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Criminologia do Desenvolvimento

O que é ?

Loeber e Leblanc (1990): estudo intraindividual da evolução do comportamento


delinquente no tempo
Farrington (2003): compreensão e explicação do desenvolvimento do comportamento
delinquente ao longo da vida de um indivíduo

Desenvolve-se numa linha de investigação empírica multifatorial. Objetivo: descrever


e compreender o comportamento delinquente e antissocial

Inquéritos de delinquência auto-revelada

Desenvolvimento e ciclo da vida

A Criminologia do desenvolvimento e do ciclo de vida

Enfase no indivíduo e nos Enfase na estrutura social


fatores psicológicos e nos eventos de vida

A Criminologia do desenvolvimento e do ciclo de vida

Duas abordagens frequentemente integradas e complementares que necessitam de ser


consideradas conjuntamente para uma visão mais completa e detalhada da carreira
delinquente

Objeto: comportamento delinquente


Objetivo descritivo e explicativo
. Evolução do comportamento delinquente no tempo
.Fatores de risco associados a esse comportamento
.Influência dos acontecimentos de vida
Análise interindividualidade VS Intraindividual

+ Fatores de risco àcarreira O indivíduo como


criminal + ativa próprio controlo à todos
os fatores individuais
mantidos constantes

Indivíduos com fatores


de risco vs. Indivíduos O individuo comparado
sem fatores de risco consigo mesmo

Análise Intraindividual
Análise interindividual

Pares delinquentes ßà delinquência

Relação positiva Qual a direção?

Análise da relação no tempo através de estudos longitudinais

Estudo longitudinais

Uma série de estudos longitudinais surgiram nos anos 80:


.Estudos das causas e correlações da delinquência
.Oregon Youth Study
.Seattle Social Development Project

Diversas fontes usadas: inquérito aos participantes, aos pais,


aos professores, aos pares, registos criminais e médicos
4 pilares:
- Paradigma da Carreira criminal,
- Paradigma da prevenção pelo fatores de risco
- Desenvolvimento
- Cuso de vida

Relação entre idade e o crime

Criminologia do desenvolvimento: estudo do desenvolvimento e das dinâmicas do


comportamento antissocial/delinquente no tempo

Idade

Será a idade um fator que permite explicar a evolução da criminalidade?

Hirschi e Gottfredson (1983) vs. Farrington (1986)

Hirschi e Gottfredson (1983): a curva idade-crime é invariável não só no espaço e no


tempo mas também em função do tipo de criminalidade e dos grupos demográficos

Farrington (1986): a relação entre a idade e o crime varia ao longo do espaço e do


tempo, em função do tipo de crime, e também em função do género.

Prevalência: indivíduos ( mais ou menos estável)


Incidência: atos (variável)

Ciclo de vida

Ciclo de vida: trajetórias que variam em função da idade e que se manifestam através
de opções que irão influenciar as decisões e portanto o curso dos eventos que dão
forma às diferentes fases da vida e às transições entre elas (Elder, 1985)

Dois conceitos fundamentais no ciclo de vida...

trajetórias

Linha de desenvolvimento ao longo da vida (vida profissional, casamento, paternidade,


comportamento criminoso, ...). São padrões sequenciais de comportamento a longo
prazo
Transições

Marcadas por eventos específicos (primeiro emprego, primeiro casamento) que fazem
parte das trajetórias mas que evoluem em períodos de tempo mais curtos

A compreensão dos padrões da atividade criminal ocupa um lugar central nos discursos
e na investigação criminológica

- Incio Evolução do comportamento


delinquente com: Dados
-Persistencia
A idade longitudinais
Desistencia
As transições entre as fases da vida

O que é a carreira Criminal?

A carreira criminal é definida como a sequência longitudinal de crimes cometidos pelo


ofensor (Blumstein et. al, 1986)

Diferentes dimensões: participação, frequência, gravidade, duração do


comportamento...

Participação: traduz envolvimento na criminalidade;

Frequência: traduz o número de crimes que uma delinquente comete durante um


determinado período de tempo

Emergência
Idade a que um indivíduo comete a primeira ofensa;
Dimensão importante da carreira criminal
• Glueck & Glueck (1950)
• Quanto mais cedo, mais longa a carreira criminal
Emergência precoce:
10-12 anos
Mas... estudos feitos
Pequena proporção dos nos anos 80/90 e
delinquentes limitados a amostras
compostas de
Emergência tardia/adolescência:
12-15 anos adolescentes
Grande proporção dos
delinquentes

Emergencia como medir?

Dados oficiais ou dados de inquéritos?

- Os dois são válidos


- O tipo de dados usados para definir o início da atividade delinquente tem uma
influência subsequente na sua relação com o comportamento antissocial futuro
- O ideal é combinar!

Establilidade e Continuidade

Estabilidade à tendência de um indivíduo em manter o comportamento delinquente


ao longo do tempo

Continuidade à relaciona-se com a ideia de que o comportamento delinquente de


uma pessoa pode persistir ou evoluir ao longo de sua vida

Estabilidade à Indica que a pessoa mantém um nível relativamente constante de


envolvimento em atividades
criminais, sem necessariamente implicar uma progressão ao nível da gravidade dos
delitos.

