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Psicologia Forense

Conceitos Introdutórios
Psicologia da Justiça: Justiça, Decisão Judicial, Crime
Psicologia do Comportamento Desviante: nem todos os comportamentos desviantes são crimes. Quem
define quem é crime é o legislador, mas quem define se é um desvio é a sociedade. Além de estudar os
crimes estuda os comportamentos desviantes que podem, ou não, ser crime. Alguns comportamentos
desviantes são mais toleráveis que outros, dependendo da sociedade onde se inserem.
Psicologia Forense: é uma área da psicologia aplicas às questões que ligam os sujeitos e a lei e às
questões da decisão judicial.
Psicologia Criminal: estudo do comportamento criminal.
Ligação da psicologia à justiça: compreensão do comportamento criminal

Cesare Lombroso
➔ teoria de que certas pessoas que têm tendência para serem criminosos, baseando-se nas suas
características atávicas (características que não se podem mudar)
➔ Escola Positivista Italiana
➔ “criminosos natos” – pessoas que nascem com predisposição para terem comportamentos
desviantes/criminais
➔ Estudando as características faciais das pessoas pode “descobrir-se” quem vai ser criminoso
➔ Crimes graves – escala desde agressão significativa até à morte premeditada
Inocence Project – estudo de falsas confissões
Cerca de 3 pessoas suicidam-se em Portugal por dia (que se consiga estabelecer a causa de morte).
A cada 40 segundo há 1 pessoa que se suicida no mundo, elevando o suicídio para a 2ª causa de morte
nos jovens (entre os 15 e os 25 anos), sendo a 1ª causa de morte os acidentes de viação em veículos de
2 rodas.

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Os problemas psicológicos são a 2ª maior causa de morte nos jovens no mundo ocidental. A 3ª causa de
morte são problemas relacionados com a obesidade (a obesidade está relacionada também ao
comportamento).

Comportamento desviante diferente de doença mental


A maioria das pessoas que tem comportamentos desviantes não tem doenças mentais.
A violência em geral raramente está associada a uma doença mental.
Quando falamos de uma doença mental falamos de algo que não conseguimos controlar sem ajuda de
medicamentos/psicoterapia. A doença mental grave é algo que pode provocar incontrolabilidade do
comportamento. A esmagadora maioria das pessoas que têm comportamentos desviantes não têm
doenças mentais que justifiquem o comportamento desviante.
Pessoas que abusam sexualmente, humilham, têm comportamentos violentos para com os outros têm
disfunções no funcionamento da personalidade, mas não têm uma doença mental.
O processo de abuso sexual de crianças é altamente estruturado de deliberado. As pessoas que o fazem
têm uma capacidade muito grande de planeamento e deliberação.
Violência doméstica: comportamento dirigido a pessoas específicas, controlável noutros contextos. Há
características psicológicas dos agressores que os fazem ter estes comportamentos: baixa tolerância à
frustração, dificuldade no controlo de impulso, necessidade de poder e controlo sobre outras pessoas,
insegurança pessoal, necessidade de sentir que há um desnível de poder sobre o outro (o agressor tem
mais poder que a vítima).
A grande criminalidade económica tem um grande índice de psicopatia.
Muita da psicopatia não está relacionada com a violência física.
Ausência de remorsos, incapacidade de sentir empatia e sentimento pelos outros, capacidade de
manipulação, ausência de limites -> características dos psicopatas.
Psicopatas ou foram demasiado mimadas ou não tiveram exposição a sentimentos desde idade tenra. A
educação que tiveram tem muita influência na criação de psicopatas.

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Método pericial em Psicologia Forense
• Consulta dos autos e peças processuais: imagens, conteúdo forense, vídeos, etc para estruturar
o perfil do criminoso
• Entrevistas e avaliação clínica:
-narrativa dos factos produzida pelo examinado
-dados sobre a história de vida/anamnése – recolha de informação desde a infância até ao
momento em que a pessoa se encontra
-exame do estado mental
-sintomatologia atual (eventual relação desta com os factos) – existem 3 critérios para avaliar a
sintomatologia: 1) intensidade do sintoma; 2) duração do sintoma; 3) grau com que esse sintoma
afeta a qualidade de vida da pessoa nos seus vários níveis
• Exames complementares/Instrumentos auxiliares de avaliação
• Entrevistas complementares

A avaliação psicológica é privado e é um procedimento que acede a uma amostra de comportamento.


O conceito de inimputabilidade é um conceito jurídico e cabe aos juristas determinar se um sujeito é
inimputável ou não., os psicólogos só ajudam a esclarecer as dúvidas que os juristas possam ter através de
perícias para determinar a inimputabilidade.

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Impacto traumático na criança
A noção de privação está relacionada com um conjunto de recursos a que a criança não tem acesso
(económicos, afetivos, etc).

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Lei nº 147/99 – lei que regula as crianças em perigo
Balanço entre vulnerabilidades e fatores de proteção.

Trauma Psicológico
• Falência dos recursos do indivíduo na adaptação e gestão de uma experiência
• Heterogeneidade do processamento psicológico a um determinado acontecimento
• Resposta não aprendida e medo – resposta “fight or flight or freeze”.

Elementos da experiência traumática (Carlson & Dalenberg, 2000)


• Subitaneidade
• Incontrabilidade
• Negatividade

Fatores mediadores
• Personalidade
• História prévia de acontecimentos traumáticos
• Severidade
• Estado desenvolvimental
• Suporte social
• Suporte terapêutico

Nosografia
• Perturbação de stress pós-traumático (DSM - IV)
• Perturbação aguda de stress (DSM - IV)
• Perturbação de adaptação (DSM – IV)
• Reações ao stress e perturbação e adaptação (F43 – CID – 10)

Prevalência, curso e comorbilidade


• Os resultados de estudos epidemiológicos (e.g. Breslau et al., 1991; Kessler et al., 1995) indicaram que
nem todos os indivíduos que vivenciaram acontecimentos traumáticos, tais como abusos na

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infância ou a exposição a vários tipos de violência interpessoal, cumpririam os critérios de
diagnóstico da PTSD.
• Apenas 20,4 % de mulheres e 8,2% de homens que vivenciaram acontecimentos traumáticos
desenvolveram uma Perturbação de Stress Pós-Traumático crónica. (Kessler et al., 1995)
• Prevalência de sintomatologia como depressão, comportamentos agressivos, sentimentos de
culpa e vergonha, e comportamentos autodestrutivos seria muito significativa (van der Kolk,
2002)

Resiliência
• Funcionamento adaptativo perante a adversidade
• Resitência
• Padrão sintomatológico ligeiro
• Característica comum

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Trauma e Desenvolvimento
• O modelo ecológico- transacional advoga que as características intrínsecas e contextuais da
criança irão determinar os fatores de risco e proteção na gestão da experiência traumática.

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Impacto traumático e no desenvolvimento
•Regulação emocional
•Formação de relações de vinculação
•Desenvolvimento de um Self autónomo
•Relações com os pares
•Formação da Personalidade e Perturbações da Personalidade

Regulação emocional
As emoções funcionam como percursoras da motivação e organizam o comportamento.

