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Obediência

A obediência é necessária para que uma sociedade ou grupo funcionem; porém, a


obediência acrítica pode conduzir a comportamentos atrozes e desumanos.
O problema da obediência é o saber até que ponto é legítimo obedecer: a
obediência é a influência social na sua forma mais direta e poderosa.
Obediência: é uma mudança de comportamento em resposta a ordens e instruções de
alguém reconhecido como autoridade. Nesta forma de influência, as ordens diretas
têm como objetivo induzir a submissão.
Stanley Milgram (1933 - 1984) foi um psicólogo norte-americano graduado da
Universidade de Yale que conduziu a experiência dos pequemos mundos (a fonte do
conceito dos seis graus de separação) e a Experiência de Milgram sobre a obediência à
autoridade.
Esta experiência tinha como objetivo o estudo das reações individuais face a
indicações concretas de outros. A obediência era medida através das ações manifestas
e implicava comportamentos fonte de sofrimento para outros.

Experiência:
1- Um voluntário apresentava-se para participar na experiência, sem saber que seria
avaliado na sua capacidade de obedecer a ordens. Era colocado no comando de uma
falsa máquina de infligir choques;
Os sujeitos eram encarregues num suposto papel de “professor” numa experiência
sobre “aprendizagem”.
2- A máquina estava ligada ao corpo de um homem mais velho e afável, que era
submetido à uma entrevista numa sala ao lado. O voluntário podia ver o homem mais
velho, mas não era visto por ele;
3- O voluntário era instruído por um investigador a acionar a máquina de choques
todas as vezes que a pessoa errava uma resposta. A intensidade dos choques
aumentava supostamente 15 volts por cada erro cometido, desde 15 (marcado na
máquina como “choque ligeiro”) até 450 volts (marcado na máquina como “perigo:
choque severo”);
4- À medida que a intensidade dos choques aumentava a pessoa queixava-se cada vez
mais até que se recusa a responder;
O experimentador ordena ao sujeito para continuar a administrar choques. ”Tu não
tens alternativa, tens que continuar”.
Conclusão: Mesmo vendo o sofrimento, a maior parte dos voluntários continuava
obedecendo às ordens e infligindo choques cada vez maiores. A intensidade máxima,
450 v, significaria hipoteticamente matar a outra pessoa. 65% das pessoas obedeceram
às ordens até o fim e deram o choque pretensamente fatal.

Fatores que influenciam a obediência


A experiência de Milagram levou os investigadores a averiguarem quais as condições
que favorecem o comportamento obediente. Poderíamos sintetizar identificando
alguns fatores: a proximidade com a figura de autoridade, a legitimidade da figura de
autoridade, a proximidade da vítima e a pressão do grupo.
1. A proximidade com a figura de autoridade
Quanto mais próxima estiver a figura de autoridade, maior é a obediência: as pessoas
sentem-se mais intimidadas e obedecem mais. Na experiência que comentámos se as
instruções do investigador eram dadas pelo telefone, a obediência baixava para 20,5%.
2. A legitimidade da figura de autoridade
Quanto mais reconhecida for a autoridade, maior é a obediência. Se o estatuto de
quem dá as ordens for reconhecidamente mais elevado, mais elevado é o nível de
obediência. O reconhecimento de sinais de autoridade como a bata do investigador, a
farda e as insígnias da autoridade policial, por exemplo, aumenta a obediência.
3. A proximidade da vítima
Nas várias modalidades da experiência, Milgram fez variar a proximidade entre os
participantes e os colaboradores. Na situação em que não havia contacto visual ou
auditivo, 100% dos participantes tingiam a voltagem máxima. Se a “vítima” era visto
pelos participantes, a percentagem descia para 40% e para 30% se o participante
tocava na “vítima” ao colocar-lhe os dispositivos.

