
ses ele deixou o hospital praticamente bem. produção contribuem, inconsciente e simulta-
neamente, várias necessidades.Se um pro-
cesso superdeterminativo for analisado, vere-
No caso deste soldado pode-se ver como mos que em muitas neuroses há valores ate-
um mecanismo psicológico"converteu" a an- nuantes de ansiedade que foram produzidos
siedade estancada nos impulsos hostis repri- pelos sintomas, junto com maiores vantagens
midos contra a autoridade e o seu desejo de do que as que o paciente tira secundariamen-
se livrar do serviço militar, num sintoma aber- te da sua doença quando ela se estabelece.
to e incapacitante que, no entanto, produziu
um ganho secundáriodefinitivo.
Como já indiquei, estas duas séries de
valores derivados da neurose são os ganhos,
A reação histérica de conversãopermite primário e secundário. O ganho primário é
ao paciente com uma defesa contra a ansie- a defesa contra a ansiedade suprida pelo sin-
dade, ser capaz de manter o seu auto-respei- toma. O ganho secundário é uma vantagem
to e, ao mesmo tempo, cumpre algum propó- material acrescentada pelo sintoma. No caso
sito, cuja aquisição seria, de outro modo, proi- do soldado aqui mencionado, o sintoma de
bida. Ela pode tornar possível um "escape" conversão (paralisia histérica) aliviou-o da
de uma situação intolerável; pode fornecer ansiedade em relação aos seus desejos ambi-
os recursos para uma exoneraçãode si mes- valentes. Também forneceu aquilo que era
ma, uma desculpa para as próprias fraquezas, para ele um importante ganho secundário; o
serve como expediente para obter a atenção sintoma tornou-o incapaz para exercer o ser-
ou possibilita à pessoa fugir de algum dever, viço militar e por isso tornou necessária a sua
evitar uma responsabilidade,expressar algum descarga, ou desligamento. As reaçóes de con-
despeito ou rancor ou realizar algum propó- versão, habitualmente,se juntam a alguma
sito que não seria suportado num exame de necessidade imediata do paciente e, por isso,
consciência. estão associadas com um mais ou menos óbvio
A histeria tem os seus análogos em mui- "ganho secundário".O ganho secundárionem
tos atos da vida diária, quando muitos pro- sempre é material, mas pode ser emocional
cessos psicológicos, considerados como nor- ou social, por exemplo,conseguir amor, sim-
mais, ocorrem sem a total consciência dos patia ou consideraçãode outras pessoas.Ha-
seus métodos e motivos, particularmente se bitualmente, o elemento do "ganho secundá-
há alguma razão para se ocultar a verdade rio" assegurado pelos sintomas perturbadores
de si mesmo. O histérico nunca deseja revelar da conversão, vistos na prática diária geral
396 NEUROSES
relacionados um com o outro; um deles, remo- çáo rápida dos sintomas. Uma vez que a inca-
ver os sintomas, outro, aquele de capacitar o pacidade sintomática aguda é modificada, o
enfermo para entender a origemda sua an- psiquiatra então determinará o potencial para
siedade e o significado dos seus sintomas para a mudança caracterológica, através de uma
que possam formar um método de ação mais psicoterapia dinâmica. Se se considera que
construtivo. É muito mais fácil dissipar uma esse potencial existe, a psicoterapia psicoanalí-
conversão do que ajudar mais tarde o pacien- tica é recomendada como meio de evitar mais
te a adquirir um crescimentoemocional. tarde as recaídas sintomáticas. Esses méto-
dos de tratamento estão também descritos no
É importante fazer uma estimativa correta Capitulo 31.
da estabilidadee maturidadeda personalida-
de do paciente e de seus recursos intelectuais. A evidência da presença de distúrbios es-
Se as limitações da personalidade são relati- quizofrênicospode ser encontrada através de
vamente mínimas, o tratamento pode ser o cuidadosa avaliação da história do desenvol-
psicoterapêutico, baseado nos princípios ana- vimento do indivíduo. Histórias familiares de
líticos, com investigação dos fatores dinâmi- distúrbios psicóticos ou a informação da pre-
cos da repressão. Nas pessoas de inteligência existência de uma vida isolada, com fugas na
inferior e nos indivíduos instáveis que desen- fantasia e outras desordens da conduta podem
volvem uma reação de conversão diante de si- levantar suspeitas. Muitas vezes, por causa da
tuações não muito complicadas, a terapia negativa do histérico em apresentar desde o
principal terá que ser limitada à sugestão, inicio da entrevista a sua história, não são
hipnose e reeducação. Em nenhum caso deve obtidas informações válidas. Muitos conside-
o paciente ser acusado de desonestidade ou de ram que a ajuda dos testes psicológicos,parti-
falta de desejo de curar-se. cularmente os métodos projetivos, poderia
sempre ser solicitada em tais circunstâncias,
Quando os sintomas de conversão se apre- antes que os objetivos do tratamento sejam
sentam como uma forma maior de incapacida- determinados .e iniciada a terapia. Tais testes
de, incompativel com o retorno às atividades podem fornecer os indícios da potencialidade
sociais e vocacionais, deve-se ter isso em con- da grave regressão que exigiria tratamento
sideração para a sua redução rápida, através hospitalar se uma rápida remoção dos sinto-
dos métodos acima descritos. Ao fazer o jul- mas for o método de escolha. O autor
ficou im-
gamento clínico, o psiquiatra deve ter em pressionado com a freqüência de tais regres-
mente a natureza defensiva do sintoma e po- sões em pacientes que apresentaram inúmeras
derá desenvolver um conceito sobre contra o reaçóes de cor pura em suas respostas no
quê o sintoma serve de defesa. Com a sua re- Rorschach.