• Crianças vítimas de abuso físico severo (mesmo até com 3 meses de vida; ver Cicchetti & Ng,
2014) apresentam níveis elevados de medo, raiva e tristeza nas interações com as suas mães.
• Crianças vítimas de abuso evidenciam dificuldades na identificação de estados emocionais (Pollak
et al., 2000).
• Crianças vítimas de abuso físico tendem a centrar os seus recursos atencionais no
reconhecimento de estados de raiva (Pollak et al., 2001).
• Desenvolvimento acelerado de um enviesamento de resposta negativa pelos circuitos neuronais
responsáveis da resposta emocional, influenciando, por exemplo, o reconhecimento de estados
emocionais e o processamento de informação social (Ayoub et al. 2006).
• A baixa regulação emocional parece levar ao surgimento de problemas comportamentais (e.g.
agressividade) e sintomas de ansiedade e depressão (Maughan & Cicchetti, 2002).
• Crianças abusadas física e sexualmente apresentam problemas atencionais sugestivos de estados
subclínicos ou não patológicos de dissociação, mais como “dormir acordado”, ausências (“brancas”)
ou estados confusionais (Shonk & Cicchetti, 2001)

Formação de relações de vinculação


As relações de vinculação têm um papel estruturante do desenvolvimento.

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• As crianças abusadas desenvolvem expectativas negativas relativamente à disponibilidade e
confiança de outros, bem como uma representação de si próprio como incompetente e indigno
(Stronach et al., 2011).
• Crianças abusadas estão em risco de desenvolver relações de vinculação inseguras
desorganizadas (Cyr et al., 2010)
• A presença de um padrão de desorganizado tem sido um indicador do surgimento de
psicopatologia ao longo do ciclo de vida (Hesse & Main, 2006)

Desenvolvimento do Self
Representação de si próprio e em relação com os outros.
Surge na idade pré-escolar e tem como percursores a regulação emocional e as relações de vinculação.

• Crianças abusadas estão mais propensas a evidenciar reações emocionais neutras ou negativas
face à sua imagem num espelho (Schneider-Rosen & Cicchetti, 1991).
• Crianças abusadas fisicamente tendem a evidenciar uma representação de auto-grandiosidade
(Toth et al., 2013), funcionando como mecanismo de coping no intuito de auto-controlo face a um
contexto muito adverso.
• Adolescentes abusados tendem a sobrestimar a suas capacidades sociais e níveis de aceitação
pelos pares. Porém, ao longo da adolescência são identificados com uma baixa autoestima
(Cicchetti & Toth, 2015).
• Crianças abusadas e negligenciadas apresentam uma maior propensão a experiência vergonha e
sintomatologia depressiva (Bennett et al., 2010).
• Crianças abusadas física e sexualmente apresentam um elevado risco de desenvolvimento de
sintomas dissociativos (Valentino et al., 2008)

Relações com os pares


• Evitamento de contacto com os pares
• Agressividade direcionada aos pares
• Crianças abusadas fisicamente apresenta erros de codificação dos sinais sociais e avaliam
positivamente a agressão como uma resposta apropriada (Teisl & Cicchetti, 2008)

Organização da personalidade
O abuso na infância parece ser um percursor da perturbação borderline da personalidade e de traços de
personalidade de elevada instabilidade emocional, e baixa abertura à experiência, agradabilidade e
conscienciosidade (Rogosh & Ciccheti, 2005).
Crianças abusadas que apresentam um genótipo com atividade diminuída do gene MAOA (responsável
pela metabolização de neurotransmissores tais como a noradrenalina, serotonina e dopamina) revelam uma
uma tendência a desenvolver perturbação anti-social da personalidade (Caspi et al., 2002)

Trauma e neurobiologia
A exposição recorrente a agentes de stress poderão provocar importantes alterações no funcionamento
do sistema hipotâlamo-hipófise-adrenal (HPA): o seu hiperfuncionamento provoca consequências negativas
no funcionamento do hipocampo, inibe a neurogénesis, retarda o processo de mielinização e condiciona as
capacidades cognitivas e afetivas (Cicchetti & Valentino, 2008).
Estes estudos poderão levar à interpretação que, em alguns casos, a diminuição da capacidade de
aprendizagem de crianças que são vítimas de abusos continuados poderá estar associada a razões de
ordem neurológica (Bremner & Vermetten, 2001).

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Cicchetti e Valentino (2008) descrevem, ainda, vários estudos que sugerem alterações no funcionamento
hormonal (por exemplo, o aumento de dopamina e noradrenalina num grupo de raparigas abusadas
sexualmente).

Psicologia do testemunho
Art.128º CPP
Art.392º CC
A forma como questionamos alguém tem influência no conteúdo da resposta. Tanto as crianças como os
adultos podem ser sugestionáveis.

Variáveis psicológicas do testemunho

1) Facto
2) Experiência subjetiva: conjunto de fatores/variáveis relacionados com essa experiência subjetiva;
influenciam a forma como essa experiência é vivenciada.
3) Tempo: o testemunho não é imediato; vai decorrer algum tempo após o facto; vai decorrer
algum tempo até haver alguma motivação/interesse para recolher o testemunho.
4) Testemunho: relato dos eventos
5) Linguagem/comunicação: importante no momento do testemunho
6) Memória: fundamental no testemunho para a pessoa conseguir relatar o que aconteceu no
momento do evento; importante reconhecer os processos básicos de memória

Memória
A memória não é um registo fiel do acontecido.
A memória é construtiva, ou seja, algumas memórias estão mal datadas. Quando nos recordamos de
alguma coisa, a probabilidade de nessa memória haver aspetos mal encaixados é muito elevada.
A memória é desenvolvimental. Ao longo da nossa vida, a capacidade de retenção de informação varia
bastante.
A memória está relacionada com áreas diferentes do cérebro. O hipocampus é a única parte do cérebro
que está relacionado com os vários processos de memória.
Síndrome de Korsacoff: associado a uma ingestão problemática de álcool; tem vários sintomas e afeta
estruturas nucleares do cérebro.

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Quando falamos de memória não falamos de um processo unitário. A memória não é um estado mas sim
um processo com 3 fases fundamentais:
1) Codificação: é o modo como a informação está representada no módulo; está muito relacionada
com os sistemas sensoriais (como sentimos aquele facto); os elementos físicos são muito
importantes, nomeadamente a luz; não conseguimos recordar aquilo que não foi codificado.
2) Armazenamento ou retenção/consolidação: é o momento em que fazemos uma nova
aprendizagem; potenciação de longo termo (LTP)- vai haver uma excitação num dos neurónios,
liberta uma substância que influência a química do outro neurónio que vai produzir NMDA – com
a constante estimulação desta relação, o primeiro neurónio vai precisar cada vez menos de
estimulação para se conectar com o segundo neurónio; a repetição é um dos processos mais
eficazes de estimulação da conexão; fazer uma imagem/esquema mental auxilia a visualização
dos conteúdos – associação da informação à imagem
3) Recordação: fase em que se tenta aceder à informação que se reteve; nem sempre a
informação retida está “disponível” de imediato; Reminiscência- está muito relacionado com a
capacidade de aceder à informação; a dificuldade em aceder à informação está relacionada com
o estado emocional (ansiedade influência bastante); a forma como nós codificamos a informação
influência a recuperação dessa mesma informação; uma coisa que auxilia a recuperação é
reproduzir o contexto em que a informação foi codificada

Quando a informação está sediada, vamo-nos recordar primeiro da parte inicial da informação (primazia),
depois temos uma parte intermédia, onde a informação está mais dispersa, relacionada com os processos
mais salientes do processo; no fim temos uma nova abundância de informação (recência). No processo de
questionamento, questiona-se primeiro a fase de recência, depois a fase de primazia e depois a fase
intermédia.

Tipos de memória
• Memória sensorial
• Memória de trabalho/operatória (curto prazo): memória que utilizamos quando estamos a ler
(vamos retendo informação que nos faz entender o sentido da frase);
• Memória a longo prazo: todo o conhecimento que adquirimos; aquilo que no senso comum
chamamos “a minha memória”. É esta memória que vai ser nuclear que nos interessa na
inquirição de uma pessoa.

