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P S I C O PAT O L O G I A
BORDERLINE
BORDERLINE
• Não se enquadra nos limites genético-dinâmicos (teoria estrutural).
• Tratamento pode exigir tal reestruturação do setting habitual – como aumento da atividade do
terapeuta, estabelecimento de limites, intervenções de apoio, uso de fármacos, hospitalizações,
entrevistas com cônjuges e familiares, entre outras ações – que o enquadre terapêutico parece
se transformar em qualquer coisa que não o normalmente conhecido pela tradição psicanalítica
ou pelo atendimento psiquiátrico convencional.
• refere-se ao status psicodinâmico de pacientes tanto na fronteira entre a neurose e a psicose
quanto, do ponto de vista terapêutico, na fronteira da analisabilidade com a não analisabilidade.
• O termo “limítrofe” apareceu no fim do século XIX, com o objetivo de diferenciar casos mais
leves de psicose, de prognóstico melhor, de formas mais graves, como a esquizofrenia. A
fronteira com a esquizofrenia foi, portanto, o viés dominante do diagnóstico, tanto psiquiátrico
como psicanalítico.
As características básicas do transtorno da personalidade
borderline são:
Para o diagnóstico de TPB, o DSM exige que, pelo menos, cinco sintomas referidos nos critérios
diagnósticos estejam presentes.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE
BORDERLINE DE ACORDO COM O DSM-5
• Falta de coerência e consistência nos próprios valores, nas motivações e nas interações pes-
soais.
• Incapacidade de se dar conta das motivações e dos estados mentais dos outros.
• Desenvolve relações caóticas, dificuldades interpessoais crônicas e falta de empatia para com
os demais.
Mecanismos primitivos de defesa
negação, idealização, identificação projetiva, controle onipotente), cisão.
A identificação projetiva é uma forma de projeção complexa. Nela, o paciente continua a vivenciar as
relações de objeto projetadas, teme a pessoa sobre a qual as projetou e sente necessidade de
controlá-la.
O paciente tenta induzir a outra pessoa a funcionar de acordo com as partes projetadas.
A presença generalizada das identificações projetivas nos pacientes borderline torna essencial aos
terapeutas manterem-se atentos à contratransferência, a fim de captarem parte dos aspectos
dissociados, negados e projetados do mundo interno do paciente.
Negação
Se expressa pela recusa do impacto de experimentar.
•incapacidade primária de sintetizar introjetos negativos e positivos (pelo perigo de os bons serem
destruídos pelos maus) em representações mentais coerentes do próprio eu e dos objetos.
• Como a ansiedade resultante da síntese seria intolerável, a criança ativa mecanismos primitivos de
splitting (DIVISÃO) para evitar uma catástrofe interna e preservar a sobrevivência da “mãe boa”
internalizada.
•A manutenção separada desses estados mentais cindidos demanda grande atividade e gasto de energia por
parte do ego, contribuindo para seu enfraquecimento, sua vulnerabilidade no teste de realidade e para a
tendência a recair na forma primária de pensamento.
Terapeuta
•Precisa ficar atento ao surgimento da transferência negativa, inevitável pelo excesso inato da
agressão, e interpretá-la de forma vigorosa assim que for identificada, bem como confrontar os
estados mentais contraditórios com os quais o paciente se apresenta. Ele admite que isso só é
possível quando duas condições forem estabelecidas:
•que haja um setting bem estruturado por um contrato capaz de preservá-lo das atuações do
paciente.
•
Psicoterapias efetivas com o paciente
borderline:
•construção de um setting estável e estruturado;
• atividade maior do terapeuta;
•tolerância das transferências negativas;
•transformação dos comportamentos autodestrutivos em não gratificantes;
•limites para as atuações;
•estabelecimento de conexões entre as ações e os sentimentos do paciente com a situação
presente;
•foco das intervenções no aqui e agora; monitoramento cuidadoso da contratransferência;
Prioridades a serem abordadas com
pacientes Borderline
•Ameaças de suicídio ou homicídio;
•Quebras contratuais;
• Atuações dentro das sessões (gritar, jogar objetos, recusar-se a sair no fim da sessão);
Filha de pai branco (que se suicidou) e de mãe negra, foi encaminhada para adoção quando ainda era pequena e teve uma infância
tumultuada. Mulata clara, foi adotada por uma mulher branca que a registrou como filha. Desde pequena, desprezou as próprias origens
e evitou qualquer contato com a mãe biológica. Ao entrar na puberdade, seu cabelo começou a encarapinhar. A “mãe branca” repudiou
o fato e, desde os 11 anos de idade, obrigou-a a usar uma peruca loira, de cabelos lisos, que a paciente nunca mais tirou (a não ser para
trocar por uma nova). Casou-se aos 18 anos e teve dois filhos, porém nem o marido nem os filhos jamais a vi-ram sem a peruca; usava a
justificativa de que tinha uma doença congênita que a deixara calva.
Durante a internação, a paciente começou a apresentar sintomas dissociativos inesperados, em que “outra personalidade”
sua se comportava de forma arrogante, agressiva e ameaçadora, diferente do seu “eu normal”, cooperativo e dócil. Essas
súbitas mudanças de personalidade passaram a provocar ansiedade crescente na equipe que a atendia. Durante uma
entrevista de avaliação, a paciente, que até então falava calmamente, deu um soco no braço de sua cadeira e, com voz grossa
e alta, passou a vociferar contra os presentes, gritando que iria matá-los, que eram desprezíveis e que mereciam ser
O impacto das ameaças, sublinhado pelo soco na cadeira e a voz raivosa, deixou a todos imobilizados e assustados. A partir
do que sentiu, no entanto, o supervisor imaginou que esses podiam ser sentimentos de uma parte cindida da mente da
paciente, uma parte assustada, frágil, carente e confusa quanto à própria identidade – simbolicamente, a parte “carapinha”
não aceita e que precisava ser eliminada –, mantida cronicamente submetida e imobilizada pela parte onipotente, sádica e
controladora (que usava peruca), que não permitia que a outra se manifestasse e se integrasse ao ego da paciente.
Assegurando-se de que a entrevista poderia prosseguir – foi perguntando à paciente se havia
condições de o diálogo continuar ou se preferia interrompê-lo e sair do consultório –, o
supervisor assinalou que, no fundo, ela esperava que a equipe não se assustasse com seus
gritos, que talvez ela estivesse solicitando ajuda para também não se atemorizar com essas
ameaças internas e conseguir retirar sua peruca, a fim de tentar viver uma vida menos dividida.
A agitação da paciente foi se extinguindo, e a entrevista prosseguiu fluente, com sua parte
“normal” reassumindo o controle e relembrando a angústia que foi passar a vida toda se
escondendo de si mesma, da família e dos outros.