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Introdução

Se você atende adolescentes eu tenho certeza


que você já se deparou com a autolesão nesses
pacientes. Eu arrisco dizer que você, num primeiro
momento, tenha sentido algum grau de desconforto,
questionando-se sobre risco de suicídio, sem saber
direito o que perguntar, quando perguntar e o que
fazer quando o paciente falou que estava se
machucando. Perfeitamente compreensível esse
desconforto, tendo em vista que não temos
diretrizes ou materiais adequados para se atualizar
sobre autolesão. Mesmo não tendo muitos materiais,
compreender esse comportamento é imprescindível
para que haja a devida avaliação e tratamento.
Foi justamente pensando nas dificuldades que
vários profissionais têm ao abordar esses pacientes
que resolvi criar esse e-book.
Este e-book tem o foco na autolesão não suicida
(ALNS) que acomete adolescentes com
funcionamento intelectual normal.
Conceitos

Autolesão não suicida (ALNS)


Autolesão não suicida (ALNS) é caracterizada pelo
ato voluntário de causar lesão no corpo sem intenção
de morrer e para um fim que não é aprovado
culturalmente.
Portanto, é diferente de tentativa de suicídio, na
qual há a intenção de morrer.

Não é considerado ALNS:


Práticas socialmente aceitas (como tatuagens,
piercings e autolesão que ocorrem em rituais
religiosos);
Autolesão acidental (como machucados
decorrentes de quedas e esbarrões) ;
Autolesão indireta por meio de comportamentos
como transtornos alimentares (como lesões em
mãos decorrentes de vômitos autoprovocados)
ou transtornos por uso de drogas.
Conceitos

Tentativa de suicídio
Se uma autolesão é acompanhada por um desejo
de morrer, então deve ser classificado como
tentativa de suicídio e não ALNS.

Automutilação

Embora o termo automutilação seja


frequentemente utilizado para se referir a
comportamento de pessoas que se envolvem em
autolesão, esse termo não é adequado, pois a
automutilação é caracterizada por ferimentos
autoinfligidos mais graves e irreversíveis, como
amputação de membros, castração e enucleação.
A automutilação está mais associada a:
quadros psicóticos;
intoxicação por substâncias psicoativas.
Epidemiologia

Quantas pessoas sofrem com ALNS?


Na população geral 17 a 18% dos adolescentes se
envolvem em pelo menos um episódio de ALNS ao
longo da vida.
Em adolescentes que já recebem tratamento por
alguma condição psiquiátrica, a prevalência no último
ano é de 50 a 70%.

É mais frequente em adultos?


Não. A taxa de ALNS em adolescentes é 3x maior
do que em adultos.

Quantidade de pessoas com ALNS


estimada ao longo da vida:
17% nos adolescentes de 10 a 17
anos;
13% nos adultos jovens de 18 a 24
anos;
6% nos adultos maior ou igual a 25
anos.
Epidemiologia

Quando se inicia?
O comportamento normalmente inicia entre 12 e
14 anos de idade, mas pode iniciar antes dos 12 anos.
É um comportamento raro em crianças de 5 a 7
anos.
O início antes dos 12 anos requer maior atenção,
por estar associado com maior frequência de ALNS,
uso de mais métodos autolesivos e mais necessidade
de hospitalização. Ou seja, se o início acontecer antes
dos 12 anos, normalmente maior a gravidade.

É mais comum no sexo masculino ou feminino?

Mais comum no sexo


feminino.
Numa proporção de 4
pessoas do sexo feminino para
1 do sexo masculino.
Epidemiologia

Existe diferença quanto a orientação sexual?


A ALNS é mais frequente em adolescentes que
questionam sua própria orientação sexual, que são
homossexuais, bissexuais ou transgêneros.
A probabilidade de ALNS é seis a dez vezes maior
entre adolescentes de minorias sexuais do que entre
jovens heterossexuais.
Bissexual - 24%
Homossexual - 16%
Questiona a orientação sexual - 9%
Heterossexual - 3%

Por que isso acontece?


Essas minorias sexuais sofrem com maiores
adversidades na vida. Por exemplo, sofrem mais
preconceito, são vítimas de violência interpessoal,
maior conflito familiar e rejeição com base na
condição de minoria sexual.
Fatores de risco e protetores

Quais fatores de risco para ALNS?


Os 3 principais fatores de risco para ALNS são:
História de ALNS;
Transtornos de personalidade bordeline,
histriônica, narcisista ou antissocial;
Desesperança.
Fatores de risco e protetores

Quais fatores de risco para ALNS?


Existem outras questões que estão associadas
com maior risco de ALNS:
Psicopatologia (depressão, transtornos alimentares,
problemas emocionais e internalizantes (humor
deprimido, isolamento social, estilo negativo de
atribuição), problemas comportamentais e
externalizantes (agressão, comportamentos
delinquentes e uso de substâncias)), problemas no
sono, desregulação do afeto, sofrimento,
impulsividade, história de maus-tratos na infância,
outros eventos de vida negativos ou estressores,
incluindo bullying, pensamentos e/ou
comportamentos suicidas anteriores, conviver com
pessoas que apresentam ALNS, psicopatologia
parental, funcionamento familiar ruim.
Fatores de risco e protetores

Quais fatores protetores para ALNS?


Pessoas que possuem senso de autovalor ou
autocompaixão, traços de personalidade de
afabilidade (cordialidade e amigáveis) e
conscienciosidade (cuidado e vigilância) e pessoas
satisfeitas com o suporte social que possuem são
menos propensas para se envolverem em ALNS.
Nos adolescentes que se identificam como uma
minoria sexual, sentir-se conectado a outras pessoas
(por exemplo, pais, adultos não pais e amigos) e
sentir-se seguro na escola podem funcionar como
fatores protetores.
Qual a origem da ALNS?

A origem nasce de uma interação de fatores


psicológicos, sociais e biológicos.
Um modelo teórico trabalha com a hipótese de
que fatores distais e próximais interagem para
surgimento do comportamento. Dessa forma, existem
os fatores que são considerados predisponentes ou
distais (ou seja, fatores que conferem um maior risco
para ALNS), como maus-tratos na infância, estes
contribuem para o desenvolvimento para fatores de
vulnerabilidade intrapessoal (como baixa tolerância ao
sofrimento) e fatores de vulnerabilidade interpessoal
(como habilidades de comunicação ruins). Estes
fatores de vulnerabilidade fazem com que o indivíduo
tenha maior dificuldade de responder de forma
saudável/adaptativa a estressores. A dificuldade no
manejo do estresse combinada com outras
vulnerabilidades para ALNS (como auto punição),
aumentam o risco de ocorrência da ALNS.
Qual a origem da ALNS?

