Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA
E DA SAÚDE MENTAL
Joao Carlos Machiori de Claudio
Rafael Lustosa Ribeiro
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA
SAÚDE MENTAL
1ª edição
Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020
2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa
Revisor
Carolina Pasquote Vieira
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
ISBN 978-65-86461-25-1
CDD 616.89
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
3
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA SAÚDE MENTAL
SUMÁRIO
História da saúde mental e a reforma psiquiátrica __________________ 05
_
4
História da saúde mental e a
reforma psiquiátrica
Autoria: Rafael Lustosa Ribeiro
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Entender como a doença mental era compreendida
pelos homens nos primórdios da civilização.
5
1. A doença mental nos primórdios da
humanidade
6
Figura 1–Afrodite/Vênus
Fonte: ZU_09/iStock.com.
Figura 2 - Eros/Cupido
7
Naquela época, era comum as pessoas acreditarem que acontecia
uma “batalha entre o bem e o mal” durante um “manifesto” patológico-
mental, em cada cultura e civilização isso era interpretado de forma
diferente, e na civilização grega, politeísta, isso naturalmente seguia a
mesma linha.
8
Após a ascensão das ideias filosóficas dos grandes pensadores
gregos, como Platão e Aristóteles, e da evolução da medicina e da
compreensão das doenças, com classificação de sinais, sintomas,
construção nosológica, e composição de prontuários nas definições de
teorias etiológicas, pelos estudos de Hipócrates, temos uma sequência
evolutiva acerca da visão da doença mental e da loucura nas civilizações
(FOUCAULT, 1978).
• Iniciar terapêuticas/tratamentos.
9
No século XVI, alguns movimentos começam a se destacar na busca por
compreender a mente dos indivíduos que viviam em isolamento. Nesse
contexto, destaca-se o nome de Philippe Pinel, (Saint André, 20 de abril
de 1745 — Paris, 25 de outubro de 1826) médico francês, considerado
por muitos o pai da psiquiatria. Segundo Teixeira (2019), seu nome
se destacou por ter considerado que os seres humanos que sofriam
de perturbações mentais eram doentes e que, ao contrário do que
acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma
violenta.
10
seu ensino na Faculdade de Medicina. Entre os anos de 1903 a 1930,
no Rio de Janeiro, ele dirigiu o Hospício Nacional de Alienados. Nesse
hospício, embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do
Rio, recebia internos para o ensino de psiquiatria.
11
Segundo Almeida (2008), em 1958, o hospital chegou a ter mais de 14
mil internados. Um pavilhão para menores foi inaugurado em 1922 e
em 1957, do total de doentes 3.520 eram crianças. O Juqueri perdeu
o controle e o propósito na década de 1920, semelhante a outros
asilos, com a adoção de práticas bárbaras, devido à falta de gestão e
fiscalização desses espaços de confinamento. Segundo Arbex (2013),
as práticas manicomiais eram das mesmas correntes cruéis que
ocorreram em Barbacena (MG), no Hospital Colônia: superlotações;
contenções como punição e castigo, não visando a segurança do
paciente, muitas vezes, sem uso de sedativos; falta de roupas, em
que muitos ficavam nus; e, uso de instrumentos não esterilizados em
procedimentos.
12
Figura 3–Paciente tomando água do esgoto no Hospital Colônia
13
Desse modo, por receber essa demanda tão peculiar, a cidade de
Barbacena ficou conhecida como “cidade dos loucos”. Com o passar dos
anos, a gestão e a logística foram se perdendo, e os pavilhões em estado
precário de conservação não comportavam mais o excessivo número de
pacientes que estavam alocados de forma depositária, convivendo com
a inexistência de tratamento, falta de medicamentos e alimentos.
14
Basaglia visitou o Brasil algumas vezes e conheceu as grandes
instituições asilares, chegou a compará-las aos campos de concentração
da segunda Guerra Mundial (SILVEIRA, 2005).
15
participação na gestão do SUS, dessa forma, foi possível a criação de
garantias legais para manter as reivindicações a respeito da reforma
psiquiátrica.
