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Classificação de homicídios: utilização do Criminal Profiling

na elucidação de casos

Renan D’Almeida de Almeida – rrenanddalmeida@gmail.com

Perícias Forenses
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Rio de janeiro, RJ, 16 de agosto de 2021

Resumo
O presente artigo tem como objetivo geral identificar informações a respeito das
tipologias envolvendo múltiplos homicídios utilizando conhecimento consolidado a
respeito do comportamento de Serial killers, Mass murder e Spree killers. A partir do
objetivo foi levantou-se o seguinte questionamento: Seria possível identificar que tipo
de ameaça a investigação está enfrentando através da análise de aspectos
comportamentais que o criminoso estampa na cena do crime? Trata-se de uma
revisão bibliográfica de caráter exploratório com abordagem qualitativa utilizando
artigos científicos e livros que são referência em classificação de crimes,
perfilhamento criminal e psicologia investigativa. Os resultados indicam que com
base no comportamento apresentado em relação à cena do crime e a vítima é
possível encontrar informações a respeito do seu modo de atuação na forma de
cometer o crime, descobrir possíveis patologias mentais e/ou déficits cognitivos,
grau de periculosidade do indivíduo e possibilidade de ocorrência de novos crimes.
Tendo assim, através de um método de classificação é possível utilizar um banco de
dados e aplicar técnicas data minig para retirar informações úteis que possam ajudar
a elucidar casos.

Palavras-chave: Serial killer, Spree killer, Mass murder, Criminal profiling,


Multiplehomicide classification

1. Introdução
Crimes que envolvem múltiplos homicídios a muito tempo encontram-se na
grande mídia e possuem um espaço reservado no coração do público. Filmes como
“O Silêncio dos inocentes”, “Os Sete Pecados Capitais”, “Jogos Mortais” e outros,
chamam atenção não só pelo carisma de seus atores como também pelas ações de
seus personagens como Hannibal Lecter, Jonh Doe e Jigsaw.
O planejamento e seu aparente domínio da trama e dos outros personagens,
faz com que estes personagens possuam certo charme e assim recebam o holofote
da admiração das pessoas e da mídia. Só que precisamos entender que quando os
crimes saem das telas e atingem as ruas, nossa vizinhança, o que era visto como o
ponto alto do enredo se torna algo assustador, e ao mesmo tempo em que a
cobertura dos jornalistas transforma o evento em algo misterioso. Ainda sim uma
coisa não muda, tanto na tela quanto fora dela, que é o fator “marcante”. Múltiplos
homicídios podem gerar marcas profundas em uma em uma rua, uma cidade, em
um país ou até mesmo no mundo.
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Por mais que tentemos entender um homicídio sob a ótica de um cidadão


comum, dificilmente vamos conseguir chegar a uma classificação boa e segura o
suficiente para saber com o que estamos lhe dando. Precisamos usar um método
previamente estudado e já testado e que englobe o maior número de cenários
possíveis onde a ameaça pode ser identificada e assim investigada de forma
eficiente para minimizar e mitigar danos a sociedade.
Um homicídio isolado já mostra o quanto de dano este criminoso pode causar,
quando estes homicídios são múltiplos, o nível de periculosidade e de possíveis
futuros danos se torna tão grande quanto a necessidade de uma investigação mais
rápida e precisa.
Partindo do princípio desenvolvido por Edmond Locard que diz que “Todo
contato deixa uma marca” podemos entender o seu modus operandi através de suas
ações ou omissões no(s) local(ais) onde ocorreram o(s) crime(s).
Através do estudo da vitimologia podemos entender a forma com que o
criminoso escolhe as suas vítimas. Podemos verificar se existe uma relação
emocional com a vítima ou com alguma característica que a vítima possui e desta
forma traçar padrões de vítimas. Isso pode trazer respostas que direcionam a
possibilidade de vítimas futuras.
Trabalhar com conceitos de troféu e assinatura, assim como o modus
operandi, podem fornecer ainda mais informações sobre a psique do criminoso. É
importante também dizer que a presença de materialidade em um crime é de
extremamente necessário tanto para a sua investigação quanto para a sua
resolução e condenação do criminoso. Neste caso, observar na vítima a falta de
algum objeto, pois o mesmo pode ter sido subtraído como forma de troféu e ao ser
encontrado em posse do criminoso pode agilizar o processo de ligação do criminoso
ao delito.
O methodo utilizado pelo criminoso em seu crime é muito importante para
ligar os casos sendo necessário dar atenção na sua análise. Esta metodologia
empregada pelo criminoso chamamos de modus operandi ou simplesmente
utilizamos a sigla “MO”. O “MO” abrange desde a escolha da sua vítima, passando
pela local do crime, a arma utulizada e outras caracteristicas. Vale dizer que este
“MO” também pode sofrer algum tipo de evolução conforme o criminoso aprende
com seus crimes. Esta evolução pode acontecer tanto na forma de abordar suas
vitimas como também na forma de matar a sua vitima e na forma com que evita ser
pego. (EBISIKI, 2007:22)
Quanto a assinatura podemos dizer que ela funciona como uma “marca” do
criminoso. A assinatura é um fator que esta diretamente ligado ao emocional do
criminoso e apesar de ser muito individual de cada criminoso pode-se ocorrer
mudança entre um crime e outro. Isso ocorre pelas experiencias vividas pelo
criminoso no decorrer da sua jornada. O comportamento que gera a assinatura vai
além do necessário para cometer o ato. Ele passa a ser algum tipo de ritual, pode
ser algum tipo específico de amarração, repetição de algum tipo de ferimento e até
multilações e torturas bem especificas. (EBISIKI, 2007:24)
O conhecimento multidisciplinar, o estudo e sua aplicação é fundamental para
estabelecer um padrão investigativo confiável e eficiente a ponto de poder
correlacionar os crimes com múltiplos homicídios a seus respectivos autores.
Segundo a escritora e criminologia Ilana Casoy (2017: 387), em sua obra
intitulada Serial Killers – Made in Brazil, ela afirma que existe uma resistência muito
grande por parte da polícia em aceitar a possibilidade de um serial killer estar
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atuando e esta falta de tato com o tema pode gerar consequências severas para a
vida das vítimas. A escritora também declara que quanto mais rápido a identificação
de criminosos com este tipo de comportamento, mais rápido é possível acionar uma
equipe multidisciplinar composta por psicólogos forenses, profilers e médicos-
legistas para traçar um perfil.
Segundo Leite e Bezerra (2019:7) “É perceptível a falta de matérias no
acervo brasileiro e os que estão à disposição são caros e muitos se encontram
disponíveis em publicações internacionais. Portanto, é possível ver os
problemas e obstáculos da pesquisa científica para os que não possuem uma
segunda língua.”

