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Resumo – Capítulo 9: Liberdade

 Liberdade – resposta às contingências aversivas: R-; P+; P-


 Liberdade de restrições – livre-arbítrio
 Liberdade política e social – coerção e controle aversivo
 Liberdade espiritual

Uso da palavra Livre

Há três tipos de uso da palavra livre:

1) Liberdade de restrições: As pessoas sugerem que liberdade é um atributo ou coisa


possuída, é a mesma ideia de livre-arbítrio, na qual está implícito que a pessoa tem a
liberdade de se comportar independentemente de seu ambiente passado ou presente.
(ficar livre da escravidão).
2) Liberdade política e social: o essencial é o problema de ter de enfrentar consequências
desagradáveis devido a certas opções. Ser perseguido por causa de suas convicções
não significa que você não possa agir de acordo com elas, mas que será punido por
fazê-lo.
3) Liberdade espiritual: refere-se à libertação de uma prisão metafórica.

Ser livre: Livre-arbítrio

Ser libertado de uma prisão representa a remoção de uma restrição física. Trancada em uma
cela, a pessoa não pode sair, a abertura da cela é como abertura de uma gaiola. No que se
refere a restrições, prisões e gaiolas são as mais óbvias. Essa forma particular de ser livre não
apresenta problema para a análise comportamental, porque se refere apenas ao fato de uma
ação ser ou não possível.

Você nunca opta livremente por respirar, andar ou mesmo aprender a falar. Essas opções
foram limitadas pelos seus genes e seu ambiente. Se fosse possível libertar-se desses limites,
então teríamos livre arbítrios.

Livre-arbítrio leva à presunção: “Se dependentes de cocaína são livres para optar por não usar
a droga, então a dependência é culpa dos dependentes. Eles deveriam “ter vergonha na cara”
e nenhum a ajuda lhes deveria ser dispensada.”

 Os analistas comportamentais defendem a tese de que, enquanto continuarmos


presumindo o livre-arbítrio, não conseguiremos resolver problemas pessoais. O
indivíduo que coopera devido a uma ameaça de punição pode, em princípio, ser livre
para enfrentara a ameaça, mas não se sente livre para fazê-lo.
 Se, porém, avançarmos para um referencial francamente comportamental e
tentarmos modificar o comportamento problemático - Skinner defendeu o uso do
reforço positivo, por duas razões. Primeiro, por ser extremamente eficiente. Segundo
(e este ponto é relevante para nossa discussão de liberdade), porque quando o
comportamento é modelado e mantido por reforço positivo, as pessoas não se sentem
coagidas; sentem-se livres.
Sentir-se livre: liberdade política e social

A falta de liberdade dos escravos tem menos a ver com restrição física, pois o escravo pode se
recusar a trabalhar. A consequência provável dessa recusa, porém, seria o chicote.

Também de pessoas que vivem em um estado policial se diz que não têm liberdade, porque
muitas de suas ações são proibidas pela ameaça de punição. Não se sentem livres, como
grande parte de nós que vivemos em um a sociedade democrática.

O principal obstáculo ao sentimento de liberdade é a coerção. As pessoas não podem se sentir


livres quando coagidas - isto é, quando seu comportamento é controlado pela ameaça de
consequências aversivas.

Coerção e Controle Aversivo

Dois tipos de controle aversivo, punição positiva e reforço negativo. Se falar o que pensamos
resulta em um a surra, nesse caso o falar foi positivamente punido. Se mentir evita a surra,
então o mentir foi negativamente reforçado. Em geral, os dois andam juntos; se uma ação é
punida, normalmente há alguma alternativa que evita a punição.

Os passos intermediários envolvem uma interação entre o controlador e o controlado.

Comportamento de ameaça (CA), produz um estímulo discriminativo para o controlado (S^),


em geral chamado de ameaça. O estímulo-ameaça determina a ocasião para a submissão (Cs) -
trabalhar, ou “fazer o que o patrão deseja” - de forma que o comportamento de ameaça do
controlador é positivamente reforçado como resultado da atividade do controlado; Para o
controlado, a consequência é a não punição (Não Sp), ou o reforço negativo de terminá-la.

O comportamento de ameaça do controlador é semelhante ao comportamento verbal: para


ser reforçado, exige um ouvinte - o controlado. - Quando duas pessoas reforçam mutuamente
seu comportamento, podemos dizer que elas têm um relacionamento.

 As principais características que definem a coerção: reforço positivo para o


comportamento do controlador associado ao reforço negativo para o comportamento
do controlado. Sempre que existir essa assimetria, diz-se que o controlado é coagido,
não tem liberdade, ou não se sente livre.

