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Carolina Loureiro

Apontamentos de Psicologia Social

Influência social
A influência social refere-se às várias formas como as pessoas se
influenciam umas às outras. Refere-se a mudanças no comportamento
e/ou atitudes que resultam de comentários, ações ou mera presença de
outros.
Tipos de influência social:

 Conformidade: Mudar o nosso comportamento ou crenças em


respostas a pressão explícita ou implícita por parte de outras
pessoas;
 Aquiescência/ Anuência (compliance): Responder
favoravelmente a um pedido explícito de uma outra pessoa;
 Obediência: Numa relação de poder desigual, submetemo-nos às
exigências da figura de autoridade.
Conformismo

Mimetismo automático: Muitas vezes imitamos de forma


inconsciente o comportamento de outras pessoas. Temos tendência
para imitar a postura, maneirismos, expressões faciais e outras ações
daqueles que nos rodeiam.

Esta tendência para imitar os outros é particularmente forte


quando as pessoas têm o desejo de se afiliar com os outros em questão
e quando gostamos dos outros.
Tendemos a imitar os outros como uma maneira de tentar
estabelecer as bases para interagir eficazmente com eles.

Para mais, as pessoas que são imitadas são as mais propensas a ter
mais comportamentos pró-sociais imediatamente depois.
Influência social informativa e o estudo de Sherif

Às vezes, as pessoas conformam-se ao comportamento de outras


pessoas de forma um pouco mais consciente, como ilustrado por Sherif.

Serif estava interessado em entender como os grupos


influenciavam o comportamento dos indivíduos ao moldar a forma como
a realidade é percebida- mesmo as perceções mais básicas.

O experimento de Sherif foi construído em torno da ilusão


autocinética- a sensação de que um ponto de luz parado num ambiente
completamente escuro se está a mover (isto porque, na completa

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escuridão, não existem outros estímulos para ajudar o espectador a


discernir onde a luz está localizada). Sherif testou como as opiniões das
outras pessoas influenciavam as perceções do espectador sobre o
movimento da luz.

Pediu-se aos participantes neste estudo que fizessem estimativas


sobre quanto é que o ponto se «moveu» de cada vez. Primeiro os
participantes fizeram estas estimativas individualmente, separados dos
outros participantes. Depois fizeram estimativas na presença dos outros
participantes, dizendo em voz alta as estimativas.

Este padrão é o resultado da influência social informativa- a nossa


dependência dos comentários e ações das outras pessoas como
indicador do que é certo ou errado, mais pronunciado quando não
temos certeza sobre como se comportar ou sobre o que é factualmente
correto.
Influência social normativa e a experiência de Asch

A principal razão pela qual as pessoas se conformaram foi para


evitar destacarem-se negativamente aos olhos do grupo. A isto chama-
se influência social normativa: o desejo de evitar ser criticado ou julgado.

As pessoas são geralmente relutantes em afastar-se das normas da


sociedade ou, pelo menos, das normas dos subgrupos com os quais se
preocupam, porque temem as consequências sociais.
Fatores que influenciam a pressão para o conformismo:

 Tamanho do grupo: grupos maiores exercem mais influência social


do que grupos menores, mas o efeito do tamanho do grupo não é
linear. O significado do tamanho do grupo faz sentido, do ponto
de vista de ambos os tipos de influência social:
o Informativa: quanto maior for o número de pessoas que
expressam uma certa opinião, mais provável é que tenha
mérito.

Mas até certo ponto: a validade de uma opinião consensual aumenta


apenas se as opiniões são independentes umas das outras. E quanto mais
pessoas há, menos provável é que os seus pontos de vista sejam
independentes.

Além disso, quanto maior o grupo, mais pessoas há para desapontar. Mas
aqui também o impacto do tamanho do grupo apenas sobe até certo
ponto. Ser visto como estranho em 2 vs. 4 pessoas é muito diferente de 12
vs. 14.

 Unanimidade do grupo: a presença de um aliado enfraquece


tanto a influência social informativa quanto a normativa.

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Isto sugere uma ferramenta poderosa para proteger a independência do


nosso pensamento e ação: se alguém esperar ser pressionado para se
conformar e quiser permanecer fiel às suas crenças, essa pessoa deve
trazer um aliado consigo.

Uma mensagem importante dos estudos de Asch é o quão difícil pode


ser defendermos a nossa visão sozinhos. As pessoas conseguem enfrentar
a pressão de pares com visões diferentes, mas geralmente precisam de
ajuda.

 Anonimato: o anonimato elimina a influência social normativa e,


portanto, reduz substancialmente a conformidade. Quando mais
ninguém está ciente do seu julgamento, ele não precisa de temer
a desaprovação do grupo.