Fatores comportamentais e psicológicos

Importante avaliar funções, motivações e como se


dá a manutenção da ALNS.
Esse comportamento pode começar e persistir
devido a uma função que o comportamento assume
na vida da pessoa. Funções (motivos) podem ser
entendidos como fatores ou eventos que funcionam
como gatilhos para ALNS, eles são fatores que
antecedem o comportamento. Existem também os
fatores ou eventos que ocorrem após o
comportamento, eles são as consequências da ALNS.

Portanto, para investigar esses


fatores, devemos perguntar:
O que aconteceu antes da ALNS
(antecedentes)?
O que aconteceu após a ALNS
(consequências)?
Qual a origem da ALNS?

Fatores comportamentais e psicológicos


Podemos encontrar funções primárias da ALNS:
1. Reforço - O reforço da ALNS pode ser
positivo ou negativo.
O reforço positivo é a geração de um estímulo
desejável - nesse caso o comportamento induz um
"estado agradável", como conseguir a atenção de
outras pessoas ou experimentar uma punição
merecida ao realizar a autolesão.
O reforço negativo é a remoção de um estímulo
indesejável ou aversivo - nesse caso o
comportamento alivia emoções negativas, como
ansiedade, depressão ou raiva; reduz pensamentos
angustiantes, como autocrítica; ou remove demandas
sociais ou circunstâncias indesejadas (por exemplo, os
pais param de brigar ou deixar de ir ao colégio).
Qual a origem da ALNS?

Fatores comportamentais e psicológicos

2. Consequências - As consequências do
comportamento surgem nos campos
intrapessoais ou sociais.
As consequências intrapessoais para o
comportamento de ALNS são internas e geradas no
indivíduo (como sentir angústia, tristeza).
As consequências sociais surgem de interações
interpessoais (como não querer ir ao colégio, briga
dos pais).
Qual a origem da ALNS?

Fatores comportamentais e psicológicos

O comportamento de ALNS é causado e mantido


por pelo menos uma das seguintes funções:
Reforço negativo intrapessoal: O comportamento
reduz (regula) emoções e pensamentos negativos
e aversivos, como raiva, tristeza e ansiedade.
Reforço positivo intrapessoal: O comportamento
gera sentimentos e pensamentos desejados (por
exemplo, sentir algo diferente de dormência,
"mesmo que seja dor"; ou sentir satisfação por
ter se punido).
Reforço social negativo: O comportamento facilita
uma fuga de demandas sociais indesejadas e
situações sociais insuportáveis (por exemplo, uma
criança pode ficar em casa sem ir à escola).
Reforço social positivo: O comportamento
provoca uma resposta positiva de outras
pessoas, como atenção ou apoio da família ou
amigos.
Qual a origem da ALNS?

Fatores comportamentais e psicológicos


Os pacientes normalmente se envolvem em
mais de uma das 4 funções. Mas a mais
frequente é a regulação ou manejo de
emoções negativa.

Quando se observa pessoas que recorrem a ALNS,


nota-se que elas possuem um estilo de atribuição
negativo. Ou seja, quando ocorre algo de errado, elas
tentem a colocar a razão em questões internas em
vez de externas (acreditam que o que ocorreu de
errado foi por culpa dela, não reconhece que existem
causas que fogem do próprio controle), acreditam que
são fatos estáveis em vez de transitórias (se ocorreu
algo errado hoje, ocorrerá sempre) e são globais em
vez de específicas (se algo deu errado, significa que
tudo dará errado). Esse estilo de atribuição
combinado a desesperança com relação ao futuro
configuram fatores de risco para ALNS.
Qual a origem da ALNS?

Fatores comportamentais e psicológicos

A autocrítica também é um fator de risco para


ALNS. Essa autocrítica pode se manifestar de
diversas formas como: autoimagem negativa,
autoavaliação negativa, aversão a si mesmo e ódio a
si mesmo (uma forma extrema de autocrítica).
A combinação entre experiência interpessoal
negativa e autocrítica podem resultar na ALNS como
uma forma de “punição” (“raiva de si mesmo”).
Qual a origem da ALNS?

Fatores sociais

Estudos indicam que os maus-tratos na infância


estão associados à ALNS. Os maus-tratos podem
ser: abuso sexual, abuso físico, abuso emocional,
negligência física e/ou negligência emocional e
formas indiretas de maus-tratos na infância, como
testemunhar violência doméstica.
Um outro fator relacionando a ALNS é a
influência dos pares. Esta pode acontecer de duas
formas:
1. O contágio social: o comportamento é copiado
pelos pares e pode acontecer pela exposição à mídia,
como música, filmes, internet e mídia social (por
exemplo, Instagram).
2. Efeitos da seleção: fazer amizade com colegas com
os mesmos interesses e comportamentos, como
ALNS.
O aprendizado social é mais importante para o
inicio do comportamento.
Qual a origem da ALNS?

Outros fatores envolvidos com o início e


manutenção da ALNS são:
Bullying e cyberbullying;
Isolamento social e sentimento de solidão;
Perda de uma pessoa próxima;
Pais muito críticos;
Dificuldade de comunicação com os membros da
família.
Qual a origem da ALNS?

Fatores sociais

A ALNS pode ser reforçada socialmente porque o


comportamento ajuda os adolescentes a obterem
algo que desejam em seu ambiente, como apoio de
alguém ou a atenção dos pais (reforço social
positivo), ou porque o comportamento remove
algo negativo de seu ambiente, como demandas
interpessoais (reforço social negativo - como
deixar de ir para escola ou "acabar" com uma
briga entre os pais).
Qual a origem da ALNS?

Fatores biológicos
Existe estudo que aponta para um perfil de
herdabilidade da ALNS. A herdabilidade estimada da
ALNS em homens é de 37% e 59% em mulheres.
O sistema opioide endógeno (os "analgénesicos"
que o próprio corpo possui) possivelmente está
envolvido na ALNS. A hipótese é de que pessoas
com esse comportamento tenham pouco opioide
endógeno e, dessa forma, ao recorrerem a autolesão
ocorre liberação de opioide, aumentando dessa forma
a quantidade dessa substância no organismo. Isso
pode ajudar na regulação das emoções negativas.
Estudos de neuroimagem apontam para
alterações neurais no sistema relacionado à rejeição
social. O que torna essas pessoas mais sensíveis e
com maior dificuldade em regular as respostas após
sofrerem rejeição social.
Como avaliar a ALNS?