Inúmeras formas de relacionamento podem ser coercivas. Mas todos esses relacionamentos
coercivos podem ser substituídos por relacionamentos não-coercivos. Ex.: O pai pode dar afeto
ou presentes quando a criança obedece.

Por que, então, as pessoas recorrem tão frequentemente à coerção?

Os que sustentam que a coerção não é eficaz estão enganados, pois, devidamente treinados,
os seres humanos são extraordinariamente sensíveis a possíveis consequências aversivas, em
especial à desaprovação e isolamento social.

O problema da coerção são as consequências a longo prazo para a pessoa controlada e,


eventualmente, para o controlador. Com o passar do tempo, famílias ou sociedades que se
fiam na coerção como meio de enquadrar seus membros sofrerão desagradáveis efeitos
colaterais. Os mais relevantes são o ressentimento, o ódio e a agressão.

*Como forma de lidar com as pessoas, portanto, a coerção é ruim, porque torna as pessoas
rancorosas, agressivas e ressentidas.
Liberdade e Felicidade

Ao se falar de liberdade política ou social, se diz frequentemente que liberdade é ter escolhas.
Para os analistas do comportamento, “ter escolhas” não tem nada a ver com livre-arbítrio;
significa apenas a que mais de uma ação é possível. 

Nossa discussão de coerção sugere que a liberdade social consiste não tanto em ter escolhas
como em não ser punido por elas. Posso optar por integrar um partido político ou religião
banidos pela lei; dizemos que minha liberdade política ou religiosa é restrita, pois serei punido.

Sentimo-nos tanto livres quanto felizes, quando nos comportamos de uma maneira e não de
outra; não porque a ação que não escolhemos seria punida, mas porque a que escolhemos foi
mais positivamente reforçada. Evidentemente, é raro que uma escolha leve a

Evidentemente, é raro que uma escolha leve a resultados exclusivamente agradáveis, A


maioria das situações sociais são uma mistura de condições.

Observação: quanto menos nosso comportamento for modelado por punição e ameaça de
punição - quanto mais nossas escolhas forem guiadas por reforço positivo, mais nos
sentiremos livres e felizes.

Objeções ao ponto de vista comportamental

Várias objeções ao ponto de vista do analista comportamental sobre liberdade social são
levantadas pelos críticos, duas delas são especialmente relevantes:

1)A primeira objeção se baseia de que a liberdade consiste na ideia de que a liberdade consiste
em ser capaz de “fazer o que quero”. Na análise comportamental, o querer é a tendência a agir
que ocorre em um contexto em que houve reforço no passado.

Prossegue a objeção, você pode desejar coisas nunca experimentadas > Dois fatores explicam
o querer um a coisa nova: generalização e regras. A probabilidade de dizer que quer alguma
coisa só existe se você tiver tido experiência com coisas semelhantes.

Ex.: Talvez você nunca tenha estado no Caribe, mas já esteve em férias e fez outras viagens.
Você generaliza dentro da categoria “férias e viagens de lazer”.

2) A segunda objeção à explicação behaviorista da liberdade social - que é ingênua - advém do


ceticismo com relação ao caráter benigno do reforço positivo.

Poderia parecer que conceder ao controlador os meios para prover reforço positivo seria
conceder-lhe um poder que pode facilmente ser mal-empregado. Afinal, dizem os críticos, o
poder de dar é também o poder de tirar.

A resposta a essa objeção requer um a discussão mais cuidadosa da diferença entre


reforçadores e punidores.

O controle do comportamento por ameaças de perda do conforto habitual constitui uma


coerção igual ao controle por ameaças de tortura. É verdade que o poder de dar é também o
poder de tirar, e que esse poder pode ser mal-empregado. Quando ele for mal-empregado,
porém, as pessoas não se sentirão nem livres, nem felizes.

Reforço positivo significa prover relações de reforço pelas quais o comportamento socialmente
desejável pode levar o indivíduo a uma melhor sina. O reforço positivo, entretanto, tem um
problema: ele pode ser mal-empregado. Reforçadores pequenos, porém conspícuos, liberados
imediatamente, podem ser tão poderosos que as pessoas sacrificarão o bem-estar a longo
prazo pelo ganho a curto prazo. Essa situação pode ser chamada uma armadilha de reforço.

Armadilhas de reforço e autocontrole

1)Existe um reconhecimento implícito da armadilha presente em um a relação de reforço


quando as pessoas falam que alguém é “escravo de um hábito”. Os maus hábitos, e
particularmente as dependências, são difíceis de largar, e a pessoa que vivência os
desagradáveis efeitos do hábito, não parece nem se sente livre.

