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O PERFIL CRIMINAL DOS ASSASSINOS EM SÉRIE E SUA APLICAÇÃO NO

BRASIL
Serial Killers Criminal Profiling and its application in Brazil

1
Nicholas Custódio Boreto Francatti
2
Leonardo Tesser Penha

SUMÁRIO
Introdução. 1 Assassinos em série: características, definições e diferenciações. 1.1 Conceito
de Serial Killer. 1.2 Classificação de Serial Killers por Brent Turvey. 1.3 Classificação de
Mass Murderer e Spree Killer. 2 Perfil Criminológico: Conceitos, Classificações, Importância
e Aplicação. 2.1 Definição e crescimento midiático. 2.2 Validade científica do método e
pressupostos de limite. 2.3 Utilização da técnica nos tipos de crimes. 2.4 Eficácia do método.
3. Análise dos Assassinos em Série no Sistema Penitenciário e Punitivo Brasileiro com
estudo de casos nacionais. 3.1 Legislação Brasileira: Criminal Profiling e Assassinos em
Série. 3.2 Casos de serial killers brasileiros. Conclusão. Referências Bibliográficas.

RESUMO
Pretende-se com o artigo em uma dimensão mais ampla analisar a utilização do perfil
criminológico com foco nos casos de assassinos em série, com identificação e descrição da
técnica do perfil criminológico, a distinção dos termos psicopata e psicótico, comparação e
diferenciação entre os termos serial killers, mass murderers e spree killers, a abordagem dos
serial killers no Brasil com casos explicitados a fim de levantar um fomento no debate no
âmbito acadêmico sobre o tema através da apresentação desses termos, definições,
diferenciações comparações e citações.
Palavras-chave​: Assassinos em série. Perfil criminológico. Homicídio. Ciências criminais.

ABSTRACT
The purpose of the article in a broader database is to use the criminal profile with emphasis
on cases of serial murders, with identification and description of the criminal profile
technique, the distinction between the terms psychopathic and psychotic, difference and
understanding between the terms Serial Killers, Mass Murderers and Spree Killers, n order to

1
Sugiro que insira um breve resumo sobre seu currículo aqui. Não é obrigatório, mas em caso de publicação do
artigo, é interessante que os leitores te conheçam e possam entrar em contato, se quiser. Por exemplo:
Graduando em Direito pela Faculdade X. Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais do IBCCrim –
2018. E-mail: X
2
Orientador. Mestrando em Direito Penal e Criminologia pela Faculdade de Direito da USP. Especialização em
Direito Penal e Criminologia, em curso, pelo Instituto de Criminologia e Política Criminal (ICPC/UNINTER).
Coordenador Regional do Laboratório de Ciências Criminais do IBCCrim em São Bernardo do Campo. E-mail:
leonardo.tesser@hotmail.com
raise a stimulus in the academic debate on the subject by presenting these terms, definitions,
differentiations, comparisons and quotations.
Key-words:​ Serial killers. Criminal profiling. Murder. Criminal sciences.
INTRODUÇÃO

