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2019

2020

Psicologia do
Comportamento
Desviante
PROF. ANA CRISTINA PESTANA NEVES
LICENCIATURA EM PSICOLOGIA

Catalina Ifrim
Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

DESVIO E NORMA
Comportamento desviante: Comportamentos do ponto vista social vão contra ao que se espera das
pessoas. Este comportamento desviante é algo que foge à norma, que pode ser uma norma social
ou uma norma legal.
Desvio: a definição de comportamento desviante não é linear – envolve um elevado grau de
relativismo e é ambígua.
Norma (podem ser formais ou informais):

 Regras
 Prescrições
 Expectativas (aquilo que os outros esperam que façamos)
 Universais? – não são, elas diferem consoante os países, grupos
“O estudo do comportamento desviante é provavelmente o tema mais desviante de todos os temas
em Sociologia” – Thio, 2012
Definições possíveis…

 Perspetivas tradicionais
 Perspetivas modernas
 Positivistas
 Construtivista

PERSPETIVAS TRADICIONAIS

Desviante = Que viola as normas ou as expetativas sociais


Desviante = Que viola as normas ou as expectativas sociais e que suscita a reprovação ou
indignação dos outros

 Assumem a desviância como um facto intrinsecamente real, objetivo e produto de uma


causalidade.
 Esta perspetiva é considerada positivista.
Positivismo:
 Absolutismo – o comportamento desviante é algo real, existe. Há atos que são
intrinsecamente desviantes, são uma classe de comportamento diferentes dos outros,
independentemente da intenção.
 Objetivismo – o comportamento desviante é algo que é observável, pode ser estudado,
analisado. Investigadores usam o método científico para estudar este tipo de
comportamentos.
 Determinismo – noção de causalidade, ideia de que existem fatores que determinam a
ocorrência dos comportamentos desviantes.

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

PERSPETIVAS MODERNAS

Desviante = aquilo que as pessoas consideram como tal

 As perspetivas modernas dizem que a forma tradicional está muito imbuída do que é certo
ou errado
 O que interessa é a reação social, e não comportamento. O que interessa é que alguém em
determinado momento considere que o comportamento seja desviante.
 Não há atos intrinsecamente desviantes.
 Estudar a perceção social acerca desse comportamento.
“A sociedade não tem os desviantes que “merece”, mas sim os que quer.” (Figueiredo Dias, 1983)

 Esta perspetiva é considerada construtivista


Construtivismo:
 Relativismo – a desviância não é real, depende daquilo que as pessoas consideram. É uma
construção social.
 Subjetivismo – importância à experiência subjetiva da pessoa que é considerada desviante.
Não faz muito sentido estuar grandes grupos de pessoas, mas compreender cada caso em
particular, as causas e consequências para essa pessoa ter o rotulo de desviante.
Abordagem individualizada a cada uma das pessoas consideradas desviantes
 Voluntarismo – oposto ao determinismo, uma vez que aqui considera-se que os
comportamentos que são suscetíveis de serem desviantes são um ato voluntario, uma
escolha da pessoa. Procuram os significados que as pessoas consideradas desviantes
atribuem aos seus comportamentos.

PERSPETIVAS TRADICIONAIS E MODERNAS – CONTRADITÓRIAS OU COMPLEMENTARES?

Elas podem ser complementares.

perspetivas perspetivas
O comportamento desviante é qualquer comportamento (ideia tadicionais modernas
ou atributo) que envolve uma violação das normas e
expectativas sociais ou que é considerado desviante por um
grupo de indivíduos ou pela comunidade, nos quais suscita positivitas construtivistas
um julgamento de reprovação ou desvalor e que pode resultar,
se detetado, em situações negativas (formais ou informais). –
Carvalho (1990); Clinard & Meier (2011)
Não devemos, contudo, deixar de aceitar uma definição unívoca e integração?
rigorosa do conceito poderá ser impossível pois o que caracteriza a
desviância é precisamente o seu caracter impreciso e ambíguo.

 Desviância de alto consenso (fenómenos considerados desviantes de forma quase


universal: o crime) – positivismo
 Desviância de baixo consenso (será que é desviante, será que não é?: a prostituição, a
homossexualidade) – construtivismo

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO DESVIANTE


PSICOLOGIA: POSITIVISTA OU CONSTRUTIVISTA?

A psicologia assume uma natureza tradicionalmente positivista, mas reconhece o construtivismo da


conceptualização da desviância e, principalmente, no reconhecimento das consequências da
construção social de desvio.
Esta área é um domínio teórico-prático de confluência e integração de vários campos da psicologia
(psicologia do desenvolvimento, psicologia social, psicologia comunitária, psicopatologia, psicologia
clínica – intervenção, psicologia da aprendizagem, psicologia criminal, psicologia educacional).
O meio escolar é muito importante para o desenvolvimento de comportamento desviante, o grupo
de pares, a aprendizagem social.
Cândido da Agra – Universidade do Porto (anos 80): “O carácter vago do conceito de desviância
torna-o inclusivo.”

DAS CONDUTAS MARGINAIS ÀS CONDUTAS DESVIANTES, ANTISSOCIAIS, DELINQUENTES


E CRIMINAIS

Comportamento delinquente/criminal
Delinquência juvenil – atos cometidos por um individuo abaixo da idade de responsabilidade
criminal e tipificados na lei penal como crime.
Comportamento criminal – adultos

Comportamento antissocial
Padrão estável de desrespeito pelos direitos dos outros ou de violações das normas sociais
próprias de determinada comunidade (Fonseca, 2000).
Comportamento que infringe as regras sociais e/ou seja uma ação contra os outros,
independentemente da sua gravidade (Pimentel, 2001).