moção rápida, ele estará ciente de que pode-
rá ocorrer, tanto uma ansiedade aberta quanto No tratamento das neuroses de acidente
a sua substituição por outro sintoma, com o há certos fatores que requerem atenção espe-
equivalente significado simbólico. Cada uma cial. No caso de uma injúria, qualquer sugestão
dessas alternativas pode ser mais apropriada séria, deve ser evitada cuidadosamente. Se
do que os sintomas paralíticos maiores, ceguei- possível a pessoa que sofreu a injúria deve fi-
ra, estados coreiformes e a astasia-abasia. En- car excluída do trabalho, mas se suas condi-
tretanto naqueles casos em que a remoção rá- ções não• permitem isso, ela poderá retornar
pida dos sintomas provavelmente induz uma
a ele prontamente quando possível. Cuidados
séria erupção da auto-estima, com ansiedade, devem ser tomados para que o tratamento de
vergonha e culpa, associada com fenómenos qualquer complicaçãofísica não seja prolon-
regressivos, evita-se esse julgamento. Sérias gado. A atitude do médico em relação ao pa-
regressões desse tipo acontecem, provavelmen-
ciente que está sofrendo de uma neurose trau-
mática, não poderá nunca ser a de suspeitas ou
te, naquelas personalidades essencialmente es-
quizóides ou então há outros sintomas que
antagonismos. Se ele se relaciona com o pa-
indicam a existência de uma reação esquizo- ciente com atitude básica céptica, desdenhan-
do suas queixas, ele destrói qualquer possibi-
frénica subjacente.
lidade de relacionamento terapêutico, num
A narcossintese,persuasão ou a hipnose, exame superficial e pode, até mesmo, contri-
como estão descritas no Capítulo 31, são as buir para que mais adiante se desenvolvam
medidas terapêuticas de escolha para a remo- elaborações psicológicas.
NEUROSES 401
intolerável para o paciente. Um sentimento de "Um menino de 11 anos de idade instituiu o seguinte
cerimonial obsessivo,antes de ir para a cama. N'O
culpa oculto não é uma fonte incomum. A dormia enquanto n'O tivesse contado sua rnúe, com
idéia recorrente e manifesta é o resultado de detalhes, todos os acontecimentos do dia:
um esforço para afastar alguma outra coisa nóo devia ficar nenhum pedaço de papel ou qualquer
da mente e é formada pelos mecanismosde pequeno lixo no tapete do quarto de dormir; a cama
devia ser colocada direita da parede; três cadeiras
deslocamento, simbolização e condensaçao. O deviam ser colocadasperto dela e a fronha devia estar
processo é muito semelhante ao que ocorre no estendida de uma maneira particular. Para poder con-
sonho, no qual o conteúdo latente, ou o ver- ciliar o sono, ele precisava primeiramente por-se nas
dadeiro conteúdo, está encoberto por esses pontas dos pés um certo número de vezes, com ambas
mecanismos de tal modo que a idéia, o desejo as pernas, e depois deitava-se de lado."
ou o impulso aparecem na consciência do so-
nhador numa forma distorcida e simbólica. A função dos atos compulsivosé também
ATOS COMPULSIVOS.Um segundo tipo a de aliviar ou reter a ansiedade.O ato com-
clínicode reaçio obsessivo-compulsivaé aque- pulsivo que o paciente executa tem, se for
le dos atos compulsivos.Neste, há uma repe- procurado, um significado simbólico.Este ato
tiçáo obrigatória de certo ato. As forças que simbólico serve como uma espécie de ritual
produzem o ato compulsivo são, naturalmen- mágico, pelo qual ele desfaz ou anula o pos-
te, inconscientes.Uma vez que os atos simbó- sivel efeito dos seus irreconhecíveis impulsos
licos não podem satisfazer adequadamente as e conseguea realização de uma satisfação dis-
forças que os produzem, eles são estereotipa- torcida, a autopunição e a expiação. Ele dis-
dos e repetitivos. Quando o paciente é pergun- sipa temporariamente a situação perigosa;
tado sobre a razão da sua conduta, ele pode tao logo isso possa ser feito, reduz-se a inten-
apresentar alguma explicação que sabe não sidade da ansiedade. Caso se resista à execu-
çao do ato ritualístico substitutivo ou seja im-
ter qualquer base racional ou então pode ad-
possivel a sua realização, a efetividade da de-
mitir que é absurda e fora de propósito. Em
fesa obsessivo-compulsivaprotetora é elimi-
geral, o enfermo, conscientemente, experimen-
nada e os desejos e impulsos proibidos desper-
ta certa rejeição e resistência em levar a tam a ansiedade. A necessidade da conduta
cabo o seu ato defensivo, mas a tensão e a ritualistica aumenta, desde que as forças in-
ansiedade aumentam até que a necessidade conscientes ameacem irromper na consciên-
da repetição se torna irresistível.Se o pacien- cia; mais e mais sintomas devem ser construi-
te está impedidode levar a cabo o seu ritual dos para fornecerem defesas contra as ten-
obsessivo,a angústia surge abertamente. Uma dências proibidas. Em muitos aspectos, os pa-
das formas mais freqüentes de rituais obsessi- dróes defensivos das compulsões se asseme-
vo-compulsivosé a de lavar as mãos, que tem lham a penitências, expiação, punição e res-
como propósito repelir a ansiedade. triçóes. De muitas maneiras, elas estão inti-
Muitos atos obsessivo-compulsivos são mamente relacionadas psicologicamente com
meramente atos simples e inúteis, como os de as cerimónias e tabus que os primitivos idea-
tocar ou contar ou outros excessivos,como os lizaram como proteçáo contra as forças demo-
de lavar as mãos repetidamente. Alguns, no niológicas ou outras forças sobrenaturais.
