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PSICOLOGIA SOCIAL
Volume I
FÉLIX NETO
ISBN: 978-972-674-613-3
Félix Neto
PSICOLOGIA SOCIAL
Volume I
Universidade Aberta
1998
© Universidade Aberta
Fotografias: José Tomás
© Universidade Aberta
FÉLIX FERNANDO MONTEIRO NETO
É docente da faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto desde 1977,
onde exerce desde 1993 as funções de Professor Catedrático do Grupo de Psicologia. É licenciado em
Psicologia pela Universidade de Paris VII (1975); possui o "Diplôme d'É tudes Approfondies" em
Antropologia Normal e Patológica pela "École des Hautes Études en Sciences Sociales" (1980) e em
Psicologia Social pela Universidade do Porto (1985). Obteve a Agregação em Psicologia pela Universidade
de Coimbra (1990).
É coordenador europeu de um programa Erasmus em Ciências Comportamentais, do Centro de
Psicologia da Cognição e da Afectividade da JNICT e do Mestrado em relações Interculturais da Região
Norte da Universidade Aberta. É Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicologia e Professor
Convidado de diversas universidades europeias.
É autor dos seguintes livros, entre outros:
• A emigração portuguesa vivida e representada: contribuição para o estudo dos projectos migratóri-
os. Porto: Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas (1986).
• Tomada de consciência dos determinantes das preferências profissionais: teoria e método. Lisboa:
Universidade Aberta (Co-autor com Étienne Mullet), (1988).
• Solidão, embaraço e amor. Porto: Centro de Psicologia Social (1993).
• Psicologia da migração portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta (1993).
• Estudos de Psicologia Intercultural: nós e os outros. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (1997).
• Psicologia Social (volume I). Lisboa: Universidade Aberta (1997).
É autor de mais de cem artigos que versam sobre Psicologia Social e Psicologia Intrercultural em diversas
revistas nacionais e estrangeiras da especialidade.
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Ao André
eà
Joana
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ÍNDICE BREVE
VOLUME I
11 SELF
IV ATITUDES
V REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
VI PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
VOLUME 11
VII GÉNERO
VIII ATRACÇÃOINTERPESSOAL
IX RELAÇÕES ÍNTIMAS
X SOLIDÃO
XI INFLUÊNCIAS SOCIAIS
GLOSSÁRIO
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VOLUME I
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11 ÍNDICE
31 1. Introdução
88 4.4 Meta-análise
94 5. 1 Teorias da aprendizagem
II
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95 5.1.2 Contribuições
98 5.2.2 Contribuições
10 1 5.3.2 Contribuições
119 Sumário
125 11 SELF
133 1. Introdução
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149 3.3 Auto-esquemas
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185 4.6.3 Autoconsciência e o uso do álcool
218 Sumário
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225 IH CRENÇAS DE CONTROLO E ATRIBUIÇÕES
233 1. Introdução
263 5. Atribuições
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281 5.3.1 Violação
313 Sumário
317 IV ATITUDES
325 1. Introdução
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337 3.1 Modelos de atitudes
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391 7.1 O dilema da consistência atitude-comportamento
407 Sumário
421 1. Introdução
427 2. Origens
435 3. Noção
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463 6. Áreas de Investigação
486 Sumário
499 1. Introdução
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535 5.2 Abordagens socioculturais
581 Sumário
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583 Para ir mais longe
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I. DOMÍNIO DA PSICOLOGIA SOCIAL
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TÁBUA DE MATÉRIAS
1. Introdução
4.4 Meta-análise
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5.1.2 Contribuições
5.2.2 Contribuições
5.3.2 Contribuições
7. Perspectivas Internacionais
Sumário
Actividades propostas
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Objectivos de aprendizagem
Aristóteles
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1. Introdução
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Nós, os seres humanos somos animais sociais. Vivemos em grupos, sociedades
e culturas. Organizamos as nossas vidas em relação com outros seres humanos
e somos influenciados pela história, pelas instituições e pelas actividades. Se há
quem exalte ou quem condene a sociedade, não restam dúvidas de que os
outros desempenham grande importância nas nossas vidas. No fundo, o estudo
das pessoas enquanto animais sociais é o que a Psicologia Social aborda.
Levanta-se a questão de se saber porque ê que Van Gogh efectuou este acto.
Runyan (1981) passa em revista 13 explicações que foram sendo avançadas ao
longo dos anos para tentar responder a essa questão. Uma dada acção pode
ser explicada de diversos modos. Precisamente o objectivo do questionamento
científico é escolher as vias alternativas para explicar o comportamento.
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outras disciplinas como seja a sociologia, a antropologia, a história, a
economia, as ciências políticas e a biologia. A focalização dos problemas e as
metodologias utilizadas diferenciam as diversas ciências do comportamento. A
Psicologia Social é um domínio distinto na abordagem do comportamento
humano, mesmo se contraiu empréstimos e aprendeu com as diversas ciências
do comportamento.
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2. O que é a Psicologia Social?
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Há várias maneiras de responder à questão "O que é a psicologia social?" Uma
delas é avançar uma definição formal do campo. Outra é fazer uma lista
pormenorizada de tópicos investigados pelos psicólogos sociais. Uma outra é
comparar e contrastar a psicologia social com campos conexos. Ainda uma
outra é situar os seus níveis de análise.
Esta situação explosiva que toca as ciências nos nossos dias, abrange também
a Psicologia Social. No decurso dos últimos anos surgiram novos temas de
estudo, foram criadas novas revistas, foram sugeridas novas aplicações. Com
este pano de fundo, fácil é concluir a via perigosa e, porventura temerária, por
que envereda a pessoa que pretenda apresentar uma introdução à disciplina de
Psicologia Social.
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pensamentos, sentimentos e comportamento dos indivíduos são influenciados
pela presença actual, imaginada ou implicada de outros" (Allport, 1985, p.3).
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embaraço ao relembrar o acontecimento referido. Na figura 1.1 encontram-se
esquematizadas diferentes possibilidades.
IL \1/ ~
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Sem dúvida que as pessoas têm influenciado outras ao longo dos séculos e
têm-se admirado desta influência. Arte, literatura, filosofia e religião são
alguns dos produtos desta admiração. Todavia, nos últimos cem anos
ocorreram duas mudanças importantes. Em primeiro lugar, há cerca de cem
anos os cientistas começaram a aplicar o método científico à compreensão do
comportamento social humano. Este desenvolvimento tornou eventualmente
possível a psicologia social, tal como hoje a conhecemos. Discutiremos mais
adiante o método científico. Diga-se por agora muito simplesmente que a
abordagem científica procura descobrir relações causa-efeito, inferindo-as da
observação objectiva e da experimentação.
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classificamos e categorizamos as características da personalidade dos outros.
Outros tópicos com popularidade incluem diferenças individuais, papéis
sexuais e diferenças sexuais, agressão, atracção interpessoal, comportamento
de ajuda, comunicação não verbal, conformidade e condescendência,
sobrepovoamento e distância interpessoal, processos grupais, lei e crime,
percepção da pessoa, autoconsciência, influência social, interacção social,
stress e emoção.
Agressão 24
Ajuda 24
Assuntos de disciplina 16
Atracção e afiliação 31
Atribuição 55
Auto - apresentação 8
Autoconsciência 13
Comparação social 4
Conformidade e condescendência 11
Dissonância 7
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Influência social 13
Interacção social 15
Investigação intercultural 8
Locus de controlo 6
Percepção da pessoa 15
Processos cognitivos 41
Processos de grupo 23
Questões metodológicas 19
Realização 19
Satisfação vital 5
Vítimas 5
Total 642
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embora os psicólogos sociais reconheçam a existência de uma perspectiva
ampla na sua disciplina, os seus focos de interesse na investigação limitam-se a
pontos restritos. Estas áreas do comportamento humano podem ser divididas
em três grupos: fisiológico, cognitivo-atitudinal, e de realização.
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2.3. Relações com outros campos
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o comp0l1amento social
OCOlTe em qualquer lugar,
como, por exemplo, num
Jogo de crIanças, nos
preparativos para uma
manifestação, ou numa
procissão.
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SOCiaiS,incluindo prostitutas. A sua automutilação e a dádiva a Raquel
denotou a sua aceitação de um papel de pária social.
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Auto-retrato de Vicente van Gogh após haver cortado parte da sua orelha. Qual a
razão deste estranho comportamento? Os psicólogos sociais examinam os processos
intrapsíquicos e os estímulos sociais externos que determinam o comportamento da
pessoa.
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2.4. Níveis de análise
Mas a descrição que fizemos até aqui pode parecer demasiado simplista para o
leitor. Acontece que as coisas são bem mais complicadas. Podemos encontrar
várias psicologias sociais diferentes e múltiplas explicações para as
experiências humanas e as acções. Encontram-se duas variantes principais em
Psicologia Social, a Psicologia Social Sociológica (PSS) e a Psicologia Social
Psicológica (PSP), sem se prestarem muita atenção recíproca (Wilson e
Schafer, 1978). Se ambas têm áreas em comum, também diferem na
focalização central e nos métodos de investigação. A focalização nuclear da
psicologia social psicológica tende a centrar-se no indivíduo e no modo como
ele/ela responde a estímulos sociais (Quadro 1.2). Variações no
comportamento pensa-se serem devidas à interpretação das pessoas dos
estímulos sociais ou diferenças nas suas personalidades. Mesmo quando os
psicólogos sociais psicológicos estudam a dinâmica de grupos tendem a
explicar estes processos ao nível individual, enquanto a psicologia social
sociológica tende a focalizar variáveis societais mais amplas, tais como o
estatuto sócio-económico, os papéis sociais e as normas culturais (Stryker,
1989). Assim os psicólogos sociais sociológicos estão mais interessados em
fornecer explicações para problemas societais, tais como pobreza, crime e
desvio.
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Psicologia Social Psicológica Psicologia Social Sociológica
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vez há uma maior interacção dos assuntos e dos métodos das duas psicologias
SOCIalS.
Outras (l o/i;)
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distinguindo quatro I11ve1s: no primeiro é abordado o estudo dos
processos"psicológicos" ou "intra-individuais" que deveriam dar conta do
modo como o indivíduo organiza a sua experiência do mundo social. A este
nível o psicólogo social interessa-se, por exemplo, pelos processos que
permitem a um indivíduo ter uma opinião global sobre alguém, a partir da
integração de diferentes traços de personalidade que lhe são apresentados. Um
segundo nível tem em conta a dinâmica de processos "inter-individuais" e
"intra-situacionais" que ocorrem entre indivíduos. É disso exemplo o estudo da
atribuição de intenções a outrem. O terceiro nível faz intervir diferenças de
"posições" ou "de estatutos sociais" para dar conta de modulações de
interacções situacionais. Está-se a este nível, por exemplo, quando uma
argumentação convence mais facilmente um indivíduo porque quem a
apresenta tem um estatuto social mais elevado. Enfim, o quarto nível mostra
como determinadas "crenças ideológicas universalistas" induzem
representações e condutas diferenciadoras, ou até mesmo discriminatórias. Os
trabalhos de Lemer (1980) permitem ilustrar este nível. Segundo Lemer, as
pessoas têm uma profunda convicção de que "o mundo é justo " e o que
acontece às pessoas que sofrem é merecido.
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entre a abordagem da psicologia social e de outras clencias e foram
mencionados quatro níveis de análise utilizados nas diferentes investigações e
teorias. Mas como se chegou aí? O que é que levou a psicologia social a
enveredar por uma orientação científica e metodológica rigorosa para estudar
os diversos temas agora em moda? É este questionamento que nos propomos
abordar na próxima secção.
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3. Esboço histórico da Psicologia Social
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Ebbinghaus (1908, p. 1) escrevera que a "Psicologia tem um longo passado
mas só tem uma breve história". Os psicólogos sociais têm aplicado
incessantemente esta afirmação à sua própria disciplina.
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antes encontramos autores que se referiram às relações entre o psiquismo e a
vida colectiva.
o recurso à história neste domínio faz correr dois riscos. Por um lado, se se
visa ser exaustivo, a exposição pode tornar-se pesada; por outro lado, a
selecção acarreta injustiças. Não pretendendo a exaustividade nem podendo
deixar de efectuar uma selecção, só nos arriscamos pejos caminhos do
passado, na medida em que nos parece importante dar uma espessura temporal
a esta disciplina.
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vidas das pessoas em grupos ou estados, ou se os seres humanos são
sociais "por natureza", sendo as boas ou más influências que os
tornam sociais ou anti-sociais.
Para além desta sua perspectiva sobre a sociedade, Platão considera que o
espírito humano tem três componentes: comportamental, afectivo, e cognitivo
que se localizam no abdómen, no tórax e na cabeça. Muito embora as ideias
anatómicas de Platão tenham sido banidas, muitos psicólogos sociais ainda
encontram útil esta tricotomia dos fenómenos. Várias abordagens psico-sociais
diferem na atenção que prestam a estes três aspectos do funcionamento
humano. Isto é notório na natureza das atitudes.
Muito mais tarde, Hobbes (1588-1679) escreveu uma ficção intelectual sobre
a origem de um estado hipotético, o Leviatã. Para Hobbes a motivação social
não se coloca em termos de Philia, como para Aristóteles, uma vez que os
homens não têm tendência a amar-se, mas o seu estado natural é a guerra
contra todos. A tão célebre frase "hama hamíní lupus" condensa bem esta
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premissa. Hobbes desenvolveu uma análise dos processos interpsicológicos
que levam o homem à socialização: paixão de ambição, paixão de dominação,
sentimento de insegurança. Este pensador coloca assim os alicerces da análise
psico-social na medida em que procura nas bases do comportamento, as bases
da sociedade.
Um dos teóricos mais conhecidos nas ciências sociais é Karl Marx (1818-
1883) cujos escritos se focalizaram em particular nas instituições sociais.
Segundo Marx, o comportamento social é determinado pelas condições
económicas. Por exemplo, uma economia feudal suscitaria um determinado
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padrão de pensamentos, sentimentos e de acções entre os cidadãos, ao passo
que uma estrutura comunista levaria a um padrão muito diferente. Segundo
esta perspectiva, para mudar o modo das pessoas pensarem, sentirem e agirem
é fundamental mudar antes as instituições económicas. Note-se que, segundo a
psicologia social moderna, indivíduos e instituições económicas influenciam-se
mutuamente, não se estando, pois, sÓ' em face de uma influência unívoca.
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3.2.1 Corrente francesa
Comte (1798-1857), que inventou o termo "sociologia" e fez muito para situar
as ciências sociais na famí1ia das ciências, foi o primeiro autor a ter concebido
a ideia de uma Psicologia Social. Esta afIrmação pode parecer surpreendente
num primeiro momento quando se conhece o desprezo de Comte em relação à
Psicologia.
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Lógico Físico Psíquico
Psicologia
Social
Psicologia
Fisiológica
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posição de Durkheim vai entrar em choque com a de Tarde que muito embora
não negasse aos fenómenos sociais uma certa especificidade, alicerçava-os na
alternância de dois fenómenos propriamente psicológicos, a invenção e
sobretudo a imitação. A invenção bastante rara, é fruto de individualidades
poderosas que deste modo asseguram o progresso. A imitação assegura a
unidade e a estabilidade sociais. Uma sociedade pode definir-se como "um
grupo de homens que se imitam".
A ciência social, para este autor, é uma interpsicologia, pois deve procurar pôr
em evidência os diferentes modos segundo os quais as pessoas interagem.
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agregados, a multidão e a massa. Por outro lado deixa transparecer uma
desconfiança em relação à influência das massas e das ideias democráticas.
A influência de Le Bon foi tão marcante que, como muito bem observa
KJineberg, "quando o termo "psicologia social" é usado pelo leigo, ele
geralmente pensa em "psicologia das multidões" no sentido utilizado por Le
Bon (1963, p. 14).
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experiência em Psicologia Social e 1908 para os dois primeiros manuais.
Efectivamente ambos os "primeiros" estão errados, mas também não se reveste
de muito sentido substitui-los por outros "primeiros". Só para memória refira-
se que em 1896 Vierkandt publicou um livro de psicologia social Natllrvolker
und Kulturvolker: Ein Beitrag ZlIr Sozialpsychologie. Em 1898, apareceram
também na Europa duas obras onde surge o termo de Psicologia Social. Em
França apareceram, em 1898, os Étlldes de Psychologie Sociale de Gabriel
Tarde, e na Alemanha, nesse mesmo ano Gustav Ratzenhofer escrevia uma
obra alemã Die Soziologische Erkentniss e intitulava uma parte do seu livro
"Social-Psychologie". Este sociólogo alemão fazia entrar na Sociologia
considerações sobre os indivíduos e as suas motivações. Procurava nos
"interesses humanos" os factos de base para a explicação sociológica. Logo no
dealbar do século XX surgem ainda dois textos que tratam de psicologia
social, escritos por Bunge (1903) e Orano (190 I). Por seu lado Haines e
Vaughan (1979) mostraram, que há outras experiências antes de 1898
merecendo ser consideradas sócio-psicológicas, sobretudo no contexto dos
estudos de sugestibilidade de Binet e Henri (e.g. Binet e Henri, 1894). Ainda
antes, como já referimos, Ringelmann efectuou investigações sobre a
produtividade de grupo.
Robert Zajonc (1969) faz uma comparação impressionante entre a data das
primeiras medidas científicas e a do primeiro estudo experimental em
Psicologia Social: a primeira medida científica precedeu a primeira medida
psico-social em vinte e um séculos.
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de outras pessoas aumenta o desempenho das respostas dominantes (isto é,
bem aprendidas), mas interfere com o desempenho das respostas não
dominantes (isto é, novas). A investigação sobre a facilitação social ainda
continua.
Apesar da experiência de Triplett nota-se que a Psicologia Social não foi muito
experimental nos seus primórdios. Especulações e descrições salientavam-se
mais que testes científicos.
o sociólogo Edward Ross (1866-1951) publica em 1908 uma obra tendo por
título "Psicologia Social". Ross já tinha publicado em 1901 uma obra sobre o
"Controlo Social" em que considerava a Psicologia Social como o estudo das
interrelações psíquicas entre o homem e o meio que o rodeia. Fortemente
influenciado por Tarde, Ross procurava aplicar as leis da sugestão e da
imitação a diversos acontecimentos do passado e do presente: moda, opinião
pública, etc.
Note-se, no entanto, que já nestas duas obras o cisma entre a psicologia social
psicológica e a psicologia social sociológica se fazia sentir, sendo claramente
diferentes os temas abordados e os autores citados. Em contraste, o texto de
Floyd AIlport sobre a Psicologia Social está muito mais próximo da orientação
da Psicologia Social contemporânea. Para F. AIlport o comportamento social é
influenciado por muitos factores em que se incluem a presença dos outros e as
suas acções. O texto discute a investigação que já tinha sido realizada, como
por exemplo, a habilidade em reconhecer as emoções das outras pessoas
mediante as expressões faciais, a conformidade social e o impacto do público
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na realização de tarefas. Estes tópicos ainda são alvo de discussão hoje em dia.
Este texto de Allport foi o primeiro livro de base em psicologia social que
permitiu a inclusão desta disciplina no programa permanente de estudos dos
departamentos de Psicologia das universidades americanas (HiJgard, 1987). A
psicologia social foi projectada da rampa de lançamento e já nada a podia
parar no seu movimento.
Se não houve garrafas de Champagne que foram abertas numa data bem
precisa para saudar a chegada da Psicologia Social ao campo científico, pode-
se, todavia, dizer que durante o primeiro quartel deste século ela já tinha
emergido.
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um conceito central em Psicologia Social.
1934 George Herbert Mead publica Mind, Self and Societ)' que sublinha a
interacção entre o self e os outros.
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1937 1. L. Moreno funda a revista Sociol7letr)' dedicada ao estudo dos processos
grupais que se tornará mais tarde Social Psychology Quarterl)'.
1939 Lewin, Lippitt, White publicam os resultados das suas investigações sobre
a conduta de grupos, funcionando em diferentes climas, no que diz
respeito ao tipo de liderança exercida.
1941 Neal Miller e John Dollard em Social Learning and 1I1Iitation apresentam
uma teoria que aplica os princípios do behaviorismo ao domínio do
comportamento social.
1946 Fritz Heider publica o seu artigo Attitudes alld Cognitive Organization
que está na origem das teorias da consistência cognitiva florescentes na
década de 50 e que continuam a ter papel relevante na Psicologia Social
contemporânea.
1954 Gordon Alpport publica The Nature of Prejudice, uma análise importante
do preconceito intergrupal e dos estereótipos.
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1960 O Journa1 of Abnormal and Social Psychology divide-se em duas
publicações separadas, uma Journal of Abnorl1lal Ps)'Chology e outra
Journal of Personality and Social Psychology.
1961 Moscovici publica La Psychanalyse, son Image et son Public obra que
estimula uma ampla série de trabalhos sobre as representações sociais.
1962 Schachter e Singer defendem a teoria de que as emoções são função quer
da activação fisiológica quer das regras sociais sobre o modo como esta
activação deveria ser etiquetada.
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Applied Social Ps)'cholog)' é fundado por Streufert.
1973 Gergen critica a disciplina sobre o seu aspecto histórico e pouco científico.
1981 Alice Eagly e a sua equipa começam a efectuar uma série de meta-análises
sobre comparações de género no comportaamento social que reabrem o
debate sobre diferenças de género.
(Esperaremos alguns anos para especularmos sobre os marcos que ocorreram desde 1985 na
medida em que a passagem do tempo determina os acontecimentos que modelam o campo de
modo significativo)
Nos anos trinta surge a publicação de trabalhos de três figuras de primeira fila
da história da Psicologia Social: Levy Moreno (1892-1974), Muzafer Sherif
(1906-1990) e Kurt Lewin (1890-1947). Em 1934 Moreno desenvolveu o
sistema sociométrico para analisar as interacções indivíduo-grupo. Segundo
Sahakian (1982) deve atribuir-se a Sherif (1936) o primeiro programa de
investigação com cariz experimental. Interessou-se pelo estudo de normas
sociais, isto é, regras que suscitam os comportamentos das pessoas.
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Kurt Lewin
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nascidos, alimentando-os com óleo de fígado de bacalhau e com sumo de
laranja (Lewin, 1947). Os resultados mostraram que a discussão activa das
maneiras de confeccionar boa alimentação era superior à escuta passiva de
informação. As senhoras que participavam num grupo de discussão referiram
mais tarde maiores mudanças em relação a hábitos alimentares saudáveis que
as que ouviam uma lição. Esses resultados puderam ser aplicados a inúmeros
problemas da vida quotidiana. O esforço pioneiro de Lewin e de seus
colaboradores em aplicar os princípios teóricos a estudos de problemas sociais
constitui um referencial básico que norteou a psicologia social e ainda perdura.
No Documento 1.2 pode-se apreciar o pensamento influente de Lewin.
Fonte: Lewin, 1944, Constructs in psychology and psychological ecology. Universit)' of 101m
Studies in Child Welfare, 20, 23-27.
Documento 1.2 - Perspectiva de Kurt Lewin sobre a distinção entre psicologia pura
e aplicada
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continua em várias direcções. Presta-se atenção à influência dos grupos e da
pertença aos grupos sobre o comportamento individual e abordam-se as
relações entre vários traços da personalidade e comportamento social. As
atitudes são também um domínio de estudo prioritário neste período. Em
comparação com o período precedente (até aos anos trinta), o interesse dos
investigadores já não estava tanto centrado na medida das atitudes quanto na
explicação das mudanças de atitudes. Em finais dos anos 50, Festinger propôs
a teoria da dissonância cognitiva (postula que as pessoas encontram
insatisfatórias as incoerências entre duas cognições, ou entre os seus
pensamentos e o seu comportamento, e procuram reduzi-las mudando quer os
seus pensamentos quer os seus comportamentos) que focalizou a atenção dos
investigadores não só nos anos 50, mas igualmente nos anos 70. Hoje em dia,
ainda são efectuadas investigações neste domínio. Também em finais desta
década, Fritz Heider brindou a disciplina com o que ficou chamado de
"psicologia ingénua" em que se examina como as pessoas atribuem um sentido
à sua vida e tentam controlar o meio. Nesta mesma década a experimentação
tornou-se o método predominante de investigação (Adair, 1980).
