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Sistema de Protocolos
Objetivos:
a) Conceituar emergências psiquiátricas na infância e na adolescência.
b) Descrever as principais condições observadas em crianças e adolescentes, em contexto
de emergências psiquiátricas.
c) Descrever o manejo diagnóstico e terapêutico de crianças e adolescentes no contexto
de emergências psiquiátricas.
Autores e Afiliação:
Autores
William Luiz Aoqui 1, Rebeca Mendes de Paula Pessoa 1, Cristina Marta Del-Ben 2
Afiliação
1 Médico Assistente do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
2 Professora Associada do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
I - Violência
O comportamento violento se caracteriza pelo uso intencional de força física ou de poder,
real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte, ou tenha grande possibilidade de resultar, em lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. No caso de crianças e
adolescentes, a violência se constitui em quaisquer atos ou omissões dos pais, parentes,
responsáveis, instituições e, em última instância, da sociedade em geral, que redundem
em dano físico, emocional, sexual e moral às vítimas. Existem diversas naturezas do
comportamento violento, dentre elas a violência física, psicológica, sexual, negligência e
exploração.
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Fatores de risco
• Faixa etária pré-escolar (menor que 4 anos) e adolescentes.
• Crianças portadoras de necessidades especiais ou transtorno mental.
• Dinâmica familiar conflituosa.
• Histórico prévio de violências na família.
Violência sexual
A violência sexual pode ser empregada por diferentes maneiras, que incluem: estupro, ato
sexual com penetração, manipulação de genitália, mamas e ânus da criança, assédio
sexual, exploração sexual, exposição da criança/adolescente a pornografia, exibicionismo,
voyeurismo, jogos sexuais e práticas eróticas não consentidas e/ou impostas.
II - Automutilação
Automutilação é um comportamento autoinfligido, sem intenção de morte. Em geral, o
estado emocional do paciente é de raiva extrema, desespero ou intolerância ao estresse,
e este comportamento pode funcionar para aliviar a ansiedade ou provocar mudanças no
comportamento de terceiros ou no ambiente.
As automutilações envolvem lesões de pele como cortar, beliscar, morder, inserir objetos,
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Fatores de risco
• Adolescente do sexo feminino.
• História prévia de automutilações.
• Ser vítima de bullying.
• Eventos de vida adversos e/ou traumáticos.
• Desesperança.
• Traços de personalidade mal adaptados.
III - Suicídio
Suicídio é um dos maiores problemas de saúde pública que preocupa o mundo todo e,
atualmente, configura-se como uma das três principais causas de morte de crianças e
adolescentes entre 10 e 24 anos de idade. Diferentemente da população adulta, as
tentativas de suicídio no início da adolescência são mais frequentes no sexo masculino.
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IV - Agitação e agressividade
Comportamento agitado ou agressivo em crianças e adolescentes pode incluir uma
diversidade de manifestações de comportamento, que vão desde falta de cooperação,
perda de controle, hostilidade, comportamento de oposição e desafio, até manifestações
francas de violência.
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Avaliação inicial
• Coletar o maior número de informações possíveis sobre fatos que antecederam o
episódio de agressividade e agitação, para compreensão de possíveis fatores
desencadeantes e agravantes do comportamento agitado/agressivo.
• Investigar o comportamento de base da criança/adolescente, seu temperamento e
padrão de relacionamentos no seu cotidiano.
• Investigar histórico de transtorno mental prévio ou atual, acompanhamento médico ou
multiprofissional e uso de medicações (tipo de medicação, dose, tempo de uso).
• Investigar a ocorrência de episódios de agitação e agressividade prévios semelhantes, e
o manejo da situação naquela ocasião.
• Caracterizar as estratégias que cuidadores utilizam para acalmar os seus filhos e
também conhecer estratégias que falharam, como forma de evitá-las.
• Compreender o estágio de desenvolvimento e as habilidades de comunicação da
criança, pois a agressividade pode advir de habilidades de comunicação ineficientes ou
ainda não estruturadas.
• Em adolescentes, investigar uso de substâncias psicoativas, eventos estressores,
conflitos em relacionamentos familiares e pessoais, e presença de alguma condição
psiquiátrica, já que nesta faixa etária é comum ocorrerem os primeiros episódios de
transtornos psicóticos e de humor.
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Tipos de contenção
• Isolamento: Confinamento involuntário em uma sala trancada, sendo o paciente
fisicamente impedido de sair, mas podendo movimentar-se e usar instalações de higiene
pessoal.
o O isolamento é a estratégia que deve ser utilizada antes da contenção física ou
mecânica.
o No isolamento, deverá haver observação contínua, de maneira presencial ou por meio
de equipamentos de áudio e vídeo.