entanto, transformam-se em rituais ou ceri- Os atos compulsivosnão sio incomuns nas
monjais mais elaborados. Aparentam, superfi- crianças e nos adolescentes nos quais surgem
cialmente, formalidades sem sentido e somen- como cerimoniais expiatórios ou como meios
te são reconhecidoscomo cerimoniaisneuróti- aos quais, são atribuídos certas qualidades
cos quando uma necessidade de renunciar a quase mágicas, capazes de satisfazer um de-
eles está acompanhada por desconforto e an- sejo particular. Os atos depois instalam-se co-
siedade. mo hábitos, mas normalmente desaparecem
O cerimonial ritualístico, descrito por logo que as tensões reprimidas se acalmam e
Freud em um dos seus primeiros trabalhos quando são fixados ou estabelecidos os ajus-
(1896),intitulado "As Neuropsicosesde Defe- tamentos sociais mais adequados.
sa", frequentemente citado é uma excelente FOBIACOMCOMPULSÃO.O terceiro ti-
ilustração da complexidadea que podem che- po de reaçáo é aquela na qual uma fobia ou
gar esses estratagemas compulsivos destinados uma idéia obsessiva recorrente está associa-
a proteger o enfermo contra a ansiedade: da com a compulsãode executar um ato re-
NEUROSES 403
petitivo. Essa associação ocorre quando existe
de se ser subjugado reputaçúo." Quando alcançou os 18 anos, o paciente
o medo por intoleráveis passou a beber excessivamentepor um período de vá-
impulsos.Um dos exemplos mais
comuns rios meses. Depois, subitamente, parou e tornou-se
desse
tipo de reaçao é o ato de lavar as mios repe- tao contrário à bebida que, como cita sua esposa, "nLo
resultante podia tomar nem um gole, e lembro-me de que, uma
tidas vezes, do medo
obsessivo da
sujeira ou da impureza. Qualquer que
seja o uma casa onde serviam bebida porque era contrário
objeto em que toca, o paciente acredita se- a isto."
cretamente que contaminou a sua mão. Uma
Alistou-se na Marinha. Quando, depois de sua ad-
vez que não pode evitar tocar os objetos, ele missAoao hospital, foi-lhe perguntado o que o levou
necessitarepetidamentelavar as mãos. Como a ser voluntário, ele replicou: "Bem, eu me sinto um
objetos são possíveis fontes tanto constrangido com minha escrupulosidade. Eu
todos os de con-
taminaçao, o paciente necessita recorrer a nao era muito constrangido, mas pensei que, de
algum modo, o serviço militar poderia libertar-
meios complicados e incómodos para evitar mo disso". Perguntado sobre o que queria dizer
tocar nos objetos. Ele precisa abrir as portas com 'escrupulosidade', respondeu que "estava em dú-
com os cotovelos ou com objetos pequenos, usa vida acerca das minhas confiss6es". Perguntado se es-
luvas ou outros protetores. Um paciente, to- tava duvidando de que n'O havia confessado o bas-
dos os sábados, lavava o banquinho da igreja tante, sua resposta foi, "isso é certo; eu senti muita
tristeza pelos meus pecados". Quando o médico que
que esperava ocupar no dia seguinte. Por o admitiu perguntou-lhe sobre suas ocupaçóesou ta-
causa dessa tensão, as preocupações e o irre- refas no serviço militar, ele replicou: "Tinha a obri-
sistível desejo de lavar as mãos, sua capaci- gaçáo de limpar os mictórios. Eu provavelmenteestava
dade de conseguir emprego pode ser obstacu- muito bem. Tentei fazer um trabalho perfeito. Eu via
lizada ou destruída. cigarros, mas me mantinha limpando todo o tempo.
Aquilo poderia ser feito em duas ou três horas, mas
Aqui, também encontramos os mesmos eu trabalhava oito ou nove. Entrara voluntariamente
mecanismos de deslocamento e anulação. O para o serviço". Dois anos mais tarde, escreveu sua
noiva dizendo-lhe que desejava romper o noivado por-
medo real, naturalmente, não é da sujeira, que iria tornar-se sacerdote depois que desse a baixa
mas dos impulsos intoleráveis ou das forças do serviçomilitar. Seis meses mais tarde, escreveuno-
carregadas de culpa que foram deslocadas e vamente, dizendo que havia decidido n'O mais tor-
simbolizadas na constante preocupação com o nar-se pastor e pedia que, fosse reatado o noivado.
medo da sujeira. A ansiedade, em função da Vinte e quatro meses mais tarde estavam casados, mas
ele n'O teve relaç6es sexuais com sua mulher senáo
qual elas surgem, é aliviada temporariamen- 17 meses mais tarde.
te através da compulsiva lavagem e da sua Depois do seu desligaméntodo serviço militar, dois
significação simbólica de purificação. anos mais tarde, o paciente ingressou no colégio no
O caso seguinte ilustra muitos dos traços qual foi graduado, embora muitos meses antes da for-
de uma fobia mista com reação compulsiva. matura sua reaçLoneurótica tenha-se tornado tao in-
cómodaque foi incapaz de continuar os estudos nos
dois meses finais do último ano do curso.