Isto salienta uma distinção importante entre o impacto da influência


social informativa e normativa. A influência social informativa, ao orientar
a forma como vemos a realidade que temos diante de nós, leva à
internalização. Nós não nos limitamos apenas a imitar uma resposta, nós
adotamos a perspetiva do grupo e passamos a acreditar na mesma.

A influência social normativa, em contraste, muitas vezes tem um maior


impacto na conformidade pública do que na aceitação privada. Para
evitar a reprovação, às vezes, fazemos ou dizemos uma coisa, mas
continuamos a acreditar na outra.

 Perícia e estatuto: a perícia e o estatuto dos membros do grupo


influenciam poderosamente a taxa de conformidade.

Os dois costumam estar associados: a) concedemos maior estatuto


àqueles com perícia; e b) muitas vezes assumimos (nem sempre
corretamente) que aqueles com estatuto elevado são especialistas.

Contudo, quando essas características podem ser dissociadas, a perícia


funciona principalmente como influência social informativa (é provável
que os especialistas estejam certos, pelo que tomamos as suas opiniões
mais a sério), enquanto o estatuto funciona principalmente como
influência social normativa (a reprovação por indivíduos de estatuto
elevado prejudica mais do que a reprovação de estatuto inferior.

 Cultura: as pessoas de culturas interdependentes estão muito mais


preocupadas com os seus relacionamentos com os outros e sobre
como encaixar no contexto social do que as pessoas de culturas
independentes.

Portanto, são mais suscetíveis tanto a influência social informativa


(consideram as ações e as opiniões de outros mais reveladoras) como a

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influência social normativa (para eles a consideração das pessoas é mais


importante).

 Género: Estudos iniciais sugeriram que a mulher é mais suscetível ao


conformismo.

Mas isto depende dos tópicos: em domínios tipicamente masculinos, as


mulheres revelam mais conformismo, mas não em domínios neutros ou
tipicamente femininos
 Conformismo: sumário

O conformismo pode ser uma resposta a pressões sociais implícitas


ou explícitas, e pode ser o resultado de mimetismo automático, a
influência social normativa ou informativa.

O tamanho do grupo influencia a conformidade, mas parece


alcançar o máximo de eficiência por volta das quatro pessoas.
A unanimidade também é crucial em conformidade, e um único
aliado parece ajudar um indivíduo a resistir contra o grupo.

As pessoas conformam-se mais com outras pessoas com estatuto


elevado ou perícia e quando expressam as suas opiniões publicamente
em vez de ser em privado.

As pressões de culturas interdependentes conformam-se mais do


que pessoas de culturas independentes.
Obediência à autoridade

A investigação sobre quando e porquê as pessoas obedecem às


ordens de uma figura de autoridade inclui um dos estudos mais famosos
de Psicologia Social: os estudos de Stanley Milgram.

Milgram estava interessado em saber se o tipo de pressões


observadas nos estudos do conformismo de Asch seriam suficientemente
poderosas para levar as pessoas a fazer algo muito mais significativo do
que reportar o comprimento correto de uma linha.

Ele perguntou-se o que aconteceria se ele pedisse aos


participantes para darem choques elétricos sempre que um alegado
participante que estava a realizar uma tarefa respondesse
incorretamente.

Esta é uma questão interessante, mas Milgram nunca chegou a


respondê-la com um estudo de conformismo de grupo, tipo Asch. Isto
porque, antes disso ele precisava de obter dados de um grupo de
controlo para determinar a disposição dos participantes para darem
choques elétricos quando não havia qualquer pressão para conformismo

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com um grupo de participantes. E é aí que ele se deparou com um


resultado surpreendente: uma grande percentagem de participantes
estava disposto a fazer algo que prejudicava outra pessoa, mesmo
quando não havia nenhum grupo de outros participantes que ditassem
a norma.
 A relação com o aluno:

Milgram estudou como aumentar a disposição das pessoas para


resistirem à autoridade e terminarem o estudo a meio. Milgram estudou o
papel da consciência que o participante tinha do sofrimento do aluno,
tornando-o mais proeminente:

o Na versão de feedback remoto, o participante não


conseguia ver nem ouvir o aluno (exceto no episódio em que
este batia na parede);
o Na versão de feedback de voz, o aluno ainda não estava à
vista, mas ele e os seus vigorosos protestos eram claramente
audíveis, e o professor estava constantemente consciente
disso;
o Numa nova versão de proximidade, o aluno recebia os
supostos choques na mesma sala onde o participante os
administrava, apenas a 1,5m de distância um do outro;
o Finalmente, numa versão de proximidade de toque, o
participante tinha de forçar a mão do aluno a tocar na
placa de choque.