Este tipo de ação pode não somente reduzir o número de suspeitos, mas
também estabelecer estratégias eficientes para investigação, auxiliar na busca de
provas, na construção do método de interrogatório e para entender a motivação do
crime. Neste sentido, o apoio que a polícia deveria receber para investigar estes
tipos de crimes deveria ser obrigatório.
Esta falta de integração de esforços talvez possa ser observada através de
dados estatísticos a respeito de serial killers pelo mundo. Até o ano de 2010 a
população dos Estados Unidos da América era de trezentos e oito milhões e
setecentos mil habitantes e até esta mesma data possuíam cerca de três mil e
noventa e dois serial killers identificados.
Traçando um parâmetro com dados brasileiros, segundo IBGE, em 2010
tínhamos cento e noventa milhões setecentos e cinquenta e cinco mil e setecentos e
noventa e nove habitantes e devido a falta de dados foi possível apenas encontrar o
número de trinta e um casos de crimes em série.
Considerando que, tanto o Brasil quanto os Estados Unidos da América, são
países populosos e levando em conta estudos de Adrian Raine (2015), no livro “A
Anatomia da Violência” que apontam as raízes da violência, era de se esperar um
número ao menos proporcional de eventos envolvendo crimes e criminosos em
série. Somados a isto ainda temos números de homicídios que crescem desde o
momento da sua medição. E ainda, segundo o IPEA (2017) o Brasil registrava
11.217 homicídios e no ano de 2017 registrava 65.502.

2. Homicídio no Brasil e no mundo


Nos Estados Unidos temos o site Murder Accountability Project (2019) que é
de um grupo sem fins lucrativos que visa mostrar a importância contabilidade precisa
dos homicídios não elucidados nos Estados Unidos da América. Este grupo é
composto por investigadores aposentados, jornalistas investigativos, criminólogos e
outros experts em vários aspectos de homicídio.
No site se armazena dados dos governos de diversas esferas sobre crimes
não elucidados. Nesta plataforma podem ser aplicados diversos filtros para
selecionar dados de homicídios com base em arma utilizada, sexo da vítima,
circunstancia do crime, região e outros. Investigadores de homicídio podem
encontrar a utilidade desta ferramenta ao pôr a prova suas teorias especialmente em
casos de homicídios em múltiplos locais ou no mesmo local durante um período de
tempo (MUDER ACCOUNTABILITY PROJECT, 2019).
Um dos fatores primordiais para a resolução de crimes em série é a
informação, sendo assim, o dado mais básico que poderíamos ter de crimes é o
índice de elucidação de homicídios. Este índice serviria para medir a quantidade de
ocorrências de homicídio em relação a quantidade de homicídios elucidados. Os
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dados serviriam como uma forma avaliativa relativa ao trabalho na segurança


pública.
Para observarmos a transparência que estes dados podem mostrar, utilizou-
se como exemplo os dados quantitativos de porcentagem de elucidação de crimes
por ano, no Brasil e nos Estados Unidos da America (Clearance rate).
Ainda segundo o site Murder Accountability Projec, no ano de 2017 ocorreram
17.004 homicídios nos Estados Unidos da América onde 9.850 foram elucidados o
que dá um índice de 57,93,96% de crimes elucidados (MUDER ACCOUNTABILITY
PROJECT, 2019).
No Brasil podemos encontrar alguns dados nas pesquisas do Instituto Sou da
Paz, que solicitou os dados para os Ministérios Públicos e Tribunais de justiça dos
estados, porém infelizmente nem todos os estados forneceram os dados e alguns
forneceram informações incompletas. Os dados passíveis de serem utilizados no
cálculo foram Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco, Paraíba e Rio de Janeiro
(INTITUTO SOU DA PAZ, 2010:02).
Infelizmente devido a falta de dados não é possível estimar o índice de
elucidação de homicídios daquele ano, porém segundo a estimativa de pesquisa
realizada pelo ENASP(Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública), o índice
de elucidação de crimes no Brasil é baixíssimo onde no ano de 2011 estava entre
5% e 8%. Índice este que, no ano de 2011, em outros países como Estados Unidos
era de 65%, no Reino Unido era de 90% e na França era de 80%.(ENASP, 2012:22)

Este índice de elucidação baixo se torna ainda mais assustador se pegarmos uma
citação de um agente de Alagoas divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança
(2010:33)“ Até 48 horas é fundamental. 70% dos homicídios se resolvem em 48
horas. Se não fez em 48 horas, pode esquecer...”.

3. Múltiplos homicídios
A algum tempo atrás, antes da classificação de múltiplos homicídios que
temos hoje, estes crimes eram apenas classificados como mass killing, que em
tradução livre seria matança em massa. Por volta de 1980 o FBI(Federal Bureau of
Investigation) teve a iniciativa na sua academia de Quantico, em Virginia, de realizar
estudos, de documentar e investigar “repeat killers” que seriam homicidas que
tendem a repetir os seus crimes. Foi estabelecido a uma divisão em três partes do
que seria múltiplos homicídios em massa , spree e serial (BROOKMAN, MANGUIRE
e MANGUIRE, 2017:250).