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a crise de confiança levando psicólogos sociais a enveredarem por debates de
extrema vivacidade. É discutida a ética dos procedimentos utilizados na
investigação (Kelman, 1967), a validade dos resultados (Rosenthal, 1966), e
até que ponto é possível generalizar os resultados no tempo e no espaço
(Gergen, 1973). Grande parte deste debate tinha subjacente a reacção contra a
experimentação no laboratório, metodologia dominante no domínio. Ao invés,
os defensores dessa metQdologia consideravam-na ética, os resultados válidos
e suceptíveis de serem generalizados (McGuire, 1967).
Durante os anos 70, para além de se continuarem linhas de estudo dos anos
anteriores, foram postos em cena novos tópicos ou foram investigados com
um enfoque novo e mais sofisticado. Entre os mais importantes assinale-se a
atribuição, papéis sexuais e discriminação sexual, psicologia ambiental.
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da psicologia social aplicada. A grande maioria dos sujeitos pensa que a
Psicologia Social será mais útil na vida quotidiana.
Categoria Percentagem *
Psicólogos sociais mais importantes
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o rigor da predição irá aumentar?
o rigor irá aumentar até a um ponto em que as predições serão 23
semelhantes às predições da ciência física
*As percentagens não podem totalizar 100 porque os sujeitos podiam escolher várias
respostas.
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Os psicólogos sociais estão-se também a tornar mais sensíveis ao impacto da
cultura no comportamento social. Aperceberam-se que os princípios que
influenciam um grupo podem não se aplicar noutro país, nem mesmo a todos
os grupos dentro do mesmo país. Dado que o mundo se está tornando cada
vez mais interdependente, os psicólogos sociais pensam que o seu campo deve
tornar-se cada vez mais internacional e multicultural.
Tais tendências não significam que todos ou quase todos os psicólogos sociais
desertem dos laboratórios, e que todas as suas publicações tenham um cariz
aplicado imediato. Com o aparecimento de novas tendências emergirão outros
interesses na investigação e outras técnicas. Suceda o que suceder no campo
da Psicologia Social, ela permanecerá activa na prosecussão da sua
contribuição para o bem-estar humano.
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4. A Psicologia Social como ciência
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Os psicólogos SOCIaIS querem compreender as pessoas e ajudá-las a
remediar problemas humanos. Escritores, artistas, músicos, filósofos e
muitas outras categorias de pessoas também querem compreender e ajudar
os outros. Frequentemente essas pessoas propiciam uma compreensão da
natureza humana. Os psicólogos sociais diferenciam-se na medida em que
enveredam por uma abordagem científica para os seus assuntos.
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I
4.1 Investigação científica
Mas uma teoria não se formula só para explicar observações precisas. Deve
também poder explicar e sugerir novas observações que se podem utilizar
para testar a teoria. Uma teoria deve ser capaz de fazer predições acerca de
fenómenos com recurso à lógica dedutiva. Ou, por outras palavras, uma
teoria deve poder gerar hipóteses susceptíveis de serem testadas. Pode-se,
por exemplo, deduzir a hipótese de que os homens que têm preconceitos
contra as mulheres tenderão a ter amigos do sexo masculino que também
são sexistas. Pode-se igualmente deduzir que as pessoas que têm
preconceitos em relação aos emigrantes terão amigos que têm preconceitos
em relação a emigrantes. Para se poder testar a validade de uma hipótese
ou de ambas necessitamos antes de mais de ter à nossa disposição alguma
medida fidedigna do tipo específico de preconceito. Só depois podemos
verificar se a relação entre pessoas com preconceitos e os seus amigos era
como se tinha previsto. No caso positivo teríamos encontrado uma
evidência a favor da teoria; no caso negativo, ter-se-ia obtido evidência
contra a teoria.
82
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ser refutada. Popper defende que para uma teoria ser científica deve, em
princípio, ser capaz de refutação empírica. Uma teoria nunca pode ser
aceite como verdadeira, pois não há garantia que no futuro será a mesma
que no passado.
o que é que faz que uma teoria seja "boa"? O valor de uma teoria depende
de um certo número de qualidades (Ryckman, 1985; Shaw e Costanzo,
1982). Em primeiro lugar, uma teoria deverá estar em concordância com
dados conhecidos, incorporando o que se encontrou acerca do
comportamento humano. Em segundo lugar, uma teoria é compreensiva,
tentando compreender e explicar um amplo leque de comportamentos. Em
terceiro lugar, uma teoria é parcimoniosa, não contendo mais que os
elementos necessários para explicar o assunto em questão. Um quarto
critério para uma boa teoria é se se pode testar, fornecendo meios
mediante os quais hipóteses específicas e predições podem ser suscitadas e
subsequentemente testadas por investigação. Se uma teoria não permite
suscitar predições que se possam testar, nesse caso a sua validade empírica
nunca pode ser avaliada de modo satisfatório. Um quinto critério para uma
teoria é o seu valor heurístico, isto é, em que medida estimula o
pensamento e a investigação e desafia outras pessoas a desenvolverem e
testarem teorias opostas. Finalmente, a utilidade ou valor aplicado de uma
teoria é um atributo importante.
83
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Os psicólogos sociais tentam elaborar teorias que aumentem na pessoa a
tomada de consciência de deficiências na vida quotidiana e permitam guiá-
la para opções mais satisfatórias. A utilização de teorias pode assim libertar
as pessoas de determinados constrangimentos do dia a dia. Vários
psicólogos sociais esperam que as pessoas se abram a ideias novas quando
confrontadas com teorias novas. Uma teoria com estas possibilidades foi
chamada de generativa (Gergen, 1978). Esta teoria dá às pessoas a
possibilidade de se interrogarem sobre o que acreditavam antes e permite
optar por novas relações em vez de conservarem crenças dogmáticas.
84
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oposlçao à violência policial nas pessoas com mais de 50 anos, com
desafogo financeiro e nos republicanos. Todavia entre os Negros, isto é,
aqueles que mais sofriam da violência policial, 69% opunham-se à violência
policial em cada um dos casos citados acima. Estes sentimentos eram
partilhados pelas pessoas brancas jovens e instruídas.
Mas a teoria pode estar errada. A melhor medida de uma teoria é a sua
capacidade em fazer predições certas. Efectivamente a predição é o
terceiro objectivo principal da Psicologia Social. A sociedade defronta-se
com problemas importantes para os quais predições fidedignas seriam
preCIOsas.
85
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comparativamente com as não-vítimas de violação, as vítimas mostravam
efeitos acentuados da experiência ao longo do tempo do estudo. Mesmo
um ano depois apresentavam mais medo, ansiedade, suspeição e confusão
que as não vítimas. A violação pode assim ter efeitos a longo termo. Os
resultados indicaram também que a intensidade dos efeitos diminuía ao
longo do tempo. O estudo mostrou que os efeitos da violação não são
necessariamente duradoiros. Encontram-se de um modo geral melhoras de
bem-estar.
86
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A primeira etapa no processo de realização de um estudo é seleccionar um
tópico de investigação. É necessário desenvolver uma ideia acerca do
comportamento que valha a pena explorar. As ideias de investigação não se
desenvolvem num vácuo social. As mais variadas fontes podem servir ao
cientista para ter ideias. A inspiração pode advir da investigação de
alguém, de um incidente nas notícias quotidianas, ou até mesmo de alguma
experiência pessoal ocorrida na vida do investigador. Geralmente os
psicólogos sociais investigam tópicos que são relevantes para as suas
próprias vidas e para a sua cultura.
87
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subjectivos importantes, tais como percepções das pessoas, emoções,
atitudes. Todavia a desvantagem dos dados de auto-avaliação é de que se
baseiam em que as pessoas descrevem de modo certo estes estados
internos o que nem sempre podem ou querem fazer. Dada esta
desvantagem, muitos investigadores preferem observar directamente o
comportamento das pessoas. Esta técnica é amplamente utilizada em
estudos experimentais. Finalmente, os investigadores recorrem algumas
vezes a documentos existentes ou a arquivos para recolher informação que
pode ser valiosa sobre uma dada cultura.
4.4 Meta-análise
88
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se podem tirar? No passado os investigadores utilizavam muitas vezes a
abordagem das "regras da maioria" para resolver essas discrepâncias. Neste
caso limitavam-se a contar o número de estudos em que se tinha
encontrado ou não um determinado efeito psicológico e concluíam então
que o efeito existia se ocorresse na maioria dos estudos. Para permitir
comparações mais sofisticadas, nos últimos quinze anos os investigadores
têm recorrido a técnicas denon:1Ínadas de meta-análise (Schmidt, 1992). A
meta-análise é uma técnica estatística que permite aos investigadores
combinar informação de muitos estudos empíricos sobre um tópico e
avaliar objectivamente a fidelidade e o tamanho global do efeito
(Rosenthal, 1984). Dado que em muitos estudos se podem encontrar
pequenas diferenças entre os grupos que não atingem os níveis estatísticos
de significação, a meta-análise pode determinar se estes pequenos efeitos
são efectivamente reais ou simplesmente erro de medida. Os procedimentos
de meta-análise têm sido particularmente úteis no estudo das diferenças
sexuais no comportamento social, como veremos no capítulo 7.
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5. Teorias em Psicologia Social
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Os psicólogos sociais desenvolveram muitas ideias diferentes sobre a vida
social. À questão "Que teoria deve ser utilizada para as investigações em
psicologia social?", não existe uma resposta simples, dado que nenhuma teoria
permite explicar de modo adequado todos os fenómenos sociais. O mesmo
acontece em todos os domínios científicos (por exemplo, a teoria da
relatividade de Einstein não pode explicar o fenómeno da aceleração dos
corpos em queda livre). Certas teorias são globais ou gerais, enquanto que
outras são mais particulares e restritas na sua aplicação e predições. Entre as
principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias da
aprendizagem, as teorias cognitivas e as das regras e papéis. As teorias da
aprendizagem têm as suas origens nos princípios básicos do behaviourismo que
salientou o condicionamento clássico e a aprendizagem através de reforço ou
recompensa. As teorias cognitivas têm as suas origens na psicologia da gestalt.
Focalizam-se nos processos cognitivos que estão subjacentes às nossas
percepções e julgamentos acerca de nós próprios e dos outros em situações
sociais. A terceira orientação, mais com pendor sociológico, põe em evidência
a ideia de que os pensamentos e os comportamentos dos indivíduos são o
resultado de interacções que têm com outras pessoas e do significado que elas
dão às interacções e papéis.
Para ilustrar que tipo de questões podem ser colocadas, consoante a teoria por
que se enverede, recorreremos ao caso do Manuel e da Maria. Conheceram-se
e apaixonaram-se quando ambos frequentavam a Universidade, o Manuel
estudante de Economia e a Maria de Psicologia. O Manuel era oriundo da
classe média e tentava melhorar a sua situação na vida através de um árduo
trabalho como estudante. A Maria é oriunda da classe alta e aspirava a ajudar
crianças com dificuldades. Mesmo se os pais de ambos não viam o noivado
93
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com muitos bons olhos, casaram-se após a conclusão dos respectivos cursos.
Com o decorrer do tempo, os pais do Manuel e da Maria foram-se entendendo
melhor com a nova falllilia e o Manuel até assurrúu a orientação da empresa
dos pais da Maria. Maria dedicou-se ao cuidado de três filhos e, quando
cresceram, pôde enfim concretizar um velho sonho. Abriu um consultório para
tratamento de crianças com dificuldades psicológicas. Trata-se de uma história
aparentemente banal. Ora factos inscritos no quotidiano das pessoas são
objecto de grande interesse por parte dos psicólogos sociais.
94
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regular o seu comportamento social porque, em parte, os pais reforçam de
modo selectivo comportamentos desejáveis, usando reforços tais como
sorrisos e rebuçados. Ao inverso, comportamentos emitidos pela criança que
não são desejáveis para os outros, como seja gritar ou bater, são seguidos por
reforços negativos, tais como olhares carrancudos ou reprimendas. Pouco a
pouco a criança aprende quais são os comportamentos aceitáveis e os que o
não são.
5.1.2 Contribuições
95
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pessoas a terem vontade de agIr de determinado modo em detrimento de
outro.
As teorias da aprendizagem são muitas vezes criticadas por terem uma "caixa
negra" para o comportamento humano. É salientado o que entra na caixa
(estímulo) e o que sai da caixa (resposta), mas é prestada pouca atenção ao
que se passa dentro da caixa. Os elementos do interior - emoções e cognições
- são a principal preocupação das teorias cognitivas. A ideia principal das
teorias cognitivas para a Psicologia Social é que o comportamento de uma
pessoa depende do modo como percepciona a situação social.
96
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Os dois princípios, isto é, que agrupamos e categorizamos espontaneamente as
coisas que percepcionamos e que prestamos particular atenção aos estímulos
mais salientes, não são só centrais para a nossa percepção de objectos físicos.
São também centrais para a nossa percepção do mundo social. Estes princípios
cognitivos são importantes para o modo como interpretamos o que as pessoas
sentem, querem e que tipo de pessoas são. Essas interpretações concretizam-
se, por exemplo, através da expressão de intenções, motivações, atitudes,
traços e personalidade.
© Universidade Aberta 97
5.2.2 Contribuições
Muitos dos estudos a que se fará referência nos capítulos seguintes estão de
alguma forma ligados à orientação cognitiva. Por exemplo, uma aplicação
directa desta orientação tem sido a investigação sobre como é que as pessoas
formam impressões de outras pessoas. Os psicólogos sociais, seguindo a
tradição da gestalt, examinaram como é que o nosso conhecimento dos traços
individuais é combinado para formar impressões globais das pessoas
(Burnstein e Schul, 1982). Muitas teorias das mudanças de atitudes também
estão baseadas nos princípios cognitivos. As teorias da consistência cognitiva
postulam, por exemplo, que estamos motivados para conservar cognições de
acordo com outra cognição ou com um comportamento consistente.
98 © Universidade Aberta
I
99
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As pessoas realizam uma série de papéis todos os dias.
100
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5.3.2 Contribuições
o conceito de doença mental pode ser revisto a partir da teoria dos papéis.
Acredita-se geralmente que o doente mental é o produto de uma personalidade
perturbada que tem problemas profundos e duradoiros, nada tendo a ver com a
situação. Todavia, segundo a teoria dos papéis, a doença mental é muitas
vezes aprendida quase como alguém aprende um papel numa peça de teatro.
Há doentes mentais que agem de modo a provocar efeitos particulares
correspondentes a regras institucionais (Szasz, 1960). A pessoa que dá entrada
num hospital psiquiátrico aprende a desempenhar o papel de um doente
mental. A não aprendizagem destas regras acarreta castigos institucionais. Isto
foi ilustrado por Braginsky, Braginsky e Ring (1969) que mostraram que os
doentes psiquiátricos são capazes de modificar o seu comportamento para
parecerem mais ou menos doentes.
101
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da Maria de filho e filha para marido e esposa. Quais são os comportamentos
do Manuel como marido, como dirigente da empresa e como pai? Haverá um
conflito para Maria entre os papéis de esposa, mãe e psicoterapeuta? Também
se poderiam abordar os autoconceitos do casal. Como se vê o Manuel
passando da classe média para a classe alta, de filho para pai? Dentro da teoria
dos papéis poder-se-ia abordar a relação do casal como um conjunto de
posições, de expectativas de papel.
As três teorias acabadas de apresentar diferem nas questões que tratam e nas
questões que ignoram. Também diferem em relação às variáveis que
consideram importantes e às que consideram irrelevantes. Efectivamente, cada
teoria faz diferentes suposições acerca do comportamento social.
\02
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As três perspectivas teóricas diferem nas suas suposições acerca a natureza
humana. As teorias da aprendizagem vêem os actos das pessoas, o que
aprendem e como o fazem, como determinados fundamentalmente pelos
padrões de reforço. As teorias cognitivas acentuam que as pessoas
percepcionam, interpretam e tomam decisões acerca do mundo. As teorias do
papel supõem que as pessoas são enormemente conformistas. Vêem as pessoas
como agindo de acordo com as expectativas de papéis que têm os membros do
grupo.
As três teorias diferem também nas suas concepções do que provoca mudança
no comportamento. As teorias da aprendizagem defendem que a mudança no
comportamento resulta de mudanças no tipo, quantidade e frequência de
reforço recebido. As teorias cognitivas sustentam que a mudança no
comportamento resulta de mudanças nas crenças e atitudes, para além de
postular que mudanças nas crenças e atitudes são muitas vezes o resultado de
esforços para resolver inconsistência entre cognições. A teoria do papel
defende que para mudar o comportamento de alguém, é necessário mudar o
papel que a pessoa ocupa. Diferente comportamento resultará quando a pessoa
muda de papéis, porque o novo papel acarretará diferentes pedidos e
expectati vaso
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Teoria
Faetcres que praiuzem Mudança na quan- Estado de inscon- Mudança nas ex-
mudança no compcrta- tidade, tipo, ou sistência cognitiva pectativas de papéis
mento frequência de reforço
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Até aqui neste capítulo definiu-se a psicologia social, delineou-se um rápido
panorama histórico da disciplina e apresentaram-se as principais influências
teóricas no domínio. Nesta secção parece revestir-se de interesse abordar
aspectos da psicologia social tal como ela hoje em dia existe, para além da
diversidade de tópicos que já foi apresentada.
Journal of Personality
107
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Journal of Social Issues
Social Cognition
108
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Internationale de Psychologie Sociale) e duas em espanhol (Revista de
Psicología Social e Revista de Psicología Social y Personalidad). À
semelhança do que acontece em todos os domínios científicos, a língua inglesa
é a língua de eleição no domínio da psicologia social.
109
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Nome Frequência de citações
E. Jones 153
H. Kelley 149
L. Festinger 135
E. Hatfield 115
E. Berscheid 109
J. Darley 108
B. Latané 100
S. Schachter 100
S. Milgram 98
E. Aronson 95
M. Snyder 92
R. Petty 88
l. Berkowitz 86
A. Eagly 78
R. Cialdini 75
s. E. Taylor 73
A. Bandura 72
1. Cacioppo 72
R. Nisbett 72
S. Asch 70
Parece provável que num futuro próximo novas áreas de investigação aplicada
em psicologia social suscitarão novos empregos para os psicólogos sociais.
Por exemplo, o recente aumento na investigação sobre psicologia da saúde,
psicologia ambiental, psicologia do sistema legal e factores psicossociais de
desordens clínicas, tais como depressão e solidão, suscitam promessas de
emprego para os psicólogos sociais, estudos sobre a saúde, estudos do meio,
estudos legais, e psicologia clínica.
l11
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indivitavelmente polarizada pelo assunto que os psicólogos sociais consideram
ser um dos mais fascinantes no mundo: o comportamento social humano.
Psicologia Psicologia
Social
112
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7. Perspectivas internacionais
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Como nos pudemos já aperceber, se as raízes da psicologia social
emergiram na Europa, grande parte da sua história tem sido amplamente
dominada por investigadores dos Estados Unidos. Uma das razões
importantes para esta mudança foi o crescimento do fascismo na Europa
nos anos trinta. Efectivamente podemos ver os Estados Unidos como
constituindo o primeiro entre três "mundos" em que os psicólogos têm
levado a cabo investigação e prática (Moghaddam, 1987; 1990). Esse país
é o principal produtor do conhecimento psicológico. O segundo mundo é
constituído por outras nações industrializadas, como Canadá, Grã-
Bretanha, Austrália, França e Rússia. Em certos aspectos o segundo
mundo é tão produtivo como o primeiro, mas a sua influência é maior entre
os países que aí se inserem e no terceiro mundo. O terceiro mundo
compreende países em desenvolvimento, tais como Índia, Nigéria e Cuba.
Se o primeiro mundo exporta conhecimento psicológico para o segundo e
terceiro mundos, é por sua vez pouco influenciado pela psicologia dos
outros dois mundos. O terceiro mundo é sobretudo importador de
conhecimento psicológico.
Os psicólogos nos três "mundos" estão cada vez mais a ser sensíveis até
que ponto a psicologia do primeiro e segundo "mundos" é relevante para as
sociedades do terceiro mundo (Moghaddam, 1987). Vem-se assistindo
cada vez mais a investigações efectuadas em colaboração em que
experiências psico-sociais são levadas a cabo em diferentes culturas dos
diferentes "mundos". A psicologia social do "segundo mundo", que se vem
desenvolvendo na Europa, apresenta alguns traços que a distinguem. A
partir dos anos 60 a psicologia social europeia, tendo como chefes de
orquestra Henri Tajfel na Grã-Bretanha e Serge Moscovici em França,
enveredou por uma psicologia social diferente da dos Estados Unidos que
estava apegada ao sistema de valores individualistas desse país
(Moghaddam, 1987). A psicologia social europeia conseguiu desenvolver
áreas próprias de interesse.
118
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para os comportamentos foram procuradas nas relações estruturadas dos
grupos.
SUMÁRIO
119
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medida em que fornece uma explicação para a integração de forças sociais,
biológicas e interpessoais, dentro de um só indivíduo. A moderna
psicologia social é uma síntese de teoria e de dados científicos. As
primeiras experiências em psicologia social foram efectuadas em finais do
século dezanove e desde então uma grande quantidade de investigação deu
à psicologia social uma sólida base científica. A disciplina, uma vez
lançada, desenvolveu-se a um ritmo fulgurante.
120
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PARA IR MAIS LONGE
BERKOWITZ, L. (Ed.),
BICKMANN, L. (Ed.),
FESTINGER, L. e KATZ, D.
LÉVY, A.
STOETZEL, J.
[21
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TAlFEL, H. (Ed.)
ZAlONC, R.
ALLPORT, G.
122
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JONES, E.
América do Norte.
MOSCOVICI, S.
SHAW, M. e COSTANZO, P.
DEUTSCH, M. e KRAUSS, R.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
123 Ii
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2) Escolha um acontecimento importante na história da Psicologia Social e
desenvolva-o com o recurso a referências bibliográficas adequadas.
124
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11. SELF
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127
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TÁBUA DE MATÉRIAS
1. Introdução
3.3 Auto-esquemas
3.4.1 Egocentração
3.4.2 Beneficiação
3.5.4 Autopercepção
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4.2 Desenvolvimento da auto-estima
4.4.1 Adolescência
4.4.2 Experiências
4.5 Autodiscrepâncias
4.6 Autoconsciência
autoconsciência?
Sumário
Actividades propostas
131
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Objectivos de aprendizagem
Consciousness of self give us the power to stand outside the rigid chain of
stimulus and response, to pause, and by this pause to throw some weight on
either side, to cast some decision about what the response will be.
Rollo May
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1. Introdução
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Aconteceu-lhe porventura encontrar-se numa festa muito buliçosa e ouvir alguém
do outro lado da sala referir o seu nome? Se tal lhe aconteceu, teve experiência
do chamado fenómeno do sarau-cocktail isto é, a capacidade em apreender um
estímulo relevante para si próprio num meio complexo (Moray, 1959). Se para
os psicólogos cognitivistas o fenómeno denota que as pessoas são selectivas na
sua percepção dos estímulos, para os psicólogos sociais tal ilustra também que o
self não é só mais um estímulo social. Pode tratar-se do mais importante objecto
da nossa atenção.
Como se verá, o self é uma construção social que se forma mediante a interacção
com outras pessoas. O self constitui a base das interacções sociais. Mas o self é
não só definido no processo da interacção social, como também afecta um amplo
leque de comportamentos sociais. Por exemplo, julgamentos sobre outras
pessoas, o modo como comunicamos com elas, são comportamentos que podem
ser influenciados pelo modo como nos vemos a nós próprios.
135
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aspecto relaciona-se com a auto-apresentação, a manifestação comportamental
do self, é a questão de como é que as pessoas se apresentam às outras. Como se
verá, o self é multifacetado. Finalmente ilustraremos, enquanto aplicação, uma
técnica que permite que o sujeito assuma um papel activo na descoberta de um
aspecto específico do self, os determinantes das preferências profissionais. Antes
de passarmos a desenvolver esses tópicos relembre-se todavia que tópicos de
capítulos ulteriores, tais como solidão, atitude e comportamento, amor e várias
formas de influência social dependem mais ou menos duma compreensão do self
social.
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Desde há séculos que diversos pensadores têm abordado a natureza do self.
Platão considerou o self equivalente à alma e sentiu que era o lugar da sabedoria.
