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Índice
1. Psicopatologia................................................................................................................................ 7
Consciência ......................................................................................................................................... 7
Atenção ..............................................................................................................................................11
Orientação .........................................................................................................................................11
Memória .............................................................................................................................................12
Percepção ..........................................................................................................................................18
Discurso e linguagem ....................................................................................................................26
Pensamento ......................................................................................................................................28
Vivência do Eu ..................................................................................................................................41
Humor, Emoção e Afetos ..............................................................................................................43
Alterações da emoção e expressão afetiva.............................................................................47
Ansiedade..........................................................................................................................................48
Vontade e impulsividade ..............................................................................................................49
Motricidade .......................................................................................................................................51
Alteração da vida instintiva ..........................................................................................................54
Alterações do insight .....................................................................................................................56
2. Intervenção biológica – Psicofarmacologia .........................................................................62
Farmacocinética ...............................................................................................................................64
1) Antipsicóticos ..........................................................................................................................65
2) Antidepressivos ......................................................................................................................66
3) Estabilizadores de humor.....................................................................................................68
4) Ansiolíticos e Hipnoindutores .............................................................................................69
5) Psicoestimulantes ..................................................................................................................71
6) Tratamentos físicos................................................................................................................71
3. Intervenção psicossocial ...........................................................................................................72
Definição de Psicoterapia .............................................................................................................72
Diferença entre Psicoterapia e Amigos ....................................................................................72
Empatia ..............................................................................................................................................73
Caraterísticas para um terapeuta ...............................................................................................73
Fatores da Psicoterapia .................................................................................................................74
2
Tipos de Psicoterapia.....................................................................................................................75
1. Counselling e Psicoterapia de suporte ............................................................................75
2. Psicoterapia psicodinâmica .................................................................................................76
3. Psicoterapia cognitivo-comportamental .........................................................................77
4. Psicoterapia interpessoal .....................................................................................................77
5. Psicoterapia de casal/familiar .............................................................................................78
6. Psicoterapia de grupo ...........................................................................................................78
4. Perturbações esquizofrénicas e psicóticas .........................................................................80
Perturbação Delirante ....................................................................................................................80
Esquizofrenia ....................................................................................................................................86
Perturbação Delirante vs Esquizofrenia ...................................................................................94
5. Perturbações Bipolares .............................................................................................................95
Episódios Maníacos ........................................................................................................................95
Episódios Hipomaníacos ...............................................................................................................98
Episódios depressivos ...................................................................................................................99
Estado misto .................................................................................................................................. 100
Sintomas catatónicos .................................................................................................................. 100
Perturbação Bipolar de Ciclos Rápidos ................................................................................. 101
Tipos de PAB (I e II) ..................................................................................................................... 101
Epidemiologia ................................................................................................................................ 101
Comorbilidades associadas....................................................................................................... 102
Suicídio ............................................................................................................................................ 102
Fisiopatologia ................................................................................................................................ 103
Diagnóstico diferencial ............................................................................................................... 105
Tratamento ..................................................................................................................................... 105
6. Perturbações de Ansiedade e PTSD ................................................................................. 111
Ataque de Pânico ......................................................................................................................... 113
Perturbação de pânico................................................................................................................ 115
Perturbação de ansiedade generalizada............................................................................... 118
Perturbações de Stress pós-traumático ............................................................................... 120
7. Perturbações Depressivas .................................................................................................... 126
Epidemiologia ................................................................................................................................ 126
Etiologia........................................................................................................................................... 127
3
Fatores de risco............................................................................................................................. 132
Clínica............................................................................................................................................... 132
Depressõs sazonais ..................................................................................................................... 134
Estado misto .................................................................................................................................. 135
Episódios ......................................................................................................................................... 135
Apresentação ................................................................................................................................ 135
Prognóstico .................................................................................................................................... 135
Diagnóstico diferencial ............................................................................................................... 136
Tratamento agudo ....................................................................................................................... 137
Efeitos adversos ........................................................................................................................... 139
8. Perturbações fóbicas, obsessivo-compulsiva ................................................................. 141
Definição/Ideias Obsessivas / Compulsões / POC ............................................................. 141
Modelo da POC ............................................................................................................................. 143
Prevalência ..................................................................................................................................... 144
Evolução/Prognóstico ................................................................................................................. 144
Causalidade.................................................................................................................................... 144
Personalidade Pré-Mórbida ...................................................................................................... 145
Diagnóstico Diferencial .............................................................................................................. 145
Terapêutica .................................................................................................................................... 145
FOBIA SIMPLES / ESPECÍFICA................................................................................................ 148
Perturbação Dismórfica Corporal ............................................................................................ 149
Perturbação de Acumulação .................................................................................................... 149
Tricotilomanía e Perturbação de Escoriação........................................................................ 149
9. Perturbações do comportamento alimentar .................................................................... 150
Pica ................................................................................................................................................... 151
Perturbações de Ruminação..................................................................................................... 151
Perturbação de Evitamento / Restrição de Ingestão Alimentar ..................................... 152
Anorexia Nervosa......................................................................................................................... 154
Bulimia Nervosa............................................................................................................................ 158
6. Perturbação de Ingestão Compulsiva ............................................................................... 162
Perturbação de comportamento alimentar sem outras especificações ...................... 162
Anorexia Nervosa VS. Bulimia Nervosa ................................................................................ 163
10. Perturbações orgânicas: demência e delirium ............................................................ 166
4
Perturbação Neurocognitiva Major/Demência .................................................................... 166
Perturbação neurocognitiva minor ......................................................................................... 167
DOENÇA DE ALZHEIMER......................................................................................................... 168
DEMÊNCIAS FRONTO-TEMPORAIS .................................................................................... 176
DELIRIUM ....................................................................................................................................... 180
11. Perturbações de alcoolismo e toxicodependência .................................................... 183
CRITÉRIOS DE DEPENDÊNCIA DE UMA SUBSTÂNCIA ............................................... 184
ALTERAÇÕES METABOLISMO .............................................................................................. 185
SEVERIDADE/EFEITO DO CONSUMO ................................................................................. 185
DOENTES COM MAIOR MORBILIDADE .............................................................................. 185
ÁLCOOL .......................................................................................................................................... 185
TOXICODEPENDÊNCIA............................................................................................................. 190
12. Suicídio e auto-mutilação.................................................................................................. 197
Nomenclatura ................................................................................................................................ 197
Definições ....................................................................................................................................... 198
Epidemiologia ................................................................................................................................ 199
Etiologia........................................................................................................................................... 200
Modelo Limiar ................................................................................................................................ 202
Fatores de risco............................................................................................................................. 202
Fatores protetores........................................................................................................................ 203
Adolescência.................................................................................................................................. 204
Idoso ................................................................................................................................................. 204
Obstáculos à intervenção .......................................................................................................... 205
Avaliação do risco ........................................................................................................................ 205
1º contacto ..................................................................................................................................... 206
Avaliação do doente suicida ..................................................................................................... 207
Critérios para internamento ...................................................................................................... 208
Quem faz avaliação de suicídio e quem é submetido? ..................................................... 208
Modelos de intervenção ............................................................................................................. 209
13. Perturbações da Personalidade ...................................................................................... 210
Personalidade saudável ............................................................................................................. 210
Determinantes da Personalidade ............................................................................................ 210
Perturbação de Personalidade – Critérios ............................................................................ 211
5
Epidemiologia ................................................................................................................................ 211
Perturbação da Personalidade ................................................................................................. 212
Cluster A ......................................................................................................................................... 213
Cluster B ......................................................................................................................................... 214
Cluster C ......................................................................................................................................... 215
Perturbação de Personalidade vs Outra doença mental ................................................. 217
Traços de personalidade vs Perturbação da Personalidade........................................... 217
Abordagem das Perturbações de Personalidade .............................................................. 217
Abordagem terapêutica na Perturbação Borderline ......................................................... 217
Conclusão ....................................................................................................................................... 218
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1. Psicopatologia
O conceito de psicopatologia significa patologia da alma (Psiché (alma) + patologia
(doença)).
Na aula teórica foi dito que as principais alterações psicopatológicas que tínhamos
de saber seriam as da percepção, pensamento e memória.
Consciência
A consciência traduz o estado no qual o doente está ciente de si próprio e em
relação ao meio que o rodeia.
- Doenças cerebrais;
- Durante o sono;
- Patologias orgânicas;
- Patologias mentais.
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A consciência pode ter 2 tipos de alteração:
➔ Alterações quantitativas
➔ Alterações qualitativas
Carateriza-se por ser um estado em que o doente parece estar a viver num sonho,
normalmente associado a uma patologia orgânica mas pode ser num episódio
dissociativo.
É caraterizado por:
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- Delirium/Estado confusional agudo: temos diminuição abrupta da consciência do
doente, podendo ter agravamento noturno. Normalmente tem por base uma patologia
médica pelo que o tratamento é emergente. Pode estar relacionado com infecções.
QUAL O DIAGNÓSTICO?
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QUAL O DIAGNÓSTICO?
2) Estreitamento
Uma situação em particular é o estado crepuscular, onde o doente tem início e fim
abruptos, com uma explosão de violência num doente com comportamentos,
habitualmente, normais!
3) Expansão
Doente sente que está mais alerta, está mais atento, com maior capacidade de
orientação e de memória em relação ao “habitual” para este.
Alterações da Consciência
Alterações quantitativas Alterações qualitativas
Diminuição da consciência Estado oniróide (confuso-onírico)
Obnubilação - Delirium/Estado confusional agudo
Turpor Estreitamento
Coma - Estado crepuscular
Expansão
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Atenção
A atenção define-se como a orientação da atividade psíquica para um
determinado evento ou objeto.
Pode ser:
1) Aumentada → Hiperprosexia;
2) Diminuída → Hipoprosexia e distractibilidade (este último é a instabilidade e
mobilidade acentuada da atenção voluntária).
3) Estreitada → pode haver estreitamento da atenção e o doente apenas toma
atenção em relação a algo muito específico da sua consciência.
Atenção
Hiperprosexia
Hipoprosexia/Distractibilidade
Estreitamento da atenção
Orientação
A orientação é a capacidade de se identificar e de se situar no tempo, espaço,
em relação a si próprio e no geral.
1) Desorientação temporal
2) Desorientação espacial
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3) Desorientação auto-psíquica
Doente não sabe o seu nome, a sua idade, onde nasceu, o seu estado civil, a sua
profissão.
4) Desorientação alopsíquica
Doente não tem informação sobre o que o rodeia, não reconhece as pessoas.
A desorientação no tempo e no espaço tem, na maioria das vezes, uma causa orgânica.
Memória
A memória permite apreender, reter, evocar e reconhecer uma informação.
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- Reconhecimento: capacidade de se sentir familiarizado com uma memória
formada.
➔ Alterações quantitativas
Podemos ter um aumento (hipermnésia) ou diminuição (amnésia).
Hipermnésia
Ecmnésia = doente relembra de forma muito intensa algo que julgava estar
esquecido;
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Amnésia
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Amnésias psicogénicas: a informação mnésica perdida não é aleatória mas sim
mais selecionada, tem diferentes valores emocionais/afetivos para o doente.
Normalmente estão relacionados com a fase de evocação e de reconhecimento (+
tardios).
QUAL O DIAGNÓSTICO?
Demência (Doença de Alzheimer?)
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➔ Alterações qualitativa
As alterações são denominadas paramnésias, onde não temos ganho nem perda de
memórias mas sim a alteração/distorção das mesmas.
- ALTERAÇÕES DA EVOCAÇÃO -
- Delírio retrospetivo: o doente alega que o conteúdo das ideias delirantes é anterior ao
diagnóstico da doença. Ex: doente tem uma ideia delirante em como tem poderes
especiais mas diz que estes começaram na infância.
- Recordação delirante: tipo de delírio primário. Podemos ter uma recordação delirante
do tipo percepção delirante (“sei que sou da família real porque quando era pequeno
comia com colheres com coroas desenhadas”) e recordação delirante do tipo ocorrência
delirante (“sei que sou da família real porque quando era pequeno o rei saudou-me”).
- Síndrome das memórias falsas: o doente, durante uma psicoterapia, vai, a sugestão do
terapeuta, dizer que teve abusos sexuais e físicos ao longo da vida quando, na verdade,
não teve.
- Criptomnésia (memória oculta): o doente vai ter a percepção de que uma lembrança
recente é algo novo (e não recordado) e vai contar isto como se fosse a 1ª vez que
alguém diz. Ex: num grupo de amigos, o amigo A conta a história X. O doente vai,
passado uns minutos, contar a história X como se esta fosse nova e nunca contada.
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- ALTERAÇÕES DO RECONHECIMENTO –
➔ Não delirantes
- Déjà-vu : sensação de que a experiência que o doente está a sentir, já sentiu
outra vez quando, na realidade, é a primeira vez;
- Jamais-vu : doente tem a sensação de que, apesar de não ser a primeira vez
naquela experiência, para ele parece-lhe que é a 1ª.
➔ Delirante:
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Alterações da memória
Quantitativas Qualitativas
Hipermnésia Amnésia Paramnésias
Amnésia Amnésia Evocação Reconhecimento
orgânica psicogénica
Apreensão Amnésia Falsificação Não-Delirante Delirante
Traumatismo dissociativa retrospetiva
CE, Delirium,
Blackout
alcoólico
Retenção Catatímica Delírio Déjà-vu Identificação errónea
Demência retrospetivo positiva
Evocação Recordação Jamais-vu Identificação errónea
Amnésia delirante negativa
diencefálica
Amnésia
hipocampal
Confabulação Síndrome de
intermetamorfoses
Síndrome de
memórias
falsas
Criptomnésia
Percepção
A percepção é um fenómeno que necessita de 3 intervenientes:
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➔ Distorções sensoriais
Como vimos, nestas temos um objeto real com uma percepção distorcida.
Alterações quantitativas
- Hiperestesia
As percepções são vividas de forma mais intensa (quer auditivas quer visuais).
- Hipostesia
A intensidade das percepções está diminuída, uma vez que o limiar de captação
destas percepções está aumentado. Ou seja, o doente tem maior dificuldade a “adquirir”
percepções. Acontece no Delirium (onde temos o aumento do limiar das percepções).
Alterações qualitativas
- Alteração da cor
- Separação da percepção
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Distorções sensoriais
Alterações quantitativas Alterações qualitativas
Hiperestesia Alteração da cor Alteração da dimensão
Hipostesia Alteração da forma Separação da percepção
➔ Falsas percepções
Temos uma percepção “de novo” que pode, ou não, ter um estímulo externo.
ILUSÃO
Quando temos uma fusão entre a percepção que temos de um objeto real e uma
imagem mental, resultando numa percepção “de novo”.
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ALUCINAÇÃO
➔ Alucinações Auditivas
Podem ser:
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➔ Alucinações Visuais
Podem ser:
1) Ativas: os doentes sentem que estão a tocar em objetos que não existem;
2) Passivas: os doentes sentem que estão a ser tocados por objetos ou pessoas. Dentro
destas podemos destacar as formicações em que o doente sente que tem insetos a
rastejar na pele ou imediatamente abaixo dela (cocaine bugs).
Podem ser:
1) Alucinações viscerais – sente que os seus órgãos estão a andar dentro de si ou que
tem animais no seu interior;
2) Parasitoses alucinatórias – sente que tem o corpo infetado com parasitas no seu
interior.
➔ Alucinações olfativas
O doente sente cheiro a gás, cheiro a borracha queimada ou que ele próprio emite
mau cheiro. Acontece principalmente em epilepsia e quadros orgânicos.