3.1 Mass Muder


Este tipo de homicida, quando não motivado por busca material ou por busca
por atenção, não se importa com a sua vida durante sua tentativa de captura. Eles
podem cometer um tipo de suicídio conhecido como “death by a cop”(em tradução
livre seria morte por policial) onde ele se coloca em confronto armado com a polícia
mesmo sabendo que está em clara desvantagem tanto em número quanto em poder
de fogo e irá morrer (DOUGLAS, et. al., 2013:472).
No caso de um assassinato em massa ocorre quanto vitimas são mortas em
apenas um lugar durante um único evento. Os homicídios geralmente ocorrem em
locais onde ocorrem, com relativa frequência, aglomeração de pessoas. Estes locais
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podem ser um cinema, um teatro, escola, igreja, local de trabalho, igreja, dentro de
lugares ou ao lado de fora onde corram grande circulação de pessoas.
O mesmo utilizar armas, fogo, explosivos e dificilmente irá se envolver em
crime envolvendo parafilias ou atos sexuais e suas vítimas podem envolver
membros da família com mais frequência do que casos de serial killer (DOUGLAS,
et. al., 2013:472).
Com bastante frequência encontramos definições de serial killer como sendo
um tipo de predador e no caso do mass murder seria como uma “bomba-relógio
humana”. Embora existam casos de mass murder perpetrados por mulheres, a sua
grande maioria são homens. De uma forma bem generalista poderíamos definir o
“mass murder” com uma pessoa o qual a vida saiu dos eixos de forma negativo no
aspecto conjugal, profissional ou passou por alguma situação que o trouxe bastante
humilhação (SCHECHTER, 2003:19).
Existem dois tipos de mass murder, o clássico e o família. O clássico envolve
apenas um homicida, atuando em um local e em um período de tempo que pode
compreender minutos, horas e pode durar até dias. O clássico também possui algum
tipo de distúrbio mental que quando ele atinge certo grau de agravamento ele
comete os homicídios contra grupos que não possuem relação direta com o seu
problema (DOUGLAS, et. al, 1986:6).
No segundo tipo de homicida em massa, o homicida de membro da família,
ocorre quando mais de três membros da família são mortos por ele e o mesmo
acaba tirando a sua própria vida recebendo a classificação de homicida em
massa/suicida. Pode suceder também casos onde não ocorre o suicídio e este é
chamado de “Family killing”, que em tradução livre seria homicida de família
(DOUGLAS, et. al, 1986:6).
Contudo existem alguns problemas relacionados ao conceito de mass murder.
O primeiro problema é que o termo “mass” que traduzindo seria “massa” faz relação
a quantidade de pessoas que foram mortas. Quando utilizamos a palavra “massa”
sobre outras óticas como “mass media”(Que traduzindo seria “comunicação em
massa”), estamos tratando de milhões de pessoas que recebem algum tipo de
informação, como em um sistema de TV.
Quando estamos tratando de classificação de crime podemos definir um mass
murder apenas com quatro homicídios. O segundo problema é que não existe um
consenso entre os pesquisadores sobre o número de vítimas necessário para a
classificação como mass murder e a estipulação de um número de vítimas faz
parecer uma decisão arbitrária. O terceiro problema é um mito que existe sobre que
este tipo de criminoso é acometido de algum tipo de doença mental onde o mesmo
atira em pessoas a sua volta de maneira aleatória.
Estudos apontam que 40% dos casos de mass murder ocorrem em âmbito
familiar, outros 40% ocorrem em locais de trabalho e apenas 20% ocorrem se
encaixam na descrição da mídia ocorrendo em lugares como escolas, shoppings e
campus universitários. Existem até mesmo casos onde o mass murder não atacou
ou nem ao menos machucou alguma vítima em potencial pelo fato de que aquela
pessoa “não tenha magoado os seus sentimentos”(Edelstein, 2014:124).
Muitos estudos encontrados na literatura apontam que o mass murder sabe o
que difere o certo do errado e planejam seu ataque em locais públicos com muito
cuidado. Outro mito diz que pode enganar é que o mass murder é um homicida de
ocasião sendo que seu alvo são pessoas estranhas. Na verdade funciona de forma
oposta onde dados apontam algum tipo de laço com suas vítimas (membros da
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família, colegas de turma, colegas de trabalho, empregados, superiores de trabalho


e etc.)

3.2 Serial Killer


A definição de serial killer, que em tradução livre seria “homicida em série”,
por si só já aponta este tipo de homicida como um criminoso tende a atingir seus
objetivos. Podemos dizer isso com base na situação onde o mesmo realizou uma
série de crimes sem ser pego para só assim ser caracterizado como serial killer
(DOUGLAS, et. al., 2013:481).
Quanto mais um homicida repete seus crimes mais ele refina ainda mais o
seu modus operandi e este refinamento faz com que ele seja cada vez mais preciso
nas suas ações evitando assim ser pego. Essa capacidade de repetir seus crimes
sem ser pego pode acabar dando ao serial killer a impressão de ser alguém
brilhante.
“Temos também a possibilidade do criminoso se mover
constantemente entre estados que não compartilham informação. Isso faz
com que os seus crimes além de não ter solução também não se conectem”
(DOUGLAS, et. al., 2013:482).
Serial killers vão tentar evitar ser pego e vão usar tudo que puderem para
conseguir e para isso não vão entrar em tiroteios com policiais, mas sim evitar ficar
exposto na investigação. Seus crimes apresentam grandes sinais de parafilias e
comportamento sexual desviante. Possuem uma tendência a ter estranhos como
alvo de seus crimes, porém as vítimas tendem a compartilhar similaridades entre
elas como gênero, idade ou ocupação. Entretanto, isso não impede que ele escolha
um outro tipo de vítima caso suas preferências não sejam atendidas.
Podemos dizer que o serial killer fantasia sobre tortura, dominação e
assassinato, e por isso ele tende a ter uma aração especial pelo sangue. Quando
este desejo atinge níveis demasiadamente altos ele sai em busca de vítimas onde
ele apenas consegue o seu clímax quando a vítima sofre e mesmo assim somente
após a sua morte. Após isso ele entra em um período de descanso e neste período
seus desejos vão tomando força novamente o que indica que ele voltará a cometer
os atos de violência novamente (SCHECHTER, 2003:18).
Apesar de bem popular nos dias de hoje, a expressão serial killer foi utilizada
pela primeira vez em 1970 por Robert Ressler que era um agente do FBI e um
estudioso sobre o assunto. Ele trabalhava na Behavioural Sciences Unit (Unidade de
Ciências Comportamentais) que estava dando continuidade ao trabalho do
psiquiatra James Brussell que era pioneiro no estudo da mente de criminosos. Esta
unidade juntou diversas fitas de entrevistas gravadas com serial killers já
condenados e presos nos Estados Unidos da América (CASOY, 2017:22).
Apesar de inúmeras pesquisas na área ainda existem obstáculos para a
definição de serial killer. O primeiro problema é que algumas pessoas precisam
morrer para que o criminoso seja classificado desta maneira. O outro problema é
que alguns estudiosos da área defendem que apenas dois homicídios e outros
apontam que deve ser ao menos quatro. Esta questão não deveria se tratar apenas
de um dado quantitativo, mas de uma análise a respeito da motivação do crime e da
escolha da sua vítima que, na maioria dos casos, não é conhecida pelo homicida,
mas ainda sim representa algum tipo de símbolo para ele (CASOY, 2017:22).
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3.3 Spree Killer


