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PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

Como abordar e avaliar o risco suicida

É importante lembrar: O profissional deve sempre manter uma postura de NÃO


julgamento e empatia, sem minimizar ou menosprezar o sofrimento do outro, e
EVITANDO comentários baseado em crenças pessoais relacionadas ao suicídio.

A ideação suicida deve ser discutida abertamente com o paciente. Mas como iniciar
uma conversa sobre um tema tão delicado? Existem perguntas simples e diretas que
podem ser feitas no momento do acolhimento, apresentando boa sensibilidade para
detectar o risco suicida.

A seguir algumas dessas perguntas adaptadas de Schmitt et al. (2008):

● Que problemas você tem enfrentado ultimamente?

● Sente que sua vida perdeu o sentido?

● Pensa que seria melhor morrer?

● Pensou em pôr fim à própria vida?

● Pensou em como se mataria?

● Já tentou se matar ou fez algum preparativo?

● Tem esperança de ser ajudado?

As perguntas estão dispostas em uma sequência lógica, podendo ser feitas nessa
ordem ou não, dependendo do caso.
As características a serem investigadas na avaliação do comportamento suicida são
FATORES DE RISCO (aumentam a probabilidade do ato suicida) e FATORES DE
PROTEÇÃO (diminuem a probabilidade do ato suicida).
FATORES DE RISCO (aumentam a probabilidade do ato suicida)

● Ideação, plano e intenção suicida - Lembrar que, quanto mais estruturado o

planejamento,

● maior é o risco;

● Letalidade dos métodos cogitados no plano suicida - Lembrar que a letalidade é

relativa, ou seja, às vezes o paciente acredita que vai morrer, mas seu plano
não é letal;

● Evidências de desesperança, impulsividade e ansiedade;

● Uso de álcool ou outras substâncias;

● Presença de sinais e sintomas de transtornos mentais;

● Diagnósticos e tratamentos psiquiátricos anteriores, incluindo momento de

início do transtorno e seu curso;

● Tentativas de suicídio ou outros comportamentos autolesivos;

● História familiar de suicídio ou tentativas de suicídio e de transtornos mentais,

incluindo abuso de substâncias;

● Crises psicossociais agudas e estressores psicossociais crônicos, os quais podem

incluir perdas interpessoais reais ou percebidas, dificuldades financeiras ou


mudanças na condição socioeconômica, discórdia familiar, violência doméstica
e negligência ou abuso sexual/físico passado ou atual;

FATORES DE PROTEÇÃO (diminuem a probabilidade do ato suicida)

● Razões para viver e planos para o futuro;


● Suporte familiar e apoio psicossocial (o apoio psicossocial inclui a rede de

relações do sujeito, inclusive se ele frequenta algum Centro de Atenção


Psicossocial);

● Crenças culturais ou religiosas a respeito da morte e do suicídio;

Paciente sem histórico de tentativa prévia, apresentando ideação, sem


planejamento.
RISCO BAIXO

Paciente com histórico de tentativa prévia, apresentando ideação suicida


frequente e persistente (o pensamento está presente por muito tempo), sem
RISCO
planejamento.
MODERADO
Ausência de impulsividade ou abuso/dependência de álcool ou drogas.

Paciente com histórico de tentativa prévia, apresentando ideação suicida


frequente e persistente (o pensamento está presente por muito tempo), com
planejamento e acesso à forma como planejou.
RISCO ALTO
Impulsividade, rigidez do propósito de se matar, desespero, delirium,
alucinações, abuso/dependência de álcool ou drogas são fatores agravantes.

Como manejar o risco suicida

Sempre que o risco suicida for identificado, independente da gravidade, o caso deve
ser tratado entre todos os profissionais de saúde que acompanham o caso. O
manejo do comportamento suicida irá variar de acordo com a circunstância e as
características da pessoa, como se observa na figura a seguir:

COMO LIDAR COM O PACIENTE

PACIENTE COM BAIXO RISCO


• Oferecer apoio emocional.
• Trabalhar sobre os sentimentos suicidas. Quanto mais abertamente a pessoa fala
sobre perda, isolamento e desvalorização, menos turbulentas suas emoções se
tornam. Quando a turbulência emocional cede, a pessoa pode se tornar reflexiva. Este
processo de reflexão é crucial, ninguém senão o indivíduo pode revogar a decisão de
morrer e tomar a decisão de viver.
• Focalize na força positiva da pessoa, fazendo-a falar como problemas anteriores
foram resolvidos sem recorrer ao suicídio.
• Encaminhe a pessoa para um psiquiatra, serviço de saúde mental, grupo de apoio.
• Encontre-a em intervalos regulares e mantenha contato externo.