Continuidade à Refere-se à ideia de que o comportamento delinquente de um


indivíduo tende a persistir ou progredir em termos de gravidade ou frequência ao
longo do tempo.

HIRSCHI E GOTTFREDSON (1990)

As pessoas tendem a procurar gratificação imediata. Um forte autocontrolo é


necessário para não desenvolver comportamentos delinquentes
- A qualidade do autocontrolo depende da qualidade da
paternidade na infância
- Não há desistência em indivíduos com baixo autocontrolo
SAMPSON & LAUB (1993)
Análise dos dados de Glueck & Glueck (1950)
- A desistência é possível através do restabelecimento dos laços sociais
- A delinquência surge quando os laços sociais são fracos à teoria do vínculo social
de Hirschi (1969)
- O vínculo como capital social
- Variações do capital social à variações da deliquencia

MOFFIT (19939

2 tipos de infratores:
- Infratores limitados à adolescência
. Atos delinquentes de gravidade menor
.Curto período de tempo
- Infratores persistentes (para lá da adolescência)
.Emergência precoce
.Frequência e gravidade dos comportamentos é maior
.Comportamentos similares para lá dos 40 anos
.Carreira criminal de em média 26.5 anos

Como resultado da estabilidade, a continuidade manifesta-se de várias formas


dependendo de circunstâncias individuas e contextuais

Remissão = fim da carreira criminal

- Sampson & Laub (2001): a definição deve ter em conta o problema estudado e as
questões às quais pretendemos responder

Objetivo : explicar porque razão existe uma diminuição do envolvimento na


criminalidade com a idade

§ Biológicas
§ Escolha racional
§ Processos sociais
§ Modernidade e maturidade

Teoria bilologica:

A remissão é um processo/fator que ocorre naturalmente com a idade devido à


maturação, ao envelhecimento biológico
Escolha Racional :

A teoria da escolha racional (Clarke & Cornish, 1985)

- Origem na escola clássica: C. Beccaria à O indivíduo é um ser racional


- O indivíduo é um ser racional que pondera os custos e os benefícios da sua ação
• Benefícios superiores aos custos à crime
- Remissão à custos superiores aos benefícios
- Teoria da escolha racional da remissão (Cusson & Pinsonneault, 1986)

A teoria da escolha racional da remissão (Cusson & Pinsonneault, 1986)

- O que leva uma pessoa a decidir parar de cometer crimes?


- Entrevistas a 17 ladrões que pararam de roubar (Canadá)
- O que levou à mudança de cálculo?

Choque – Revalidação – Decisão- Remissão

A teoria da agencia transformadora (King, 2013)

• Escolha racional + estruturas sociais e oportunidades


• Fatores externos, como o ambiente social e económico, também desempenham um
papel crucial na capacidade de uma pessoa abandonar o comportamento criminoso •
Foco no futuro

Processos socias

A teoria da aprendizagem social e a remissão


. Os pares como a origem da delinquência
. A aprendizagem social de um comportamento é composta de 4 elementos (Akers,
2011):
1. Associação diferencial
2. Definições
3. Imitação
4. Reforço diferencial

A teoria da aprendizagem social e a remissão

• Como as pessoas têm menos associações com pares


delinquentes à medida que envelhecem, as definições ou atitudes relativamente ao
crime mudam, há menos indivíduos delinquentes a imitar e o comportamento
delinquente têm menor probabilidade de ser recompensado ou reforçado.
A teoria das atividade de rotina
. Foco: a maneira como os indivíduos passam o seu tempo
. Tempo não estruturado e não supervisionado àdelinquência juvenil
. Mudanças no tempo não estruturado àdiminuição do comportamento delinquente
. Mudança das atividades do dia-a-dia àmudança no comportamento delinquente,
remissão

Os laços sociais e o controlo social informal: Age Graded Theory of Informal Social
Controls (Sampson & Laub)
• Base: Teoria do controlo social de Hirschi (1969)
• Os vínculos na base do comportamento delinquente
• O casamento e o trabalho
Quanto mais fortes, menos delinquência
O casamento inibe o comportamento delinquente
A instabilidade no trabalho fomenta o crime

Modernidade e maturidade

Greenberg (1977)
. Adolescência = incerteza; desejo de independência
. Negação do valor objetivo da independência à delinquência
. Como explicar a remissão?
• A entrada num mundo que não restringe a autonomia

Crime, idade e género

Início do século XIX: os jovens de sexo masculino cometem mais crimes que as
mulheres e que os homens de idade mais avançada