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Memória a Longo Prazo

1) Memória Declarativa: divide-se em:


a) Memória semântica
b) Memória episódica: são todas as memórias que nós temos dos episódios da nossa vida; há
momentos em que está integrada com a memória semântica a curto prazo.

Acontecimento -> processo de codificação (há um conjunto de variáveis que vão influenciar este
processo*) -> retenção -> recordação -> Entrevistado -> relato (tem fatores influenciáveis: informação
pós-acontecimento; estereótipos; scripts- o problema dos scripts é que por vezes a informação
providenciada tem influências de momentos anteriores e posteriores, sendo que uma das formas de
desmembrar os scripts é iniciar o interrogatório pela informação mais recente, depois a informação mais
antiga e depois o momento saliente) -> informação obtida -> entrevistador (influências: guiões de
entrevista; hipóteses prévias; estratégia de entrevista; quadro de referência) -> retenção -> recordação -
> decisão
Entrevista:
- Tempo
- Tipo de questões
- Tipo de instruções

*Variáveis:

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• Duração e frequência da exposição
• Fatores físicos
• Saliência
• Tipo de informação
• Gravidade
• Presença de arma de fogo
• Consumo de substâncias
• Estado emocional
• Funcionamento psicológico
• Limitações funcionais
• Expectativas
• Envolvimento
• Lesão traumática

2) Memória Procedimental: é extremamente importante, mas é inconsciente; está relacionado com


processos motores intuitivos.

Memória
• Crianças e adultos não conseguiam recordar-se das suas experiências anteriores aos 3 anos
(Malloy & Quas, 2002)
• O stress pode influenciar de forma positiva e negativa a codificação e a evolução mnésica
(Engelberg & Christianson, 2002)
• Os processos mnésicos de memória traumática parecem obedecer aos mesmos princípios que
qualquer outro tipo de memória:
a) Acontecimentos únicos e distintos são melhor retirados do que aqueles não diferenciados
b) Estão suscetíveis à influência aos efeitos da degradação mnésica devido ao aumento da
duração do tempo entre o evento e o momento em que é evocado
c) O detalhe das memórias de acontecimentos traumáticos aumenta com a idade, como
também é o caso de outro tipo de memórias
d) As características centrais são mais prováveis de estar presente e de se manterem
presentes mais tempo, do que dimensões mais acessórias e periféricas, as quais são mais
suscetíveis de desaparecer com o tempo.
• A repetição de um determinado evento poderá beneficiar ou prejudicar a forma como as
crianças evoluem as suas memórias:
a) Reminiscência
b) Criação de “scripts”
c) Erros de intrusão interna
• As crianças evidenciam mais dificuldades em diferenciar as fontes das suas memórias

Memórias Falsas
a) Espontâneas
• Surgem sem nenhuma influência externa
• Estão relacionadas com processos normativos da memória
• Aumentam com a idade

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b) Induzidas
• Paradigma da desinformação/implantação/conformidade
• Maior vulnerabilidade de crianças mais novas
• Relacionadas com a sugestionabilidade

Alfred Binet – “La Suggestibilité” (1900)


• A sugestionabilidade seria uma “pressão moral utilizada por uma pessoa sobre a outra” que
influenciaria a tomada de decisão e o comportamento, e onde a linguagem “muitas vezes seria a
expressão da sua influência”
• Os seus estudos sobre a sugestionabilidade das crianças anteviam conclusões importantes da
investigação contemporânea sobre a sugestionabilidade:
- a vulnerabilidade das crianças às sugestões de uma figura de autoridade;
- a importância da evocação livre na obtenção da informação;
- a tendência para as crianças responderem sempre aos adultos, por vezes preenchendo falhas
de memória com informações incorretas.

Sugestionabilidade
“Aceitar informação e, mesmo assim, estar completamente ciente da sua divergência com a forma como
o acontecimento originalmente foi percebido, como no caso de aquiescência a solicitações sociais, de
mentira, ou esforços em agradar a entes queridos. Esta definição alargada de sugestionabilidade não
envolve necessariamente uma alteração da memória subjacente; uma criança pode ainda lembrar-se
daquilo que realmente aconteceu, mas não querer relatá-lo por razões motivacionais”. (Ceci & Bruck, 1995)

• Enviesamento do entrevistador – a influência de crenças a priori sobre determinado


acontecimento, as quais poderão nortear o rumo da entrevista;
• A repetição de perguntas sugestivas – providenciando novas informações à criança, e às vezes
assinalando qual a resposta que o entrevistador pretende;
• A atmosfera emocional da entrevista – por exemplo a utilização de ameaças implícitas ou
explícitas, subornos e recompensas pela resposta desejada;
• A indução de estereótipos – o entrevistador induz na criança a crença de que determinada
pessoa lhe terá feito algo de errado;
• A utilização de técnicas como as bonecas anatomicamente corretas;
• Estimulação da imaginação e da imagética.

Mc Martin
-Perguntas que induzem a criança a responder da maneira pretendida (perguntas sugestivas)
-Pressão emocional perante a criança.
-Indução de estereótipos.

Mentira
Existe um consenso de que as crianças adquirem a capacidade de distinguir a verdade e mentira, e
aprendem a mentir entre os 3 e os 4 anos.

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Razões: fugir ao castigo; obter uma recompensa; agradar alguém; proteger figura significativa.
Vrij (2002): “até esta altura, a investigação científica sugere que as pessoas se enganam a si próprias
acreditando que as crianças nunca mentem e que é fácil detetar as suas mentiras quando elas
efetivamente mentem”

Linguagem
Aquisição progressiva.
Discrepância no desenvolvimento do vocabulário, fonologia, pragmática e sintaxe.
Ritmo de aquisição e mestria diferente na compreensão e expressão.
A criança só adquire a capacidade de produzir a maior parte dos fonemas por volta dos 4 anos, contudo,
apenas por volta dos 8 anos é que conseguirá compreender todos os fonemas.
A pronunciação de palavras, por parte da criança, nem sempre é consistente
Muitas crianças poderão recear ou evitar uma palavra que não pronunciem correctamente
Inteligibilidade do discurso da criança
De acordo com Poole & Lamb (1998), as crianças, apenas por volta dos 5 anos, compreendem
proposições como “dentro”, “em cima”, “em baixo”, “à frente”; por volta dos 7 anos ainda têm algumas
dificuldades em utilizar e compreender “antes” e “depois”; só a partir dos 10 anos evidenciam mestria na
identificação dos dias e de determinadas horas
As crianças sentem dificuldades na descrição de toques corporais, pois, da mesma forma que não
compreenderem muito bem palavras como “dentro”, também não apresentam um conceito da sua
anatomia interna muito desenvolvido;
Baixa mestria na abordagem de conceitos espácio-temporais, sobretudo o aspecto linear e contínuo do
tempo;
Dificuldade na compreensão de frases complexas, sobretudo aquelas que estão formuladas na voz
passiva;
Dificuldade na compreensão de palavras ambíguas;
A utilização de palavras que identificam pessoas são definidas pelo contexto (e.g. quando as crianças
verbalizam “Pai” e “Mãe” nem sempre se referem aos progenitores, sobretudo se for uma família
caracterizada por relacionamentos vários dos progenitores);
Utilização de “lembras- te.. ” deve ser excluída, pois só por volta dos 9 anos é que as crianças conseguem
utilizar correctamente esta expressão.
O desenvolvimento semântico da criança é também importante para tomarmos conhecimento da
aquisição e compreensão de questões como “o quê”, “quem” e “onde”, o que ocorre por volta dos 3 anos
de idade, como também de outras expressões como “quando”, “como” e “porquê” (este conceito é
apenas utilizado correctamente entre os 10 e os 13 anos), adquiridas mais tarde no desenvolvimento (Jones,
2003).