A constância dos crimes que tem como objeto jurídico a vida das vítimas e pela
incompreensão das motivações que levam o indivíduo a cometer tais atos é um fato que tem
assustado a população desde sempre, gerando uma atenção cada vez maior para o tema,
causando uma massa de produção jurídica sobre a análise dos perfis desses indivíduos.
Desse modo, o artigo possui o objetivo de analisar os serial killers, assassinos em
série que, por mais que venham sendo cada vez mais objeto de produção de conteúdo
reprodutivo midiático nos programas televisivos, séries, filmes e livros, não são um problema
recente mas são há pouco tempo estudados. Devido a dificuldade de se levantar uma única
motivação para a realização de tais atos deferidos pelos assassinos em série têm-se uma
dificuldade proporcional para se traçar um perfil criminal. Entretanto, com o advento da
ciência forense e seu desenvolvimento cada vez mais expressivo, unindo-se áreas como
psicologia, psiquiatria, direito e entre outras, é possível elaborar um perfil criminal que será
utilizado junto ao trabalho da polícia sendo de grande importância para a solução de crimes -
uma vez que a porcentagem de solução de homicídios dolosos gira em torno dos 6% no país
sendo um índice vergonhoso se comparado com outros países - e evitar que mais ocorram.
Sendo assim, o estudo tem a intenção de trazer classificações, definições, diferenciar
os assassinos em série de outros tipos como os “mass murderers” e os “spree killers”,
características dos serial killers somado a importância da utilização do perfil criminológico
para investigar tais crimes devido a essa deficiência constatada no país em solucionar os
casos nessas situações, por meio da análise de características psíquicas, comportamentais e
criminais, almejando a criação de perfis criminais envolvendo elementos psíquicos e até o
modo como os agentes executam seus crimes, por meio do estudo dos padrões e rastros
deixados.
Por fim, o propósito e a intenção da produção deste artigo é gerar uma discussão
envolvendo os temas da psicopatia e os serial killers, adotando-se a técnica do perfil criminal
para analisá-los e classificá-los. O debate prossegue com a abordagem da distinção entre os
conceitos e da relação psicopatia com o serial killer, que gera confusões até mesmo entre
profissionais da área. Será posto em pauta também a questão de senso comum de que o sexo
feminino não se encaixa no cometimento de tal crime e a relação do serial killer com o
sistema penitenciário brasileiro e sua punibilidade.

1. ASSASSINOS EM SÉRIE: CARACTERÍSTICAS, DEFINIÇÕES E


DIFERENCIAÇÕES

1.1 Conceito de Serial Killer

O termo serial killers, traduzido para o português como assassinos em série, foi
introduzido por volta dos anos 70, por Robert Ressler, ex-agente do FBI que trabalhava na
área de perfis psicológicos de criminosos juntamente a outros órgãos. O termo foi adotado
mundialmente e tem o objetivo de trazer uma nomenclatura mais precisa para esse grupo de
indivíduos.
Inseridos na categoria de agressores em série existem os homicidas em série, tipo
que é conceituado no Manual de Classificação de Crimes feito pelo FBI (Federal Bureau of
Investigation) como sendo “​um indivíduo que realiza os homicídios em três ou mais eventos
separados em três ou mais locais distintos com um período de calmaria”. (FBI, 1992 ​apud
Schechter, 2013, p. 16)
Entretanto essa definição traz muita confusão, podendo se inserir juntamente no
grupo assassinos de aluguel e assassinos em série , além do fato de que os crimes ocorridos
nem sempre se dão em locais diferentes. A partir desse conceito que falha quanto a noção da
natureza específica dos crimes há de se adotar um conceito mais rico e completo trazido pelo
NIJ (​National Institute of Justice​).

Uma série de dois ou mais assassinatos cometidos como eventos separados, geralmente, mas
nem sempre, por um criminoso atuando sozinho. Os crimes podem
ocorrer durante um período de tempo que varia de horas a anos.
Muitas vezes o motivo é o psicológico e o comportamento do
criminoso e as provas materiais observadas nas cenas dos crimes
refletem nuanças sádicas e sexuais.​ (NIJ ​apud ​Schechter, 2013, p. 18)