Desenvolvimento de teorias sobre a propensão para o crime

O que nos dizem as estatísticas oficiais

Adolphe Quételet (1831): as mulheres cometem menos crimes que os homens

As diferenças de género no crime ao longo da vida

Gottfredson & Hirshi (1990): as diferenças entre sexo são invariáveis no tempo e no
espaço. Os homens cometem mais crimes que as mulheres
Hagan (1998): o género é a variável demográfica que melhor prediz o crime
Será que as teorias tradicionais servem para explicar a evolução da delinquência
feminina?
Moffit & Caspi (2011) – Aplicação da teoria da dupla taxonomia às mulheres
- Menos mulheres se tornam delinquentes
- Entre os delinquentes, proporção de persistentes mais elevada nos homens
- Delinquência das mulheres essencialmente limitada à adolescência

Hirshi - Teoria dos laços sociais


- O ser humano tem uma propensão natural para a delinquência. A questão é porque
razão alguns se conseguem
abster? àOs laços sociais

A forma como os laços sociais se desenvolvem tem um impacto na delinquência


- Raparigas socializadas em torno do sentimento, do cuidado à prevenção da
delinquência
- Não só na família mas na sociedade de maneira geral

Estudos empírico

Estudos transversais: análise num momento


específico à análise retrospetiva
.Não há informação sobre desistência
.Não há informações sobre as relações causa-efeito

Estudos longitudinais: análise ao longo do tempo à Será que o indivíduo se


comportará de maneira diferente?

Seguir o individuo ao longo da vida

Estudos prospetivos e retrospetivos

Acompanhamento e colheita de dados ao longo


do tempo

Estudos prospetivos e retrospetivos

Colheita de informações sobre o passado


numa amostra de indivíduos
Estudos de corte

Os estudos de coorte seguem as mesmas


pessoas ao longo do tempo; característica (s)
semelhante (s)
. Ano/ local de nascimento (coorte de nascimento)
. Evento de vida particular (coorte de evento)

Fácil de estabelecer a ordem temporal mas numero de


fatores explicativos reduzido

Os estudos de coorte

- Fácil de estabelecer a ordem temporal


-Número de fatores explicativos reduzidos
-Difícil separar idade de efeitos de períodos históricos

Exemplo: O estudo de Filadélfia

Philadelphia:

. Wolfgang, Figlio & Sellin (1972)


.Primeiro estudo de coorte em grande escala nos USA com a população geral
. Estudo de coorte de nascimento
. Inicio em 1964
.9’944 rapazes nascidos em 1945 que vivem em Filadélfia
.10-18 anos
.Dossiers escolares + dados órgãos policiais
.Análise e descrição da carreira criminal

Estudos com painéis


Os estudos com painéis: acompanhamento de indivíduos aos longo do tempo com
medidas repetidas em intervalos regulares; inquéritos de delinquência autorrevelada
Exemplo: Estudos de Cambridge, Pittsburgh, Denver e Rochester

Estudos de Cambridge

Estudo longitudinal prospetivo com 411 rapazes londrinos


Entrevistas + registos oficiais
Análise de fatores familiares, socioeconómicos e individuais

Objetivo: estudar o desenvolvimento do comportamento antissocial e delinquente da


infância à idade adulta

O que foi medido: fatores escolares e individuais


Conclusão Geral

Problemas na infância- k antissocial e impuslvidade- problemas na vida adulta- nova


geração antissocial

Pontos fortes do estudo


9 entrevistas
Estudo do comportamento criminal dos 10 aos 61
anos
Amostra grande
Informação completa (entrevistas a diferentes
pessoas + dados oficiais)
Vários fatores analisados

Pontos fracos do estudo


Rapazes londrinos classe operária
Idade ou efeito do contexto histórico?
Entrevistas não foram feitas com regularidade
suficiente

Pittsburgh

1’517 rapazes de Pittsburgh


- 3 coortes de rapazes: 1 classe, 4 classe e 7 ano
- Objetivo: analisar o desenvolvimento do comportamento
antissocial e delinquente da infância à idade adulta e os fatores de risco que interferem
nesse desenvolvimento

Resultados: prevalência, frequência e emergência


• Não há ≠ entre afro-americanos e caucasianos até aos 6 anos, mas...
• Prevalência delinquência grave aumenta até aos 16 (27% para afro-americanos e 19%
para os caucasianos)
• Aumento da prevalência à aumento da frequência

Resultados: trajetórias
Aumento da gravidade do comportamento delinquente ao longo do tempo
3 trajetórias identificadas:
1. Conflitocomaautoridade
2. Dissimulada
3. Manifestada/evidente
Resultados: fatores de risco
Impulsividade associada à delinquência
QI associado à delinquência
Supervisão parental e falta de comunicação
associadas à delinquência
Maus tratos associados à delinquência

Denver e Rochester

1’527 jovens rapazes e raparigas oriundos de bairros considerados a alto risco em


Denver
• 7,9,11,13e15anosem1987
• Entrevistas conduzidas anualmente entre 1988 e
1999 + 2003 à jovens e uma das figuras parentais

Objetivo: identificar as condições sociais, características pessoais e padrões


desenvolvimentais associados à delinquência e ao consumo de droga

Resultados:
Poucas mudanças ao nível da prevalência da delinquência
.. mas a gravidade da criminalidade violenta aumentou no tempo
• Vitimas hospitalizas/inconscientes quase duplicou
• Uso de armas

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