Em tradução livre a classificação spree murder seria “matador de farra”.
Podemos classificar ele como um subcategoria de serial killer. A sua seleção de
vítimas é feita de forma aleatória pois o foco da sua ação é causar o máximo de
dano possível e em um curto espaço de tempo. Suas escolhas de vitimas apenas
são baseadas em suas necessidades momentaneas que podem ser dinheiro, sexo
ou simplesmente por algum tipo de raiva (DOUGLAS, et. al., 2013:477).
O spree killer se move de local em local durante os episódios de homicídio e
assim, evitando ficar fixo em uma localidade, são múltiplos homicídios em um curto
espaço de tempo e na cabeça do homicida funciona como algum tipo de missão
onde não existe plano de fuga.
Existem casos onde o spree killer tem um intervalo entre os homicídios. Este
espaço de tempo pode chegar até a dias e, neste período, as vítimas não terão
nenhum tipo de ameaça.Na maioria dos casos o spree killer acaba sendo morto pela
polícia ou se mata. Nos casos onde ocorre a captura do criminoso pode ocorrer que
ele se declare culpado dos crimes que cometeu, caso ele opte por se declarar
inocente ele tentará alegar insanidade (DOUGLAS, et. al., 2013:478).
Devido a interações humanas que tiveram em sua infância eles
desenvolveram sentimentos como as demais pessoas, desta forma podemos
classificá-los de duas maneiras: Aqueles que tiveram lares negligentes e aqueles
que tiveram lares abusivos. No primeiro caso temos homicidas que gostariam de
interromper os seus ataques, porém para preencher o vazio emocional
proporcionado pelo lar negligente ele desenvolveu uma patologia obsessiva por
dinheriro, bens maeriais e/ou assassinato/estupro. No segundo caso, o homicídio
funciona como a porta de entrada, trazendo excitação. Depois ele entra em uma
espiral descendente de homicídios que só será interrompida por um agente externo
(KENJI,2019:138).
No caso do spree killer existe um espaço de tempo entre as suas cenas de
crime e neste caso o homicida pode pensar, sentir ou planejar o que caracteriza este
espaço de tempo como “descanso”. A definição de que quando os crimes ocorrem
em um intervalo de minutos então podemos defini-los como mass murder e quando
este intervalo ultrapassa três dias podemos defini-lo como serial murder.
Devido aos problemas descritos anteriormente alguns pesquisadores estão deixando
de usar a definição de spree killer onde alguns apenas como uma subcategoria de
mass murder (Edelstein, 2014:124).
A definição de spree killer carece de uma melhor definição quanto as suas
características, afinal de contas não seria razoável levar em consideração apenas
um atributo, como a quantidade de vítimas, para o definir.
4. Investigação utilizando o Criminal Profiling
O problema é que apenas a definição de múltiplos homicídios em mass
murder, spree murder e serial killer não oferece informação descritiva suficiente e
funciona mais como uma distração ao invés de ajudar (BROOKMAN, MANGUIRE e
MANGUIRE, 2017:250).
A técnica de criminal profiling é extremamente útil nos casos de investigação
onde se precisa conhecer melhor o tipo de criminosos que está buscando. Esta
técnica é utilizada por agentes da lei e trás resultados positivos e valiosos durante a
investigação. Temos que entender que o perfilamento não traz como resposta uma
um indivíduo específico, mas sim um tipo de pessoa que teria cometido aquele crime
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e focando no comportamento e características de personalidade (DOUGLAS, et. al,


1986:4).
O perfilamento pode ser usado em situações com refém e através dele pode-
se obter informações a respeito do criminoso para salvar a vida das vítimas. Pode
também ser usado para identificar cartas anônimas e para identificar o seu autor ou
ameaças de violência. Neste caso, através da observação das vítimas envolvidas e
suas similaridades e diferenças podemos obter informações sobre a motivação e
assim informação também sobre o criminoso (DOUGLAS, et. al, 1986:4).
Casos reais não funcionam da mesma forma que séries e filmes quando uma
condenação ocorre apenas com a utilização de uma prova. É necessário o
processamento de diversas provas e padrões criminais. O criminal profiling
consegue, através de mapeamento de padrões e tendências comportamentais
exibidos através da vítima e da cena do crime, uma razoável tentativa de gerar
informações específicas a respeito de certo tipo de no motivo, do suspeito e da
forma com que ele pensa.(DOUGLAS, et. al, 1986:4).