S. K. foi admitido em um hospital psiquiátrico com
29 anos. A história familiar n'O revelou nenhum fato Logodepois da sua admissáo ao hospital, a esposa
significativo. Durante o segundo e terceiro graus, na foi solicitadaa informar sobre a história da doença
jó
escola, "ele foi um problema para as freiras, por do paciente. Ela informou que ele havia mostrado
causa da sua gagueira. Elas precisavam pedir-lhe que há vários meses uma compulsiva lavagem das
lesse um parágrafo mais de duas ou três vezes". Nessa que se tornou cada vez mais séria. "Ele costumava Ia-
idade, por considerável período de tempo, "ele sentia var as maos e manter a água correntepor 15 minutos,
que tinha de benzer-se um certo número de vezes, da coda vez. Depois de acabar, fechava a torneira com
noite". Quando cursava o quarto ano e depois de os cotovelos.Ele tinha de lavar e limpar as suas múos
na
uma doença,"ele adquiriu o medo de dormir à noite, um certo número de vezes, contando-as. Se tocasse
temendo que pudesse morrer. Chamava por sua mae porta ou na fechadura, teria de voltar e lavar nova-
duas ou três vezes antes de dormir. Náo conseguia mente as máos. Uma vez, ele começou a lavar suas
dormir a n'O ser quando estivesse seguro de que
n'O múos uma hora da manhú. Depois de termos nos
morreria. Isso durou dois ou três meses". Ele roía movimentado em nossa própria casa, ele recusou-se a
as unhas até os 16 anos de idade. usar a porta da frente ou dar a volta na fechadura,
com medo de que pudesse haver germes ali. Costumava
Na época da admissáo,a mãe e a esposa foram Ir até a janela detrás e me chamava para abrir a
solicitadas a descrever as características de sua per- porta da frente para ele. Alcançava um ponto da ja-
sonalidade, como adulto. Ele era, como informaram, nela no qual pudesse subir e, desse modo, n'O preci-
par-
uma pessoa tranqüila, séria, honesta, económica, sava entrar pela porta." A esposa relatou também as
cimoniosa,obstinada e algo queixosa. "Era ambicioso. seguintes compulsóes: "Ele também tinha a impressao.
Desejavacursar o nível secundário e tornar-se mais quando caminhava, de que havia alguma coisa sob os
do que um simples trabalhador. No colégio, dedicava-se sapatos. Precisava parar e olhar a sola dos sapatos, mas
bastante aos estudos e era um estudante com boa
404 NEUROSES
nada havia ali. Preocupava-se,também, em verificar Sob terapia, o paciente gradualmente melhorou. Dota
se seus sapatos estavam ou n'O amarrados. Necessitava anos após a sua admissso, deixou o hospital para em-
pegar no pé e olhar para se tornar seguro disso. Pre- pregar-se numa fábrica de tijolos. Relatório recebido
cisava fazer isso um certo número de vezes antes de um ano mais tarde informou que, ainda que n'O esti-
ter a certeza absoluta de que estavam amarradc». Quan- vesse completamente bem. era um empregado muito
do andava pelo rua, se desse um pontapé numa pedra, bem sucedido no seu trabalho.
acbavL que deveria colocá-la de volta no mesmo lugar.
Se caminhasse em linha reta, depois teria de passar
em todas as rachaduras do passeio." Psicodinâmicas
Quando chegou ao relatou ao médico que
o Admitiu: "Eu gosto de lavar minhas maos muitas Psicogeneticamente, acredita-se que a
vezes ao dia para torná-las boas e limpas." Enquanto origem das condutas obsessivo-compulsivases-
talava ao médico, erguia os braços em flexóo, no sen- tá nos primeiros esforços ou na luta da crian-
tido de evitar que tocassem em alguma coisa. Imedia- ça em crescimento, entre seus impulsos diri-
tamente ele ficou sabendo que estava preocupado e
com medo de adquirir outras doenças. Como parecia gidos para uma onipotente auto-afirmação e
algo deprimido, foi-lhe perguntando acerca de pensa- a necessidade de conformar-se com as exigên-
mentos suicidas. Replicou que achava que a morte se- cias dos pais, no sentido de manter o amor e
ris melhor do que pensar nas coisas que pensava, mas o respeito deles. O período inicial do treina-
acrescentou que "realmente nunca" cometeria o sui- mento dos hábitos de higiene é o inicio do
cfdio. Depois acrescentou: "Quando eu digo as coisas,
devo fazê-lo de uma certa maneira. Se eu núo as digo
conflito. Muitas vezes, o futuro indivíduo
com propriedade, preciso pedir desculpas, ou fazer apo- obsessivoé educado por uma rígida e compul-
logias. Faço isso todo o tempo. Isso Irrita a minha mu- siva mãe que, insistentemente, exige a submis-
lher e é uma outra razAopela qual ela n'O podeviver são e ameaça tanto com a falta de amor ou
comigo.Eu legaria meus livros a ela para me descul- com várias formas de punição, pela criança
par, ou lhe faria apologias. FOI a 'apologlzaç'o• que fracassar em ter uma conduta apropriada. A
g contrariou, ela nunca está em paz. Penso que, se criança em crescimento está, pois, exposta a
esfrego minhas múcx 88 vezes, fecho e abro a água, e
depois volto novamente atrás, tudo correria certo. De- um repetido despertar de rancor, através das
po#s, penso que, talvez, n'O as tenha lavado 88 vezes." insistentes exigências de limpeza e submissão,
Um més após a sua admissáo, o médico de sua en- mas precisa reprimir-se para manter a rela-
fermaria registrou a seguinte nota no relatório clínico: çáo com seus pais. Muito cedo, aprende a en-
paciente tornou-se extremamente perturbado por carar os seus pensamentos ocultos de hostili-
sua ideaçLo obsessivo-compulsiva durante os últimos dade reprimida, como sendo tabus e, por isso,
dias. Ele interrompia seu médico em todas as opor- sujeitos a punição e exigindo penalidades.