1.2 Classificação de Serial Killers por Brent Turvey


O cientista forense e profiler analítico Brent Turvey classifica os homicidas em duas
categorias distintas: homicidas singulares e homicidas múltiplos que se subdividem em
homicidas múltiplos em massa, homicidas múltiplos explosivos e homicidas em série. O
autor de diversos livros na área sobre o assunto ainda traz dados estatísticos sobre esses
indivíduos que tendem a ser jovens, solteiros, que podem apresentar vários comportamentos
antissociais sistematizados dentro do seu cotidiano porém, se encontram organizados e
funcionais de modo geral.
No quesito características de assassinos em série pode-se concluir que eles tendem a
possuir uma inteligência mediana com possíveis exceções para mais ou para menos, possuem
diversas motivações diferentemente do que aponta o senso comum sobre o tema que associa
sempre com o homem com a motivação sexual, ponto que será abordado em seguida.
Ademais, o homicida em série de modo geral é associado à figura do homem,
entretanto, o número de mulheres que cometem o mesmo crime é cada vez maior, mesmo
sendo por motivações completamente distintas como o lucro obtido após o ato ou requerer a
atenção da vítima ou outros e métodos menos violentos como o uso de veneno em vítimas
mais próximas e conhecidas.
Haja vista os comportamentos dos indivíduos em questão pode-se concluir que
independente de qual categoria se insiram eles possuem dificuldade de manter relações
sociais em sua vida, em sua maioria por situações ocorridas em seu passado, mais
especialmente na infância como traumas ou tratamento de seus familiares que fazem com que
eles não desenvolvam alguns sentimentos, reflexões que se dão por comum por exemplo a
empatia, tornando-se introvertidos, muitas vezes solitários e com sentimentos de rejeição.
Comumente os homicidas em série possuem uma visão diferente da sociedade, com
pensamentos de que estão em um mundo em que não se encaixam, dentro de um local que
todos estão fora de si e ele é o único com consciência e percepção do que é o correto,
enxergando tudo isso como sendo hostil.
Através do livro “Serial Murder” de Ronald M. Holmes e James DeBurger datado de
1998 surgiu uma forma de classificar os serial killers os dividindo em quatro tipos. O
primeiro tipo é o de homicidas visionários que engloba os indivíduos que cometem os atos
por ouvir em sua cabeça ou ter visões que o levam ao crime, sendo normalmente
considerados inimputáveis.
O segundo tipo é o de homicidas missionários em que o sujeito diferentemente do
tipo visionário, não possui traços psicóticos mas executa o crime acreditando fielmente que
está realizando um bem para a sociedade em eliminar grupos específicos da sociedade como é
possível observar em assassinatos em série de negros, prostitutas.
Já o terceiro tipo dado como homicidas hedonistas traz duas subdivisões, o homicida
excitado ou lascivo que apresenta em suas ações uma reação direta entre sexo e violência
com uma gratificação sexual. Em geral, esse tipo remete a atos mais demorados por motivo
do criminoso operar procedimentos como a tortura e mutilação da vítima. Enquadrado nesse
tipo ainda há o assassino por gratificação material, ou seja, aquele que visa ganho pessoal ou
lucro a partir do crime, sendo ordinariamente ligado às mulheres serial killers.
Por fim, o tipo de homicidas controladores é em suma o grupo que abrange os
homicidas que se satisfazem sabendo que a vítima está sob total domínio dele, gerando uma
excitação e igualmente mais complexo e demorado como o tipo supracitado dos hedonistas
também se focando no procedimento do ato.

1.3 Classificação de Mass Murderer e Spree Killer

Em outro método de classificação há de se observar as diferenças tidas nos termos


dentro do contexto de serial killer, sendo o mass murderer e o spree killer. Nos assassinatos
em massa de modo geral, o crime ocorre em um único local, as vítimas não são escolhidas e
são mortas sem motivo específico e é relacionado geralmente a um ato premeditado de
vingança do homicida contra a sociedade.
Afinal, o spree killer se resume ao crime de assassinato de várias pessoas que se dá
em dois ou mais locais diferentes e em geral com pouco intervalo entre os crimes, sendo uma
ação mais impulsiva e não premeditada, como no caso dos mass murderers, cometidos
geralmente por 2 ou até mais pessoas.

2. PERFIL CRIMINOLÓGICO: CONCEITOS, CLASSIFICAÇÕES,


IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO

2.1 Definição e crescimento midiático


O Profiling Criminal ou Perfil Criminológico é uma técnica investigativa e de
análise de vestígios e provas que compõe-se por análises comportamentais dentro de um
contexto criminal e que se utiliza da busca de padrões e ligações que possam ser interpretados
com a finalidade de auxiliar na identificação de crimes, além de poder ser utilizado em
situações como interrogatórios, entrevistas, negociações, testemunhos e pareceres. Por
consequência, o profiler criminal é o profissional da área de Criminologia que atua também
como perito forense, que possui geralmente uma formação em volta das Ciências Sociais,
Comportamentais e Forenses.
Houve um grande crescimento de atenção e interesse na área de de Profiling uma
vez que diversas mídias se dispuseram do assunto em filmes, séries de TV e livros. No
entanto, a técnica não é exatamente do modo que a apresentam nesses locais, já que não é tão
exato, empírica e é majoritariamente aplicada em crimes mais graves como agressões sexuais
e homicídios, visto que não é tão efetiva em casos como roubos e furtos tirando as
ocorrências em que o crime se dá em série.