Comportamento desviante
Qualquer comportamento (ideia ou atributo) que envolve uma violação das normas e expectativas
sociais ou que é considerado desviante por um grupo de indivíduos ou pela comunidade, nos quais
suscita um julgamento de reprovação ou desvalor e que pode resultar, se detetado, em sanções
negativas.
 Perturbação do Comportamento
 Perturbação Antissocial da Personalidade

Todos os delinquentes têm perturbação do comportamento? Todos os criminosos têm perturbação


antissocial da personalidade? Não.

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

O COMPORTAMENTO DESVIANTE NO QUADRO DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

Desenvolvimento
 Dá-se por etapas
 O comportamento desviante/antissocial é frequente no decurso de um desenvolvimento
normal
 Adolescência (onde o desvio é suposto ocorrer, na própria construção da identidade o
desvio é importante, na contradição às regras dos pais na tentativa de afastamento da
autoridade dos pais em busca de autonomia, forma de impor a individualidade
 Comportamentos desviantes na adolescência – “formas experienciais de auto-
organização (…)” (Da Agra, 1986)

O desenvolvimento do comportamento delinquente – Tipologia de Moffitt:


 Delinquentes limitados à adolescência (DLA)
 Delinquentes ao longo da vida (DLV)

Pré - adolescência Adolescência

Rejeição pelos
Pares
Problemas da
criança Ligação a grupos
Disciplina e
com
acompanhamento Insucesso Escolar Delinquência
comportamentos
parentais deficientes
Delinquentes ao Longo da Vida (DLV) delinquentes
 Um pequeno grupo de delinquentes (5%) que é responsável por uma grande percentagem
dos crimes cometidos (50 a 60%)
Rotulagem pelos
 Criados em famílias mal preparadasProfessores
para efetuar uma eficaz socialização; abandono
escolar precoce; défices neuropsicológicos; baixo autocontrolo (antes dos 3 anos)
 O reportório criminal pode incluir todo o tipo de atos delinquentes, incluindo a violência
Delinquentes Limitados à Adolescência (DLA):
 Pseudomaturidade
 Desenvolvimento “saudável” antes da fase da delinquência
 Tendência a aceitar valores não convencionais; pares delinquentes
 Atos delinquentes não violentos, geralmente patrimoniais e que simbolizem um determinado
estatuto ou autonomia face aos pais

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Fatores de risco Idade de maior incidência


Pais biológicos com história criminal
Fatores Temperamento difícil: enérgico,
0-3 anos
Predisposicionais impulsivo, procura de sensações
Défices neurofisiológicos
Baixo QI verbal/ poucas
competências verbais
Inteligência Pensamento concreto, egocêntrico, 2-7 anos
raciocínio moral atrasado
Competências interpessoais pobres
Negligencia emocional- fraca
vinculação
Monitorização e supervisão pobres
Fatores Familiares 8aprendizagem de comportamentos 0-7 anos
agressivos/ disruptivos e
incapacidade de adquirir
verbalizações anti criminais)

Ausência de compromisso com a


escola
Fatores Escolares 5 anos – adolescência
Insucesso escolar
Desistência

Apoio social para o comportamento


antissocial
Pares Antissociais Adolescência
Aprendizagem de atitudes
antissociais

Perante um jovem que exibe condutas delinquentes, como saber:


 Se essas condutas são apenas a expressão de uma fase de desenvolvimento?
 Se configura um quadro de DLA ou DLV?
 Qual o risco de continuidade da atividade delinquente?

Precocidade

Persistência Fatores de risco

Impacto Variedade Tipo/gravidade

 O comportamento antissocial pode apresentar características diferentes na infância,


adolescência ou vida adulta
 O desvio tem uma função individual
 Conhecer as mudanças desenvolvimentais no comportamento antissocial traz inúmeras
vantagens

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

TEORIAS EXPLICATIVAS DO COMPORTAMENTO DESVIANTE

Rotulação (Becker,
Anomia (Merton) Lemert)
Subculturas delinquentes Desorganização Social
(Cohen) (Shaw e McKay)
Associação diferencial Aprendizagem social
(Sutherland) (Bandura)
Controlo socia (Hirshchi) Neutralização (Skyes e
Sociedade
Matza
Atividades rotineiras Comunidade
(Cohen e Feison) Personalidade (Eysenk)
Grupos proximais
Escolha racional (Clarke e Indivíduo Psicopatologia
Cornish)
Situação Fatores biológicos
Crime

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

ABORDAGENS BIOLÓGICAS – PERSONALIDADE, BIÓTIPOS E DELINQUÊNCIA

Natura (o que é biológico) vs. Nurtura (o que é adquirido)