16
psiquiátrica e Sistema Único de Saúde) foi uma parceria bem-sucedida
para possibilitar a reforma em escala nacional.
17
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, criada
em 6 de abril de 2001, garantia um passo importante para o fechamento
dos hospitais psiquiátricos e das práticas manicomiais (BRASIL, 2001).
Mas, antes de falar de CAPS, vale citar o programa “De volta para casa”
(PVC). No dia 31 de julho de 2003 foi criada a Lei n. 10.708, instituindo
o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de
transtornos mentais, egressos de internações. Essa lei, por sua vez,
garante o auxílio social e financeiro para aqueles usuários do Sistema
que viveram durante muitos anos confinados nos hospitais psiquiátricos
nos tempos de prática manicomial.
Para aqueles que não têm essas condições, foram criadas as residências
terapêuticas, prevendo que muitos usuários da rede de atenção
psicossocial não teriam paradeiro familiar ou lugar para viver após
saírem da condição asilar, que viviam anteriormente nos hospitais
psiquiátricos. Assim, todos os casos seguiriam tratamento nos CAPS
(BRASIL, 2001).
18
Dessa forma, os organizadores reconhecem avanços importantíssimos
que se produziram nos últimos quinze anos para reestruturar as práticas
psiquiátricas, como: a ampliação de serviços substitutivos e estruturação
de uma rede de tratamento psiquiátrico aberta, visando a reinserção do
portador de sofrimento psíquico na sociedade; observando experiências
que deram certo e foram desenvolvidas em diferentes países, assim
como desafios que foram encontrados nos últimos anos, as dificuldades
e todo o processo que precisava de melhorias.
19
Que essas reflexões acerca da loucura, do sofrimento psíquico e dos
males que acometem a mente humana desde sempre, bem como as
tantas experiências e suas possibilidades de tratamento, possam ter
lhe trazido compreensão desse universo complexo, porém curioso e
profundo, que é a história da psiquiatria.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, F. M. de. O Esboço de psiquiatria forense de Franco da Rocha. Revista
Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 137-
150, mar. 2008.
ARBEX, D. Holocausto Brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
BEZERRA JR., B. O cuidado nos CAPS: os novos desafios. Rio de Janeiro: Secretaria
Municipal de Saúde, 2004.
BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos
das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental. Brasília, DF: Presidência da República, [2001]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 15 abr.
2020.
FOUCAULT, M. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva,
1978.
MIRANDA-SÁ JR, L. S. de. Breve histórico da psiquiatria no Brasil: do período colonial
à atualidade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 29, n. 2,
p. 156-158, 2007.
NOGALES ESPERT, A. La enfermería y el cuidado de los enfermos mentales en el s.
XV. Cultura de los cuidados, Alicante, ano 5, n. 9, p. 15-21, 1 sem. 2001.
TEIXEIRA, M. O. L. Pinel e o nascimento do alienismo. Estudos e Pesquisas em
Psicologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, 2019.
VASCONCELLOS, J. Filosofia e loucura: a ideia de desregramento e a filosofia. In:
AMARANTE, P. (org.). Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade [online]. Rio
de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. p. 13-23. (Coleção Loucura & Civilização)
VIARO, M. E. Etimologia. São Paulo: Contexto, 2011.
20
Legislações e políticas nacionais
de saúde mental
Autoria: Rafael Lustosa Ribeiro
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Elucidar o respaldo do Sistema Judiciário para o
movimento da reforma psiquiátrica brasileira.
21
1. Evolução jurídica da saúde mental no Brasil
22
Ambos influenciados pelas ideias e os feitos de Phillipe Pinel e Jean
E. Esquirol, na França, que durante o século XIX buscavam compor
a psiquiatria como ciência, classificando diagnósticos e tratando os
pacientes no Asilo Feminino de Bicetrê, de maneira diferenciada da
tendência ao isolamento. Dessa forma, demonstrando diagnósticos
e prognósticos para os pacientes, eles realizaram muitos estudos
importantes que contribuíram para firmar a disciplina de psiquiatria
como ramo das ciências médicas (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
23
Segundo Macedo (2006), era evidente nesse decreto, que impediu
o intento de unificação da assistência psiquiátrica no Brasil, o
estímulo à construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do
cerceamento de doentes mentais em prisões. Além disso, definia a
tratamentos mais humanos em relação à época. A doença mental,
como em outras partes do mundo ocidental, permaneceu ligada a
três dimensões: médica, jurídica e social.
