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I. Introdução
Cotidianamente nos deparamos com questões que envolvem nosso senso crítico
de decisão. Normalmente são dilemas corriqueiros, que demandam um raciocínio rápido
para se atingir o melhor objetivo naquele momento. O poder decisório em questões do
dia-a-dia prescinde de maiores divagações mentais: decidir se é melhor ir à feira ou ao
supermercado não requer muito do homem comum.
Entretanto, há determinados momentos em que são colocados em dois lados
opostos cenários em que a decisão individual do sujeito importa em relevantes
resultados. Chamamos estas situações de “dilemas morais”, definidos, em síntese,por
tratarem de circunstâncias que abordam dois ou mais elementos importantes para a
sobrevivência humana (ética, moral, virtudes, etc.), em que se escolhe um cenário em
detrimento do outro por determinadas razões.
Assim, um indivíduo, diante de um dilema moral, pode escolher baseando-se na
valoração da ação em si ou no resultado que ela produziria. Tais linhas de pensamento,
que serão devidamente abordadas ao longo do presente trabalho, se dividem em
raciocínio deontológico e raciocínio utilitarista, respectivamente.
Conhecendo estas premissas básicas e utilizando como base a pesquisa que vem
sendo realizada sobre psicopatas, urge questionar como estes indivíduos que,
aparentemente não demonstram sentimentos importantes que influenciam em decisões
morais (principalmente empatia e a habilidade de se colocar no lugar dos outros,
remorso, culpa, etc.), agiriam diante de dilemas morais.
O aprofundamento nos estudos sobre a psicopatia se mostra importante para
poder entendê-la melhor. Saber como os psicopatas reagem à diversas situações que
envolvem dilemas morais torna-se importante para começar a entender um pouco de seu
raciocínio. Tendo ciência de como pensam, pode-se apreender as razões (se é que
existem) de suas ações, principalmente as criminosas, permitindo, no futuro, melhor
estudo para prevenção e punição destes sujeitos.
Para tanto, o presente estudo, em continuidade e aprofundamento do trabalho
apresentado no XIX Seminário de Iniciação Científica sob o nome “Análise da figura do
psicopata sob o ponto de vista psicológico-moral e jurídico-penal”, traz novamente o
conceito de psicopata, além de definir dilemas morais e aprofundar nas linhas de
raciocínio utilitaristas e deontológicas.
Por fim, o que se espera, como resultado, é demonstrar como os psicopatas
atendem aos dilemas morais, evidenciando que seus pensamentos tendem a ser muito
mais utilitaristas (pensando com base nas consequências que certa ação pode causar,
podendo esta ser reprovável ou não) do que deontológicos.
1
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II. Da Psicopatia
i) Histórico e conceito
A psicopatia abrange muito mais do que as imagens sensacionalistas criadas pela
mídia. Analisando historicamente, inicialmente o termo “psicopata” foi utilizado para
designar uma série de comportamentos que eram vistos como moralmente repugnantes. 1
As características da psicopatia remontam aos tempos de Teofrasto, aluno de
Aristóteles, que elencava alguns sintomas do chamado “homem inescrupuloso” (e
algumas características descritas pelo filósofo incorporam o conceito atual de psicopata,
como a loquacidade e boa lábia).2
A discussão efetiva acerca da psicopatia se iniciou ao fim do séc. XVIII, quando
alguns filósofos e psiquiatras passaram a estudar a relação de livre arbítrio e
transgressões morais, questionando se alguns perpetradores seriam capazes de entender
a conseqüência de seus atos. Philippe Pinel, em 1801, foi o primeiro a notar que certos
pacientes, envolvidos em atos impulsivos e auto-destrutivos, tinham sua habilidade de
raciocínio intacta e tinham consciência da irracionalidade do que estavam fazendo. A
estes casos, ele denominou serem “manie sans delire”, ou insanidade sem delírio.3
Nesta época, como era entendido que “mente” era sinônimo de “razão”, qualquer
inabilidade racional ou de intelecto era considerada insanidade, uma doença mental. Foi
com Pinel que surgiu a possibilidade de existir um indivíduo insano (manie), mas sem
qualquer confusão mental (sans delire).