Principais referências teóricas e empíricas:
1536: Giambattista della Porta – Fisiognomonia. Este senhor estudava cadáveres dos criminosos e
chegou à conclusão que os criminosos tinham traços fisionómicos diferentes. Concluiu que os
ladrões tinham os lábios mais carnudos e os olhos maiores, para ter uma visão apurada.
1791-1825: Franz Gall e John Spurzheim – Frenologia e Antropometria. Cada zona do crânio era
responsável por uma característica da personalidade. Concluíram que as zonas cranianas que
estão associadas a características primitivas, eram mais desenvolvidas nos criminosos
(agressividade, insensibilidade, brutalidade). Desenvolveram uma ferramenta, parecido a um
compasso, para medir o crânio e poder tirar conclusões sobre os aspetos da personalidade.
1876: Cesare Lombroso (L’uomo delinquente) – Atavismo e Antropologia Criminal. Fazia
comparações sistemáticas entre indivíduos que tinham cometido crimes e pessoas que não tinham.
Queria encontrar provas de que o comportamento criminal era inato. Os criminosos tinham uma
aparência mais primitiva (associavam-se aos macacos ou chimpanzés), eram as pessoas Atávicas
porque nasceram com um retrocesso na evolução, e tinham mais dificuldade em controlar os seus
impulsos, menos racionais.
1949: William Sheldon – Somatótipos e Constitucionalismo – indivíduos endomórficos,
mesomórficos e ectomórficos. Estas constituições físicas representavam traços da personalidade.
Os mesomórficos (atléticos) eram os mais predispostos à criminalidade. Sheldon comparou a
constituição física de jovens problemáticos com a constituição física de estudantes e chegou a
essa conclusão.

Implicações:
 Criminosos – “má índole”, “maus instintos”. A “cura” se não impossível, era pelo menos
muito difícil.
 Consequências à data – se a principal causa dos comportamentos criminosos residia em
características inatas e hereditárias…
Críticas:
Validade dos estudos
 Controlo de outras variáveis (e.g., Vold, et al., 1998)
 Amostras
 Instrumentos
 Falsificação Descredito da “biologia do crime” (anos 50/60)

Anos 80 – reavivar dos estudos em torno das relações entre os fatores biológicos e a delinquência.

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

Consequências que perduram?


1980: Stewart, J. verifica a existência de uma forte relação entre a forma como 67 arguidos (de um
total de 73 estudados) foram categorizados por observadores em termos de aspeto físico e a
duração das respetivas sentenças – quanto mais atraente o arguido, menos severa era a sentença.
1985: Kerr, N. et al., demonstram que vitimas fisicamente pouco atrativas tendiam a afetar a forma
como jurados simulados (americanos e britânicos) avaliam a conduta e a culpa de presumíveis
agressores.
1988: Saladin, M., Saper, Z. e Breen, L. demonstram, através do recurso a uma amostra de 68
sujeitos, que pessoas fisicamente pouco atrativas não percecionadas ais facilmente como
prováveis autoras de crimes violentos (homicídio, roubo).
1988: Esses, V. e Webster, C., também demonstram, através do recurso a uma amostra de 284
sujeitos, que pessoas fisicamente pouco atrativas são percecionadas mais facilmente como
prováveis autoras de crimes violentos, porque mais incapazes de controlar os seus próprios
comportamentos.

EXPLICAÇÕES GENÉTICAS E ORGÂNICAS


 Estudos com gémeos
 Estudos com sujeitos adotados
 Estudos cromossómicos

Estudos com gémeos


Gémeos monozigóticos (MZ) “verdadeiros” // Gémeos dizigóticos (DZ) “falsos”. Suspeita-se que há
uma influência genética no comportamento criminal.
Hereditariedade ou meio? Estudos que ainda carecem de validade.

Estudos com adotados


Identificar os pais das crianças adotadas. Comparar o comportamento criminal dos pais biológicos
com o dos seus filhos.
 Kety, Rosenthal, Wnder e Shulsinger (1968). Estudo longitudinal de 23 anos. Neste estudo
chegou a conclusão que a taxa de condenações entre os pais biológicos e os filhos que
tinham sido adotados, no sexo masculino, é mais alta do que com os pais adotivos, o
mesmo acontece com o sexo feminino (mães-filhas; pais-filhos).
 Raine (1993). Estudo de revisão.

Estudos cromossómicos

 Duplo cromossoma Y mais frequente em pessoas com comportamento antissocial,


agressivo ou violento (Jacobs et al., 1965; Nielsen, 1970, 1971).

Causas Genéticas:

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

 Haverá um gene responsável pelo comportamento criminal?

Causas Orgânicas:

 Maior acessibilidade à experimentação


 Neurobiologia- e.g., Adrian Raine

Efeitos Negativos no Funcionamento Cerebral:

 Complicações perinatais
 Interagem com a rejeição maternal

Fatores Pré-natais – comportamentos que as mãe tem durante a gravidez e que tem impacto na
criança:

 Consumo de nicotina durante a gravidez


 Consumo de álcool durante a gravidez – síndrome alcoólico fetal
 Má nutrição durante a gravidez

Baixa Ativação do SNA:

 Baixo ritmo cardíaco: O melhor correlato de comportamento antissocial em crianças e


adolescentes
 Condicionamento da respostas de medo/ansiedade: Baixa atividade eletrodérmica em
sujeitos antissociais

Anomalias cerebrais

 Raine et al (1994) – homicidas têm baixo funcionamento do lobo frontal (PET).


