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Thiago Vinicius Savio

ADOLESCENTE EM Psicólogo (UP)


Especialista em Clínica Analítico-

CONFLITO COM A
Comportamental (UP)
Especialista em Avaliação
Psicológica com ênfase no

LEI
contexto Forense (PUCPR)
Mestrando em Psicologia
Forense (UTP)
ADOLESCENTE EM CONFLITO
COM A LEI

Adolescentes cometem crimes?


ADOLESCENTE EM CONFLITO
COM A LEI
Adolescentes cometem crimes?

• Não, eles respondem ao ECA e não ao Código


Penal
• Cometem atos infracionais - inimputáveis
ADOLESCENTES: SUJEITOS DE
DIREITO
• Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei
8.069 de 1990
• Adolescência: 12 anos completos – 18 anos
incompletos (casos excepcionais até 21 anos)
CÓDIGO DE MENORES (1927;
1979)
• Considerava crianças e adolescentes como
indivíduos de “menos” direitos e defendia a
necessidade de “proteger a sociedade” dos
“menores delinquentes”
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA, 1990)
• Abolição do conceito “menor”
• Crianças e adolescentes: sujeitos de direitos, de
prioridade absoluta e de proteção integral, sendo sua
“situação irregular” atribuída aos adultos
• Criação do Conselho Tutelar: ampliação da rede de
proteção e do atendimento em rede
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA, 1990)
• Crianças: medidas de proteção

• Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente


são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
forem ameaçados ou violados:
• I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
• II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
• III - em razão de sua conduta.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA, 1990)
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar,
dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VIII - colocação em família substituta.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE (ECA, 1990)
• Adolescentes: medidas de proteção e/ou medidas socioeducativas

• Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
ADOLESCÊNCIA: CONDIÇÃO
PECULIAR DE DESENVOLVIMENTO
“Neste contexto de mudanças biopsicossociais, a
manifestação de comportamentos antissociais não é
incomum. Ao contrário, especialmente na segunda
metade da adolescência, esses comportamentos podem
ser abundantes, sendo sua manifestação um fenômeno
próprio ao processo de desenvolvimento.”

(Bazon et al., 2016)


ADOLESCENTE EM CONFLITO
COM A LEI
• Indivíduos que praticam atos infracionais
• Entre 12 anos completos e 18 incompletos
• Regime jurídico especial: descrito no ECA
• Após criação do ECA: “menor infrator” → adolescente
em conflito com a lei ou adolescente autor de ato
infracional
• Ato infracional: conduta descrita como crime (análogo) ou
contravenção penal
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
• Advertência: admoestação verbal, que será reduzida a
termo e assinada
• Obrigação de reparar o dano: ato infracional com reflexos
patrimoniais. Imposta a fim de restituir a coisa, promover o
ressarcimento do dano, ou compensar o prejuízo da vítima
• Prestação de serviços à comunidade: realização de tarefas
gratuitas de interesse geral (não excedente à 6 meses),
como em programas comunitários/governamentais
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
• Liberdade assistida: acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente
(mínimo 6 meses), inserir em programa comunitário de
auxílio/assistência social, para supervisionar a frequência e
aproveitamento escolar e sua profissionalização
• Semiliberdade: determinado desde o início ou como transição para o
meio aberto, atividades externas durante o dia e recolhimento à noite,
sendo obrigatórias a escolarização e a profissionalização
• Internação: medida privativa de liberdade, ficando recolhido na
unidade de internação período máximo de 3 anos, sendo revista a cada
6 meses
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
• Finalidade pedagógica
• Considerar: gravidade do ato infracional, circunstâncias e
as condições do adolescente
• Medidas podem ser aplicadas isoladas ou acumuladamente
• Medidas socioeducativas de não internamento devem ser
priorizadas (ECA e SINASE)
MEDIDA DE INTERNAÇÃO
• Internação em estabelecimento educacional é a medida mais gravosa –
privativa de liberdade
• Período máximo: 3 anos
• Entidade exclusiva a adolescentes

• Será aplicada quando (Art. 122):


▪ Tratar-se de ato infracional cometido diante de grave ameaça ou violência a pessoa
▪ Por reiteração no cometimento de outras infrações graves
▪ Por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta
MEDIDA DE INTERNAÇÃO
JUSTIÇA JUVENIL BRASILEIRA
• Aplicação de medidas socioeducativas mais severas que as
necessidades do adolescente – efeitos negativos, ex:
estigmatização
• Na prática: extensão do conceito de personalidade delinquente,
desconsiderando as condições psicológicas do adolescente
• Pesquisas empíricas: predominância da internação como
principal medida aplicada
• Desafio: ajustar a medida às necessidades do adolescente e não
ao ato infracional cometido
TIPOLOGIAS DA DELINQUÊNCIA
JUVENIL
• Comportamentos delinquentes diferem em termos de frequência – tipologia de
acordo com o nível de engajamento infracional
Delinquência comum Delinquência de transição/limitada Delinquência persistente (ao longo
à adolescência da vida)
• atividade infracional ocasional, • envolvimento mais frequente em • 5% dos adolescentes
inserida em um contexto de vida de atividades delituosas • atividade delituosa muito frequente
respeito às leis e às regras sociais • gravidade diversificada • iniciada precocemente e diversificada
• motivada pela busca de prazer e • maior parte: no início da vida adulta • alta probabilidade do padrão persistir
excitação desiste espontânea e abruptamente da após a adolescência se não tiver
• relacionada com as tarefas típicas da atividade antissocial intervenções especializadas
idade
• manifestação do comportamento
delituoso irá cessar de maneira
espontânea
TIPOLOGIAS DA DELINQUÊNCIA
JUVENIL
“O conhecimento de uma tipologia geral da atividade
antissocial/delituosa [...] e dos fatores
significativamente associados à conduta delituosa
persistente, oferecem os parâmetros científicos que
devem guiar a política e os programas de prevenção e
de tratamento voltados à delinquência juvenil.”