5. Processo de geração do perfil criminal

Os investigadores do FBI que participavam "Behavioral Science Unit”(Unidade


de Ciências Comportamentais) agora fazem parte da ”National Center for the
Analysis of Violent Crime” que em tradução livre é Centro Nacional para Análise de

Crime Violentos. Esta unidade conta com expertise onde analisam cenas de crime e
geram perfis criminais desde de 1970 (DOUGLAS e BURGESS, 1998:12).

Figura 1 – Processo de geração do perfil criminal


Fonte: FBI ACADEMY, 1998)
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Considerando a ampla experiência adquirida neste tempo, o processo de


geração do pefil criminal foi definido em alguns passos segundo, Ebisiki (2007):
1 - Processo de entrada de dados (Profiling Inputs Stage)
Esta é a primeira fase do processo para a criação de um perfil criminal e esta
etapa é crucial para que o resultado seja preciso. Em casos de homicídio existe uma
gama de informação gerada ou que pode ser utilizada como um breve resumo do
ocorrido e descrição da cena do crime. Descrever também fatores locais no
momento da ocorrência como condição climática e condições sociais/políticas do
local.
Utilizar também informações a respeito da vítima é crucial para a criação do
perfil criminal. Informações como sua vida doméstica, reputação, hábitos, medos,
condição física, histórico criminal, personalidade, hobbies, conduta social, relação
família e com companheiros de trabalho.
Informações forenses também devem ser coletadas e inseridas para que
possam trazer informações elucidativas a respeito do tempo e da causa da morte,
assim como o tipo de arma utilizada e a sequência de eventos que geraram as
lesões. Para isso deve conter a autópsia com toxicologia/sorologia, fotografia das
lesões na forma em que se encontram e também após a limpeza.
Como dado adicional pode-se acrescentar imagens aéreas da cena do crime.
É muito útil a criação de coquis que possuam informações de direções, distâncias e
escala.
Deve-se realizar estudo de todas estas informações descritas acima,
informações a respeito das evidências e relatos de outros agentes policiais. Através
destas informações é possível obter o nível de risco da vítima e o grau de controle
por parte do criminoso. Pode-se também entender o estado emocional e o nível de
sofisticação utilizado no crime.
Deve-se ter em mente que nesta parte não deve-se adicionar informações a
respeito de possíveis suspeitos pois esta informação poderia criar um viés de
pensamento e assim guiar o perfil a se encaixar em um suspeito específico.
A tecnologia também pode auxiliar no processo de obtenção de informações
em uma cena de crime. Uma ferramenta como um drone pode ser utilizada para
diversas finalidades. Agentes da lei podem rapidamente verificar a área para garantir
a própria segurança para poder então assegurar a preservação da evidência que
será coletada.
Dependendo da evidência a ser trabalhada e da dificuldade do acesso a
mesma, utilizar o drone para coletar a evidência pode ser uma ótima maneira de
evitar a contaminação pelo agente ao explorar o local. O drone pode ser utilizado
também como uma forma de mapeamento para uma futura reconstrução da cena do
crime para a investigação. A maior capacidade na obtenção de informações pode
melhorar a eficiência da investigação na cena do crime (MEDIS, DHARMARATHNE
e WANASINGHE, 2017).
2 - Modelo de processo de decisão (Decision Process Models Stage)
Nesta fase do processo organiza-se as informações coletadas no estágio de
coletas de dados em em padrões.
Tipo de homicídio e estilo (Homicide type & Style)
Neste quesito vamos preencher com o tipo do homicídio que pode ser:
Homicídio simples onde envolve apenas uma vítima em um único evento de
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homicídio, duplo homicídio que envolve duas vítimas em um único evento de


homicídio em apenas um local e o triplo homicídio que envolve três vítimas com
apenas um evento em um local. Pode-se aplicar definições explicadas acima
anteriormente como serial killer, spree killer e mass murder obedecendo as
informações de suas definições e em comparação às informações obtidas no estágio
de entrada de dados (FBI, 1998:18).
Intenção primária (Primary intent)
A ocorrência do homicídio não quer dizer que o homicídio em si era o objetivo
primário do crime. O objetivo primário pode envolver diversas atividades criminais
como negócios criminosos, emocional, egoísmo, sexual, alguma causa mais
específica, além do mais o criminoso pode ainda estar atuando sozinho ou em
grupo.
Nos casos de negócios criminosos, o objetivo primário é dinheiro. O criminoso
provavelmente já se envolveu em criminosos durante a sua vida e o homicídio acaba
se tornando parte do negócio e isso independe da malícia em relação a sua vítima.
Nesta categoria de homicida podemos colocar os assassinos de aluguel, assassinos
de gangue, assassinos por competição e assassinos políticos (FBI, 1998:18).
Já nos casos onde intenção primária do crime é alguma motivação emocional,
egoísta ou alguma outra razão específica o homicida pode acabar matando em um
ato de autodefesa ou como uma forma de compaixão como em casos onde se
desligam aparelhos de suporte de vida de alguém. Crimes como infanticidio,
matricidio, patricídio e conjugicídio e fratricídio. Existem outras razões que também
podem desencadear um homicídio como casos de paranoia. Este tipo de desordem
mental pode levar uma pessoa a cometer algum crime que para ela simboliza algo
ou pode causar uma explosão psicótica (FBI, 1998:18).
Os homicídios perpetrados por grupos podem ter inúmeras razões sendo elas
religiosas, ocultistas ou fanáticos por alguma causa. Já no caso onde o motivo
primário da ação criminosa é sexual, o homicídio pode ocorrer devido ao resultado
do ato sexual ou simplesmente matar para ter o ato sexual. No entanto existem
outras atividades que somente possuem significado para o homicida, estas ações
são desmembramento, mutilações e evisceração (FBI, 1998:18).

Risco da vítima (Victim Risk)


O fator de risco da vítima é calculado tomando com base em fatores que
expõem a vítima e a deixam em uma posição de vulnerabilidade. Homicidas
costumam procurar mais vulneráveis seja por causa do local onde elas se
encontram ou por circunstâncias diversas (FBI, 1998:18).
Fatores que colaboram para criar uma vítima de alto, baixo ou alto risco vão
dependendo da faixa etária, ocupação, hobbies, estilo de vida, estrutura física,
capacidade de resistência e local onde a vítima se encontra. Com base nestas
informações é possível encontrar traçar o tipo de criminoso que está sendo
procurado.