Buda acreditou que cada um de nós cria o seu próprio sentido de identidade
pessoal, mas esta autocompreensão é muitas vezes distorcida e incompleta.
Descartes baseou o self na nossa capacidade em pensar, Hume considerou o self
como equivalente com experiências de percepção, e Kant notava que o self não é
tanto a nossa perspectiva de quem acreditamos que somos como do que somos
realmente (Baumeister, 1987; Hattie, 1992).
Um artigo publicado em 1913 por John Watson pôs fim à idade de ouro do self.
Watson defendia que o self não pode ser medido e que não deveria, por
conseguinte, ser objecto de estudo científico. Como podemos estar seguros de
que o que um indivíduo nos diz a respeito do seu autoconceito é verdadeiro? É
impossível saber com precisão o que se passa na cabeça de uma outra pessoa.
Vários autores não hesitaram em aliar-se à crítica de Watson e durante os
decénios que se seguiram, o seIf foi votado ao esquecimento.
139
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importância determinante do desenvolvimento pessoal na vida de um indivíduo
contribuiu em grande parte para este ressurgimento (Rogers, 1951). Há até
numerosos teóricos da aprendizagem que chegaram a reconhecer a utilidade do
self enquanto conceito teórico (Bandura, 1982).
Este breve sobrevoo histórico faz ressaltar três pontos. O primeiro é que o auto-
conceito não é certamente indispensável para a psicologia social e que é possível
analisar o comportamento social sem recorrer a ele. Em segundo lugar, vários
teóricos defendem que mesmo que não seja indispensável, o autoconceito pode
ser muito útil. Em terceiro lugar, o uso científico do autoconceito suscita vários
problemas em psicologia social. Efectuaram-se progressos recentes no domínio
da medida; por exemplo, foi elaborada uma medida não verbal que reduz os
problemas de desejabilidade social (Ziller, 1973), recorreu-se a medidas
espontâneas do auto-conceito (McGuire, e Padawer-Singer, 1976), e a medidas
indirectas (Geller e Shaver, 1976), algumas das quais serão abordadas no
decurso deste capítulo. Os problemas identificados por Watson não estão todavia
ainda resolvidos. Entre eles, há a questão de se saber se as pessoas nos dizem o
que pensam realmente delas próprias ou simplesmente o que crêem que
queremos saber.
Seja como for, não restam dúvidas que a noção de self ocupa hoje em dia um
lugar de destaque na investigação em Psicologia Social. Para o verificar basta ter
em conta a lista de trabalhos em que o self aparece como prefixo, como, por
exemplo: self-awareness (autoconsciência), self-concept (auto-conceito), self
consciousness (autoconsciência), self-control (autocontrolo), self-disclosure
(auto-revelação), self-efficacy (auto-eficácia), self-esteem (auto-estima), self
image (auto-imagem), self-monitoring (autovigilância) , self-perception
(autopercepção), self-regulation (auto-regulação), self-schenw (auto-esquema),
self-serving' (autocomplacência), self-verification (autoverificação). Haverá
todavia uma definição que abarque toda esta riqueza de conceitos? É óbvio que
não há uma só resposta e o breve apanhado histórico efectuado já é susceptível
de nos fazer sentir isso. Nas secções seguintes examinaremos mais em pormenor
a natureza do self.
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Quem sou Eu? Cesse de ler alguns minutos e escreva numa folha branca as dez
características que pensa que o (a) descrevem. As respostas dadas incluem os
aspectos do self que são mais salientes para si. Talvez essa lista demonstre que
existem diferentes tipos de processos de definição do self, isto é, diferentes
maneiras de se definir.
o conceito de self foi discutido em pormenor por muitos teóricos, tais como
William James (1890), Charles Cooley (1902/1922), George Herbert Mead
(1934) e Harry Sullivan (1953). Se bem que esses autores realcem mais certos
aspectos do self, todos eles concordam sobre a construção social do self. Temos
uma concepção do self por causa das nossas interacções com outras pessoas. A
internalização destas interacçães sociais faz parte do que pensamos sobre nós
próprios. O autocoTlceito pode ser definido como o conjunto de pensamentos e
sentimentos que se referem ao self enquanto objecto (Rosenberg, 1979). É
importante referir que o autoconceito não constitui necessariamente uma visão
"objectiva" do que somos, mas antes um reflexo de nós próprios tal qual nos
percepcionamos. Por exemplo, o autoconceito de um estudante pode incluir
pensamentos tais como "Tenho 18 anos", "Sou um rapaz", "Sou alguém que
gosta de ajudar o próximo".
William James
143
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3. 1 Componentes do autoconceito
Há mais de cem anos William James (1890) descreveu a dualidade básica que
está no âmago da nossa percepção do self. Em primeiro lugar, o self é composto
pelos nossos pensamentos e crenças acerca de nós próprios, o que James
denominou o "conhecido", ou mais simplesmente o "mim". O conceito de James
do "mim" contém três componentes distintos. Há o self material que inclui o
corpo, o vestuário, a casa e todas as outras possessões. O self espiritual inclui os
traços de personalidade, atitudes, valores e percepções sociais. Finalmente, o self
social inclui o que amigos, pais, namorado(a), etc. conhecem de mim próprio.
James (1890) sugeriu haver tantos "selves" sociais quantas classes de pessoas
que têm uma imagem de nós na sua cabeça.
144
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Mim, o seif conhecido:
Self social:
Self material: Self espiritual: o que amigos, namorado,
o corpo de uma pessoa, traços de personalidade, pais, professores, etc.,
possessões físicas atitudes, valores, conhecem de mim
percepções sociais
145
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Temas Tipos de seIf Percentagem
4. Aparência física
5. Liberdade de acção
actividades)
Espiritual 23
8. As possessões materiais
Por exemplo, Gordon (1968) utilizou o "Quem Sou Eu?" com alunos do
secundário. O quadro 2.1 apresenta alguns dos resultados do seu estudo. Pode
se notar que uma grande percentagem de sujeitos menciona as suas relações com
os outros (59%), os seus gostos (58%), bem como as suas emoções (52%) e a
sua aparência física (36%) como sendo aspectos inerentes a eles próprios. Estes
146
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resultados vão no sentido da poslçao de James. Efectivamente, é possível
classificar as respostas dos sujeitos segundo as categorias propostas por James.
Deste modo, os elementos 4 e 8 fazem parte do self material; os itens 1 e 7
agrupam-se no self social; enquanto que os outros enunciados do quadro 2.1
fazem parte do self espiritual.
Nem sempre damos a mesma resposta à questão "Quem Sou Eu?", dado que só
se pode ter acesso cognitivamente a uma parte do self de cada vez. Recolheu
informação sobre si durante muitos anos, por isso o seu autoconceito de
trabalho inclui somente os atributos que são activados pela situação social
actual (Markus e Kunda, 1986; Markus e Nurius, 1986).
Quando as pessoas respondem à questão "Quem Sou Eu?", geralmente referem o seu nome
("Chamo-me Manuel"), características físicas ("Tenho 22 anos"), características demográficas
("Vivo no Porto"), traços e crenças ('Tenho facilidade em fazer amigos"), e interesses e
actividades ("Gosto de ir ao cinema"). Para além disso, as pessoas tendem também a mencionar
características que as diferenciam das outras. Segundo esta perspectiva, o jovem à direita
deveria ser mais susceptível de referir o seu sexo quando se descreve.
Quer crianças judias quer árabes vivem em Israel, mas as suas condições são muito
diferentes. As crianças judias fazem parte do grupo religioso predominante, ao passo
que as crianças árabes fazem parte de um grupo mais marginalizado nessa sociedade.
Daí que mesmo se a sua nacionalidade é a mesma, se possa esperar que estes dois
grupos de crianças tenham auto-representações um pouco diferentes. Esta questão foi
analisada num estudo em que se avaliou o autoconceito de 740 adolescentes judios e
750 adolescentes árabes frequentando escolas judias e árabes em Israel (Hofman, Beit-
Hallahmi, e Hetz-Lazarowitz, 1982).
148
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Nalguns aspectos estes dois grupos eram semelhantes, reflectindo características que
adolescentes de todos os grupos e países têm. Contudo, noutros aspectos diferiam. Os
elementos mais proeminentes das auto-representações nos judeus eram o auto-elogio e
a satisfação de vida. Nas crianças árabes sobressaíam factores, tais como auto-crítica,
religião e relações com os colegas. Em geral os adolescentes árabes tinham auto-
representações menos favoráveis, o que seria talvez reflexo do seu estatuto mais
marginal dentro da sociedade israelita.
3.3 Auto-esquemas
149
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Do mesmo modo que as pessoas podem ter diferentes autoconceitos, também
podem ter diferentes auto-esquemas. Bazel Markus (1977) conduziu uma
experiência para investigar os efeitos de auto-esquemas sobre o processamento
de informação. Um amplo grupo de estudantes universitários avaliaram-se em
primeiro lugar a eles próprios em termos da sua independência e dependência.
Com base nessas avaliações, aos sujeitos que se consideraram independentes,
dependentes, e que não se consideravam particularmente independentes ou
dependentes foi-lhes pedido para participar numa experiência de laboratório
supostamente não relacionada com as avaliações feitas. Markus (1977) formulou
a hipótese de que os sujeitos esquemáticos seriam capazes de decidir mais
depressa se as palavras relevantes dos seus auto-esquemas os descrevessem a
eles próprios do que os aesquemáticos, porque ter um esquema faria com que
fosse mais fácil para eles processar informação relevante para os esquemas.
A independência foi uma dimensão utilizada para ilustrar a operação dos auto-
esquemas. Muitas outras dimensões poderiam considerar-se. Efectivamente
qualquer atributo específico pode ser relevante para o autoconceito total de
algumas pessoas, não o sendo para outras. As pessoas podem pensar-se como
sendo masculinas ou femininas, liberais ou conservadoras, introvertidas ou
extrovertidas. Crianças e adultos descrevem-se referindo características físicas,
psicológicas e sociais (Bart e Damon, 1986). O auto-esquema do peso corporal
também já foi abordado (Markus, Hamil, e Sentis, 1987).
150
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2,5
Latência
(segundos)
2,0
O
Tipo de auto-esquema
15t
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entanto, dois motivos que contradizem isso. O primeiro tem a ver com o facto de
que à semelhança dos cientistas que integram as suas hipóteses numa só teoria,
os indivíduos transportam os seus auto-esquemas conjuntamente num
autoconceito, talvez organizado numa história de vida coerente (Epstein, 1973;
Gergen e Gergen, 1988). O segundo motivo tem a ver com a autocomplexidade
definida pelo número de identidades distintas que uma pessoa tem (amigo,
namorado, estudante, jogador de futebol, etc.) que propicia um amortecedor
contra agentes de stress. As pessoas com um autoconceito complexo acham ser
relativamente mais fácil absorver as contrariedades da vida (Linville, 1985). Se
uma pessoa só tem uma ou duas identidades principais, qualquer acontecimento
único pode ter um impacto na maior parte dos aspectos do autoconceito. A
mulher que se vê sobretudo como esposa, por exemplo, pode ficar arrasada se o
seu casamento acaba. Quando o papel de "esposa" já não está mais disponível,
uma grande parte do seu autoconceito, da sua identidade também acaba. Pelo
contrário, a pessoa que tem uma representação mais complexa do self pode estar
mais protegida contra acontecimentos negativos que envolvam somente um ou
dois dos vários papéis. A mulher que se vê não só como esposa, mas também
como mãe, engenheira, amiga e nadadora, terá outros papéis a que se agarrar se
o papel de esposa já não está disponível.
Greenwald (1980) propôs que o self actua como um ego totalitário que processa
a informação de modo enviesado. Este autor identificou três viés principais:
egocentração, beneficiação e conservadorismo cognitivo.
152
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3.4.1 Egocentração
153
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I
I
,I
'I
3.4.2 Beneficiação
Este processo opera quando tiramos conclusões acerca de nós próprios a partir
das nossas acções. Para mantermos um conceito positivo do self, chamamos a
nós o sucesso e negamos a responsabilidade pelo fracasso. A "beneficiação"
(beT1Tlefectance) é um viés de aUfocomp!acência que preserva o nosso sentido de
competência. Por exemplo, quando os estudantes tiram boas notas, dizem que os
exames foram elaborados de modo correcto. Mas quando as notas são fracas não
assumem a responsabilidade do seu fracasso e consideram o exame (ou o
examinador) incapaz de avaliar as suas capacidades (Arkin e Maruyama, 1979).
Um outro exemplo é-nos dado a propósito da negação de responsabilidades por
parte do agressor. Numa variante do procedimento utilizado por Milgram (1963)
para estudar a obediência, Harvey, Harris e Barnes (1975) levaram sujeitos que
desempenhavam o papel de professores a administrarem (pelo menos
acreditavam que administravam) fortes descargas eléctricas aos seus "alunos",
enquanto outros sujeitos acreditavam que só administravam choques ligeiros. Os
sujeitos declararam-se menos responsáveis da dor aparente dos seus "alunos"
quando se julgava que os choques eram violentos do que quando julgavam que
eram ligeiros. Para além disso, atribuiram-se menos responsabilidade pela forte
dor dos seus "alunos" do que fizeram terceiras pessoas em posição de
observadores. Este viés de autocomplacência será reexaminado mais adiante no
capítulo sobre atribuição. Diga-se tão só que muitas vezes este viés tem sido
apresentado como universal. Ora ele é efectivamente bastante específico a certos
elementos da cultura ocidental. Numa série de investigações efectuadas no Japão
(Markus e Kitayama, 1991) não foi evidenciado nenhum viés de autovalorização
na comparação social. Produziu-se simplesmente o inverso, um forte viés de
auto-apagamento.
Este viés foi demonstrado por sujeitos que entrevistaram outra pessoa (Snyder e
Swann, 1978). O modo como os sujeitos colocavam as questões permitiu-lhes
confirmar hipóteses prévias acerca da pessoa entrevistada. Por exemplo, se um
154
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sujeito pensava que a pessoa entrevistada era introvertida, fazia-lhe questões do
seguinte teor: "O que é que não gosta em festas barulhentas?" A resposta era
então interpretada em apoio da crença prévia do sujeito de que a pessoa
entrevistada era introvertida. Do mesmo modo, selecciona-se informação para
confIrmar expectativas sobre o self de uma pessoa (Mishel, Ebbersen, e Zeiss,
1973).
155
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As avaliações ref/eetidas são percepções das pessoas sobre o modo como outras
pessoas as vêem. A importância das avaliações reflectidas para modelar o
autoconceito tem sido ressaltada por investigação que mostra que as auto-
avaliações estão geralmente correlacionadas de modo positivo com' o que as
pessoas pensam dos outros (Shrauger e Schoeneman, 1979). Por exemplo,
pediu-se a crianças para avaliarem a sua própria atractividade física (uma medida
do seu autoconceito) e também para avaliar como pensavam que os seus colegas
os avaliariam (uma medida da avaliação reflectida) (Felson, 1985a). Em
consonância com a noção de avaliação reflectida, as avaliações dos indivíduos
estavam correlacionadas positivamente com a sua estimativa das avaliações dos
seus colegas. Tal sugere que as autopercepções das crianças baseavam-se, pelo
menos parcialmente, no modo como as outras crianças as viam.
Como é que um estudante pode decidir em que medida é inteligente? O que lhe é
transmitido pelos pais, professores, os resultados de um teste de inteligência ou
outras fontes externas são susceptíveis de fornecer alguma informação. Um
segundo modo de se avaliar a inteligência é através da comparação do seu nível
de inteligência com o dos colegas. A comparação social pode permitir avaliar as
nossas habilidades, pensamentos, sentimentos e traços comparando-nos com
outros. Festinger (1954), um dos teóricos que mais influenciou a moderna
psicologia social, desenvolveu a teoria da comparação social para explicar este
processo. A sua teoria afIrma que na ausência de um padrão físico ou objectivo
de exactidão, procuramos as outras pessoas como meio para nos avaliarmos.
156
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A utilização do sexo como critério para se escolher os outros para comparação
tem-se revelado uma dimensão particularmente importante de comparação. Por
exemplo, quando se pedia a sujeitos numa experiência para escolher uma pessoa
com quem gostariam de comparar a sua realização, ambos os sexos exprimiam
geralmente uma preferência mais forte por alguém do mesmo sexo (SuIs, Gaes e
Gastorf, 1979; Zanna, Goethals e Rill, 1975).
Note-se, enfim, que quando se efectuam comparações temporais pode haver uma
relativa distorção. As pessoas podem ter esquecido até que ponto mudaram. As
pessoas podem ser "historiadores revisionistas" na medida em que têm a
capacidade de reescrever as suas histórias pessoais do modo que lhes convém
(Ross e McFarland, 1988).
157
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3.5.4 Autopercepção
Um sentido do self mais privado e separado dos outros tem sido sugerido como
sendo típico das culturas ocidentais, ao passo que um sentido do self mais
socialmente integrado, tem sido apresentado como sendo mais típico das culturas
orientais. Contudo, já se referiu que alguns dos primeiros teóricos do self
avançaram a ideia de que o self é fundamentalmente social. As outras pessoas,
amigos, farrulia e antepassados foram vistos por William James (1890), por
exemplo, como uma parte importante do self. Para além disso, o
Uma das teorias com grande influência que apareceu em Psicologia Social desde
a crise dos anos 70 foi a Teoria da Identidade Social (Tajfel, 1982; Tajfel e
Turner, 1979). Esta teoria sublinha que a pertença grupal é muito importante
para o autoconceito de uma pessoa. A sua identidade social é aquela parte do seu
autoconceito que advém de ser membro de grupos sociais e da identificação com
eles. Distingue-se da identidade pessoal que engloba os aspectos únicos e
individuais do seu autoconceito. Por outras palavras, é a parte do seu sentido de
self que advém do conhecimento de que faz parte de grupos particulares na
sociedade. Alguns destes grupos são escolhidos por si, tais como quando decide
candidatar-se a determinada Faculdade. Mas também se pode ser membro de
grupos de modo involuntário: nascemos neles ou fomos a eles adstrictos pela
sociedade. Por exemplo, não escolhemos o nosso grupo sexual, etário ou de
meio cultural de origem.
Muitas vezes o nosso sentido de valor do self está ligado ao grupo a que
pertencemos ou com que nos identificamos. Por exemplo, a auto-estima dos
adeptos de uma equipa de futebol pode aumentar ou diminuir com a vitória ou a
derrota da sua equipa. Assim, uma proposição fundamental da teoria da
identidade social é a de que os indivíduos procuram manter ou realizar uma
identidade social positiva e distintiva. Em primeiro lugar, estamos preocupados
com que o nosso grupo se possa distinguir de outros grupos, o que nos assegura
uma identidade. Em segundo lugar, estamos também preocupados com que os
nossos grupos sejam avaliados positivamente em relação a outros grupos
existentes na sociedade.
159
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reacção quando se ouve alguém num lugar público dizer algo negativo a respeito
de um grupo a que se pertence. No caso desse grupo aparecer conotado com
uma identidade social negativa, a teoria sugere que o indivíduo está motivado
para a melhorar. Tal envolve muitas vezes uma identidade em competição com
outros grupos e pode levar ao preconceito e a conflitos. Os teóricos da
identidade social caracterizariam os numerosos movimentos nacionalistas e
étnicos que têm ocorrido no mundo como exemplos de luta por uma identidade
social avaliada de modo positivo e separado (e. g., Taylor e Moghaddam, 1987).
A identidade social tem implicações no domínio do preconceito e da
discriminação que examinaremos noutro capítulo.
160
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Em duas análises do self e da cultura é apresentado um amplo exame desta
questão (Triandis, 1989; Markus e Kitayama, 1991). São aí esboçadas
diferenças nos pensamentos e sentimentos auto-referentes e tendo em conta
ênfases culturais que diferem em independência e individualismo, por uma
lado, e interdependência e colectivismo, por outro lado.
As pessoas são socializadas por forma a As pessoas são socializadas por forma a
serem únicas, a validarem os seus pertencerem e ocuparem o seu lugar e
atributos internos, a promoverem os seus envolverem-se em grupos adequados e a
próprios objectivos e a dizerem o que "lerem as mentes dos outros".
pensam.
161
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resultados apresentados neste capítulo são sobretudo susceptíveis de serem
generalizados a culturas com uma orientação individualista.
162
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as pessoas se vêem a elas próprias, em particular, no grau de separação versus
ligação com os outros. Fizeram a distinção entre dois tipos de self: um self
independente, em que o self é uma entidade separada e autónoma; e um self
interdependente, em que o self é fundamentalmente ligado aos outros e guiado,
pelo menos em parte, pelas percepções do~ pensamentos, sentimentos e acções
dos outros. Defenderam que as culturas ocidentais promovem o
desenvolvimento de um self independente, ao passo que muitas das culturas
não ocidentais promovem o desenvolvimento de um self interdependente. No
documento 2.2 é apresentada a experiência do self na cultura japonesa.
163
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estudantes dos Estados Unidos mostraram assimetrias nos julgamentos da
semelhança self-outro em favor do self, isto é, o self era julgado como sendo
menos semelhante ao outro do que o outro ao self, ao passo que estudantes
indianos mostraram a assimetria oposta. Do mesmo modo, Cousins (1989)
encontrou que estudantes japoneses e americanos diferiam nos seus padrões de
auto-descrição consoante o contexto interpessoaI. Inicialmente utilizou a
versão usual do "Quem sou eu?". Como era esperado, encontrou-se que os
americanos referiam muitos mais traços psicológicos para se descreverem,
enquanto que os japoneses forneciam mais exemplos de comportamentos em
papéis específicos (e.g., alguém que nada muitas vezes). Cousins modificou
então o "Quem sou eu?" pedindo aos sujeitos para se descreverem como se
estivessem numa série de contextos específicos: por exemplo, em casa, com os
seus amigos, etc. Nestas condições o padrão e respostas foi invertido. Os
estudantes japoneses descreviam-se por meio de atributos psicológicos, ao
passo que os estudantes americanos referiam-se a preferências e desejos.
Cousins conclui que a necessidade dos americanos em preservar um
autoconceito independente levava-os a afirmar que, embora pudessem
comportar-se de um certo modo num contexto particular, tal não reflectiria
necessariamente o seu self "real". Os sujeitos japonenses, por outro lado, eram
mais capazes de se caracterizarem a eles próprios quando é especificada a
natureza da sua interdependência. Estes resultados ilustram algumas das
consequências cognitivas do self independente e interdependente.
164
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Em suma, os estudos actuais mostram que se todas as culturas parecem ter um
conceito do self, elas variam na compreensão deste conceito. Diversos estudos
interculturais convergem em apontar que a conceito do self e a importância
que se lhe atribui não se pode universalizar a todas as culturas não ocidentais.
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4. Avaliando o Self: auto-estima
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Que pensa de si próprio(a)? É capaz de fazer determinadas coisas tão bem
como as outras pessoas? Está satisfeito(a) com a sua aparência e com a sua
personalidade? Nunca se sente inútil? É optimista quanto ao seu futuro?
Passemos pois do conceito cognitivo de si próprio, à auto-estima, componente
mais afectiva do self.
169
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produto destas avaliações individuais, com cada identidade pesada segundo a
sua importância (Rosenberg, 1965).
J70
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com os seus filhos, mas mantêm regras e dão maIs assistência. Os paIs
autoritativos explicam as razões das suas regras e permitem às cnanças
questionar as suas restrições.
Por outro lado, as crianças com a auto-estima mais baixa são originárias de
famílias que são "autoritárias" ou "negligentes". Os pais autoritários exigem
submissão inquestionável e não se envolvém com os seus filhos. Os pais
negligentes não exigem uma disciplina estricta nem se envolvem com os seus
filhos (Lambom, et aI., 1991; Barros, 1994).
Outros estudos sugerem uma ampla gama de experiências que podem afectar a
auto-estima. Por exemplo, uma baixa auto-estima na idade adulta pode
desenvolver-se a partir de experiências infantis desagradáveis, tais como medo
de castigo, preocupações com as notas escolares, ou a percepção de que uma
pessoa é feia (Kaplan e Pokomy, 1970). Outras experiências negativas da
infância associadas a uma baixa auto-estima incluem a hospitalização de um
dos pais por doença mental, um outro casamento de um dos pais, ou a morte
de um pai (Kaplan e Pokorny, 1971).