24
civil. Dessa forma, a internação do alienado passou a ser obrigatória
(SOARES FILHO; BUENO, 2016).
25
deveria ser pensado de forma biomédica, sendo associado ao aspecto
legal. Em razão do potencial de periculosidade, o psicopata passou a
ser visto em um misto dos enfoques jurídicos e médicos, na medida
em que sua mera existência era uma questão de ordem pública.
26
Figura 1 – Franco Basaglia
No fim dos anos 80, por sua vez, surgiu o Movimento dos Trabalhadores
em Saúde Mental, lançando o lema “Por uma sociedade sem
manicômios” e estimulando a produção legislativa de vários estados, no
sentido de proceder à desistitucionalização (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
27
2. A Lei n. 10.216/01 e a reforma psiquiátrica
A lei 10.216 (BRASIL, 2001, [s.p.]) traz em seu texto jurídico, nos dois
primeiros artigos:
28
VI–ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
29
II–internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do
usuário e a pedido de terceiro; e
Esse artigo define quais são os três tipos de casos de internação, uma
informação importante para todos os profissinais da saúde conhecerem
e saberem suas diferenças na prática.
O artigo 8º, por sua vez, falará sobre como é determinada a autorização
voluntária, mas seus parágrafos tratam de compreender sobre a
involuntária também, afirmando que todas as internações involuntárias
devem ser comunicadas ao ministério público, e os familiares ou
responsáveis legais têm poder de decisão caso desejem encerrar o
processo de internação do paciente.
30
desses serviços, visando a reinserção social do portador de doença
psíquica.
Mas antes de falar de CAPS, vale a pena citar o programa “De volta para
casa”, que garante auxílio social e financeiro para aqueles usuários do
sistema que viveram durante muitos anos confinados nos hospitais
psiquiátricos durante os tempos de prática manicomial.
31
Todos os casos, tanto os que tem familiares e/ou tutores, quanto os
residentes em casas terapêuticas, deverão seguir seu tratamento nos
CAPS, conforme orienta a lei.
• CAPS III regiões até 150 mil habitantes, onde, esse último tem
como diferencial o acolhimento noturno e em finais de semana.
32
Analisamos a seguir os objetivos do SISNAD, em que a citações
apresentadas estão, resumidamente, com os pontos-chave.
33
IX–promover formas coletivas de organização para o trabalho, redes
de economia solidária e o cooperativismo, como forma de promover
autonomia ao usuário ou dependente de drogas egresso de tratamento ou
acolhimento, observando-se as especificidades regionais;
34
também na missão de informar pessoas, esclarecendo pontos
importantes aos leigos e ajudando cada um a ir além de seus
preconceitos e tabus acerca da saúde mental.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Decreto nº 1.132, de 22 de dezembro de 1903. Reorganiza a Assistência
a Alienados. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [1903]. Disponível em: https://
www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903-
585004-publicacaooriginal-107902-pl.html. Acesso em: 16 abr. 2020.
BRASIL. Decreto nº 17.805, de 23 de maio de 1927. Approva o regulamento para
execução dos serviços da Assistência Federal. Brasília, DF: Câmara dos Deputados
[1927]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/
decreto-17805-23-maio-1927-499073-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 16
abr. 2020.
BRASIL. Decreto nº 24.559, de 3 de julho de 1934. Dispõe sobre a profilaxia mental,
a assistência e proteção á pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos
serviços psiquiátricos e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara dos Deputados,
[1934]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/
decreto-24559-3-julho-1934-515889-norma-pe.html. Acesso em: 16 abr. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos
das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental. Brasília, DF: Presidência da República, [2001]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 25 abr.