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➔ Alucinações gustativas
O doente tem alteração da perceção de sabor da comida, podendo até ter sitiofobia
(achar que o sabor da comida está diferente porque o envenenaram). Acontece na
esquizofrenia e quadros orgânicos. Devemos fazer distinção do delírio secundário onde
o doente esquizofrénico se sente fisicamente alterado e, por isso, acha que foi
envenenado.
O doente sente que está a realizar movimento voluntário, que está a ser submetido
a movimento passivo, que se está a movimentar de forma lenta ou rápida, etc.
Pode ser:
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Alucinações
Sensibilidade Sensibilidade
Auditivas Visuais Olfativa Gustativa Cinestésica
superficial profunda
Elementares Elementares Ativa Alucinações Elementar
viscerais
Parcialmente Parcialmente Passiva Parasitose Complexa
organizadas organizadas alucinatória
Completamente Completamente
organizadas organizadas
PSEUDOALUCINAÇÃO
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QUAL O DIAGNÓSTICO?
QUAL O DIAGNÓSTICO?
Alterações da percepção
Distorção sensorial Falsas percepções
Quantitativa Qualidade Ilusões Alucinações Pseudoalucinações
Hiperestesia Cor - Pareidolia Visuais
Hipostesia Forma - Imagem eidética Auditivas
Tamanho - Ilusão de Táteis/sensibilidade
preenchimento superficial
Separação da - Ilusão de afeto Cenestésica/sensibilidade
percepção profunda
Olfativa
Gustativa
Cinestésica/Movimento
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Discurso e linguagem
As alterações de discurso e linguagem podem ser:
ORGÂNICA
1) Disartria
Acontece, na maioria das vezes, por parésia dos músculos da face/palato mole.
2) Dislexia
3) Afasia
4) Parafasia
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FUNCIONAIS (AARISS)
➔ Alterações da articulação
Gaguez
➔ Alterações da atividade
1) Hipoatividade
- Linguagem quantitativamente diminuída
- Mutismo: ausência de discurso de forma voluntária, com manutenção
da consciência e da capacidade de fonação. Pode ser seletiva ou eletiva.
- Mutacismo: mutismo deliberado no contexto da mania, na simulação ou
no doente delirante.
2) Hiperatividade
- Prolixidade: doente fala muito sobre cada tópico mas dentro da
normalidade;
- Verborreia: doente fala demasiado sobre cada tópico, com muita pressão e
agitação, sendo difícil manter uma conversa com estes doentes.
➔ Alteração do Ritmo
- Fluxo lentificado ou bradifemia: discurso lentificado, com longas pausas e com
dificuldade a iniciar o discurso;
- Fluxo acelerado ou taquifemia: discurso acelerado, sem pausas e com
articulação rápida das várias palavras;
- Aprosodia: discurso sem qualquer entoação afetiva/emocional.
➔ Alterações iterativas
- Logoclonia: o doente repete a última sílaba da palavra que o próprio
pronunciou. Ex: direito, eito, eito, eito.
- Ecolália: o doente repete de forma imediata e automática palavras ou sons ditas
pelo interlocutor.
➔ Alterações semânticas
- Neologismo: doente cria uma nova palavra;
- Paralogismo: doente atribui um significado diferente a uma palavra que já
conhece;
- Discurso pobre: diminuição da utilização de recursos linguísticos e da riqueza
gramatical;
- Pedolalia: discurso infantilizado;
- Coprolalia: discurso no qual existem interjeições involuntárias de palavras
obscenas ou ruídos intensos.
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➔ Alterações sintáticas
- Agramatismo: a frase fica construída sem interjeições ou complementos, de
forma quase telegráfica. Ex: Eu quero ir casa tomar banho (eu quero ir a casa
para tomar banho).
Orgânica Funcional
Disartria
Perturbação
Perturbação Alterações Alterações Alterações
da Perturbação da atividade
do ritmo iterativas semânticas sintáticas
articulação
Dislexia Gaguez Hipoatividade Hiperatividade Bradifemia Logoclonia Neologismos Agramatismo
Coprolalia
Pensamento
As alterações do pensamento podem ser de 4 categorias:
1) Alterações do Curso
Dentro das alterações do curso, podemos ter:
1) Alterações do ritmo do pensamento;
2) Alterações da continuidade do pensamento.
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ALTERAÇÕES DO RITMO DO PENSAMENTO
1) Taquipsiquismo
2) Bradipsiquismo
Pensamento no qual vamos ter uma sequência de ideias, com certa relação causal
(verbal ou sonora) em que não regressamos ao pensamento inicial. O pensamento muda
constantemente de objetivo. Ocorre sempre na presença de pensamento acelerado.
4) Pensamento circunstanciado
O doente tem pouca capacidade de síntese e
de manter o pensamento inicial, se bem que
acaba por regressar a este. Mas, no caminho,
perde-se em detalhes irrelevantes e dispersa em
temas paralelos. Perturbação da personalidade.
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QUAL O DIAGNÓSTICO?
Episódio maníaco (em perturbação afetiva bipolar tipo I por não adesão à terapêutica?)
1) Bloqueio de pensamento
O doente tem um bloqueio súbito e total da continuidade e progressão do
pensamento, ao ponto que interrompe bruscamente a sua fala e discurso.
Quando consegue retomar o discurso, fá-lo com outra ideia e demonstra-se
envergonhado por não ter noção da ideia prévia. Típico da esquizofrenia.
2) Perseveração ideativa
O doente fica “preso” numa ideia e não consegue passar de uma ideia para a
seguinte, ou seja, fica a repetir (para além do normal) a mesma ideia. Torna-se
incapaz de se adaptar a outras questões que sejam colocadas, repete
voluntariamente sempre a mesma questão. Não muda o tópico da conversa.
3) Perseveração verbal
O doente fica “preso” numa palavra/frase do discurso e não consegue adaptar-
se a novas questões que sejam colocadas. Por exemplo, no decorrer de uma
entrevista clínica, o médico pergunta quantos filhos o doente tem e este
responde “tenho 2 filhos”. Depois, prossegue na entrevista e pergunta se faz
alguma medicação e o doente não consegue alterar a resposta e diz “tenho 2
filhos”. Ou seja, responde uma informação do discurso que, no momento atual,
já não é relevante e se torna desadequado.
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Alterações do curso do pensamento
Ritmo Continuidade
Taquipsiquismo Bloqueio de pensamento
Bradipsiquismo Perseveração ideativa
Fuga de ideias Perseveração verbal
Pensamento circunstanciado
Pensamento inibido
2) Alterações da Forma
➔ Pensamento concreto
➔ Pensamento assindético
Vão-se unir na mesma frase dois pensamentos que estão mais ou menos associados
entre si mas que, na sequência, não faz sentido.
➔ Sobreinclusão
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➔ Descarrilamento
O doente vai ter um discurso em que as ideias, ditas de forma sequencial, não têm
qualquer tipo de relação e o doente não consegue atingir o pensamento principal. Perde-
se no pensamento subsidiário sem relação com o primeiro.
“Vou apanhar o autocarro, vou para casa dos meus pais, o presidente da república
controla-me as ideias, as câmaras estão na minha sala”.
➔ Fusão
“Eu sei que os marcianos me andam a perseguir desde daquele dia na praia. Os
superpoderes que eu tenho, desde pequeno, a minha mãe não sabe. Quando voltar à
praia os marcianos vão-me querer ir buscar. A minha mãe nunca chegou a negar os
superpoderes que eu tenho” (intercala-se a ideia A e ideia B que o doente têm, sem que
estas tenham relação entre as mesmas, havendo um discurso sem sentido).
➔ Suspensão
“Hoje almocei peixe grelhado que foi pescado pelo meu marido e acompanhei com…
Amanhã de manhã tenho de apanhar o autocarro para o trabalho.”
➔ Pensamento desagregado
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QUAL O DIAGNÓSTICO?
Esquizofrenia residual
➔ Ideias obsessivas
O doente tenta resistir a estas ideias mas, a partir de certo ponto, estas ideias
tornam-se ansiogénicas para o mesmo, causam sofrimento!
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➔ Alienação do pensamento
O doente sente que os seus pensamentos são controlados e regidos por uma
entidade extrínseca ao doente. Frequente na esquizofrenia.
1) Imposição de pensamentos
Doente afirma que os seus pensamentos foram introduzidos na sua cabeça, que não
são dele e que alguém os colocou lá;
2) Roubo de pensamento
Doente sente que alguém roubou os seus pensamentos e se apoderou dos mesmos;
3) Difusão de pensamento
4) Alterações do conteúdo
➔ Ideia sobrevalorizada
Ideia errónea com superestimação afetiva, ou seja, o doente centra a vida e atitudes
dele em função de uma ideia que:
Temos uma ideia com grande carga afetiva para o doente que é compreensível no
contexto da doença (ideia de ter excesso de peso na anorexia nervosa ou de estar
doente na hipocondria).
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➔ Ideia delirante
1) DELÍRIO PRIMÁRIO
Surge sem causa aparente, sem relação com outras alterações psiquiátricas. Perante
um objeto real, surge um novo significado e uma percepção verdadeira. Típicos da fase
inicial da esquizofrenia (em fase aguda).
- Humor delirante: o doente tem o pressentimento que algo está errado mas não
sabe o que é, causando alguma angústia no doente. Pode ocorrer com
despersonalização (“eu estou diferente”), desrealização (“o mundo está diferente”) ou
perplexidade.
“Descobri que era da máfia porque tinha uma nódoa na camisa”. A nódoa é um
componente/objeto real, a atribuição de significado a esta (sujou-se a comer ou algo do
género) é que está alterado.
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- Ocorrência delirante: sem termos qualquer tipo de percepção envolvida, o
doente simplesmente, de forma súbita, surge com uma ideia delirante, decidida.
“Agora que sei que os aviões são russos sei que estou a ser perseguido pelo
governo”.
- Recordação delirante, no qual existe uma ideia delirante com base num
conteúdo anterior à ideia delirante. Pode ser de 2 tipos:
“Sei que sou da família real porque quando era pequeno comia com talheres que
tinham uma coroa desenhada”.
“Sei que sou da família real porque quando era pequeno o rei saudou-me”.
- HPOR -
2) DELÍRIO SECUNDÁRIO
Alteração do pensamento
Curso Forma Posse Conteúdo
Ritmo Continuidade Pensamento Ideias Alienação do Ideias Ideias
concreto obsessivas pensamento sobrevalorizadas delirantes
Taquipsiquismo Bloqueio de Pensamento - Imposição - Delírio
pensamento assindético do primário
pensamento
Bradipsiquismo Perseveração Sobreinclusão - Roubo do - Delírio
ideativa pensamento secundário
Fuga de ideias Perseveração Fusão - Difusão do
verbal pensamento
Circunstanciado Descarrilamento
Pensamento Suspensão
inibido
Pensamento
desagregado
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QUAL O DIAGNÓSTICO?
1º surto psicótico
1) Delírio persecutório/paranóide
2) Autorreferência
Doente que, quando passa na rua, sente que as pessoas estão a olhar para ele, a
comentar ou falar sobre ele. Está convencido que acontecimentos fortuitos lhe dizem
respeito. Acontece na esquizofrenia.
3) Delírio de grandeza
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4) Delírio místico/religioso
O doente sente que é uma entidade religiosa ou o salvador da nação (messias). Vai
para além do normal da religião, está relacionado com religião e espiritualidade.
Pode ter somatização de alguns sintomas físicos com origem psiquiátrica, sem causa
orgânica associada.
6) Delírio de infestação
Doente sente que está a ser infestada por bichos, insetos ou semelhantes. Pode
ocorrer em paralelo com alterações da percepção da sensibilidade superficial/táteis
(formicação) ou da sensibilidade profunda/cenestésicas.
7) Delírio niilista
Tipo de delírio onde o doente nega tudo, ou seja, nega a sua existência, a sua mente,
a existência de pessoas à sua volta e o mundo que o rodeia.
Pode acontecer o doente negar que tem órgãos no seu interior ou mesmo que as
suas veias estão secas e que não tem sangue a circular.
9) Delírio de culpa
O doente sente que cometeu alguma ação que é imperdoável e que, por isso, deverá
ser punida.
38
10) Delírio de ruína
O doente acha que a sua vida está arruinada, que não tem dinheiro, que vai ficar sem
profissão, que a sua família vai passar forme e que tudo corre mal no mundo.
- Delírio de ciúme: o doente sente que o seu companheiro o está a trair ou ser infiel.
Temáticas do delírio
Delírio Delírio de Delírio Delírio Delírio Delírio de
persecutório autorreferência grandeza religioso hipocondríaco infestação
Delírio niilista Delírio de negação Delírio de Delírio de Delírio passional Identificação
de órgãos culpa ruína delirante
1) Delírio de ruína;
2) Delírio de culpa;
3) Delírio niilista;
4) Delírio somático/hipocondríaco.
39
Outras caraterísticas importantes em relação ao grau de organização dos
delírios:
- Sistematizado: o doente tem uma única ideia delirante, a partir da qual elabora toda
uma história super orientada, lógica e que parece bem interligada. O doente esforça-se
por arranjar argumentos que façam sentido para explicar a sua ideia delirante e
associados.
- Não sistematizado: o doente tem várias ideias delirantes que não têm relação entre
elas. Quando questionado não arranja justificação nem argumentos para as ideias
delirantes, responde algo como “porque sim, porque toda a gente sabe que é assim”.
- Simples/Monotemático
- Complexo/Politemático
Além disso, o envolvimento emocional que um doente tem com o delírio refere-
se ao dinamismo do delírio. (Quanto maior o dinamismo do delírio maior o compromisso
afetivo).
QUAL O DIAGNÓSTICO?
Perturbação delirante.
40
Confabulação é diferente de ideia delirante porque o 1º é plástico, sujeito a
sugestibilidade e influência externa enquanto o 2º não tem nada disso, é irredutível e o
doente tem convicção plena da sua veracidade.
Alterações do pensamento
Curso Forma Posse Conteúdo
Ritmo Continuidade Pensamento Ideias Ideias sobrevalorizadas
concreto obsessivas
Taquipsiquismo Bloqueio de Pensamento Alienação do Ideias delirantes
pensamento assindético Pensamento
Bradipsiquismo Perseveração Sobreinclusão - Imposição Delírio Dellírio niilista
de ideias do persecutório
pensamento
Fuga de ideias Perseveração Descarrilado - Roubo do Delírio de Delírio de
verbal pensamento autorreferência negação de
órgãos
Circunstanciado Fusão - Difusão do Delírio de Delírio de
pensamento grandeza culpa
Pensamento Suspensão Delírio Delírio de
inibido místico/religioso ruína
Pensamento Delírio Delírio
desagregado hipocondríaco passional
Delírio de Identificação
infestação delirante
Vivência do Eu
Existem várias alterações que podem ocorrer em relação à vivência do Eu,
nomeadamente:
41
➔ Despersonalização
O doente não se sente ele próprio, sente-se estranho em relação a ele e ao que o
rodeia.
“Não me sinto como dantes, sinto que não sou eu que estou aqui”.
42
➔ Transitivismo: vai ser o oposto da apropriação, o doente vai projetar no exterior
o que se passa nele (doente grita e diz que foi o mundo exterior que gritou);
➔ Estado extático: doente sente-se em união com o universo.
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ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS DO HUMOR
➔ Alterações hipertímicas
44
QUAL O DIAGNÓSTICO?