171
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elevada auto-estima experienciam menos stress a seguir à morte de um(a)
cônjuge e confrontam-se de modo mais eficaz com os problemas daí
decorrentes (Johnson, Lund, e Dimond, 1986). Pessoas idosas com elevada
auto-estima experienciam menor ansiedade perante a morte (Simões e Neto,
1994).
4.4.1 Adolescência
172
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e entram na escala mais baixa na nova hierarquia do terceiro ciclo (EccIes et
aI., 1989). Contudo, de modo gradual, a auto-estima recompõe-se e continua a
aumentar até à idad~ adulta.
4.4.2 Experiências
174
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o terceiro estádio é uma compreensão mais profunda e uma avaliação da
etnicidade da pessoa, identidade étnica realizada. Neste estádio final do
desenvolvimento da identidade, confiança e segurança na nova identidade
étnica encontrada permite que as pessoas sintam um sentido profundo de
orgulho étnico juntamente com uma nova compreensão do seu lugar na cultura
dominante. São capazes de identificar e de internalizar os aspectos da cultura
dominante que são aceitáveis (por exemplo, segurança financeira,
independência) e revoltar-se contra os que são opressores (por exemplo,
racismo, sexismo). O desenvolvimento de uma identidade étnica positiva
funciona, pois, não só como protectora de minorias denegridas da continuação
do racismo no seu país, mas também permite-lhes utilizar esta identidade social
positiva para prosseguir os objectivos da sociedade dominante. Estas
transformações criam uma elevada auto-estima e um autoconceito estável
(Cross, 1991).
175
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Em suma, a auto-estima é uma disposição relativamente estável,
correlacionada muitas vezes com outros indicadores de adaptação psicológica.
Experiências infantis, em especial os estilos educativos dos pais, criam um
padrão para a auto-estima aquando da idade adulta. Todavia a auto-estima
também fluctua com as circunstâncias. As mudanças físicas da puberdade,
acontecimentos vitais significativos, a identificação com os grupos étnicos e
mesmo estados de espírito efémeros podem modificar o modo como nos
sentimos acerca de nós próprios.
4.5 Autodiscrepâncias
Mais acima já escreveu as dez características que oCa) descrevem como pensa
ser actualmente: o seu autoconceito actual. Se se sente com coragem escreva
mais quatro listas de características: 1) o self que gostaria de ser, englobando
todas as esperanças e objectivos (o self ideal); 2) as características que outras
pessoas importantes (e.g., os seus pais) desejam que atinja (o self ideal para os
outros); 3) as características que sente dever ter em termos de um sentido de
dever, responsabilidade, e obrigações para os outros (o self devido); e 4) as
características que outras pessoas imp0l1antes sentem que deve ter (o self devido
aos outros). Estas quatro listas representam autoguias, ou padrões pessoais.
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Gordon Flett e os seus colegas (1991) encontraram apoio experimental para
algumas destas ideias. Estes investigadores mediram auto-estima e depressão
junto de sujeitos que apresentavam diferentes graus de perfeccionismo
socialmente prescrito (ideais dos outros). Os sujeitos com altos níveis de
perfeccionismo socialmente prescrito mostravam uma tendência significativa
para a depressão e baixos níveis de auto-estima. Pagamos, pois, um preço por
tentarmos obter para nós os ideais dos outros.
177
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4.6 Autoconsciência
Tendo em conta toda a atenção que temos estado a dar ao pensamento sobre o
self, poderemos perguntar até que ponto as pessoas pensam mais acerca de si
próprias do que, por exemplo, das suas fanulias, dos seus estudos ou dos
programas de televisão preferidos. Talvez fique surpreendido do pouco tempo
que gastamos a pensar sobre nós próprios. Pediu-se a 107 pessoas com idades
variadas (de 19 a 63 anos) para registarem o que estavam a pensar em diversas
ocasiões durante o dia (Csikszentmihalyi e Figurski, 1982). A escolha dessas
ocasiões não era feita pelos participantes, mas sim pelos investigadores que
equiparam os sujeitos com material electrónico que tocava aproximadamente
cada duas horas entre as sete e trinta da manhã e as dez e trinta da noite.
Quando os sujeitos ouviam o toque, interrompiam o que estavam a fazer,
escreviam o que estavam a pensar no momento e preenchiam um pequeno
questionário. Com base num total de 4 700 observações, somente 8% dos
pensamentos registados eram sobre o self. A atenção dos sujeitos estava muito
mais focalizada em actividades específicas que ocupavam o seu tempo, como
trabalho, tarefas quotidianas ou que não tinham nenhuns pensamentos. Ainda
com mais interesse é que quando os sujeitos pensavam sobre eles próprios,
referiam que se sentiam relativamente infelizes e que desejavam fazer outra coisa.
Será a autofocalização desagradável? Se assim for, tal deve-se a que nos tornamos
conscientes de modo acentuado da autodiscrepância? Robert Wicklund e seus
associados pensam que a resposta a essa questão é positiva (Duval e Wicklund,
1972; Wicklund, 1975). Segundo a sua teoria da autoconsciência, geralmente não
estamos autofocalizados; no entanto certas situações levam-nos de modo previsível
a voltarmo-nos para o interior e a tornarmo-nos objectos da nossa própria atenção.
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Quando estamos perante um espelho ou um público, tornamo-nos o objecto da nossa
própria atenção. Se os espelhos são susceptíveis de produzir autoconsciência privada,
já os públicos provocam autoconsciência pública.
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Sabe-se que certos tipos de contextos sociais aumentam a autoconsciência. A
autoconsciência pode ser induzida pelo facto de nos vermos num espelho, de
ouvirmos a nossa voz gravada, de sermos fotografados, de estarmos num
contexto não habitual, ou de estarmos em minoria num grupo. Por exemplo,
um estudante que faz uma exposição nas aulas práticas está muito
provavelmente mais consciente da sua aparência física do que habitualmente.
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intenso para os sujeitos não tendo oportunidade de agir em vista a reduzir a
contradição entre a realização e os padrões internos, escolheram fugir da
situação.
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4.6.2 Diferentes tipos de autocol1sciência
Ix2
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falavam só entre elas e ignoravam o sujeito. Noutra condição, os "compadres"
eram simpáticos e respondiam ao sujeito. Os sujeitos eram informados que na
experiência principal estariam num grupo de três e poderiam escolher ficar
com as duas pessoas que já tinham encontrado, ou que podiam escolher um
novo par de estudantes. Cerca de cinquenta por cento dos sujeitos que tinham
uma autoconsciência baixa escolheram afiliar-se com um novo par quando
tinham sido ignorados. Oitenta e cinco por cento dos sujeitos com uma
autoconsciência pública alta procuraram novas afiliações quando tinham sido
ignorados. Quando os "compadres" não tinham ignorado os sujeitos, estes
escolhiam predominantemente ficar com os companheiros, quer os sujeitos
apresentassem alta ou baixa autoconsciência. Resultados elevados na dimensão
autoconsciência pública estão pois ligados a uma maior sensibilidade à rejeição
de um grupo.
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Figura 2.4 - Um teste simples de autoconsciência pública: score elevado à esquerda,
score baixo à direita
Por outro lado, Turner (1978) e Franzoi (1983) mostraram que os SUjeItos
com resultados altos na autoconsciência privada assinalavam mais adjectivos
para os descreverem do que faziam os que tinham resultados baixos, tais
resultados sugerindo que os primeiros dispõem de mais informação sobre si
mesmos. Em relação com a veracidade das auto-descrições, Scheier, Buss e
Buss (1978) encontraram uma correlação entre as auto-avaliações da
agressividade e o comportamento agressivo maior nos sujeitos com valores
altos na autoconsciência privada que naqueles com valores baixos.
Com base nestes estudos pode-se concluir que altos níveis de autoconsciência
privada estão associados com um conhecimento dos seus estados internos
melhor, mais pormenorizado e preciso.
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garantia de que a informação prestada seria estritamente confidencial. Fo.i
também administrado aos alunos a mesma escala de autoconsciência privada
(Fenigstein et aI., 1975) e foram questionados sobre a sua realização
académica e as atitudes dos pais e colegas sobre o uso do álcool. Os resultados
indicaram que a associação entre o uso do álcool e a realização académica era
significativamente maior nos alunos que tinham uma autoconsciência elevada
que nos que a tinham baixa. Assim, os alunos autoconscientes tendiam a beber
mais se a sua realização académica era fraca do que os sujeitos com
autoconsciência mais baixa. As análises estatísticas mostraram que esta relação
era independente dos efeitos dos comportamentos e atitudes dos colegas e dos
pais.
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Hallam, 1990). A memória também trabalha na protecção da auto-estima. As
pessoas com alta auto-estima lembram actividades boas, responsáveis e bem
sucedidas mais frequentemente, ao passo que as pessoas com baixa auto-
estima são mais susceptíveis de relembrar as actividades más, irresponsáveis e
mal sucedidas.
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universitária após uma vitória de futebol que após uma derrota. Identificavam-
se também mais com a sua escola quando descreviam as vitórias que as
derrotas, por isso enaltecendo ou protegendo a sua auto-estima (Cialdini et al.,
1976).
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5. Relacionando o Self: auto-apresentação
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Todos nós sabemos que, por vezes, tentamos impressionar alguém de um
modo muito particular. Quando nos apresentamos para sermos
entrevistados em vista a obtermos um emprego tentamos fazer crer
deliberadamente à pessoa que nos entrevista que possuímos as qualidades
que pensamos serem requeridas pelo novo emprego. E há todas as razões
para pensarmos que não somos os únicos a estar neste caso, pois outras
pessoas farão provavelmente o mesmo em situações idênticas.
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o objectivo da interacção social não é manter a aparência. Manter a
aparência é uma condição para que a interacção social continue. Incidentes
que ameacem a aparência de um participante ameaçam também a
sobrevivência da relação. É por isso que quando acontecimentos desafiam
a aparência de um participante, iniciam-se correctivos para impedir que o
embaraço possa interferir na conduta.
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estima, e para facilitar o desenvolvimento de uma identidade. Transmitir a
impressão certa pode fornecer recompensas sociais, tais como aprovação,
amizade, e poder e pode também levar a um aumento de recompensas
materiais, tais como uma subida de ordenado (Schlenker, 1980). Por
exemplo, ser visto como uma pessoa competente pode ter como resultado
um aumento de ordenado ou melhores condições de trabalho. Produzir a
impressão certa pode suscitar estima pelo aumento das reacções dos
outros (cumprimentos, elogios). A auto-apresentação pode também ser o
meio de criar ou de reforçar uma identidade. Estes três motivos gerais
funcionam geralmente conjuntamente. Comportamentos de auto-
apresentação que obtêm recompensas também aumentam auto-estima e
ajudam a estabelecer identidades desejadas. Pode, todavia, haver
excepções, como, por exemplo, as impressões que suscitam resultados
valorizados implicam por vezes a apresentação de si próprio de modo
desfavorável, diminuindo, por conseguinte, a auto-estima.
Uma auto-apresentação bem sucedida é uma condição sine qua non para
toda a interacção social. Cada um de nós investe pois quer na sua própria
apresentação quer na de outrem. Uma auto-apresentação bem sucedida
suscita uma auto-imagem positiva (Jones, Rhodewalt, Berglas e Skelton,
1981). Se o papel é mal desempenhado, o sujeito "perde a face". Há então
divergência entre a identidade que este tenta apresentar e a identidade
Diversos autores (Buss, 1980; Schlenker e Leary, 1982) têm notado uma
ligação entre a timidez e a ansiedade em público, por um lado, e a vergonha
e o embaraço, por outro lado.
Para manter ou elevar a auto-estima Os objectivos são altamente valorizados Tentativas para
(elogio; sentir que se fez hoa impressão) (recursos escassos; elevada competição; elevada construir a
+ necessidade de aprovação; o alvo tem poder c -+ impressão
estatuto) desejada
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(indica posse de identidade características habituais e desejadas
relevantes (fracassos prévios; sentir que os outros têm uma
imagem negativa a nosso respeito)
Fonte: Adaptado de Leary e Kowalski, 1990
-o
-.j
embaraço assinala diferenças: o embaraço implica por vezes o corar e o
riso, não sendo o caso da vergonha; o embaraço é acompanhado
geralmente de um sentimento de asneira, enquanto que a vergonha de
pesar; um acidente social (um "faux pas") resulta em embaraço, enquanto
que o facto de ser apanhado a efectuar um acto imoral provavelmente
suscitará vergonha.
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vegetativas do corpo e manifestações comportamentais observáveis
(Crosnier et aI., 1986). Distintos modelos de emoções tendem a assumir
haver menos de dez emoções que podem ser distinguidas de modo
fidedigno com base na expressão facial (e.g. Ekman et aI., 1972), muito
embora os teóricos difiram quanto ao seu número exacto. Tornkins (1962)
e Izard (1971), por exemplo, incluem a vergonha como uma emoção
básica, sendo o argumento mais forte para a sua inclusão a presença do
corar (BulI, 1983). Todavia o corar é visto como a marca do embaraço e
menos susceptível de estar associado à vergonha (Buss, 1980).
pressupõe:
199
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Dado esse padrão, uma ruptura da rotina social, como um "faux
pas", uma inconveniência, acidente ou transgressão, terá como
resultado a criação de uma impressão indesejada na imagem
projectada do actor.
200
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5.3.3 Antecedentes, respostas e estratégias de confronto com o embaraço
1 I I
ACONTECIMENTO EXTERNO
acid te) /
1
CONFRONTO
atenção
(c) factores do meio
focalização
ACONTECIMENTO INTERNO
pessoais
REAVALIAÇÃO
resposta emociona!
o quadro 2.4 fornece as frequências com as quais cada reacção verbal foi
mencionada na amostra portuguesa. As estratégias verbais para lidar com
o embaraço foram divididas em oito categorias derivadas da análise teórica
feita por Austin (1970), Scott e Lymann (1968), Tedeschi e Reiss (1981),
Schlenker (1980, 1982) e Semin e Manstead (1983). A característica mais
notável dos resultados é que dois terços dos sujeitos da amostra portuguesa
tanto especificaram que não responderiam verbalmente como falharam em
indicar uma resposta verbal. Para aqueles que indicaram que dariam uma
resposta verbal, não houve nenhuma resposta em especial que fosse
utilizada com regularidade.
A falta de especificação de tentativas verbais de confronto com o embaraço
é um pouco surpreendente devido à literatura extensiva sobre estratégias
remediativas verbais (Austin, 1970; Scott e Lyman, 1968; Tedesch e Reiss,
1981; Schlenker, 1980, 1982; Semin e Manstead, 1983), embora seja
consistente com investigações anteriores sobre as tentativas verbais para
lidar com o embaraço (Edelmann e Iwawaki, 1987; Edelmann et aI., 1987).
É possível que de facto os sujeitos dêem uma resposta verbal na altura em
que estejam embaraçados, mas não sejam capazes de recordá-la durante o
preenchimento do questionário; também é possível, no entanto, que as
tentativas verbais não sejam as mais eficazes para o confronto com o
embaraço.
Respostas verbais %
Desculpa 3,3
Comentar os próprios sentimentos 4,2
Exclamação 8,3
Explicação 3,3
Desculpa+explicação 1,7
Explicação+justificação
Justificação 1,7
Gozar 1,7
Face 31.7
SOrTir 28,3
Olhos 18,3
Corpo 5,0
Postura 5,0
O embaraço ocorre à volta do mundo quer nas culturas ocidentais quer nas
orientais. Tem sido observado em países africanos, em Samoa e no Bali (Eibl-
Eibesfelt. 1972), e investigadores têm estudado o embaraço na Alemanha, na
Espanha, na Grécia, na Itália, no Japão, em Portugal e no Reino Unido
206
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alguém embaraçado que procura ajuda foi examinado por Levin e Arluke
(1982). Os resultados de dois estudos experimentais sugeriram que o
comportamento de ajuda dependia das condições em que ocorre o
embaraço. Na primeira experiência verificou-se que espectadores prestavam
mais ajuda a um indivíduo quando perdia temporariamente a compostura
que quando efectuava a tarefa de modo socialmente aceitável. Os
resultados da segunda experiência estabeleceram os limites das obrigações
dos membros em relação à outra pessoa. Como na primeira experiência, a
pessoa recebia mais ajuda dos espectadores quando experienciava
embaraço. Já quando a pessoa embaraçada falhava em recompor-se, recebia
de modo significativo menos ajuda que quando não tinha mostrado
embaraço.
207
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Estratégia Técnica Objectivo
Insinuação
Intimidação
O intimidador tenta projectar uma identidade como sendo uma pessoa forte
e perigosa. Através de olhares ameaçantes, de palavras zangadas, de
ameaças de violência, os intimidadores tentam ganhar condescendência
induzindo medo nos outros (Jones e Pittman, 1982). Um intimidador tipo é
um ladrão com uma arma, mas há outras situações que envolvem tentativas
de intimidação: atletas de equipas contrárias, pais com filhos, talvez
professores com estudantes. É óbvio que as ameaças não são muito
agradáveis, podendo levar a outra pessoa a fugir da situação. É por essa
208
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razão que Jones e Pittman sugerem que a intimidação pode ser utilizada a
maior parte das vezes nas relações que são em certos aspectos não
voluntárias e em que não se pode escapar facilmente.
Autopromoção
Exemp/ificação
Súplica
Uma última táctica é a súplica que faz com que uma pessoa pareça fraca e
dependente. Pode ser a única táctica disponível para aquela pessoa que não
dispõe dos recursos requeridos pelas tácticas precedentes (simpatia, poder,
competência aparente, valor moral aparente). Esta táctica funciona porque
há normas espalhadas na nossa cultura que vão no sentido de que as
211
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a comportar-se mais de modo consistente com a sua própria auto-imagem
do que como pensam que a situação lhe reclama.
Com o intuito de se medir este construto foi elaborada uma escala (Snyder,
1974; Snyder e Gangestad, 1986). Num estudo com esta escala, Snyder
demonstrou que os actores profissionais tinham valores mais elevados em
autovigilância que estudantes universitários.
Há também estudos que têm mostrado que as pessoas com elevados valores
em autovigilância são mais susceptíveis de mudar o seu comportamento
para seguir a situação que a pessoa com valores baixos. Se uma situação
apela para a conformidade, as pessoas com valores elevados em
auto vigilância tendem a conformar-se com a opinião do grupo, mas se a
situação apela para a independência, tornam-se não conformistas (Snyder e
Monson, 1975). Ao invés, as pessoas com valores baixos em auto vigilância
parecem estar motivadas a manter as opiniões e comportamentos mesmo
em situações em que essas opiniões e comportamentos possam ser custosos
(Danheiser e Graziano, 1982). Como seria de esperar, as pessoas com
valores altos em autovigilância possuem maiores habilidades sociais, são
mais susceptíveis de iniciar interacções sociais e mais atentas a pistas
sociais em situações ambíguas. Aprendem mais depressa comportamentos
sociais apropriados e são melhores na compreensão de comportamentos
não-verbais. Segundo as palavras de Snyder as pessoas com elevada
auto vigilância têm um sentido pragmático do self, definindo a sua
identidade, em grande parte, em termos de situações sociais e de papéis que
desempenham.
Poderá haver duas razões diferentes por que as pessoas com elevada
auto vigilância modificam o seu comportamento para se ajustar às
expectativas e às pressões da situação. Tem-se efectuado a distinção entre
estratégias de evitamento/proteção e de aquisição/agressão (Arkin et aI.,
1986). Pessoas com valores altos em autovigilância que adoptam uma
orientação de evitamento/proteção tendem a estar inseguras, a ter uma
auto-estima baixa e a ser tímidas; os que adoptam a orientação
aquisi<;ão/agressão não estão nesse caso (Briggs e Cheek, 1988; Wolfe et
aI., 1986). Por consequência, as pessoas com valores elevados em
auto vigilância podem ser motivadas quer pelo evitamento quer pela
aquisição.
217
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preferências dos Portugueses vão mais para as profissões julgadas maIS
manUaIs.
SUMÁRIO
218
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características ambientais. O autoconceito de trabalho inclui somente
atributos que são activados pela situação social actual, e as estruturas
cognitivas que organizam esta informação são denominadas auto-esquemas.
Os auto-esquemas são pois generalizações cognitivas acerca do self que
têm influência no modo como organizamos e nos lembramos de
acontecimentos.
219
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e as varIas autoguias, ou padrões que temos para nós próprios. Alguns
destes padrões provêm do que pensamos que as outras pessoas esperam de
nós, alguns vêm dos nossos objectivos.
Não gastamos todo o nosso tempo a pensar sobre nós próprios. Todavia.há
condições que podem suscitar um estado de autoconsciência, durante o
qual focalizaremos a atenção nalgum aspecto do self e comparar-nos-emos
com algum padrão interno. Há também evidência que algumas pessoas
estão cronicamente mais atentas a elas próprias que às outras, e que essa
autoconsciência crónica pode estar dirigida quer para aspectos privados
(crenças, atitudes e valores) quer para aspectos públicos (aparência). A
autoconsciência está associada com o uso e abuso do álcool.
220
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As pessoas diferem na sua motivação e habilidade em controlar a sua auto
apresentação. As pessoas altas em autovigilância estão conscientes das
impressões que suscitam e são sensíveis às pistas sociais acerca de como as
pessoas deveriam comportar-se em diferentes situações. Às pessoas baixas
em auto vigilância falta-lhes quer a habilidade quer a motivação para regular
a sua auto-apresentação expressiva e tendem a comportar-se de modo
consistente com a sua própria auto-imagem e não tanto com a situação.
BERKOWITZ, L. (Ed.)
BUSS, A.
FISKE, S. T. e TAYLOR, S. E.
social e sclf que aborda com mais pormenor material discutido neste capítulo.
MULLET, E. e NETO, F.
SNYDER,M.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
3) Pode pensar numa ocasião em que esteve de acordo com pessoas que se
opunham à sua maneira de pensar porque temeu ficar embaraçado(a) se se
opusesse a elas? Descreva.
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111. CRENÇAS DE CONTROLO E ATRIBUIÇOES
-
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I
"•
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,
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TÁBUA DE MATÉRIAS
1. Introdução
2. A Ilusão do Controlo
3. Locus de Controlo
5. Atribuições
5.1.1 Definição
5.2 Teorias
5.3.1 Violação
5.3.2 Desemprego
5.3.3 Acidentes
5 A Erros de atribuição
6. Norma de Internalidade
Sumário
Actividades propostas
230
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,I
I
übjectivos de aprendizagem
comportamento social;
Miguel Torga
231
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li I
1. Introdução
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A vida é uma constante procura de controlo. Gastamos muito do nosso tempo
e esforço procurando concretizar um sentido de controlo. Desde tenra idade as
crianças procuram afirmar a sua própria vontade. Na adolescência, a procura
de autonomias é uma constante e muitas vezes surgem conflitos com os pais.
Na idade adulta, a batalha pelo controlo torna-se mais extensiva e complexa.
As pessoas lutam e competem para ganhar maior controlo numa variedade de
frentes, tais como saúde, prestígio, e poder; lutam sem cessar para melhorar as
suas posições. A procura de autonomia continua no último estádio da vida
humana. As pessoas idosas, ameaçadas pelo declínio físico e pela perda de
controlo sobre as suas vidas, devem utilizar todas as suas forças para se
manterem independentes tanto tempo quanto possível.
No âmago das relações humanas, quer sejam entre indivíduos quer entre
grupos, as relações com o controlo estão sempre presentes. Agressão e
conflito, dominação e submissão, negociação e cooperação são alguns dos
resultados a que chegam as pessoas para resolver problemas de controlo. Em
suma, o tema do controlo em todas as suas variações permeia todos os
aspectos da vida real. Não admira que a psicologia do controlo se tenha
tornado uma área de investigação dominante. Numerosas subdisciplinas na
psicologia, desde a educacional, social, industrial à clínica, têm fornecido uma
ampla evidência do impacto da psicologia do controlo.
235
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Ninguém nega a importância de que se revestem as expectativas (pessoais e
interpessoais) na psicologia da personalidade e na psicologia social, bem como
a importância do controlo ou das expectativas de controlo dos acontecimentos.
Os construtos que abordaremos referem-se especialmente às expectativas ou
crenças de controlo. O locus de controlo é definido precisamente como uma
crença, percepção ou expectativa de controlo do reforço. Por sua vez, as
atribuições causais surgem tomando por base crenças que permitem explicar e
controlar os acontecimentos da vida quotidiana.