tunidades e, repetidamente, perguntava as mesmas ques-
saber, observando os pais, que a sua con-
toes, às quais Incluía o seguinte: "Poderia eu lavar Deve
as minhas múos depois de ir ao banheiro e ter a cer- duta de desafios e oposiçãoprejudica a grati-
teza de ser o primeiro? Poderia lavar as minhas ficaçao da atenção dos pais, entretanto, ne-
quando for ao banheiro e tiver movimento Intes- cessita, ao mesmo tempo, então satisfazer os
tinal? Meu pénis toca o assento do vaso. Você acha desejos dos pais tão bem quanto levar a cabo
que poderia lavá-lo com sabáo e água para evitar que
se alastre a doença? Eu n'O gostaria que ninguém ad- um ato expiatório associado.Essa série de res-
quirisse esta doença. Há uma erupçúo aqui. Você n'O postas na conduta, derivadas de um relaciona-
quer dar uma olhada? Acredito que seja alguma es- mento contínuo, por muito tempo, com tais
pécie de doença. Etou com medo de que todo mundo figuras familiares, torna-se tão internalizado
Eu n'O sei, doutor, estou com medo
de que alguma coisa esteja para acontecer. Tenho um
e inconsciente que cada pensamento refletin-
pressentimento de que posso ficar doido ou qualquer do raiva ou hostilidade, põe em açao os trei-
coisa assim. Alguém me perguntou, se eu acreditava nos psicodinâmicosde uma balanceada ati-
que essas coisas eram absurdas e eu disse 'sim', mas tude ambivalente de contra-reaçño, simboli-
agora que penso nelas, n'O me parecem absurdas. Ea- zando rancor, gratificação, submissao e expia-
tou exatamente tentando explicá-las. Elas n'O me pa- ção.
recem realmente bobagens, do contrário eu n'O as faria
assim como faço." O paciente manifestou uma interes- No breve sumário que se segue estão as
sante incapacidade para tornar definitiva uma afirma- associaçõeslivres de uma jovem mulher, advo-
ç'o ou para tomar qualquer decisáo. Quando se dis-
cutia um certo assunto. ele poderia responder coisas gada, compulsivamente limpa e meticulosa,
como as seguintes: "Bem, doutor, é exatamente assim, dadas durante a psicoanálise e seguidas de
Bem, n'O, n'O é exatamente assim. Eu poderia dizer uma observação do terapeuta que disse pare-
que, de certo modo, isso está um pouco fora da ordem. cer ela ser confusa e suja no seu trabalho ju-
Bem, isso n'O é absolutamente certo para Tal-
vez eu pudesse colocar as coisas no seu lugar. mais rídico dado o modo com que deixava cair a
do que — uh bem, n'O, n'O é isso." cinza do cigarro nos móveis.
NEUROSES
••Ê dificil acreditar que eu faça 405
alguma sujeira para
mamae. Parecia-me que quando intimamenteligadospela semelhançae a rela-
limpando e criticando-me por n'Ominha mae estava cão com os símbolos vistos na esquizofrenia.
me
a maneira de aborrecer-me e ao ser limpa, essa era Costuma acontecer, não raras vezes, que aquilo
tinha outro meio de conseguirpapai. Sentia que n'O que se pensa, inicialmente, ser o estado de
Nunca senti tanto rancor contra dar-lhe um contra. tensão ruminativo-obsessivade um neurótico,
ninguém senao contra
minha múe. Ser suja era o meio que
lhe o contra ou rebelar-me.Uma aprendi para dar-
seja uma reaçáo esquizofrénica óbvia, habi-
o quanto ficava transtornada quandovez, ela me contou tualmente do tipo paranóide. Em geral, pode-
quer coisa de valor. Tornei-me eu quebrava quai- se dizer que por maiores que sejam as rumi-
quando estive no campo com Ruth.corno minha mae naçõese menores as tensões,é mais provável
que brilhava. Todas as pessoas Ela era tao limpa
gcxtavam dela e a aci- que a reação seja esquizofrênica.Um fracasso
miravam. Ela Infligia os seus padróes
mente, encontrei-a e pensei que a todos. Recente- por parte do enfermo para encarar as suas
ela era esnobe." fobias e compulsõescomo um absurdo e par-
ticularmente para atribuí-las a influência ex-
Prognóstico ternas, indica uma grave origem esquizofré-
nica. O neurótico compulsivonunca perde a
Quando o estado
tem o seu acometimento na obsessivo-compulsivo experiências
infância e no ini- subjetivas e a realidade, como no
cio da vida adulta, o curso é
crónico, mas variável e muitoshabitualmente nala Bleuler, o neurótico compulsivo luta
sofrem periódicos episódios de pacientes que contra as suas absessóes,enquanto que o pa-
agravamento ciente delirante luta com as suas idéias.
são capazes de adaptar-se socialmente.
reação não aumenta o risco do Essa
suicídio,homi- Outra hora, as genuínas depressões de
cídio ou abuso de drogas de qualquer uma psicose maniaco-depressivapodem estar
ou de hospitalização mais prolongada.espécie, acompanhadas de idéias obsessivas.Para a di-
cessidades do paciente compulsivo As ne-
freqüente- ferenciação desses casos com os estados com-
mente interferem seriamente com o pulsivos, pode-se perguntar qual apareceu
forto e eficiência. Em casos extremos,seu con- primeiro, a depressão ou a idéia obsessiva.
cupaçóes constantes com os rituais as preo-
torna-lhes impossivel a vida social. protetores
Tratamento
psiquiatras caracterizam as neuroses Alguns
sivas como estados intermediários entre obses-
as Quando estão completamente desenvolvi-
neuroses e as psicoses. Os estados obsessivo- das, as reações obsessivo-compulsivassão cada
compulsivosdas crianças habitualmente desa- vez mais refratárias ao tratamento do que os
parecem com o tempo, se não forem tomados estados mais leves. Por isso, é importante
a sério na sua presença. Tais compulsõesde- que o tratamento seja feito bem cedo. As neu-
senvolvem-se da ansiedade infantil, muitas roses obsessivo-compulsivas, habitualmente,
vezes de uma angústia simples.O prognósti- desenvolvem-se nos indivíduos caracterizados
co é muito mais sério, se o ataque ocorre du- por traços compulsivosde sua personalidade.