Á medida que a vítima se tornou cada vez mais presente e «real», os


participantes achavam mais e mais difícil dar os choques e a taxa de
obediência.
 Envolvimento passo-a-passo:

Um fator crucial que promove a obediência é que os participantes nos


estudos de Milgram não deram logo o choque máximo de 450v. Ao início
o choque foi apenas de 15v, 30v, 45v, - em progressivos passos pequenos.
Uma vez que os participantes enveredam por esse caminho, tornou-se
difícil parar.

A natureza passo-a-passo da obediência dos participantes nestas


experiências é um poderoso motivo pelo qual tantos participantes
administraram os choques de 450v. Os participantes não sabiam onde ia
parar a experiência.
 Os estudos de Milgram: sumário

O estudo da obediência foi liderado pelas experiências de


Milgram, as quais demonstraram a surpreendente apetência da maioria

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dos participantes para seguirem ordens nocivas dadas por uma figura de
autoridade.

Esta tendência para obedecer diminui, porém, quando são criadas


condições de proximidade/empatia com a vítima, e aumenta com a
distância da mesma.

Embora os resultados de Milgram possam parecer surpreendentes,


eles tornam-se mais compreensíveis se considerarmos o envolvimento
passo-a-passo dos participantes.

Estes estudos sugerem uma visão normalista do crime e da


brutalidade: qualquer pessoa, nas circunstâncias «certas» seria capaz de
exercer violência.
Os estudos de Milgram: Impacto na Psicologia

Psicologia da Personalidade: obrigou a rever teorias «internalistas»


como a psicodinâmica, pelas quais os comportamentos, pensamentos e
sentimentos dos indivíduos seriam totalmente determinados por traços e
disposições.

Começaram-se a considerar explicações situacionais, pelas quais


as situações fortes podem dominar o valor preditivo de variáveis de
personalidade, mesmo em pessoas com boas intenções. E obrigou a
repensar projetos de larga escala que na altura estavam a tentar
identificar os tipos de personalidade que levariam a cometer atrocidades
como aquelas cometidas na II Guerra Mundial.

Nunca mais a psicologia pôde ignorar o poder da situação e agora


estuda o comportamento em função da interação pessoa x situação.
Os papéis sociais

Zimbardo estava interessado em descobrir se a brutalidade


frequentemente relatada acerca dos guardas nas prisões americanas
era devido à personalidade sádica dos guardas ou ao ambiente
prisional.
 O estudo da prisão de Stanford: conclusão

As pessoas conformam-se facilmente aos papéis sociais que


desempenham e à situação.

O ambiente «prisional» foi um fator importante na criação do


comportamento brutal dos guardas (nenhum dos participantes que
agiram como guardas mostrou tendências sádicas antes do estudo).

Estes resultados suportam uma explicação situacional e não


disposicional do comportamento.

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A maioria dos guardas achou difícil de acreditar que se tinham


comportado de um modo tão brutal. Muitos disseram que não sabiam
que esse lado deles existia ou que eles eram capazes de tais coisas.

Os prisioneiros também não podiam acreditar que haviam


respondido de forma tão submissa e dependente. Vários afirmaram ser
tipos assertivos normalmente, fora daquele controlo.

Certas características do estudo da prisão de Stanford podem


ajudar a compreender consequências bem reais no mundo: Algumas
sociedades vão à guerra sem que os jovens guerreiros mudem a sua
aparência, enquanto noutras há transformações ritualísticas de
aparência, por exemplo, com pinturas ou máscaras. Sabe-se que as
sociedades em que há transformação da aparência dos guerreiros, estes
são mais violentos.
Altruísmo
Os estudos anteriores mostraram que a situação- mais do que a
pessoa- determina o mal que fazemos.

E o bem: é determinado pelo tipo de pessoas que somos e os


valores que temos, ou pela situação em que estamos?
Outros exemplos do poder da situação:

 O estudo do bom samaritano: a natureza da orientação religiosa


não previu o comportamento de ajuda; mas a situação (pressa)
sim;
 A presença de outras pessoas: um fator importante que influencia
se as pessoas param para ajudar os outros é a presença de outras
pessoas;

A intervenção do espectador (bystander) refere-se a ajudar alguém


quando testemunhamos uma emergência.

Os estudos de Latané revelam que as pessoas não menos propensas a


ajudar quando outras pessoas estão por perto.

Ironicamente, a presença de outros espectadores em situações de


emergência reduz a probabilidade de ajuda por causa de uma difusão
da responsabilidade: sabendo que outros viram também a situação,
cada espectador tende a assumir que eles vão intervir e, portanto, cada
pessoa sente-se menos responsável por ajudar. E também procuramos
inferir do comportamento dos outros as normas do que se deve ou não
fazer em cada situação.