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Entrevista Forense de Crianças e Declarações para Memória
Futura
A criança enquanto testemunha
Vulnerabilidades:

• Linguagem
• Memória
• Sugestionabilidade
• Fantasia/imaginação
Potencialidades:

• Capacidade de descrever acontecimentos experienciados


Modo de entrevistar:

• Regras de comunicação (Lyon, 2011)


• Estabelecer uma relação com a criança (Hershkowitz, 2011)
• Treino cognitivo/prática de narrativas – estimular a criança a produzir uma narrativa livre; pedir
para descrever acontecimentos livres
• Introduzir o assunto em análise de forma neutra e progressiva – de forma faseada
• Utilização de questões abertas como melhor forma de garantir a espontaneidade do relato da
criança – técnica principal

Tipos de Questões e processo de obtenção de informação


Processo de reconhecimento – dá-se informação, fazem-se perguntas sugestivas; perguntas de escolha
múltipla (limitam a informação que pode ser providenciada) – há um elevado risco de contaminação da
informação.

Consensos na literatura científica


O modo como não se deve entrevistar uma criança:

• Fazer questões sugestivas


• Questionar de forma intimidatória e agressiva

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• Utilizar questões complexas e confusas
• Fornecer previamente informação à criança
• Solicitar à imaginação
• Adiar a entrevista formal da criança
• Repetição da entrevista em vários momentos, sendo esta realizada por diferentes pessoas e
utilizando diferentes técnicas de entrevista – quando se repete a entrevista, esta deve ser feita
pela mesma pessoa, utilizando os mesmos métodos e abordando temas ainda não abordados
Modo de operacionalizar:

• Obrigatoriedade de formação específica/profissionalização – EUA: Child Advocacy Centers


(centros especializados; as entrevistas podem ser utilizadas como prova em julgamento sem
necessidade de magistrado); Islândia: Barnahus (iniciado na Islândia e espalhado para os países
nórdicos; sistema híbrido; só um magistrado pode admitir as entrevistas como prova em
julgamento); em ambos os sistemas, quem realiza a entrevistas são pessoas com formação
especializada em entrevista forense; entrevistar crianças é um processo exigente que requer
muito treino.; devem saber fazer as perguntar corretas no timing correto.
• Obrigatoriedade da utilização de um protocolo de entrevista forense
• Obrigatoriedade do registo vídeo – é essencial para avaliar a validade interna deste tipo de prova
testemunhal; permite perceber a interação entre o entrevistador e o entrevistado, o que nos faz
determinar a validade da informação providenciada.; devemos perceber como a informação foi
obtida (se foi espontânea ou sugestionada)
• Obrigatoriedade de supervisão e formação contínua
Nota: a recolha de registos biológicos deve sempre ser feita em sacos de papel para não haver
contaminação da prova

Entrevista Forense
• Não é entrevista psicológica.
• Não é diagnóstico psicológico.
• Não é psicoterapia.
• Centrada nos factos e na obtenção de informação relevante para um processo de investigação
e decisão judicial.

Protocolos de Entrevista Forense


UK: MGP (1992)
EUA: Federal Rules of Evidence

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Duração do processo em meses

1) A recolha de evidências físicas tem uma janela de 1 semana; a recolha de evidências biológicas
tem uma janela de 48 a 72 horas.
2) Indicador da duração do processo, principalmente fase de inquérito.
3) A decisão pode ser quer ao nível no MP, quer ao nível do TJ.
4) A última entrevista oficial são as declarações para memória futura. Compete ao MP recolher as
informações para memórias futuras, que são a prova mais importante do processo por ser
aquela utilizada em julgamento.

Desempenho dos Entrevistadores e das crianças


• Os juízes realizaram 90,3% das questões, os procuradores 7,3% e os advogados 1,9%.
• Os psicólogos intervieram em 6 entrevistas, o que representa 0,5% das questões realizadas.
• Existiram em média 5,4 questões repetidas por entrevista.
• As crianças responderam a 92,5% das questões.

Resultados

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As perguntas de escolha múltipla são perigosas e têm grande risco de contaminação. Têm também uma
grande limitação na informação que a criança vai providenciar por não ser abordado de uma forma aberta.
A avaliação da veracidade deve sempre ter processos anexos ao testemunho. É necessário colocar
hipóteses alternativas para ver se as “peças” encaixam.

Conclusões
• Os juízes fazem a maior parte das questões
• O tipo de questões mais utilizado são as de escolha múltipla
• Baixa participação dos advogados e dos psicólogos
• A maioria dos detalhes obtidos são com base em questões que estimulam processo de
reconhecimento, o que leva a um maior risco de contaminação do discurso da criança.
• A criança responde à maioria das questões colocadas
• Diligência realiza-se muito tarde

Protocolo de entrevista forense do NICHD


Protocolo inicialmente desenvolvido nos EUA e que tem sido estudado nos últimos 30, quase 40 anos.

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Nichdprotocol.com -> várias versões do protocolo nas várias línguas.
É um guião de entrevista semiestruturado, embora possa haver alterações quer na ordem da estrutura
quer nos processos utilizados.

• Regras de comunicação
• Estabelecimento da relação Fase pré-substantiva
• Prática de narrativas
• Transição para a fase substantiva
• Investigação das alegações
• Intervalo
• Revelação Fase substantiva
• Finalização da entrevista
Regras de comunicação: contar a verdade, explicar o que se vai passar, dizer que se vai fazer uma
pequena tarefa, perceber se a criança sabe distinguir informações corretas de informações erradas;
explicar à criança que ela pode informar que não percebeu e pedir para esclarecer e que se lhe
perguntarmos alguma coisa novamente não estamos a desconfiar dela, apenas não percebemos com
clareza o que ela nos contou; capacidade da criança de corrigir
Estabelecimento da Relação: utilização de temas neutros, mas pessoais – tentativa de conhecer melhor a
criança (memória em script/generalista); demonstração de interesse no que a criança tem a dizer;
utilização de questões abertas; avaliação da capacidade narrativa; avaliação da colaboração.
Prática de narrativas: estimulação de narrativas livres; estimulação da memória episódica; estabelecimento
da relação; avaliação das competências da criança; avaliação da colaboração.

Objetivos:
• Estimular a competência da criança em informar
• Estimular o discurso espontâneo
• Utilização de questões abertas, pois suscitam respostas mais ricas, extensas e mais precisas

Entrevista forense com crianças com défices cognitivos


• Extensão da fase de estabelecimento da relação
• Suporte adicional durante o curso da entrevista
• Incentivo à utilização de frases curtas e simples, como o uso de construções frásicas mais
comuns
• Foco num único evento, quando existiram vários
• Necessidade de dividir a entrevista em duas sessões
• No entanto estas crianças conseguem também ser informativas e precisas (Brown, Lewis &
Lamb, 2015)
• Importância de uma avaliação psicológica prévia

Crianças relutantes
O comportamento na fase pré-substantiva pode predizer o nível de relutância na fase substantiva
Não há diferenças no comportamento dos entrevistadores na fase pré-substantiva quer entrevistem
criança relutantes, quer entrevistem crianças cooperantes

RAQUEL CUNHA 21
Na fase substantiva, os entrevistadores tendem a desviar-se do Protocolo e a utilizar mais questões de
escolha múltipla e sugestivas
Necessidade de maior investimento na fase de estabelecimento da relação
Existência de uma versão revista do Protocolo que evidencie um maior investimento na relação com a
criança (Hershkowitz, Lamb, Katz & Malloy, 2013

Formação especializada
A cessação de supervisão e de monitorização leva a que os efeitos positivos de uma formação em EF se
esvaneçam (Lamb et al., 2002).
Implementação de um sistema de feedback sistemático, onde a formação contínua, a análise de
entrevistas e a supervisão

Psicologia da Confissão
Confissão
Relato que se caracteriza pelo reconhecimento de todos os fatos necessários à condenação por um
determinado crime.
Reconhecimento de todos os elementos que constituem a perpetuação do crime ou de sua colaboração
no mesmo.