2.2 Validade científica do método e pressupostos de limite

Em razão de ser uma técnica relativamente recente e não muito explorada há uma
certa dúvida quanto a sua validade científica. Até o presente momento da produção deste
artigo não há uma pesquisa ou estudo científico que possa medir a real eficácia da técnica e
nem as suas classificações. Alguns autores afirmam que os perfis são únicos e não devem ser
separados de seus autores, entretanto, outros afirmam que a ligação e comparação com outros
perfis pode auxiliar na realização de outros perfis e descoberta de autores.
A fim de executar a técnica de perfil criminológico deve-se atentar a alguns limites
que regulam o seu uso. Inicialmente, a técnica tem o objetivo de estabelecer um perfil
psicossocial de um agressor que ainda não foi identificado pelas autoridades policiais a partir
das informações dadas ao profissional tanto na cena do crime como fora, podendo deduzir
algumas características da personalidade do agente baseando-se nas informações dadas e
estudadas. Como já citado anteriormente, o Profiling costuma ser usado em crimes com
maior gravidade, especialmente aqueles que a polícia não tem muitas pistas e não consegue
limitar os suspeitos para identificar o agente do crime ou quando já se utilizaram outros
métodos e não foram efetivos.
A aplicação tanto do pensamento crítico quanto do raciocínio dedutivo e indutivo
são essenciais para a técnica de Profiling Criminal. O primeiro sendo útil para distinguir uma
afirmação sempre verdadeira, de uma às vezes verdadeira, de uma parcialmente verdadeira e
de uma falsa nesse âmbito. O segundo une os dois raciocínios para resultar em dois métodos
de profiling que se complementam: os indutivos ou nomotéticos que tratam das previsões
realizadas baseadas nas informações de outros casos aplicadas a um caso em específico e os
dedutivos ou ideográficos que se resumem aos padrões comportamentais que são
apresentados nas investigações sendo analisados para gerar opiniões e teorias sobre o caso.

2.3 Utilização da técnica nos tipos de crimes

A técnica do Profiling Criminal tem sido utilizada com foco maior em crimes
específicos de agressão sexual, homicídio, sequestro e terrorismo, em especial quando esses
crimes ocorrem em série. Os autores Ronald M. Holmes e Stephen T. Holmes realizaram em
1996 uma lista de crimes que são alvos da técnica do Profiling.

Tabela 1. Tipos de crimes em que a utilização da técnica de Profiling é mais


apropriada e eficaz

Tipos de crimes em que a utilização da técnica de Profiling é mais


apropriada e eficaz

Ofensas sexuais sádicas

Homicídio sexual

Casos de abuso e humilhação post-mortem

Fogo posto

Homicídios com mutilação

Violação

Crimes ritualistas e do oculto


Abuso sexual de menores, incluindo pedofilia

Assaltos

Comunicações anônimas obscenas

Fonte: Profiling Criminal: Introdução à Análise Comportamental no contexto investigativo,


KONVALINA-SIMAS TÂNIA – 2ª Edição - 2014.

2.4 Eficácia do método

Em razão da utilização de princípios e métodos diretamente ligados com as Ciências