2020.
BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas–Sisnad; prescreve medidas para prevenção do
uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
35
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito
de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, [2006]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 17 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019. Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes
de drogas e para tratar do financiamento das políticas sobre drogas. Brasília,
DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm. Acesso em: 15 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002. Brasília,
DF: Ministério da Saúde, [2002]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html. Acesso em: 15 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011.
Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e
outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, [2011]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
prt3088_23_12_2011_rep.html. Acesso em: 15 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017.
Altera as Portarias de Consolidação no 3 e nº 6, de 28 de setembro de 2017, para
dispor sobre a Rede de Atenção Psicossocial, e dá outras providências. Brasília,
DF: Ministério da Saúde, [2017]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/gm/2017/prt3588_22_12_2017.html. Acesso em: 15 abr. 2020.
MACEDO, C. F. A evolução das políticas de saúde mental e da legislação psiquiátrica
no Brasil. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1017, 14 abr. 2006.
MANSANERA, A. R.; SILVA, L. C. da. A influência das ideias higienistas no
desenvolvimento da psicologia no Brasil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 5, n. 1,
p. 115-137, mar. 2000.
SILVEIRA, L. C.; BRAGA, V. A. B. Acerca do conceito de loucura e seus reflexos na
assistência de saúde mental. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão
Preto, v. 13, n. 4, p. 591-5, jul./ago. 2005.
SOARES FILHO, M. M.; BUENO, P. M. M. G. Direito à saúde mental no sistema
prisional: reflexões sobre o processo de desinstitucionalização dos HCTP. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 7, p. 2101-2110, jul. 2016.
ODA, A. M. G. R.; DALGALARRONDO, P. Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente
ao racismo científico. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 22, n. 4, p.
178-179, dez. 2000.
36
A influência da reforma
psiquiátrica na mudança do
paradigma da assistência em
saúde mental
Autoria: João Carlos Marchiori de Claudio
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Apresentar uma breve retomada histórica dos
modelos de assistência a pacientes com transtornos
mentais, dando foco em aspectos etiológicos da
doença e seus respectivos tratamentos.
37
1. Uma breve resenha sobre a assistência
psiquiátrica
Observa-se que muito foi estudado e, com isso, diversas práticas foram
descartas pela falta de evidência que comprovaram sua eficácia no
tratamento (ex.: insulinoterapia–aplicação de doses de insulina com o
intuito de gerar uma convulsão por hipoglicemia–ou crioterapia–banho
em água com temperatura abaixo de zero, com a intenção de gerar um
desmaio por queda de temperatura), em contraponto, foi demonstrada
a melhora de pacientes para práticas que uniam o convívio social com
outras práticas (ex.: farmacologia e terapia cognitiva comportamental).
38
paciente como fundamental, tendo como princípio básico a reinserção
social, pois as práticas que a antecedem tem um conturbado período
entre manicômios/prisões. A proposta que a reforma psiquiátrica
atual se baseia, é na reintegração do paciente para o meio social e,
utilizando como meio de cuidado o território em que ele frequenta e
seus lugares de convívio social. Ainda, esse cuidado agrega práticas
secundárias a medicalização, terapias cognitivas e terapias integrativas
complementares, sempre com o intuito de prestar o melhor cuidado ao
indivíduo, a fim de integra-lo da melhor forma na sociedade.
39
Quando observamos ambos, notamos a diferença no entendimento da
loucura, em que no primeiro exemplo é visto como algo ruim e deve
ser tratado, mas no caso dos imperadores, a loucura e tida como algo
positivo e digno, pois eles entram em contato com os deuses.
40
quantas vezes não ouvimos que grupos religiosos entendem que
pessoas com depressão ou outros transtornos não foram possuídas por
“espíritos do mal” e para se livrar deles necessitam rezar e/ou ir a algum
ritual místico?