Episódio maníaco
➔ Alterações hipotímicas
45
Podemos ter ideias delirantes de culpa, ruína, niilista e hipocondríaco.
Nos casos mais graves, o humor depressivo pode-se fazer acompanhar de ideação
suicida e de sintomas psicóticos catatímicos.
Alterações quantitativas do humor
Hipertímicas Hipotímicas
Alegria Tristeza
Euforia Humor depressivo
Expansão
Exaltação
Êxtase
QUAL O DIAGNÓSTICO?
Episódio depressivo major
46
ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DO HUMOR
Humo irritável: pessoa com baixa tolerância, que se torna agressiva e hostil. Muito
reativo.
Num episódio de humor podemos ter presença simultânea de mais de uma alteração
do humor, ou seja, podemos ter um humor eufórico e irritável.
Alterações do humor
Quantitativas Qualitativa
Hipertímicas Hipotímicas Humor disfórico
Euforia Tristeza Humor irritável
Expansão Humor depressivo
Exaltação
Êxtase
Alteração Significado
Anedonia Incapacidade de experienciar prazer, principalmente nas atividades que antes eram
prazerosas para o doente. Típico da depressão.
Anestesia Incapacidade de experienciar prazer ou qualquer outro tipo de sentimentos. “Não consigo
afetiva sentir nada”. Caraterístico da depressão e do estado de choque emocional.
Dissociação Há uma dissociação entre a severidade da situação e a expressão por parte da pessoa, ou
afetiva seja, este não consegue expressar os sentimentos que seriam expectáveis para aquela
situação.
Embotamento Há uma redução da expressão de emoção. Presente na esquizofrenia. Diferente da anestesia
afetivo afetiva porque na anestesia a pessoa não sente e aqui a pessoa não expressa.
Labilidade Mudança rápida e súbita no estado emocional, normalmente sem contextualização externa
emocional ou justificação. (Instabilidade emocional). Independente de fatores externos. Ocorre na PAB.
Ambivalência Sentimentos positivos e negativos sobre o mesmo objeto. “Adoro o meu avô, é a coisa mais
afetiva querida que tenho. Mas às vezes detesto-o e apetece-me matá-lo”.
47
Incontinência Incapacidade de controlar a expressão afetiva, de a dominar, pelo que há exteriorização desta
afetiva de forma autónoma.
Rigidez afetiva Perda na capacidade de modulação dos afetos.
Apatia Perda de interesse.
Paratimia Incongruência entre o episódio e a expressão emocional. “Doente fala da morte de um familiar
enquanto se ri disto”. É diferente da dissociação afetiva porque aí há uma ausência de
resposta numa situação que era expectável isso acontecer.
Neotimia Experimentação de um estado emocional completamente novo.
Puerilidade Alteração do humor com aspetos infantis. Ri e chora por motivos banais.
Moria Forma de alegria muito pueril, ingénua, sem noção da realidade.
Desmoralização Consciência de ser incapaz de corresponder a um problema ou ficar para lá das expectativas.
Ansiedade
Pela dificuldade de definição deste tema, é feito em separado.
- FCC -
48
FOBIA
CRISE DE PÂNICO
Vontade e impulsividade
Em relação à vontade, podemos ter alterações quantitativas e qualitativas.
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ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DA VONTADE
➔ Indecisão: quando temos 2 vontades opostas e o doente não opta por nenhuma
delas;
➔ Sugestibilidade: supressão mais ou menos completa da liberdade volitiva;
➔ Obediência automática: o doente acarreta simplesmente uma ordem;
➔ Ataxia volitiva: o doente acaba por executar um ato diferente do que queria.
Os atos impulsivos são definidos como ações realizadas de forma súbita sem
aferição das suas possíveis consequências, sem deliberação prévia.
- Dromomania: impulso em que o doente deixa a sua rotina habitual e viaja longas
distâncias, assumindo diferentes identidades e ocupações.
50
Alterações da vontade e impulso
Alterações da vontade Altearações do impulso
Quantitativas Qualitativas Impulso agressivo- Dipsomania
destrutivo
Hiperbulia Indecisão Frangofilia Ingestão alimentar
compulsiva
Hipobulia Sugestibilidade Automutilação Cleptomania
Abolia Obediência automática Piromania Compras compulsivas
Ataxia volitiva Tricotilomania Comportamentos sexuais
compulsivos
Motricidade
Dividimos em 4 categorias:
ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS
51
- Diminuição dos movimentos expressivos: principalmente por
uma hipoatividade da face com mímica facial praticamente ausente,
podendo encontrar o sinal de Veraguth e o sinal do Omega (prega
que se forma nas pálpebras superiores, de cima para trás e prega
com forma de ómega sobre o sulco nasociliar, respetivamente).
- LIBE -
ALTERAÇÕES QUALITATIVAS
➔ Paracinésias
Dentro deste temos 2 conceitos diferentes: maneirismos e estereotipias.
Tiques são semelhantes a estereotipias mas os tiques é que não têm mesmo
finalidade nenhuma, enquanto as estereotipias podem ter algum grau de intenção na
sua realização.
52
Alteração dos movimentos voluntários
Quantitativos Qualitativas
Hiperatividade Hipoatividade Paracinésias
Aumento dos movimentos Diminuição dos movimentos expressivos - Maneirismos
expressivos - Sinal de Veraguth
- Sinal de Omega
Aumento dos movimentos Diminuição dos movimentos direccionados - Estereotipias
direccionados - Lentificação psicomotora
- Inquietação motora - Inibição psicomotora
- Agitação psicomotora - Bloqueio psicomotor
- Esturpor
Obediência automática, onde o doente realiza uma ação sem qualquer tipo de
avaliação prévia;
Ecopraxia, o doente imita ações simples que visualiza (como estalar os dedos);
Ecolalia: o doente repete em eco parte ou a totalidade do que lhe foi dito;
Perseveração: o doente vai repetir uma ação depois desta ter sido concluída. (Peço
ao doente para colocar a língua de fora e ele coloca. Depois peço para abrir os olhos e
este volta a colocar a língua para fora).
Ambitendência: o doente vai realizar uma ação com finalidade (dar um aperto de
mão) mas tem uma interrupção deste movimento, ficando a realizá-lo repetidamente até
executar a função que tinha pensado.
53
Distonia aguda: espasmos musculares, temporários ou permanentes, que fazem
com que o doente assuma uma posição fora do normal;
Alterações da motricidade
Ambitendência
- Sono
➔ Alterações do sono
DISSÓNIAS
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São alterações em relação à quantidade, qualidade ou horário do sono.
- Hipersónia, o doente dorme mais horas que o habitual e pode-se sentir com sono
durante o dia;
PARASSÓNIAS
- Pesadelos: sonhos com carga afetiva negativa, normalmente ocorrem na fase REM
do sono;
- Terrores noturnos: o doente acorda várias vezes durante a noite com sensação de
medo e ativação simpática, sendo frequente em crianças. Acontecem no sono não-
REM;
55
- Ingestão alimentar compulsiva, ingestão alimentar em grande quantidade e
reduzido tempo, podendo estar associado a bulimia nervosa se for uma situação prévia
a um fenómeno purgativo (vómito, laxantes).
- Aumento da libido
- Diminuição da libido
Alterações do insight
É um espectro em que definimos 3 critérios principais:
56
.
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58
59
60
61
2. Intervenção biológica – Psicofarmacologia
Em neurofarmacologia nem sempre se verifica uma relação linear entre o mecanismo
de acção de um fármaco e o efeito obtido no doente.
Em Portugal:
62
Temos de saber organizar um esquema terapêutico para as situações mais comuns:
1) Crise de pânico;
2) Perturbação de ansiedade generalizada;
3) Perturbação depressiva;
4) Agitação psicomotora no quadro de Esquizofrenia.
Ex: se um doente teve um episódio depressivo major tratado com um SSRI (como
Fluoxetina) então deverá começar pela aplicação desse mesmo fármaco num novo
episódio do doente.
Exemplo: Numa Perturbação de Ansiedade (episódio agudo), pode ser utilizado uma
BZD como ansiolítico mas, a médio/longo prazo, pelo risco de dependência e síndrome
de abstinência deverá ser preferida outra classe como inibidores seletivos da recaptação
de serotonina.
Em termos de dose, devemos começar com doses baixas e ir subindo até atingir um
valor terapêutico desejado.
1) Benzodiazepinas (não devem ser utilizadas mais do que 3 meses pelo risco de
dependência);
2) Anti-psicóticos.
63
Na maior parte das vezes os tratamentos são bastante prolongados no tempo
(cuidado com as BZD que se devem utilizar, no máximo, durante 3 meses!).
Farmacocinética
Esta divide-se em: Absorção, Distribuição, Metabolização, Excreção (ADME).
1) Absorção
Principalmente oral, sendo que os fármacos são, na sua grande maioria, lipofílicos,
ou seja, com grande facilidade de transporte para dentro das células e tecidos.
O tempo de semivida (t1/2) varia muito de fármaco para fármaco, onde podemos ter
BZD de curta ação (Diazepam, Lorazepam) ou anti-psicóticos de longa acção (que
duram até semanas, como os antipsicóticos de longa duração que se administram com
injeção IM).
2) Distribuição
Como são fármacos lipofílicos vão passar rapidamente para os tecidos e células, pelo
que a sua concentração no sangue é baixa. Assim, para atingir a concentração do
fármaco no sangue, precisamos de muita água para “diluir” o pouco fármaco existente
em corrente sanguínea, pelo que o Volume de distribuição (VD) é grande.
3) Metabolismo
4) Eliminação
1) Carbonato de Lítio;
2) Carbamazepina;
3) Valproato de sódio.
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1) Antipsicóticos
Estes fármacos, chamados também de neurolépticos, têm um grande poder
sedativo. Os antipsicóticos de 2ª geração podem ter um efeito de estabilização de
humor.
Principais utilizações
Esquizofrenia Profilaxia da recorrência de PAB
Esquizofrenia (manutenção) Depressão Bipolar
P. Esquizoafetiva Mania
Mecanismo de ação:
Efeitos adversos:
Anti- Anti-
Bloqueio de D2 Anticolinérgicos
adrenérgicos histamínico
Via nigro-estriada Via túbero- Via Hipotensão Obstipação Aumento do
infundibular mesolímbica ortostática peso
Acatisia Hiperprolactinémia Melhora Inibição da Xerostomia Sedação
sintomas ejaculação
psicóticos
Discinésia Xeroftalmia
(oro-mandibulares)
Retenção urinária
Glaucoma
- Impregnação de anti-psicóticos nos tecidos → síndrome parkinsónica;
ATENÇÃO: Síndrome Maligno dos Neurolépticos é definido por Febre, Sintomas extra-
piramidais e desequilíbrio vegetativo → urgência na alteração da medicação. A
Clozapina pode dar agranulocitose, o que obriga a uma vigilância semanal nas primeiras
18 semanas, depois quinzenal e, após um ano, passa a ser mensal.
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Antipsicóticos de longa duração: (RAFPH)
- Risperidona;
- Aripiprazol;
- Flupentixol;
- Paliperidona;
- Haloperidol.
- PA > 130/85mmHg;
2) Antidepressivos
Estes são fármacos com grande aplicabilidade:
66
São fármacos já utilizados há muito tempo, pelo que se conhece bem o perfil de
segurança e os efeitos adversos a longo prazo, são fármacos seguros.
1) Fluoxetina → Depressão;
2) Sertralina → POC;
3) Clomipramina → POC.
INIBIDORES DA MAO
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Inibidores da MAO
Não seletivos MAO-A MAO-B
Fenelzina Reversível Irreversível Irreversíveis
Moclobemida Iproclozide Selegilina
Rasagilina
3) Estabilizadores de humor
Podemos falar de vários fármacos:
- Carbonato de Lítio
• É o mais utilizado;
• Vai diminuir o AMPcíclico;
• Vai ser filtrado e reabsorvido ao nível do rim (cuidado com os níveis de
Na+);
• Os níveis séricos devem variar entre 0,7 a 1,2 mmol/L → janela
terapêutica estreita
68
• Efeitos adversos: sede, , diabetes insipidus (grande poliúria), tremor
(níveis plasmáticos superiores), anorexia, náuseas e vómitos.
• Pode haver necessidade de diálise em situações de intoxicação.
- Carbamazepina
- Lamotrigina
- Valproato de sódio
- Antipsicóticos de 2ª geração
4) Ansiolíticos e Hipnoindutores
As Benzodiazepinas são os fármacos para melhor tratar a ansiedade e insónia
enquanto sintoma, ou seja, apenas em fase aguda!
1) Potência do fármaco;
2) Semivida do fármaco.
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As Benzodiazepinas têm uma biotransformação hepática, onde são convertidas a
um metabolito ativo, o oxazepam. Este é conjugado numa substância hidrossolúvel de
forma a ser excretado pela urina. (! Lorazepam ! → não tem metabolito ativo).
Não devemos utilizar a BZD de forma isolada nas situações de: (PDA)
Xanax → Aprazolam
Vallium → Diazepam.
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5) Psicoestimulantes
Cafeína, Cocaína, Anfetaminas.
6) Tratamentos físicos
71
3. Intervenção psicossocial
A Psicoterapia tem por base a modificação de um sintoma físico de origem mental,
ou seja, consegue atuar numa causa mental e, desta forma, diminuir os sintomas físicos
que dela dependem.
Definição de Psicoterapia
Consiste no estabelecimento de uma relação interpessoal que tenha como
objetivo alterar comportamentos, pensamentos, sentimentos e atitudes (CPSA)
disfuncionais na pessoa que procura ajuda.
Existem mais de 400 psicoterapias e estas podem ser tanto focadas no passado
como no presente.
72
Um psicoterapeuta consegue fazer uma avaliação externa da nossa pessoa que,
para nós, é muito difícil. É a base da psicoterapia, termos alguém que não nós a pensar
sobre nós próprios, sobre os nossos comportamentos, pensamentos, sentimentos e
atitudes.
Empatia
Definida por Carl Rogers, é uma capacidade difícil mas fulcral para o
psicoterapeuta. Prende-se com a colocação do próprio sobre os problemas do doente,
assimilar a sua dor, perceber não só o problema que este tem, o sofrimento que o
problema lhe causa e, consequentemente, as repercussões que tem para a sua vida (em
termos funcionais).
Quanto maior for a empatia que temos com o doente, maior será a confiança e,
desta forma, melhor a aliança terapêutica com ele.
Por vezes é difícil criar empatia com alguém mais velho ou de quem não
gostamos em particular → podemos sempre pensar nele quando era mais novo.
1) Empatia;
2) Aceitação incondicional (aceitar tudo o que o doente pensa, diz, sente ou faz,
independentemente do nosso juízo de valor pessoal sobre isso mesmo);
3) Congruência (entre a linguagem verbal e não verbal, sendo que a linguagem
verbal corresponde a 2/3 daquilo que queremos transmitir);
4) Não diretividade (não devemos dar diretrizes sobre o que o doente deve ou não
fazer mas poderemos dar conselhos ou orientações, serão sempre apenas
sugestões).
73
Fatores da Psicoterapia
Estes podem ser gerais ou específicos:
- Impulsividade
- Baixa impulsividade
- Introspeção
74
As psicoterapias possuem e beneficiam de efeito placebo! Este efeito é
semelhante ao efeito dos fatores comuns das psicoterapias.