Pouco tempo após a manifestação de Pinel, em 1812, Benjamin Ruesch
descreveu a personalidade de pessoas que cometiam atos anti-sociais desde muito cedo,
ainda na infância, designando-os como portadores de “idiotez moral” ou “imbecilidade
moral”.4
Em 1835, em “A treatise on insanity and other disorders affecting the mind” o
britânico J. C. Prichard aceitou a teoria de Pinel acerca do “manie sans delire”;
entretanto, dissentiu sobre a moralidade neutra deste transtorno (a qual Pinel
acreditava), tornando-se um dos expoentes a crer que tais comportamentos significavam
um repreensível defeito de caráter, que merecia condenação social. Além disso, ele
abrangiu o escopo da “síndrome” original, criando o rótulo “insanidade moral”,
incluindo, então, uma vasta gama de outras condições mentais e emocionais.
De acordo com Prichard, todos estes pacientes compartilhavam um defeito no
poder de se guiar de acordo com os “sentimentos naturais”, isto é, um intrínseco e
espontâneo senso de retidão, bondade e responsabilidade. Aqueles que tinham tal
condição eram seduzidos, apesar de suas habilidades de entender suas escolhas, por um
“sentimento superpoderoso”, que os conduzia a praticar atos socialmente repugnantes,
como, por exemplo, crimes.5 Observou, portanto, a carência de sentimentos, a falta de
autodomínio e ausência de todo sentimento ético de alguns de seus pacientes,
determinando, então, os principais traços destas personalidades.6
1
MILLON, Theodore, SIMONSEN, Erik, BIRKET-SMITH, Morten in: Historical conceptions of
psychopathy in the United States and Europe – Psychopathy: antisocial, criminal and violent behavior –
The Guilford Press, Nova York:1998, pag. 3
2
MILLON, Theodore et al – op. Cit. – pag 3
3
MILLON, Theodore et al – op. Cit. – pag 4
4
ZALENGA, Marcelo E. – El psicópata perverso en la jurisprudencia argentina: una primeira
aproximación – Cuadernos de Doctrina y Jurisprudencia Penal, Buenos Aires, v. 6, 10ª, maio 2000, pág.
480-481
5
MILLON, Theodore et al– op. Cit. – pag. 5 e 6
6
ZALENGA, op. cit – pag. 485
2
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7
MILLON, Theodore et al – op. Cit. – pag. 7
8
ZALENGO, op. cit – pág. 485
9
MILLON, Theodore et al– op. Cit. – pag. 10
10
MILLON, Theodore et al– op. Cit. – pag. 18
3
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4
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Diagnostico diferencial – Revista de Derecho Penal, Buenos Aires, n.1, pág. 220.
19
LÓPEZ BOLADO, Jorge Daniel – La inimputabilidad del psicopata – Doctrina Penal: Teoria y pratica
em las ciências penales. Buenos Aires, v. 9, 33/36, pág. 498
20
LYKKEN, David T. in: Psychopathic personality: the scope of the problem – Handbook of
Psychopathy - The Guilford Press, Nova York:2006 pág. 3
21
HUSS, MATTHEW T, op. Cit. pág 92.
22
EDENS, John F, LILIENFELD, Scott O., MARCUS, David K. e POYTHRESS JR, Norman G.
-Psychopathic, Not Psychopath: Taxometric Evidence for the Dimensional Structure of Psychopathy -
Journal of Abnormal Psychology, 2006, Vol. 115, No. 1, 131–144
23
HUSS, MATTHEW T, op. Cit. pág 97.