 O efeito da disposição (mood): um estado de humor positivo


promove comportamentos como contribuir com dinheiro para

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instituições de caridade. Mesmo que esse estado de humor seja


apenas o resultado de manipulações subtis da situação e não o
resultado de diferenças estáveis na personalidade ou valores;

Podemos usar este conhecimento sobre o poder da situação.


Especificamente, podemos mudar a arquitetura da situação para mudar
o comportamento. Exemplo: Assinar no início ou no fim. Muitos dos
formulários exigidos pelas empresas e pelo governo dependem da nossa
honestidade. A prova da nossa intenção honesta é tipicamente
fornecida por uma assinatura no final. Mas as pessoas frequentemente
fornecem informação falsa para ter proveitos financeiros, com grandes
custos para a sociedade. Alguns autores testaram um método fácil de
implementar para desencorajar a desonestidade: assinar no início e não
no fim. Em estudos de campo e de laboratório, descobriram que assinar
antes torna os valores de ética mais salientes e reduz significativamente
a honestidade.

Quando as pessoas sabem dos estudos clássicos que vimos,


atribuem imediatamente à personalidade dos participantes, e
descontam o papel da situação.

O mesmo acontece para o conformismo: as pessoas não


reconhecem que o seu comportamento é influenciado pelo gosto e
escolhas dos outros, mas rapidamente reconhecem essas influências no
comportamento dos outros.
Porque é que não compreendemos o poder da situação?

 O erro fundamental de atribuição: Fazemos atribuições simplistas


sobre o comportamento dos outros meramente com base na sua
personalidade (ex: se ele me deu um choque de 450v, então deve
ser mau).

Zimbardo argumentou que, embora o mal seja frequentemente causado


por forças situacionais (coerção, normas culturais, influência de pares), a
pessoas são muitas vezes incapazes de detetar a influência da situação
e fazem atribuições simplistas do comportamento dos outros, referindo-se
aos traços de personalidade.

Atribuições que têm em conta a situação são cognitivamente mais


exigentes e apenas são possíveis quando há tempo, motivação e
recursos cognitivos.
Crença no mundo justo

Vimos que uma maneira de fazer sentido do sofrimento causado


por X a Y é atribuir o comportamento de X à sua maldade, descontando
forças situacionais.

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Outra maneira de fazer sentido da maldade é culpar Y, a vítima.

As pessoas têm a necessidade de acreditar num mundo justo, no


qual coisas boas acontecem a pessoas boas e coisas más acontecem a
pessoas más. Quando essa crença é ameaçada por um evento em que,
por exemplo, uma coisa má aconteceu a uma pessoa boa, uma das
maneiras de resolver essa dissonância é atribuir parte da culpa à pessoa
boa e, assim, a pessoa é julgada como menos boa.
 O impacto destes estudos

Os estudos clássicos sobre conformidade, obediência e apatia do


espectador iluminam aspetos importantes.

Foram surpreendentes porque desferiram um rude golpe na


sabedoria convencional de que as pessoas agem de forma
independente, que resistem a ordens malignas da autoridade, e que na
sua maioria estariam prontamente dispostas a ajudar outras pessoas
numa emergência.
Cerne da psicologia social:

As influências situacionais sobre o comportamento são


frequentemente muito maiores do que o senso comum ditaria; mas
enquanto recipientes sociais que tentem compreender o mundo, os
indivíduos tendem a descontar o impacto de variáveis situacionais no
comportamento dos outros e a assumir que fatores disposicionais como
a personalidade estão por detrás do comportamento dos outros.
Interacionismo
Ao contrário do que se poderia esperar com base nas teorias
vigentes, a Psicologia da Personalidade nos anos 70 descobriu que a
consistência inter-situacional do comportamento é extremamente baixa.

Paradoxo da Personalidade: Como é que que pode haver


personalidade se o nosso comportamento é tão variável?

A solução: Mesmo a conceção da personalidade deve ter em


conta o poder da situação. A personalidade só tem valor preditivo se se
tiver em conta a situação específica.
Existem duas explicações possíveis para o comportamento ou porque as
pessoas fazem o que fazem em qualquer situação:

 O comportamento é função dos traços de personalidade;


 O comportamento é função das forças situacionais.

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Há variedade em ambas as afirmações. Exemplo, as pessoas


comportam-se de forma diferente em funerais do que em eventos
desportivos, pelo que a situação influencia o comportamento.

Algumas pessoas, no entanto, são consistentemente calmas e


silenciosas, mesmo em eventos desportivos, enquanto outras pessoas são
conversadoras e sociáveis, mesmo em funerais. Estes exemplos
demonstram a influência da personalidade no comportamento.