(Bazon et al., 2016)


RELATÓRIO DO SINASE
• 27.799 atos infracionais em 2016 praticados por adolescentes em unidades de
internação (mais de um ato por adolescente)

• 47% análogo a roubo, 22% análogo a tráfico e 10% análogo a homicídio

• PR: 1062 adolescentes em regime de internação (1016 homens e 46 mulheres)

• PR: registrados 1569 atos infracionais

• PR: 40,9% análogo a roubo, 16,3% análogo a tráfico e 15,4% análogo a homicídio
FATORES DE RISCO
• Histórico infracional familiar • Ausência de monitoramento
• Abuso de álcool e outras drogas • Práticas parentais negativas
• Eventos estressores • Violência interparental
• Vizinhança violenta • Nível socioeconômico reduzido
• Violência intra/extrafamiliar • Dificuldades de aprendizagem
• Déficits de empatia • Abandono ou fracasso escolar
• Déficits de habilidades sociais
• Déficits de comportamento moral
• Pares desviantes
• Negligência familiar
FATORES DE RISCO
FATORES DE PROTEÇÃO
• Práticas parentais positivas
• Autocontrole
• Baixa impulsividade
• Manejo da raiva
• Idade do primeiro delito tardia
• Vínculo parental
• Bom desempenho acadêmico
• Poucos pares infratores
• Apego à escola
INTERVENÇÕES PARA DIMINUIÇÃO
DO COMPORTAMENTO INFRATOR
1. Avaliação forense
2. Escolarização efetiva
3. Programas especializados para atendimento de infratores de alto risco
4. Capacitação profissional
5. Maior tempo qualitativo de internação
6. Programas de acompanhamento do egressos apropriados
INTERVENÇÃO PARA DIMINUIÇÃO DE
COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL
(CAS)
• Intervenção com adolescentes em medidas protetivas e medidas
socioeducativas
• 8 jovens acolhidos
• 10 meses
• Avaliação através de pré e pós-teste
• 4 atividades: programa de comportamento moral, práticas educativas para
cuidadores, psicoterapia analítico-comportamental e reforço escolar
• Intervenção eficaz para redução de comportamentos antissociais e aumento
da escolarização (diminuição do déficit escolar, melhoria na competência
total e redução de comportamentos internalizantes e externalizantes)
PROGRAMA DE COMPORTAMENTO
MORAL
• Desenvolvimento do comportamento moral – desenvolvimento
de virtudes
• objetivo: reduzir comportamentos antissociais, desenvolver
capacidade de reações empáticas e aumento do comportamento
pró-social
• Pode ser aplicado em crianças e adolescentes
• 13 sessões de 1h30
• Temáticas:
▪ Pré-virtudes: polidez e obediência
▪ Virtudes: empatia, amizade, verdade e mentira, honestidade,
justiça e generosidade
▪ Inibidores de CAS: vergonha, culpa, perdão e reparação do dano
PSICOTERAPIA PARA
ADOLESCENTES INFRATORES DE
ALTO RISCO
• 11 adolescentes em conflito com a lei em medida de
internamento no estado do PR
• Infratores de alto risco: atos infracionais considerados
graves
• Instrumentos: IEP, instrumento para análise das sessões de
psicoterapia analítico-comportamental baseado na
observação clínica do terapeuta para avaliar mudanças
comportamentais do cliente e instrumento para medir as
categorias de comportamentos do terapeuta
• 99 atendimentos
• 9 dos 11 casos: aumento de comportamentos adequados e
diminuição dos inadequados
• Nos 2 casos que não houve mudança: traços de psicopatia
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL?
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL:
ALTERNATIVA EQUIVOCADA
“Os brasileiros que pedem a redução da maioridade penal [...], estão
de fato pedindo mais segurança e menos violência. Contudo, estas
mesmas pessoas desconhecem os procedimentos técnicos, os
estudos e as pesquisas que podem indicar a melhor maneira ou, no
mínimo, boas práticas e alternativas para resolver ou enfrentar esta
complexa questão e estão iludidas pela alternativa equivocada da
redução da maioridade penal [...] uma vez que reduzir a maioridade
penal é tratar o efeito e não a causa.”

(Gomide & Staut Júnior, 2016)


FILME – RESPONSIBLE CHILD
REFERÊNCIAS
Gallo, A. E. & Williams, L. C. A. (2005). Adolescentes em conflito com a lei: uma revisão dos fatores de risco para a
conduta infracional. Psicologia Teoria e Prática, 7(1), 81-95.

Gomide, P. I. C., Mascarenhas, A. B. D., & Rocha, G. V. M da. (2017). Avaliação de uma intervenção para redução de
comportamentos antissociais e aumento da escolarização em adolescentes de uma instituição de acolhimento.
ACTA Comportamentalia, 25, 25-40.

Komatsu, A. V., & Bazon, M. R. (2018). Fatores de risco e de proteção para emitir delitos violentos: Revisão
Sistemática da literatura. Perspectivas Em Psicologia, 22(1).

Rocha, G. V. M. (2012). Comportamento Antissocial - Psicoterapia para Adolescentes Infratores de Alto Risco.
Editora Juruá.

Silveira, M. A. de Souza da., Maruschi, M. C., & Bazon, M. R. (2012). Risco e proteção para o engajamento de
adolescentes em práticas de atos infracionais. Journal of Human Growth and Development, 22(3), 348-357.

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