Tipos de Psicoterapia
Existem > 400 tipos de psicoterapia mas aqui destacam-se os mais utilizados na
rotina psiquiátrica:
- Counselling
75
- Psicoterapia de suporte
2. Psicoterapia psicodinâmica
Está muito dependente da relação criada entre o doente e o psicoterapeuta. Atua
nos problemas do passado, ou seja, situações nas quais o doente foi violado, raptado,
isolado, vítima de bullying, relações interpessoais que não correram bem…
Duração:
Psicoterapia vai tentar quebrar os mecanismos de defesa do doente, nos quais este
tenta afastar o tópico “tabu” ou atribuir as culpas a pessoas externas ao mesmo.
1) Transferência: falsa união entre uma situação passada e uma situação atual. O
doente tece sentimentos em relação ao terapeuta;
2) Contratransferência: resposta à transferência feita pelo doente, o médico tece
sentimentos em relação ao doente.
Exemplo: Doente tem medo se sentir abandonado e refere isto ao terapeuta “tenho
medo de que me abandone quando for de férias. (transferência). Nisto o doente falta na
última consulta porque não quer sentir abandonado (contra-transferência).
CONTRA-INDICAÇÕES:
- Psicose;
- Depressão grave;
- POC.
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3. Psicoterapia cognitivo-comportamental
Como o próprio nome indica, o objetivo é alterar:
Há uma auto-monitorização por parte do doente (“já penso menos isto ou já faço
menos isto”).
INDICAÇÕES: (PPBPP)
- Perturbação de Ansiedade;
- Perturbação Depressiva;
- Bulimia;
- Psicose;
- Perturbação de personalidade.
4. Psicoterapia interpessoal
É útil em situações de perturbações depressivas.
- Luto;
- Disputa;
4 áreas possíveis de início de depressão
- Transição de papel;
- Diminuição interpessoal.
77
5. Psicoterapia de casal/familiar
Tenta perceber se é o indivíduo que está doente de forma individual (ou seja, se o
problema do casal ou família surge na consequência do doente) ou se o doente saudável
está inserido num contexto de casal/familiar problemático que tem repercussões neste.
6. Psicoterapia de grupo
O objetivo aqui é o indivíduo beneficiar da interação de grupo, ou seja, há uma
marcação por parte do coordenador de grupo, cada indivíduo expõe a título pessoal a
sua experiência, sentimentos, emoções e evolução e o indivíduo beneficia das partilhas
dos outros como forma de se sentir integrado, de pensar “ele melhorou, eu vou
melhorar” ou perceber que há pessoas em posições piores do que a dele.
Por vezes é difícil evitar a diretividade mas, nas terapias de grupo, estas até podem
ser benéficas e funcionarem como uma plataforma para o grupo evoluir.
Pode haver uma dissonância entre a autoestima (o que a pessoa acha que é) e o que
o grupo acha que a pessoa é.
78
As Psicoterapias apresentam melhorias:
79
4. Perturbações esquizofrénicas e psicóticas
Conrad descreveu a esquizofrenia como contendo 4 fases:
Perturbação Delirante
É definida como:
1) Presença de uma ou mais ideias delirantes do tipo não bizarro (ou seja, ideia que
não tem alteração do controlo da mente ou do corpo, uma coisa que,
efetivamente, pudesse acontecer);
2) Ideia delirante persistente (segundo o DSM-V deverá ser > 1 mês, enquanto no
ICD-10 > 3 meses);
3) Sem consumo de substância psicoativa ou quadro orgânico que possa justificar
isto.
A ideia bizarra é uma ideia que sai parte do imaginário, não se enquadra na
realidade social e cultural comum. Nomeadamente, se eu tiver uma ideia delirante em
que tenho unicórnios no jardim nos dias em que chove porque vêm dentro das gotas da
chuva é completamente absurdo porque não existem unicórnios. No entanto, se eu tiver
uma ideia delirante em como tenho cavalos no jardim todas as noites não é assim tão
bizarro quanto isso porque, efetivamente, poderia ser real.
80
Epidemiologia
Critérios Diagnósticos
81
Devemos sempre especificar o subtipo de Perturbação Delirante em função do
delírio existente (se é que existe).
Ideias delirantes
Ideia de que alguém nos está a seguir e que estamos a ser vigiados, controlados,
ameaçados e que nos poderão querer fazer mal.
“Estou em casa e sinto que podem estar a ver-me pela janela para me matar”.
2) Delírio de autorreferência
Ideia de que tudo no mundo gira à volta dessa pessoa, coisas sem relação com a
mesma são direccionados para ele.
3) Delírio de grandeza
82
4) Delírio místico/religioso
O doente julga ter algum tipo de poder/dom imaginário ou, por outro lado, uma
conexão religiosa e espiritual. Pode, efetivamente, considerar ser o “Messias redentor”
– Delírio messiânico.
5) Delírio somático/hipocondríaco
6) Delírio de infestação
O indivíduo considera que tudo à sua volta está infestado e que poderá ser alvo
disso mesmo. Preocupação excessiva com germes e infecções e “bichos” que podem
estar a colonizar o seu organismo.
7) Delírio niilista
O indivíduo julga que está morto, que não existe e que tudo à sua volta se está a
destruir. Nega a sua existência e a da realidade.
O indivíduo nega a existência de determinado órgão, que não tem órgãos ou que
as veias estão secas.
83
9) Delírio de culpa
O indivíduo acredita que tem culpa irredutível nalguma acção que realizou e que,
por isso, deverá ser punido.
O indivíduo considera que o seu mundo está uma desgraça, que não tem
ninguém que goste dele, ninguém com quem viver, que não tem dinheiro para alimentar
a sua família.
“A minha vida está uma miséria, nem dinheiro tenho para alimentar a minha
família”.
- Erotomania: sensação de que alguém (normalmente entidade famosa) irá deixar tudo
para se juntar com aquela pessoa.
“O Brad Pitt vai largar a mulher para vir casar comigo, vem de avião na 2ª feira”.
“Eu sei que o padeiro da minha rua é o meu tio que está disfarçado de padeiro”.
“Esta pessoa não é o meu irmão. É muito parecido mas é um sósia, alguém a passar-se
de meu irmão”.
84
- Síndrome de intermetamorfose
Repercussões funcionais
Personalidade Prévia
- Irritabilidade;
- Risco de Homicídio;
- Agressividade;
- Querelância.
Diagnóstico Diferencial
1) Esquizofrenia;
2) Psicose induzida por drogas/substâncias;
3) Perturbação Obsessivo-Compulsiva;
4) Perturbação de Humor;
5) Perturbação Somatoforme.
85
Esquizofrenia
Pela heterogeneidade de aspetos genéticos e fenotípicos, a esquizofrenia acaba
por se tratar de uma síndrome e não de uma doença propriamente dita.
• Philippe Pinel → médico frânces que, no século XVIII, atribuiu uma componente
mais humanística à Psiquiatria – “Pai da Psiquiatria”, de tal forma que começou
a ver os doentes como pessoas e não apenas como doentes. Começou a escrever
um vocabulário psicopatológico.
• Bleuler (Blóiler)→ médico suíço → introduziu o conceito de Esquizofrenia como
“Mente cindida”, ou seja, “mente dividida/separada/fragmentada”.
A esquizofrenia era uma patologia tão grande antigamente que foi uma das 3
forças epidemiológicas que moveu a formação de hospitais (por isso foram a Lepra,
a Tuberculose e a Esquizofrenia).
Critérios Diagnósticos
86
Epidemiologia
Etiopatologia
➔ Modelo Genético
87
➔ Modelo de neurodesenvolvimento
1) Atrofia cortical;
Sinais extremamente inespecíficos!
2) Dilatação ventricular.
➔ Modelo de neurotransmissão
88
➔ Modelo da inflamação
Sintomas da Esquizofrenia
- Sintomas positivos: algo que o doente não tinha e passou a ter, algo que está
“a mais”;
- Sintomas negativos: algo que o doente tinha e que perdeu, ou seja, que está a
“menos”. Podem ser a primeira alteração que um doente demonstra.
1) Diminuição da atenção/concentração;
2) Dificuldades na memória declarativa e de trabalho;
3) Dificuldades na aprendizagem de novos gestos;
4) Deterioração das capacidades intelectuais.
89
jovens. É de notar que, muitas vezes na esquizofrenia há alteração do padrão de sono,
tal como acontece com as demências.
Subtipos
1) Está num primeiro surto psicótico (fase ativa, remissão parcial ou remissão total);
2) Está inserido no contexto de múltiplos episódios (em fase ativa, remissão parcial
ou remissão total).
3) Contínuo.
Diagnóstico diferencial
Por outro lado, a diferença diagnóstica pode estar na existência ou não de episódios
de humor e na preponderância destes para o quadro clínico:
90
haja, concomitantemente, sintomas de humor. No entanto, no quadro geral há
um predomínio dos sintomas de humor e não dos sintomas psicóticos.
Terapêutica
Cloropromazina: a primeira vez que foi utilizada foi como um anti-emético numa
cirurgia, só depois é que foi utilizada em contexto psiquiátrico.
91
O problema da utilização de anti-psicóticos (de 1ª geração) é que, por ser pouco
seletivo, vão cortar a Dopamina nas 4 vias dopaminérgicas principais, o que vai:
92
Nota que há algumas situações como esquizofrenias refratárias em que alguns
opióides (como a heroína e a metadona) poderão ser utilizados pela sua função anti-
psicótica (nomeadamente a metadona).
Existem vários anti-psicóticos de longa ação que vão tentar manter uma
[plasmática] de antipsicótico minimalmente estável, de forma a:
1) Permitir a medicação do doente quando este tem pouco insight e o risco de não
cumprir a medicação é alto;
2) Impedir a recaída dos sintomas quando uma não adesão à terapêutica.
Evolução
93
Perturbação Delirante vs Esquizofrenia
Perturbação Delirante Esquizofrenia
Idade e sexo Entre os 35 e 45 anos, mulheres Entre os 15 e 25 anos (homens) e
entre 25 e 30 anos (mulheres)
Personalidade prévia Paranóide Esquizóide
Evolução Tipo desenvolvimento (doente vai Tipo processo (há um aparecimento
agravado gradualmente os sintomas) tipo surto, incompreensível).
Deterioração do eu Pouco notório Muito notório
Sistematização do delírio Muito sistematizado Pouco sistematizado
Tema do delírio Passional, persecutório, grandeza Persecutório, auto-referência
Prevalência Pouco frequente Muito frequente
94
5. Perturbações Bipolares
Em psiquiatria, a Perturbação Afetiva Bipolar pertence às Psicoses funcionais.
Separa-se da perturbação depressiva unipolar ou depressão major, bem como de
Psicoses (como a Esquizofrenia).
1) Pólo depressivo;
2) Pólo maníaco.
Episódios Maníacos
1) Elação do humor;
2) Aumento da energia;
3) Disfunção da atividade laboral/funcional do indivíduo;
4) Ausência de consumo de substâncias ou patologias orgânicas.
95
Nota que é preciso a manutenção do quadro pelo menos durante 1 semana,
enquanto no episódio depressivo major são 2 semanas.
➔ Elação do humor
Tem uma elação do humor (humor para cima), não se adequando às circunstâncias
do indivíduo.
➔ Aumento da energia
O indivíduo sente que tem mais energia e tem menor necessidade de dormir (este
tópico é muito importante!). Dorme menos horas e sente-se bem (2/3h chegam para se
sentir com energia, nega cansaço).
96
(Nota: Um fenómeno é uma experiência que não acontece nos indivíduos
normais, enquanto um sintoma tem um indíce pra um diagnóstico.)
→ Discurso e pensamento
97
→ Percepção
➔ Insight
• Doente vive de acordo com o que acredita, não tem insight da sua doença, muitas
vezes mesmo após vários anos de tratamento continuam sem ter insight.
DSM V - considera que um episódio maníaco pode ser induzido por anti-depressivos
se se mantiver para lá do tratamento.
Episódios Hipomaníacos
Os episódios hipomaníacos podem anteceder os episódios maníacos ou
simplesmente ter menor “intensidade” que os episódios maníacos. Nota que podemos
ter episódios hipomaníacos que nunca cheguem a desenvolver para episódios maníacos
e fiquem por isso mesmo, hipomaníacos.
1) Episódio maníaco: o episódio tem repercussões tão grandes no doente que este
não consegue ser “funcional” na sociedade, há deterioração da capacidade
cognitiva e de concentração do mesmo;
2) Episódio hipomaníaco: o episódio tem repercussões muito menores no doente,
este consegue manter-se funcional na sociedade onde está integrado, manter
um emprego e uma família etc.
• Bright side – aumento da sociabilidade, consigo fazer mais coisas, mais energia,
menos necessidade de dormir;
• Dark side – distrabilidade, incapacidade de realizar planos e tarefas necessários,
planos não existenciais.
Nota: Na hipomania não existem sintomas psicóticos, estes só existem nas manias!
98
Episódios depressivos
Os episódios depressivos que ocorrem na Perturbação Afetiva Bipolar
classificam-se exatamente da mesma forma da depressão numa depressão major.
Podem ter paralisia tipo chumbo (sentir grande peso nas pernas/braços).
99
Estado misto
É um período dentro de uma doença, no qual co-existem sintomas depressivos
e sintomas maníacos.
Sintomas catatónicos
Antes associavam-se apenas à Esquizofrenia, agora podem-se associar a:
100
Perturbação Bipolar de Ciclos Rápidos
A transição entre episódios maníacos e depressivos varia de forma muito rápida
(entre horas a dias), com um ritmo + rápido do que o normal.
É difícil de tratar mas trata-se primeiro a mania! A mania pode agir sobre a sua
tristeza, pelo que tratamos a sua mania em primeiro lugar para ele não se matar. Depois
quando estiver em sintoma depressivo logo tratamos a depressão.
2º Trata-se a depressão.
Quem tem PAB II não evolui para PAB I no sentido em que são doenças
diferentes com cargas genéticas diferentes.
Epidemiologia
101
Doença psiquiátrica grave acontece entre os 20 e os 30 anos.
Quanto mais cedo, pior e se começar com um episódio depressivo pior ainda.
Quanto mais tempo temos a doença não tratada, pior. Causa bastante burden
nos doentes, principalmente nos jovens.
Na PAB II os doentes têm uma ciclação rápida (≥4 episódios por ano) e os
doentes podem ter episódios depressivos major recorrentes que duram mais tempo.
Teoricamente estes doentes têm risco de suicídio aumentado.
Comorbilidades associadas
Podem ser médicas ou psiquiátricas:
Suicídio
Doença bipolar tem a maior percentagem de suicídio nas doenças afetivas (20x
maior que a restante população em geral).
102
Fisiopatologia
Há uma tríade de fatores:
Fatores ambientais:
- Fármacos;
- Doenças médicas;
103
Assim, os anti-depressivos são um trigger para a doença bipolar porque
achávamos que tínhamos um doente unipolar depressivo, ao tomar o anti-depressivo
vai originar um episódio hipomaníaco que, sem o anti-depressivo, não ocorreria. Os
corticoides também!
Outras hipóteses…
104
Diagnóstico diferencial
Tratamento
O tratamento é muito complexo, pelo que vamos dividir em:
1) Farmacoterapia
➔ Episódio maníaco
➔ Episódio depressivo
➔ Manutenção
2) Outras terapias
1) Farmacoterapia
Nesta fase o que queremos é acalmar os doentes, pelo que normalmente se pode
utilizar um estabilizador de humor e/ou um anti-psicótico de 2ª geração (pelo efeito
sinérgico).
- Carbonato de lítio;
- Carbamazepina;
- Valproato de sódio.