• Confissões verdadeiras
• Confissões falsas – admissão da perpetração de um crime sem que o indivíduo o tivesse
cometido.
• Negações verdadeiras
• Negações falsas

Confissões falsas
Voluntárias:

• Necessidade de notoriedade
• Necessidade de auto-punição por crimes anteriores
• Dificuldade em distinguir realidade de fantasia – psicopatologia
• Proteção do verdadeiro perpetrador
Complacente:

• Induzida através do processo de interrogatório


• Necessidade de escapar a um contexto stressante, a uma punição ou no sentido de conseguir
uma recompensa prometida.
Internalizadas:

• Suspeitos que evidenciam uma elevada sugestionabilidade/maleabilidade, perante evidências da sua


culpabilidade, acreditam na sua culpa e confessam o crime
• Presença de psicopatologia e/ou imaturidade.

RAQUEL CUNHA 22
Fatores psicológicos
• Leis do condicionamento
• O comportamento é mais influenciado pelas perceções das consequências a curto prazo do que
as de longo prazo
• Tende-se a tomar decisões que tenham como objetivo maximizar o nosso bem-estar face aos
constrangimentos atuais
• Vulnerabilidade ao pedido de complacência por parte de figuras de autoridade
• Características da memória – sugestionabilidade; efeito de contaminação; transigência;
enviesamento.

Fatores de risco
• Custódia física e isolamento
• Apresentação de provas falsas
• Estratégias de minimização – promessas de não acusação ou de não condenação
• Adolescência e imaturidade
• Défices cognitivos
• Personalidade

A psicologia da mentira
As pessoas tendem a sobrestimar a sua capacidade para mentir

• Ilusão de transparência
• Atitude moralista
• Saliências das mentiras graves
A mentira é um comportamento que está presente em todos nós. O ato de mentir tem uma função de
regulação das relações interpessoais.
As pessoas tendem a sobrestimar a sua capacidade para detetar a mentira

• Pouca motivação para saber a verdade (efeito avestruz) - medo das consequências e não saber
lidar com a verdade.
• Dificuldades na deteção da mentira
• Erros comuns na deteção da mentira

Comportamentos comuns quando se mente:

• Desviar o olhar (olhar para as pessoas)


• Coçar a cabeça
• Corpo mais tenso
• Comportamentos involuntários
• Nervosismo
• Demorar mais a responder
Ekman – estudo da mentira; série baseada no estudo de Ekman: Lie to me.

Mentira – definição
Tentativa bem ou mal sucedida de, sem aviso prévio, criar uma crença considerada falsa pelo comunicador
(Vrij, 2008).

RAQUEL CUNHA 23
Tipos de mentira
• Mentira total: toda a informação providenciada é falsa. As mentiras podem ser mais simples ou
mais complexas.
• Exageros: a complexidade da mentira não está relacionada com a mentira só em si, mas também
com a sua ligação com a verdade. Determinados pormenores na narrativa podem tornar a
verdade em mentira.
• Mentiras subtis: coisas que tenham implicações mais leves, diferenciando-se de mentiras que
tenham consequências mais graves.
• Omissão:

Porque mentimos?
• Benefício do próprio (auto-orientada) ou de outros (hetero-orientada): mentimos para nos
proteger a nós próprios ou para proteger outros de quem gostamos, temos uma tendência
natural para proteger quem gostamos.
• Ganhar vantagem ou evitar custos
• Razões materiais ou psicológicas

A mentira e a interação social


• Todos mentimos
• É um comportamento frequente
• Mentimos mais a desconhecidos
• Nos conhecidos destacam-se as mentiras aos cônjuges e aos pais

Tipos de sinais de mentira


Comportamentos não verbais:
A maior parte dos sinais de mentira que as pessoas sinalizam são deste tipo (desviar o olhar; coçar a
cabeça; movimentos involuntários; nervosismo; etc); estão relacionados com:

• Emoções
• Exigência cognitiva (do ato de mentir): alguém que quer mentir, e se essa mentira já foi treinada,
tem uma grande exigência cognitiva; se a mentira for muito exigente a nível cognitivo, traduz-se
em comportamentos não verbais causado pelo esforço cognitivo. No entanto, não devemos
esquecer que contar a verdade também pode ser exigente do ponto de vista cognitivo se
perguntarem demasiados pormenores (ex: ato de recordar).
• Tentativa de controlo do comportamento: muito associada à existência de contramedidas
• Efeito de camaleão – tendência para imitar os comportamentos dos nossos interlocutores: ideia
de que quando a pessoa começa a “imitar” o comportamento de outra pessoa poderia sugerir a
existência deste tipo de comportamentos.
Estudo importante sobre comportamentos não verbais: meta-análise (DePaulo, 2003)

• Dilatação das pupilas


• Postura ambivalente
• Insegurança verbal e vocal
• Nervosismo e tensão
• Tensão vocal
• Queixo levantado

RAQUEL CUNHA 24
• Repetição de palavras e frases
• Pressão dos lábios
• Mudanças no movimento dos pés
• Indiferença (baixa ressonância afetiva)
• Ausência de espontaneidade
Comportamentos mais facilmente conectados à verdade (meta-análise):

• Sorriso genuíno
• Elevada intensidade da expressão facial
• Orientação direta
• Envolvimento verbal e vocal
• Expressão facial agradável
Quando utilizamos a meta-análise para diferenciar os comportamentos de mentirosos dos
comportamentos verdadeiros, em dados probabilísticos é cerca de 6% acima da sorte.
A utilização da identificação de comportamento não verbal deve ser utilizada com cuidado

• Observar o comportamento basal


• Identificar alterações comportamentais – e relacioná-las com determinado conteúdo; ver as
alterações no comportamento do entrevistado podem mostrar pontos relevantes a ter atenção.
• Ter em conta grandes grupos de sinais
• O estilo da entrevista influencia – ser sempre o “bom polícia”; Scharff- espião alemão que
entrevistava ingleses e americanos, tendo uma conversa agradável com eles para obter
informações e não recorrendo a técnicas de tortura (no fim da guerra, deu treino aos serviços
de inteligência americanos para efetuar interrogatórios, técnicas essas que estão a ser
recuperadas).