Sociais e Comportamentais, que não são ciências exatas e não podem trazer resultados
completamente indefectíveis e da proliferação de profissionais da área de Profiling que não
são experientes e não possuem o treinamento correto para o uso do método, cria-se uma
dúvida quanto a eficácia do mesmo.
Conforme Brent Turvey, baseando-se em um estudo realizado em 1981 por John E. Douglas,
analista do FBI considerado como um dos primeiros a se debruçar nos perfis psicológicos dos
criminosos, a fim de medir o valor do método para as forças policiais da época. Os dados
referidos pelos investigadores que se utilizaram dos serviços dos profilers foram: redução em
77% dos casos do espectro da investigação em casos em que o criminoso foi identificado, 594
dias reduzidos de tempo de investigação, 15 dos 192 casos examinados resultaram na prisão
do autor.
Vários outros estudiosos realizaram pesquisas para concluir a eficácia do Profiling,
como Paul Britton, Goldblatt, Pinizzotto & Finkel, Copson e Kocsis, Irwin, Hayes & Nunn,
sendo este último realizado em 2000 com uma forma diferente de medir, reunindo grupos de
profilers, policiais, psicólogos, estudantes e médiuns os comparando e concluindo que o
desempenho dos profilers se sobressaiu nos quesitos de identificação dos processos
cognitivos, características físicas, estilo de vida, histórico social, comportamentos criminais e
número de predições corretas.
Em suma, observa-se que embora o Profiling Criminal se encontre em uma fase
embrionária quanto a sua validade no uso de métodos, nessas pesquisas conclui-se que o
método de Profiling se usado por profissionais competentes e bem treinados pode ser
utilizado como ferramenta investigativa de excelência. Assim como, as forças policiais
reconhecem a ferramenta tanto pela contribuição para se compreender o comportamento
criminal dos agentes como pela capacidade de prever as características dos criminosos, vez
que apresentam novas ideias que surgem de pesquisas realizadas em todo o mundo a partir da
técnica por ser uma profissão emergente que força a exploração de novos domínios e novos
conhecimentos ainda não alcançados.

3. ANÁLISE DOS ASSASSINOS EM SÉRIE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO E


PUNITIVO BRASILEIRO COM ESTUDO DE CASOS NACIONAIS

A produção de conteúdo sobre a técnica de Criminal Profiling no Brasil ainda não é


muito intensa, já que se trata de um método relativamente recente e em crescimento no país.
Deste modo encontra-se pouco material disponível sobre sendo a maioria de alto custo, por
consequência a pesquisa em relação ao assunto se torna mais difícil e reduz-se a procura de
livros, artigos e outros materiais de língua estrangeira.
A carência citada também é refletida no âmbito profissional do país, situação em que
são poucos os profissionais atuando nessa área e a busca pela experiência, cursos, mercado do
método do Profiling é bem árdua, sendo muitas vezes realizada em Estados mais distantes ou
até mesmo países, já que a técnica é mais utilizada e desenvolvida em países como Estados
Unidos e Inglaterra. Os problemas supracitados são em maioria pela falta de incentivo e
investimento do Estado na área de investigação criminal, mais especificamente no método de
Profiling. Logo, não pode se considerar um ofício ou até uma área de atuação específica no
Brasil.
O Poder Público poderia investir em políticas públicas a fim de incentivar a área do
Criminal Profiling e inserir o conhecimento nas ciências sociais e criminais, ainda que os
estudantes não tenham direto interesse sobre o conteúdo, seria uma forma de incentivo, bem
como poderiam ser realizadas em maior quantidade e em mais locais palestras, congressos e
acerca do tema com a finalidade de propagar o conhecimento científico e alcançar um maior
número de pessoas. Em virtude deste não desenvolvimento e incentivo da técnica, o Brasil
não possui uma estrutura de investigação especial e suficiente para utilização de alguns
métodos como em países da América do Norte e Europa.
Como resultado, tem-se a conclusão da pesquisa realizada por Cristóvão de Melo
Goes Júnior (2012, Cogito vol.13):
No Brasil, a falta de preparo da Polícia em identificar crimes cometidos por assassinos em série ficou
patente quando analisamos o caso dos Emasculados de Altamira: 42
meninos assassinados no período de 1989 a 2003; de 4 a 15 anos;
residentes nos Estados do Pará e Maranhão, e que foram vítimas de
Francisco das Chagas Rodrigues de Brito. Foram quase 14 anos cometendo
esses crimes sem ser importunado pelos Agentes do Estado. Um banco de
dados de caráter nacional, que relacionasse as informações colhidas pelas
Investigações realizadas pelos Estados, possibilitaria a análise das
ocorrências, com a possível comparação de dados e informações,
acarretando a identificação do seu modus operandi, que consistia em
convidar os meninos para caçar passarinhos ou pegar frutas na mata. Uma
vez na mata, estrangulava a vítima, cortava partes do corpo e levava como
troféu. De início, o caso foi tratado pela polícia como sendo crimes comuns
e sem ligação um com o outro. Com o protesto dos pais das crianças, a
Polícia aprofundou as investigações e as concluíram com a prisão de
Francisco no Maranhão.