PACIENTE COM MÉDIO RISCO


• Ofereça apoio emocional, trabalhe com os sentimentos suicidas da pessoa e focalize
em forças positivas. Em adição, continue com os passos abaixo.
• Focalize os sentimentos de ambivalência. O profissional da saúde deve focalizar na
ambivalência sentida pela pessoa suicida, entre viver e morrer, até que gradualmente
o desejo de viver se fortaleça.
• Explore alternativas ao suicídio. O profissional da saúde deve tentar explorar as
várias alternativas ao suicídio, até aquelas que podem não ser soluções ideais, na
esperança de que a pessoa vá considerar ao menos uma delas.
• Faça um contrato. Extraia uma promessa do indivíduo suicida de que ele ou ela não
vai cometer suicídio.
• Encaminhe a pessoa a um psiquiatra.
• Entre em contato com a família, amigos e colegas, e reforce seu apoio.
PACIENTE COM ALTO RISCO
• Estar junto da pessoa. Nunca a deixar sozinha.
• Gentilmente falar com a pessoa e remover as pílulas, faca, arma,inseticida, etc.
(distância dos meios de cometer suicídio).
• Fazer um contrato.
• Entrar em contato com um profissional da saúde mental ou médico imediatamente e
providenciar uma ambulância e hospitalização.
• Informar a família e reafirmar seu apoio.

ENCAMINHANDO O PACIENTE COM RISCO DE SUICÍDIO


Encaminhar quando a pessoa tem:
• Doença psiquiátrica;
• Uma história de tentativa de suicídio anterior;
• Uma história familiar de suicídio, alcoolismo ou doença mental;
• Doença física;
• Nenhum apoio social.
Como encaminhar:
• Explicar à pessoa a razão do encaminhamento.
• Marcar a consulta.
• Esclareça à pessoa que o encaminhamento não significa que o profissional da saúde
está lavando as mãos em relação ao problema.
• Veja a pessoa depois da consulta.
• Mantenha contato periódico.

REDE DE APOIO
As fontes de apoio usualmente disponíveis são:
• Família;
• Amigos;
• Colegas;
• Clérigo;
• Centros de crise;
• Profissionais de saúde.

Como obter estes recursos?


• Tente conseguir permissão do paciente para recrutar quem possa ajudá-la, e depois
entre em contato com essas pessoas.
• Mesmo que a permissão não seja dada, tente localizar alguém que seria
particularmente compreensivo com o paciente.
• Fale com o paciente e explique que algumas vezes é mais fácil falar com um estranho
do que com uma pessoa próxima, para que ele ou ela não se sinta negligenciado ou
ferido.
• Fale com as pessoas de apoio sem acusá-las ou fazê-las sentirem-se culpadas.
• Assegure novamente seu apoio nas ações que serão tomadas.
• Fique atento, também, às necessidades dos que se propuseram a ajudar.

Alguns conceitos importantes

SUICÍDIO: Morte autoprovocada, com evidências (implícitas ou explícitas) de que a


pessoa tinha intenção de morrer;

IDEAÇÃO SUICIDA: Pensamento relacionado à intenção de cometer suicídio. Varia em


gravidade, desde a simples vontade de desaparecer até a formulação de um plano
suicida concreto;

INTENÇÃO SUICIDA: Desejo e expectativa subjetiva de que um ato autodestrutivo


resulte em morte;

COMPORTAMENTO SUICIDA: Conjunto de ações tomadas pelo indivíduo com a


finalidade de terminar a própria vida. Deve-se sempre avaliar a letalidade do
comportamento suicida, isto é, o quanto essas ações são realmente capazes de tirar a
vida do indivíduo;
TENTATIVA DE SUICÍDIO: Ato de consequências não fatais praticado por um indivíduo,
acompanhado de evidências (implícitas ou explícitas) de que a pessoa tinha a intenção
de morrer;

RISCO DE SUICÍDIO: Probabilidade de um indivíduo com fatores de risco para suicídio


efetivamente cometê-lo. Pode-se sempre estimar o risco de suicídio com base em uma
boa entrevista com o paciente. Lembrar que é uma estimativa, baseada em evidências
epidemiológicas, e não um cálculo exato.

FATORES DE RISCO: Fatores sócio demográficos, psicossociais e ambientais que


AUMENTAM a probabilidade do ato suicida.

FATORES DE PROTEÇÃO: Fatores sócio demográficos, psicossociais e ambientais que


DIMINUEM a probabilidade do ato suicida;
ATENÇÃO! Nem todos os suicídios podem ser evitados, mas a maioria pode ser
prevenida.

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