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V – Diagnósticos Específicos
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Transtornos de ansiedade
• A criança/adolescente pode apresentar sintomas ansiosos agudos, associados a
sofrimento intenso e agitação psicomotora, que podem demandar atendimento em serviço
de emergência, particularmente se houver manifestações somáticas e autonômicas
associadas.
• Entre os transtornos de ansiedade que podem desencadear episódios agudos, que
justifiquem atendimento emergencial incluem-se os transtornos de estresse agudo,
estresse pós-traumático e pânico.
• Diversas condições médicas podem apresentar sintomas semelhantes aos observados
nos transtornos de ansiedade. Nos estágios iniciais do transtorno, ou no primeiro contato
com o serviço de saúde, é fundamental realizar avaliação clínica e laboratorial para o
diagnóstico diferencial com outras condições médicas.
• Se o manejo verbal não for suficiente para melhora dos sintomas ansiosos, podem-se
utilizar medicações psicotrópicas, como os benzodiazepínicos, que devem ser utilizados
pontualmente, apenas em casos com sintomas agudos e intensos. Recomenda-se evitá-los
em crianças com diagnóstico de transtorno de desenvolvimento, como deficiência
intelectual e autismo.
• Na alta do serviço de emergências, o paciente deve ser encaminhado para serviço de
saúde mental para avaliação por psiquiatra e/ou equipe multiprofissional.
Transtornos psicóticos
• Caracterizam-se pela presença de alterações no pensamento (delírios) e/ou na
sensopercepção (alucinações), que geram prejuízo significativo no contato com a
realidade, sofrimento intenso e desorganização do comportamento, que justificam o
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atendimento emergencial.
• No caso de primeiro episódio psicótico ou primeiro contato com o serviço de saúde, é
fundamental o estabelecimento de raciocínio clínico para o diagnóstico diferencial e a
exclusão de outras condições médicas, por meio de avaliação clínica e neurológica
completa, exames laboratoriais e de imagem.
• Quadro secundário ao uso de substâncias psicoativas também deve ser considerado
como diagnóstico de exclusão.
Transtornos de humor
• Atendimentos de emergência nos transtornos de humor são, em geral, decorrentes de
situações de risco, como ideação suicida, nos episódios depressivos e agitação e
agressividade, no episódio maníaco.
• Importante lembrar que episódios depressivos podem se apresentar com humor irritável
e não deprimido em crianças e adolescentes, assim como queixas somáticas frequentes,
regressão do desenvolvimento, diminuição do brincar e queda do rendimento escolar.
Exames Complementares:
N/A
Tratamento:
Intervenções farmacológicas:
O manejo medicamentoso deve ser sempre precedido e acompanhado pelas intervenções
ambientais, verbais e comportamentais, descritas anteriormente. Frequentemente,
intervenções não farmacológicas aplicadas adequadamente são suficientes para o manejo
de agitação e agressividade em crianças e adolescentes. A tabela 1 apresenta as
medicações mais frequentemente utilizadas em crianças e adolescentes e suas
respectivas doses e vias de administração.
• A escolha da medicação dependerá de diversos fatores, como diagnóstico psiquiátrico
de base e apresentação atual, história medicamentosa, reações adversas, tolerabilidade
da medicação, respostas prévias, possíveis interações com as medicações de uso atual e
via de administração (oral, endovenosa ou intramuscular).
Em geral, a primeira escolha é o ajuste da dose e/ou do horário de administração de
medicação que a criança/adolescente já utiliza. A antecipação do horário de prescrição
e/ou utilização de dose complementar podem ser suficientes para controle da situação
aguda.
• Recomenda-se iniciar com doses baixas de medicação, com o intuito de evitar efeitos
colaterais. Caso a resposta inicial não seja satisfatória, depois de 30 minutos, podem ser
administradas doses adicionais da mesma medicação. Importante evitar polifarmácia.
• A via oral (VO) é a preferencial para administração da medicação. A via endovenosa (EV)
é considerada como última opção, tanto pelo número limitado de medicações que podem
ser utilizadas por esta via, quanto por dificuldades operacionais, em contexto de agitação.
Se o paciente já possuir acesso vascular e o mesmo estiver em lugar seguro e acessível, a
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Secundária a delirium
• Tratamento da condição clínica e controle da dor.
• Evitar medicações anticolinérgicas, benzodiazepínicos e opioides.
• Antipsicóticos (risperidona, haloperidol, clorpromazina, olanzapina).
• Se contraindicado uso de antipsicótico, pode ser considerado o uso de clonidina.
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Transtornos do desenvolvimento
• Antipsicóticos (risperidona, haloperidol, clorpromazina, olanzapina).
• Também pode ser considerado o uso de clonidina.
• Evitar benzodiazepínicos.
Metas e Indicadores:
N/A
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Anexos:
Tabela 1: Tabela 1
Medicações frequentemente utilizadas em emergência psiquiátrica na infância e na
adolescência
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