 Yang & Raine (2009) – défices estrutura e funcionamento cerebral (lobo frontal) têm um
efeito médio no comportamento antissocial
 Raine et al (2010) – mau funcionamento do sistema límbico mais prevalente entre pessoas
com comportamentos criminais/psicopatia/PAS
 Yang et al. (2009) – deformações estruturais na amígdala dos psicopatas
 Estrutura envolvida na resolução de dilemas morais – processamento emocional (Glenn et
al., 2009).
Outras evidências, outros fatores

 Estudos com EEG – Traço mais lento das ondas alfas


 Fatores bioquímicos ou farmacológicos
 Hipoglicémia
 Níveis altos de testosterona
 Consumo de álcool e outras drogas
 Problemas nos neurotransmissores cerebrais

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 Disfunções/lesões cerebrais

ABORDAGENS BIOLÓGICAS
Já não há teorias biológicas…
Não se deve descurar a possibilidade de existir uma condição neurofisiológica subjacente ao
comportamento criminal (e.g. lesão, tumor, degeneração cerebral).

ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS
A sociedade como unidade de análise.

Teoria da Anomia (strain)


R. Merton (1938) – anomia social estrutura
Desfasamento entre a estrutura cultural e a estrutura social (desigualdade sociais)

 Crime; Crime = resposta de inovação perante uma situação de anomia social

Contributos:

 Papel das desigualdades sociais na desviância;


Maior incidência de atos criminais em estratos desfavorecidos da sociedade.

Limitações:

 Apenas explica a desviância em classes sociais desfavorecidas


 Não explica porque nem todas as pessoas sujeitas a esta tensão social enveredam pelo
crime
 Haverá padrões universais que distinguem o que são meios legítimos e ilegítimos?
 Verifica-se que as pessoas que cometem crimes são as que têm menos aspirações
convencionais
 Explicação simplista, que ignora processos de influência interrelacional

Teoria da Rotulação (Labelling)


Perspetiva interacionista/de reação social
Becker (1963) – outsiders. São os grupos sociais que criam o desvio.
Lemert (1951; 1972) – Desviância primária  Reações sociais/formais cumulativas vão alimentar o
processo de desviância secundária.

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Contributos:

 Efeitos criminógenos do estigma


 Processo de interação desvio- reação social
 Alarga o foco a várias áreas do desvio

Limitações:

 Não explica a desviância primária, conceção passiva do desviante


 Foco quase exclusivo nas agências formais como agentes de rotulação (e.g., ignorando
grupos sociais proximais)
 A continuidade do comportamento desviante pode ocorrer sem que haja estigmatização por
parte das instâncias formais de controlo e vice-versa
As comunidades como Unidade de Análise

Teoria da Desorganização Social


Perspetiva ecológica/criminologia ambiental.
Escola de Chicago
“Guetos” – zona na periferia das cidades marcadas por altos níveis de criminalidade. São
caraterizados por uma grande diversidade de cultura, pobreza, violência, elevado nível de
desorganização (poucas respostas sociais nomeadamente para as crianças; o próprio espaço
muito degradado e pouco cuidado).
Há uma constatação que o crime se torna mais elevado em algumas zonas das cidades.

Shaw e McKay (1931):

 O número de registos policiais era superior em bairros de mudança populacional rápida,


condições habitacionais deficientes, pobreza, criminalidade entre a população adulta e
outras problemáticas sociais
 As taxas de delinquência diferiam marcadamente entre bairros específicos – mais elevadas
perto de áreas industriais e de zonas deterioradas periféricas ao centro da cidade
 Bairros de elevada desorganização social
 Alienação das crianças dos seus pais e de instituições adultas – desligamento dos controlos
sociais convencionais que normalmente produzem a conduta conformista
 Instituições tradicionais incapazes de manter a solidariedade social e de promover a defesa
e transmissão de valores convencionais – Tradição delinquente

Contributos:

 Circunscreve-se à realidade urbana


 Aplica-se bem à delinquência juvenil e crimes contra o património

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 Foca-se na delinquência em classes desfavorecidas


 Ajuda a compreender a distribuição diferencial das taxas de criminalidade em termos
geográficos

Limitações:

 Não explica crime em meios rurais, pequenos


 Não se aplica à criminalidade adulta e violenta
 Não explica criminalidade na classe média e alta
 Não explica os processos etiológicos (e.g., por que num mesmo meio, umas pessoas
cometem delitos e outras não?)

Teoria(s) das Subculturas Delinquentes


Cultura
Sub-cultura (cultura dentro de outra; em que os padrões da subcultura são diferentes dos padrões
da cultura; podem existir a vários níveis).

Cohen (1955) – Delinquent Boys: The culture of the gang:

 Interiorização de valores e as regras de conduta emergentes da subcultura delinquente


 Sub-cultura delinquente – Resposta coletiva às experiências de frustração nas tentativas de
aquisição de estatuto no contexto da sociedade (nomeadamente em meio escolar)
 Padrões desviantes próprios
 Procura de estatuto entre os pares (e.g. pela violência)

Sub-cultura delinquente:

 Não utilitária
 Maliciosa
 Destrutiva
 Ambivalente
 Hedonista
 Cultura de grupo

Contributos:

 Contexto cultural (padrões, normas) dos delinquentes


 Alarga as motivações para o crime
 Explica algumas formas de crime violento

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Limitações:

 Foca-se na delinquência juvenil (gangs)


 Explica melhor a etiologia das subculturas do que do comportamento criminal propriamente
dito
Os grupos como unidade de análise
– Interação do indivíduo com o seu grupo –

Teoria da Associação Diferencial


Sutherland (1937); Sutherland e Cressey (1970)
Os efeitos de situações de desorganização social (ou organização social diferencial) são medidos
pela existência ou não de associações diferenciais