41
um aspecto hierárquico, no qual o grau de hierarquia social que o
indivíduo com transtorno mental se encontrava daria um determinado
encaminhamento para seu cuidado. Para os estavam em um alto grau
hierárquico (alta nobreza e cleros), o pagamento de caridade já era
uma forma de cuidado, pois a oração feita pelos cleros daria o cuidado
necessário para o indivíduo doente.
42
e afastamento da grande influência da Igreja católica são fatores que
moldaram essa época (MENDONÇA, 2005).
Esse indivíduo, que já foi visto por diversas óticas, agora é visto como
um ser sem razão, pois esse período foi banhado pelo Racionalismo
moderno e, assim, a criação de uma ideia nova do ser humano, a qual
é o homem da razão. Esse conceito é entendido pela diferenciação
do homem “humanizado”–o portador de razão–o que o fez liberto da
regência divina, sendo aquele que não possui razão e um homem louco
ou com transtorno mental, pois mais se aproxima da animalidade.
43
parte do novo mundo, o qual era produtivo e baseado no consumo e na
acumulação de bens, colocando-o no papel errôneo de preguiçoso.
44
1.1.6 Tratamento da loucura: Reforma Psiquiátrica
(Revolução Basaglia)
45
focando em um serviço de atenção comunitária, cooperativas de
trabalho, centros de convivência, moradia assistidas e, quando
necessário, o serviço de emergência psiquiátrica em hospitais gerais.
46
como: agentes penitenciários, freiras antigas em conventos, sargentos,
médicos e enfermeiros psiquiatras).
47
Reequilíbrio dos 4
humores através
Povo greco- Desequilíbrio de massagens,
Hipócrates
romano humoral banhos,
vaporização de
odores, viagens
Cura através
do pagamento
para os padres,
Possessão que rezam para
Idade Media Igreja Católica
demoníaca acontecer a cura ou
o isolamento social
para quem não
podia pagar
Isolamento social
Não adaptação ao em manicômios e
Renascimento Racionalismo
modelo urbano utilização da força
para impor cuidado
Programas
e atividades
Entendimento
Revolução exercidas na
medico clinico, visto Philippe Pinel
Pineliana instituição
como uma patologia
baseadas no
paciente
Rede territorial
Revolução Doença como causa de atendimento
Franco Basaglia
Basaglia por múltiplos fatores e reinserção do
paciente no mundo
48
Contudo, devemos questionar quais as contribuições da reforma
psiquiátrica para o paciente com transtorno mental? A importância
dela consegue englobar diversas esferas, porém começaremos
com a mais básica, a esfera etiológica, ela muda o entendimento da
doença mental como algo místico ou unicausal, dando uma vertente
multifatorial. Essa vertente, como já explicado, dá a doença mental
uma explicação possível de solução e cuidado para o doente.
1.4 Conclusão
49
Referências Bibliográficas
AMARANTE, P. O Homem e a Serpente: outras histórias para a loucura e a
psiquiatria. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996.
FOUCAULT, M. História da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva,
2008.
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2008.
KYRILLOS NETO, F. Reforma psiquiátrica e conceito de esclarecimento:
reflexões críticas. Mental, Barbacena, v. 1, n. 1, p. 71-82, dez. 2003. Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
44272003000100006&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020.
MENDONÇA, J. L. de. Breve história da psicossomática: da pré-história à era
romântica. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, p. 119-125,
abr./jul. 2005.
MILLANI, H. de F. B.; VALENTE, M. L. L. de C. O caminho da loucura e a
transformação da assistência aos portadores de sofrimento mental. SMAD. Rev.
Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas, Ribeirão Preto, v. 4, n. 2, ago. 2008.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
69762008000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020.
SILVA, A. L. A. e; FONSECA, R. M. G. S. da. Os nexos entre concepção do
processo saúde/doença mental e as tecnologias de cuidados. Revista Latino-
americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 6, p. 800-806, dez. 2003.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
11692003000600015&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020.
WINTERLING, A. Loucura imperial na Roma antiga. História, Franca, v. 31, n. 1,
p. 4-26, jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-90742012000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020.