A maneira de investigar estes dois pontos de vista é pensar que o


comportamento é uma função da interação entre traços de
personalidade e forças situacionais.

Na visão interacionista, alguns traços apenas se manifestam em


determinadas situações. Determinadas situações muito específicas
podem provocar comportamentos que, de outra forma, não são
habituais ao indivíduo.
Algumas interações característica-situação são raras porque os
tipos de situações que provocam comportamentos relacionados a esses
traços são raros. Daí concluirmos que as pessoas nos estudos de Milgram
são inerentemente maldosas.

As pessoas acreditam que são fortes e independentes e preveem


que se recusariam a aceder a pedidos ou pressões sociais para executar
comportamentos sociais indesejáveis. Na realidade, quando essas
mesmas pessoas são confrontadas com pedidos, elas geralmente estão
bastante dispostas a concordar em ter comportamentos socialmente
indesejáveis.

E Sherman também provou que, da mesma forma que


subestimamos o mal que faríamos confrontados com um pedido/ordem
de alguém, também sobrestimamos largamente o bem que faríamos. Os
seus estudos mostram que, apesar de frequentemente termos boas
intenções, nem sempre agimos de acordo com as mesmas.
O paradoxo das obras de sucesso

Músicas, livros e filmes de sucesso são muito mais bem-sucedidos


do que a média dos outros, sugerindo que são qualitativamente
diferentes do resto, isto é, que há algo de verdadeiramente especial
neles.

Porém, muitas vezes os especialistas não conseguem prever quais


os produtos que serão bem-sucedidos.

Assim há um paradoxo: porque é que são tão diferentes de prever


a priori? Se há uma qualquer qualidade inerente neles, então não

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deveria ser possível detetar essa qualidade a priori para prever o seu
sucesso?
Profecias auto confirmatórias e influência social

Até que ponto a perceção de sucesso se pode tornar numa


profecia auto confirmatória, tal que aquilo que começa por ser uma
vantagem espúria, por motivos não relacionados com a qualidade de
um produto, se transforma em popularidade real?
 Popularidade causa popularidade: conclusão

As pessoas usam a popularidade como uma pista (heurística) para


inferir qualidade: se muitas pessoas gostam, então deve ser bom. Mas
esta pista nem sempre é válida. Como vimos, há coisas que se tornam
populares aleatoriamente, só porque um N de pessoas aderem ao início,
gerando um efeito em cascata.
A sabedoria das multidões

Os grupos sociais podem revelar-se notavelmente sábios quando


os seus julgamentos médios são comparados com os julgamentos
individuais dos seus membros, isto é, agregar as opiniões independentes
de várias pessoas pode levar a melhores julgamentos e decisões do que
aquelas que essas pessoas fariam individualmente.

Este efeito foi replicado em muitos domínios: estimativas de


crescimento económico, quis shows, etc.

Isto acontece porque os erros idiossincráticos (maneira de agir


específica de uma pessoa) nas escolhas de cada pessoa (sub-
estimativas e sobre-estimativas) cancelam-se uns aos outros. Mas isto só
acontece quando os julgamentos individuais são independentes. Se as
pessoas se influenciam umas às outras, perde-se a sabedoria da
multidão.
Dois critérios para haver sabedoria das multidões:

 Diversidade de opiniões (cada pessoa deve ter informação


privada mesmo que seja uma interpretação excêntrica dos
factos);
 Independência (as opiniões das pessoas não devem ser
determinadas por outras pessoas).

Basta uma leve influência social para minar a sabedoria da


multidão.
Como promover boas decisões de grupo

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É importante conseguir eliciar informação idiossincrática de todas


as pessoas. Em reuniões ou discussões de grupo, as pessoas deveriam
expressar a sua opinião antes de se exporem à opinião dos outros (ex:
escrevendo-a de início).

É também importante encorajar a discórdia: vimos nos estudos de


Asch que basta uma voz discordante para encorajar mais dissensão. E
nem é preciso que tenhamos a mesma opinião da pessoa discordante.

Apesar dos estudos analisados sugerirem que a influência social


leva à convergência de escolhas e opiniões, outra forma menos óbvia
de influência social é quando fazemos as nossas escolhas de forma a
serem o oposto do que a maioria faz.

Num sentido bem leal, as escolhas dos outros determinam as


nossas, e nesse sentido somos influenciados por outros, mesmo os outros
dos quais procuramos ser diferentes.
Fazer o contrário dos outros

As pessoas não têm apenas o desejo de se conformar às opiniões


dos outros (por influência informativa ou normativa). Por vezes, têm o
desejo de se diferenciar. Seja para ganhar estatuto ou destaque no seio
de um grupo, seja para não parecer conformista, o que é mal visto em
certas culturas.