Risco do Criminoso (Offender Risk)


Esta parte é sobre o risco que o criminoso aceitou correr para a realização do
crime. Esta parte está diretamente ligada ao risco da vítima, onde o risco da vítima é
inversamente proporcional ao risco do criminoso. No caso onde o risco da vítima for
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baixo e o risco do criminoso for alto, faz parecer algumas características do


criminoso (FBI, 1998:18).
O criminosos pode estar trabalhando sob circunstâncias estressantes, pode
acreditar que não pode ser pego, pode ser o nível de emoção que ele precisa para a
prática do crime ou demonstra sua maturidade emocional.
Escalação (Escalation)
Este fator diz respeito a forma com que o criminoso progride em relação ao
seu nível de violência durante os crimes. Através de informações sobre a sequência
dos atos é possível não só determinar a escala dos atos como também como
também o potencial do criminoso (FBI, 1998:18).

Fatores de tempo (Times Factors)


A cronologia envolvida no crime pode revelar fatores importantes sobre o
criminoso como a sua ocupação, o seu estilo de vida e fatores de risco do criminoso.
A forma de avaliar o fator de tempo é através de três aspectos: O tempo necessário
para matar a vítima; Tempo necessário para o cometimento de atos com o corpo;
tempo necessário para descartar o corpo (FBI, 1998:18).
Outros fatores também estão relacionados com o tempo e o crime como
quanto mais tempo o criminoso permanece com a vítima maiores serão as chances
dele ser pego na cena do crime. Caso o criminoso queira dedicar mais tempo com a
vítima então ele escolherá um local que dificulte ser observado ou então irá preferir
um local familiar a ele.
Fatores de localidade (Location Factors)
Informação a respeito dos locais envolvidos no crime. Estes locais abrangem
desde o momento em que a vítima foi abordada até o momento em que o crime
ocorreu (FBI, 1998:18).
Pode ocorrer também diferenciação entre o local do crime e o local onde
ocorreu a morte da vítima e isso precisa ser diferenciado pois é informação adicional
a respeito do criminoso.
3 - Estágio de Avaliação do Crime (Crime Assessment Stage)
Este é o estágio do perfilamento que envolve a reconstrução dos eventos
tanto do criminoso quanto da sua vítima com base no que foi organizado nos
estágios anteriores. Para organizar o perfil criminal serão utilizados informações de
como os eventos ocorreram, como as pessoas envolvidas no caso se comportaram,
como foi planejado e organizado a abordagem. São realizadas avaliações a respeito
da classificação do crime utilizando aspectos que indicam organização ou
desorganização, a forma que o criminosos selecionou a sua vítima, a sequência do
crime, a motivação do criminoso, dinâmica do crime e se ocorreu encenação do
crime ou não (FBI, 1998:20).
Para se chegar em uma classificação deve existir um processo de avaliação
que passa por alguns passos. O primeiro é estabelecer se o crime foi organizado ou
desorganizado e para isso é observado fatores como a seleção da vítima, maneira
utilizada para controlar a vítima e a sequência do crime (FBI, 1998:21).
Para entender a definição de criminosos organizado temos que observar
cuidadosamente se ocorreu planejamento na abordagem à vítima e na e sua
escolha, assim como a forma com que o criminosos controlou a sua vítima e
vivenciou a sua fantasia. O organizado é exatamente o oposto do organizado, onde
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ele aborda as vítimas por oportunidade justamente ter uma inaptidão para criar e
seguir planos. As próprias ações do criminoso na cena do crime em relação a uma
tentativa de mudar a cena do crime para tentar direcionar a investigação pode até
direcionar o investigador para elucidar a motivação (FBI, 1998:21).
Motivação (Motivation)
A motivação é o aspecto mais difícil de se determinar em um crime, pois ele
diz respeito a fatores profundos da mente do criminoso, neste caso quanto mais
desorganizado forem seus pensamentos e/ou caso possua alguma desordem mental
mais difícil de identificar a motivação. (FBI, 1998:20)
Esse fator pode ser ainda mais agravado se for incluído variáveis como
emocionais como pânico e estresse, assim como também pode ocorrer consumo de
drogas lícitas ou ilícitas. No caso de criminosos organizados isso pode ser um pouco
mais fácil pois existe uma "lógica" que pode ser acompanhada através da habilidade
de planejar e seguir o planejamento deste tipo de criminoso. Esta organização pode
acabar criando uma sequência lógica que auxilia o investigador. (FBI, 1998:20)
A motivação é algo tão conectado ao criminoso que para uma pessoa sem
conhecimento em perfil criminal a vítima pode ter sido escolhida ao acaso quando na
verdade, na maioria dos casos, a vítima tem alguma simbologia em relação a
ele.Entender os quatro tipos de serial killer também ajuda a conhecer a motivação
dos crimes em série. Os quatro tipos são visionário, missionário, emotivo e sádico.
(CASOY, 2017:23)
No caso do visionário temos a caracterização dele como um psicótico onde
devido a distúrbios mentais é acometido de alucinações audiovisuais que o
impulsionam ao crime. Já o missionário não demonstra grandes sinais de distúrbio
mental, porém tem a necessidade de cumprir uma missão de ajudar o mundo a se
livrar de determinado grupo que ele julga indigno ou representa algum tipo de
imoralidade. (CASOY, 2017:23)
O emotivo realiza os homicídios por pura diversão e ele obtém prazer desde o
planejamento até a execução do crime. O sádico mata por desejo sexual onde atos
como torturar, mutilar e matar lhe traz prazer sexual e canibais e necrófilos estão
inseridos nesta categoria (CASOY, 2017:23)
Dinâmica da cena do crime (Crime Scene Dynamics)
Os investigadores fazem a interpretação da cena do crime através de
elementos que são comuns em todas as cenas de crime. Estes elementos são o
local da cena do crime, causa da morte, método utilizado para matar, posição do
corpo, traumas excessivos e localização dos ferimentos. Através destes elementos
citados anteriormente, com base em sua experiência em casos similares é realizado
o investigador compreender a dinâmica dos eventos (FBI, 1998:20)
No caso dos agentes do FBI, esta experiência possui um potencializador que
é uma enorme base de dados de entrevistas com criminosos que estão na Unidade
de Ciências Comportamentais. Neste material possui uma enorme quantidade de
informações sobre personalidade criminosa e seus padrões (FBI, 1998:20)
4 - Estágio de perfilamento Criminal (Criminal Profile Stage)
Nesta fase busca-se o tipo de pessoa que cometeria o crime e a sua
organização comportamental individual(Personalidade) em relação com a cena do
crime. Com as informações é possível agora formular a estratégia de investigação
com relação a como o indivíduo irá responder em relação aos esforços empregados.
(FBI, 1998:20)
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Aqui são adicionados de segundo plano, mas não menos importantes