50
Competências necessárias à
equipe multiprofissional para
assistência em saúde mental e
psiquiatria
Autoria: João Carlos Marchiori de Claudio
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Revisar, brevemente, a criação do Sistema Único de
Saúde e apresentar as Redes de atenção à saúde
existentes.
51
1. Uma breve introdução ao tema
52
de grande porte) -, seguindo os princípios básicos do sistema:
universalização do acesso, equidade e integralidade.
53
esse serviço atua através da demarcação em territórios, oferecendo
o melhor cuidado ao paciente, o qual não é restrito apenas por uma
visão geográfica, mas engloba o lugar onde esse paciente desenvolve
relações sociais, afetivas, culturais e históricas.
54
Segundo Tenorio (2002), o CAPS foi uma alternativa adotada após a
mudança do modelo vigente, modelo manicomial e hospitalocêntrico.
Esse serviço de saúde visa a inserção social do sujeito na comunidade
local, falando sobre isso, você já viu um CAPS em sua cidade? Eles
podem até passar despercebidos, mas normalmente estão localizados
em regiões centrais da cidade e são, geralmente, construções civis
comuns, como casas e sobrados. Nesse aparato de saúde, o principal
instrumento utilizado é o Projeto Terapêutico Singular (PTS), que é
um instrumento que visa organizar as atividades que o usuário fará
frente ao seu cuidado, esse é acordado entre o usuário do serviço
junto ao profissional de referência. Para a organização desse serviço,
conta com a proposta de “profissionais referências”, o qual um
trabalhador da unidade, independente da sua área de formação, será
a referência no cuidado de um determinado paciente.
55
momento em que estiver apresentando quadros clínicos graves e/
ou estando em estado de crise (em que não se consegue estabilizar
o quadro psíquico clínico do paciente no serviço básico, sendo
encaminhado para um serviço de maior complexidade) (BRASIL,
2019).
56
alguém que deveria ser ignorado ou não tinha capacidade de fazer
nada corretamente, assim, optando por excluí-lo do meio comum,
em manicômios ou em prisões jurídicas–como é mencionado no livro
Holocausto Brasileiro (ARBEX, 2013) -, contudo, após a implementação das
novas diretrizes curriculares, teve-se início a sua inclusão na sociedade,
pois um dos eixos formadores da RAPS é, além do respeito dos direitos
humanos, promover a autonomia (BRASIL, 2011).
57
classe profissional. A habilidade, como outro formador do conceito
competência, é apresentada pela execução do conhecimento para
o meio prática, expressando algo que se aprendeu em teoria para a
atuação clínica. Pode-se utilizar o mesmo exemplo anterior, quando um
enfermeiro tem que realizar um curativo, ele deve ter conhecimento
da técnica para realizar – aprendido também a teoria–e a habilidade de
operar os instrumentos–a qual é adquirida com a execução na prática
(FLEURY; FLEURY, 2001).
58
de saúde, consideremos pensar que as competências dos enfermeiros
se demonstram amplas. Contudo, devemos observar as competências
gerais do enfermeiro, a fim de conseguimos realçar as competências
mais necessárias em um serviço de saúde mental. Estas competências
são: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança,
administração e gerenciamento e educação permanente (BRASIL, 2001).
Devemos realçar a importância de todas as competências listadas,
contudo, daremos atenção em quatro delas. Em primazia, a atenção
à saúde ao paciente em sofrimento psíquico deve ser observada pelo
vasto conhecimento por parte do profissional de enfermagem no
cuidado do paciente na esfera biopsicossocial, como exemplo de um
cuidado de um enfermeiro, apresenta-se na esfera bio o conhecimento
dos efeitos adversos medicamentosos, o se o paciente estiver tomando
um antidepressivo pode ser evitado a futura prisão de ventre com a
recomendação de uma dieta pastosa por esse profissional. Na esfera
psico, observa-se a relação terapêutica desenvolvida pelo profissional,
o qual, por exemplo, quando aborda o paciente deve entender as
situações dele como indivíduo único e suas complicações. Por fim, em
análise social, o entendimento desse paciente como parte de um grupo,
ocorrendo quando esse enfermeiro entende a situação do paciente em
casa, identificando o que o fez entrar em depressão.