5
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Por fim, há recentes estudos que afirmam existir relação entre genética e
psicopatia. Tal como acontece com outras diferenças individuais, a psicopatia tem um
componente substancial hereditário de cerca de 50%. A pesquisa genética
comportamental tem afirmado que as influências genéticas contribuem para as
diferentes características de psicopatia. Além disso, foi descoberto que as diferentes
facetas da psicopatia variam conjuntamente com um fator global de psicopatia latente,
que também é influenciado pelos genes.24
ii) Características
Psicopatia é, tal como demonstrada pelos estudos abordados, um tipo de
personalidade que tem como principais características a falta acentuada de culpa,
remorso e preocupação empática com os outros. Psicopatas parecem carecer de
emoções, não se importando com o sofrimento alheio. Além disso, eles são
superficialmente encantadores, manipuladores, egocêntricos e têm um senso de
grandiosidade exarcebado. Tendem a ser impulsivos, costumam assumir riscos e não
planejar o futuro. Como já mencionado, eles demonstram ter um comportamento
antissocial e tem um controle comportamental muito pouco desenvolvido.25
Cleckley foi um dos primeiros pesquisadores a apresentar uma concepção
definitiva e abrangente da psicopatia, como já descrito anteriormente, em seu livro “The
mask of insanity”. O autor foi capaz de identificar, na década de 40, 16 características
diferentes que definem ou compõem o perfil clínico do psicopata. Tais características
são, em suma:
a) Charme superficial e boa inteligência;
b) Ausência de delírios e outros sinais de pensamento irracional (por isso a psicopatia
não deve ser considerada doença mental, mas sim um transtorno mental);
c) Ausência de nervosismo;
d) Não confiável;
e) Falsidade e falta de sinceridade
f) Ausência de remorso ou vergonha;
g) Comportamento antissocial inadequadamente motivado;
h) Julgamento deficitário e falha em aprender com a experiência;
i) Egocentrismo patológico e incapacidade de amar;
j) Deficiência geral nas reações afetivas principais;
k) Perda específica de insight;
l) Falta de resposta nas relações interpessoais gerais;
m) Comportamento fantástico e desagradável com, e às vezes sem, bebida;
n) Suicídio raramente concretizado;
o) Vida sexual e interpessoal trivial e deficitariamente integrada e
p) Fracasso em seguir um plano de vida.26
Este rol de características foi, por muito tempo, a base da Psicologia, sendo
utilizado para que pudesse haver o prognóstico de psicopatia de um indivíduo. Baseado
nestes conceitos, Robert Hare, um dos principais especialistas em psicopatia moderna,
criou a “medida” de psicopatia mais amplamente usada, o denominando Psychopathy
Checklist (PCL). Baseado nas informações de Cleckley, Hare elencou 20 características
que creditava aos psicopatas, e, utilizando uma pontuação para cada sintoma listado,
determinou um mínimo de escore que, se atingido, configurava a psicopatia do
24
GLENN, Andrea., KURZBAN, R., & RAINE, A. (in press). Evolutionary Theory and Psychopathy.
Aggression and Violent Behavior
25
GLENN, Andrea., et. al – op. cit – pag. 2
26
HUSS, MATTHEW T, op. Cit. pág 92. A listagem de tais características também pode ser encontrada
nas páginas 338-364 do livro “The Mask of insanity” já citado em referências anteriores.
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indivíduo. Esta medida foi novamente aprimorada pelo próprio Hare, passando a ser
chamada PCL-R (psychopathy checklist-revised), sendo o meio mais utilizado
mundialmente para diagnóstico de psicopatia. Os termos do PCL-R são:
- Itens que se sobrepõem:
a) Lábia/charme superficial – Fator 1
b) Senso grandioso de autoestima – Fator 1
c) Mentira patológica – Fator 1
d) Ausência de remorso ou culpa – Fator 1
e) Afeto superficial – Fator 1
f) Crueldade/falta de empatia – Fator 1
g) Falha em aceitar responsabilidade pelas próprias ações – Fator 1
h) Comportamento sexual promíscuo
i) Falta de objetivos realistas de longo prazo – Fator 2
j) Impulsividade – Fator 2
k) Irresponsabilidade – Fator 2
l) Versatilidade criminal
27
HUSS, MATTHEW T, op. Cit. pág 94
28
HUSS, MATTHEW T, op. Cit. pág 95.