Apesar da alta frequência de ALNS em adolescentes,


menos de 30% dos profissionais investigam sobre
esse comportamento e 50% sente que não estão
preparados para lidar com esse problema.
Como avaliar a ALNS?

Abordagem geral

A avaliação da ALNS e do comportamento suicida


deve fazer parte da avaliação clínica de todo
adolescente.
Incluir a investigação da ALNS em toda consulta é
importante, pois aproximadamente 42% dos
pacientes que provocam autolesão não relatam esse
comportamento para outras pessoas.
Como avaliar a ALNS?

Então, quando devemos suspeitar de ALNS?


Quando surgem lesões frequentes e inexplicadas
ou "acidentes" nos antebraços, pulsos e mãos (ou
outras partes do corpo), particularmente lesões
que levam a cicatrizes no braço não-dominante.
Quando há uso de vestimenta incomum ou
inadequada: Várias pulseiras ou outras jóias que
cobrem grandes áreas do antebraço; uso de
roupas com mangas compridas em temperaturas
mais quentes; se nega a participar de atividades
que exijam menos roupas, como a aula de
ginástica ou natação.
Quando já apresenta história prévia da ALNS.
Como avaliar a ALNS?

É necessário avaliação física?

Sim. As feridas físicas devem ser avaliadas e


tratadas de acordo com a necessidade (por exemplo,
curativo ou sutura).
Normalmente as lesões da ALNS são tipicamente
superficiais e não exigem tratamento médico. Mas
mesmo assim as feridas deve ser avaliadas para
verificar sinais de infecção. Em alguns casos a
vacinação contra tétano pode ser indicada.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Entrevistar pacientes e cuidadores separados
ou juntos?
Os pacientes podem ser mais propensos a se
abrir se seus pais ou responsáveis não estiverem
presentes.
Portanto é importante entrevistar pacientes e
cuidadores tanto separados quanto juntos.
Não esquecer de investigar ativamente sobre
ALNS e distinguir ALNS de tentativa de suicídio.

Lembrar que comportamento de


autolesão acompanhado por qualquer
intenção de morrer é classificado como
tentativa de suicídio.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Quando perguntar sobre ALNS?
A pergunta sobre ALNS normalmente não é feita
no início da consulta. É importante estabelecer um
vínculo inicial com o paciente. Um momento oportuno
para perguntar sobre ALNS é quando estiver
investigando sobre sofrimento (como decorrentes de
quadros depressivos ou ansiosos).
Perguntar: "o que normalmente você faz para lidar
com esse sofrimento?", "Quando você está
triste/ansioso o que você faz?"
Mesmo se o paciente falar que não faz nada ou
der repostas vagas, perguntar diretamente: "Você já
fez alguma coisa para se machucar, sem querer
morrer, como se cortar?”
Depois de perguntar sobre o comportamento de
ALNS, investigar ativamente sobre ideação e
tentativa de suicídio.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Qual deve ser a postura do profissional quando
paciente fala sobre ALNS?
Ao abordar esse assunto o profissional deve:
Transmitir abertura, empatia e preocupação.
Evitar emitir julgamos, críticas ou ter reações de
raiva.

Se o profissional emite julgamentos,


critica ou apresenta reação de raiva
quando o paciente fala sobre ALNS, o
paciente fica menos propenso a buscar
ajuda, piora o estigma e diminui a
probabilidade de o paciente relatar
autolesão no futuro.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser
investigado?
A idade que iniciou o comportamento. Perguntar:
Quando o comportamento começou? O que
aconteceu na primeira vez que você se automutilou?;
História passada (frequência e métodos utilizados).
Perguntar: Com que frequência ocorreram a auto-
lesão no mês passado, no ano passado e no pior
ponto da vida do indivíduo? Quantas lesões ocorrem
durante um único episódio de ALNS (por exemplo,
quantos cortes)? A frequência aumentou, diminuiu ou
é a mesma?;
Circunstâncias que levam à ALNS;
A (s) função (s) geral (s) do comportamento;
Avaliação funcional detalhada (por exemplo, identificar os
antecedentes e conseqüências) é importante para
direcionar o tratamento.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser
investigado?
Métodos passados e atuais de autolesão;
Gravidade médica e letalidade das lesões.
Perguntar: Você já procurou cuidados médicos para
a ALNS? Como você costuma cuidar das feridas?;
Localização dos ferimentos no corpo;
Contexto. Perguntar: Você se automutilou sozinho
ou com outras pessoas?;
Duração de um episódio. Perguntar: Quando você
se envolve em ALNS, quanto tempo dura
normalmente?;
Episódios de ALNS que duram mais tempo estão
associados com maior sofrimento emocional.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser
investigado?
Antecedentes: Quais são os antecedentes
proximais (gatilhos) para se envolver em ALNS,
tanto no passado quanto atualmente?;

Os antecedentes incluem pensamentos (p.ex.: lembrar


de algum abuso ou situação estressante),
sentimentos (p.ex.: angústia ou tristeza) e
comportamentos (p.ex.: ter que ir para escola ou
presenciar briga dos pais) que precedem diretamente
ou levam um indivíduo para se engajar no
comportamento.
Os gatilhos para ALNS mais comuns são:
sentimentos ou pensamentos negativos (raiva,
ansiedade, desesperança e tristeza).
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica

Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser


investigado?
Consequências do comportamento. Perguntar:
Desde quando você se machuca? Como você se
sente imediatamente depois de se machucar?
Como você se sente horas depois de se machucar?;
Os adolescentes podem sentir alívio inicial, mas a culpa
ou a vergonha podem surgir depois.
Função do comportamento. Perguntar: Por que
você se machuca? Como a autolesão ajuda você?
A função mais comum da ALNS é a regulação das
emoções negativas.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser
investigado?
Fatores de proteção. Perguntar: Você se
machuca toda vez que tem o desejo de se
machucar ou você às vezes consegue resistir ao
desejo? Se é possível resistir ao desejo, o que
ajuda você a fazê-lo? Se você parou com a
autolesão em algum momento de sua vida (dias,
semanas ou meses), como você conseguiu parar?
O que você fez em vez de se machucar?;
Impacto no funcionamento. Perguntar: A
automutilação atrapalha você? Atrapalha na
escola ou nos relacionamentos (família ou
amigos)? O comportamento atrapalha você fazer
coisas que gostaria de fazer?;
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser
investigado?
Sobre parar o comportamento. Perguntar: Você
tentou parar no passado? Se sim, quanto tempo
você conseguiu ficar sem automutilação?;
Avaliar as razões para querer parar a autolesão.
Perguntar: Você quer parar agora? Por que você
quer parar?;
A avaliação também deve incluir questionamento
sobre relacionamentos (familiares, amigos e
pares) e estressores interpessoais.
O paciente tem outros sintomas e transtornos
mentais? Qual o suporte que o paciente tem? O
paciente falou sobre o comportamento para a
família, amigos, professores ou outros? O
paciente já recebe tratamento para ALNS ou
para um transtorno mental?
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica
Se o paciente fala sobre ALNS, o que deve ser
investigado?
É imprescindível investigar sobre ideação suicida.
Além de investigar sobre comportamento suicida, é
importante saber diferenciar comportamento suicida
e comportamento de autolesão não suicida.
A avaliação da intenção suicida é importante, pois
90% dos casos de ALNS podem ser mal
interpretados como uma tentativa de suicídio. Esse
erro pode conduzir a internações desnecessárias.