rante a adolescência ou no início da vida A neurose é, em muitos casos sentida como um
adulta. exagero e uma caricatura desses padrões. Por
isso, devem ser feitos esforços no sentido de
se descobrir os fatores que, através de suas
Diagnóstico ações dinâmicas, levam primeiramente à dis-
posição da personalidade e, depois, às neuro-
Um diagnóstico entre a esquizofreniapre- ses. O tratamento então poderá ser psicoterá-
coce e as neuroses obsessivo-compulsivasé, pico e consistir em uma psicoanálise formal ou
algumas vezes, extremamente difícil. O pensa- baseada em princípios analíticos. Guiado pelo
mento obsessivodo psiconeuróticopode não terapeuta, o inconsciente do paciente é explo-
ser diferente das ruminações subjetivas do rado e os seus medos, aparentemente irracio-
esquizofrénico e o ritual compulsivodos pri- nais, e suas compulsões,adquirem novo signifi-
meiros pode sugerir os maneirismos dos últi- cado quando compreendidoscronologicamente
mos. O simbolismo, visto nos atos compulsi- em termos das primeiras experiências e do di-
vos do indivíduo neurótico,assim como a na- namismo do inicio da vida. Em todos os casos,
tureza substitutiva das fobias, estão, ambos, particularmente nas personalidades rígidas e
406 NEUROSES
Hunt e Brady. Nessas condições,a resposta çóes agudas ao stress. As síndromes dos cam-
emocional é muito maior ao estimulo condi- pos de concentração, de modo semelhante,
cionante do que ao incondicionado; isto é, são descritas como sendo síndromes crónicas.
para ser colocadoem termos do pensamento
humano, qualquer pensamento perceptivo ou Neuroses de Combate
outras associações ao trauma, continuam e
aumentam a resposta de ruptura das funções Presumivelmenteas neuroses de combate
do ego. O autor refere-se à revisão de Hunt, têm sido, há muito tempo, associadas às ope-
dos estudos sobre respostas emocionais con- rações militares, ainda que sua verdadeira na-
tinuadas, como está assinalado no Capítulo 3 tureza e sua psicopatologianão foram relati-
e particularmente ao seu ensaio dos vários vamente reconhecidas, senão recentemente.
efeitos dos psicofármacos e do eletrochoque Durante a Guerra Civil, DaCosta descreveu o
no controle dessas respostas. "Irritável Coração dos Soldados". Isso era in-
Na nomenclatura corrente, essa síndrome dubitavelmente uma neurose induzida pelo
não está registrada entre as neuroses, mas stress e ansiedade do combate e muito intima-
entre os Distúrbios Transitórios Situacionais mente semelhante ao quadro da "Atividade
da Personalidade, como "reaçóes a grande Desordenada do Coração", 80.000casos dos
stress". Essa classificaçãoé insatisfatória por- quais, dizem, ocorreram entre os soldados bri-
que o acúmuld de evidências de ambos os estu- tânicos durante a Primeira Guerra Mundial.
dos, o dos veteranos da guerra com neurose Ê interessante o fato de que essa alta inci-
de combate e dos sobreviventes dos campos de dência não foi relatada na Segunda Guerra
concentração, têm mostrado a persistência Mundial, presumivelmenteporque a sua na-
continua e demorada da ruptura das funções tureza tornou-se bem reconhecida e foi desig-
da personalidade.Kardiner e Spiegel defini- nada como neurose.
ram como suportável a ruptura das funções Na I Guerra Mundial,o fogo de artilharia
do ego nos veteranos americanos da Primeira alcançou nova intensidade com tal potencial
Guerra Mundial à qual eles referiram como de produzirmedo que nunca fora atingido an-
sendo uma psiconeurose, na crença de que um teriormente pelas armas de guerra. Foi noti-
severo stress efetuou uma desorganizaçãodos ciado que, com aqueles terríveis bombardeios,
processos fisiológicos responsáveis pela função quase sempre combinadosao fato de inspira-
integradora do ego. Mas a investigação dos rem medo de ataque aéreo, os soldados desen-
sobreviventes das experiências dos campos de volveram uma variedade impressionante de
concentração onde, em massa, homens e mu- sintomas, incluindo paralisias, grandes tremo-
lheres aos milhões foram expostos, durante res, mutismos, cegueira, confusão ou intensa
anos, à iminente ameaça de morte, repetidas angústia. Na ausência aparente de outros fa-
brutalidades, separação e perda do suporte tores etiológicos, concluiu-se primeiramente
emocional dos familiares e amigos e privações que o cérebro devia, de alguma maneira in-
físicas das mais extremas naturezas, estabele- determinada, suportar a ferida de uma con-
ceu a existência de um estado crónico de cussâo por um explosivo,quando se acompa-
stress. O estudo de Eitinger da síndrome do nha bem de perto a explosãode uma bomba.
campo de concentração fornece hoje o estudo O termo "shell shock" foi então aplicado para
mais completo dessas suportáveis fragmenta- designar essas casualidadespsiquiátricase foi
çóes no funcionamento da personalidade, pe- prescrita,para o seu tratamento, hospitaliza-
Ia exposiçãoa inundantes emoçõesou sobre- cão prolongada. Atualmente, reconhecemos
carga de stress. que a "shell shock" era, primeiramente, um
Uma vez que o quadro clinico em ambas problema psicológico.Mais tarde, na guerra,
as formas, aguda e crónica, da reaçio de tornou-se claro também que essa hospitaliza-
stress simula, muito amiúde, a neurose de an- çáo prolongada não fazia mais do que alimen-
gústia, essas condiçõesestio aqui descritas, tar e fixar os sintomas mentais, os quais im-
Em relação às respostas ao combate, na guer- pediam o retorno ao combate e ofereciam uma
ra, as que têm sido mais completamenteexa- pensão de compensação, fornecendo até mesmo
minadassio as reaçóesagudas de stress, por um considerávelganho secundário.
