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Suicídio:

breves orientações sobre prevenção e intervenção

(baseado na cartilha Suicídio na Pandemia COVID-19 da Fiocruz e Orientações para


Profissionais da Atenção Primária desenvolvida pela OMS)
Considerações iniciais
• Estatísticas mostram o aumento das taxas de suicídio após evento externo

• Continuum:
• Ideação – ameaça – tentativa – ato suicida

• Subnotificação

• Tentativa como fator de risco: 100 vezes em relação a quem nunca tentou

• Transtornos associados: depressão, transtorno bipolar, dependência de álcool


e outras drogas, esquizofrenia e transtornos de personalidade
Conceitos importantes
• Comportamento suicida
• conjunto de atitudes que incluem o pensamento de uma ação autoinfligida que resulte
em morte (ideação), o planejamento, a tentativa e o próprio suicídio.

• Tentativa de suicídio
• comportamento autolesivo não-fatal, com evidências, sejam elas implícitas ou explícitas
de que a pessoa tinha intenção de morrer. É importante atentar que nem toda violência
autoprovocada caracteriza uma tentativa de suicídio. Estes atos podem ser formas de
aliviar sofrimentos, sem que haja o objetivo de pôr fim à vida. Diferenciar os dois pode
ser difícil na prática clínica e o cuidado em saúde mental precisa ser desenvolvido de
qualquer maneira.

• Suicídio
• morte autoprovocada com evidências, sejam elas implícitas ou explícitas de que a
pessoa pretendia / tinha intenção de morrer.
Fatores de risco
• Sociodemográficos
• Sexo masculino;
• Adultos jovens (19 a 49 anos) e idosos;
• Estados civis: viúvo, divorciado e solteiro(principalmente entre homens);
• Orientação homossexual ou bissexual;
• Ateus, protestantes tradicionais, católicos, judeus;
• Grupos étnicos minoritários
Fatores de risco
• Psicológicos
• Depressão, Transtorno afetivo bipolar, abuso/dependência de álcool e outras
drogas, esquizofrenia, transtornos de personalidade(especialmente borderline);
• Comorbidade psiquiátrica (ocorrência de mais de um transtorno mental ao
mesmo tempo);
• História familiar de doença mental;
• Falta de tratamento ativo e continuado em saúde mental;
• Ideação ou plano suicida;
• Tentativa de suicídio pregressa;
• História familiar de suicídio;
Fatores de risco
• Psicossociais
• Abuso físico ou sexual;
• Perda ou separação dos pais na infância;
• Instabilidade familiar;
• Ausência de apoio social;
• Isolamento social;
• Perda afetiva recente ou outro acontecimento estressante;
• Datas importantes (reações a aniversário);
• Desemprego;
Fatores de risco
• Psicossociais
• Aposentadoria;
• Violência doméstica;
• Desesperança, desamparo;
• Ansiedade intensa;
• Vergonha, humilhação (bullying)
• Baixa autoestima;
• Desesperança;
• Traços de personalidade: impulsividade, agressividade, labilidade do humor,
perfeccionismo;
• Rigidez cognitiva, pensamento dicotômico;
• Pouca flexibilidade para enfrentar adversidades.
Fatores de risco
• Outros
• Acesso a meios letais (armas de fogo, venenos);
• Doenças físicas incapacitantes, estigmatizantes, dolorosas e terminais;
• Estados confusionais orgânicos;
• Falta de adesão a tratamento, agravamento ou recorrência de doenças
preexistentes;
• Relação terapêutica frágil ou instável;
Fatores protetivos
• Personalidade e estilo cognitivo:
• Flexibilidade cognitiva;
• Disposição para aconselhar-se em caso de decisões importantes;
• Disposição para buscar ajuda;
• Abertura para experiência de outrem;
• Habilidade para se comunicar;
• Capacidade para fazer uma boa avaliação da realidade;
• Habilidade para solucionar problemas da vida;
Fatores protetivos
• Estrutura Familiar:
• Bom relacionamento interpessoal;
• Senso de responsabilidade em relação à família;
• Presença de crianças pequenas em casa;
• Pais atenciosos e presentes;
• Apoio da família em situações de necessidade
Fatores protetivos
• Fatores Socioculturais:
• Integração e bons relacionamentos em grupos sociais (colegas, amigos,
vizinhos);
• Adesão a valores e normas socialmente compartilhados;
• Prática de uma religião e outras práticas coletivas (esportes, atividades culturais,
artísticas)
• Rede social que oferece apoio prático e emocional;
• Estar empregado;
• Disponibilidade e acesso a serviços de saúde mental;
Fatores protetivos
• Outros
• Gravidez, puerpério;
• Boa qualidade de vida;
• Regularidade do sono;
• Boa relação terapêutica.
Recomendações gerais
• Acolher a pessoa e sua família, sem julgamentos, e considerar o ato
como um sinal de alerta, especialmente para evitar um novo episódio
suicida;
• Ter escuta cuidadosa, respeitosa e séria, procurando sempre entender
melhor o que ocorreu e como a pessoa se sente. Evitar apontar
culpados ou causas;
• Em casos suspeitos ou confirmados de violência autoprovocada, realizar
a notificação compulsória às autoridades sanitárias;
• Orientar sobre a vigilância diante dos meios que podem ser utilizados
numa tentativa de suicídio, impedir o rápido acesso aos meios é uma
das grandes medidas de prevenção
Recomendações gerais
• Oferecer ajuda para iniciar um acompanhamento psicológico e/ou
psiquiátrico e fazer o encaminhamento;
• Avaliar necessidade de outros encaminhamentos, como da rede de
proteção social, quando há suspeita de motivação intrafamiliar ou de
violação de direitos;
• Em relação à autolesão, é fundamental o questionamento ativo e
cuidadoso do porquê dessa manifestação, o que se pretendia e o que,
de fato, se conseguiu. Dessa forma, sem julgamentos, há mais chance
de estabelecer uma conexão verdadeira e potente para redução de
sofrimento emocional e dos riscos decorrentes;
Recomendações gerais
• Atenção aos pacientes já em tratamento psiquiátrico: as medicações
devem ser mantidas durante todo o período de isolamento! Se preciso,
facilitar o fornecimento de receitas, sempre considerando a segurança
necessária para se ter os remédios em casa;
• Em caso de perigo imediato de comportamento suicida ou de
automutilação, acionar o SAMU 192 e/ou orientar o familiar, no caso da
criança e do adolescente os pais/responsáveis, a levar para um
atendimento de emergência em UPA, pronto socorro ou hospital.
Recomenda-se não deixar a pessoa sozinha e garantir que receba o
atendimento em saúde em caráter de emergência
Níveis de intervenção
• Universal:
• destinada a toda a população, independente do risco, e seu objetivo é impedir o
início de determinado comportamento