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iii) Falta de remorso ou culpa – O psicopata mostra uma incrível falta de interesse pelos
devastadores efeitos que suas ações têm nos demais. Não tem sentimento de culpa, não
se arrependem em absoluto da dor e da destruição que causaram.
iv) Falta de empatia – Para o psicopata, os sentimentos dos outros não são de seu
interesse, é incapaz de se colocar no lugar dos demais. Vê as pessoas como meros
objetos que pode lhe proporcionar alguma satisfação. Mostra uma falta de empatia
geral, com respeito aos sentimentos alheios e ao sofrimento de seus próprios familiares.
v) Pessoa manipuladora e mentirosa – Mentir, enganar e manipular são talentos
naturais dos psicopatas.
vi) Portador de emoções superficiais e banais – O psicopata parece sofrer de uma
espécie de pobreza emocional que limita a profundidade de seus sentimentos. É frio e
sem emoções, mas há ocasiões em que mostram sentimentos apagados.
Um ponto que é imprescindível observar, então, é que os psicopatas têm
completo controle racional. Eles não têm delírios, psicoses nem problemas na razão.
Pelo contrário, como se vê, são ótimos manipuladores, sabem se articular muito bem
para obter o que querem. Não são doente mentais e têm plena consciência do que fazem.
Conforme demonstrou o professor Walter Sinnott-Armstrong, em palestra proferida na
PUC-Rio29, os psicopatas são capazes de dizer o que as pessoas querem ouvir. Desta
forma, nem sempre o que eles falam condiz com suas ações; eles são capazes de
mascarar suas atitudes. Assim, o psicopata se apresenta clinicamente como uma
contradição ambulante: por um lado, é capaz de dar respostas sociais, até moralmente
apropriadas, para as situações do dia-a-dia; por sua vez, quando deixados à própria
sorte, suas ações não condizem com seus relatos verbais.30
Usualmente, quando se fala em psicopata estamos nos referindo aos adultos.
Entretanto, desde a infância crianças que possuem psicopatia já evidenciam alguns
sintomas (como a mentira compulsiva e indiferença a regras). O próprio Hare, em seu
famoso livro “Without conscience”, destacou, em seu capítulo X (The roots of the
problem), a possibilidade do diagnóstico de psicopatia em crianças que têm tendências
criminosas.31 Desta forma, Hare e Paul Frick desenvolveram uma técnica similar ao
PCL-R para observar se as crianças examinadas são ou não psicopatas. Esta técnica foi
denominada “The Antisocial Process Screening Device” (APSD). Assim com o PCL-R,
o APSD indica traços de insensibilidade e falta de emoção, em jovens de seis a 13 anos.
Crianças com tendências psicopatas têm um comportamento específico e um perfil
neurocognitivo similar aos dos adultos psicopatas.32
Além de tudo já exposto, é de suma importância ressaltar que nos dias atuais há
uma forte linha de pesquisa neurocientífica que utiliza pet-scans e fMRI para analisar o
cérebro de um indivíduo e concluir se o mesmo é ou não psicopata. Os estudos cerebrais
para entender desvios de personalidade passaram a ter maior importância a partir do
caso Phineas Gage. No século XIX, em um acidente com explosivos, Gage teve sua
cabeça atravessada por uma barra de ferro que penetrou em sua bochecha esquerda e
saiu no topo de sua cabeça, transpassando pelo córtex prefrontal. Depois do ocorrido,
29
Ciclo de Palestras WALTER SINNOTT-ARMSTRONG – Are psychopaths responsible? – realizada
em 14.06.2011, com apoio do Grupo de Estudos ERA – Ética e realidade atual. Vídeo da palestra
disponível em http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
tpl=view_integra&sid=142&infoid=9726
30
KIEHL, Kent A. in: Without Morals: The Cognitive Neuroscience of Criminal Psychopaths.