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A crença de que podemos controlar o nosso destino é confortante. Talvez em
consequência disso as pessoas se enganem a si próprias muitas vezes pensando
que têm mais controlo do que efectivamente têm. Os antropólogos observaram
a função de um certo número de ritos enquanto controlo exercido sobre a
natureza. Assim em certas culturas as danças das chu vas são efectuadas com
tanta frequência que acabarão por ser seguidas do efeito desejado.
Foi todavia Langer (1975) quem melhor ilustrou as manifestações desta ilusão
de controlo. Definiu-a como sendo a expectativa de uma possibilidade de
sucesso muito superior à probabilidade objectiva.
Resultados deste género não querem dizer que não temos nunca controlo das
situações e dos resultados. Todavia a nossa crença no controlo pode ser mais
ampla do que as fronteiras actuais do controlo.
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111
i.
Rotter (1966, p. 1), logo no início da sua monografia, descreve deste modo o
controlo interno e externo: "Quando o reforço é percebido pelo sujeito como
seguindo-se a alguma acção sua, mas não estando completamente dependente
Rotter apresentou em 1966 a sua escala I-E com 29 itens (apenas 23 são contáveis,
sendo os outros 6 de despistamento). Para cada um dos itens o sujeito deve escolher
uma resposta entre duas alternativas que lhe são propostas (uma afirmação "interna"
e uma afirmação "externa") que mais cOlTesponde ao que pensa. Por exemplo.
escolher entre estas duas frases:
Existe uma adaptação portuguesa desta escala (Barros, Barros, e Neto, 1993).
Apesar de terem aparecido muitas outras escalas, após 1966, para avaliar o LOC,
para adultos, ou crianças, e ainda gerais (sobre numerosos aspectos da vida social)
ou específicas (medidas do LOC em relação com um só domínio, por exemplo,
professores) (cf. Barros, Barros, e Neto, 1993), a escala de Rotter ainda é o protótipo
das escalas de LOC.
245
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antecipados ou esperados, expectativa de reforço, automotivação, etc. Alguns
destes conceitos situam-se "para além do locus de controlo" (Palenzuela, 1986,
p. 12).
Dado que os internos se caracterizam por urna maior confiança neles próprios
que os externos, seria de esperar que fossem menos influenciados que os
externos. Urna das provas em apoio desta hipótese advém de se ter mostrado
que os internos se conformam menos facilmente que os externos com a opinião
de um grupo.
A situação era semelhante à de Asch, pois cada sujeito dava a sua resposta em
último lugar, após os "compadres" do experimentador terem respondido em
voz alta. Acontecia que a resposta destes "compadres" era unanimemente falsa,
o que colocava o sujeito perante um dilema: ou se conformava com as opiniões
expressas pelos outros membros do grupo, dando assim uma resposta que
sabia que era falsa, ou não tinha em conta a resposta dos parceiros e avançava
246
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com uma resposta em consonância com o seu julgamento. Era pedido aos
sujeitos, após terem dado a sua resposta, para indicarem o que pensavam do
seu julgamento.
Os resultados obtidos por meio do recurso a essas duas técnicas foram postos
em relação com o locus de controlo dos sujeitos avaliado pela escala de
Rotter. Com a primeira técnica não emergiu nenhuma diferença significativa.
Ao invés, com a segunda técnica, em que se introduziram somas de dinheiro,
verificou-se que os externos eram mais dependentes de julgamentos dos
parceiros do que os internos. Este estudo denota que, quando as paradas de
êxito se revestem de algum valor para o indivíduo, os internos acreditam mais
nos seus próprios julgamentos que os externos.
247
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uma descarga eléctrica. Assim, o sujeito tinha conhecimento que se expunha a
receber descargas quando ia a ajudar o parceiro. Apesar disso, verificou-se que
os internos ajudam mais frequentemente o seu parceiro que os externos.
248
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suporte ou desintegração social estava associado com a satisfação no trabalho,
dependendo também da percepção de controlo do reforço. As diferentes
dimensões de locus de controlo (internalidade, externalidade devido à sorte,
externalidade devido ao poder dos outros) produzem igualmente efeitos
diferentes na satisfação no trabalho, independentemente do nível de suporte
social.
249
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Ao invés, um dos factores que visa o desenvolvimento da comunidade é o
desenvolvimento da crença de que as pessoas podem interferir nos seus
destinos, o que caracteriza as pessoas consideradas internas. Ora, segundo
Escovar, uma das preocupações do agente comunitário é o de facilitar o
aumento da característica de internalidade nos membros das comunidades. A
sua consecução fará com que a comunidade se sinta mais confiante em
empreender tranformações que se tornem benéficas. Estarão menos
dependentes da ajuda dos outros e serão capazes de ter uma maior influência
no seu destino.
250
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3.3.1 Comparações nacionais
Uma ideia que também tem sido evidenciada é a de que as pessoas das nações
industrializadas são mais internas que as dos países em vias de
desenvolvimento. Reitz e Groff (1974) testaram hipóteses específicas relativas
à comparação de países industrialmente desenvolvidos e de países em
desenvolvimento no Oriente (Japão e Tailândia) e no Ocidente (Estados
Unidos e México). Foi emitida a hipótese de que os trabalhadores de
economias em desenvolvimento seriam mais externos do que os de economias
desenvolvidas na dimensão "Liderança-Sucesso". Esta hipótese pode ser
confirmada em países orientais e ocidentais. Os trabalhadores mexicanos
revelaram-se mais externos que os trabalhadores dos Estados Unidos e os
trabalhadores tailandeses eram mais externos que os japoneses. Foi também
emitida a hipótese de que na dimensão "Respeito" não haveria diferenças entre
os países orientais ou entre os países ocidentais, mas que os países orientais
seriam mais externos que os países ocidentais. Estas hipóteses foram
confirmadas. Na dimensão "Sorte", contrariamente ao que se esperava, os
trabalhadores dos países em desenvolvimento eram significativamente menos
251
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externos que os dos países desenvolvidos. Os resultados contradizem, em
particular, o estereótipo de que os mexicanos seriam mais fatalistas do que os
estadudinenses.
A grande maioria dos estudos posteriores, quer com crianças quer com
adultos, tendem a apoiar a generalização de que os negros americanos são
mais externos que os brancos americanos. Por exemplo, Dyal (1984)
encontrou confirmação dessa hipótese em 13 dos 18 estudos revistos.
Jerry Burger e seus colegas (l992a, 1992b) distinguem entre locus de controlo
e desejo de controlo. Enquanto que o locus de controlo se refere a quanto
controlo pessoal as pessoas percepcionam ter, o desejo de controlo refiecte
quanto controlo pessoal as pessoas preferem ter. Os dois não são a mesma
coisa e são possíveis diferentes combinações de cada um. Por exemplo, alguém
pode preferir ter um alto grau de controlo sobre os acontecimentos da sua
vida, mas acredita que actualmente tem muito pouco.
iI
255
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4. Reacções à perda de controlo
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I I
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Muito embora possa ser gratificante acreditar que se tem controlo sobre os
acontecimentos, nem sempre se pode ter esse controlo. Por exemplo, os
portugueses que viveram a repressão do Estado Novo podiam sentir que
tinham pouco controlo das suas actividades quotidianas, das suas conversas
mesmo com amigos. A doença também pode suscitar sentimentos de ausência
de controlo. Como reagem as pessoas perante as percepções da falta de
controlo?
Imagine que alguém oCa) interpela na rua pedindo-lhe para assinar uma petição
em favor de uma causa com que sintoniza. Enquanto está a ler a petição, é-lhe
dito que alguém pensa que não se devia permitir às pessoas assinar petições
deste género. A teoria da reactância prediz que tentativas do género para
limitar a liberdade das pessoas deveriam aumentar a probabilidade de
assinarem. Foi o que aconteceu nas ruas de Nova York (Heilman, 1976).
259
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acções. A primeira investigação sobre esta problemática foi efectuada com
animais. Por exemplo, um estudo demonstrou que cães que recebiam uma
série de choques eléctricos sobre os quais não tinham controlo, mais tarde
fracassavam em escapar de outros choques atravessando um obstáculo para
um compartimento em que não eram administrados choques. Os cães que não
tinham recebido choques incontroláveis aprendiam rapidamente a evitar os
choques ulteriores (Seligman e Maier, 1967). Seligman sugeriu três espécies
de défices em resultado de experiências com resultados incontroláveis. Em
primeiro lugar há um défice motivacional, pelo que o animal não tenta
aprender novos comportamentos. Em segundo lugar, há um défice cognitivo,
pois a aprendizagem não se efectua. Há, enfim, um défice emocional,
tornando-se o animal deprimido porque os resultados são incontroláveis.
o desânimo aprendido pode ser uma resposta para as pessoas que sentem que não têm
controlo das situações
260
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i'.
261
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4.3 Dependência auto-induzida
Se houve um efeito tão forte sobre a realização após haver passado por uma
breve experiência no papel de assistente, que dizer de grupos sociais que são
colocados com frequência no papel de dependentes? Pense-se no caso da
terceira idade. O facto de se ser rotulado de dependente, pode contribuir para
criar a dependência.
262
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5. Atribuições
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o tema da atribuição é um dos domínios mais importantes da investigação
na psicologia social nas duas últimas décadas.' Efectivamente, a partir dos
anos 70, os trabalhos suscitados pela atribuição vão ter uma expressão
notória. Segundo Ostrom (1981, p. 405) "do mesmo modo que a dinâmica
dos grupos foi a pre.ocupação dominante da Psicologia Social nos anos 50,
as atitudes nos anos 60, a investigação. sobre a teoria da atribuição foi a
preocupação empírica dominante dos anos 70". Numa recensão dos
trabalhos a propósito da atribuição nos anos 70, Kelley e Michela (1980),
sem a pretensão da exaustividade, contabilizaram 900 referências.
A sua importância transparece, não só pela quantidade de trabalhos
suscitados, como também pelas discussões proporcionadas. Tal
importância advém do facto de a atribuição nos ajudar a predizer e de certo
modo a controlar a nossa experiência social. Uma vez que acreditamos que
compreendemos as causas do comportamento, reagiremos com certos
pensamentos, sentimentos e respostas. Enfim, as atribuições acerca de
acontecimentos passados influenciam as nossas expectativas de futuro.
na vida quotidiana;
interpretam os factos;
265
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Em seguida, ilustraremos algumas das aplicações da teoria da atribuição,
abordaremos alguns erros de atribuição e faremos referência a trabalhos
que indicam a pertinência de uma análise das atribuições em termos de
relações entre grupos. Enfim, procurar-se-á saber se os modelos de
atribuição funcionam quando aplicados a outras culturas.
5. 1. 1 Definiçlio
266
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ou um fracasso (Weiner, 1986) ou para explicar uma falta de controlo
sobre um acontecimento (Abramson, Seligman e Teasdale, 1978)
constituem atribuições causais.
Duas outras técnicas têm sido também utilizadas. Numa delas, pede-se aos
sujeitos que indiquem a principal causa responsável pelo resultado; na
outra, os sujeitos avaliam um determinado número de pares de causas,
indicando em cada par, aquela que mais terá contribuído para o resultado.
267
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a atribuição em questão. Com este intuito, Russel (1982) desenvolveu a
Escala de Dimensões Causais (COS). A Escala de Dimensões Causais
compõe-se de oito situações hipotéticas de realização a que os sujeitos
respondem indicando as causas responsáveis pelo sucesso e insucesso,
avaliando, em seguida, cada uma dessas causas em 9 escalas semânticas
diferenciais (com formato Likert em 9 pontos). A Escala possui três itens
para cada dimensão causal (locus de causalidade, estabilidade e
controlabilidade).
5.2 Teorias
Uma teoria da atribuição analisa o modo como nos julgamos a nós mesmos
e aos outros. Dada a complexidade do processo de atribuição, não é de
admirar que existam diversas teorias. Abordaremos as primeiras reflexões
de Heider sobre a atribuição e três modelos teóricos propostos a partir das
ideias desse autor: o modelo das "inferências correspondentes" de Jones e
Davis, o da covariação de Kelley e o da atribuição de sucesso e de fracasso
de Weiner. Não é desprovido de importância notar que cada uma das
teorias que apresentaremos não oferecem uma explicação diferente do
comportamento, mas oferecem uma explicação consoante a informação
disponível e o tipo de explicação em que se está interessado.
268
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última guerra mundial. Heider sentiu que a maior parte dos indivíduos são
psicólogos "ingénuos" que tentam compreender os outros de forma a
tornarem o mundo mais previsível. Na sua famosa obra de 1958, Heider
lança os alicerces de uma nova problemática para a psicologia cognitiva,
fazendo uma descrição do processo pelo qual os indivíduos fazem
atribuições ao seu meio, atribuições de causas, de disposições, de
propriedades.
~
:feitol
Disposição -Intenção Acção Efeito 2
Efeito 3
Capacidade
271
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Finalmente era pedido aos sUjeItos para avaliarem o "compadre" na
dimensão introversão/extroversão. Também se lhes pedia para dizerem se
estavam seguros das suas avaliações e se pensavam que o compadre tinha
revelado a sua verdadeira identidade. Verificou-se que a certeza quanto à
atribuição de características pessoais ao outro, no caso vertente ao
compadre, aumentava nas condições "contra o papel", o mesmo é dizer
quando as condutas do compadre não eram conformes às que se requeriam
para um certo papel. A experiência confirmou, portanto, a hipótese de que
o comportamento conforme a um papel, ou imbuído de desejabilidade
social, informa-nos relativamente pouco sobre os traços de personalidade
de um indivíduo.
Em suma, a teoria proposta por Jones e Davis sugere que concluímos mais
provavelmente que o comportamento dos outros reflecte os seus traços
estáveis, isto é, obtemos inferências correspondentes acerca deles, quando
as suas acções: 1) ocorrem por escolha; 2) produzem efeitos não comuns; e
3) são baixas em desejabilidade social (figura 3.2).
INFERÊNCIAS
1----.....
CORRESPONDENTES
Os comportamentos foram
Alto grau de certeza de que o
escolhidos livremente
comportamento dos outros
resulta dos seus traços ou
disposições
"
à mesma entidade.
Em certos casos, cada uma das diferentes causas possíveis é suficiente para
produzir um dado efeito (esquema das múltiplas causas suficientes).
Baixa distintividade
Esta pessoa reage do
mesmo modo a estímulos
diferentes
Baixo consenso
A, outras pessoas não reagem
a este estímulo do mesmo
modo
Alta distintividade
Esta pessoa não reage do
mesmo modo a estímulos
diferentes
Alto consenso
Outras pessoas reagem a este
estúnulo do mesmo modo
Alta distintividade
Esta pessoa não reage do
mesmo modo a estímulos
diferentes
275
© Universidade Aberta
ainda mais complexos podem ser elaborados. Pode ser verificada a hipótese
de que quanto mais um efeito tenha um carácter extremo, mais é
interpretado no esquema das múltiplas causas necessárias (Cunningham e
Kelley, 1975; Kun e Weiner, 1973). Por exemplo, um sucesso numa tarefa
fácil, e um fracasso numa tarefa difícil, podem ser interpretados quer em
termos de capacidade, quer de esforço, mas um sucesso numa tarefa difícil
e um fracasso numa tarefa fácil seriam interpretados em função das
capacidades e do esforço.
276
© Universidade Aberta
que o sentido é dado a uma sequência de comportamento ao longo do
tempo. Ambas as teorias postulam que as pessoas são observadores
racionais e lógicos, actuando como cientistas ingénuos mediante o teste de
hipóteses acerca do lugar de causalidade de acontecimentos sociais. Até
que ponto somos lógicos nas nossas atribuições quotidianas? Mais adiante
voltaremos a este assunto.
277
© Universidade Aberta
rotular todas as causas externas como incontroláveis poder-se-á considerar
incorrecta, se atendermos ao facto de as causas externas para o actor
poderem ser percebidas como controláveis pelos outros. Consideremos o
caso de um aluno que reprovou num exame e que pensa que o professor
não "vai com a sua cara". Esta é uma causa externa e incontrolável por
parte do aluno, mas é percebida por ele como sujeita à vontade do
professor e, portanto, controlável por este. O problema que permanece por
resolver é se a dimensão controlabilidade significa "controlável pelo
próprio" ou "controlável por qualquer outro".
INTERNAS EXTERNAS
279
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pela mesma pessoa era atribuída de modo maciço a ambos os factores
estáveis (capacidade e dificuldade da tarefa), enquanto que a realização
consistente era atribuída acentuadamente a ambos os factores instáveis
(esforço e sorte).
A escolha entre estas possíveis causas pode ser afectada por diversos
factores. Por exemplo, as expectativas em relação a um grupo podem
afectar as atribuições. As pessoas atribuem mais o sucesso de uma mulher a
factores instáveis e o de um homem à capacidade (Deaux, 1976). Do
mesmo modo, os Brancos atribuem mais o sucesso devido à capacidade a
um Branco que a um Negro (Yarkin, Town, e Wallston, 1982). Quer os
Brancos quer os Negros atribuem mais o fracasso à falta de capacidade
noutro grupo que no seu próprio grupo (Whitehead, Snifer, e Eichhorn,
1982).
Por outro lado, pode-se perguntar se uma mesma causa não poderá
exprimir diferentes significados em diversos contextos. Por exemplo, o
exercício do esforço pode ser percebido como temporário (instável) ou
como reflectindo um traço (estável). Esta hipótese é apoiada pelo facto de
que o esforço parece ser interpretado de modo diferente conforme se trate
de situações de sucesso ou de fracasso. O sucesso atribuído ao esforço
promove a crença de que o exercício do esforço é estável. Pelo contrário, o
280
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fracasso atribuído à falta de esforço motiva, em geral, o indivíduo a
trabalhar mais. Assim, o exercício do esforço pode ser considerado instável
em situações de fracasso.
5.3.1 Violação
5.3.2 Desemprego
Uma outra questão social importante que tem sido examinada por meio da
teoria das atribuições é o modo como as pessoas encaram o desemprego.
Dado o lugar proeminente que o trabalho ocupa na maior parte da nossa
vida quotidiana, a perda de emprego representa não só um duro revés,
como também suscita a procura de alguma explicação.
283
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Neste mesmo sentido, Schaufeli (1988) efectuou um estudo longitudinal.
Em primeiro lugar recolheu as atribuições de um grupo de sujeitos acerca
do desemprego. Em seguida comparou essas atribuições com as que foram
efectuadas seis meses mais tarde por essas mesmas pessoas, estando
algumas delas empregadas e outras desempregadas. Os resultados
mostraram não haver praticamente mudança nas primeiras atribuições,
apesar dos diferentes percursos quotidianos dos sujeitos, seis meses depois.
Quando consideraram o desemprego imaginado no primeiro momento,
ambos referiram que o sucesso no emprego seria principalmente função de
factores internos, enquanto que o fracasso em obter emprego dever-se-ia a
factores externos. Quando se procedeu a uma avaliação, seis meses mais
tarde, os que estavam empregados atribuíram o seu sucesso a factores
internos e os que estavam desempregados a factores externos. Em suma.
em ambos os casos de desemprego imaginado ou experienciado as pessoas
fazem o mesmo tipo de atribuições. O emprego é visto como sendo o
resultado de algo relacionado com as pessoas e o desemprego como sendo
o resultado de algo relacionado com a sociedade.
5.3.3 Acidentes
284
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um aumento nas atribuições com vista a obter-se de novo uma
compreensão da relação.
A B C
19. __ o
20. __ o
Existem diferenças nas atribuições que são feitas pelas pessoas implicadas no
comportamento (os actores) e as que só observam o comportamento. Os
actores têm tendência a fazerem atribuições para o seu próprio
comportamento a causas externas ou situacionais, enquanto que os
observadores são mais susceptíveis de fazerem atribuições internas ao
comportamento dos outros. Esta tendência é conhecida pejo nome de efeito
actor-ofJserl'ador. (Jones e Nisbett 1972). Esta diferença foi demonstrada,
por exemplo. num estudo (Nisbett Caputo, Legant, e Maracek, 1973) em que
se pedia a estudantes universitários para explicarem, quer para eles próprios
quer para um amigo, as causas da escolha de um curso numa universidade e da
escolha de uma namorada. Segundo os investigadores eram dadas respostas
diferentes para as escolhas deles próprios e para as escolhas feitas pelos seus
amigos. Para eles próprios descreviam a sua escolha em termos de
características inerentes às suas namoradas e universidades ("Ela é afectiva e
bonita", "ajudará a minha carreira"). Mas quando se respondia por um amigo,
os estudantes atribuíam o comportamento a qualidades dessa pessoa ("Ela
necessita de alguém com quem possa relaxar" ou "Ele quer ganhar muito
dinheiro").
287
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observador advém da diferença na informação disponível para actores e
observadores. Muitas vezes, o observador tem pouca informação sobre os
determinantes históricos e estará por conseguinte completamente focalizado
no aqui e agora. Enfim, os observadores estão mais interessados em obter
informação que permita efectuar predições sobre a conduta futura do actor.
Este objectivo motiva os observadores a olharem para as características
estáveis da pessoa. Esta hipótese pôde ser confirmada por Miller, Norman e
Wright (1978), concluindo que os observadores efectuam mais atribuições
internas acerca de um actor quando esperavam interagir com o actor do que
quando não o esperavam.
Uma demonstração clássica deste erro foi fornecida por uma experiência em
que os sujeitos foram repartidos aleatoriamente em "interrogadores" e
Uma explicação que tem sido avançada para o erro fundamental da atribuição
é que quando observamos o comportamento de outra pessoa, temos tendência
a focalizarmo-nos nas suas acções e ignoramos o contexto social em que estas
ocorrem. Donde resulta que a influência potencial das causas situacionais não
seja reconhecida. Uma segunda interpretação é que os indivíduos
efectivamente vêm os factores situacionais, mas não conseguem dar-lhes um
peso suficiente. Ou por outras palavras, não os percepcionam como sendo tão
importantes como são realmente (Johnson, Jemmott, e Pettigrew, 1984).
O suporte inicial para este erro da atribuição foi encontrado por Jonhson,
Feigenbaum e Weiby (1964) que utilizaram estudantes de psicologia da
educação como sujeitos, tendo-lhes pedido para ensinarem aritmética a dois
alunos. Comunicava-se aos estudantes que um aluno tinha tido bons resultados
e outro fracos resultados num teste. Pedia-se depois aos estudantes para
ensinarem mais aritmética aos mesmos dois alunos. Subsequentemente dizia-se
289
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aos sujeitos que o aluno que tinha tido bons resultados no primeiro teste, tinha
continuado a ter esses mesmos resultados e o aluno que tinha tido fracos
resultados nesse teste ou a) continuava a ter fracos resultados ou b) tinha
melhorado. Pedia-se enfim aos sujeitos para avaliarem a realização dos dois
alunos. Encontrou-se que os estudantes-professores atribuíam o melhoramento
na realização dos alunos que inicialmente tinham tido fracos resultados a eles
próprios e os que continuavam a ter fracos resultados aos alunos. É necessário
todavia ser indulgente com estes estudantes-professores, pois os alunos
manifestam do mesmo modo a tendência a ver os seus sucessos como
resultado da sua própria responsabilidade e a considerar os seus fracassos
como sendo devidos às circunstâncias (Bernstein, Stephan, e Davis, 1979).
Este erro resulta de duas fontes diferentes se bem que estejam relacionadas.
Em primeiro lugar, permite-nos proteger a nossa auto-estima: se somos
responsáveis pelos resultados positivos, mas não nos censuramos pelos
negativos, os nossos sentimentos sobre nós próprios podem ser mantidos
(Greenberg, Pyszcynski, e Solomon, 1982). Em segundo lugar permite-nos
melhorar a nossa imagem pública. Mesmo que não nos preocupemos com as
suas origens precisas, este erro atribucional pode causar tensões interpessoais.
Imagine-se o que aéontece quando duas ou mais pessoas trabalham
conjuntamente numa tarefa. Por causa do erro de complacência cada pessoa
pode percepcionar o sucesso que resulte dos esforços conjuntos como sendo
sobretudo fruto da sua contribuição. Pelo contrário, cada pessoa pode
percepcionar os fracassos como sendo culpa dos outros. No caso de acontecer
este tipo de reacções, a cooperação futura está seriamente ameaçada.