• Seletiva:
• tem foco em indivíduos e populações que estão sob baixo risco, mas que ainda
não desenvolveram o comportamento alvo da intervenção. Seu objetivo é reduzir
os fatores de risco através da busca ativa, oferta de informações e acolhimento.

• Indicada:
• intervenção imediata, específica para indivíduos e populações que estão sob
risco iminente ou que já desenvolveram o comportamento alvo.
Estratificação de risco
Paciente sem histórico de tentativa prévia, apresentando ideação suicida, sem planejamento

BAIXO

Paciente com histórico de tentativa prévia, apresentando ideação suicida frequente e persistente (o
pensamento está presente por muito tempo), sem planejamento. Ausência de impulsividade ou
MODERADO abuso/dependência de álcool ou drogas.

Paciente com histórico de tentativa prévia, apresentando ideação suicida frequente e persistente (o
pensamento está presente por muito tempo), com planejamento e acesso à forma como planejou.
ALTO Impulsividade, rigidez do propósito de se matar, desespero, delirium, alucinações, abuso/dependência
de álcool ou drogas são fatores agravantes.
O que fazer
• Oferecer apoio emocional.

BAIXO • Trabalhar sobre os sentimentos suicidas. Quanto mais abertamente a pessoa fala sobre
perda, isolamento e desvalorização, menos turbulentas suas emoções se tornam. Quando
a turbulência emocional cede, a pessoa pode se tornar reflexiva. Este processo de
reflexão é crucial, ninguém senão o indivíduo pode revogar a decisão de morrer e tomar a
decisão de viver.

• Focalizar na força positiva da pessoa, fazendo-a falar como problemas anteriores foram
resolvidos sem recorrer ao suicídio.

• Encaminhar a pessoa para um profissional de saúde mental ou a um médico.

• Encontrar a pessoa em intervalos regulares, mantendo contato externo.


O que fazer
• Oferecer apoio emocional, trabalhar com os sentimentos suicidas da pessoa e focalizar em forças
positivas.
MODERADO
• Focalizar os sentimentos de ambivalência. O profissional da saúde deve focalizar na ambivalência
sentida pela pessoa suicida, entre viver e morrer, até que gradualmente o desejo de viver se
fortaleça.

• Explorar alternativas ao suicídio. O profissional da saúde deve tentar explorar as várias alternativas
ao suicídio, até aquelas que podem não ser soluções ideais, na esperança de que a pessoa vá
considerar ao menos uma delas.

• Fazer um contrato. Extraia uma promessa do individuo suicida de que ele ou ela não vai cometer
suicídio sem que se comunique com a equipe de saúde, nem por um período especifico.

• Encaminhar a pessoa a um psiquiatra, ou médico, e marque uma consulta o mais breve possível.
O que fazer
• Estar junto da pessoa. Nunca deixá-la sozinha.

ALTO • Gentilmente falar com a pessoa e remover as pílulas, faca, arma, inseticida, etc. (distância
dos meios de cometer suicídio).

• Fazer um contrato

• Entrar em contato com um profissional da saúde mental ou médico imediatamente e


providenciar uma ambulância e hospitalização.

• Informar a família e reafirmar seu apoio.

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