 O comportamento criminal é aprendido


 Aprendizagem  aproximação de relações que servem como modelos para a delinquência
+ distanciamento de relações que sirvam de modelos normativos
 A pessoa torna-se delinquente quando há um excesso de definições favoráveis à violação
da lei em detrimento das definições desfavoráveis à violação da lei

Contributos:

 Explica a criminalidade em várias classes sociais


 Reconhece que todas as pessoas estão expostas a influências desviantes e normativas
 Explica a etiologia e a epidemiologia do comportamento criminal

Limitações:

 Aplicabilidade sobretudo à criminalidade resultante da pressão grupal


 Só prevê uma relação unidirecional pares  delinquência, mas há fenómenos de influência
mútua (reforço)
 Não explica os processos de aprendizagem da delinquência (porque o processo é
psicológico)

Teorias da Aprendizagem
Aprendizagem Social (e.g. Sutherland e Cressey)  Teorias Sociológicas (Psicossociais)
Aprendizagem Social Cognitiva (e.g. Bandura, Burgess & Akers)  Teoria Psicológica
(Psicossocial)
Teoria da Aprendizagem Social Cognitiva (e.g. Bandura, 1973):
Pressupostos:

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 Os comportamentos delinquentes tendem a ser aprendidos através dos mesmos processos


e mecanismos psicológicos que estão envolvidos na aprendizagem de qualquer outro tipo
de comportamento

 O comportamento é adquirido graças a reforços que seguem os comportamentos,


salientando-se a importância dos reforços simbólicos e sociais

 Observação (As crianças e jovens tendem a aprender através da imitação e da


identificação. Consequentemente, os comportamentos são transmitidos e aprendidos
através de modelos presentes na família, na escola, nos meios de comunicação social ou
em grupos de pares); Modelagem e aprendizagem vicariante

 Experiência direta (Comportamentos violentos tendem a ser aprendidos em contextos


particularmente violentos e como forma de defesa relativamente a esses mesmos
contextos)

 Reforço/Motivação (A emergência, desenvolvimento e persistência de comportamentos


delinquentes dependem da forma como os mesmos tendem a ser valorizados e
recompensados, ou rejeitados e punidos, pelos “outros” mais importantes e significativos);
Reforços externos, reforço vicariante e reforço interno (auto-reforço)

Teoria do Controlo/Teorias do Controlo Social


Porquê que nem todas as pessoas cometem crimes?
Quais são as forças que controlam a propensão comum para o crime?
Teoria do Vínculo Social (Social Bond Theory) – Hirschi (1969):
 A maioria dos jovens incorreria em comportamentos delinquentes se não fosse restringido
pelos seus laços (vínculos aos nossa família, amigos; vínculo à escola, ao trabalho) aos
outros
 A conformidade é produto do controlo social
 O desvio surge na ausência de controlo ou contenção dos instintos naturais para a
desviância – enfraquecimento dos laços/vínculos que unem o homem à sociedade

 Vínculo social – 4 componentes:


 Attachment – Vinculação aos outros
 Commitment – Identificação e compromisso com valores convencionais
 Involvement – Participação em atividades sociais convencionais
 Beliefs – Interiorização das normas convencionais e crença na justiça das
convenções

Hirschi (1969); Caplan & LeBlane (1985):

 Os jovens que demonstram um vínculo consistente com os pais delinquem menos


 Os delinquentes mais jovens mantêm relações interpessoais escassas ou distantes
 Comportamentos que demonstram que um indivíduo partilha valores convencionais estão
associados a comportamento não criminal

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 Jovens que participem em atividades convencionais estão menos implicados em atos


delinquentes
 Delinquentes e não delinquentes partilham crenças semelhantes sobre a sociedade, mas os
primeiros exibem menos atitudes positivas face à conformidade

Principais fatores de resistência a opções delinquentes:

 Vinculação e envolvimento do jovem com instituições tradicionais (família, escola, trabalho)


 Intensidade da supervisão que estas podem exercer
São aspetos são aplicáveis a todas as classes sociais.

Contributos:

 Interdisciplinaridade (Dias & Andrade, 2011)


 Ideia de que qualquer um pode ser desviante (Gonçalves, 2008)
 Aplica-se a várias formas de desviância
 Princípios servem de base para a análise de fatores de desistência ou de proteção

Limitações:

 Estudos demonstram que as pessoas têm diferentes graus de motivação/propensão para o


crime
 Mais aplicável/estudada na delinquência juvenil do que na criminalidade adulta

Teoria Geral do Crime – Gottfredson e Hirschi (1990):


As restrições que impedem a pessoa de cometer crimes podem ser de ordem social ou pessoal
Autocontrolo = capacidade de autocontenção, portanto a tentação de exibir comportamentos
desviantes

Baixo Autocontrolo:

 Agem sem pensar


 Não planeiam a médio e longo prazo
 Gratificações imediatas
 Atividades de risco
 Dificuldade em controlar a raiva
 Baixa motivação e ambição (“lei do menos esforço”)
 Insensibilidade
Alto Autocontrolo