SINNOTT-ARMSTRONG, Walter - Moral Psychology - The Neuroscience of Morality: Emotion, Brain
Disorders, and Development – Volume 3, MIT PRESS: Cloth / January 2008
31
Trecho do capítulo X, do livro Without conscience – Robert Hare -
http://peezer.squarespace.com/storage/cau/psychopathy-and-evil/Hare_Roots.pdf acesso em 11.07.2011
32
VIDING, Essi - Journal of Child Psychology and Psychiatry 45:8 - 2004, pp 1329–1337
8
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33
KIEHL, Kent A, op. cit, pag 124
34
KIEHL, Kent A, op. cit, pag 124
35
ibid, pag 124
36
ibid, pag 126
9
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37
KIEHL, Kent A, op. cit, pag 135-136
38
MOLL, Jorge, OLIVEIRA-SOUZA, Ricardo e MARROCOS, Rogerio P. in: Predadores de Corpos,
predadores de almas. Publicado na revista Insight – Inteligência na edição de jan/fev/mar 2002. Págs.116-
122
39
Para maiores informações técnicas e detalhadas, além de outros exemplos de estudo do cérebro através
do fMRI e ERP (e outras modalidades), consultar a obra de Kent Kiehl indicada em referências anteriores
e a obra de Adrian Raine e Yaling Yang in: The Neuroanatomical Bases of Psychopathy: A Review of
Brain Imaging Findings em “HANDBOOK OF PSYCHOPATHY” - Christopher J. Patrick, The Guilford
Press, Nova York: 2006
10
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40
PIZARRO, David, MONIN, Benoit e BEER, Jennifer - Deciding Versus Reacting: Conceptions of
Moral Judgment and the Reason-Affect Debate – Review of general psychology – vol. 11, no. 2, 2007 pp
99-111
41
NICHOLS, Shaun e MALLON, Ron – Moral dilemmas and moral rules -
http://dingo.sbs.arizona.edu/~snichols/Papers/Dilemmas.pdf acesso em 24.07.2012
42
GREENE, Joshua - Moral Dilemmas and the “Trolley Problem” http://www.wjh.harvard.edu/~jgreene/
acesso em 13.07.2011
43
GREENE, Joshua, SOMMERVILLE, Brian, NYSTROM, Leigh, DARLEY, John, COHEN, Jonathan -
An fMRI Investigation of Emotional Engagement in Moral Judgment – SCIENCE, VOL 293, 14
SEPTEMBER 2001
44
GLENN, A.L., RAINE, A., SCHUG, R.A. (2009). The neural correlates of moral decision-making in
psychopathy. Molecular Psychiatry, 14, 5-6.
11
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i) Utilitarismo
O mote do utilitarismo foi definido por John Stuart Mill como sendo “ações são
certas, devidas, na proporção em que elas tendem a proporcionar felicidade, e
indevidas se tendem a produzir o contrário de felicidade” 45 Por felicidade, entende-se o
prazer, a ausência de dor. Por infelicidade, a privação do prazer, dor.46
O denominado “princípio da utilidade”, trazido por Bentham e Mill, prevê que
uma ação é considerada boa e aceitável quando seu resultado principal consegue levar
ao maior número de pessoas a felicidade, o prazer, o contentamento. Como não poderia
ser diferente, os utilitaristas também são conhecidos como “consequencialistas” (já que
observam o resultado para valorar a aceitabilidade da ação).