Embora comportamento suicida e ALNS


sejam diferentes, o profissional deve ficar
atento, pois eles co-ocorrem com
frequência.
Todos os pensamentos e comportamentos
auto-prejudiciais - tanto suicidas quanto não-
suicidas - devem ser avaliados.
Como avaliar a ALNS?

Avaliação psicológica

Existem escalas que podem ser utilizadas para


avaliar a ALNS. Um exemplo é a Escala de
Comportamento de Autolesão (ECA), uma escala
autoaplicável.

Pode ser usada como parte da avaliação inicial e


pode ser usada para monitorar o tratamento.
Como avaliar a ALNS?
Como avaliar a ALNS?
Como avaliar a ALNS?
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Como já foi dito, ALNS é o dano autoinfligido


intencional à superfície do corpo sem intenção
suicida. Esse comportamento pode resultar em
sangramento ou hematomas e, na maioria das vezes,
têm como objetivo amenizar emoções negativas (por
exemplo, ansiedade ou angústia) ou punir-se.
Nos pacientes que se envolvem em ALNS com
frequência (por exemplo, mais de uma vez por
semana), uma sensação de urgência ou desejo pode
preceder o comportamento. Podemos observar que
a maioria dos adolescentes fica pensando sobre a
ALNS antes de se envolver no comportamento.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Os transtornos por uso de substâncias são mais


comuns em pacientes que se envolvem em ALNS,
mas episódios de ALNS normalmente não ocorrem
sob a influência de substâncias (por exemplo, durante
a intoxicação).
Se o indivíduo estiver sob uso de substância e se
envolver em ALNS, isso pode resultar em lesões
mais graves devido ao julgamento prejudicado,
desinibição e diminuição da sensibilidade à dor.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

O paciente se envolve na ALNS sozinho


ou acompanhado?

A maioria o faz sozinho. entretanto,


as influências dos pares (p.ex.: amigos e
colegas) podem estar envolvidas na
patogênese do comportamento.

E quantas lesões são feitas


durante um único episódio?
O número de feridas infligidas durante um único
episódio de autolesão não suicida varia.
Um número maior de feridas por episódio pode
indicar um nível maior de sofrimento que
desencadeou o episódio.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Sintomas psiquiátricos associados à ALNS

O comportamento de ALNS pode ocorrer


simultaneamente com outros sintomas psiquiátricos,
como:
Desregulação do afeto;
Estilo cognitivo negativo (por exemplo,
pessimismo);
Baixa autoestima;
Solidão;
Descontrole alimentar;
Comportamentos sexuais de risco;
Problemas de sono, incluindo pesadelos.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Com qual frequência ocorre a ALNS?


A resposta varia se o estudo é feito em clínicas
ou na comunidade.
A ALNS em populações clínicas (p.ex.: em paciente
internados ou em tratamento em serviço de saúde
mental) está associada a psicopatologia mais grave.
Nessas amostras clínicas, o número de episódios de
ALNS ao longo da vida é muito maior e pode variar
de dezenas a centenas de vezes.
A frequência varia de uma média de 2 a 10
episódios ao longo da vida em amostras da
comunidade (p.ex.: estudantes que não estão em
tratamento em serviços de saúde mental). Nessa
mesma população aproximadamente 25 a 30% dos
adolescentes se envolverão em ALNS apenas uma
vez.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Quais são os métodos usados para ALNS?


Cortar ou furar a pele com um objeto pontiagudo,
como uma faca ou navalha;
Os cortes costumam sangrar e, às vezes, é
possível ver cicatrizes paralelas de feridas
antigas.
É o meio mais comum de automutilação;
Estima-se que o corte ocorra em 70 a 90% dos
indivíduos que se envolvem em ALNS;
Marcar a pele com palavras ou símbolos;
Queimar com objetos quentes, como cigarros;
Bater em partes do corpo, como na cabeça;
Quebrar ossos;
Coçar-se a ponto de sangrar;
Morder-se a ponto de sangrar;
Esfregar a pele contra superfícies ásperas;
Inserir agulhas ou outros objetos sob a pele;
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Quais são os métodos usados para ALNS?


Arrancar feridas e interferir na cicatrização de
feridas;
Beliscar a pele a ponto de sangrar;
Arrancar o cabelo (exclui tricotilomania);
Engolir produtos químicos perigosos para causar
danos imediatos aos tecidos.

O uso de vários métodos para infligir


autolesão está associado a maior
gravidade e a um maior risco de
tentativa de suicídio.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Existe diferença de método de ALNS entre


sexos?
Mulheres relatam mais cortes, mordidas,
interferência na cicatrização de feridas, puxar o
cabelo e se arranhar. Enquanto homens relatam mais
golpes ou pancadas.

As lesões são graves do ponto de vista


médico?

A maioria das lesões são superficiais e não


requerem tratamento médico, mas algumas podem ser
mais severas do que o pretendido.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Dos adolescentes que se envolvem em ALNS:


15% dos adolescentes de amostras clínicas
procuram atendimento médico por causa da
ALNS.
3 a 6% dos adolescentes de amostras da
comunidade procuram atendimento médico por
causa da ALNS.

Se os pacientes compartilharem lâminas


ou outros objetos para corte, eles
correm o risco de obterem doenças
transmitidas pelo sangue (como HIV).
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Em qual local ocorre a ALNS?