 Avaliam os riscos do seu comportamento


 Planificam as suas ações

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

 Capazes de adiar a gratificação


 Prudentes
 Procuram atingir os seus objetivos mediante esforço pessoal
 Estipulam e ambicionam objetivos a longo prazo
 Não são indiferentes ao sofrimento dos outros
O autocontrolo é uma característica que se manifesta desde uma idade muito precoce (os autores
defendem que há uma base biológica sobre o autocontrolo)
O nível do autocontrolo é estável ao longo da vida (contudo os autores referem que há margem
para corrigir o baixo autocontrolo)
O controlo exercido pela família nos primeiros anos de vida é largamente responsável pelo
reconhecimento e correção do fraco autocontrolo – práticas parentais socializadoras
Para que ocorra comportamento desviante, tem que existir oportunidade
O cometimento de crimes por pessoas com baixo autocontrolo perante uma oportunidade é uma
escolha racional que visa ganhos imediatos

Contributos:

 Aplica-se a várias formas de comportamento desviante


 O autocontrolo é uma das variáveis mais associada empiricamente ao comportamento
desviante
 Reforça a importância da família na interiorização de normas
 Integra várias teorias

Limitações:

 O autocontrolo não é o único fator que influencia o comportamento desviante


 O autocontrolo não é apenas influenciado pelas experiências familiares
 O autocontrolo não é necessariamente estável ao longo da vida – resultados contraditórios
 Sobreposição conceptual entre autocontrolo e desvio

ABORDAGENS PSICOLOGICAS
As teorias psicológicas do comportamento criminal foram, durante muito tempo, rejeitadas pela
criminologia.
 Ênfase mais dada num nível descritivo individual.
 Conotação psicopatológica e biológica
As teorias clássicas da psicologia “pura” deram lugar a abordagens psicossociais.
 Modelos teóricos.
 Variáveis especificas.

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Teorias da personalidade

Teoria de Eysenck (1964, 1968)


Extroversão/introversão
Neuroticismo/estabilidade
Personalidade e crime: A delinquência está associada à extroversão e ao neuroticismo porque
aliam dificuldades de condicionamento a uma labilidade emocional exagerada – os menos
socializados.
Psicoticismo: Fortemente associado ao cometimento de crimes, especialmente aqueles que
envolvem a hostilidade face aos outros – psicopatas. Pessoas com tendências
antissociais/violentas => altos níveis de psicoticismo, extroversão e neuroticismo.

Contributos

 Revela a importância dos traços de personalidade numa maior predisposição para o


comportamento criminal.
 Perspetiva interativa de fatores biológicos, ambientais e personalidade.
 Resultados empíricos apoiam a importância do psicoticismo e do neuroticismo.

Limitações

 Implica a aceitação de uma conceptualização da personalidade em termos de traços


disposicionais.
 Resultados empíricos pouco consensuais, nomeadamente sobre a extroversão.
 Não tem em conta outras dimensões da personalidade.

Variáveis da personalidade

G. Waldo e S. Dinitz (1967) efetuaram uma revisão dos estudos realizado entre 1950 e 1965 e
verificaram que alguns dos mesmos haviam conseguido isolar diferenças muito significativas entre
as personalidades de sujeitos com e sem envolvimentos persistentes em comportamentos
delinquentes ou criminosos.
 Elevada imaturidade para a idade
 Elevada impulsividade
 Reduzida tolerância à ansiedade e à frustração
 Elevada tendência para reduzir quase todos os aspetos da vida a questões físicas e
materiais
 Elevada hostilidade e agressividade
 Elevado auto-centramento (egocentrismo) e um reduzido respeito pelo “outro”
 Elevado irrealismo ou incapacidade para percecionar desajustamentos entre meios e fins
 Elevada tendência para resolver toos os problemas de uma mesma forma, ou seja, uma
elevada incapacidade de aprendizagem e de adaptação a diferentes situações
Dimensões que outros autores consideram que levam a comportamentos desviantes:
 Hiperatividade/impulsividade (Henry et al. 1993; White et al., 1994).

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

 Baixa inteligência (verbal) (Denno, 1990; Wilson & Herrnstein, 1985).


 Défice de empatia – cognitiva e emocional (Jolliffe & Farrington, 2004).

Psicopatologia e comportamento criminal

A prevalência das perturbações mentais entre populações delinquentes é relativamente rara:


 Esquizofrenia: 7%
 Perturbação bipolar: 2-3%
 Perturbação antissocial da personalidade: 30%
Os fatores de risco parecem ser os mesmos para pessoas com e sem doença mental (Bontal Law
& Hanson, 1998).

Psicopatia

H. Cleckley (1976) confirma que a maioria dos psicopatas tendia a envolver-se de forma mais
frequente e persistente no tempo em comportamentos delinquentes ou criminosos (das burlas aos
crimes sexuais mais graves).
 Ter encanto superficial e boa inteligência
 Egocentrismo patológico e incapacidade para amar
 Não ter alucinações ou outros sinais de pensamento irracional
 Pobreza geral nas principais relações afetivas
 Ausência de nervosismo ou manifestações neuróticas
 Perda específica da intuição (insight)
 Ser indigno de confiança
 Incapacidade para responder na generalidade das relações interpessoais
 Ser mentiroso de insincero
 Comportamento fantasioso (grandioso) e pouco recomendável com ou sem ingestão de
bebidas alcoólicas
 Ausência de sentimentos de culpa ou vergonha
 Ameaças de suicídio raramente cumpridas
 Exibição de comportamentos antissociais sem escrúpulos aparentes
 Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada
 Raciocínio pobre e incapacidade de aprender com a experiência
 Incapacidade para seguir qualquer plano de vida