Certo é que, então, o acerto de uma ação, regra ou princípio, para os utilitaristas,
deve ser julgado pelas suas consequências. Para poder fazer este julgamento, os
indivíduos devem se perguntar “o que é bom” e o “que é certo”, verificando se a
consequência daquela ação justifica a realização do ato.47
Há ainda uma subdivisão no próprio raciocínio utilitarista. Aqueles que adotam
o chamado “act-utilitarianism” defendem que se deve observar cada ação que fazemos e
suas consequências e, apenas analisando o caso concreto, é possível determinar se o agir
é moralmente correto ou errado.48
Outro pensamento é o “rule-utilitarianism”, ao contrário do que pensa a tese
supracitada que afirma que as ações devem ser valoradas no caso específico, determina
que é possível criar regras gerais que possam conduzir as ações a resultados que para a
maioria das pessoas sempre será positivo. Uma dessas regras, por exemplo, é “roubar é
errado” – as consequências de observância deste mandamento são positivos para a
maioria das pessoas, devendo ser parâmetro de conduta na maioria dos casos (não
precisando analisar apenas no caso concreto). 49
Essas duas vertentes do utilitarismo são as principais, mas há outras divisões
interessantes, como o “utilitarismo hedonista”, que se preocupa somente com
consequências que tragam prazer, o “utilitarismo ideal”, que afirma que as
consequências podem ser reconhecidas por intuição de cada indivíduo, que sabe o que é
o bem e o mal, e o “utilitarismo preferência”, que envolve a apuração de qualquer
conseqüência que preenche as nossas preferências do homem comum.50
Independente das ramificações exemplificadas, o utilitarismo é o raciocínio ético
que demanda observar as consequências para após verificar se a ação que as gerou foi
45
MILL, John Stuart – Utilitarianism – London: Parker, Son and Bourn West Strand, 1863, pag. 9-10
46
Ibid, pag. 10
47
Utilitarianism – http://fds.oup.com/www.oup.com/pdf/13/9781850085256.pdf, acesso em 25.07.2012
48
http://www.iep.utm.edu/ethics/#SH2c acesso em 25.07.2012
49
IBID, acesso em 25.07.2012
50
IBID, acesso em 25.07.2012
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correta ou não. O principal objetivo dos utilitaristas é levar ao maior número de pessoas
a felicidade e o bem-estar. As pessoas devem minimizar o mal e maximizar o bem.
Assim, consequências que geram felicidade e prazer normalmente são originadas por
ações corretas e éticas.
ii) Deontologia
Ao contrário do utilitarismo, o deontologismo não observa as consequências de
um agir para concluir se a ação é ética. O juízo de valor se recai sobre a própria ação,
independente de seus resultados. Muitas vezes uma ação é eticamente reprovável,
mesmo que tenha consequências positivas.51 Assim, para os deontologistas, o que faz
uma ação ser correta é o amoldamento da mesma a uma norma moral (nesse sentido, o
“certo” é mais importante do que o “bem”, já que uma ação pode não ser certa, mesmo
que faça o bem).
Uma teoria de obrigação moral recebe o nome de deontológica quando não se
faz depender a obrigatoriedade de uma ação exclusivamente das consequências da
própria ação ou da norma com a qual se conforma. 52 As teorias deontológicas da norma
sustentam que o dever em cada caso particular deve ser determinado por normas que são
válidas independentemente das consequências de sua aplicação. 53
Kant foi um dos principais expoentes do raciocínio deontológico, da
obrigatoriedade moral. Afirma o filósofo que uma ação praticada por dever tem o seu
valor moral, não no fim que com ela se quer atingir, mas na máxima que a determina.
Seu imperativo categórico, dividido em três preceitos, é exemplo de como as pessoas
devem agir moralmente.
Assim, em síntese, o raciocínio deontológico preza pela boa ação conforme o
ditames morais do sujeito, devendo ele verificar se a ação é moral ou não independente
de seus resultados.
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negar que o emocional exerce sim papel importante nestas decisões. Sentimentos como
culpa ou vergonha são necessários, por exemplo, para prevenir um indivíduo de cometer
determinadas ações por julgá-las moralmente incorretas. 55 As emoções tornam-se
fundamentais para guiar as decisões morais e as ações individuais.