105
Nota que a Carbamazepina é um fármaco indutor do CYP450 hepático, o que
nos diz que algum fármaco que seja metabolizado por este complexo terá a sua
metabolização acelerada → é o caso de alguns anti-psicóticos (Olanzapina), pelo que
teremos de dar uma dose maior do que a desejada inicialmente.
1º estabilizador de humor
- Quetiapina + Divalproato.
Muitas vezes temos de pensar se o anti-psicótico que vamos utilizar tem efeito
sedativo suficiente ou se será necessário adicionar uma BZD para que o doente possa
dormir, como é o caso do Aripiprazol.
106
Temos de ter cuidado porque um estabilizador de humor + anti psicótico pode
levar a um ganho ponderal! O ganho ponderal precoce não prediz o ganho ponderal a
longo prazo.
Podemos utilizar:
- Carbonato de Lítio;
- Lamotrigina;
107
2. Outros tratamentos
108
Podem ter ideias delirantes, sobrevalorizadas, obsessivas.
Ideia delirante pode ser do ponto de vista objetivo, cultural ou individual. Objetivo
se o doente atirou um livro pela parede (não obedece às leis da física), culturalmente (se
o doente apareceu nú na aula e acha que é razoável estar assim). Individual é o que dá
o caráter delirante. A ideia delirante é o facto de termos uma associação ilógica entre 2
assuntos, como “a minha mulher está-me a trair porque deixou as molas azuis viradas
para cima).
“Algo demonstrativa” → doente sofre menos do que o que está a mostrar que
sofre.
109
Isolamento social vs Pouco suporte familiar:
Pouco suporte familiar: é querer estar com os outros mas ninguém os quer.
110
6. Perturbações de Ansiedade e PTSD
111
Síndrome ansiosa
SINTOMAS AUTONÓMICOS
Dor
Taquipneia Palpitações Polaquiúria Ansiedade Tremores Tonturas Insónia inicial
abdominal
Sensação do
Aperto coração a Dificuldade de Sono
Meteorismo Amenorreia Mialgias Dispneia
torácico parar de concentração intermitente
bater
Disfunção Hipersensibilida
Disfagia
erétil de ao ruído
Irritabilidade
112
Dentro das Patologias Ansiosas e de Stress/Trauma, destacamos:
1) Ataque de pânico;
2) Perturbação de pânico;
3) Perturbação de Ansiedade Generalizada;
4) Perturbação de Stress Pós-Traumático.
Ataque de Pânico
Sensação de intenso medo e desconforto, com uma instalação súbita e
imprevisível, que atinge o pico em minutos mas resolve-se em menos de 1h, no qual
predominam sintomas somáticos como palpitações, sudorese, tremor, dispneia, pré-
cordialgia, náuseas e vómitos.
113
Em que contextos pode surgir o ataque de pânico?
114
Perturbação de pânico
A perturbação é caraterizada pela ocorrência de vários episódios de ataques de
pânico inesperados, ou seja, uma pessoa que tem ataques de pânico de forma
recorrente. É uma situação muito aguda.
Diagnóstico Diferencial
➔ Agorafobia: medo de ser colocado numa situação da qual não consiga sair
facilmente ou ter ajuda caso necessário, como andar de transportes públicos,
estar no meio de uma fila/multidão, num espaço aberto, numa loja fechada ou
ficar fora de casa sozinho.
1) Exame Objetivo;
2) Análises Laboratoriais (hemograma com plaquetas, ionograma, cálcio, glicémia,
função hepática, função tiroideia, função renal, urina tipo II;
3) ECD (ECG);
4) Procura de toxicofílicos.
115
Nota que à investigação profunda de exames complementares para o diagnóstico
de Perturbação do pânico pode, efetivamente, fazer alguma sensação de reforço desta
patologia. Ainda assim, é importante perceber e despistar outras patologias
potencialmente graves.
Epidemiologia
Etiologia
116
Tratamento:
➔ Farmacológico
➔ Não-Farmacológico
1) Psicoterapia cognitivo-comportamental.
Prognóstico
117
Perturbação de ansiedade generalizada
É uma perturbação sub-aguda, enquanto a perturbação de pânico é uma
perturbação muito aguda.
A pessoa tem que ter dificuldade a controlar a sua preocupação, têm de causar
sofrimento e ter repercussões funcionais.
Diagnóstico diferencial
118
Epidemiologia:
Etiologia
As pessoas com PAG vão utilizar a ansiedade como forma de um coping (+), ou
seja, não descansam até conseguirem pensar em todas as alternativas para um
determinado problema ou todos os imprevistos que podem ocorrer numa situação.
Comorbilidades
Terapêutica
➔ Situações Leves
- Relação Médico-Doente benéfica;
- Auto-ajuda;
- Psicoeducação.
➔ Situações Moderadas/Graves
- Farmacoterapia:
1) Curta duração:
-Benzodiazepinas
- Buspirona (menos efeito que a BZD mas menor dependência);
2) Longa duração:
- Inibidores da recaptação de serotonina (fluoxetina, sertralina);
- Inibidores da recaptação de serotonina/NE (Venlafaxina);
- Agonista GABAérgico (Pregabalina);
- Psicoterapia cognitivo-comportamental;
119
Prognóstico
1) Evitar recordações;
2) Hiper reactividade autonómica;
3) Voltar a experienciar aspetos do evento stressor.
Sintomas do doente
Diagnóstico diferencial
120
121
Epidemiologia
1) Assaltos
2) Catástrofes naturais (inundações e tremores de terra;
3) Calamidades provocadas pelos homens (incêndios e acidentes de transportes)
4) Guerra
5) Violações
O quadro clínico pode acontecer pela pessoa ser o agente principal (quem vivencia)
os eventos stressores ou por ser testemunha dos mesmos. Além disso pode ser pelos
acontecimentos terem ocorrido a familiares próximos.
122
Etiologia
Fatores Genéticos → nem todas as pessoas mais próximas do evento stressor são as
que têm patologia mais exacerbada, tem de haver uma vulnerabilidade pessoal;
Comorbidades
1) Depressão
2) Perturbações de ansiedade
3) Uso de álcool ou outras substâncias
Prevenção
Estas intervenções devem ser feitas apenas com as pessoas desejadas e não com
toda a gente que quer.
Tratamento
1) Psicoterapia cognitivo-comportamental;
2) Psicoterapia de exposição narrativa;
3) Dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares;
4) Fármacos: inibidores da recaptação de serotonina ou inibidores da recaptação
de serotonina e NE.
Muitas vezes temos de estar atentos para a possível existência de uma perturbação
depressiva ou de uso de álcool/substâncias e tratar este problema também.
Prognóstico
123
Perturbação de Ansiedade Perturbação de Stress Pós-
Perturbação de Pânico
Generalizada Traumático
Descrição dos Presença de ataques de pânico Apreensão expectante durante Presença de um evento stressor na
critérios recorrentes onde, durante >1 >1/2 dos dias em >6 meses, vida da pessoa que é revivido de
mês, o doente tem receio de ter havendo sintomas somáticos forma persistente, prolongada e, por
novos ataques de pânico e dos de ansiedade. A ansiedade é vezes, retardada, estando associada
efeitos que este pode ter ou difícil de controlar e surge com a evitamento, hiperreatividade
altera a sua vida em função repercussões na vida da autonómica e revivência do
disso. pessoa. episódio.
Epidemiologia - 2,7% de toda a população - 4,4% de toda a população - 8% de toda a população
- 2 mulheres : 1 homem - 2 mulheres : 1 homem - 11 homens : 5 mulheres
Etiologia - Genética (5x mais risco de um - Genética (personalidade); - Genética (diferente doença para a
familiar ter); - Ambiental (problemas na mesma exposição);
- Resposta autonómica infância). - Eixo hipotálamo-hipófise-
exacerbada; suprarrenal;
- Aprendizagem social; - Eixo do medo/fuga
- Eixo do medo/fuga.
Diagnóstico - Agorafobia; - Outras perturbações - Exacerbação de perturbação de
Diferencial - Perturbação de Ansiedade ansiosas; ansiedade ou humor;
fóbica; - Perturbação Depressiva; - Perturbação aguda de stress;
- Perturbação de Ansiedade - Esquizofrenia; - Perturbação de ajustamento;
Generalizada; - Demência; - Perturbação de humor;
- Perturbação Depressiva; - Perturbação induzida por - Perturbação de personalidade.
- Perturbação orgânica aguda. substâncias;
- Perturbação induzida por
situação médica.
Tratamento 1) Farmacológico 1) Leve 1) Prevenção
- SSRI - Relação médico-doente; - Psicoterapia cognitivo
- Inibidor não seletivo da - Auto-ajuda; comportamental focada no trauma
recaptação de serotonina e NE - Psicoeducação. - Psicoterapia de exposição
- BZD 2) Moderada/grave prolongada
- Farmacológico
2) Psicoterapia cognitivo- Agudo: 2) Moderada/Grave
comportamental BZD ou Buspirona; - Psicoterapia cognitivo-
Crónico: comportamental
. SSRI - Psicoterapia de exposição
. Inibidor não seletivo da narrativa
recaptação de serotonina e NE - Dessensibilização e
. Pregabalina reprocessamento pelos movimentos
- Psicoterapia CC oculares
- Tratamento de relaxamento - Farmacológico com SSRI e INSRS
- Aconselhamento não diretivo
Prognóstico 30% com remissão total 25% com remissão total 1/3 com remissão total
30% com remissão pacial 75% com patologia crónica 40% com patologia crónica
50% com recaída até 12 meses
após o fim da medicação
124
Temos o caso de uma doente, Maria, 35 anos, que começou há 15 dias com sintomas
de ansiedade, agitação interior, preocupação, etc. Isto foi no contexto do incêndio de
Pedrógão. Calamidade natural poderá originar uma PTSD?
A doente tem sintomas ansiosos aos 32 anos e ao 34 anos. Nestas situações não foi à
médica. Pouco intensos, durante 1 mês. O dos 32 anos correspondeu a problemas no
trabalho e com o marido, enquanto aos 34 anos está relacionado com a mudança no
trabalho. Uma vez que eram situações normais estes seriam fisiológicos e não
patológicos, a reação é adequada ao estímulo, que é um estímulo externo.
Aos 12 anos também houve um incêndio em casa dos avós que originou sintomas
ansiosos na pessoa.
Temos que tentar definir se será uma situação normal ou uma situação patológica, que
repercussões teve funcionalmente na vida da pessoa.
Nesta situação temos um quadro marcante que, efetivamente, poderá estar na base
disto, uma vez que a doente disse que “sabia que não era a culpada mas, objetivamente,
se o seu carro não tivesse lá a senhora não teria morrido”.
Aos 22 anos teve um episódio de acidente de carro com o marido na noite de núpcias.
Além disso, aos 24 anos sofreu de pré-eclampsia no parto e foi aqui o diagnóstico de
SII. Neste seguimento verifica-se que o diagnóstico de uma patologia física (SII) no
contexto de uma patologia psiquiátrica. Poderão ser consequência uma da outra?
125
7. Perturbações Depressivas
Dentro do quadro das Perturbações Depressivas temos:
Epidemiologia
- 8% das pessoas em Portugal possuem Perturbação Depressiva;
- Apenas 37% das pessoas com episódio depressivo major foram diagnosticadas no 1º
ano do aparecimento dos sintomas, as restantes apresentam um time gap de 4 anos
entre o início dos sintomas e o diagnóstico.
- Os países mais desenvolvidos têm mais depressão e os estratos sociais mais baixos,
dentro de um mesmo país, são a população mais afetada;
1) Doenças CV;
2) Diabetes Mellitus;
3) 15x o risco de suicídio.
126
Etiologia
1. Fatores genéticos
Não existe um único gene, a transmissão é poligénica, sendo que cada gene
individualmente tem pouco efeito. No entanto, existe uma interação entre gene-
ambiente.
2. Modelo biológico
Há 5 propostas:
127
2.1. Deficiência monoaminérgica
Serotonina
Verifica-se que uma depleção oral em triptofano num indivíduo que tinha
depressão e era tratado com SSRI (inibidor seletivo da recaptação de serotonina, como
fluoxetina, sertralina) vai levar a uma recaída dos sintomas depressivos → demonstra
que a serotonina (que é sintetizada com triptofano) tem relevância nos sintomas
depressivos.
Dopamina
Demonstra que a sua ausência leva à depressão e que a sua presença atenua os
sintomas depressivos.
Norepinefrina (NE)
Acontece que nos doentes com depressão estes recetores estão híper-
sensibilizados, pelo que uma pequena porção de NE vai impedir a libertação de NE por
128
parte do neurónio pré-sinático, pelo que se conclui que a diminuição da libertação de NE
é um problema nos doentes com Depressão.
Fenómeno de Kindling:
Numa fase mais avançada da doença → episódio depressivo major não necessita
da ocorrência de um episódio traumático/drástico.
129
2.3. Inflamação
Na depressão temos:
Esta inflamação vai ter repercussões tanto nos macrófagos como na microglia.
130
2.4. Neuroimagem
- Insónia terminal;
3. Modelo psicológico
1) Cognitivo-comportamental
131
2) Interpessoal
3) Psicodinâmica
4) Personalidade
- Impulsividade;
- Neuroticismo;
- Sociotropia.
Fatores de risco
Clínica
Temos 2 sintomas predominantes na Perturbação Depressiva Major:
Nota que a perturbação depressiva pode ter sintomas psicóticos e estes podem ser:
132
1) Congruentes com o humor
a. Ideias delirantes do tipo niilista, de negação de órgão, ruína, culpa,
somático;
b. Alucinações.
2) Incongruentes com o humor
a. Ideias delirantes do tipo persecutório ou de grandeza;
b. Alterações do limite do Eu.
➔ Caraterísticas atípicas
Reatividade do humor
Aumento do apetite/peso
Hipersónia
Leaden paralysis (sensação dos membros pesados)
Sensibilidade à rejeição interpessoal
Critérios de diagnóstico
133
Temos que ter em atenção que, por vezes, o doente não se “queixa” do humor
depressivo, temos de estar atentos aos sintomas somáticos da depressão como:
- Alterações do sono;
- Cefaleias;
- Alterações GI;
- Cansaço/fadiga.
- Idoso: pode ter alterações de memória que, numa fase inicial, se confundem
com uma demência.
Depressõs sazonais
Ocorrem no Outono/Inverno;
134
Estado misto
Temos caraterísticas mistas nos quais se misturam sintomas depressivos com
sintomas hipo/maníacos, como um autoestima elevada, aumento da energia, diminuição
da necessidade de dormir, envolvimento excessivo em atividades, fuga de ideias, humor
expansivo, mais comunicativo.
Episódios
1) Episódio único: ocorreu um único episódio na vida da pessoa – 40%;
2) Episódios recorrentes: ocorreram pelo menos 2 episódios na vida da pessoa –
60%.
3) Crónico:
a. Perturbação Depressiva Crónica: > 2 anos;
b. Perturbação Depressiva Resistente: >2 anos com terapêutica ineficaz.
4) Depressão dupla: Episódio depressivo major + Distímia.
Apresentação
Prognóstico
O prognóstico é agravado em:
135
Diagnóstico diferencial
1) Perturbações de ansiedade – a ordem de aparecimento dos sintomas é muito
importante (perceber o que aparece primeiro, o pânico que acaba por originar uma
depressão pelo facto da pessoa ter de mudar o seu estilo de vida para evitar o pânico
ou uma pessoa com sintomas depressivos que apresenta pontualmente crises de
pânico). Torna-se mais difícil distinguir os 2 se existirem sintomas fóbicos, obsessivos e
dissociativos.