Assim, pode gerar-se um conflito entre 2 tipos de objetivos: há


objetivos do indivíduo que são independentes da presença dos outros
(ex: satisfazer o nosso próprio gosto); mas também há objetivos que
dependem das escolhas dos outros membros do grupo ou que são
induzidos pela mera existência de um contexto de grupo (ex: o desejo de
se mostrar interessante e único).

Quando fazemos as nossas escolhas só para sermos diferentes


podemos ficar menos satisfeitos. Ironicamente, a opção mais corajosa,
isto é, sem medo de parecer igual aos outros, e que é mais coerente,
com os nossos gostos e valores, pode ser a opção mais conformista.
Conformismo Vs. Diferenciação

O que determina se a influência do grupo produz conformismo ou


diferenciação são os motivos que dominam em cada momento:

 Quando o indivíduo está sozinho, o principal objetivo que está ativo


é a satisfação dos seus gostos pessoais;
 Quando o indivíduo está em grupo, os objetivos podem ser:
o Passar uma imagem favorável: isto pode envolver dar a
imagem de que se é um membro integrado de uma equipa;

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ou dar uma imagem de que se é único, interessante e não


conformista;
o Minimizar o arrependimento: a pessoa pode querer evitar o
arrependimento de, por exemplo, ver alguém a comer um
prato melhor que o dela;
o Recolher informação: pode-se querer conhecer mais opões.

A influência, ao ser espontânea, invisível e não deliberada, não


deixa de ser menos poderosa, sendo exatamente o contrário, uma vez
que não tem de enfrentar a reatância que surge quando as pessoas
sentem que estão a tentar ser persuadidas por outrem.
Teoria dos múltiplos eus e Teoria da comparação social

Os outros também influenciam a forma como pensamos acerca de


nós próprios.

A forma como pensamos acerca de nós depende do nosso


contexto social, das pessoas que nos rodeiam.

Temos diferentes eus, diferentes aspetos do nosso autoconceito


que transportamos connosco e que são ativados em função do contexto
social.

A forma como nos vemos é influenciada pelo ambiente social que


nos rodeia (processos de comparação social).

O nosso eu social (como nos comportamos e até o que pensamos)


muda drasticamente de uma situação para a outra.

Em situações em que as pessoas têm um qualquer fracasso,


crenças e sentimentos negativos sobre o eu vêm à tona.

Markus e Wurf cunharam o termo autoconhecimento


momentâneo para se refletir à ideia de que apenas um subconjunto do
vasto conjunto de autoimagens e autoavaliações é trazido à mente num
dado contexto- geralmente o subconjunto que é mais relevante ou
apropriado na situação atual.
Princípio da Distintividade: nós definimo-nos por posição aos outros.

Atributos nossos que são distintivos em contexto social tornam-se


mais acessíveis. De acordo com a hipótese da distintividade, nós
tendemos a definir-nos por aquilo que nos torna únicos numa
determinada situação.

Por vezes, o que é mais importante para a identidade é aquilo que


nos distingue dos outros.

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Teoria da comparação social: as pessoas comparam-se com outras


pessoas a fim de obterem uma noção das duas próprias opiniões,
capacidades e estados internos.

Muito do que sabemos e pensamos sobre nós próprios é aprendido


através de comparações com as outras pessoas: em domínios ambíguos
é difícil definir objetivamente o critério para ser bom ou mau. À falta de
critérios objetivos universais, julgamos o nosso valor nessas dimensões
através de comparações com outras pessoas.
Três motivos para a comparação social:

 Autoavaliação: comparamo-nos com os outros para nos


conhecermos melhor, para termos informação sobre as nossas
características e capacidades;
 Melhoria/Desenvolvimento: comparamo-nos com os outros
quando queremos melhorar nalgum domínio e queremos aprender
com certos modelos;
 Auto enaltecimento: por vezes não estamos interessados em ter
feedback preciso e realista, ou em aprender com os outros; por
vezes, desejamos ter feedback que nos favoreça como
bons/melhores que os outros. Assim, outro caso em que nos
comparamos com os outros é quando queremos promover ou
defender uma autoimagem positiva.

Para cada comparação, existe um número infinito de possibilidades


de alvos de comparação. Como escolher com quem nos devemos
comparar?
A resposta a esta pergunta depende da motivação em causa:

Na teoria original de Festinger, o pressuposto era o de que as


pessoas comparam-se com outras para obter autoconhecimento preciso
e honesto. Assim, Festinger hipotetizou que as pessoas se comparam com
outras similares e não com padrões muito superiores ou inferiores.