Comportamentos verbais:
Relacionado com o conteúdo do que as pessoas nos dizem e também com a forma como o dizem;
indicadores:

• Utilização de expressões na negativa


• Termos generalistas- sempre, nunca, toda a gente
• Autorreferências- eu, meu
• Imediatismo- discurso direto, relevante e claro
• Tamanho da resposta- número de palavras
• Respostas plausíveis
• Diversidade lexical- número de palavras diferentes utilizadas
• Consistências
• Contradições
Bons mentirosos:

RAQUEL CUNHA 25
• Mentirosos naturais- olham diretamente para o seu interlocutor, sorriem, acenam, inclinam-se para
a frente, não cruzam os braços, gestos articulados, mimetizam gestos, sem hesitações, variedade
vocal e taxas moderadas de fala
• Bem preparados e originais
• Pensamento rápido
• Eloquente
• Boa memória
• Não experienciam medo, culpa ou entusiasmo
• Bom a representar

Mentira da criança
Existe um consenso de que as crianças adquirem a capacidade de distinguir entre verdade e mentira, e
aprendem a mentir entre os 3 e os 4 anos.
Razões: fugir ao castigo, obter uma recompensa, agradar alguém, proteger figura significativa.
Vrij (2002): “até esta altura, a investigação científica sugere que as pessoas se enganam a si próprias
acreditando que as crianças nunca mentem e que é fácil detetar as suas mentiras quando elas
efetivamente mentem”.

A deteção da mentira no contexto judicial


Os profissionais do contexto judicial evidenciam dificuldades na deteção da mentira- utilização errada de
sinais não diagnósticos de mentira (ex: o erro de Otelo)

Indicadores/regras para deteção da mentira


1) Utilizar regras flexíveis
• Não há um indicador singular de mentira
• Não existe um quadro definido de indicadores
• Idiossincrasia dos sinais de mentira
• Evitar ideias pré-concebidas
2) Os sinais de mentira têm uma maior probabilidade de aparecer quando os sujeitos experienciam
maior tensão emocionais e cognitiva, ou tentam controlar o seu comportamento
• Experienciação de culpa ou medo, ou entusiasmo por estarem a enganar alguém
• Particularmente importante em mentiras complexas
3) Considerar explicações alternativas aquando da interpretação dos sinais de tensão emocional e
cognitiva, e tentativas de controlo do comportamento
• Sujeitos que contam a verdade podem manifestar os mesmos sinais de inquietação
emocional em situações de tensão emocional
• Considerar o estilo de entrevista, a situação em concreto, e as características da pessoa
4) Ser desconfiado sem o demonstrar
• Ser desconfiado é uma condição fundamental para identificar mentirosos
• Aumento da capacidade de atenção e de identificação de sinais que poderiam passar
despercebidos
• Evitar ocultar esta postura para não alarmar o interlocutor (implementação de contra-
medidas) ou deixar de colaborar
5) Não ser precipitado na decisão sobre se alguém está a mentir
• Tarefa complexa

RAQUEL CUNHA 26
• Evitar um quadro pré-concebido e desta forma não dar relevância a informações que
contradizem o diagnóstico inicial
6) Prestar atenção aos sinais mais diagnósticos da mentira
• Muitas vezes tendemos a valorizar sinais que não são diagnósticos de mentira, como o
desviar o olhar ou mexer muito as mãos
7) Prestar atenção aos sinais não verbais e verbais simultaneamente
• Analisar o conteúdo e a forma como a informação é fornecida – congruência
8) Prestar atenção aos desvios das reações de honestidade em situações similares
• Verificação da verdade basal
• Realizar perguntas sobre acontecimentos de natureza semelhante
9) Implementar técnicas indiretas de deteção da mentira
• Em vez de responder à pergunta “estará ele a mentir?” devemos responder à
pergunta “estará ele a pensar muito?”
10) Utilizar uma entrevista de obtenção de informação
• Permite obter mais informação para se comparar com outras informações já obtidas
• Permite identificar mais sinais não verbais de mentira – menor defensividade do
entrevistado
• Previne falsas confissões
11) Detetar a mentira será mais fácil na primeira entrevista
• Falta de preparação do mentiroso
• A alteração da dinâmica, após a primeira entrevista poderá levar a uma alteração do
comportamento do mentiroso – ex: identificar desconfiança por parte do entrevistador
12) Estar devidamente informado sobre as evidências factuais
• Identificar as tentativas de contradizer estas evidências por parte do mentiroso
13) Deixar a pessoa repetir-se
• Perguntar a mesma coisa de diferente forma – atenção ao aumento do tempo de
resposta (ex: perguntar o tempo que cada atividade durou para que a soma seja
aproximada ao período total de duração)
14) Deixar que os entrevistados desenvolvam
• Estimular o fornecimento de descrições detalhadas
• A insistência pode aumentar a tensão emocional e levar ao preenchimento da narrativa
com informações erradas e que poderão ser facilmente contraditadas
• A insistência poderá levar à manutenção do mesmo relato o que poderá ser um alerta
de mentira
• Realizar perguntar surpresa
15) Realizar questões temporais quando se suspeita de uma resposta estereotipada
• Uma boa estratégia para o mentiroso é contar algo que realmente se passou mas não
na altura correta
• Devemos realizar questões que nos permitem localizar temporalmente a narrativa
16) Entrevistas que sejam mais exigentes do ponto de vista cognitivo
• A mentira implica a construção de uma narrativa, lembrar-se do que contou e controlar
comportamentos que indiquem mentira
• Os mentirosos estão mais desconfiados que as outras pessoas acreditem neles e por
isso estão muito envolvidos em monitorizar o seu comportamento e o comportamento
dos seus interlocutores
• Os mentirosos estão muito envolvidos em toda a encenação
• A supressão da verdade é muito exigente
• A ativação da mentira é muito exigente, intencional e deliberado

RAQUEL CUNHA 27
• Estas dimensões são particularmente importantes quando o mentiroso está motivado
para que acreditem nele; como também a verdade deve ser de fácil acesso
• Estratégias: mudança de ordem temporal (mais hesitações, erros de fala, falar mais
lentamente); pedir para realizar uma atividade secundária enquanto produzem a narrativa
17) Usar evidências de forma estratégica
• Primeiro estimular a narrativa sobre o acontecimento
• Depois fazer questões para aprofundar os detalhes
• Depois apresentar as evidências e as possíveis contradições, solicitando que o sujeito as
explique

Psicologia da parentalidade
Vinculação
“um forte laço afectivo que se estabelece por volta dos 7/8 meses (Bowlby, 1982) e que liga a criança a
uma ou mais figuras estáveis na sua vida, tidas como únicas, ao longo do tempo e dos contextos.”
(Monteiro et al., 2008)
Programa comportamental de proteção (base segura) e exploração do meio envolvente
Modelo para as relações interpessoais

Padrões de vinculação
Mary Ainsworth

• Vinculação segura
• Vinculação insegura-evitante
• Vinculação insegura-ambivalente

• Vinculação desorganizada (Main &Solomon, 1990)

Estilos parentais
Diana Baumrind (1967)

• Autoritário
• Permissivo
• Autorizante

RAQUEL CUNHA 28
Divórcio
A maior parte dos divórcios não são litigiosos
O divórcio tem consequências psicológicas graves para os progenitores e crianças envolvidas:

• Dificuldades económicas
• Separação física
• Conflito
• Fim de um projeto de vida
• Necessidade de ajustamento

Avaliação psicológica forense das capacidades parentais


Objetivo: esclarecer a dimensão subjetiva da parentalidade, de modo a facilitar uma decisão judicial
esclarecida que garante o desenvolvimento integrado na criança.

RAQUEL CUNHA 29
A psicologia forense é uma ciência auxiliar do Direito. A principal função da avaliação psicológica é
esclarecer sobre as relações que aquelas pessoas têm, o tipo de relação, no sentido de o decisor tomar
uma boa decisão no sentido do interesse integrado da criança.
Princípios:

• Foco na parentalidade e na relação entre progenitor e criança – este é o foco principal, a


parentalidade vai ser analisada do ponto de vista funcional
• Abordagem funcional da parentalidade – a parentalidade vai ser analisada nos aspetos mais
logísticos
• Capacidades parentais mínimas – aquilo que é o mínimo exigível para que uma criança tenha um
desenvolvimento integrado.