como dados demográficos, características físicas, hábitos, crenças e valores,
comportamentos pré-crime que o levaram a delinquir e comportamento pós crime.
Pode-se adicionar recomendações sobre forma de abordar em um interrogatório ou
entrevista para auxiliar a identificar e prender o criminoso. (FBI, 1998:20)
Neste estágio será feita a validação do perfil criminal. O perfil precisa
ser compatível com a descrição do crime, com a evidência e com os modelos de
processos de decisão. Os procedimentos de investigação desenvolvidos precisam
fazer sentido se levados em conta as respostas esperadas pelo criminoso, havendo
algum tipo de incongruência deve-se então rever todas as informações e avaliações.
Na tentativa de descrever a pessoa que cometeu aquele crime utiliza-se de
diversas informações são analisadas e o tamanho do perfil vai depender da
quantidade de dados disponíveis. Os perfis criminais podem gerar informações
como idade, etinia, sexo, aparencia geral do criminoso, seu estatuns de
relacionamento, tipo de ocupação, dados sobre seu emprego, nivel escolar e caso
ele possua uma eventual carreia militar. (CASOY, 2017:54)
Pode-se também encontrar informações sobre a área de atuação do
criminoso, se ela é próxima a sua residência ou é uma área familiar para ele.
Ocasionalmente encontra-se também dados mais profundos das sua personalidade,
objetos que ele pode estar carregando com ele e descrição do método empregado
para abordar a vítima. (CASOY, 2017:54)
5 - Estágio de investigação (Investigation Stage)
Caso o resultado no estágio anterior seja a produção de um perfil congruente
e confiável é produzido um relatório e este é enviado para a agência solicitante para
que seja usado como orientação das investigações. O processo também pode
atender a necessidade de ser adicionado uma nova evidência ou até mesmo caso o
suspeito não seja identificado. Os estágios de “feedback” auxiliam a reexaminar as
informações e avaliar o perfil. (FBI, 1998:20)
6 - Estágio de apreensão (Apprehension Stage)
Apesar do objetivo da investigação ser a elucidação de um crime, o processo
de perfilamento não se encerra com a apreensão do criminoso. Acontecendo a
prisão e mesmo que o suspeito se declare culpado é necessário conduzir uma
entrevista para checar todo o processo do perfil criminal buscando assim a validação
dos dados. (FBI, 1998:21)
Essa checagem e verificação é uma etapa complicada pois além da
possibilidade do criminoso nunca ser pego, ele também pode ser pego em outra
jurisdição, pode ser pego por outro tipo de delito ou até mesmo encerrar a sua vida
de crimes de forma voluntária ou compulsória ao ser morto (CASOY, 2017:54).
O método do FBI é o mais utilizado em todo mundo e são realizados
constantes treinamentos de seus agentes para a criação de perfis criminais desta
forma (CASOY, 2017:54).
A abordagem utilizada pelo FBI se provou ser bastante util principalemnte por
facilitar a classificação dos crimes e desta maneira, com base em aspectos
comportamentais do criminoso, pode-se observar similariedades entre dois oi mais
crimes para só assim verificar a possibilidade deles terem sido cometidos pela
mesma pessoa. (EBISIKI, 2007:74)
Banco de dados
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Em sua rotina normal o departamento de polícia recebe diariamente centenas


de registros que possuem diversas informações sobre crimes. As informações
relatadas podem conter padrões de informações sobre o crime como, informações
sobre o criminoso, informações sobre a vítima e/ou informações sobre o veículo.
(DAHBUR e MUSCARELLO, 2004:251).
Deve-se destacar também que estes padrões não estão somente limitados
às características da vítima, tipo de arma empregada, características físicas do
criminoso, particularidades do local do crime, características do veículo utilizado
durante a fuga, possíveis itens subtraídos pelo criminoso e roupa utilizada pelo
criminoso durante o delito (DAHBUR e MUSCARELLO, 2004:251).
Uma das soluções desenvolvidas e mantidas pelo FBI para analisar e linkar
os crimes é o NCAVC, National Center for the Analysis of Violent Crime, que em
tradução livre é Centro Nacional para Análise de Crimes Violentos. A sua proposta
base fornece suporte aos investigadores envolvidos em crimes não comuns ou
crimes violentos em série, ameaças terroristas, crimes cibernéticos, corrupção,
pessoas desaparecidas, partes humanas não identificadas encontradas de forma
dispersa e outros assuntos (DOUGLAS, et. al., 2013:69).
Para coordenar a comunicação e potencializar a capacidade de linkar os
crimes foi desenvolvida uma ferramenta chamada ViCAP, Violent Criminal
Apprehension Program, que em tradução livre é Programa de Apreensão de
Criminosos Violentos. O ViCAP é uma ferramenta WEB que conecta os crimes
através de uma base de dados que conta com o apoio do FBI para a sua
manutenção e apoio de analistas para ajudar a linkar os crimes. A base de dados
conta também com mais de cinco mil agentes da lei e desde 1985 contribuiu com
mais de oitenta e cinco mil casos (DOUGLAS, et. al., 2013:69).
Dentre as diversas atividades da NCAVC podemos listar a análise criminal,
perfis de criminosos desconhecidos, análise da motivação do criminoso, análises da
ligação entre casos, sugestões investigativas, coordenação entre múltiplas agências,
gestão e análise de ameaças, estratégias de entrevista, assistência de declaração
de mandado de busca e apreensão, estratégias de acusação e julgamento,
testemunho especializado e análise de acidentes críticos (DOUGLAS, et. al., 2013:70).
Estes sistemas, através de históricos, informações para análise e ferramentas
de data mining, dão a possibilidade de analisar dados criminais para a previsão de
comportamentos futuros. Apesar da grande capacidade de utilização desses
sistemas, ainda não existe uma base de dados que possa servir para identificar
padrões e ameaças perigosas em nível nacional (FBI, 1998:18)