Braços;
Mãos;
Pulsos;
Coxas.
Mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo.
As mulheres relatam que se machucam mais nos
braços, pulsos e coxas e normalmente não
machucam o rosto, genitais ou seios. Homens
relatam mais lesões no peito, rosto, genitais e mãos.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

A ALNS causa dor?


Pessoas que se envolvem em ALNS geralmente
apresentam diminuição da sensibilidade à dor física.
Indivíduos envolvidos em ALNS apresentam:
um limiar de dor mais alto;
maior tolerância à dor;
menor intensidade de dor.
Muitos não sentem nenhuma dor quando se
envolvem em ALNS. Alguns estudos mostram que o
comportamento não causa dor em cerca de 33 a 50%
dos pacientes.

Alguns pacientes que se envolvem em ALNS e


sentem dor podem achar a dor recompensadora ou
reforçadora, enquanto outros não gostam da dor.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Dilema do sofrimento emocional


Muitos pessoas experimentam sofrimento
emocional após se envolver no comportamento,
incluindo sentimentos de raiva, culpa e vergonha. Mas
costumam se envolver em ALNS para regular as
emoções negativas.
Ou seja, sentem alguma emoção negativa anterior
a ALNS, fazem a ALNS para regular essas emoções,
mas depois sentem raiva, culpa e vergonha por
terem se envolvido no comportamento.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

A ALNS causa prejuízo?


A maioria dos adolescentes envolvidos em ALNS
relatam que esse comportamento atrapalha na escola
ou na vida social.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

A ALNS está associada com algum


transtorno psiquiátrico?
Muitos adolescentes envolvidos em ALNS
atendem aos critérios para um transtorno
psiquiátrico.
Vários transtornos psiquiátricos são mais comuns
em indivíduos que se envolvem em ALNS do que em
indivíduos que não apresentam ALNS.
Condições que são comuns em pacientes que tem
ALNS:
Transtornos de ansiedade (transtorno do pânico
e transtorno de ansiedade generalizada).
Transtorno de conduta e transtorno de oposição
desafiante;
Transtornos depressivo;
Transtornos alimentares;
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

A ALNS está associada com algum


transtorno psiquiátrico?
Transtornos de personalidade (por exemplo,
esquiva, borderline e / ou paranóide). Os
pacientes que se envolvem em ALNS têm altas
taxas de transtorno de personalidade borderline
(Muito frequente a ALNS, sendo que a autolesão
faz parte do diagnóstico);
Transtorno de estresse pós-traumático;
Transtorno obsessivo-compulsivo;
Transtornos por uso de substâncias.

Entre os pacientes adolescentes com doenças


mentais, 40 a 80% têm história de ALNS.
Indivíduos com qualquer transtorno mental têm
quase o dobro de probabilidade de se envolver em
autolesão não suicida, em comparação com aqueles
sem transtorno psiquiátrico.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Quais as diferenças entre ALNS e


comportamento suicida?
São 4 diferenças principais:
1. INTENÇÃO de morte
Na ALNS NÃO EXISTE qualquer intenção suicida, logo
não representa uma tentativa fracassada de suicídio,
pode ser encarada como forma de prevenir o suicídio.
No comportamento suicida EXISTE intenção de morte.
2. FREQUÊNCIA de atos
A ALNS ocorre com MAIS frequência. O comportamento
suicida ocorre com MENOS frequência.
3. MÉTODO usado
Na ALNS os métodos utilizados são cortes e
queimaduras. No comportamento suicida são
envenenamento (overdose), asfixia (incluindo
enforcamento) e armas de fogo.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Quais diferenças entre ALNS e


comportamento suicida?
4. GRAVIDADE do ato.
Na ALNS a gravidade médica ou letalidade
geralmente é MENOR. No comportamento suicida a
gravidade médica ou letalidade é MAIOR.

MAS a ALNS e o comportamento suicida co-ocorrem


em adolescentes
Em amostras clínicas de jovens envolvidos em ALNS,
aproximadamente 35 a 70% também tentaram o
suicídio e em amostras da comunidade de jovens que
se envolveram em ALNS, cerca de 10 a 45%
apresentam tentativa de suicídio em algum momento
de suas vidas.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Quais características da ALNS estão


associadas com maior risco de suicídio?

As características associadas com maior risco de


suicídio são:
Maior número de episódios de ALNS (por
exemplo, cinco ou mais vezes no ano anterior);
Maior número de métodos de ALNS (por
exemplo, três ou mais);
História mais longa de ALNS (por exemplo, mais
de dois anos);
Ausência de dor sentida durante a ALNS;
Envolvimento em ALNS exclusivamente quando
sozinho;
Reforço mais forte de ALNS, como a regulação
de emoções negativas.
Quadro clínico
Quais as características da ALNS?

Qual o curso da ALNS?

A maioria dos adolescentes que se envolvem em


ALNS durante a adolescência param no final da
adolescência ou início da idade adulta.
Adolescentes que persiste com esse
comportamento até a idade adulta estão associados
a quadros de maior ansiedade e depressão durante a
adolescência.
Ficar atendo pois o comportamento de ALNS
pode ser substituído para uso de substâncias como
forma de regular emoções negativas.
Quadro clínico

Sabidamente a ALNS é mais comum em


pacientes com transtornos psiquiátricos do que em
indivíduos sem transtornos psiquiátricos.

MAS….
A ALNS pode ocorrer na ausência de um
transtorno psiquiátrico.

ENTÃO…
Será que a ALNS é um transtorno mental
distinto?
Quadro clínico

Atualmente a ALNS não é um diagnóstico oficial


nos manuais de diagnóstico de transtorno mentais
(como DSM-5). Mas esse diagnóstico tem se
justificado cada vez mais, pois o comportamento de
ALNS:
Está muito frequente;
Causa comprometimento psicossocial
significativo;
É distinto do comportamento suicida;
É distinto dos transtornos psiquiátricos
existentes, como transtorno de personalidade
borderline e é transdiagnóstico (ou seja, ocorre
em jovens com muitos transtornos psiquiátricos
diferentes);
É encontrado entre jovens sem um transtorno
psiquiátrico diagnosticável.
Quadro clínico
Critérios diagnósticos propostos para
ALNS
Os critérios diagnósticos propostos para
transtorno de autolesão não suicida são:
1. No último ano, o indivíduo se engajou, em cinco ou
mais dias, em dano intencional autoinfligido à
superfície do seu corpo provavelmente induzindo
sangramento, contusão ou dor (p. ex., cortar, queimar,
fincar, bater, esfregar excessivamente), com a
expectativa de que a lesão levará somente a um
dano físico menor ou moderado (i.e., não há intenção
suicida).