A questão da estabilidade/instabilidade emocional familiar refere-se à falta de cuidado afetivo constante


relativamente à criança.
Modelo de Grisso (2003):

• Componente funcional: aquilo que o cuidador entende, acredita, sabe, faz, e é capaz de fazer
relativamente à educação de crianças.
• Componente casual: considerar explicações alternativas para as potencialidades e défices que os
cuidadores demonstram no contexto da avaliação.
• Componente interativa:¨ter em conta as necessidades específicas da criança em análise, bem
como o enquadramento da dinâmica e contexto familiar.
• Componente decisional e disposicional: equacionar qual as condições contextuais que melhor
asseguraram o desenvolvimento integrado da criança.
A avaliação das competências parentais é sempre requerida.

Superior interesse da criança


Goldstein, Freud & Solnit (1979)

• O progenitor que providenciasse à criança uma maior estabilidade logística e afectiva deveria ter
a sua custódia exclusiva - progenitor psicológico

RAQUEL CUNHA 30
• O progenitor não psicológico deveria diminuir ou cessar os contactos com a criança no intuito de
não perturbar a estabilidade proporcionada pelo progenitor psicológico
Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989) (Artigo 3º):

• todas as decisões relativas a crianças, adoptadas por instituições públicas ou privadas de


protecção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, terão
primacialmente em conta o interesse superior da criança.
Lei nº 147/99 (Artigo 4.º):

• Interesse superior da criança e do jovem - a intervenção deve atender prioritariamente aos


interesses e direitos da criança e do jovem, sem prejuízo da consideração que for devida a
outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto

Avaliação psicológica forense


Progenitores/Cuidadores

• Descrição do seu funcionamento psicológico


• Compreensão da dinâmica do conflito interparental
• Percepções do adulto relativamente ao impacto do conflito na criança e no seu desenvolvimento
• Desejos/soluções relativamente ao conflito
• Avaliação das capacidades parentais
Criança

• Descrição do seu funcionamento psicológico e do estádio desenvolvimental


• Percepções da criança relativamente à separação dos progenitores e ao conflito interparental
• Representações das figuras parentais e dos contextos familiares
• Capacidade de adaptação/ resiliência face ao conflito interparental
• Pretensões/ desejos da criança face ao conflito

Entrevista clínica
Com os progenitores/cuidadores:

• Versão sobre o processo judicial, diligências processuais e os factos que o originaram


• Atual situação
• História de vida
• Relação com o(s) filho(s)
• Expectativas e propostas de resolução da actual situação
• Observação do estado mental e comportamento
Com a criança:

• Dinâmicas familiares prévias à separação dos progenitores


• Vivências da criança após a separação dos progenitores – regime visitas; adaptação ao conflito
interparental; alterações no quotidiano da criança
• Formas de resolução do conflito no entender da criança
• Utilização de material lúdico (objecto transitivo)
• Observação do comportamento e desenvolvimento da criança
• Utilização de guiões de entrevista próprio para crianças no contexto forense

RAQUEL CUNHA 31
Observação da interação
Padrões comportamentais do progenitor:

• Grau de compreensão do nível desenvolvimental da criança


• Como lida com o comportamento da criança
• Atenção relativamente às necessidades físicas da criança
• Respeito pela individualidade e autonomia da criança
• Aplicação de regras Participação na tarefa
• Comunicação estabelecida com a criança (verbal e não verbal)
• Aceitação da criança
Padrões comportamentais da criança:

• Descontracção e segurança da criança junto do progenitor


• Inicia actividades com a criança Manifesta dificuldades comportamentais, desenvolvimentais e
emocionais que requerem mais capacidades do que aquelas que o progenitor parece manifestar
• Demonstra interesse e aceitação relativamente à atenção do progenitor
• A criança expressa desacordo e expressa a suas próprias opiniões
• Como é que a criança manifesta afecto e interesse em relação ao progenitor
• Que tópicos a criança inicia durante a conversa com o progenitor

Dinâmicas psicológicas do divórcio


Conflito interparental e abordagem psicopatológica
Angústia de separação (expressão psicossomática) – normativa numa fase inicial, sobretudo com crianças
muito novas
Hipermaturidade
Projecção (comportamentos acusatórios e de culpabilização; manipulação)
Quadros psicopatológicos (por ex: depressão)

Guarda partilhada
Os estudos mostram que crianças que passam pelo mesmo 35% do tempo com ambos os progenitores
apresentam benefícios no seu bem-estar:

• níveis mais baixos de depressão e ansiedade


• níveis mais baixos de agressividade
• consumo de substâncias mais reduzido
• melhor rendimento escolar
• melhor desenvolvimento cognitivo
• melhor saúde física
• melhores relações interpessoais
Excepções que podem colocar em causa esta medida:

• abuso e negligência da criança


• elevada distância entre a residência dos progenitores
• perigo de rapto por parte de um dos progenitores
• excessivo proteccionismo da criança a presença de necessidades especiais da criança

RAQUEL CUNHA 32
• violência doméstica

Alienação parental
Década de 80 – Gardner
Defendia que esta alienação parental era um síndrome, começou a aperceber-se desta situação após o
divórcio com a sua mulher. A definição deste fenómeno como síndrome não foi aceite pela comunidade
científica.
Parental Alienation Syndrome:

• Campanha de denegrição – vai desde o simples insulto do outro progenitor até à participação
ativa das crianças no processo judicial; estes comportamentos muitas vezes passam para os
familiares do progenitor que incentiva esta campanha de denigração; a dada altura há uma
posição de concordância da criança relativamente à representação que este progenitor faz do
outro; em casos muito conflituosos, vemos uma campanha de denegrição é feita de ambos os
lados, o que acaba por se traduzir num aproveitamento das crianças relativamente aos
progenitores
• Total identificação da criança com a posição do progenitor alienador – é um fator de risco em
crianças mais pequenas; o facto de a criança passar mais tempo com o progenitor alienador e
menos tempo com o progenitor alienado facilita a alienação por parte do progenitor alienador; é
maioritariamente promovida pelo progenitor que passa mais tempo com a criança
• Ausência de culpa perante a crueldade e exploração do progenitor alienado – estas situações
são prejudiciais não só para a criança, mas também para o bem-estar do progenitor afetado,
fazendo com que muitas vezes não se consigam relacionar com outras pessoas; estas suspeitas
e estas alegações podem destruir a vida de uma pessoa, uma vez que fica sempre a dúvida
mesmo que nada seja provado.
• Difusão da animosidade relativamente a amigos e/ou familiares do progenitor alienado – a criança
passa a não ter só uma má impressão do progenitor, mas também de todo o núcleo familiar
desse progenitor
Parental Alienation Syndrome:

• Conceito muto controverso


• Será mesmo um síndrome?
• Os estudos empíricos sinalizam esta dinâmica
• Enviesamento de género e passividade da criança no processo – muitas vezes as crianças têm
um papel ativo nesta situação de conflito
• O progenitor alienado é apenas uma mera vítima? – muitas vezes este progenitor alienado tem
comportamentos errados quer perante o progenitor alienador, quer perante a criança; muitas
vezes o próprio processo de divórcio tem efeito neste fenómeno
• Identificação da criança com a representação negativa do progenitor que tem a sua guarda –
dinâmica com fundamento clínico
Necessidade de legislar?