O objetivo geral do ViCAP "é identificar semelhanças em crimes" por meio


de uma pesquisa no computador, isolando características particulares na
prática do crime. Por meio de uma pesquisa em computador com foco em
critérios específicos de crime, uma agência de aplicação da lei pode entrar
em contato e cooperar com outra agência que esteja trabalhando em um
"caso semelhante com características semelhantes". Segundo o Agente
Safarik, o "sistema Vi CAP procura ... homicídios resolvidos ou não
resolvidos, ou tentativas de homicídios, casos de pessoas desaparecidas,
sequestros, onde existe uma forte ossibilidade de jogo sujo, ou cadáveres
não identificados, onde a forma de a morte é suspeita de homicídio.
(EBISIKI, 2007:250).

A análise de dados é uma excelente ferramenta que auxilia os investigadores,


especialmente aqueles que não possuem treinamento em análise de dados.
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6. Conclusão
Crimes causam sérios danos, tanto para pessoas quanto para a coletividade
como o seu todo. Estes danos são ainda maiores quando se trata de crimes
continuados ou em série contra o bem mais precioso que é a vida. Estes crimes
geram uma grande quantidade de vítimas e podem formar feridas sociais que
deixam severas cicatrizes. Como exemplo podemos citar o atentado ao World Trade
Center onde terroristas colidiram dois aviões contra edifícios conhecidos como
Torres Gêmeas, sendo assim este ato classificado como um evento de mass
murder.
A melhor maneira de entender um crime é buscar classificá-lo através de suas
características. Estas características além de ajudar a compreender a periculosidade
do criminoso e a possibilidade de repetição do delito, pode também proporcionar a
descrição necessária que possibilita a individualização do crime para cadastro,
análise e pesquisa em um sistema de banco de dados.
Com as informações devidamente cadastradas é possível usar técnicas de
data mining para poder tirar informações úteis para a elucidação dos crimes. Estas
informações não necessariamente trarão a autoria dos crimes, mas podem dizer
bastante sobre o criminoso, sua personalidade e comportamento. Através de
informações de perfilamento criminal é possível ao menos ajudar nas investigações
para reduzir a quantidade de suspeitos. Caso as pesquisas continuem avançando no
sentido do estudo do crime em relação ao comportamento humano, será possível
prever o comportamento futuro do criminoso através da análise dos crimes
anteriores.
Um banco de dados atuando em conjunto com data mining é uma ferramenta
de análise de dados e para isso precisa ser alimentado com informações
quantitativas e qualitativas para que possam ser extraídos resultados precisos. Estas
informações podem ser objetivas e subjetivas a respeito de determinada cena de
crime e seus vestígios. Para isso é necessário padronização do método de
investigação para que os esforços de todos os envolvidos sejam direcionados a
elucidação do caso e para a entrada de dados confiáveis no sistema.
Para que este sistema possa dar certo e ajudar a elucidar crimes é necessário
mais do que uma padronização, é necessário um esforço nacional principalmente
para superar barreiras relacionadas a jurisdição.
Quanto mais colaboração para criar um banco de dados criminal, maior será a
efetividade da análise realizada por ele. Desta forma uma dos problemas que hoje
atrapalha a elucidação de crimes em série, que é a possibilidade do criminoso
praticar o ato delituoso em múltiplas jurisdições, possa ter uma maior chance de ser
sanado.
Infelizmente, no Brasil, contamos com uma taxa de elucidação de crimes
baixíssima. Ainda mais se compararmos com outros países. Esta taxa não é devido
a baixa qualidade dos nossos agentes, mas sim da falta de estrutura e apoio que é
dada a eles durante as investigações.
A criação de um sistema nacional não somente irá facilitar as investigações,
pois irá servir como um banco de dados forenses, como também irá proporcionar
likar múltiplos crimes de maneira mais eficiente, melhorar a comunicação entre
instituições e jurisdições para juntos aumentar a taxa de elucidação de crimes e
assim salvar mais vidas, servir e proteger os cidadãos do nosso país.
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Referências
BROOKMAN, F.; Manguire, E.R.; Maguire, M.The handbook of homicide.Arizona:
Wiley, 2017.

CASOY, Ilana. Serial Killers: Made In Brazil. Rio de janeiro: DarkSide Books, 2017.

DOUGLAS, J.; BRUGESS, A.; Ressler, R. E HARTMAN, C. Criminal Profiling from


Crime Scene Analysis. Virginia: Divisão de treinamento e sciencia comportamental
do FBI, 1986.

DOUGLAS, J.E.; BURGESS, A.W.; BURGESS, A.G.; RESSLER, R.K. Crime


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EBISIKI, Norbert. The use of offender profiling evidence in criminal cases.


Califórnia, 2007.Disponível
em:<https://digitalcommons.law.ggu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1023&context=t
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ELDESTEIN, Arnon. Re-Thinking Typologies of Multiple Murders: The Missing


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https://medcraveonline.com/FRCIJ/use-of-unmanned-aerial-vehicles-in-crime-scene-
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