Perturbação antissocial da personalidade e Psicopatia

Perturbação anti-social da personalidade Psicopatia

 Padrões comportamentais gerais  Padrões comportamentais, afetivos e


interpessoais
 Não inclui certas características únicas  Diferenças cognitivas, emocionais e
dos ofensores psicopatas (como o neuropsicológicas observáveis
encanto superficial)
 Baseadas em observações clínicas  O diagnostico implica uma avaliação
que vai para alem critérios clínicos

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

ABORDAGENS SITUACIONAIS
A pessoa na situação imediata de ação.
Teorias situacionais
 Situação imediata de ação
 Fatores ambientais
 Prevenção situacional

Teoria das atividades rotineiras – Teoria da escolha racional

Os seres humanos procuram a satisfação dos seus interesses. Portanto, os seres humanos são
seres racionais que tomam decisões com base num cálculo custo-benefício – quando o benefício
supera o custo, dá-se uma oportunidade.
A criação e a perceção da oportunidade dependem de fatores proximais e da situação imediata da
ação.

Teoria das atividades rotineiras


Cohen e Felson (1979)
Há padrões de atividades rotineiras que influenciam as taxas de criminalidade por afetarem a
convergência no tempo e no espaço de 3 elementos mínimos para que o crime ocorra:
1. Um ofensor motivado
2. Disponibilidade de alvos apropriados (i.e., com valor, visibilidade, acesso e “práticos”)
3. Ausência de segurança/proteção dos alvos

Contributos (Tiller, 2011)

 Explica que a distribuição do crime no espaço não é aleatória (hot spots).


 Surge como explicativa de crimes contra o património, mas também de crimes violentos
(crimes sexuais, stalking…).
 Confirma-se empiricamente que muitos crimes são efeito de oportunidade e de
pessoas/objetos mais acessíveis.
Limitações (Sani & Matos, 1998)

 Explica a distribuição de taxas de criminalidade e não os processos subjacentes ao


cometimento de crimes.
 O crime acontece mesmo sobre alvos bem protegidos.

Teoria da escolha racional


Clarke e Cornish (1985); Cornish e Clarke (2008)

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

Partilham os mesmos 3 elementos-chave para o crime ocorrer:


 Ofensor motivado e capaz
 Alvo atraente e vulnerável
 Inexistência de barreiras para atingir o alvo
Pressupostos:
1. O comportamento criminal tem um objetivo
2. O comportamento criminal é racional
3. A tomada de decisão é específica para cada crime
4. A decisão implica duas “subdecisões”: envolvimento (fazer ou não fazer?) e ato (como fazer?)
5. O envolvimento tem 3 etapas: início (perceção de oportunidade), continuação (dependente do
recorço/benefício que o ato traz) e desistência (perceção de que existem custos é prática
criminal – experiência negativa – a desistência pode ser temporária ou duradoura)
6. Os atos criminais desenvolvem-se numa sequência de etapas e decisões, baseadas na
perceção de oportunidade.

Contributos (Tiller, 2011)

 Tem sido usada na explicação de vários crimes (ex.: terrorismo, crimes rodoviários,
shoplifting, crime económico, agressões) e desviâncias (ex.: suicídio).
 Útil para compreender a reincidência no crime, bem como crimes isolados.
 Utilidade para a prevenção: aumentar o esforço, os riscos, reduzir as recompensas, reduzir
as tentações, remover as justificações.

Limitações (Gonçalves, 2008)

 Não facilmente aplicável em pessoas com défices cognitivos ou sob efeito de substâncias.
 Não explica os crimes “passionais”; pouca atenção à componente emocional.

ABORDAGENS INTEGRATIVAS
O homem como ser Bio-Psico-Social.
O cruzamento que se encontra entre os conceitos das teorias psicológicas e das teorias
sociológicas demonstra o potencial da integração teórica e abre a possibilidade desta ainda
incorporar mais variáveis de outras perspetivas ou níveis de análise.
A simples identificação de diversas variáveis/fatores correlacionados com o crime (abordagem
multifatorial) é ateórica – não modela relações causais (Hagan, 2013).
A integração teórica é a integração de várias teorias – como os fatores se interrelacionam.
É comum tentar colocar as teorias em sequência “temporal” – cadeia de influências.
Psicologia – elemento aglutinador: relações funcionais entre variáveis psicológicas, biológicas,
sociais e ambientais e o crime.

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

“O elemento comum das grandes sistematizações contemporâneas é o fator psicológico


considerado como um traço de união entre o fator biológico e o fator social” (Pinatel, 1975).

DA EXPLICAÇÃO À PREVNÇÃO DO COMPORTAMENTO DESVIANTE

Teorias/Modelos  Variáveis/Fatores de Risco  Previsão

Compreensão Avaliação; Prevenção/Intervenção

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

(as teorias/modelos podem levar aos fatores; os fatores podem levar aos modelos; o processo de
previsão tem uma base de erro que vamos compreender; com o conhecimento dos fatores
consegue-se fazer uma avaliação do risco; se queremos de prevenir temos que intervir nos fatores
de risco)
Consoante a perspetiva teórica, a intervenção vai ser diferente.
Abordagem
Fator-Chave Prevenção
Teórica

Genéticos ---
Fatores Prevenir a exposição a fatores de risco pré e peri
Biológicos Causas orgânicas natais (ex. não beber álcool durante a gravidez, não
fumar durante a gravidez)

Desigualdade de oportunidades Redução dos níveis de aspirações.