Destaca-se que diversos casos que ocorreram em solo nacional tiveram sua solução
sem a menor noção e aplicação do termo assassinos em série, além de uma gama imensa de
casos que se encontram sem solução em razão do despreparo das forças policiais e que
poderiam ser resolvidos com o uso da técnica. Há nitidamente uma “cegueira de ligação” que
paira sobre as autoridade policiais do país que tem severa dificuldade de sequer tomar como
possibilidade a ligação de um crime com o outro, caracterizando o crime em série,
prejudicando muitas vezes o desenrolar da investigação.
Os poucos órgãos que tratam especificamente de Ciências Forenses em nosso
território poderiam receber mais apoio do Estado para serem utilizados com mais eficiência
não só para a solução dos crimes como forma também de evitá-los.
Ainda nessa década, no ano de 2007 foi realizado pelo FBI no Paraná um curso que
tratava das técnicas de investigação em especial o modo de analisar a cena do crime e a
elaboração do perfil criminal, abrindo diversas possibilidade para a polícia do Estado como a
criação de um banco de dados integrado com perfis criminais para que as autoridades
pudessem trocar dados e atuar em conjunto nos casos. Sendo realizada uma pesquisa nos anos
seguintes no mesmo Estado, constatando a possibilidade de grande parte dos presidiários do
Paraná serem ​serial killers​ em potencial.
Por conseguinte, deve-se observar as iniciativas realizadas no Estado citado como
um sucesso que deve ser espalhado para os outros Estados da Federação, a fim de que as
autoridades policiais do país possam tratar com competência de crimes em série com o uso
das informações dadas e dos perfis e bancos de dados criados, mesmo nos encontrando em
um local no qual não há tanta incidência desses tipos criminais como em outros.

3.1 Legislação Brasileira: Criminal Profiling e Assassinos em Série

Na atuação do profissional da área do Criminal Profiling como perito criminal


tem-se a aplicação do artigo 564 do Código de Processo Civil Brasileiro quanto a ausência
dos exames que devem ser realizados pelo perito onde ocorrem investigações e análises de
pessoas e coisas.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


[...] III. Por falta das formulas ou dos termos seguintes:
[...] b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios [...]

A incidência do artigo 419 do Código de Processo Civil de 1973 é de suma


importância para a função que exerce o profissional atuando como perito como pode se
enxergar com a citação do artigo que dita:

Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os
meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem
como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer
peças.

Na legislação brasileira os homicidas em série incidem no artigo 121, §2º, inciso II


do Código Penal Brasileiro, podendo haver a incidência ainda do instituto chamado de "crime
continuado" presente no artigo 71 do mesmo dispositivo ou até do instituto "concurso
material de crimes" do artigo 69 somando-se as penas para a execução do agente.
Quanto a inimputabilidade do réu, temos a aplicação do artigo 29 do Código Penal
que dita:

É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Portanto, temos a aplicação semelhante ao sistema visto nos Estados Unidos, já que
aqui também não se valida a tese dos réus mentalmente insanos, uma vez que segundo Ilana
Casoy (2014) afirma que apenas 5% dos serial killers realmente estavam com doenças
mentais no momento de execução dos seus crimes.
Cita-se aqui como forma de exemplificar casos em que serial killers brasileiros
tiveram seus diagnósticos como imputáveis pela justiça e atualmente cumprem penas de
centenas de anos, Thiago Henrique Gomes da Rocha e Pedro Rodrigues Filho. A exceção se
dá pela inocência e internação de Febrônio Índio do Brasil, "O Filho da Luz”, assassino em
série brasileiro considerado o primeiro a ser julgado como louco, colocado em um manicômio
judiciário no Rio de Janeiro em 1929.
Em virtude do artigo 75 do Código Penal, é proibido cumprimento de pena maior
que 30 anos, sendo recalculado caso seja condenado por crime posterior ao início de
cumprimento da pena declarada. Por consequência, podemos ver o caso do conhecido
assassino em série "Pedrinho Matador" que teve cerca de 71 vítimas confirmadas, condenado
a mais de 400 anos preso mas cumprindo apenas cerca de 34 anos pelos crimes cometidos.
Outro fator que é analisado é a pena de morte, forma de punição não usada desde o
século XIX em nosso país, sendo o Brasil membro do Protocolo da Convenção Americana de
Direitos Humanos para a Abolição da Pena de Morte, também expressamente proibida pela
Constituição Federal de 1988, aplicável apenas para crimes militares citando-se a traição,
assassinato, genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e terrorismo se
ocorrido durante a guerra. Deste modo, a única forma permitida por lei para execução desta
pena é a morte por pelotão de fuzilamento e em casos extremos, podendo o Presidente
conceder anistia ou indulto como diz o Código Penal Militar Brasileiro.