*A ausência de intenção suicida foi declarada pelo


indivíduo ou pode ser inferida por seu engajamento
repetido em um comportamento que ele sabe, ou
aprendeu, que provavelmente não resultará em
morte.
Quadro clínico
Critérios diagnósticos propostos para
ALNS
2. O indivíduo se engaja em comportamento de
autolesão com uma ou mais das seguintes
expectativas:
Obter alívio de um estado de sentimento ou de
cognição negativos.
Resolver uma dificuldade interpessoal.
Induzir um estado de sentimento positivo.

*O alívio ou resposta desejada é experimentado


durante ou logo após a autolesão, e o indivíduo pode
exibir padrões de comportamento que sugerem uma
dependência em repetir este comportamento.
Quadro clínico
Critérios diagnósticos propostos para
ALNS
3. A autolesão intencional está associada a pelo
menos um dos seguintes fatores:
Dificuldades interpessoais, sentimentos ou
pensamentos negativos, tais como depressão,
ansiedade, tensão, raiva, angústia generalizada ou
autocrítica, ocorrendo no período imediatamente
anterior ao ato de autolesão.
Antes do engajamento no ato, um período de
preocupação com o comportamento pretendido
que é difícil de controlar.
Pensar com frequência na autolesão, mesmo
quando não é praticada.

4. O comportamento não é socialmente aprovado (p.


ex., piercing corporal, tatuagem, parte de um ritual
religioso ou cultural) e não está restrito a arrancar
casca de feridas ou roer as unhas.
Quadro clínico
Critérios diagnósticos propostos para
ALNS
5. O comportamento ou suas consequências causam
sofrimento clinicamente significativo ou interfere no
funcionamento interpessoal, acadêmico ou em outras
áreas importantes do funcionamento.

6. O comportamento não ocorre exclusivamente


durante episódios psicóticos, delirium, intoxicação por
substâncias ou abstinência de substâncias. Em
indivíduos com um transtorno do
neurodesenvolvimento, o comportamento não faz
parte de um padrão de estereotipias repetitivas. O
comportamento não é mais bem explicado por outro
transtorno mental ou condição médica.

A maioria dos critérios propostos são


válidos e descreve com precisão o
paciente típico que se envolve em
autolesão não suicida repetitivas.
Quadro clínico
Critérios diagnósticos propostos para
ALNS
Princípios gerais para tratamento

Todo paciente com ALNS precisa de tratamento?


NÃO.

Para quem o tratamento é indicado?


Para pacientes que apresentam:
Episódios múltiplos de autolesão não suicida
Um único episódio de autolesão não suicida que:
1. É usado como meio de lidar com sofrimento
significativo;
2. É clinicamente grave (por exemplo, corte com
lâmina de barbear);
3. Requer atenção médica (por exemplo, suturas).

A intervenção precoce é importante para


prevenir o reforço do comportamento habitual.
Princípios gerais para tratamento

Se não é indicado para todo paciente, o


que fazer com pessoas que…?

Apresentam um único episódio de ALNS que é


superficial (por exemplo, esfregar a pele contra
uma superfície áspera);
ALNS que não requer tratamento médico;
ALNS que surge como "curiosidade", em vez de
um meio de lidar com o sofrimento.

Embora não seja necessário um


tratamento mais intensivo, uma
abordagem prudente é a avaliação
com profissional da saúde mental e
observação vigilante.
Princípios gerais para tratamento

O que se deve esperar do tratamento?


A maioria dos pacientes que se envolve em ALNS
não são capazes de parar o comportamento de um
dia para outro. Os que tem maiores dificuldades são
os pacientes que recorrem a autolesão com
frequência.
A recuperação deve ser encarada como um
processo.
Como não ocorrerá de forma rápida, os objetivos
iniciais com o tratamento são:
Diminuir a frequência de ALNS;
Diminuir a gravidade da ALNS (por exemplo,
arranhões menores em vez de cortes);
Uso bem-sucedido de outras habilidades de
enfrentamento adaptativas quando surge
necessidade de autolesão.
Princípios gerais para tratamento

Qual deve ser a postura do profissional


diante de um paciente com ALNS?

O profissional deve:
Deve monitorar suas próprias respostas quando
atende um paciente com ALNS.
Deve evitar atitudes negativas, como irritação,
raiva e frustração, em relação aos pacientes que
se machucam.

Se o contato com o profissional for aversivo


(por exemplo, se o profissional fizer
julgamento), os pacientes podem descontinuar o
tratamento ou ficar relutantes em revelar a
autolesão no futuro.
Princípios gerais para tratamento

A família é importante no tratamento?

O tratamento da ALNS deve incluir os pais ou


responsáveis.
Há redução da ALNS quando a família está
presente e atuante no tratamento. Quando a família
não se faz presente, os resultados são
insatisfatórios.
Princípios gerais para tratamento

Se o paciente fala em ALNS, guardar ou


não o sigilo?

Antes de qualquer coisa, o profissional deve


conversar abertamente com o adolescente e
pais/responsáveis para definir os limites da
confidencialidade.
É importante isso ficar claro, pois os pacientes
podem relutar em revelar a natureza e a extensão de
sua ALNS, principalmente se tiverem dúvidas sobre
quais informações serão compartilhadas com seus
pais/responsáveis.
Princípios gerais para tratamento

Se o paciente pede para não contar aos


pais sobre a ALNS? O que fazer?

A decisão de concordar ou discordar desta


solicitação é baseada no julgamento do profissional
em relação ao risco que o comportamento
representa.

DICA:
Compare com outros comportamentos de risco à
saúde, como uso de álcool, uso de outras drogas e
atividades sexuais de risco.
Princípios gerais para tratamento

Se o paciente fala em ALNS, guardar ou


não o sigilo?

Estão envolvidos na decisão de informar os pais


sobre a ALNS do paciente os seguintes fatores:
Frequência do comportamento;
Métodos que são usados;
Gravidade médica da automutilação;
Quantidade de angústia que está gerando o
comportamento;
Grau de deficiência funcional que está presente;
Presença de psicopatologia, ideação suicida e/ou
comportamento suicida.
Princípios gerais para tratamento

Se o paciente fala em ALNS, guardar ou


não o sigilo?