136
Tratamento agudo
O que queremos no tratamento agudo:
137
1) Inibidores da MAO (inibidores da enzima que degrada as monoaminas).
Inibidores não seletivos e Seletivos para MAO- Seletivos para MAO-B Seletivos para MAO-A e
irreversíveis A e irreversíveis e irreversíveis reversíveis (RIMA)
Iproniazida Clorgilina Selegilina Moclobemida
Isocarboxazida
2) Inibidores da recaptação
NE + DA → Bupropiona
NE → seletivos (NRI) ou inibidores da recaptação de serotonina e NE (SNRI -
venlafaxina);
5-HT → inibidores seletivo da recaptação de serotoninia (fluoxetina, sertralina).
*. = se episódio depressivo não for o primeiro, se tiver > 2 anos, se o doente tiver
comorbilidades somáticas.
Devemos, antes de começar a terapêutica, ter a certeza que não cumpre critérios
para PAB (ou seja, nunca existiram episódios maníacos ou hipomaníacos), porque
caímos no risco de ter um doente com PAB II que reverte para estado hipomaníco.
138
O tratamento, para ser considerado ineficaz, tem de ser realizado em dose
adequada durante, pelo menos, 6 semanas (isto a ter em conta que existe um período
de latência entre a aplicação do fármaco e o início da melhoria de sintomas que chega
às 3 semanas).
Efeitos adversos
Muitas vezes associa-se um SSRI com uma benzodiazepinas, por causa dos
efeitos de ansiedade, principalmente numa situação inicial.
139
Nota que:
Grávidas Idosos
Podem Não podem Não podem
SSRIs (1º Sertralina, 2º Fluoxetina) Paroxetina ADTs pelos efeitos anti-
ADTs (ainda assim têm riscos!) (têm muitos riscos!) colinérgicos
SSRIs → podem ser benéficos por terem capacidades antiagregantes.
140
8. Perturbações fóbicas, obsessivo-compulsiva
141
É preciso destacarmos a definição de 2 conceitos major:
1) O doente tenta ir contra estas ideias, são diferentes da sua personalidade, são
egodistónicas, são contra a vontade do doente, vêm de fora do doente;
2) Causam ansiedade porque as ideias são muito diferentes das suas crenças e
valores pessoais;
3) Exemplo: pessoa muito religiosa tem pensamentos blasfémicos.
É diferente das ideias delirantes que são egossintónicas, ou seja, vão de acordo com
o querer e vontade do doente, são “de dentro do doente”, este está em harmonia com
as mesmas, não há resistência, pelo que não criam ansiedade.
142
Alguns exemplos de obsessões/compulsões típicos:
OBSESSÕES COMPULSÕES
Contaminação Limpeza
Simetria Repetição, padrão, organização
Agressiva, sexual, espiritual Compulsão relacionada
Ferimentos (a si ou aos outros) Verificação relacionadas
Doenças Desinfecção
Filosóficas Astro vai embater na terra
Modelo da POC
➔ Estado de humor
Este processo e a resistência dos doentes com POC vai ser dependente do estado
de ânimo/humor: um doente com depressão vai resistir menos às
obsessões/compulsões e vai ser mais afetado por estas. O mesmo acontece quando o
doente está mais cansado, perde “forças” para resistir às obsessões, havendo
agravamento da patologia.
143
Prevalência
Apenas 2 a 3% da população (há estudos que dizem estar a aumentar);
Cerca de 50% dos doentes podem não ter compulsões, apenas obsessões;
50 a 70% dos casos está relacionado com um evento stressor (morte de um familiar,
rotura afetiva)
Evolução/Prognóstico
20-30% melhora bastante os sintomas
40-50% melhora ligeiramente os sintomas
20-40% mantém/agrava os sintomas.
É difícil fazer a avaliação da repercussão funcional nos doentes pelo seu cargo
diferenciado na sociedade, ou seja, é mais fácil perceber o sofrimento subjetivo do que
as repercussões funcionais.
Causalidade
Biológico Neuroimagem Genético Comportamental
Desregulação da Alterações: Difícil perceber o que é genético Pode haver
transmissão - Córtex órbito- e o que foi aprendido ao longo aprendizagem de
serotoninérgica (tanto frontal; da vida. comportamentos POC
que parte da terapêutica - Núcleo caudado; Monozigóticos >> Dizigóticos com familiares atingidos
se faz com SSRI)! - Tálamo Aumento do risco em 35% se pela doença.
familiar de 1º grau atingido
Se tiver familiar que tem POC pode, então, haver uma aprendizagem destes
comportamentos e, aí, torna-se difícil perceber se será, ou não, genético.
144
Personalidade Pré-Mórbida
Poderemos ter, também:
➔ Perfeccionista;
➔ Necessidade de controlo permanente;
➔ Necessidade de realização de listas;
➔ Rigor com horas e rotinas.
No entanto, a maior parte dos doentes com POC não tem personalidade pré-
mórbida.
Diagnóstico Diferencial
- Perturbação de Ansiedade;
- Perturbação de Tiques.
Terapêutica
É das doenças psiquiátricas mais difíceis de tratar.
145
1) Psicofarmacologia
1ª linha: SSRI
→ Paroxetina (cuidado porque pode aumentar o peso!),
→ Fluvoxamina (inibidor da recaptação de serotonina e agonista do recetor
sigma 1 (recetor opióide));
→ clomipramina.
→ Risperidona.
2) Psicoterapêutico
Terapia cognitivo-comportamental.
1º passo: Psicoeducação:
- Explicação de que apenas 2% das pessoas não consegue controlar;
- Retirar a culpa;
- Pensar no “camelo”;
- Introduzir o conceito de compulsões e a necessidade de as controlar;
Devemos afirmar que em cerca de 99% das pessoas podem existir pensamentos
intrusivos que sejam desagradáveis para o doente mas que apenas 2% deles não os
conseguem expulsar da cabeça/mente. O objetivo do tratamento não é expulsar as
ideias obsessivas mas sim fazer com que o doente mude a atitude perante estas ideias
obsessivas, promover a avaliação (naquele esquema de obsessão, avaliação e
neutralização) e afastar aquela ideia.
Para reduzir a culpabilidade das ideias obsessivas nos doentes devemos explicar
que o conteúdo é sempre desagradável e vai contra aquilo que os doentes acreditam e
naquilo que é mais importante para eles.
146
➔ Utilizar o pensamento do camelo: pedir para pensar num camelo durante 2
minutos. Depois, digo para parar de pensar no camelo. A pessoa vai dizer que
não consegue, que é involuntário. Nós temos de compreender e, efetivamente,
demonstrar que seria voluntário este pensamento.
impedir a obsessão.
5º passo: terapia paradoxal (se obrigarmos a pensar nas obsessões elas desaparecem);
147
FOBIA SIMPLES / ESPECÍFICA
Medo/ansiedade marcados em relação a um objeto ou situação específicos, pelo
DSM-V.
Prevalência é mais alta nas mulheres 14.45-15.7% (15%) do que nos homens 6.7-
7-75% (7%).
Assim, a pessoa começa a ter uma atitude de evitamento (foge de cães) para não
ser mordida.
TRATAMENTO
Psicofarmacológico Psicoterapia
1º BZD em fase aguda Terapia de exposição
2º SSRI mais tardiamente Psicoterapia cognitivo-comportamental
Temos de ensinar estratégias para lidar com a ansiedade presente nestes primeiros
encontros com o objeto/situação de fobia.
148
Perturbação Dismórfica Corporal
O indivíduo tem uma preocupação excessiva em relação a uma ou mais
componentes do próprio corpo que não considera perfeitos (são falhas) e que, pelos
outros, ou não são percebidas ou são consideradas irrelevantes. Neste seguimento, o
doente tem comportamentos repetitivos e atos mentais em função da preocupação da
aparência.
Perturbação de Acumulação
Indivíduos que acumulam muitos bens, independentemente do valor real ou
emocional, pela ansiedade de separação dos mesmos.
Estes doentes não têm uma ideia obsessiva corporal por detrás destas
perturbações mas podem ter um quadro de ansiedade ou de tédio que motiva a
realização destes comportamentos.
149
9. Perturbações do comportamento alimentar
No DSM-V houve uma alteração em relação às perturbações do
comportamento alimentar.
Outra situação que motivou a alteração dos critérios do DSM-V foi o número
exagerado de doentes que caia na definição de perturbações do comportamento
alimentar sem outras especificações, principalmente nos países onde a saúde é muito
manipulada pelos seguros.
150
Pica
Ocorre com frequência em grávidas, são os “desejos das grávidas”,
nomeadamente por substâncias não alimentares, como terra, barro, ferro.
Critérios de diagnóstico:
Patologias associadas
1) Debilidade mental;
2) Perturbações do espetro autista;
3) Esquizofrenia.
Epidemiologia
Complicações físicas
- Obstrução intestinal (por ingerir patologias como pregos, pedaços de vidro etc).
Perturbações de Ruminação
Critérios de diagnóstico
151
Patologias associadas
- Debilidade Mental;
Epidemiologia
Critérios de diagnóstico:
152
Epidemiologia
- Não se conhece bem a prevalência entre os sexos (deverá ser igual nos 2);
- Não se conhece bem a faixa etária (deverá ser desde novo como na PICA).
Outras
Definição Critérios Epidemiologia Complicações
patologias
Pica A. Ingestão persistente de substâncias não Debilidade Igual entre sexos Desnutrição
alimentares e não nutritivas (> 1 mês); Mental Inicia na infância, (raro)
B. Compromete o desenvolvimento; Perturbação > 2 anos Oclusão
C. Não associado a rituais de cultura ou do espetro do Grávidas! intestinal
socialmente aceites; autismo
D. Se ocorrer no contexto de outra Esquizofrenia
patologia psiquiátrica então deverá ser
evidente o suficiente para ser
diagnosticado
Perturbação de A. Regurgitação repetida (>1 mês), onde o Debilidade Não se sabe a Desnutrição
Ruminação conteúdo pode ser re-mastigado, re- Mental prevalência entre
engolido ou cuspido; Perturbação os sexos.
B. Não se associa a outra patologia física; da Ansiedade Pode acontecer
C. Não se associa a outra PCA; Generalizada em qualquer
D. Se ocorrer outra perturbação mental, idade
então deverá ser evidente o suficiente
para ser diagnosticado.
153
Anorexia Nervosa
Os principais critérios são (3)
Nota que nestes doentes não há anorexia (perda de apetite) mas sim restrição
da ingestão alimentar, os doentes passam fome.
154
Especificar a severidade da doença:
Nas crianças o que se faz é ver se a criança tem um peso < ao percentil 5 para a
idade e sexo.
Perturbações associadas
Estes traços obsessivos são importantes porque permitem que o doente resista
e lute contra o instinto da fome.
Epidemiologia
- 10 mulheres : 1 homem;
Etiologia
155
Evolução
A anorexia nervosa inicia-se, quase sempre, com uma dieta, que se instala e
persiste no tempo.
Não há definição em termos de tempo, mas para termos uma cronicidade implica
já termos tentado fazer algum tratamento. Se o doente aparecer lá com sintomas há 3
anos não é crónica porque ainda não se tentou fazer o tratamento.
Padrões familiares
Complicações físicas:
Paragem de crescimento
Amenorreia
Intolerância ao frio
Falência cardíaca
Morte eventual
156
Osteoporose → importante porque mesmo com a recuperação do peso podemos
não conseguir resolver este problema. A osteoporose não tem um tratamento eficaz,
pelo que o doente deverá ter o menor tempo possível em anorexia.
Complicações psicológicas
1) Atenção: Hipoprosexia;
2) Humor: humor depressivo, irritabilidade;
3) Vontade: Abolia;
4) Vida instintiva: insónias, diminuição da líbido.
Tratamento
157
2) Psicoterapia
A. Terapia cognitivo comportamental individual ou de grupo;
B. Psicoterapia de orientação clínica
i. é utilizada com alguma frequência.
ii. Esta psicoterapia não pode ser ortodoxa, as doentes têm de ser
pesadas e monitorizadas, muitas vezes tem de ser utilizada uma
terapia cognitivo comportamental;
C. Terapia familiar
i. é a mais eficaz em doentes com menos de 18 anos!
ii. Mas pode-se fazer com idade superior.
Na consulta o que se faz é uma mistura das várias terapias, nomeadamente cognitivo
comportamental, de orientação clínica e familiar e é desta “mistura” que resulta a melhor
terapêutica para os doentes.
3) Internamento
Bulimia Nervosa
Critérios de diagnóstico
158
Critério A → Episódio de compulsão alimentar;
Critério C → temporalidade;
Nota que uma diferença entre a anorexia nervosa e a bulimia nervosa é que, na
Bulimia, não há necessidade de ter baixo peso como acontece na anorexia, é uma das
principais diferenças!
Temos 2 subtipos:
Em termos de remissão:
Patologias associadas
- Perturbação depressiva;
159
Epidemiologia
- 10 mulheres : 1 homem;
Etiologia
- Fatores ambientais > fatores genéticos (porque tem diferentes incidências no mundo).
Evolução
Padrão familiar
- Perturbação de Humor;
- Abuso/Consumo de substâncias;
- Obesidade.
160
Bulimia multi-impulsiva (CATS C RM)
- Consumo de tóxicos;
- Roubos;
- Múltiplos parceiros.
Complicações físicas
. Sinal de Russel (lesões nos nós dos dedos por vómitos repetidos);
. Irregularidades menstruais
Como se devem aos vómitos, são mais frequentes em doentes com tipo
purgativo.
Tratamento
1. Farmacológico:
161
2. Psicoterapêutico
a) Psicoterapia cognitivo-comportamental individual / grupo;
b) Psicoterapia de orientação clínica;
c) Psicoterapia familiar;
d) Auto-ajuda;
e) Aconselhamento nutricional.
3. Internamento
Mais raro ainda do que na Anorexia, deve ser feito quando temos:
Caraterísticas diagnósticas:
162
Anorexia Nervosa VS. Bulimia Nervosa
ANOREXIA NERVOSA BULIMINA NERVOSA
163
CASO CLÍNICO DA AULA
Mulher de 39 anos que começou com a doença aos 12 anos. Aos 12 anos tinha
um peso normal/baixo, começou com dieta restritiva às gorduras, depois aos
doces/hidratos de carbono em geral, depois restringiu aos alimentos saudáveis.
Restringiu a 1 ou 2 maças e legumes (por dia).
Alguns dos internamentos eram a pedidos próprios, desta vez acabou por ficar
com 41kg (apesar de ter entrado em 38kg).
A doente tinha ficado sem menstruação (desde os 16) e voltou a ter menstruação
lá pelos 25/26 anos.
Por exemplo uma ideia que podemos trabalhar é a ideia de que, se fizer dieta X,
vai aumentar 0,5kg por semana. Assim, o doente tem medo de aumentar 0,5kg por
semana todas as semanas da vida e é uma ideia errada.
Apesar de ser pouco lógico, se um doente tiver a 20kg do peso ideal o doente
vai ter maior dificuldade em aumentar o peso do que se o doente tiver a 2kg do peso
164
ideal do doente, porque o doente com 20kg a menos está mais doente do que o doente
com 2kg a menos, pelo que o primeiro será mais difícil de tratar.
