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CORREÇÃO DA FICHA DE TRABALHO

1- O determinismo moderado é uma teoria compatibilista? Justifique.


O determinismo moderado defende que são compatíveis as proposições «Um agente
praticou livremente a ação A» e «A ação praticada por esse agente tem uma causa e
deriva necessariamente dessa causa». Liberdade e determinismo são compatíveis, para
esta teoria.

2- Que distinção permite ao determinista moderado defender a compatibilidade


entre determinismo e livre-arbítrio?
Trata – se da distinção entre ação causalmente determinada e ação constrangida. Só
esta última não é livre.

3- Como é caracterizada o livre-arbítrio pelo determinista moderado?


O determinista moderado define a liberdade do seguinte modo: é livre a ação em que
o agente não é impedido por fatores externos de a realizar. Na ausência destes
impedimentos, o agente pode fazer o que tem vontade de fazer. Um dos mais famosos
defensores do determinismo moderado foi David Hume. Hume chamou a atenção para
o facto de que as pessoas tendem a confundir causalidade – o facto de uma ação ser
causada – e coação ou constrangimento – o facto de uma ação ser compelida. Assim,
há uma grande diferença entre estas duas ações: Fazer algo porque quero fazê – lo e
fazer algo porque alguém me aponta uma arma à cabeça e me obriga a fazê – lo. No
primeiro caso, a ação é causada e no segundo caso a ação é compelida ou
constrangida. O oposto da liberdade é a coação e não a causalidade. Ser livre, para
David Hume, significa ser livre de coação.

4- Para o determinista moderado, uma ação livre é causada. É causada pelo quê?
É causada pelas suas crenças e desejos, isto é, pela sua personalidade.

5- Por que razão para o determinista moderado é importante que a ação do agente
seja causada ou determinada pelas suas crenças e desejos?
Se as ações não fossem causadas pelas nossas crenças e desejos, não poderíamos ser
responsabilizados pelas nossas ações. Não seriam as nossas ações.

6- Segundo o determinismo moderado, somos responsáveis pelas nossas ações?


Justifique.
Sim, somos responsáveis pela nossas ações, já que o Homem tem livre-arbítrio; se
alguém comete um ato porque foi esse o seu desejo e crença (e não porque foi
obrigado), então, deve ser responsabilizado pelo que fez.

7- Esclareça através de um exemplo o que é agir livremente para um determinista


moderado.
Para os deterministas moderados, uma ação é livre desde que o sujeito, caso o tivesse
desejado, tivesse agido de outra forma. Imagine, por exemplo, que tem amanhã um
teste da disciplina de Filosofia para o qual está a estudar afincadamente porque
acredita que assim terá boa nota. Uma vez que a sua ação resulta dos seus desejos e
crenças e não lhe foi imposta (por exemplo, pelos seus pais devido a maus resultados
em testes anteriores), ela é uma ação livre. Mas, se a sua ação de estudar resultasse de
uma imposição paterna que não lhe deixasse qualquer alternativa, então ela não era
uma ação livre. Repare que em ambos os casos a sua ação tem causas. Contudo, no
primeiro caso as causas são os seus próprios desejos e crenças, ao passo que no
segundo caso as causas são os desejos e crenças dos seus pais. É essa diferença que faz
com que num caso a ação seja livre e no outro não. No primeiro caso, a sua ação é livre
porque está sob o controle das suas crenças e desejos e se tivesse tido outros desejos,
poderia ter escolhido e realizado uma ação diferente. No segundo caso de nada lhe
valeria ter outros desejos e crenças porque não poderia agir de acordo com eles.

8- Esclareça, através de exemplos, que fatores podem impedir o agente de fazer o


que tem vontade de fazer.
Sirvam estes dois exemplos: quero beber água mas estou no deserto e não há água
disponível, quero viajar mas não tenho dinheiro.

9- O sentido comum de livre-arbítrio consiste em dizer que agir livremente é não só


fazer o que queremos fazer como também poder não ter feito o que se fez, ou seja, a
ausência de coação é acompanhada por uma outra condição que é o agente possuir
alternativas reais de ação. Será que o determinismo moderado salvaguarda esta ideia
de liberdade?
Vejamos: Um agente dispõe de alternativas reais se a sua ação pudesse ter sido
diferente da que realizou. Assim, ajo livremente se escolhendo comer um bolo pudesse
não o ter feito e, eventualmente, tivesse escolhido uma peça de fruta. Vejamos como o
determinista moderado explica a mesma ação. Comi uma peça de fruta e agi
livremente porque o fiz de acordo com as minhas crenças – fruta é mais saudável,
assim me ensinaram – e os meus desejos – quero ser saudável. O que significa dizer
que podia ter agido de modo diferente e comer o bolo em vez da fruta? Que os meus
desejos e crenças teriam que ser diferentes. Por outras palavras, teria que ser uma
pessoa diferente do que sou, de ter outra personalidade (esta é constituída pelas
nossas crenças e desejos). Mas se somos deterministas, mesmo moderados, temos de
reconhecer que não temos controlo sobre o passado, que somos o resultado
necessário da educação e criação que tivemos. Não podemos ser uma pessoa diferente
da que somos. Assim, o determinismo moderado não salvaguarda a ideia comum de
liberdade e por isso tem problemas em explicar como podemos responsabilizar alguém
pelas suas ações.

10- Explique as duas objeções apresentadas ao determinismo moderado.


A primeira crítica que se faz ao determinismo moderado é a de não explicar o
comportamento compulsivo. Quando alguém age compulsivamente, age de acordo
com os seus próprios desejos e crenças. Contudo, dificilmente se pode dizer que quem
o faz é livre. É o caso do cleptómano. Parece também difícil acreditar que uma pessoa
que, por exemplo, seja uma compradora ou jogadora compulsiva e que, por causa
disso, contraia muitas dívidas e destrua o casamento, seja livre. No entanto, ela ao agir
compulsivamente respeita completamente o critério do determinismo moderado,
segundo o qual uma ação é livre se resultar dos desejos e crenças da pessoa que a
realiza.
A segunda objeção à teoria de Hume pretende mostrar que para que alguém pratique
uma acção de livre vontade não é essencial que pudesse ter praticado qualquer outra
acção caso o tivesse desejado (que tenha possibilidade de alternativas). Segundo
Locke, podemos praticar livremente uma acção mesmo não tendo liberdade para agir
de outra maneira, já que “um acto é livre devido à razão que leva a praticá-lo; a teoria
de Hume não consegue explicar em que deverá consistir um processo que subjaza às
acções livres”.

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