• Brasil – projeto de lei que criminaliza a alienação parental.


• Espanha – jurisprudência que proíbe a utilização desta terminologia pela sua falta de consenso
científico
Falsas alegações de maus tratos e abuso sexual em casos de divórcio conflituoso – numa situação em
que não sabemos o que o outro vai fazer numa situação de conflito é aumentar o conflito por não

RAQUEL CUNHA 33
querermos levar um tiro no pé; nunca sabemos o que a outra pessoa vai fazer; o aumento do conflito
verifica-se com o aumento das alegações negativas
Litigância entre os progenitores e outros familiares – acaba por se tornar um ciclo que vai aumentando o
conflito

Litigância no “interesse da criança” – alguém vence?


• Impacto traumático do conflito interparental para a criança e para os progenitores
• Parentalidade conjugalidade
• Importância da mediação familiar

Psicologia da Decisão
Kahneman
Thaler
Nudge
Sustein

Psicologia da Decisão:

• Automatismo (sistema 1) vs. Complexidade (sistema 2)


• Heurísticas – julgamentos flexíveis que muitas vezes levam a erros (ex: disponibilidade,
ancoragem) -> relacionado com o sistema 1 ; pelo facto de serem procedimentos rápidos de
decisão, e embora funcionem bem na maioria das situações que são utilizadas, pela complexidade
de alguns procedimentos levam a erros de execução; todos nós utilizamos heurísticas, mas estas
não são patológicas. Não há ninguém imune ao erro de pensamento e ao erro de decisão.
Sistema 1: sistema automático, guiado pela intuição, sistema rápido, as decisões que tomamos no dia a dia
são tomadas com base neste sistema. A instalação de rotinas influencia bastante este sistema. Associado à
memória procedimental (exemplo: condução do carro)
Sistema 2: processo mais complexo e demorado.

Heurísticas:
• Ancoragem
• Disponibilidade
• Ponto cego
• Excesso de confiança
• Limitações de memória
• Erro de atribuição fundamental
• Confirmação
• Falha da linha vertical
• Retrospetiva
• Representatividade

RAQUEL CUNHA 34
Ancoragem:
• Realização de “estimativas com base num valor inicial disponível, que servirá como ‘âncora’,
consequentemente, mesmo perante novas informações, a perspetiva inicial mantém-se ou
efetuam-se ajustamentos a essa estimativa da qual partiu”;
• Os decisores judiciais podem ser influenciados por processos de ancoragem;
• Necessidade de implementação de medida que limitem os seus efeitos: por exemplo a existência
de linhas orientadoras de produção de uma sentença, em que se assenta uma decisão mais em
fatores neutros, como é o caso do tipo de ofensa, do que nas propostas de pena por parte do
MP.

Heurística da disponibilidade:
• Recuperabilidade do caso, isto é, a familiaridade com a situação, a relevância e significado
subjetivo, bem como maior a facilidade de recuperação/maior disponibilidade de informação
sobre acontecimentos recentes em detrimento de acontecimentos anteriores, poderão conduzir
a juízos incorretos
• Imaginabilidade que, sucintamente, se refere ao processo pelo qual se antecipam/imaginam
contingências e consequências associadas a uma determinada situação para a qual não se tem
informação ou experiência prévia
• A utilização de resultados de investigações científicas ou do testemunho de peritos poderão
diminuir os efeitos da disponibilidade – decisão mais apoiada

Ponto cego:
Este processo é muito saliente em peritos de uma determinada área, por acharem que conseguem
controlar melhor os erros de pensamentos. No entanto, por serem peritos de uma determinada área
acabam por cometer mais erros por estarem tão familiarizados com os procedimentos.

• Os peritos acham que controlam melhor os enviesamentos do que os outros


• Os mais experientes têm menos consciência dos enviesamentos
• Importância de formação

Excesso de confiança:
Não ter confiança de que a avaliação realizada não é correta; procurar indicadores de follow-up;

• Não costuma haver um follow-up das decisões e as consequências que essa decisão causou
• Juiz considerado o “perito dos peritos”, tendo uma grande influência no excesso de confiança,
sem ter consciência dos aspetos negativos que a decisão possa trazer~

Limitações da memória:
• Limitação e distorção = processos básicos da memória
• Utilização de checklists – saber dimensões importantes a avaliar em casa processo
• Identificar verbalizações e opiniões
• Gravação vídeo (ou áudio)

RAQUEL CUNHA 35
Erro de atribuição fundamental:
• Excesso de foco em características para justificar o comportamento – muitas vezes
desconsideramos a influência de determinado contexto no comportamento humano
• Verificar sempre variáveis contextuais que possam justificar o comportamento

Enviesamento de confirmação:
• Tendência para confirmar as nossas hipóteses
• Exclusão das informações que colocam em causa as nossas hipóteses
• Analisar as inconsistências de forma séria
• Corroborar as nossas hipóteses

Falha da linha vertical:


• Instalação de rotinas no processo de avaliação – o facto de instalarmos processo de julgamento
rápidos cria rotinas que podem levar a uma decisão negativa
• Manter sempre uma atitude auto-crítica

Enviesamento de retrospetiva:
• Afetação da probabilidade e/ou previsibilidade do comportamento após ele já ter acontecido
• Identificar sempre os dados disponíveis para a realização das nossas previsões

Representatividade:
• Pensamento categorial – estereótipos
• A aproximação de um evento a uma determinada categoria aumenta a sua probabilidade da sua
pertença.
• A linha de base diz respeito à prevalência de um comportamento numa dada população durante
um determinado tempo.
• Tendência para considerar o comportamento como “um caso especial”
• Conhecimento e utilização das linhas base do comportamento alvo – conhecimento aprofundado
da investigação.

Processo de decisão:
• Resfriar a “intuição” – aqueles pensamentos intuitivos que temos relativamente a uma decisão
necessitam de ser postos de lado e trocados por pensamentos mais cuidados sobre a decisão e
uma outra abordagem ao processo (que não seja intuitiva e imediata)
• Qualidade metodológica – elevada qualidade metodológica no processo de decisão; saber ter
conhecimento da fragilidade do processo de decisão e ter conhecimento das variáveis que
influenciam o processo de decisão; saber bem que não somos imunes às consequências das
nossas decisões; é preocupante quando alguém, num processo de decisão, se considera “Deus
na Terra”
• Critérios externos para as nossas hipóteses
• Conhecer os nossos limites – ninguém está imune a erros de pensamento e há que ter
consciência disso.

A prova e a sua avaliação


• Existência de regras para a obtenção de provas e sua admissibilidade:

RAQUEL CUNHA 36
- ex: art.138º CPP – regras da inquirição – 2 – às testemunhas não devem ser feitas perguntas
sugestivas ou impertinentes, nem quaisquer outras que possam prejudicar a espontaneidade e a
sinceridade das respostas”
• As regras de admissibilidade influenciam a ponderação da prova no processo de decisão?
• Juízes têm dificuldade em não utilizar provas/informações que não são admissíveis de acordo
com a Lei, como por exemplo, conversas tidas entre réu e advogado.
• A referência que uma prova não é admissível de acordo com a Lei não impede que esta seja
utilizada no processo de decisão, sobretudo se for relevante. A prova não é utilizada se a sua
credibilidade for posta em causa.

Melhorias ao processo de decisão judicial:


• Especialização – parece inocular os decisores judiciais perante alguns tipos de enviesamento
• Decisão mais partilhada – recorrer a peritos que assistam à avaliação das provas
• Melhor formação e aquisição de conhecimento científico

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