Homem de 22 anos que iniciou a doença pelos 20 anos. Fez o 12º ano mas não
continuou os estudos. Aos 20 anos desejou ser modelo. Começou com uma
preocupação crescente em ser magro, em ser modelo. Começou a fazer dieta e a treinar
no ginásio.
Fez um período restritivo, no qual perdeu algum peso. Por outro lado tinha
episódios de voracidade alimentar com ingestão compulsiva de alimentos num curto
período de tempo. Normalmente são ingeridos de modo descabido (abrupto e sôfrego),
fá-lo sozinho porque o doente tem vergonha de mostrar isto a outras pessoas. Durante
estas crises a pessoa fica como abstraída/alheada do mundo à volta.
Na sequência disto o doente sentia uma enorme culpa, ia-se deitar e acabava por
adormecer. NO dia seguinte ficava 1 dia inteiro no ginásio. Durante estes períodos mal
comia. Os episódios tornaram-se, cada vez, mais frequentes.
Poderia ter uma Bulimia Nervosa do tipo não purgativo (o doente não vomitava
nem utilizava laxantes nem enemas). É mais frequente acontecer, principalmente, em
mulheres e não em homens.
165
10. Perturbações orgânicas: demência e delirium
Doença de Alzheimer Demência Vascular Demência mista Hipóxia decorrente de Hematoma subdural
(alzheimer e vascular) hipoperfusão crónico
Demência fronto- Degenerescência Demência da Doença Demência dos Corpos Doença de Huntington
temporal córtico basal de Parkinson de Lewy
A Demência de Alzheimer é a mais frequente, sendo a Demência vascular a 2ª.
Algumas das demências são reversíveis, são estas que temos de procurar!
166
A instalação da demência é uma questão progressiva, ou seja, é uma coisa que
vai acontecendo aos poucos na vida do doente, lentamente, pelo que a função cognitiva
vai deteriorando aos poucos até atingir o estado de demência.
Assim, a principal alteração vai ser em relação ao efeito que a disfunção cognitiva
tem na vida diária:
167
DOENÇA DE ALZHEIMER
O diagnóstico definitivo da DA é histológico, onde podemos encontrar:
1) Placas Senis
2) Novelos
168
Os fragmentos clivados pela alfa secretase não possuem uma função bem
definida, mas acredita-se que possam estar relacionados com:
Os fragmentos beta amiloides vão-se agregar e acabar por originar as placas senis
(vários aspetos fisicoquímicos).
169
Diagnóstico de Perturbação Neurocognitiva Minor por Doença de Alzheimer
Doenças genéticas
Não há testes genéticos que nos digam se o doente tem a doença ou não.
170
Objetivação do defeito
1º Passo:
2º Passo:
3º Passo:
4º Passo:
Vitamina B12, Ácido Fólico, VDLR, T3/T4 e, provavelmente, HIV, isto porque
estas causas são corrigíveis e podem disfarçar uma demência.
Imagiologia
Devemos, ainda assim, fazer exclusão de patologias cerebrais por meio de:
-TC ;
- RM.
171
Exemplos:
Biomarcadores
Assim, como não seria suportável andarmos a fazer biópsias a torto e a direito
nos doentes, uma vez que não oferecemos cura a estes, arranjamos biomarcadores que
nos permitem aferir a instalação da doença, anos antes do início da manifestação de
sintomas.
Podemos ter:
172
Reflexos primitivos
- Reflexo snout: ao tocar no epicanto da boca o doente inclina a boca para esse lado;
- Reflexo dos pontos cardeais: ao tocar na cara do doente este vai virar a cara para esse
lado como se fosse para procurar a mama que vai dar de mamar;
- Reflexo de sucção: ao tocar com o dedo nos lábios do doente este finge que vai fazer
sucção.
Terapêutica
O foco do tratamento deverá ser consistir em impedir que a doença avance, ou seja,
que esta evolua para demência.
173
Em termos de tratamento não-farmacológico sabemos que:
INIBIDORES DA AchE
Estes inibidores da AchE são extremamente lipofílicos, pelo que vão ser
absorvidos pela pele /(transcutânea).
Verifica-se que os doentes que são tratados com inibidores da AchE e que
tenham demência por DA vão, efetivamente, melhorar a sua capacidade cognitiva.
174
Efeitos adversos:
- Aumento da incidência de úlceras (pela estimulação das células parietais pela Ach),
GLUTAMATO E MEMANTINA
O fármaco que vamos utilizar que atua nos recetores NMDA dos neurónios
glutaminérgicos é a Memantina, que tem um mecanismo de ação complexo:
175
Com a utilização de Memantina: esta é um antagonista do recetor de NMDA dos
neurónios glutaminérgicos, pelo que vai diminuir a instabilidade do potencial de
membrana e, desta forma, permitir que um estímulo atinja o limiar do potencial de ação
e haja transmissão da informação de um neurónio para o outro.
➔ Efeitos da Memantina:
1) Geralmente bem tolerada
2) Cefaleias
3) Convulsões
DEMÊNCIAS FRONTO-TEMPORAIS
Conjunto de demências que resultam de uma atrofia do lobo frontal.
176
Depois, a partir daqui o que se faz é avaliar a expressão de outro tipo de
proteínas, permitindo subdividir estas degenerescências.
Esta alteração das funções cognitivas pode ser visível em “trail making test parte
A” onde devemos unir os números (sequenciação e planeamento).
O “trail making test parte B” devemos fazer uma união sequencial de números e
letras (1-A-2-B-3-C…).
O teste de Stroop, a pessoa tem de dizer as cores e não as palavras que estão
escritas.
Todas as demências, para além dos sintomas cognitivos, podem ter sintomas
comportamentais e psiquiátricos, apesar de serem mais típicos na demência fronto-
temporal.
Os estudos longitudinais indicam que, uma vez que aconteça um sintoma num
doente, é provável que este persista e que possa recorrer no doente.
177
As terapias para os sintomas comportamentais/psiquiátricos são mais eficazes
do que as terapias para os sintomas cognitivos.
Clusters
Tratamento
Estimulação cognitiva.
2) Tratamento farmacológico:
Só devemos começar se:
a. Não existir patologia orgânica ou efeito adverso de fármaco que justifique a
doença;
b. Insucesso das terapêuticas não farmacológicas
c. O sintoma é suficientemente grave.
178
Se começarmos a terapêutica farmacológica, devemos fazer:
Se isto acontecer → Antipsicótico como Aripiprazol (mas doses mais baixas que
num indivíduo normal com psicose).
Tratamento farmacológico
Inibidores da Memantina Antipsicóticos Antidepressivos Benzodiazepinas Carbamazepina/VPA Naltrexona
AchE (trazodona)
A depressão nos doentes com demência é perigosa uma vez que a utilização de
alguns antidepressivos pode ter efeitos anti-colinérgicos e agravar o quadro destas
demências.
Nota que nos idosos o tratamento deverá ter uma duração maior e existe uma
maior latência no tratamento (demora fazer mais tempo a fazer efeito). Os preferenciais
são os SSRIs.
179
DELIRIUM
Aqui o que está alterado é a Consciência e não as funções cognitivas como nas
demências.
1) Início súbito;
2) Evolução rápida;
3) Flutuações ao longo do dia;
4) Melhoria rápida quando identificada e eliminada a causa.
Epidemiologia
Fatores de risco
Idade (crianças e idosos) Doença cerebral prévia História anterior de delirium Lesão sensorial
Diabetes Neoplasias Dependência de álcool Malnutrição
180
Etiologia
Podem ser intra cranianas e extra cranianas mas serão todas, na sua maioria,
somáticas.
As substâncias que causam delirium podem tanto ser por intoxicação aguda
como por abstinência → Fármacos, Drogas, venenos.
Fármacos
Anti- Anti- Drogas Venenos
Anti-colinérgicos Outros
epiléticos hipertensores
ADT Fenitoína Digitálicos Cinetidina PCP Metais Pesados
Anti-parkinsónicos Clonidina Ranitidina Opióides Monóxido de carbono
Antipsicóticos 1ªG Dissulfiram Álcool
Insulina
Esteróides
Salicilatos
Tratamento
181
Memória semântica pode ficar igual ao aumentar com a idade, ao contrário das
restantes.
PET-PI liga-se, principalmente, no lobo frontal mas não nos restantes lobos, não
se sabe bem porquê mas não quer dizer que haja maior deposição de beta amiloide no
lobo frontal.
182
11. Perturbações de alcoolismo e
toxicodependência
Droga = é uma substância psicoativa que atravessa a BHE e tem efeito no SNC.
Provoca alterações do comportamento e das emoções. Pode ter uma gradação de
relevância para o sujeito: abuso, dependência e, no seguimento desta dependência, uma
privação (síndrome de abstinência).
São substâncias de abuso que atuam todas num grupo de estruturas denominadas
sistema de recompensa cerebral que, ao serem ativadas, provocam sensações de bem-
estar, euforia, tranquilidade, que as pessoas pretendem repetir: Levam a efeitos de
reforço positivo.
São, fundamentalmente:
1) Hipotálamo;
2) Hipocampo;
3) Amígdala.
183
Algumas drogas são mais “viciantes” do que
outras consoante tenham maior estimulação da AVT do
que outras.
184
Atualmente, quando se apanha uma pessoa com álcool no sangue numa operação
STOP, uma das indicações que o juiz deve dar é a orientação para uma consulta de
psiquiatria. As pessoas vêm à consulta um pouco contrariadas mas não conseguem
parar os consumos, apesar de terem ficado sem carta ou terem tido acidentes. Ou seja,
apesar dos malefícios para a vida da pessoa causados pelo consumo, esta não abdica
deles, perfazendo o 7º critério.
ALTERAÇÕES METABOLISMO
O metabolismo do álcool ou outras substâncias varia de pessoa para pessoa por
questões:
1) Genéticas
2) Idade
3) Género
SEVERIDADE/EFEITO DO CONSUMO
A severidade dos sintomas do consumo de álcool ou outras substâncias
dependem de:
1) Metabolismo;
2) Uso simultâneo de outras substâncias psicoativas.
ÁLCOOL
Podemos encontrar vários quadros clínicos diferentes:
185
➔ Exposição pré-natal
Não há consenso em termos de dose de álcool que possa ser nociva para o feto.
Pode provocar um síndrome fetal alcoólico, que tem uma ação tipo espectro ou seja,
depende do consumo que a grávida tenha feito em termos de álcool.
➔ Intoxicação aguda
Se vier ter com os médicos deverá ser por alteração dos comportamentos, como
agitação psicomotora, se for agressivo, se tiver queda/traumatismo.
a) Avaliação amnéstica;
b) Doseamento de substâncias no sangue e/ou urina;
c) Despiste de traumatismo crânio-encefálico ou outra condição médica.
Assim, nestes doentes temos de fazer uma avaliação anamnéstica e tentar perceber
as circunstâncias do doente.
O coma pode acontecer quando a [álcool]>3g/dL e a morte quando [álcool] > 4g/dL.
186
➔ Síndrome de Abstinência
Tremor começa nas extremidades e migra para a parte proximal dos membros.
Alucinações (3-12h).
187
➔ Síndome de Wernicke-Korsakoff
1) Fase aguda:
Encefalopatia de Wernicke (confunde-se, por vezes, com o delirium tremens),
porque o doente está:
- Quadro confusional, apatia
- Alterações oculomotoras (paralisia, nistagmo) → pode ser mais tardio
- Marcha atáxica
2) Fase crónica:
Síndrome de Korsakoff (quadro crónico, irreversível), onde predomina:
- Amnésia retrógrada crónica (sem crítica);
- Confabulação (vai preencher as lacunas mnésicas com diferentes informações
de dia para dia, mas é diferente da amnésia catatímica porque aqui o doente não
vai alterar a informação em função do estado de humor, simplesmente vai dizer
coisas diferentes em dias diferentes porque não se lembra do que disse antes)
- Apatia, abolia;
O quadro evolui para uma demência alcoólica.
TERAPÊUTICA
188
É farmacológica e não farmacológica:
• FARMACOLÓGICA
• NÃO FARMACOLÓGICA
Psicoterapia de grupo.
189
Consumo pontual/não regular de álcool → é metabolizado pelo CYP2E1
1) Sedativo
2) Amnésico
3) Atáxico.
TOXICODEPENDÊNCIA
Apesar das substâncias serem diferentes e os mecanismos específicos de cada
uma serem, igualmente, diferentes, vão acabar por atuar na mesma região (hipocampo,
hipotálamo, amígdala).
190
Substâncias:
OPIÓIDES (HEROÍNA)
- Consumo e dependência
- Síndrome de abstinência
Epidemiologia
Carateriza-se por:
Estes quadros de overdose podem acontecer quando temos uma pessoa que
deixou os consumos de heroína (estava em abstinência), retoma os consumos mas
retoma nas doses que fazia na fase final dos consumos, quando ainda tinha tolerância,
pelo que as mesmas doses agora têm um efeito muito maior, desencadeando uma
overdose.
191
Síndrome de privação
192
1) Terapêutica de substituição
Exceções: não se introduzem grávidas nem os doentes internados, a não ser que
já estejam em programas de metadona e sejam internados por quadros infeciosos,
quadros psíquicos. Estes doentes, se internados, continuam a fazer a dose que estava a
ser administrada de metadona. Não se dá nos dependentes saídos da prisão.
Não suprime a função cerebral, a overdose não é fatal pelo que torna seguro
utilizar em ambulatório (doses 4-12 mg/dia).
2) Terapêutica antagonista
Naltrexona
Clonidina
193
Os doentes são difíceis de tratar, porque tem de haver uma integração entre
terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas (abordagem psicossocial, entrevista
motivacional (E.M.))
- ENTREVISTA MOTIVACIONAL –
194
Ter a noção que tanto o álcool como as outras drogas são situações crónicas,
que têm tendência para a recorrência, pelo que temos de fazer prevenção das
recaídas:
As repercussões orgânicas vão ocorrer ao nível dos órgãos alvo do álcool: fígado, SNC…
Isto pode facilitar o diagnóstico uma vez que, por vezes, se torna difícil o diagnóstico de
alcoolismo e, caso consigamos definir lesão dos órgãos alvo, poderá facilitar o
diagnóstico de dependência de álcool.
O doente que vomita sangue (hematemese) vai afligir o doente → é algo que vai inibir o
doente e vai preocupá-lo. Perguntar ao doente se já viu sangue ou não e se sabe porque
é que isso acontece. “Eu acredito que nunca vai mais beber mas é uma doença para a
recaída. Mesmo que não beba mais tem de ficar orientado na consulta do álcool caso
tenha uma recaída.”. Assim, temos de redirecionar o doente para consulta de
álcool/hepatologia. Temos de dizer ao doente que percebemos que é uma doença com
uma grande recaída e que sabemos que o doente pode estar a tentar mas avisar que
temos noção que é uma doença com grande recaída. Temos de tirar culpa em cima do
doente.
“Acho que o álcool está a ter grande influência no seu estado de saúde, eu acho que
devia ter uma consulta de acompanhamento em consulta de álcool ou hepatologia. Julgo
ser o melhor para ti mas o doente é livre de decidir.”.
As pessoas que são medicadas com ansiolíticos misturam os ansiolíticos com o álcool.
Bem como o canábis que raramente é consumido de forma isolada mas sim com o álcool.
Como o Delirium Tremens tem amnésia retrógrada sem crítica temos de perguntar se
se lembra ou não! Provavaelmete não se vai lembrar.
Temos de ter cuidado que estes doentes alcoólicos podem ter depressão do sistema
imunitário, podem ter estase de secreções com pneumonias de estase por
microorganismos nosocomiais.