59
Nesse sentido, a liderança por parte do enfermeiro de uma equipe
multiprofissional é um cargo de grande responsabilidade, o qual durante
o curso de graduação de enfermagem ele já é preparado para lidar com
conflitos e resolvê-los o quanto antes, sem maiores danos.
Para isso, uma equipe multiprofissional deve ser criada, a qual deve
apresentar um quantitativo mínimo de profissionais para a execução
dessas tarefas. Conforme a lei vigente da RAPS, os CAPS apresentam
em sua fundação um número mínimo, com base no CAPS I, de
nove profissionais–um médico especializado em saúde mental, um
60
profissional de enfermagem, três profissionais de nível superior que
ajudem a compor as atividades do PTS e quatro tecnólogos de mesma
função. Esses profissionais, por sua vez, apresentam um limite de
atendimento por turno de 20 a 30 pacientes. Ainda, o CAPS III apresenta
um contingente profissional maior, sendo 16 profissionais o número
total para o contingente mínimo por plantão–dois médicos psiquiatras,
um enfermeiro com formação em saúde mental, cinco profissionais
de nível superior para a composição do PTS e oito tecnólogos para o
mesmo serviço.
61
Ainda, como fator de inclusão desses pacientes no meio social, o
combate ao estigma e preconceitos vigentes na sociedade deve ser um
ponto importante para os profissionais em saúde mental, pois para uma
população que tem dificuldade de aceitar o diferente e o preconceito
criado e enaltecido pela mídia eletrônica atual, faz-se uma barreira
importante na conquista de inclusão (GUARNIERO; BELLINGHNI; GATTAZ,
2012). Desse modo, é de grande importância que os profissionais
desses serviços ajudem a cair os preconceitos e os estigmas criados pela
população, por meio de ações educativas e contato da população com o
serviço, através de estratégias como economia solidária.
62
isso, a constante busca por apresentar uma via de acesso entre o
paciente e o profissional deve ser feita, para sempre saber entender
suas demandas quando necessário.
63
A compreensão de competência formada por habilidades, conhecimento
e atitudes, visa o questionamento por parte do profissional, quando
for prestar atendimento a um paciente, quais conhecimentos ele deve
prestar com base na sua formação que vão de encontro com a RAPS e
que ajudariam o paciente da melhor forma? Esse questionamento deve
ser contínuo e renovado a cada encontro, pois sempre que um encontro
é encerrado, uma mudança é ocasionada no paciente e no profissional.
Referências Bibliográficas
ARBEX, D. Holocausto Brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013. 256 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Clínica ampliada e
compartilhada. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
BRASIL. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de
Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do
Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, [2011]. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html.
Acesso em: 16 abr. 2020.
BRASIL. Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017. Altera as Portarias de
Consolidação no 3 e nº 6, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre a Rede
de Atenção Psicossocial, e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, [2017]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/
prt3588_22_12_2017.html. Acesso em: 16 abr. 2020.
FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. Revista de
Administração Contemporânea, Maringá, v. 5, edição especial, p. 183-196, 2001.
64
GUARNIERO, F. B.; BELLINGHINI, R. H.; GATTAZ, W. F. O estigma da esquizofrenia na
mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande
circulação. Revista de psiquiatria clínica, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 80-84, 2012.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
60832012000300002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 16 abr. 2020.
MARTINS, P. P. S.; GUANAES-LORENZI, C. Participação da família no tratamento em
saúde mental como prática no cotidiano do serviço. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
Brasília, v. 32, n. 4, e324216, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722016000400216&lng=en&nrm=iso. Acesso
em: 16 abr. 2020.
TENORIO, F. A reforma psiquiátrica brasileira, da década de 1980 aos dias atuais:
história e conceitos. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 9,
n. 1, p. 25-59, abr. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-59702002000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 16 abr.
2020.
65
BONS ESTUDOS!
66