O profissional deve quebrar o sigilo quando:


A ALNS é frequente (por exemplo,
semanalmente);
Está aumentando em gravidade da ALNS;
A ALNS está ocorrendo com pensamentos e
comportamentos suicidas.
Princípios gerais para tratamento

O profissional tem que quebrar o sigilo, e


agora?
A maneira como o profissional diz aos pais deve ser
discutida com o adolescente para manter um bom
relacionamento.
O adolescente pode escolher como os pais serão
informados:
O profissional diz aos pais sem a presença do
adolescente e decide com antecedência com o
adolescente o que o profissional planeja dizer aos
pais.
O profissional diz aos pais com o adolescente
presente para que o adolescente possa esclarecer
quaisquer pontos conforme desejado.
O adolescente diz aos pais com o profissional
presente para que o profissional possa garantir que
as informações corretas sejam transmitidas aos pais.
Princípios gerais para tratamento

O profissional tem que quebrar o sigilo, e


agora?

Em alguns casos, os profissionais podem acatar o


pedido do jovem de não revelar a ALNS a seus pais.

Exemplo:
Um adolescente que se envolveu em ALNS uma ou
duas vezes, usando um único método que levou a
autolesão superficial e não exigiu atenção médica, e não
relata pensamentos ou comportamentos suicidas
concomitantes.
Princípios gerais para tratamento

Onde fazer o tratamento, internado ou não?

As decisões sobre o atendimento adequado baseiam-


se em:
Garantir a segurança do paciente;
Manter o mais alto nível de funcionamento nas
esferas escolar/profissional, social e familiar.

O nível de cuidado (ambiente) para o tratamento de


ALNS depende de:
Apoio familiar;
Disponibilidade de recursos;
Frequência e gravidade médica do comportamento
autolesivo;
Coocorrência de pensamentos e comportamentos
suicidas.
Princípios gerais para tratamento

Onde fazer o tratamento, internado ou não?

A maioria dos pacientes que não apresentam risco


moderado, alto ou iminente de suicídio receberá
atendimento ambulatorial para autolesão não suicida.

A internação hospitalar pode ser indicada para


pacientes envolvidos em ALNS que:
Causam danos corporais graves a si próprios (por
exemplo, requerem atenção médica, como sutura);
Não pode ser monitorado adequadamente em casa;
Apresentam sintomas psiquiátricos concomitantes
que podem ser um risco para a segurança do
paciente ou de outros (por exemplo, agitação,
agressão ou violência severa; ou sintomas
psicóticos).
Princípios gerais para tratamento

Onde fazer o tratamento, internado ou não?

Deve ser evitado hospitalizações desnecessárias, pois


podem tornar os pacientes relutantes em revelar a
ALNS no futuro e, assim, impedir que os pacientes
recebam os cuidados adequados.

Exemplo:
Se a ALNS ocorre um única vez, sem sintomas
moderados ou graves, como agressão ou psicose, e sem
planejamento suicida, a internação hospitalar geralmente
não é necessária.
Princípios gerais para tratamento
Como motivar o paciente a querer parar
de se envolver em ALNS?
Os pacientes podem ter pouca motivação para iniciar
o tratamento que visa interromper o comportamento de
autolesão. Portanto, conduzir os pacientes para mudança
pode ser desafiador.
Uma estratégia poderosa nesse processo é a
entrevista motivacional.
Objetivos da entrevista motivacional:
Ajudar os pacientes a reconhecer sua ambivalência
quanto ao envolvimento em ALNS;
Aumentar sua motivação para mudar seu
comportamento;
Ajudá-lo a se engajar na terapia.
Princípios gerais para tratamento

Como motivar o paciente a querer parar


de se envolver em ALNS?
Princípios gerais para tratamento

Como motivar o paciente a querer parar


de se envolver em ALNS?
Como deve ser a abordagem:
Deve ser feita uma exploração empática e sem
julgamento, avaliando as vantagens e desvantagens
de permanecer na ALNS versus mudar.
Deve ajudar o paciente a destacar suas razões para
mudar e aumentar o auto-reconhecimento de que
ele é capaz de mudar.
Princípios gerais para tratamento

Quantas sessões e quanto tempo dura


cada sessão?
O número de sessões varia (por exemplo, uma a
cinco sessões);
Cada sessão tem aproximadamente 60 minutos de
duração.

O que explorar nas sessões da entrevista


motivacional?
Consequências físicas, psicológicas e sociais da
ALNS;
Prós e contras da ALNS;
Valor e significado da ALNS na vida do paciente;
Objetivos de vida do paciente;
Motivações para interromper a ALNS (benefícios
potenciais);
Princípios gerais para tratamento

O que explorar nas sessões da entrevista


motivacional?
Ambivalência e barreiras para impedir a ALNS;
Discrepância entre o estado atual de funcionamento
do paciente e o estado futuro desejado.

O que fazer quando o paciente estiver


numa crise?
O profissional deve desenvolver um plano de
segurança individualizado (também chamado de
plano de resposta à crise) para ajudar a aumentar a
segurança do paciente.

Usar um plano de segurança é uma prática recomendada


para pacientes que se envolvem em ALNS.
Princípios gerais para tratamento
O que fazer quando o paciente estiver
numa crise?
Os principais elementos do plano de segurança:
Identificar sinais de alerta e antecedentes (gatilhos)
para o envolvimento em ALNS;
Desenvolver estratégias para lidar com a
necessidade de se ferir;
Desenvolver atividades para ajudar a relaxar ou se
distrair, como fazer exercícios, ouvir música, escrever
um diário e ler quando vier o desejo de autolesão;

*Estratégias podem incluir mudar o ambiente para


estar perto de pessoas e ir a lugares que
proporcionam distração (sem dizer aos outros que
se está tendo o desejo de se machucar).
Princípios gerais para tratamento
O que fazer quando o paciente estiver
numa crise?

Outros elementos do plano de segurança são:


Trabalhar recursos humanos que os pacientes
podem usar quando se sentem inseguros (como ligar
para um familiar, amigo ou ir a um serviço de saúde
mental).
Manter o ambiente seguro, como livrar-se de
instrumentos que eles possam usar para se ferir.
Princípios gerais para tratamento

Necessidade de monitoramento

Peça aos pacientes para:


Manter um registro diário ou semanal de
pensamentos ou impulsos e comportamentos não
suicidas (incluindo frequência e métodos);
Registrar os antecedentes (por exemplo, emoções
negativas e conflitos interpessoais) dos episódios de
ALNS e as consequências dos pensamentos ou
impulsos e comportamento.
Identificar o uso de habilidades de enfrentamento
alternativas e adaptativas quando surgem impulsos
autolesivos.
Princípios gerais para tratamento

Por que fazer o automonioramento?