195
A agitação psicomotora resulta, muitas vezes, da interação entre álcool e outras
substâncias psicoativas.
Muitas vezes podemos ter uma interação de confrontação, ou seja, podemos dizer ao
doente “beba, beba um copo de vinho ou outro” e o doente diz “então mas o doutor não
tinha dito para não beber?” e isto serve como provocação para o doente, para testarmos
a parte psicológica do doente, que é mais difícil de tratar que a parte física.
196
12. Suicídio e auto-mutilação
O suicídio é um fenómeno muito complexo, é multifactorial, extravasa a componente
puramente psiquiátrica. Requer, para a sua compreensão, uma vertente:
Nomenclatura
Há uma grande controvérsia em relação à nomenclatura aplicada, o que vai ter
repercussões em:
197
A letalidade é muito avaliada em função do método, uma vez que é diferente um
enforcamento, uma defenestração (saltar de uma janela), uma arma de fogo, ou utilizar
intoxicações medicamentosas.
Definições
Em 2017 criou-se um programa nacional pela DGS que nos vai definir:
Comportamento Comportamento com um resultado não fatal, em que o indivíduo voluntariamente fez
auto-lesivo um dos seguintes:
- Iniciou comportamento, com intenção de causar lesão sobre o próprio;
- Tomou fármacos em doses superiores às farmacologicamente conhecidas;
-Tomou uma droga ilícita ou substância psicoativa com propósito declaradamente
autoagressivo;
- Ingeriu uma substância ou objeto não ingerível.
Há sempre intencionalidade de se autoagredir.
Ideação Suicida Pensamentos ou cognições sobre acabar com a própria vida, que podem ser vistos
como percursores de comportamentos auto-lesivos ou atos suicidas. Podem
apresentar-se sobre desejos e/ou plano para cometer suicídio, sem que haja
necessariamente passagem ao ato.
Tentativa de Ato levado a cabo por um indivíduo e que visa a sua morte, em que é possível
suicídio perceber que é realizado com intencionalidade suicida mas que, por diversas razões,
geralmente alheias ao indivíduo, resulta frustrado.
Suicídio consumado Morte provocada por um indivíduo no seguimento de um ato que tinha o intuito de
provocar fim à vida.
Há uma certa progressão de :
198
Epidemiologia
No Mundo:
Comportamentos auto-lesivos
Na adolescência são um problema de saúde pública no Mundo.
Ato suicidas
- Taxa de mortalidade
→ Em Portugal:
199
Os comportamentos auto-lesivos são mais prevalentes que os atos suicidas:
Em Portugal o Alentejo continua a ser o local com a taxa de suicídio mais alta.
Portugal continua a ter dados subestimados, ou seja, mais baixo do que realmente
existe/acontece → melhorar as certidões de óbito.
Etiologia
200
Teorias psicossociais
1) Fatores biológicos
2) Estudos genéticos
- História Familiar → há um risco maior em parentes próximos de um indivíduo
com estes comportamentos;
- Irmãos Monozigóticos >> Irmãos Dizigóticos
De forma geral, a etiologia é uma questão multifatorial que temos de ter em linha
de conta vários aspetos e a sua interação entre eles.
201
Modelo Limiar
Temos uma interação muito marcada entre vários tipos de fatores:
Tudo isto vai culminar num limiar para a ocorrência de comportamentos auto-lesivos
ou atos suicidas.
Fatores de risco
São estes fatores que nos podem ajudar na nossa intervenção, sabemos onde
podemos agir, o que podemos modificar para alterar o curso da doença.
202
Sociodemográficos Familiares Psiquiátricos Individuais
Idade Perdas financeiras Existência prévia de: Impulsividade
> risco: - CAL
-adolescentes e jovens - TS
adultos
-idosos
Género Perdas reais Doenças mentais Hostilidade e
Mulheres- > risco de CAL e TS Perda de alguém (principalmente Perturbação agressividade
Homens- > risco para para Borderline)
suicídio consumado
Trabalhadores rurais e História adversa na Abuso ou dependência de Baixa auto-estima
profissionais de saúde infância álcool
Minorias étnicas Abuso físico/sexual Dependência e desamparo
Orientação sexual Bullying Perfeccionismo e rigidez
Isolamento social Mobing (bullying dos Desesperança
adultos na atividade
profissional)
Contágio social Doenças físicas
- Pelos Media (neurológico, oncológico,
- Na escola, família DPOC, SIDA)
Barreiras ao acesso de Facilidade de acesso a
cuidados de saúde meios letais
(como fármacos)
Estigma Estrutura familiar
disfuncional
Doença mental ou HF de
suicídio
Modificáveis
90% das pessoas que morrem de suicídio tinham uma perturbação mental,
sendo que a perturbação depressiva é o principal fator de risco:
- 15 a 20% das pessoas com perturbação depressiva suicidam-se! (porque têm o risco
aumentado em 15x).
Fatores protetores
São quase opostos aos fatores de risco:
203
Adolescência
Na adolescência temos um período de grandes alterações:
1) Internas;
2) Dinamismo com as alterações externas.
Um adolescente, quando chega ao SO, tem muito medo de falar com o médico
porque tem medo de ficar dependente, ou seja, o adolescente subvaloriza a situação e
pode tornar-se agressivo ou hostil. Tem muita dificuldade em aderir à farmacoterapia.
O nosso papel é tentar descodificar o comportamento do adolescente.
“Está aflito, está agressivo, eu percebo, passou por um momento muito difícil”.
Idoso
Os idosos têm maior probabilidade de cometer suicídio do que qualquer outra
faixa etária.
➔ Sexo masculino;
➔ Perdas cumulativas (viuvez, reforma, perda de autonomia);
➔ 30% tem alcoolismo;
➔ 60 a 80% tem depressão;
➔ Solidão (60% do idosos em Portugal vivem sós).
204
Obstáculos à intervenção
1) Mitos
Isto porque uma pessoa que tem ideações suicidas está num profundo sofrimento
e, ao poder ter oportunidade para falar, vai diminuir a sua ansiedade, pelo que diminuirá
a vontade de cometer suicídio.
Cerca de 70% das pessoas que se suicidaram tinham feito comunicação prévia.
“Se alguém está decidido a matar-se então não há nada que possamos fazer”- Falso!
Muitas vezes são doentes que têm uma perturbação mental (90% dos casos) pelo
que podemos tentar ajudar/tratar essa questão e impedir o suicídio.
Avaliação do risco
Uma vez que o suicídio é multifactorial, temos de fazer o balanço entre:
205
A melhor forma de avaliarmos o risco é na entrevista clínica.
É importante criarmos um ambiente mais íntimo com o doente, que pode ser feito ao
puxarmos uma cortina no SO ou termos o gabinete arrumado, de forma a transmitir, não
verbalmente, uma maior proximidade com o doente.
1) Guardar segredo em relação aos fatores que levaram aos CAL ou ato suicida;
2) Manifestar a existência de ideação suicida perante a rede de suporte do nosso
doente para que possam estar a par da situação e atuar se necessário.
1º contacto
O QUE FAZER O QUE NÃO FAZER
Escuta empática e abordar com tato mas clareza Cuidado com as contra-atitudes e desconforto do
ténico – não devemos dar moralidades nem culpabilizar
Reconhecer o sofrimento do doente “está muito aflito, Evitar julgamentos, banalizações, críticas ou
vejo que está num sofrimento intenso” superproteção.
Dar esperança “esta situação deve ser mesmo difícil Não usar frases feitas “melhores coisas virão”, “a vida
para si mas vamos tentar superar isto, eu vou ajudá-lo” é feita de altos e baixos”
Fator precipitante → não é causa → não há suicídio por causa da “namorada” ou “avô”.
206
Avaliação do doente suicida
1) Avaliar a vida do doente nos últimos 6 meses e, em pormenor, nas últimas 48h,
perceber a atmosfera do doente;
2) Avaliar a gravidade;
3) Ver o quadro psicopatológico que existe;
4) Problemas pessoais da pessoa;
5) Há tentativas prévias ou não;
6) História familiar da pessoa;
7) Doenças somáticas;
8) Avaliação da capacidade de resolução de problemas internos ao longo da vida;
9) Sistema relacional.
➔ Atmosfera do episódio
Saber se:
1) Tinha um plano;
2) Fez tudo para não ser descoberto;
3) Deixou mensagens/aviso;
4) Motivação e intenção do doente;
5) Reação ao estar vivo;
a. “Não acredito que fiz isto, a minha família está em sofrimento profundo”;
b. “Até nisto eu falhei, nem isto consegui” → severidade muito maior.
6) Letalidade dos métodos;
7) Explicação do gesto;
a. Procurar a forma como o doente ia fazer permite perceber se foi algo
pensado e antecipado ou impulsivo “do momento”;
8) Fatores precipitantes;
9) Fatores predisponentes.
Fatores risco/protetores
Risco “Suicibilidade”
Fatores de risco Fatores protetores
Acesso a meios letais Ausência de fatores TS com alta letalidade ou ideação
Elevado Perturbação mental protetores suicida permanente.
Tentativa prévia “não quero ajuda”
Depressão moderada Escasso suporte familiar e Ideação suicida com plano mas sem
Tentativas prévias de baixa social intenção de passagem para o ato ou
Moderado
letalidade CAL
CAL frequentes “Ambivalência na ajuda”
Sem tentativas prévias Fortes fatores protetores Ideação suicida sem plano, sem CAL
Sem perturbação mental ou AS.
Baixo
Aliança terapêutica.
“Aceita ajuda”
207
Critérios para internamento
Há alguns critérios que obrigam o internamento:
208
Modelos de intervenção
Individual Familiar
Intervenção em crise Abordagem familiar
Psicoterapia Breve/resolução de problemas Terapia familiar sistémica
Psicoterapia Psicodinâmica
Psicoterapia CC
Psicoterapia Interpessoal
Psicofarmacoterapia
Internamento tempo completo
Hospital de Dia
Atuar em Crise:
209
13. Perturbações da Personalidade
Assim, o conceito de personalidade surge como o mais geral, lato e composto dos
3 conceitos.
Personalidade saudável
Um indivíduo é considerado como tendo uma personalidade saudável quando:
Determinantes da Personalidade
São eventos/caraterísticas que podem influenciar a personalidade de um
indivíduo, nomeadamente:
210
Perturbação de Personalidade – Critérios
Critério E → não pode ser melhor explicado por outra patologia psiquiátrica.
Critério F → não pode ser explicado pelo consumo de substâncias ou condição médica.
Epidemiologia
- Cerca de 10% a 20% da população tem perturbação da personalidade.
Para cada tipo de perturbação de personalidade a prevalência varia entre 0,2 a 2%.
- Os mais comuns:
➔ Personalidade depressiva;
➔ Personalidade evitante.
211
Perturbação da Personalidade
É um padrão persistente de experiências e comportamentos intrínsecos que se
afastam acentuadamente da cultura do indivíduo, é penetrante e inflexível, tem início na
adolescência ou no início da vida adulta, é estável ao longo do tempo e causa sofrimento
ou alteração do funcionamento.
Perturbações da personalidade
Cluster A Cluster B Cluster C
Paranóide Desconfiadas Anti-Sociais Desagradáveis Evitante Inibido
Esquizóide Socialmente Borderline Instáveis Dependente Submisso
indiferentes
Esquizotípica Excêntricas Histriónicas Necessidade de Obsessivo- Perfeccionista
atenção Compulsiva
Narcisistas Centradas no
próprio
Excêntricas e bizarras Ansiosos ou temerosos
Dramáticas, Emocionais e
Irregulares
Não especificado:
- Passivo-agressivo → negativista;
- Depressivo→ pessimista.
212
Cluster A
Cluster A
Paranóide Esquizóide Esquizotípica
- Pessoas sempre desconfiadas - Distanciamento das relações - Pessoa com comportamentos
afetivas excêntricos
- Sensíveis, ficam muito - Dificuldade de expressar - Discurso estranho, vago, metafórico ou
sensíveis a comentários emoções demasiado elaborado
- Ciumentos - Preferem atividades solitárias - Pode ter ilusões corporais ou mesmo
ideias delirantes
- Rancoroso - Pouco interativos e sociais - Excessiva ansiedade social
213
Cluster B
214
A perturbação narcisista prende-se num indivíduo que, por detrás desta
necessidade de superioridade constante, tem núcleos muito frágeis, são pessoas que
não se sentem perfeitas mas que tentam ser muito grandiosos numa determinada área
para tapar as falhas internas. São o tipo de doente que considera que nós, enquanto
médicos, somos muito novos e não temos capacidade para perceber a complexidade da
doença deste indivíduo narcisista. A crença central é de “Tenho o direito de ser amado
porque sou superior aos demais”.
Cluster C
215
Cluster C
Evitante Dependente Obsessivo-Compulsivo
- Consideram que são inferiores às - Precisa de apoio permanente - Demasiado apegado a
outras pessoas de outras pessoas organização, listas e processos
- Evitam a crítica dos outros sobre o - Dificuldade a lidar com - Incapacidade de deixar um
próprio decisões trabalho que não feito perfeitamente
- Evitam situações de exposição social - Não consegue manter uma - Excessivamente dedicado ao
opinião sólida trabalho
- Preocupa-se com críticas e rejeição - Falta de iniciativa e auto- - Não gosta de delegar tarefas
social estima
216
Perturbação de Personalidade vs Outra doença mental
Muitas vezes torna-se difícil perceber se as caraterísticas que são específicas de
uma perturbação de personalidade são fruto ou não da perturbação mental.
- Terapia dialética-comportamental;
217
- Psicoterapia focada na transferência;
Conclusão
- Um doente com perturbação de personalidade é um doente que recorre muito
frequentemente aos cuidados de saúde;
- São doentes “difíceis” porque “despertam sentimentos difíceis” no médico, não aderem
à terapêutica, são muito exigentes na relação com o médico e são difíceis de tratar.
Normalmente conseguem determinar reações negativas nos médicos;
- Muitas vezes os doentes têm comorbilidades psiquiátricas que deverão ser tratadas
(cerca de 50% dos doentes psiquiátricos têm estas perturbações de personalidade);
- Devemos compreender a crença central de cada uma das personalidades para termos
uma relação positiva nesse sentido;
- Devemos oferecer apoio e estratégias de coping a estes doentes para tentar controlar
as reações perante um evento de trigger que possa ocorrer;
218
Vídeo 1
Vídeo 2
- Histriónico , estas pessoas precisam de se alimentar das ideias das outras pessoas
para se sentirem bem consigo próprias e para alimentar a fraqueza da sua
personalidade;
Não podemos evitar os comportamentos sedutores das pessoas nem as suas interações
mais ousadas, temos de tentar ter uma reação neutra em relação a isto.
Vídeo 3
- Obsessivo-compulsivo
Chega a um ponto que o médico tem de passar à frente porque se não ficam na consulta
a resolver todas as dúvidas do doente. É preciso tentar conseguir marcar a próxima
consulta
Vídeo 4
- Narcisista
Perante um doente que diz que leu um artigo e que já sabe algumas coisas o médico
deve responder que podem partilhar um artigo e que podem discutir os 2 esse mesmo
artigo, para uma melhor compreensão dos 2.
Muitas vezes são doentes que estão sempre a tocar e a focar nas nossas fraquezas para
ver se nos afetam nesse sentido.
O médico vai ter que entrar numa via de “vamos ser parceiros e levar isto ao melhor
local” e não “vamos competir sobre quem sabe mais”.
219
220