isso estipulou-se ampliar a sua discussão e Antes do fim da II Guerra Mundial,tor-
compreensLocomo sendo o protótipo das rea., nou-se claro que a incapacidade funcional
409
NEUROSES
provavelmente seria muito menor o
te com uma neurose aguda, induzida se pacien- viço Militar é acompanhada pela perda repen-
na ba- tina dos suportes emocionais providos pelos
talha, fosse tratado perto da linha
de frente e familiares e amigos, a privação de companhia
retornasse às suas atividades, tão
to possível. Notou-se também cedo quan- feminina e perda da individualidadee da pri-
que a percenta- vacidade. Freqüentemente, o soldado intem-
gem de recuperação seria pior se a atitude do
pestivo tem também um sentimento de não
psiquiatra indicasse não haver nenhum dano
orgânico e se o nome pelo qual a neurose
ser apreciadoe nutre ressentimentos resultan-
fosse tes de modificaçõesdos padrões relativamente
conhecida pelo soldado implicasse ser a sua
flexíveise permissíveisda vida civil para su-
incapacidadetemporária e recuperável. jeitar-se a uma restrita disciplina,regimenta-
O medo extremado e repetido das ba- cão e subordinação.
talhas, com uma constante ameaça de morte,
mais a intensa fadiga, são fatores precipitan- Os stresses e os conflitos aos quais o solda-
tes na produção das neuroses de combate.A do está expostodurante o período de treina-
mento são relativamente suaves e manejados
exaustão física, por si só, não é suficientepara
por muitos exercíciossem o desenvolvimento
produzir neurose, mas serve para diminuir a
sintomas de protestos em forma das síndro-
resistência de tal modo que as forças psicodi- de neuróticas e psicóticas.Ainda que o pe-
mes
namicas são mais facilmente desprendidas.
Por maiores que sejam, no entanto, os elemen-
ríodo de treinamento não seja acompanhado
dos perigos do combate, renuncia-se às gra-
tos que fazem diminuir a eficiência física re- tificaçóes normais e os objetivos destrutivos
sultante da fadiga, falta de alimento e sono, substituem aqueles construtivos da vida civil
ou doença intercorrente, tanto mais facilmen- anterior. Novos relacionamentos que poderiam
te ocorre um colapso emocionale tanto maior vir ao encontro das necessidadesemocionais
é a probabilidade de o soldado não poder re- do soldado num estado anormal e estranho
tornar ao seu posto na ativa. têm de ser estabelecidos.Sob estas circuns-
Os fatores da personalidadetambém pre- tancias, as relações emocionaismais constru-
dispõem às neuroses de combate. Não é fá- tivas são as identificaçõesdo soldado consigo
cil selecionar o homem que poderá manter um mesmo, como parte integrante da sua unida-
equilíbrio emocional em combate e eliminar de como parte dele próprio. Deverá confiar
aquele que provará ser inadequadopor causa em sua unidade,no caráter, na capacidadee
do stress. Não é sempre o homem instável e na bravura do seu líder. Com a formação das
neurótico, como seria de se supor, o que per- relações mais profundas com o seu líder e seus
de a resistência no terror que acompanha um camaradas, seus sentimentos de segurança e
prolongado e intenso combate. Em geral, é poder são aumentados e seu moral ou atitudes,
a pessoa tímida e passiva,que não pode mo- sentimentos e crenças que produzem a parti-
bilizar e externar a sua angústia, que reage cipação em um esforço unido, são promovi-
agressivamente contra o inimigo e depois des- dos.
carrega sua tensão, aquela que provavelmen- O medo, lembremos, é uma experiência
te desenvolverá uma neurose de combate. emocional em resposta a um estímulo que tem
Muitos homens, entretanto, por patrio- uma realidade no momento atuai, que cons-
tismo, tornando suas as exigências de seu país, titui a ameaça presente ao indivíduoou in-
são induzidos a ingressar nas forças armadas, dica um perigo real. A angústia, por outro
sem que haja uma forte e conscienteinclina- lado, é uma expectativa de perigo, um estado
gio para a vida militar ou para as experiên- emocionalde apreensão, incerteza e insegu-
cias de combate. Muitos deles,nos períodos de rança que pode ser produzido por uma situa-
indução, são até mesmo emocionalmente de- çao simbólica de um perigo externo ou por
pendentes de suas famílias, talvez superpro- conflitos internos e as tensões presentes no
tegidospor suas mães e intimidadospor pais inconsciente. Freqüentemente irrompe das
cruéis. Estabeleceu-setambém que um gran- ameaças da hostilidade reprimida agressão
de e injustificável número de neurose de ou ressentimento. Ainda que essa distinção
combate ocorreu em indivíduos vindos de lares entre o medo e a angústia possa ser feita, nas
desfeitos ou malformados, desfavoráveis ao situações de guerra elas operam conjuntamen-
desenvolvimento de uma personalidade ama- te. A tonalidade das suas emoções e as ex-
durecida e bem integrada. A indução ao Ser- pressõesfisiológicasque as acompanham sio
410 NEUROSES
1,
as mesmas. Entretanto, a angústia real surge convicçãoda necessidadede lutar, tudo isso,
da ameaça interna, atribuída a (projeção)al- predispõe à neurose de guerra. Um sentimen-
guma fonte externa, real. Nas neuroses de to de culpa sobre a expressão de hostilidade e,
guerra, essa projeçáoé feita sobre uma situa- às vezes, um fator psicogênico.A regimenta-
cão externa, perigosa e também provocadora cão e a frustração da vida serviçal,a separa-
de medo. Ambos, o medo e os sentimentos de çáo do lar e a existência de dificuldadesdo-
apreensão e insegurança, característicos da mésticas são, freqüentemente, de muito maior
angústia podem, por isso, ser vistos como tendo significação do que os acontecimentos dramá-
uma fonte comum. Nas situações de batalha, o ticos.