3.2 Casos de serial killers brasileiros

Baseando-se na divisão cronológica realizada por Ilana Casoy (2017) na qual ela
divide os assassinos em série por décadas podemos analisar os casos dos principais serial
killers referidos em nosso território.
Iniciando-se com a década de 1920 em que tivemos o considerado primeiro serial
killer brasileiro da história, José “Preto Amaral”, que começou sua carreira de crimes por
volta de 1920 com crimes de menor potencial como vagabundagem e furto e foi avançando
até chegar nos crimes realizados no ano de 1926 cometidos contra crianças carentes nos
arredores de onde se instalava. O assassino não possuía vínculos afetivos estáveis, muito
menos objetivos de vida ou metas, vivendo apenas para cumprir aquilo que promovia seus
desejos que nem ele mesmo compreendia. Identificado por vários nomes distintos que
serviam para se camuflar dentro da sociedade, José foi preso em 1927 e faleceu sem antes
mesmo ser julgado por problema pulmonar, morte muito comum na época.
Inserido na mesma década, Febrônio “O Filho da Luz” já citado no referido artigo
como sendo o primeiro caso a receber o tratamento diferenciado por ser considerado
inimputável por diagnóstico médico-legal que o considerava esquizofrênico. Os crimes que
cometeu se resumiam ao tipo penal de crimes hediondos mas em específico contra crianças
carentes. Tendo o mesmo a história contada por seu irmão Agenor que trata de forma mais
objetiva a escalada criminal do agente e o histórico de violências que ele sofria dentro da
família, e a história contada por ele mesmo, sendo ambas confusas quanto a genealogia vez
que Febrônio foi identificado como filho de pais diferentes do que atestava ser. Se intitulava
como médico e cirurgião-dentista e possuía uma crença com mistura de diversas outras
acrescidas à sua própria, que levava ao seus crimes em sua cabeça um sentido para a morte
daquelas crianças.
Agora na década de 1950, fala-se de Benedito “Monstro de Guaianases”, assim
como os outros citados, teve histórico de violência na família, possuía diversas identidades,
mas se usava de vários endereços. A motivação deste se dava como dito pelas próprias
palavras: “arrepio que não passava”, seguia sempre o mesmo rito em suas 29 vítimas e foi
considerado inimputável também por diagnóstico médico-legal.
Na década de 1960, Francisco “Chico Picadinho”, iniciou com o crime ocorrido em
1966, tendo como primeira vítima Margareth Suida, bailarina austríaca, a qual estrangulou e
dissecou posteriormente o corpo no banheiro de sua residência que dividia com seu amigo
Caio, ao qual confessou o crime, sendo denunciado pelo mesmo, preso e condenado a 18 anos
de prisão, mas liberto na metade da pena em razão de bom comportamento. Anos depois
realizou outra retaliação agora contra a prostituta Ângela da Silva Souza, denunciado
novamente por companheiro de apartamento, condenado desta vez a 22 anos de cadeia mas
ainda preso na Casa de Custódia de Taubaté por ser considerado psicopata e precisar de
tratamento psiquiátrico.
Em 1970 houve José “Monstro do Morumbi”, confessou os crimes de
estrangulamento de 7 mulheres as quais teve relacionamento durante a década de 60 e 70, o
autor despia as vítimas, amarrava os pés e as mãos com pedaços de roupas, tampava boca
nariz e ouvidos com jornais e papéis e levava dinheiro, jóias, roupas das vítimas. Denunciado
por sua esposa na época, o criminoso fugiu para o Pará e realizou mais 3 assassinatos de
mulheres, foi capturado, preso e cumpriu pena de 1971 a 2001.
Por fim, em 1990, conhecido como “O Vampiro de Niterói”, Marcelo, sofreu abusos
psicológicos e físicos de seu pai, quando criança via fantasmas durante a noite, tinha
sangramentos sem motivo aparente no nariz, cicatrizes decorrentes das violências praticadas
pelo pai, iniciou na sequência de crimes em 1991, tendo como alvo crianças de até 13 anos
que eram oferecidas com doces em troca de serviços, atuando em Niterói, teve 13 vítimas e
recebeu o apelido pelo fato de beber o sangue das vítimas por segundo ele as crianças
possuírem um sangue puro e que o deixaria mais bonito.diagnosticado com esquizofrenia e
psicopatia, absolvido pela justiça e enviado ao Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico Heitor Carrilho de onde escapou mas foi encontrado e retornado ao local.