Ajuda a reconhecer quando a ALNS é mais provável
de ocorrer;
Ajuda a identificar a(s) função(ões) do
comportamento;
Ajuda a direcionar o tratamento de forma mais
eficaz para o paciente.

E se o paciente tiver outra doença?

O comportamento de ALNS geralmente ocorre no


contexto de transtornos psiquiátricos estabelecidos.
Nesses casos, tanto a ALNS quanto o transtorno
psiquiátrico devem ser tratados simultaneamente.
Prevenção e tratamento

O que fazer diante de tudo isso?


Como prevenir?
O primeiro passo é a prevenção.
Um dos locais possíveis de implementar programas
de prevenção de ALNS são escolas. Os objetivos desses
programas são:
Aumentar a conscientização sobre a ALNS;
Reduzir o estigma e encorajar os jovens a buscarem
a ajuda adequada de adultos e outras pessoas de
confiança.

Algumas estratégias para prevenir a ALNS:


Aumentar o conhecimento das habilidades de
enfrentamento adaptativas e estratégias de
regulação emocional (por exemplo, exercícios);
Melhorar as conexões sociais dentro da família,
escolas e comunidades;
Prevenção e tratamento

O que fazer diante de tudo isso?


Como prevenir?
Encorajar a busca de ajuda e a comunicação sobre
angústia e reforçar a necessidade de cuidados em
saúde mental;
Aumentar o conhecimento sobre ALNS entre
funcionários da escola, pais e outros que possam
identificar sinais de angústia;
A ALNS não deve ser exaltada e a discussão de
métodos ou formas específicas de se envolver em
ALNS deve ser limitada, especialmente entre
indivíduos que ainda não estão se engajando nesse
comportamento (risco de contágio social entre
adolescentes).
Prevenção e tratamento

O que fazer diante de tudo isso?


E o tratamento?

Infelizmente a maioria dos pacientes que se


envolvem em ALNS não procura tratamento por
diversos motivos como:
Medo de falar sobre ALNS e sofrer com o estigma
do comportamento;
Dúvida se o tratamento vai funcionar ou não;
A autolesão tem um função/motivação (como aliviar
uma angústia ou ansiedade), isso faz com que o
paciente não esteja motivado a buscar o tratamento.
Prevenção e tratamento

O que fazer diante de tudo isso?


E o tratamento?
Quando o paciente busca ajuda, o tratamento deve
incluir:
Educação de pacientes e familiares sobre ALNS (ou
seja, psicoeducação);
Conversa sobre a motivação para o tratamento;
Identificação e abordagem dos fatores cognitivos,
comportamentais e emocionais que desencadeiam e
mantêm a ALNS;
Avaliação da(s) função(ões) específica(s) do
comportamento.

Os antecedentes, consequências e função(ões)


identificada(s) da ALNS determinam o foco do
tratamento.
Prevenção e tratamento

O que fazer diante de tudo isso?

E o tratamento?
O profissional deve ensinar novas habilidades e
comportamentos para substituir a ALNS. Os focos são:
Novas formas de lidar com o sofrimento;
Estratégias para regular as emoções negativas;
Alcançar as consequências sociais desejadas.

Essas novas habilidades incluem:


Habilidades para resolver problemas;
Eficácia interpessoal e habilidades de comunicação;
Reestruturação cognitiva (por exemplo, mudança de
pensamentos negativos sobre si mesmo);
Mindfulness e treinamento de respiração;
Exercício;
Trabalhar a discrepância entre o comportamento
atual e o comportamento adequado para atingir
objetivos desejados.
Prevenção e tratamento
O que fazer diante de tudo isso?
E o tratamento?
Lembrar que o plano de tratamento deve ser
adaptado às necessidades específicas do paciente.
Exemplos:
Para adolescentes envolvidos em ALNS para regular
as emoções o tratamento pode incluir tolerância ao
sofrimento e habilidades de regulação de emoções, como
exercícios e atenção plena.
Para adolescentes que se envolvem em ALNS por
motivos mais sociais o tratamento pode incluir
habilidades de eficácia interpessoal, como habilidades de
comunicação e treinamento de assertividade.

Abordar a comunicação e funcionamento da família é


importante para tratamento. Lembrar que alguns
pacientes podem precisar aumentar o suporte não
familiar (principalmente se não houver apoio familiar).
Prevenção e tratamento

O que fazer diante de tudo isso?


E o tratamento?
Importante treinar os pais para ajudar no tratamento.
Não esquecer de tratar transtornos mentais
comórbidos (como transtornos de ansiedade, transtornos
depressivos e transtornos por uso de substâncias).
O tratamento principal da ALNS é psicoterapia!
Alguns pacientes envolvidos em ALNS, que não
respondem a várias tentativas de psicoterapia, podem
ser tratados com farmacoterapia adjuvante (como:
fluoxetina, sertralina, venlafaxina, aripiprazol).
Conclusão
A autolesão não suicida é um fenômeno cada vez
mais presente no nosso meio. É um comportamento
complexo que não possui uma origem única e está
associado a sofrimento e prejuízo.
Entender a complexidade de como se dá a origem e a
manutenção da ALNS é imperioso nos dias de hoje, pois
é através da compreensão de uma processo patológico
que o profissional fica apto a oferecer um tratamento
eficiente, capaz de retirar essas pessoas do sofrimento,
devolver a funcionalidade, fornecer um tratamento
individualizado e, o mais importante, um tratamento
humanizado.
Que você aplique esse conhecimento! Grande abraço!
Referências bibliográficas
1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5.
Porto Alegre: Artmed, 2014.
2. GLENN, Catherine; NOCK, Matthew K. Nonsuicidal self-
injury in children and adolescents: Epidemiology and risk
factors. UpToDate. 2021.
3. GLENN, Catherine; NOCK, Matthew K. Nonsuicidal self-
injury in children and adolescents: Pathogenesis. UpToDate.
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4. GLENN, Catherine; NOCK, Matthew K. Nonsuicidal self-
injury in children and adolescents: Clinical features and
proposed diagnostic criteria. UpToDate. 2021.
5. GLENN, Catherine; NOCK, Matthew K. Nonsuicidal self-
injury in children and adolescents: Assessment. UpToDate.
2021.
6. GLENN, Catherine; NOCK, Matthew K. Nonsuicidal self-
injury in children and adolescents: General principles of
treatment. UpToDate. 2021.
7. GLENN, Catherine; NOCK, Matthew K. Nonsuicidal self-
injury in children and adolescents: Prevention and choosing
treatment. UpToDate. 2021.

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