4. A pressão do grupo
Numa segunda fase da experiência, Milgram procurou saber o que aconteceria numa
situação de grupo em que dois dos sujeitos se recusavam a obedecer às ordens do
experimentador. Nestas circunstâncias, só 10% dos participantes infligiam descargas
elétricas atá aos 450 volts. A maioria recusava-se a ultrapassar metade da escala. O
efeito do grupo anulou o efeito de autoridade do experimentador.
Concluímos com uma afirmação de Milgram: “A essência da obediência é que uma
pessoa passa a ver-se como o instrumento para executar os desejos de outras pessoas
e, portante, não se considera responsável pelas suas ações”.
Inconformismo e inovação:
A história da Humanidade testemunha que a mudança, a todos os níveis, foi
desencadeada por conceções, atitudes e comportamentos que não respeitaram o que
socialmente estava estabelecido como correto e desejável. Basta refletirmos nas
grandes revoluções científicas levadas a cabo por Copérnico, Darwin e Freud para
constatarmos que foi o inconformismo destes homens que transformou o modo como
os seres humanos se concebem. Os exemplos não faltam ao nível da atividade
económica, política (as revoluções, por exemplo], tecnológica, cultural. Reflete no que
se passa na música, pintura, escultura, dança, etc. Os modos de vida, as interações
sociais, mudam.
Pode-se definir inconformismo como a adoção de conceções, atitudes e
comportamentos que não respondem às expectativas do grupo. As pessoas em que a
pertença ao grupo constitui uma parte importante do seu autoconceito têm mais
probabilidade de se conformarem devido à influência normativa; se a pertença ao
grupo não tiver essa importância, é menos provável submeterem-se às normas do
grupo.
As pessoas que adotam atitudes inconformistas são, frequentemente, objeto de crítica
social, que pode ir desde o sarcasmo à sanção e até à marginalização. O desvio, a
dissidência, são encarados como desagregadores da ordem social e são tão mais
criticados e reprimidos quanto mais importante for, para o grupo social, a norma não
respeitada.
Assumidos por minorias, os comportamentos inconformistas, geradores de inovação,
acabam muitas vezes por ser integrados pelo sistema social. A mudança social
encontra neste processo a sua origem.

O efeito das minorias


Enquanto Asch estudou o efeito da influência da maioria no comportamento de um
grupo de indivíduos (conformismo), Moscovici pretendia conhecer a influência da
minoria que é geradora de inovação.
Assim, orientou, com outros investigadores, em 1969, uma experiência em que
envolveu seis indivíduos. Depois de passarem por um teste, em que se assegurou que
tinham uma perceção adequada das cores, explicou que os presentes deveriam atribuir
uma cor simples ás imagens que iram percecionar. Numa das modalidades da
experiência eram projetados 24 diapositivos com filtro azul. Dois dos seis indivíduos
são cúmplices do experimentador e, seguindo as suas instruções, intervêm em
primeiro lugar e afirmam que a cor é verde.
Nas condições experimentais em que os cúmplices são firmes nas dos sujeitos são
influenciados e respondem verde. Se as suas respostas não são consistentes, isto é, se
variam, não se observa qualquer modificação nas respostas dos outros quatro
participantes. A consistência das respostas da minoria é condição de influência sobre a
maioria, talvez porque intensifica o conflito com a maioria.
Esta experiência levou Moscovici a concluir que uma minoria, para ser atuante, deve
ser coerente e consistente as respostas e nos comportamentos. Basta haver uma
divisão entre os membros da minoria que deixa de haver influência sobre a maioria.
Este processo é também afetado pela forma como os alvos de influência interpretam o
comportamento da minoria.
Fala-se de inovação quando o processo de influência social é promovido por uma
minoria que visa a mudança das normas e regras sociais de um dado grupo. A minoria
tenta alterar ou introduzir mudança no sistema dominante da maioria. É de notar que o
desvio do comportamento não visa o desrespeito pelas normas sociais vigentes, mas a
proposta de normas alternativas.
Como referimos quando descrevemos a experiência de Moscovici, o processo de
influência da minoria, e, por conseguinte, de inovação, ocorre quando há conflito, isto
é, quando no interior de um grupo alguns membros discordam da opinião da maioria,
apresentando alternativas. Esta situação gera incerteza, angústia, tensão, porque a
divergência ocorre no interior do nosso grupo. Há, assim, a procura de consenso. O
mesmo não aconteceria se a divergência tivesse origem num grupo exterior a nosso.
Note-se que as divergências no interior de um grupo propiciam, também,
oportunidades para a reflexão e a procura de novas respostas e sentidos.
É de recordar um aspeto importante para o qual Milgram chamou a atenção: a
influência da minoria depende muito da consistência das suas posições, fundadas a
firmeza da sua defesa e na convicção, segurança e autoconfiança de quem as defende.
O comportamento manifestado pela minoria é também um fator de influência. Assim,
para que a minoria possa ter efeito sobre a maioria, são necessárias algumas
condições: as suas posições devem traduzir-se de forma clara, serem consistentes e
firmemente sustentadas, apesar das pressões da maioria. Ao aparecer confiante e
segura das suas posições ao longo do tempo, a sua possibilidade de influência
aumenta, porque a maioria passa a ter em conta as suas posições.

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