Assim, se a motivação é o autoconhecimento, tendemos a


comparamo-nos com pessoas semelhantes. Mas se a motivação é o auto
enaltecimento (manter ou aumentar a autoestima positiva), tendemos a
fazer comparações descendentes com outras pessoas que são piores
que nós. Um fracasso não parece tão mau quando comparado com um
fracasso maior.

Outra forma de satisfazer a motivação do auto enaltecimento e


sentirmo-nos bem connosco através de comparação descendente é
compararmo-nos connosco mesmo no passado: na medida em que, se
tivermos desenvolvido as nossas capacidades, é fácil sentirmo-nos bons
ou, pelo menos, melhores.

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Até há estudos que sugerem que as pessoas fazem o seu eu do


passado parecer pior do que na verdade era de forma ao seu eu atual
parecer melhor por comparação.

Porém, estas comparações ascendentes acarretam sempre o risco


de desafiar a nossa autoestima. Para gerir estas ameaças, nós temos
maneiras defensivas de reagir a estas comparações, como por exemplo,
negligenciar a relevância do alvo de comparação.

Isto revela a natureza estratégica da comparação social: para


satisfazermos as várias motivações fazemos comparações com direções
diferentes:

 Autoavaliação: comparações laterais;


 Auto enaltecimento: comparações descendentes;
 Autodesenvolvimento: comparações ascendentes.
Consequências da comparação social

Afeta uma vasta gama de comportamentos, julgamentos,


emoções e cognições.

Exemplo: as pessoas sentem-se piores depois de se compararem


com outros melhores a elas, mas, ao mesmo tempo, isto pode ser a
consequência positiva de aumentar a sua motivação e até o seu
desenvolvimento.

Do mesmo modo, comparações descendentes podem fazer-nos


sentir melhor connosco próprios a curto prazo, mas podem comprometer
a nossa motivação e desempenho no futuro. Poderíamos aprender com
pessoas que são melhores do que nós, e assim sacrificamos
oportunidades de melhoria.

Há que gerir os custos e benefícios do auto enaltecimento e do


autodesenvolvimento.
 Conclusão

A situação influencia a forma como pensamos acerca de nós


próprios: os vários eus sociais que transportamos variam de contexto em
contexto.
E o eu social é moldado por comparação com outras pessoas.
Estereótipos

Os estereótipos são estruturas de conhecimento que contêm todos


os atributos (ex: traços de personalidade, comportamentos, ações,
características físicas, etc) tidos como características dos grupos sociais
ou de indivíduos pertencentes a esses grupos.

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 Podem ou não ter um fundo de verdade;


 Podem ser negativos ou positivos;
 Podem ser conscientes ou implícitos (inconscientes);
 Podem ser aceites ou rejeitados;
 Podem ter funções positivas ou negativas;
 Podem ou não ter impacto no comportamento;
 Podem ter consequências positivas ou negativas.

Preconceito: Atitude negativa em relação a um grupo ou a um


elemento desse grupo (ex: sexismo, racismo, homofobia, etc).

Discriminação: Comportamentos ou ações negativas em relação


a um grupo de pessoas, ou a uma pessoa desse grupo.
Etiologia dos estereótipos:
 Abordagem Psicodinâmica

Com raízes no pensamento Freudiano, esta abordagem vê os


estereótipos (e o preconceito) como manifestações de impulsos
humanos inaceitáveis. Os estereótipos são usados para lidar com conflitos
internos e satisfazer necessidades motivacionais.

A teoria mais importante foi a de Adorno et al. (1950) sobre a


personalidade autoritária (dimensão básica de personalidade que
determina em que medida os sujeitos estão dispostos a desenvolverem
estereótipos).
Resultado de sociedades repressivas:

 Privilegiam estilos autoritários de educação; punem a contestação


e a crítica à autoridade;
 A repressão desloca essa agressividade para alvos
psicologicamente afastados da autoridade (grupos desprovidos
de poder, marginais, minoritários);
 A sua prevalência na sociedade está na génese e sustentação de
regimes autoritários.

A teoria da Personalidade Autoritária foi rapidamente colocada em


causa e abandonada:

 Problemas metodológicos com a escala autorizada;


 Vários estudos mostram consequências negativas dos estereótipos
face a vários grupos minoritários independentemente do nível de
autoritarismo dos participantes;
 Vários estudos demonstram que os estereótipos têm um forte
componente contextual (mudam em função do contexto);
 Os estereótipos são a regra e a exceção.

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Carolina Loureiro

Os estereótipos resultam de fatores sociais e culturais:

 São fruto de processos de aculturação/assimilação de valores


culturais;
 Resultam da competição e conflito intergrupal e da frustração
social (crises sociais, económicas, etc.);
 A estabilidade inter-individual (consenso) e temporal dos
estereótipos depende da estabilidade social (valores culturais).