Diz-se que maus hábitos, com o fumar e comer em excesso, exigiriam autocontrole > parece
sugerir o controle por um “eu” em algum lugar interno, ou um “eu” interno controlando o
comportamento externo. Os analistas comportamentais rejeitam esses pontos de vista por
mentalistas. O que seria então autocontrole?

Autocontrole consiste em fazer um a opção. A alternativa, que seria ceder ao hábito, é agir
impulsivamente.

Diferença entre impulsividade e autocontrole: a impulsividade consiste em se comportar de


acordo com o reforço a curto prazo (desfrutar o cigarro), ao passo que o autocontrole consiste
em comportar-se de acordo com o reforço a longo prazo (gozar de boa saúde).

2)Uma segunda categoria importante de armadilhas de reforço é o adiamento e a


procrastinação. Ex.: Quando um a pessoa está com uma cárie pequena e adia a ida ao dentista,
o desconforto imediato da obturação prevalece sobre a punição maior adiada: eventuais dores
de dente, tratamento de canal, perda do dente.

O adiamento é impulsividade (C,), e ir ao dentista é autocontrole (CA) > O adiamento é


reforçado imediatamente pela esquiva do pequeno desconforto, mas é punido ao final pelo
grande desconforto.

Ir ao dentista é punido imediatamente pelo pequeno desconforto, mas é reforçado ao final


pela esquiva do grande desconforto e pela manutenção de dentes em boas condições.

3)Um terceiro exemplo comum de armadilhas de reforço é o conflito entre gastar e


economizar. De início, gastar (impulsividade) é reforçado imediatamente por pequenas
compras. Com o passar do tempo, economizar (autocontrole) produz um reforço muito maior,
como comprar um carro ou saldar a dívida da casa própria.

Características de uma armadilha: a pessoa que se comporta impulsivamente fica presa na


armadilha do reforço pequeno e imediato para a impulsividade e da punição pequena e
imediata para o autocontrole; o punidor importante para a impulsividade é reconhecido e
comentado. Em termos mais técnicos, a punição a longo prazo funciona como estímulo
discriminativo para o comportamento verbal, inclusive para palavras como armadilha e
escravo.
O reconhecimento das consequências aversivas da impulsividade explica por que as pessoas
presas em armadilhas de reforço são infelizes e não se sentem livres.

As armadilhas de reforço se conformam à lei geral de que as pessoas se sentem presas e


infelizes quando o comportamento que preferiram em outras situações cria uma ameaça de
punição. A pessoa que escapa de uma armadilha de reforço, tal como a que escapa da coerção,
sente-se livre e feliz (quem já enfrentou uma dependência, por exemplo.)

Liberdade espiritual

O foco é o mundo, os bens mundanos e o conforto mundano. Recomenda-se insistentemente


às pessoas que se libertem da servidão, do apego ou da escravidão aos prazeres mundanos.

“Prazeres mundanos” - comida, sexo, belos carros, férias no Caribe - são todos reforçadores.
Em termos técnicos, os escritores precedentes parecem falar sobre alguma coisa que
transcende a libertação do controle aversivo; parecem falar sobre a libertação que transcende
até mesmo o reforço positivo. Se a gente pudesse se libertar do controle aversivo e do reforço
positivo, que controle sobraria?

Uma forma de compreender a liberdade espiritual se torna mais clara quando consideramos
não apenas o que é denegrido, mas também o que é defendido. Se perseguir o prazer
mundano é mau, então o que é bom? As respostas variam, mas, em geral, preconizam valores
como a bondade e a simplicidade.

De uma perspectiva comportamental, prescrições desse tipo mostram consequências aversivas


postergadas. O egoísmo e uma vida luxuosa podem valer a pena a curto prazo, mas, ao final,
levam à solidão, à doença e ao remorso. A longo prazo, você será mais feliz se ajudar os outros
e levar a vida com moderação.

A bondade e a simplicidade têm um a compensação maior do que simplesmente evitar a dor;


elas também têm seu reforço positivo. Nós nos beneficiamos de relacionamentos mutuamente
proveitosos com outras pessoas, a moderação geralmente leva a um a saúde melhor.

 Em termos comportamentais, a defesa da liberdade espiritual pode ser vista não como
um argumento em prol da libertação de todos os reforços positivos, mas, antes, como
um argumento a favor de um conjunto de reforçadores positivos em contraposição a
outro. Trata-se da qualidade de vida.

Assim, a libertação de reforçadores mundanos a curto prazo (isto é, a liberdade espiritual)


significa tão-somente fazer uma mudança, ficar sob controle do reforço a longo prazo por uma
vida simples e moderada, e pelo respeito pelo outro.

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