290
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5.4.4 Efeitos temporais da atribuição
Religião do actor
Quadro 3.2 - Tipos de atribuições segundo a religião do actor e o modo como era
tratado
Este mesmo viés do efeito exogrupo pode ser demonstrado quanto à cor da
pele nos Estados Unidos. Duncan (1976) pediu a estudantes americanos
brancos para descreverem, após terem assistido a uma interacção entre um
negro e um branco em vídeo, o comportamento dos protagonistas. Quando os
sujeitos brancos viram o protagonista branco empurrar uma vítima negra, 17%
descreviam o acto como sendo "violento", enquanto que 42% pensavam que
era um mero "jogo". Quando os sujeitos brancos viam um protagonista negro
empurrar uma vítima branca, 75% descreviam-no como um acto "violento" e
somente 6% pensava que era um "jogo". Por outras palavras, o mesmo
comportamento é avaliado de modo mais positivo quando efectuado por um
295
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A questão concreta que se pode levantar é a de se saber até que ponto os
mesmos modelos de atribuição funcionam se aplicados a outras culturas. O
modelo de Kelley foi testado numa perspectiva intercultural por Cha e Nam
(1985) que replicaram a metodologia de McArthur (1972) com sujeitos
coreanos. Foram fornecidas aos sujeitos curtas descrições de episódios
comportamentais e informação sobre consenso, distintividade e consistência.
Os resultados encontrados foram semelhantes aos encontrados por McArthur
nos Estados Unidos e apoiaram o modelo de Kelley. Todavia, à semelhança do
que acontece quando se efectuam comparações interculturais, também se
encontraram algumas diferenças. Por exemplo, os sujeitos da Coreia
utilizavam mais atribuições externas que os sujeitos dos Estados Unidos.
296
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Barghava avançam como explicação para esta diferença o colectivismo da
cultura indiana em comparação com o individualismo da cultura norte-
amencana.
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6. Normas de internalidade
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Talvez o leitor já se apercebesse que os processos da explicação quotidiana
deixam filtrar algo de inquietante. Por um lado, teóricos da atribuição notaram
uma espécie de erro (e não se trata de um qualquer erro: é fundamental) na
tendência em considerar a pessoa, o actor, o principal factor causal. Por outro
lado, já vimos que os internos em termos de locus de controlo são pessoas de
bem. Ou por outras palavras, o que muitas vezes é uma fonte de erro na óptica
de teóricos da atribuição, é o que há de melhor na perspectiva do locus de
controlo. Perante esta inquietação surgiu a "norma de internaiidade" (Jellison
e Green, 1981; Beauvois, 1984).
A primeira experiência foi efectuada para verificar até que ponto as crenças
que os acontecimentos associados com o comportamento humano,
determinadas por causas internas, são mais valorizadas socialmente do que as
crenças externas.
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Se o lugar das categorias sociais numa cultura pode influenciar a explicação
dos reforços, efectuou-se uma segunda experiência com o intuito de testar a
hipótese da ausência de um padrão atribucional generalizado.
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nacional que asseguraria desde há séculos, na busca de novos mundos, "a
realização de um imaginário que se satisfazia em si mesmo, pois que se ficou
no fascínio desses novos mundos, sem que deles trouxesse a riqueza
fecundante da nossa Terra" (Mal pique, 1990, p. 23).
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7. Níveis de análise distintos
mas relacionados?
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Neste capítulo foram abordados alguns construtos que gravitam na órbita do
controlo percebido. A questão que se pode levantar é a de que espécie de
distinções se podem fazer no âmbito do controlo percebido. Exporemos as
três distinções avançadas por Ferguson, Dodds, Ng, e Flannigan (1994).
Seja qual for a explicação para a relação entre estilo explicativo e saúde, estes
dados chamam a nossa atenção para o facto de a interpretação que fazemos
dos acontecimentos influenciar profundamente as nossas acções futuras.
SUMÁRIO
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comportamento como sendo causado, e que a causa era quer interna
(disposição subjectiva) quer externa (situacional ou ambiental). As inferências
correspondentes são observações acerca do comportamento que concordam
com outras acções observadas. As inferências correspondentes são
aumentadas pelos efeitos não comuns, quando não há desejabilidade social e
quando a pessoa que está a ser observada actua sob livre escolha. O modelo
de covariação requer conhecimento sobre como uma pessoa se tem
comportado no passado (consistência), em diferentes situações (distintividade)
e como se comportam as outras pessoas (consenso). O modelo do esquema
causal aplica-se quando temos informações acerca de como uma pessoa se
comporta numa só ocasião. O modelo de Weiner diz respeito às explicações
para o sucesso e o fracasso de pessoas na realização de uma tarefa.
Esta obra oferece inúmeros exemplos de como a teoria da atribuição pode ser
aplicada em contextos educativos, empresariais e de saúde mental.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
1) Pensa que alguém que dependa do seu horóscopo para se guiar é uma
pessoa interna ou externa?
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TÁBUA DE MATÉRIAS
1. Introdução
2. Sinopse Histórica
3.2 Características
4.1 Crenças
4.2 Opiniões
4.3 Valores
4.4 Ideologia
7. Atitudes e Comportamento
planificado
Sumário
Actividades propostas
Montaigne
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I'
1. Introdução
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Desde os alvores da década de 60 até 1974, Portugal esteve envolvido em
guerra contra os movimentos de libertação de ex-colónias portuguesas no
continente africano. Esta guerra colonial foi tremendamente custosa em vidas
humanas e em termos financeiros, para além de nefastas consequências
psicológicas para os combatentes e seus familiares. Salazar e posteriormente
Marcelo Caetano recusaram-se a alterar a sua política de envolvimento militar
apoiando-se nas atitudes da maior parte da população portuguesa que seria
supostamente a favor das políticas seguidas.
São poucas as questões que hoje em dia possam suscitar tanta paixão entre as
pessoas como a questão do aborto. Na discussão desta questão surgem muitas
vezes dois valores básicos: vida e liberdade. Activistas pró-vida defendem que
o aborto tira o direito a viver. Já activistas a favor do aborto defendem que a
verdadeira questão gira à volta do direito da mulher em escolher. Não conheço
onde oCa) leitor(a) se situa em relação à questão do aborto, mas estou quase
certo que tem uma atitude positiva ou negativa. Se fizer uma introspecção das
bases desta sua atitude, seja qual for a sua tonalidade, muito possivelmente há
um certo número de semelhanças que emergem. Em primeiro lugar, as suas
atitudes em relação ao aborto estão fortemente associadas a valores que
defende pessoalmente. Em segundo lugar, estas atitudes assentam num certo
número de crenças. Em terceiro lugar, estas atitudes aparecem associadas a
uma emoção forte ou afecto. A quarta semelhança susceptível de aparecer para
modelar a sua atitude poderá ser algum comportamento passado ou
experiência pessoal.
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das populações em relação a detergentes, máquinas, perfumes, bebidas,
medicamentos. Institutos de sondagens têm. aparecido para fornecer as
informações pretendidas por esses grupos. Muito provavelmente o leitor já foi
contactado por algum entrevistador de um instituto de sondagens para
recolher a sua atitude em relação a determinada questão: droga, aborto,
inflação...
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2. Sinopse histórica
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o termo atitude, derivado da palavra latina "aptitudo" que significa a
disposição natural para realizar determinadas tarefas, designou a posição
corporal dos modelos dos pintores italianos do renascimento. Mediante
determinada posição corporal era expresso um sentimento, um desejo. Assim,
a atitude recebe uma significação que é susceptível de ser compreendida pelas
outras pessoas. Mais tarde, o termo entrou na linguagem corrente para se
referir já não tanto a uma postura corporal como a uma "postura da mente".
Hoje em dia, quer para o público em geral quer para os psicólogos sociais, as
atitudes referem-se a estados mentais.
McGuire (1985) assinala três períodos principais no estudo das atitudes, tendo
em conta a sua focalização dominante. O primeiro período corresponde aos
anos 30, que como se disse, focaliza-se sobretudo na medida das atitudes. O
segundo período ocorreu nos anos 50 e 60 em que se desenvolveram a maior
parte das teorias sobre a mudança de atitudes. O terceiro período está em
curso e focaliza-se preponderantemente nos sistemas atitudinais.
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o que é exactamente uma atitude? Dado tratar-se de um termo popular
utilizado na vida quotidiana, quase todas as pessoas têm uma ideia do seu
significado. Contudo os psicólogos sociais devem definir o termo de modo
preciso se pretendem utilizá-lo como um conceito científico.
As definições que são propostas na literatura são tão numerosas que quase
todos os autores que trataram deste tópico avançaram uma. Dawes e Smith
(1985), numa revisão sobre medida de atitude e opinião, confirmam que hoje
em dia ainda permanece tanta controvérsia na definição de atitude como
quando foi proposta pela primeira vez. Ainda é verdade, como já Gordon
Allpport argumentou há muitos anos, que se medem as atitudes com maior
sucesso do que são definidas.
Esta multiplicidade de definições deixa transparecer que este conceito é uma
realidade psico-social ambígua e difícil de apreender.
Cognição Medidas
• verbais
• fisiológicas
Objecto de atitude Afecto
ou
1 I....
--f
• comporta-
1 Comportamento I mentais
Medidas
1 Objecto de atitude Atitude
• verbais
(afecto)
• fisiológicas
ou
• comporta-
mentais
I Cognição
Medidas
• verbais
• fisiológicas
IObjecto de atitude f-i Vi Afecto Atitude I 1---- ou
/ • comporta-
mentais
I Comportamento r
Figura 4.1- Estrutura das atitudes segundo três dos modelos mais utilizados
Investigação mostrou também que cada componente pode contribuir com algo
de único para o que se chama atitude. Breckler (1984) efectuou um estudo
para testar as contribuições independentes dos componentes afectivo,
cognitivo e comportamental em relação às cobras. Breckler mediu o ritmo
cardíaco e os humores das pessoas na presença da cobra (componente
afectivo) e as suas crenças favoráveis ou desfavoráveis acerca das cobras
(componente cognitivo) e, por fim, perguntou às pessoas como reagiriam a
uma cobra e observou a que distância queriam aproximar-se de uma cobra
(componente comportamental). Encontrou que cada componente, se bem que
moderadamente relacionado com os outros, forneceu uma contribuição
importante e distinta para o construto que chamamos de atitude. As três
dimensões convergem, por conseguinte, para assegurar uma significação
comum, mas também existe urna validade dsicriminante entre cada uma delas.
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339
Tannenbaum, 1957) é utilizada sozinha, sem outras dimensões, como sendo a
única medida de atitudes. Neste âmbito Fishbein e Azjen (1975, p. 6) definem
a atitude como sendo "uma predisposição aprendida para responder de modo
consistentemente favorável ou desfavorável em relação a dado objecto". Uma
definição semelhante foi utilizada muitos anos antes por Thurstone (1928) que
definiu a atitude como a intensidade de afecto a favor ou contra um objecto
psicológico. Para esta abordagem a atitude em relação ao aborto, por exemplo,
seria definida pela resposta afectiva ao aborto.
A definição de atitude como avaliação está-se a tornar cada vez mais usual em
psicologia social, se bem que ainda não seja universal. Está a substituir uma
definição "tripartida" da atitude previamente muito difundida: o chamado
"modelo ABC" de atitude. O grau de discrepância entre medidas empíricas dos
três presumidos componentes da mesma atitude tidos por uma pessoa em
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relação a um só objecto é geralmente tão grande que o modelo tripartido tem
sido amplamente afastado (Eagly e Chaiken, 1993). E, para além disso, ao
definir-se o comportamento como um componente de atitude, o problema de
qualquer suposta relação entre atitude e comportamento é simplesmente
afastado. Tal não ajuda a resolver um dos problemas principais da psicologia
social, isto é, as atitudes predizem o comportamento?
3.2 Características
TOTALMENTE TOTALMENTE
DIRECÇÃO
INTENSIDADE
Uma segunda função das atitudes é que elas contribuem para a auto-
representação. Se um conjunto de atitudes são um elemento fulcral de certos
grupos sociais, as atitudes também são elementos fulcrais nas representações
que as pessoas têm delas próprias. Quem foram os capitães de Abril sem as
suas atitudes em relação à guerra colonial e à liberdade? Quem é Nelson
Mandela sem as suas atitudes em relação ao apartheid?
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4. Atitude e noções conexas
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Nem sempre se encontra uma ausência de confusão conceitual na literatura
sobre as atitudes o que é devido em grande parte ao facto de que os autores
não definem os termos utilizados do mesmo modo. Vimos precedentemente os
usos básicos que se têm feito da noção de atitude tendo-se em particular
assinalado a tendência que distingue os componentes afectivo, cognitivo e
comportamental, utilizando-se diferentes termos para cada uma dessas
realidades. Apesar disso, há noções conexas susceptíveis de produzirem uma
certa confusão no leitor menos precavido. Não tentaremos diferenciar a atitude
de todas essas noções conexas agora, mas tão somente de crenças, de opiniões
e de valores. Mais adiante abordaremos as suas relações com as
representações sociais (capítulo 5).
4.1 Crenças
Para autores que se situam num modelo tripartido das atitudes, as crenças
podem ser consideradas como o componente cognitivo das atitudes (e.g.,
Krech, Crutchfield, e Ballachey, 1962). Esta perspectiva pode suscitar
problemas, pois implica uma consistência entre os três componentes das
atitudes. Já autores que consideram a atitude como sendo unitária, tais como
Fishbein e Ajzen (] 975) definem as crenças como julgamentos que indicam a
probabilidade subjectiva de uma pessoa ou um objecto tenha uma
característica particular. Nesta perspectiva, crenças e atitudes são claramente
distintas: as crenças são cognitivas (pensamentos e ideias) enquanto que as
atitudes são afectivas (sentimentos e emoções). Por exemplo, crer que um
gelado é saboroso não é a mesma coisa que sentir-se feliz por comer um
gelado quanto está calor.
4.2 Opiniões
Por vezes os termos opinião e atitude têm sido utilizados como sinánimos.
Efectivamente, McGuire (1969, p. 152) sugeriu tratar-se de "normas à procura
de uma distinção e não tanto de uma distinção à procura de uma
Acontece todavia que muitas vezes são efectuadas distinções entre atitudes e
opiniões, havendo no entanto diferentes perspectivas sobre o tipo de distinção
a ser efectuada. Encontra-se frequentemente na literatura uma definição de
opinião como sendo mais específica que a atitude. ABport (1935) situa os
quatro conceitos - opinião, atitude, interesse e valor - ao longo de um mesmo
continuum indo do mais específico ao mais geral. Encontra-se uma concepção
semelhante em Hovland, Janis e Kelley (1953).
Por sua vez, Eysenck (1954) distingue quatro TIlVeIS: a opmIao acidental, a
opinião habitual, a atitude e a ideologia. A opinião acidental não é de nenhum
modo característica do indivíduo (a pessoa X diz hoje algo e no dia seguinte
diz o contrário). A opinião habitual, relativamente constante, é característica
do indivíduo (uma pessoa patrioteira reage em geral sempre do mesmo modo
quando se critica o seu país). A atitude, conjunto de opiniões estáveis
interligadas, corresponde a um componente importante da personalidade.
Enfim, o nível da ideologia traduz a interdependência das atitudes. De uma
pessoa que manifesta uma atitude etnocêntrica, um modo severo de educar as
crianças, atitudes pró-religiosas, patriotismo poder-se-á dizer que possui uma
personalidade de tipo conservador.
4.3 Valores
Num trabalho mais recente (Rokeach, 1973) foi feita a distinção entre valores
finais, que dizem respeito aos objectivos últimos da vida, e valores
instrumentais, que dizem respeito a modos de conduta. Segundo Rokeach os
valores finais podem centrar-se na pessoa (dignidade, sabedoria, harmonia
interior, .. ) ou no grupo (igualdade, verdadeira amizade, segurança sociaL).
Trata-se pois no primeiro caso de valores pessoais e no segundo de valores
sociais. Por sua vez, os valores instrumentais podem estar mais orientados para
a auto-realização ou mais orientados para a moralidade.
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Rokeach elaborou duas escalas para se avaliarem os valores, cada uma
contendo dezoito valores finais e dezoito valores instrumentais. Aos sujeitos a
quem se administram essas escalas, é-lhes pedido para ordenar os valores finais
e os valores instrumentais tendo em conta a sua importância, os seus princípios
orientadores na sua vida. Se bem que este instrumento tenha sido alvo de
várias críticas (por exemplo, criticou-se a escala por se situar a um nível
ordinal de medida, Ng, 1982), possui no entanto propriedades psicométricas
interessantes o que permitiu a recolha de inúmeros dados de qualidade. Por
exemplo, Rokeach obteve dados a nível nacional nos Estados Unidos sobre um
número de valores terminais em quatro anos diferentes - 1968, 1971, 1974 e
1981, abrangendo um período de treze anos (Rokeach e Ball-Rokeach, 1989).
Os dados mostram que houve uma estabilidade considerável nos valores neste
período de tempo. Os seis valores com pontuações mais elevadas e mais baixas
mudaram muito pouco e os do meio permaneceram no meio. Contudo, apesar
desta estabilidade houve algumas mudanças interessantes. "Igualdade", um
valor considerado de importância na predição de uma pessoa ser liberal ou
conservadora, racista ou anti-racista passou da quarta posição em 1971 para a
duodécima em 1981. Ao mesmo tempo houve um aumento, por exemplo, na
importância da "vida confortável", e de "um sentido de realização". O que está
implicado por estas mudanças nos valores terminais nos Estados Unidos
durante essa década é um afastamento da preocupação com os outros e um
aumento da preocupação com o self.
Figueiredo (1988) utilizou de modo assaz original estas escalas para verificar
se existia consenso entre pais e jovens ao nível dos valores finais e
instrumentais. O autor encontrou um marcado consenso entre as duas gerações
na importância da "dignidade" e "felicidade" como valores finais e "honesto",
"afectuoso", "responsável", "capaz" como valores instrumentais. A propósito
dos valores finais os jovens dão uma maior importância aos valores íntimos
estritamente pessoais ("harmonia interior", "liberdade", "sentido de
realização", "vida apaixonante", em detrimento de valores mais sociais que são
privilegiados pelos progenitores ("segurança familiar", "mundo de paz" e
"igualdade"). Nos valores instrumentais, os jovens preferem sobretudo valores
de auto-afirmação, auto-realização, qualidades intrínsecas ao sujeito ("alegre",
"espírito aberto", "intelectual", "imaginativo", "ambicioso", "lógico"), em
detrimento de valores mais veiculados pelos pais com uma conotação de
subordinação ao outro e ao seu juízo ("educado", "prestável", "controlado",
"obediente", "limpo").
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Os valores têm as seguintes propriedades (Feather, 1994):
4.4 Ideologia
Tetlock (l 989) propôs que os valores terminais, tais corno os descritos por
Rokeach, estão na base de toda a ideologia política. As ideologias podem
variar segundo duas características:
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5. Formação das atitudes
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As nossas atitudes resultam das diversas expenencias vItaIS. Como tal são
influenciadas pelas pessoas significativas nas nossas vidas e pelos modos como
processamos a informação acerca do mundo. Nesta secção examinaremos
brevemente fontes de aprendizagem das atitudes e, seguidamente,
abordaremos alguns dos modos como ocorre a formação das atitudes.
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As nossas atitudes são influenciadas pelas pessoas que desempenham papéis
significativos nas nossas vidas. As atitudes comunicadas pelos pais, por exemplo, têm
um profundo e muitas vezes duradoiro efeito.
358
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1984), já se questiona menos o seu papel na formação das atitudes das
crianças. Assim mostrou-se que crianças com menos des sete anos obtêm a
maior parte da informação política da televisão (Chaffee et aI., 1977) e esta
modela as suas atitudes políticas (Rubin, 1978). Atkin (1980) investigou o
impacto de anúncios nas atitudes das crianças. Todavia o seu impacto vai para
além dos anúncios. Num estudo, crianças esquimós foram expostas à televisão
pela primeira vez quando viram uma série sobre outras culturas e outros
valores. As crianças que viram esta série mostraram mudanças significativas
nas suas crenças acerca de grupos culturais (Caron, 1979).
Como são adquiridas as novas atitudes? Imagine que a Raquel é uma
candidata a presidente da associação de estudantes da sua Faculdade. Quais
serão os factores susceptíveis de determinar a sua atitude em relação a ela? Os
psicólogos sociais têm avançado diversas teorias da aprendizagem para
explicar a formação das atitudes. Essas teorias têm suscitado investigação
interessante sobre a formação das atitudes.
EC "
(Campainha)
" ............................ :.:
"
.: -:
,
'" RC
/ / (salivação)
EI
RI
(Comida) /
EC
(nome do grupo
minoritário)
..
RC
(resposta
/ / :/ [/ de
avaliação
EI
RI negativa
(adjectivo
negativo) / V implícita)
Quando no final do estudo se pedia aos sujeitos para avaliarem o que sentiam
sobre vários grupos nacionais, as suas atitudes em relação aos holandeses
tinham-se tornado um pouco mais positivas e as suas atitudes em relação aos
suecos um pouco mais negativas. Num outro grupo de sujeitos o alvo das
nacionalidades foi invertido: os holandeses eram emparelhados com palavras
5.0 5.0
4.0 4.0
SCORE
MÉDIO DE
ATITUDE 3.0 3.0
CONDICIO-
NADA
(Números mais
elevados = 2.0 2.0
atitudes mais
negativas)
1.0 1.0
Holandeses • Suecos
361
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Considerem-se as associações à palavra "preguiçoso". A maior parte das
pessoas reagirão sobretudo de modo negativo. Considere-se agora que uma
determinada minoria é sempre descrita do mesmo modo como sendo
constituída por pessoas preguiçosas. Certamente que aprenderá a avaliar essa
minoria de modo negativo. Se ouvir que as pessoas se referem continuamente
à Raquel em termos pouco lisonjeiros, o afecto negativo associado com esses
termos, tornar-se-á também associado com a Raquel.
É pois possível condicionar as atitudes. Aliás este processo está subjacente nas
mensagens publicitárias que recorrem a bonitas vedetas para realçar as
qualidades de produtos de consumo.
A eficácia dos reforços verbais para formar atitudes foi demonstrado num estudo
efectuado por telefone (Insko, 1965). Um entrevistador telefonava a estudantes da
Universidade de Hawai procurando saber as suas opiniões acerca da "Semana
Aloha" (festas que se realizam todos os anos em Honolulu). A metade dos
estudantes, o entrevistador respondia "Bom" quando o estudante indicava uma
opinião favorável acerca da Semana Aloha; à outra metade, a resposta "Bom" era
dada após opiniões negativas em relação à semana Aloha. Foi deste modo criado o
condicionamento verbal, pois para alguns dos estudantes as atitudes positivas eram
reforçadas e para outros eram-no as atitudes negativas.
362
© Universidade Aberta
solicitadas as atitudes sobre a Semana Aloha. Os estudantes que tinham sido
verbalmente reforçados pelo entrevistador ao telefone nas suas atitudes positivas
expressaram pontos de vista mais favoráveis que os estudantes que tinham sido
verbalmente reforçados nas atitudes negativas. Se se generalizassem estes
resultados à questão de como as pessoas adquirem as atitudes, poderemos concluir
que quando as pessoas são elogiadas pela expressão de certas atitudes, continuarão
a expor essas atitudes no futuro.
Os reforços verbais têm sido. utilizados para modificar fenómenos tais como o
uso de vestuário de certas cores (Calvin, 1962), a expressão de atitudes
preconceituosas (Mitnick e McGinnies, 1958), a adesão a certas filosofias de
educação (Hildum e Brown, 1956).
Evidentemente que os pais não são os únicos modelos que afectam a formação
das atitudes. Muita aprendizagem de atitudes continua na escola, na igreja e
noutras organizações. Os mass-media são também uma fonte poderosa para
formar as atitudes. O debate c'ontinua para se saber se os mass-media criam as
364
© Universidade Aberta
dela. Ou, por outras palavras, mediante a observação do seu próprio
comportamento inferiu uma atitude positiva.