Nesse sentido, duas linhas filosóficas surgem como resposta à questão das
decisões morais. Uma ação moralmente “boa” requer tanto um julgamento moral
sincero, quanto uma motivação moral. Para os chamados “internalistas”, estes dois
requisitos estão internamente ligados (seja por sentimentos, seja pela razão). Já para os
“externalistas”, a conexão entre julgamentos morais e as ações é lapidada por
motivações externas ao próprio julgamento. Para estes, os julgamentos morais são
apenas crenças, por isso não podem motivar uma ação.56
55
HUEBNER, Bryce, DWYER, Susan e HAUSER, Marc – The role of emotion in moral psychology -
Trends in Cognitive Sciences Vol.xxx No. (in press)
56
KENNETT, Jeanette e FINE, Cordelia in: Internalism and the Evidence from Psychopaths and
“Acquired Sociopaths” - SINNOTT-ARMSTRONG, Walter - Moral Psychology - The
Neuroscience of Morality: Emotion, Brain Disorders, and Development – Volume 3, MIT PRESS: Cloth /
January 2008 pp. 173
57
PRINZ, Jesse e NICHOLS, Shaun – Moral emotions - The Moral Psychology Handbook - Oxford
University Press, USA (July 6, 2010) – pp. 113
58
SINNOT-ARMSTRONG – Walter – palestra já citada previamente, ver referências.
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aquele inadequado.59 Assim, eles são plenamente capazes de fazer e acreditar nos
julgamentos morais, mas lhes falta o mecanismo que traduz esta habilidade cognitiva
em emoções normais ou motivações, a fim de evitar ações imorais.60
Por sua vez, como já citado anteriormente, uma visão não-clássica afirma que os
psicopatas não são capazes de fazer julgamentos morais. Essa teoria é conseqüência de
uma lógica bastante razoável, mas que pode ter falhas se não analisada corretamente. A
premissa, demonstrada pelos sentimentalistas adeptos da teoria internalista, é que os
julgamentos morais são baseados nas emoções; os psicopatas são carentes
emocionalmente; logo, os psicopatas não são capazes de fazer julgamentos morais.61
Entretanto, é preciso analisar com mais cuidado a capacidade ou não dos
psicopatas em fazer julgamentos morais. Considerando que as emoções têm papel
fundamental nas decisões morais, faz sentido afirmar que a falta delas implica
diretamente na impossibilidade de realizar tais julgamentos. Os internalistas afirmam
que os psicopatas não fazem julgamentos morais “genuínos” 62Isso quer dizer que eles
não compreendem o sentido das palavras como as pessoas comuns entendem. Por
exemplo, um psicopata pode dizer que sabe o que é beleza, feiúra, bem, mal, amor,
horror, mas na verdade ele não tem como saber, pois não há nada em sua órbita de
consciência para que ele possa comparar. Ele pode repetir as palavras e dizer
levianamente que ele entende, mas, ainda assim, não há nenhuma maneira para ele
perceber que ele não entende. Dessa maneira, eles são capazes de falar o que o seu
interlocutor quer ouvir, pois que sabem perfeitamente manipular as feições e a fala a fim
de atingir seus objetivos.
Adultos psicopatas e crianças com tendências psicopatas são insensíveis às
diferenças entre as ações consideradas erradas convencionalmente (como, por exemplo,
ir de pijama a um restaurante) e as erradas moralmente (matar o garçom do restaurante,
por exemplo). Essa distinção é uma das bases principais para um raciocínio moral e,
conseqüentemente, um posterior julgamento moral63. Portanto, nesta segunda visão, os
julgamentos morais dos psicopatas não são realmente morais, uma vez que não são
diferentes de julgamentos com base em convenções sociais.64
Estudos mostram, ainda, que quando os psicopatas fazem seus julgamentos
morais, utilizam-se dos preceitos do utilitarismo. Isso quer dizer, eles se preocupam
muito mais com os resultados da ação do que com o próprio agir em si. Estudos
mostram que pessoas que têm déficit no campo emocional (não somente psicopatas,
mas outros indivíduos com distúrbios de personalidade) tendem a escolher respostas
utilitaristas quando deparados com dilemas morais.65
Isso traz um importante ponto de discussão. Conforme vimos acima, as decisões
utilitaristas tendem a buscar resultados que tragam felicidade e bem estar ao maior
número de pessoas. Psicopatas, principalmente criminosos, não desejam trazer tais
sentimentos positivos às pessoas. A questão que se demonstra, então, é que o estudo dos
59
CIMA, Maaike, TONNAER, Franca, HAUSER, Marc D. - Psychopaths know right from wrong but
don’t care - Social Cognitive & Affective Neuroscience, Volume 5, Issue 1, Pp. 59-67
60
SINNOT-ARMSTRONG, Walter e BORG, Jana Schaich - Psychopaths and Moral Judgments, – o
trabalho acadêmico ainda está em andamento.