 Abordagem Cognitiva:

Os estereótipos resultam de processos cognitivos básicos:

 Categorização Social- paradigma dos grupos mínimos:


o Os participantes foram classificados como membros de 2
grupos de acordo com as suas preferências;
o Grupo Kandinski e Klee;
o De seguida realizaram uma tarefa individualmente: Decidir
quantos pontos queriam atribuir a pares de participantes;
o Resultados: Os participantes escolheram mais vezes as
opções que garantiam uma diferenciação positiva entre o
endogrupo e o exogrupo, em detrimento de escolhas que
garantiam o máximo benefício para o endogrupo.
 Correlações Ilusórias;
 Evolução Cultural Cumulativa.
E nas crianças?

Investigação mostra que as crianças desenvolvem estereótipos


étnicos, género e idade por volta dos 3 anos. Mesmo crianças mais novas
já mostram conseguir categorizar os indivíduos com base na etnia,
género e idade.

Algumas investigações sugerem que os estereótipos de género são


mais fortes.

Fatores como a influência dos pais (sobretudo das mães),


desenvolvimento de conceções sobre coligações/alianças sociais e
saliência de categorias (ex: casas de banho separadas por sexo)
contribuem para o desenvolvimento de estereótipos.
Funções dos estereótipos:

 Garantem a eficiência cognitiva: Os estereótipos facilitam a


perceção social na medida em que fornecem o percipiente com
conhecimento amplo e de fácil aplicação. Neste sentido, a sua

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Carolina Loureiro

função é simplificar e estruturar o mundo social e fornecer um guia


eficiente para a perceção social;
 Promover o self: A principal função dos estereótipos é promover e
proteger o self (autoconceito e autoestima) e o bem-estar;
 Explicam e promovem as estruturas sociais: Os estereótipos
atendem a importantes necessidades socio-funcionais, tal como
justificar, manter e reforçar os papéis sociais de diferentes grupos
na sociedade.
Será que os estereótipos são ativados de forma automática?

Sim, a categorização social produz a inevitável ativação do


estereótipo associado a essa categoria.
Ativação de representações mentais:

 Disponibilidade: Possuir determinada representação mental (ex:


estereótipos de género);
 Acessibilidade: O grau em que uma representação mental está
atualmente ativa na mente;
o Acessibilidade temporária;
o Acessibilidade crónica.
 Aplicabilidade: Utilização do estereótipo ativo nos julgamentos,
decisões, reações, etc, face a um grupo social ou elemento desse
grupo.
O modelo dualista de Devine (1989)
Pressupostos do modelo:

 As experiências de socialização ao longo da vida fornecem-nos


com estereótipos acerca dos grupos sociais;
 O facto de se ter conhecimento de determinados estereótipos não
significa que subscrevamos esses estereótipos: as crenças pessoas
podem ou não ser congruentes com o estereótipo cultural;
 Pessoas com alto e baixo preconceito diferem nas suas crenças
pessoais acerca do estereótipo cultural;
 Pessoas com baixo preconceito possuem crenças pessoais
inconsistentes com o estereótipo. O estereótipo entra em conflito
com as suas crenças igualitárias;
 A ativação dos estereótipos culturais é automática, uma vez que
se trata de conhecimento com uma história de ativação longa
(maior frequência de ativação);
 A ativação de crenças pessoais é um processo controlado, que
requer recursos atencionais;

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Carolina Loureiro

 Respostas explícitas não preconceituosas requerem a inibição


intencional do estereótipo automaticamente ativado e a ativação
das crenças pessoais;
 O conhecimento do estereótipo pode influenciar as respostas,
mesmo daqueles que não subscrevem o estereótipo.
Aplicação de estereótipos
Uma vez ativos, os estereótipos podem influenciar:

 A perceção de grupos e elementos desses grupos;


 A interpretação de comportamentos e traços de personalidade;
 O tipo de informação que recordamos;
 Os nossos julgamentos e decisões.
Fatores que promovem a aplicação de estereótipos:

 Ambiguidade e/ou ausência de informação específica;


o Exemplo: o mesmo comportamento quando executado por
um branco foi percebido como gozo/brincadeira; quando
executado pr um negro, foi percebido como agressivo.
 Situações que dificultam o processamento elaborado da
informação:
o Tarefas complexas;
o Ritmos circadianos;
o Sobrecarga cognitiva;
o Pressão temporal.
 Motivações para estereotipar:
o Situações de ameaça;
o Crítica social.
Estratégias para controlar a aplicação de estereótipos:

 Ao nível do indivíduo:
o Correção intencional do enviesamento;
o Recategorização;
o Individualização.
 Ao nível institucional e cultural:
o Normas sociais;
o Diversidade de ideologias;
o Ambientes diversos.

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