Refira-se, enfim, que as atitudes também podem ser formadas para servir
necessidades da nossa personalidade. No capítulo 6 referiremos mais em
pormenor a investigação sobre a personalidade autoritária que mostra que as
atitudes se desenvolvem para defender as pessoas contra ansiedades ou
sentimentos de insegurança. Mencione-se ainda que Tesser (1993) defende
que os psicólogos não podem ignorar a influência genética sobre as atitudes.
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6. Medidas das atitudes
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1,11
"
Uma das primeiras tentativas para avaliar as atitudes foi efectuada por
Thomas e Znaniecki (1918). O método que utilizaram consistiu
fundamentalmente em inferir as atitudes de diferentes tipos de documentos
escritos. Recorreram a uma vasta gama de fontes de que a mais importante
foi uma colecção de mais de 700 cartas recebidas sobretudo por imigrantes
polacos na América ou por estes enviadas a familiares que viviam na
Polónia. Recorreram também a cópias do jornal polaco Gazeta Zwiazkowy
que Thomas obtivera aquando de uma visita à Polónia. Outras fontes
incluíam histórias de paróquias polacas e de outras organizações
implantadas pelos imigrantes após a sua chegada à América, bem como
histórias de vida. Thomas e Znaniecki tinham assim à sua disposição uma
grande quantidade de material. Os autores esperavam a partir deste material
identificar atitudes ou temas comuns que permitissem compreender o
comportamento dos imigrantes polacos.
369
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6.2 Escala de avaliação com um item
Esta escala foi proposta por Emory Bogardus em 1925 com o objectivo de
medir as atitudes étnicas. Esta técnica mede o grau de distância que uma
pessoa deseja manter nas relações com pessoas de outros grupos.
370
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Segundo as minhas primeiras reacções aceitaria pessoas de raça negra
(como uma categoria, não considerando nem os melhores membros que
conheci nem os piores) para uma ou mais de uma das seguintes
classificações:
371
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mesmas propriedades básicas de um continuum físico de pesos. Com base
nesta suposição, Thurstone procurou desenvolver uma técnica para
localizar os indivíduos ao longo deste continuum.
Ir
I.
Tal como este entrevistador, a maior parte dos psicólogos sociais medem atitudes
utilizando técnicas de autoavaliação por meio das quais as pessoas expressam a
direcção e a intensidade das suas opiniões.
372
© Universidade Aberta
,I,
4) Os itens que são ordenados pelos juízes nas mesmas categorias são
retidos, ao passo que os itens em que há um desacordo entre os juízes
são afastados.
(4,3) 2. O negro deveria usufruir da sua liberdade, mas nunca deveria ser tratado
como igual ao branco.
(7,3) 3. Não se pode condenar a raça negra na sua totalidade por causa das acções
de alguns dos seus membros.
(10,3) 4. Creio que o negro merece os mesmos privilégios sociais que os brancos.
Nota: Os sujeitos assinalam os itens com que concordam. Os números entre parênteses
indicam os valores da escala atribuídos aos itens com base nas avaliações dos
juízes. Estes números não aparecem actualmente nos questionários dados aos
sujeitos.
Quadro 4.3 - Amostra de itens de uma escala de Thurstone para medir a atitude
em relação aos Negros
Rensis Likert (1932) concebeu um dos métodos que mais influência tem
tido na medida das atitudes. Likert examinou cinco grandes áreas das
atitudes: relações internacionais, relações raciais, conflitos económicos,
conflitos políticos e religião. Apesar de terem volvido mais de 50 anos
note-se a actualidade desses tópicos.
5 4 3 2
Todavia esta escala também não está isenta de críticas. Entre estas, a crítica
mais frequente à escala de Likert é de que se os scores de dois indivíduos
são iguais, estes devem ter a mesma atitude. Porém é frequente
observarem-se scores totais iguais engendrados por diferentes respostas às
questões, o que pressupõe atitudes também elas diferentes.
A elaboração de uma escala deste tipo pode ser sintetizada em três etapas.
376
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111
,I,
Score A B C A B C
3 x x x
2 x x x
x x x
O x x x
A unidimensionalidade desta escala pode ser ilustrada por meio das atitudes
sexuais em relação ao comportamento sexual preconjugal. Reiss (1967)
elaborou um continuum unidimensional do comportamento preconjugal que
vai desde beijar até ter relações sexuais totais (quadro 4.5).
377
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1. Acredito que beijar é aceitável para oCa) homem(mulher) antes do casamento se
estiver comprometido(a) para casar.
9. Acredito que as relações sexuais são aceitáveis para oCa) homem(mulher) antes
do casamento quando este(a) está comprometido(a) para casar.
10. Acredito que as relações sexuais são aceitáveis para oCa) homem(mulher) antes
do casamento quando este(a) está apaixonado(a).
11. Acredito que as relações sexuais são aceitáveis para oCa) homem(mulher) quando
este(a) sente forte afeição pela(o) sua(seu) companheira(o).
12. Acredito que as relações sexuais são aceitáveis para oCa) homem(mulher) mesmo
quando este(a) não sente uma afeição particular pela(o) sua(seu) companheira(o).
378
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Esta escala baseia-se na ideia de que alguém que aprove acanCIar
fortemente também, aprova acariciar levemente e beijar ou alguém que
desaprove acariciar levemente também desaprovaria acariciar fortemente, o
contacto oral e relações sexuais totais. Ilustra-se na figura 4.5 a
unidimensionalidade da escala.
Elevada + + + + + + +
Pcrmissi-
vidade
6 + + + + + +
5 + + + + +
4 + + + +
3 + + +
2 + +
Pouca
Permissi-
vidade
379
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proporção de respostas previsíveis em relação ao conjunto das respostas. A
reprodutibilidade é a base da escala de Guttman e é geralmente aceite que
um conjunto de itens deve ter um coeficiente de reprodutibilidade de cerca
de .90 (10% ou menos de erros). Um grande número de erros seria o
indicativo de que há mais de uma dimensão implicada. As escalas tipo
Guttman são úteis quando a unidimensionalidade é um problema crítico a
ser analisado.
380
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,1;-
Em cada uma das escalas abaixo indicadas, assinale a sua reacção em relação "ao árbitro
do Porto-Sporting"
381
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das conotações suscitadas pela rigidez das escalas nas três dimensões. O
campo das conotações parece ser maior e mais aberto. Um outro problema
tem a ver com o facto de a estrutura factorial de uma escala de um
determinado diferenciador semântico variar com o tipo de conceito que se
avalia.
Uma outra medida que está associada com o sistema nervoso autónomo é a
mudança no tamanho da pupila. A sua dilatação tem sido interpretada
como indicativo de uma atitude positiva e a sua contracção como
indicativo de uma atitude negativa (Hess, 1965).
382
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Cacioppo e Petty desenvolveram uma técnica de medida fisiológica que
permite obter medidas da intensidade e da direcção das atitudes (Cacioppo
et aI., 1986). A sua técnica assenta na actividade eléctrica de músculos.
Quando as pessoas experienciam felicidade ou tristeza contraem-se
diferentes tipos de músculos na face. Assim, os cantos da boca levantam-se
com um sorriso ou há franzimento da sobrancelha. Essa actividade
muscular ocorre mesmo quando há mudanças não se podem ver a olho nu.
É aqui que a técnica entra, a EMG pode medir actividade muscular como
se mostra na figura 4.7. Numa demonstração da técnica, Cacioppo e Petty
(1979) registaram a actividade muscular facial de homens quando ouviam
um discurso que apoiavam ou a que se opunham sobre a posse de álcool. A
EMG revelou um padrão da actividade muscular consistente com a
direcção e a intensidade das perspectivas dos sujeitos. Os estudantes que
concordavam com o discurso apresentavam um aumento de actividade nos
músculos associados ao sorriso, mesmo se observadores não podiam
apreender reflexos destas mudanças subtis nas faces dos estudantes.
Todavia os que se opunham ao discurso mostraram mais actividade nos
músculos da sobrancelha associados com o franzimento, novamente mesmo
se estas mudanças não eram visíveis a olho nu.
383
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Quando as pessoas reagem de modo positivo a um objecto de atitude, a actividade nos
músculos zigomáticos aumenta, ao passo que respostas negativas acompanham-se de
aumento de actividade nos músculos co-rugadores. Muito embora esta actividade não se
possa observar a olho nu, pode medir-se por meio de eléctrodos colocados nas posições
indicadas. (adaptação de Petty e Cacioppo, 1986, p.429.
Co-rugador
----+
Zigornático
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Foram mostrados aos participantes na investigação de DeFleur e Westie (1958)
diapositivos a cores com pares interraciais de homens e de mulheres. Alguns
dos diapositivos mostravam um jovem negro bem vestido e com boa aparência
junto de uma jovem negra igualmente bem apresentada e atraente. Os outros
diapositivos apresentavam um homem branco com uma mulher negra. As
pessoas estavam sentadas umas ao lado das outras, olhando-se com expressões
agradáveis. Mais tarde o experimentador informava os participantes que outro
conjunto de diapositivos era necessário para mais investigação e perguntava aos
sujeitos se quereriam ser fotografados com uma pessoa negra do sexo oposto
para esse objectivo. Pedia-se então a cada sujeito uma autorização que continha
uma série graduada de usos para que a fotografia poderia ser utilizada: 1)
experiências de laboratório em que seria visto somente por sociólogos, 2)
publicação numa revista técnica lida somente por sociólogos; 3) apresentação a
algumas dúzias de estudantes universitários numa situação laboratorial; 4)
apresentação a centenas de estudantes universitários como ajuda ao ensino em
aulas de sociologia; 5) publicação no jornal de estudantes como parte de um
relatório publicitário sobre a investigação; 6) publicação no jornal da cidade do
sujeito como parte de um relatório publicitário sobre a investigação; e 7)
utilização numa campanha publicitária a nível nacional defendendo a
integração racial. Pedia-se aos sujeitos para assinarem os seus nomes abaixo de
cada fotografia a que davam o consentimento. Quanto mais ampla era a
utilização autorizada, mais favorável era a atitude dos sujeitos. As pessoas
comprometiam-se à acção e às consequências da vida real em maior extensão
do que se preenchessem uma escala de auto-avaliação.
Mary Allen e Beth Rienzi (1992) utilizaram esta técnica para medir atitudes
em relação aos americanos em oito países europeus (Alemanha, Austria,
Checoslováquia, Dinamarca, França, Hungria, Itália, e Suiça). Os
experimentadores deixaram cair 200 cartas em lugares públicos (sobretudo
junto a cabines de telefone) nos países europeus e 70 cartas em lugares
semelhantes para comparação. As cartas tinham a direcção escrita à mão
385
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para a casa de um dos autores numa pequena cidade da Califórnia. Dado
que a direcção era claramente identificada como americana, os
experimentadores postularam que as taxas de regresso reflectiriam atitudes
em relação aos americanos. 145 cartas foram reenviadas, isto é, uma taxa
de reenvio de 55%. Não havia diferenças significativas nas taxas de
regresso de qualquer um dos lugares. Allen e Rienzi concluíram que
europeus e americanos têm atitudes semelhantes em relação aos
amencanos.
386
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A utilização de técnicas indirectas para medir as atitudes reveste-se quer de
vantagens quer de desvantagens. Entre as vantagens assinale-se que essas
técnicas são menos susceptíveis de suscitarem respostas socialmente
aceites. A pessoa não conhece que atitude está a ser medida. Entre as
desvantagens refira-se a dificuldade em medir a intensidade da atitude e
sendo as atitudes inferidas, estas técnicas podem deixar a desejar quanto à
fidelidade. Também podem suscitar problemas éticos. Apesar disso as
medidas indirectas são a única avenida a seguir-se quando o investigador
trabalha sobre assuntos sociais muito sensíveis.
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7. Atitudes e comportamento
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Os psicólogos SOCIaIS estiveram tão interessados no estudo das atitudes
durante décadas, em grande parte porque acreditaram que a partir das
atitudes podiam prever o comportamento. A maioria das pesquisas sobre
atitudes raciais, por exemplo, tinham subjacente a suposição da existência
de uma relação coerente entre atitudes e comportamento. Além disso, os
psicólogos sociais também estavam interessados em mudar o
comportamento através da influência exercida sobre as atitudes das
pessoas. Efectivamente, muitas das definições tradicionais da atitude
consideravam-na como uma predisposição para agir de determinado modo.
391
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Se esses primeiros estudos suscitam uma sene de problemas, estudos
posteriores que eliminaram alguns dos problemas não foram muitas vezes
mais bem sucedidos no estabelecimento de uma relação entre atitudes e
comportamento. Wicker (1969) efectuou uma revisão de estudos empíricos
sobre as relações entre atitudes e comportamentos realizados desde o
estudo de LaPiere em 1934. Segundo Wicker estes estudos raramente
apresentam uma correlação superior a .30 e muitas vezes a correlação está
próxima de zero. Nessa mesma época, Mischel (1968) coligiu também
investigações sobre o valor do traço de personalidade enquanto factor
preditor do comportamento e concluíra pela famosa correlação de .30, ou
seja, a correlação média era aproximadamente de .30 entre o traço e o
comportamento.
392
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,
"
393
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marcha dos negros pela igualdade racial porque foram pressionados pelos
seus pais contra tal acto. Já outros estudantes avançaram que a única razão
para a sua participação na marcha foi que os colegas os tinham pressionado
para tomarem parte. Muito presumivelmente, em ambos os casos, os
estudantes negros tinham atitudes favoráveis em relação à marcha. Mas por
diferentes razões situacionais, as suas atitudes e comportamentos não eram
consistentes.
394
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Podemos também ser levados a pensar que uma atitude em relação a uma
minoria étnica pode activar-se rápida e automaticamente aquando da
interacção com alguém que nos parece ser um representante típico desta
minoria. No caso do estudo de LaPiere (1934) é de admitir a existência de
uma grande diferença entre a representação do chinês tipo imaginado pelos
donos dos hotéis aquando da recepção da carta e a imagem do gentil casal
que se apresentou nos estabelecimentos. Em suma, quando estamos
perante a atitude a respeito de grupos pode revestir-se de interesse
examinar-se preliminarmente a representação que a amostra tem do alvo.
395
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atitude. Por exemplo, quando um estudante partIcIpoU em várias
experiências em psicologia, a atitude desse estudante em relação às
experiências em psicologia é muito mais susceptível de predizer a sua
futura participação do que se o estudante só tivesse lido acerca de
experiências (Fazio e Zanna, 1978). Num estudo com jovens verificou-se
que a educação sexual nas turmas afectava o conhecimento acerca do sexo
e do controlo de nascimentos, mas tinha pouco efeito sobre o
comportamento. Contudo, tendo estes estudantes acesso a um centro de
saúde reduziu-se acentuadamente a gravidez indesejada num período de
dois anos (Findlay, 1981). Em consequência, a experiência directa com um
centro de saúde ou com as experiências aumentou a consistência entre
atitude e comportamento.
Tem sido sugerido que a ligação entre comportamentos e atitudes formada
mediante experiência directa é mais forte porque tais atitudes são mantidas
com mais clareza, confiança e certeza (Fazio e Zanna, 1978), porque tais
atitudes são mais acessíveis e mais fortes (Fazio, 1989) e porque são
automaticamente activadas com a apresentação do objecto de atitude
(Fazio, Sanbonmatsu, Powell e Kardec, 1986).
Um segundo factor que afecta a consistência atitude-comportamento é a
pertinência pessoal. Se uma pessoa tem um direito adquirido numa
questão aumenta a relação entre atitude e comportamento. Um direito
adquirido significa que os acontecimentos em questão terão um forte efeito
na própria vida da pessoa. Numa experiência, Sivacek e O-ano (1982)
tomaram contacto com estudantes e solicitaram a sua ajuda numa
campanha contra uma lei que aumentaria a idade de beber dos dezoito para
os vinte anos. Quase todos os estudantes se opunham à lei apesar da sua
idade. Se os estudantes mais novos tinham um direito adquirido e a
aprovação da lei interferia com as suas vidas sociais, os estudantes mais
velhos não tinham nenhum direito adquirido pois mesmo que a lei fosse
aprovada já teriam mais de vinte anos quando a lei se aplicasse. Não
admira, por conseguinte, que tenham sido os estudantes mais novos que
concordaram em fazer a campanha contra a lei. Muito embora os
estudantes mais velhos se opusessem em princípio de modo igual à lei,
faltava-lhes no entanto qualquer direito adquirido. As suas atitudes não
acarretavam o comportamento correspondente.
A relação entre atitudes e comportamento também depende do modo como
se espera que nos comportemos em determinadas situações. Por exemplo,
Kiesler (1971) assinala que se espera que uma pessoa não expresse
sentimentos negativos acerca das outras directamente, é difícil que os
sujeitos admitam que têm atitudes negativas em relação a outros sujeitos
nas experiências.
396
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Diferenças individuais também podem ser importantes. Algumas pessoas
estão naturalmente mais dispostas que outras a expressar consistência entre
as suas atitudes e comportamentos. Norman (1975) verificou que os
sujeitos com alta "consistência afectivo-cognitiva", isto é, o acordo entre
os seus sentimentos e as suas atitudes expressas, eram mais susceptíveis de
agir de acordo com as suas atitudes que os sujeitos cujos sentimentos e
crenças estavam em conflito.
Prever o comportamento a partir das atitudes não é assim tão simples como
poderia parecer à primeira vista. Os psicólogos sociais têm examinado o
problema da experiência directa, de factores pessoais, de normas sociais e
de diferenças de personalidade. Tomando em consideração tais factores
pode-se prever o comportamento de modo mais preciso, mas não tão
precisamente quanto seria desejável.
399
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estudantes e que as intenções prediziam a actividade sexual. Davidson e
Jaccard (1979), por seu lado, mediram as atitudes de senhoras acerca de
terem um filho nos dois próximos anos. Foram igualmente medidas as
normas subjectivas. Tendo em conta estes dois factores, Davidson e
Jaccard efectuaram boas predições acerca de as senhoras terem um filho no
período de dois anos. Num outro estudo, atitudes e normas subjectivas de
senhoras casadas sobre o uso da pílula predisseram o seu uso dois anos
depois (Davidson e Morrison, 1983). De modo semelhante, medidas de
factores salientados pela teoria da acção reflectida predisseram a intenção
de ter um aborto entre senhoras que estavam à espera dos resultados de um
teste de gravidez (Smetana e Adler, 1980).
Crenças Atitude em
comportamen- --+
relação ao
tais e motivação
comportamento
do resultado
400
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comportamentais e comportamento pouco mais de .50 (Sheppard,
Hartwick e Warshaw, 1988). Estas associações são consideravelmente
maiores que o máximo de .30 referido por Wicker (1969).
Suponha, por exemplo, que a Irene deseja deixar de fumar o que já faz há
vinte anos (atitude positiva em relação a deixar de fumar). Para além disso,
ela sabe que a sua família e o seu médico de família aprovam que deixasse
de fumar e ela gostaria de lhes ser agradável (norma subjectiva). Todavia
após se dar conta de como este hábito impregnava as suas actividades
quotidianas e quão difícil seria mudar estas actividades, a Irene pode perder
confiança na sua capacidade em tornar-se não fumadora (baixo controlo
comportamental percepcionado). Por isso, apesar da atitude e da norma
subjectiva, a Irene tem uma baixa probabilidade de mudar a sua intenção de
deixar de fumar.
403
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APLICAÇÕES: ATITUDES POLÍTICAS E COMPORTAMENTO
Alfred Landon
(Republicano) 62 66 43 69 15 60
Franklin Roosevelt
(Democrata) 29 26 43 22 54 35
Norman Thomas *
(Socialista)
Earl Browder
(Comunista) 9 7 15 8 30 4
404
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Theodore Newcomb
405
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menos em parte, de acordo com as atitudes formadas na Universidade.
Mulheres comparáveis 64 36
Mulheres de Bennington 26 74
Mulheres comparáveis 75 25
Mulheres de Bennington 33 67
Mulheres comparáveis 79 19
Mulheres de Bennington 31 69
Mulheres comparáveis 55 45
Mulheres de Bennington 27 72
Mulheres comparáveis 73 26
SUMÁRIO
AJZEN, L,
acção reflectida.
MCGUIRE, W.1.
OLSON,1. M. e ZANNA, M. P.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
410
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.,I .
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!
" '
\: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
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TÁBUA DE MATÉRIAS
1. Introdução
2. Origens
3. Noção
5.1 A representação-produto
5.1.1 Informação
5.1.2 Atitude
5.2 A representação-processo
5.2.\ Objectivação
5.2.2 Ancoragem
6. Áreas de Investigação
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Aplicações: representações e práticas sociais da sida
Sumário
Actividades propostas
418
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Objectivos de aprendizagem
De même que dans un jeu, ou I'on essaie et éprouve les phénomenes matériels,
collectifs, avant de vérifier leur existence réelle et de les mettre en pratique
'pour de bon', on se risque à faire des ébauches et des brouillons, on se livre à
des manoeuvres intellectuelles et à des répétitions, que présentent le spectacle
du monde comme un monde du spectacle.
Serge Moscovici
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1. Introdução
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.,I .
423
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representações sociais: "o sistema cognitivo da representação social é do modo
como o vimos, porque a nossa razão contém organizações intelectuais próprias
de uma idade mais precoce? Ou é porque corresponde a uma situação e a uma
interacção colectivas a que se adaptou? Sobre o fundo, poder-se-ia mostrar não
haver contradição."
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2. Origens
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A noção de representação tem uma longa história e atravessa um certo
número de ciências sociais interrelacionadas. Moscovici apoia-se em diversas
fontes quando explica a teoria das representações sociais. Tal vai desde o
trabalho antropológico de Lévy-Bruhl que se preocupa com sistemas de
crenças de sociedades tradicionais, ao trabalho de Piaget sobre a psicologia da
criança que se focaliza na compreensão e representação que a criança tem do
mundo (Moscovici, 1989). Todavia, a influência mais importante exercida
sobre a noção deve-se a Durkheim.
E, num comentário crítico, continua: "... Pode-se supor que o sentido filosófico
actual da palavra venha, por uma lado, do uso do verbo 'representar-se', muito
clássico em Francês como sinónimo de 'imaginar' (cf. Bossuet); por outro lado,
o uso feito por Leibniz desta palavra que a toma, inicialmente, no sentido de
'correspondência' (ver A), mas que faz desta correspondência o género de que
a representação no sentido C é uma espécie... "
Embora não agradando a Lalande, o termo foi precisamente pelo seu uso
"muito clássico" e muito antigo em Francês, próprio a ser retomado na língua
erudita da Filosofia e das Ciências do Homem.
Davy (1920) condensava bem a óptica durkheimiana quando escrevia: "... Não
nos podemos contentar de postular. .. uma natureza humana formada de um
certo número de sentimentos imutáveis e fundamentais, é necessário explicá-
la, ela própria, e explicá-la em função do meio social a que se adapta;
constituir, do ponto de vista sociológico, uma psicologia dos sentimentos e
uma psicologia do conhecimento... "
Esta observação foi verdadeira durante muito tempo: foi necessário esperar os
anos sessenta para que um psicólogo social voltado para a sociologia do
conhecimento, Moscovici, consagrasse um estudo fecundíssimo às
representações sociais da psicanálise (1961), e se aplicasse em cemar o
conceito de representação social. Foi a partir desta investigação que se
afirmou em França uma corrente de estudo sobre as representações sociais.
431
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teórico da psicologia social. "A psicologia, sabe-se, foi durante muito tempo
dominada pela corrente behaviourista. Na tradição watsoniana da ligação
estímulo-resposta, só os comportamentos manifestos, directamente
observáveis, tais como as respostas motoras ou verbais, podiam ser objecto de
estudo. As respostas latentes ou implícitas, tais como as actividades
cognitivas, eram negligenciadas. Em psicologia social, a adjunção do termo
social, quer à classe dos estímulos, quer à classe das respostas, pouco
modificava a problemática" (Herzlich, 1972, p. 304).
432
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As componentes principais de uma representação social relacionam-se com o facto que se
constroem conhecimentos partilhados sobre certos objectos dos grupos sociais. Eis como o
promotor deste quadro teórico (Moscovici, 1989, pp. 78-79) situa a sua origem:
"No que me diz respeito, posso testemunhar do facto que os estudos de Piaget e de
Freud de que acabo de falar tiveram esta consequência. Foram eles que me levaram
a perguntar-me porque é que o cuidado posto em estudar o universo da criança aqui
e o dos adultos algures não deveria voltar-se para o universo dos adultos aqui. Que
há de mais natural do que partir dos seus conceitos e das suas abordagens para
explorar as representações tornadas vivazes na imaginação dos contemporâneos
que as engendram e partilham? A partir daí e indo até Durkheim, foi-me possível
apreender melhor o alcance sociológico destes conceitos e destas abordagens. E de
ver que o que permanecia nele apesar, de toda uma noção abstracta, podia ser
abordado enquanto fenómeno concreto."