61
MONTELLO, Maria - Rational Requirements for Moral Motivation: The Psychopath's Open Question -
(2011). Philosophy Theses. Paper 93 - http://digitalarchive.gsu.edu/cgi/viewcontent.cgi?
article=1094&context=philosophy_theses pp. 14 -acesso em 20.07.2011
62
ibid –pp. 21
63
KENNETT, Jeanette e FINE, Cordelia – op. cit – pag. 175
64
MONTELLO, Maria – op. Cit – pp 23
65
BARTELS, Daniel e PIZARRO, David - The mismeasure of morals: Antisocial personality traits
predict utilitarian responses to moral dilemmas - http://www.columbia.edu/~dmb2199/papers/Bartels-
Pizarro-2011-Cognition.pdf acesso em 29.07.2012.
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julgamentos morais é falho no que tange estes indivíduos, pois não consegue distinguir
se a escolha utilitarista se dá exatamente pela falta de sentimentos desses sujeitos, ou se
estão movidos a realmente buscar um maior benefício ao maior número de pessoas.66
Ademais, estudos realizados com psicopatas criminosos demonstram ainda mais
que os mesmos são incapazes de se colocar no lugar das vítimas, o que denota sua falta
de empatia. Em pesquisa na qual foram trazidos cenários de acidentes que geraram
lesões graves ou até mortes, psicopatas não fizeram distinção em saber se é acidente,
erro ou se é maldosamente intencionar o fato de um indivíduo dar pólvora branca ao
invés de açúcar para o café de outra pessoa, levando à sua morte 67. Isso demonstra que a
intenção (assim como nos pensamentos utilitaristas) não têm relevância para os
psicopatas – o que certamente leva a crer que suas decisões consequencialistas nada
mais são que “acaso”, já que de forma alguma se importam com o resultado benéfico
das pessoas.
V. Conclusão
Conforme pudemos notar, os dilemas morais estão a todo instante à nossa porta,
demandando nosso agir decisório. As duas principais correntes ético-filosóficas que
embasam nosso raciocínio de escolha são o utilitarismo e o deontologismo. Enquanto a
primeira determina que a ação (a escolha de agir) só será correta se suas consequências
maximizem o bem e traga maior felicidade a todos, a segunda determina que a ação per
si é que deve ser valorada e estar de acordo com a moral.
Assim, sabendo que os julgamentos morais dos psicopatas já é afetado pela sua
falta de emoção (elemento essencial), torna-se interessante saber como eles agiriam
diante de dilemas morais, isto é, se teriam raciocínio utilitarista ou deontológico.
Conforme vimos, estudos demonstram que estes sujeitos tendem a decidir de forma
utilitarista, mas não porque almejam maximizar o bem com as consequências, e sim
pela falta de sentimentos que têm. No caso do bondinho, já demonstrado, eles poderiam
tanto puxar a alavanca quanto empurrar o gordinho: o valor da ação em si independe
para eles.
Logo, o estudo dos julgamentos morais realizados pelos psicopatas se mostra
cada vez mais importante e interessante, devendo ser continuado o acesso às mentes
destes indivíduos, a fim de entender um pouco mais de como decidem em seu cotidiano.
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