Anomia para alcançar as aspirações Alargamento das oportunidades – projetos de luta
sociais contra a pobreza

Descriminalização, não-intervenção radical,


Estigma social/do sistema de
Rotulação desinstitucionalização/medidas alternativas,
justiça
processos justos

= Anomia

Tradição delinquente em Intervenção comunitária, projetos de ação local –


Desorganização mobilização da vizinhança, igreja, escolas, grupos
comunidades desfavorecidas –
Social desportivos, etc. para a reintegração na vida
guetos
comunitária, aumento da solidariedade social,
aumento do controlo dos jovens

= Anomia
Frustração na tentativa de
Sub-culturas aquisição de estatuto no Desincentivo ao recurso à subcultura – ex. promoção
Delinquentes contexto da sociedade – padrões do sucesso escolar.
normativos desviantes (gangs)
Conversão aos valores da classe dominante
Reduzir a associação [íntima] com “outros”/pares
Associação Mais relações de influência
delinquentes: aumentar a associação com
Diferencial criminal do que normativa
“outros”/pares normativos

Redução da exposição a modelos desviantes.

Aprendizagem através da Reduzir o reforço social (percebido); aumentar o


Aprendizagem
exposição a modelos desviantes; custo social (percebido) do comportamento
Social Cognitiva
reforço/motivação desviante.

Treino de práticas parentais

Intervenção terapêutica – descondicionar o


Dimensões da personalidade –
Teoria de comportamento criminal e recondicionar a conduta
extroversão, neuroticismo,
Eysenck normativa; tratar cada indivíduo de forma
psicoticismo
diferenciada; intervenção imediata

Outros Fatores Impulsividade, défices de Treino de competências pessoais e sociais


de Personalidade empática, imediatismo, baixa
tolerância à frustração,
hostilidade, agressividade, locus
de controlo externo, capacidades

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

cognitivas/adaptação ao meio

Doença Mental Promoção da saúde mental.


Psicopatologia
Perturbação da Personalidade Tratamento clínico

Fortalecer os vínculos sociais – relacionais,


promoção de atividades convencionais (escolares,
Baixo vínculo social (vinculação,
laborais), ocupação estruturada dos tempos livres;
Vínculo Social compromisso, empenho e
atitudes positivas face às normas e autoridade;
crenças)
promover ambição convencional; promover
supervisão parental

Práticas parentais socializadoras – supervisão,


estabelecimento de regras, reforço do cumprimento
Teoria Geral do de normas, punição do incumprimento, modelos
Autocontrolo
Crime normativos

Prevenção situacional

Prevenção situacional:

Redução da oportunidade e do aumento do risco de


Situação que configura uma deteção: redução da vulnerabilidade dos alvos,
Atividades oportunidade para o crime – remoção dos alvos, remoção dos meios necessários
Rotineiras disponibilidade e vulnerabilidade ao cometimento de um crime ou redução do “valor de
dos alvos mercado” dos alvos

Prevenção da vitimização

Programas espácio-ambientais

Prevenção situacional, capacidade de tomada


decisão:

Aumentar os custos/riscos objetivos e subjetivos, o


Perceção de mais beneficioso esforço, reduzir as recompensas, reduzir as
Escolha Racional tentações, remover as justificações, melhorar a
que custos associados ao crime
interpretação de pistas ambientais

Promoção de espaços de pertença

Reduzir os “sinais” de desordem social

INTERVENÇÕES COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS

Modelos mais promissores na intervenção com populações delinquentes (ex.: Lipsey, 2009)
Técnica/conjunto de técnicas contruídas para ajudar alguém a modificar o seu pensamento e o seu
comportamento.
O comportamento delinquente pode ser aprendido, está sujeito às mesmas regras de
aprendizagem dos outros comportamentos e é cognitivamente mediado – a forma como se pensa
tende a determinar a forma como se age.

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Psicologia Clínica / 3º ano – 1º semestre / Licenciatura em Psicologia

Baseiam-se em diferentes teorias:

 Teoria comportamental: papel dos fatores externos na aprendizagem de sequências


complexas de comportamentos e no reforço das ações individuais;
 Teoria cognitiva: papel dos processos de pensamento (tais como o raciocínio e resolução
de problemas) e dos conteúdos de pensamentos (tais como crenças e princípios) do
individuo;
 Teoria da aprendizagem social: embora as contingências do ambiente sejam um fator chave
na aprendizagem, esta também pode ocorrer indiretamente, através da observação dos
resultados do comportamento dos outros.

Características principais:

 O objetivo é o treino de competências comportamentais.


 A mudança de comportamento é alcançada através da identificação e modificação de
padrões de pensamento disfuncionais (esquemas, crenças).
 Os programas estão claramente estruturados.
 O técnico tem uma relação interpessoal calorosa e competente, mas também firme e
consistente.
 O técnico modela o comportamento apropriado.
 O técnico fornece feedback. O comportamento pró-social é reforçado e o comportamento
antissocial é desencorajado.

A prevenção/intervenção cognitiva
intervenção
escolar
O homem como ser bio-psico-social →
multidisciplinaridade (ativar vários meios
intervenção inntervenção
que possam ajudar a interferir) familiar laboral

Pesso
intervenção
a
...
médica

intervenção
intervenção
sócio-
psicológica
económica

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