medo e outras poderosas forças externas e A necessidadede que o homem "tem que
emocionais atuam sobre as tensões e ameaças suar" em circunstâncias ambientais hostis,
internas e sobre as fontes inconscientes da an- contínuas, resulta quase que inevitavelmente,
siedade. Dessas fontes de stress emocional do por si só, em algum grau de angústia. Há tam-
combate, o medo é o mais potente e seus efei- bém certos fatores, tanto internos como exter-
tos somáticos e fisiológicos transformam-se nos, que tendem a aumentar a angústia.Um
em fonte de grande fadiga. Sob as circunstân- desses problemas internos é o manejo pelo sol-
cias de combate, os vários stresses internos e dado da sua hostilidade.Durante a vida civil,
externos conspiram para produzir o conflito ele foi educado para inibir qualquer impulso
que se pode tornar intolerável. As defesas psi- hostil ou agressivo. Ao passo que, anteriormen-
cológicas do ego, nesse período, efetivas, co- te, ele se impressionavacom o valor de uma
lapsam com o conseqüentedespertar da an- vida humana, agora o soldado está na expecta-
gústia e a emergência de padrões infantis de tiva de matar tantos homens quanto possível.
conduta, os quais constituem o quadro neuró- Sua hostilidade que, através de longa inibi-
tico. A angústia e o seu manejo constituem, cão, tornou-se, bem reprimida, está agora pa-
por isso,um dos problemas básicos da neurose ra ser posta em ação para matar homens co-
de guerra. mo ele mesmo. Essa realização da hostilidade
FATORES QUE CONTRIBUEM PARA AS e dos impulsos agressivos, nas suas expressões
NEUROSES DE GUERRA. Como já indiquei,mais destrutivas, evoca a angústia. O problema
o medo e um enfraquecimento na habilidade do controle dos impulsos agressivos é prova-
de reprimir as reações de medo, são altamente velmente uma das cargas psicológicasmais pe-
estimuladores da angústia. Uma quebra do sadas do soldado. A situação do combate de-
moral do grupo ou uma atitude derrotista den- manda a realização da agressão, qualquer que
tro da unidade de combate, aumentam gran- seja a sua origem,quaisquerangústias e ten-
demente a fadiga e o esforço psicológico.Tais sões que sejam acrescentadas às cargas do
perdas de moral estão sujeitas particularmen- ego enfraquecem suas funções defensivas e
te a aparecer nos casos de falta de fé nos ofi- aumentam a possibilidadede uma neurose.
ciais comandantes,na ausência de identifica- Frustrações, como tratamento parcial, tendo
ção com a própria unidade, ou durante uma em vista a promoção, excitações ou licenças
retirada. A qualidade da liderança é um dos para saídas, também fazem vir à tona os res-
fatores mais importantes na incidência do sentimentos, a hostilidade e a angústia.
atividade e das oportunidades para o necessário associadas com o dano específico teci-
dual, como a úlcera péptica.
contato humano, suporte emocional e
estímu-
Io. A grande maioria daqueles sobreviventes Os outros, que perderam as suas famílias,
que agora têm sintomas de debilitação do fun- lares, profissões, são apáticos, indiferentes,
cionamento de suas personalidades,tiveram, deprimidos e com sentimentos de culpa. Su-
no mais alto grau, experiências terrorificas e portando uma pesada culpa como resposta
desesperadoras: assaltos de todas as espécies subseqüente, o enfermo sofre por
ser o único
às suas pessoas, percepções de brutalidades e membro sobrevivente de uma família ou de um
matanças de outrem, profanaçio de corpos,se- grupo ou até mesmo por ser ele um único pa-
paraçao de suas famílias e amigos,doenças fi- rente. A culpa, muitas vezes, é uma resposta
Sicas e privações. Muitos transformaram-se ao sentido da implicação na morte dos outros.
em "cadáveres vivos" nos campos de concen- Aquelesindivíduoscom predisposiçãopara as
psicoses, ou que sofreram psicoses anteriores,
traçáo.
expressam sintomatologia com defesas carac-
Aqueles que sobreviveram, conseguiram- teristicas de estilo ou feitio de suas personali-
no através da mobilização de uma variedade dades. Alguns, desenvolveram atitudes perse-
de defesas psicológicas e de adaptações como cutórias paranóides. Aquelesque ficaram ex-
também através do expediente de viver for- postos aos campos de concentração, quando
tuitamente entre o grupo, salvo pelas circuns- ainda muito jovens, muitas vezes exprimem
tancias. As adaptações e as defesas mobiliza- as suas restrições de personalidadeem condu-
das são consideradas como tendo sido cha- tas anti-sociais. Entretanto, o psiquiatra ano-
madas a desempenhar o seu papel enquanto tará os sobremontantes sintomas expressivos
que as atitudes estáveis do ego e do superego das reaçóes crónicas do stress. Essas reaçóes
sofriam erosões ante uma contínua barreira emergem da preocupação permanente com o
de chantagens exaustivas. Esse stress rompia, passado, dos temores da experiência, da reca-
sucessivamente, os processos integradores do pitulaçáo dos pesadelos e da inquietação ou
ego, processos esses que haviam evoluído du- desassossego,da irritabilidade, irascibilidade,
rante os muitos anos do desenvolvimento da apatia, desesperança, desespero e indiferença.
NEUROSES 417
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