CONCLUSÃO

O artigo pretendeu apresentar os dois mundos que tem sido alvo recorrente de livros,
série de TV, filme e afins, o dos serial killers e do perfil criminológico. Ambos os temas
foram abordados separadamente e conjuntamente, a fim de se analisar cada aspecto e detalhes
apresentados pelos assuntos de grande complexidade, devido a falta de material acadêmico
para estudo como artigos, pesquisas, livros e afins, fato que dificulta visivelmente o
crescimento dos conhecimentos dos dois pontos colocados.
A imensa gama de classificações e denominações para os serial killers constata que
há muito ainda o que pesquisar sobre, entretanto, mais especificamente no Brasil há uma falta
tanto de incentivo governamental quanto de profissionalização na área, que resulta na busca
por materiais em línguas estrangeiras e cursos, especializações em outros países.
Quanto ao Criminal Profiling, foi inserida a técnica no artigo a fim de expor para
que se alcance novos estudantes interessados em realizar pesquisas na área, já que é outro
assunto que sofre com a falta de conteúdo para pesquisa. Concluiu-se que justamente por ser
uma técnica relativamente nova a sua validade ainda é questionada por muitos, porém foram
explicitados diversos estudos que possuíam o objetivo de medir a eficácia do profiling em
vários anos diversificados, devendo-se atentar ao fato de que se usada por profissionais
competentes ela serve como uma ferramenta excelente para solução e prevenção de crimes,
atestado pelas forças policiais que dizem que a técnica ajuda a compreender o
comportamento criminal e prevê as características dos criminosos.
Passando a análise feita sobre os assassinos em série dentro do sistema brasileiro,
verificou-se que há necessidade do Poder Público investir e incentivar a área em território
nacional a fim de gerar mais conhecimento e pesquisas na área com mais palestras,
congressos, seminários sobre o tema para propagá-lo.
Notou-se também, resultado da carência e do não desenvolvimento da técnica e
estrutura de investigação dados deploráveis decorrentes da falta de preparo em especial dos
policiais e dos investigadores que provou-se uma cegueira de ligação coletiva dos mesmos.
A partir da análise feita da legislação brasileira referente aos dois temas foram
encontrados alguns artigos quanto aos crimes de homicídio em série mas só 1 artigo atual que
trata da profissão de perito exercida pelos atuantes da área de Criminal Profiling, sendo
encontradas algumas semelhanças e outras diferenças quando comparadas as execuções,
penas e outros aspectos dos serial killers nos Estados Unidos.
Por fim, com a apresentação minimalista de alguns serial killers conhecidos
divididos em décadas pode-se perceber uma relação de causa e efeito, com os abusos físicos,
psicológicos e sexuais recorrentes na infância dos criminosos, lares problemáticos, problemas
de socialização e entre outros fatores que coincidem quando vistos em conjunto. Entretanto,
não pode-se falar em exatidão nesse tema, essa relação nem sempre acontece e gera um
homicida em potencial, por esta razão há uma dúvida eterna sobre os motivos das pessoas se
tornarem criminosas.

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