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3. Noção
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.,,
437
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assim identificar uma diferenciação entre o recurso a uma concepção marcada
pela noção de "doença-punição" que toca o desregramento sexual e uma
concepção "biológica" que reactiva crenças antigas sobre líquidos corporais.
o termo de representação designa, num sentido lato, uma actividade mental através
da qual se torna presente na mente, por meio de uma imagem, um objecto ou um
acontecimento ausente. A representação foi objecto de diversas definições de que
evocamos de seguida algumas das mais significativas.
Piaget (1926)
Trata-se "quer de uma evocação dos objectos na sua ausência, quer, quando ela
duplica a percepção na sua presença, completar os conhecimentos perceptivos
438
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I
,I
Moscovici (196 I)
Moscovici (1963)
Herzlich (1969)
Jodelet (1983a)
Doise (1990)
439
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Os principais aspectos a ter em conta na noção de representação social são os
seguintes:
440
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I
,l,;
A atitude, mais complexa pelo seu carácter latente, foi sobretudo abordada
como resposta antecipada. Tanto a opinião como a atitude foram sobretudo
encaradas enquanto resposta e "preparação para a acção", respectivamente.
Pelo contrário, a representação social, na medida em que é um processo de
construção do real, age simultaneamente sobre o estímulo e a resposta.
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I J
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um desinteresse relativo por outros aspectos. Este fenómeno de focalização
vai impedir que os indivíduos tenham uma visão global do objecto. Finalmente,
a terceira condição refere-se à necessidade que sentem os indivíduos de
desenvolver comportamentos e discursos coerentes a propósito de um objecto
que conhecem mal. A comunicação e acção sobre este objecto que se domina
mal só é possível na medida em que, por diversos mecanismos de inferência, o
sujeito preenche zonas de incerteza do seu saber. No tempo da conversação e
da acção, por motivos de eficácia, o sujeito vai estabilizar o universo de
conhecimento relativo ao objecto. É o fenómeno da pressão à inferência que
favoreceria a adesão dos indivíduos às opiniões dominantes do grupo.
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5. Análise psicossociológica
da representação social
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As proposlçoes teóricas de Moscovici integram numerosas aqUlslçoes da
psicologia social sobre as actividades cognitivas em situação de interacção
social estudadas por diversos autores (Zajonc, 1967; Bruner, 1957; Tajfel,
1972; Tajfel. Billig, Bundy e Flament, 1971). Mas estes dados inserem-se
numa construção de conjunto original em que o interesse já não está centrado
nos mecanismos de respostas sociais, como vimos, mas no "estudo dos modos
de conhecimento e dos processos simbólicos na sua relação com as condutas"
(Herzlich, 1972, p. 305).
5. I A representação-produto
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representação-produto aparece como um universo de opiniões ou de crenças,
organizadas à volta de uma significação central. Na passada de Moscovici,
todos propõem uma análise do produto sob vários aspectos e falam a este
propósito de "dimensões" (Moscovici, 1961), de "análise dimensional"
(Herzlich, 1972), ou de "elementos constitutivos" (Abric, 1976).
5.1.1 Informação
5.1.2 Atitude
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mesmo se a informação é reduzida e o campo de representação pouco
organizado. Por exemplo, Moscovici mostra que os operários têm uma atitude
estruturada em relação à psicanálise, enquanto que a informação possuída e o
campo de representação são mais difíceis de cemar.
Tem também uma função energética, pois imprime à orientação e à troca com
o meio uma certa intensidade emocional e afectiva. Este componente afectivo-
emocional é constituído pela história individual e social do sujeito. A atitude é,
deste modo, o aspecto mais afectivo das representações sociais enquanto
reacção emocional para com o objecto.
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5.1.3 Campo de representação
o campo de representação designa o "conteúdo concreto e limitado das
proposições sobre um aspecto preciso do objecto de representação"
(Moscovici, 1976, p. 107). Remete-nos para os aspectos imagéticos da
representação - isto é, para a construção significante que é feita do objecto
integrando e interpretando as informações de que o sujeito dispõe - com a
ideia de uma organização ou de uma hierarquia de elementos.
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opiniões que tenta descobrir faz da atitude uma das dimensões, não estando as
duas outras acopladas sobre a conduta. Em conjunto, as três dimensões
permitem apreender a natureza e o grau de coerência de uma representação
sociaL estabelecer o seu papel na definição das fronteiras de um grupo, e enfim
tornar possível uma análise comparativa" (Moscovici, 196 L pp. 292-293).
5.2 A representação·processo
5.2.1 A objectivação
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selecção é necessária, pois para o produto da representação se tornar funcional
deve limitar-se a alguns elementos acessíveis. Será impossível objectivar toda a
informação existente sobre um objecto. O fenómeno de decontextualização
aparece sobretudo na transformação das ideias científicas em conhecimento
quotidiano. Há, deste modo, retenção selectiva de certos elementos e
respectiva deslocação, pois são extraídos do contexto inicial. As informações
sobre a psicanálise são seleccionadas em função de critérios culturais e
normativos e são desligadas do campo científico a que pertencem.
Inconsciente
1
Recalcamento > - - - -.... Complexo
1
Consciente
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Embora este esquema tenha relações com a teoria inicial, certos conceitos
teóricos são" apanhados", contribuindo para um conjunto imagético e coerente
que permite explicar a génese das neuroses, o desenvolvimento da
personalidade, a terapia analítica. Mas este esquema "esquece" o conceito
essencial na teoria, a libido, directamente associada à sexualidade. Sabe-se que
foi esta a noção que suscitou a controvérsia mais violenta. A eliminação da
libido na reconstrução esquemática permite ter uma visão do psiquismo
compatível com outras teorias e visões do homem.
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A tendência à objectivação posta em evidência a propósito de uma teoria
científica, é caracterizada pela selecção, esquematização e naturalização, e é
susceptível de generalização a toda a representação.
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A estabilidade do esquema figurativo orientando os julgamentos fornece os
instrumentos à ancoragem, segundo processo da representação social.
5.2.2 A ancoragem
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b) Constitui-se assim uma "rede de sign(ficaçães" a partir dos valores salientes
na sociedade e nos seus diversos grupos. "Este enraizamento da representação
na vida dos grupos constitui para numerosos investigadores um traço essencial
do fenómeno representativo, já que dá conta da sua ligação com uma dada
cultura ou uma dada sociedade" (lodelet, 1983a, p.26). Assim, a psicanálise
não se limita a ser só um conteúdo, mas é também uma totalidade à volta da
qual se ordenaram uma rede e uma hierarquia de significações. Durante o seu
enraizamento encontrou diferentes correntes de pensamento (político,
filosófico, religioso ... ) mais ou menos hostis. Está desde então associada a
correntes de pensamento, a categorias sociais (os ricos, as mulheres, os
intelectuais... ), exprime uma relação entre grupos sociais (associa-se à luta de
classes, ao antagonismo franco-americano ... ), incarna um sistema de valores
morais (fonte de liberdade ou fracasso na vontade, chave para o desvio ou
ameaça para a autonomia... ). A representação social pode tornar-se um sinal,
um emblema de certos valores. A psicanálise pode tornar-se sinal,
representando a sexualidade ou uma vida sexual liberada. Uma representação
chama outras, opõe-se a outras, exclui outras.
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A ancoragem e a objectivação que são processos básicos no engendramento e
funcionamento das representações sociais têm uma relação "dialéctica"
(lodelet, 1983a). Combinam-se para tornar inteligível a realidade. Dessa
inteligibiJidade resulta um conhecimento social que nos permite evoluir na
complexidade de relações e de situações do quotidiano. É, no entanto, de
notar que esta relação "dialéctica" entre os processos de objectivação e de
ancoragem é um dos aspectos menos investigados no âmbito das
representações sociais.
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"
6. Areas de investigação
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.i"
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De entre os pontos de convergência sobre as abordagens das representações
sociais, 10delet menciona a pertinência, a estrutura, os processos de
constituição e as funções.
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7. Variações sobre representações sociais
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Propomo-nos ilustrar nesta secção por meio de estudos empíricos, as três
áreas de investigação previamente referidas. Assim, abordaremos trabalhos
de investigação sobre as representações sociais da educação, a teoria do
núcleo central, e as representações sociais da emigração. De nenhum modo
se tem a veleidade de documentar aqui a investigação empírica efectuada
até à data, pois é extensa e abrange muitas áreas (Abric, 1994; Farr, 1987;
Jodelet, 1989a).
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7.1.1 Representações da escola através dos seus agentes
Siano (1985) num estudo efectuado com agricultores mostra, por seu lado,
que estes têm globalmente uma atitude pouco crítica em relação à escola e
esperam que esta assegure a sua função selectiva. Neste estudo transparece
um elemento central no sistema geral de representações dos agricultores:
representações sociais "auto-selectivas" e "alienantes" pois permitem a
aceitação do fracasso dos seus filhos e a função selectiva da escola.
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7.1.2 Representações recíprocas professor-aluno
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filhos de operarIos migrantes evocavam a representação do aluno
"preguiçoso", responsável pelo seu insucesso. Para os filhos de pais do
terciário, as causas referidas pelos professores evocavam a representação
do aluno cuja lentidão se pode corrigir e as dificuldades perdoar. Para este
autor estas diferenças e representação do professor podem contribuir para
explicar diferenças no rendimento escolar. Assim uma representação
desfavorável de famílias de meios desfavorecidos, da sua relação à escola e
das atitudes em relação à escola dos seus filhos, poderia engendrar uma
constelação de atitudes e comportamentos relacionais por parte do
professor que em parte explicariam os maus resultados.
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.,, .
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Na segunda fase procedeu-se à investigação experimental propriamente
dita. A tarefa consistiu numa prova de memorização. Tratava-se de
restituir após audição (memória imediata) e uma hora depois (memória
diferida) uma lista de 30 palavras associadas ao artesão. Para metade dos
sujeitos, os cinco elementos do núcleo central figuram na lista (condição
núcleo central presente) e para a outra metade estas palavras então
ausentes e são substituídas por elementos periféricos (condição núcleo
central ausente).
Para além disso, em cada uma das condições anunciava-se aos sujeitos que
iam ouvir "uma lista de palavras" (representação social não evocada) ou
uma "lista de palavras referindo-se ao artesão" (representação social
evocada). O plano experimental comportava pois quatro situações.
Por seu lado, Moliner (1988) pôde estudar os processos que levam à
transformação de uma representação. O objecto de representação
escolhido foi o "grupo ideal", tendo os trabalhos de Flament (1984)
mostrado que se organiza em redor de dois elementos centrais: a
fraternidade e a igualdade.
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- quer um elemento do núcleo central: a igualdade (os sujeitos são
aos outros);
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A amostra era constituída por 960 adolescentes, sendo metade
entrevistados em 1982 e a outra metade em 1987; comportava tantos
rapazes como raparigas; metade pertencia ao nível sócio-cultural baixo e a
outra metade ao nível sócio-cultural médio; metade residiam em zonas
urbanas e a outra metade em zonas rurais de Trás-os-Montes.
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igualmente, e nesta mesma ordem, estas três dificuldades que são mencionadas;
como sendo as mais importantes por um grupo de trabalhadores migrantes
portugueses instalados na região parisiense que foram interrogados sobre
este assunto (Neto e Mullet, 1987b). Seguem-se, para esses trabalhadores,
o alojamento, o racismo, o clima, a saúde, o trabalho, a alimentação. É
notável a grande semelhança na ordenação de classificação.
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:!:J
00
EIXO 2
* Desejo de ser muito menos * Nada difícil
informado sobre emigração deixar a família
* A emigração traz muitas
desvantagens para Portugal
* Nada difícil
deixar os amigos
* Desejo de ser menos
* A emigração traz informado sobre emigração
muitas desvantagens * Desfavorável a * A emigração traz * Nada difícil deixar
* A emigração traz
desvantagens para * Desejo de ser igualmente
o emigrante informado sobre emigração
* A emigração não * Muito favorável a
* Os portugueses não * Não há identificação com que os emigrantes
traz vantagens nem continuem a emigrar
têm necessidade de desvantagens para o
os emigrantes regressados
continuar a emigrar emigrante
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de Portugal * 1982 * Rapazes
* Os portugueses tem necessidade EIXO I
* Muito difícil * Raparigas de continuarem a emigrar
* Indiferente que deixar os amigos * 1987 * Rurais
os portugueses * A emigração traz * Muito difícil * No futuro Portugal não deixará * Intenção de emigrar
continuem a deixar a família
vantagens para os de ser um país de emigração
traz vantagens
* NSCbaixo * Aconselharia um
nem desvantagens
* A emigração * Identificação com os amigo a emigrar
* Os pais gostariam
para Portugal emigrantes regressados que emigrasse
traz vantagens
para Portugal * Pouco difícil deixar o * Pouco difícil deixar
ambiente de Portugal os amigos * Pouco difícil
Fonte: Neto, 1993b. I * Favorável a que os portugueses continuem a emigrar deixar a família
Figura 5.2 - Localização das modalidades do aspecto atitude no plano detenninado pelos eixos 1 e 2.
Europeia que acolhem a maioria dos emigrantes portugueses e a grande
maioria dos que têm a emigração nas suas perspectivas de futuro ancoram
o seu olhar intencional também nos países da União Europeia. Sendo
assim, parece-nos que o processo psicológico da categorização social
possa ter contribuído, em parte, para a valorização do fenómeno
migratório segundo a evolução temporal.
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Transparece desta revlsao sobre as representações SOCIaIS que a
investigação nesta área tem sido variada não só nos seus conteúdos, como
também nos seus métodos. As sendas trilhadas desde o projecto de
Durkheim até às recentes investigações sobre as representações sociais são
longas. A contribuição de Moscovici neste domínio é um marco
fundamental. A partir da verificação da existência de representações sociais
da psicanálise mostrou que o processo representacional possui uma dupla
função: fornece às colectividades um modo de interpretação das realidades
do meio e consequentemente modelos comportamentais.
Factores sócio-demográficos
0.19
0.17
Desvinculação
0.19
Adaptação
Intenção de emigrar
Apesar disso este conceito tem sido alvo de várias críticas, incluindo se as
representações sociais constituem uma "teoria" (Potter e Litton, 1985;
Moscovici, 1985a). Jahoda (1988) manifesta reservas sobre o estatuto da
teoria das representações sociais a propósito da diferença de outros
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conceitos conexos, como atitude, ideologia, cultura. Não restam dúvidas
da forte afinidade destes conceitos com o conceito de representações
sociais. No entanto, este quadro teórico reinjectou a negligenciada
natureza social e colectiva destes conceitos no domínio da psicologia
social.
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APLICAÇÕES: REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS DA
SIDA
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aspectos têm uma opinião contrária: o vírus não se transmite facilmente,
ter contactos com pessoas seropositivas ou doentes da sida não é perigoso.
No dizer dos autores deste estudo estas "teorias" permitem dar sentido à
sida, explicá-la. O princípio explicativo parece girar à volta da noção de
contágio: uma crença na transmissão fácil do vírus pelos contactos
acompanham-se de uma recusa dos contactos sociais com as pessoas
contaminadas; pelo contrário, se a promiscuidade ou os contactos não
constituem uma explicação ou um risco não é necessário estabelecer uma
barreira entre si e uma pessoa seropositiva ou doente de sida.
SUMÁRIO
Cada uma destas três áreas foram ilustradas de modo empírico por estudos
sobre as representações sociais da educação, da teoria do núcleo central e
da emigração, respectivamente.
JODELET, D. (Ed.)
MOSCOVICI, S.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
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VI. PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO
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TÁBUA DE MATÉRIAS
1. Introdução
3.1 Racismo
3.2 Sexismo
3.3 Heterossexismo
304 Idadismo
5A Abordagens psicodinâmicas
5.5.3 Atribuição
minoritário
Sumário
Actividades propostas
Civilized men (women) have gained notable mastery over energy, matter, and
inanimate nature generally, and are rapidIy Iearning to contraI physical
suffering and premature death. But, by contrast, we appear to be Iiving in the
Stone Age so far as our handling of human reaItionships is concerned.
Gordon Allport
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1. Introdução
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As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a
pessoas, objectos e questões do meio circundante. Para além disso, podem
permitir prever como agiremos em contacto com os alvos das nossas crenças.
A um nível mais geral, o conceito de atitude está relacionado com graves
questões sociais como são os problemas de preconceito e de discriminação.
A imprensa entre nós também se tem feito eco do preconceito racial existente
em Portugal. Assim, por exemplo, o Público de 3111194 refere: "O grupo de 12
'skinheads' acusado de, em 18 de Novembro de ]989, ter agredido
barbaramente o cidadão angolano Francisco Faustino começa hoje a ser
julgado no Tribunal Correccional do Porto, sob acusação de ofensas corporais,
ameaças e uso de armas proibidas. É o mais importante caso relacionado com
actividades racistas depois do julgamento do homicídio do dirigente do PSR
José Carvalho." Nessa mesma página do Público são avançados dados sobre o
número de agressões de natureza racista: "Desde Janeiro de 1990, morreram
três pessoas em agressões associadas ao racismo e atribuídas a grupos
neonazis, de acordo com o inventário do SOS Racismo, elaborado a partir das
notícias divulgadas na imprensa. Há ainda a salientar, no mesmo período, três
feridos graves e um número não quantificado de feridos ligeiros, mas sempre
superior a três dezenas. A maioria das agressões verificou-se no Porto, embora
duas das mortes tenham ocorrido em Lisboa e a terceira em Carnaxide, no
concelho de Oeiras."
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2. Definições: preconceito, discriminação
e grupos minoritários
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Muito embora se considere, por vezes, como sendo intermutáveis, os
conceitos de preconceito e de discriminação, parece-nos, no entanto, poderem
diferenciar-se. É possível distinguir um certo número de conceitos básicos com
interesse para o exame das interacções intergrupais: preconceito,
discriminação e grupos minoritários.
Allport (1954):
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Ashmore (1970):
Jones (1986):
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.,, .
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2. Evitamento - manter o grupo étnico separado do grupo dominante na sociedade.
Por exemplo, tal pode transparecer de alguns agentes de compra e venda de
propriedades que afastem pessoas brancas de zonas onde residem minorias étnicas, e
deste modo desenvolve-se o gueto.
Evidentemente os indivíduos que estão numa fase podem nunca progredir para a seguinte.
Contudo, o aumento de actividade a um nível aumenta a probabilidde de que um indivíduo
atravessará a fronteira para a seguinte. Allport (1954, p. 15) dá o seguinte exemplo
pungente: "Foi a anti locução de Hitler que levou os Alemães a evitar os seus vizinhos judeus
e amigos de outrora. Esta preparação tornou mais fácil decretar as leis de discriminação de
Nurnberg que, por sua vez, fizeram com que os subsequentes incêndios de sinagogas e
ataques a judeus nas ruas parecesse natural. O passo final nesta macabra progressão foram
os fornos de Auschwitz."
John Duckitt (1992-1993) apontou que se podia acrescentar um nível mais abaixo à
hierarquia de Allport. Denomina este nível de "expressões comportamentais subtis e
indirectas de antipatia antigrupal." Estas expressões subtis incluem o tom de voz, o não
respeito do espaço pessoal, menos contacto ocular, menos interacção verbal, menos amizade
e tendências para interpretar os motivos para o comportamento de modo enviesado. Atitudes
preconceituosas suscitam um leque de comportamentos discriminatórios.
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Se o preconceito e a discriminação são conceitos diferentes e podem não estar
associados, eles são também muito interdependentes. É evidente que
preconceito e estereótipos podem suscitar discriminação. Tal constitui só uma
parte dum círculo vicioso, pois a discriminação pode ter então consequências
sobre o alvo, produzindo padrões comportamentais que confirmam crenças
iniciais. Por exemplo, se os brancos recusam dar trabalho a um negro por
causa dos estereótipos de "preguiçoso", "imoral" e "sujo", não restam dúvidas
que a miséria e a marginalidade social do negro terão tendência a precipitá-lo
na passividade, na imoralidade, na sujidade de que é criticado.
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canadianos nascidos no país (12,5% contra 13,8%). Os mesmos dados
mostram também que em 1986 os imigrantes tinham uma taxa de desemprego
mais fraca que a da população nascida no Canadá: 8,2% contra 10,8%. Com
base no recenseamento de 1986 o estudo efectua uma comparação dos
ordenados dos imigrantes originários de uma "minoria visível" com os das
pessoas nascidas no Canadá. Estas comparações são feitas controlando do
ponto de vista estatístico todos os factores ligados ao sucesso social, tais como
o nível de escolaridade, o conhecimento das línguas oficiais e a experiência
profissional. Os resultados indicam. que a competência igual e com a
escolaridade e a experiência de trabalho adquirida no Canadá, os ordenados
dos imigrantes antilhanos e da Ásia do Leste (Chineses, Coreanos,
Vietnamitas) são estatisticamente inferiores (26% e 20% respectivamente) aos
dos canadianos nascidos no país. Estes últimos resultados ilustram que são
sobretudo os imigrantes antilhanos e asiáticos que sofrem de discriminação no
mundo do trabalho no Canadá. Para além disso, este estudo demonstrou que
as mulheres, quer imigrantes quer nascidas no país, são as maiores vítimas da
discriminação ao nível dos ordenados no Canadá.
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3. Algumas categorias de preconceito
e de discriminação
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Focalizaremos agora a nossa atenção em quatro formas de intolerância:
racismo, que é a intolerância com base na cor da pele ou na herança étnica;
sexismo, a intolerância com base no sexo; heterossexismo que é a intolerância
com base na orientação sexual, e idadisl1w , a intolerância com base na idade.
3.1 Racismo
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lei e política definidas de uma perspectiva candidatos políticos negros são
dos brancos designados para serem "líderes
negros". mas os candidatos brancos
não são "líderes brancos"
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I
" .
A discriminação com base na cor da pele torna-se pois uma distinção arbitrária
e confusa. Negros mais claros, por exemplo, tendem a discriminar negros mais
escuros (HaIl, 1992), e brancos tendem a discriminar contra todos os negros,
incluindo contra alguns negros que são mais claros que alguns brancos.
Acontece que muitas vezes estas distinções têm mais a ver com distinções
étnicas que sociais. Um grupo étnico é um conjunto de pessoas que têm
antepassados comuns pertencentes a uma mesma cultura e sentimentos comuns
de identificação a um grupo distinto. À semelhança das diferenças raciais, as
diferenças étnicas também estão na base de muitos preconceitos. O
preconceito com base em distinções étnicas denomina-se etnocentrismo.
Quando as pessoas acreditam que o seu grupo étnico é superior aos outros
grupos estão imbuídas de etnocentrismo. Racismo e etnocentrismo são
extremamente comuns na nossa sociedade. O único tipo de preconceito que
rivaliza em frequência com o racismo é o sexismo.
3.2 Sexismo
Muito embora esta opinião científica do século dezanove pareça suscitar riso
hoje em dia, a morte da teoria da força vital não pôs fim ao sexismo na
educação. Durante as inúmeras horas que a criança passa na escola, a
aprendizagem do género é uma parte muito importante do curriculum oculto.
Rapazes e raparigas são muitas vezes segregados em diferentes actividades e
lugares de jogo (Thorne, 1992). Muitas vezes professores fazem competir
rapazes contra raparigas em competições académicas. Para além da tendência
de professores a dividir fisicamente as suas turmas com base no sexo, há
também investigação que denota que a atenção está da mesma maneira
dividida. Os rapazes recebem mais atenção do que as raparigas, incluindo
comentários positivos e negativos e maior instrução e escuta (Sadker e Sadker,
1994).
3.3 Heterossexismo
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Os cientistas SOCIaIS ao observarem que ainda persistem preconceitos e
discriminações contra lésbicas, homossexuais e até bissexuais têm recorrido a
explicações com base numa ideologia cultural particular. O heterossexismo é
um sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a
heterossexualidade e critica e estigmatiza qualquer forma não heterossexual de
comportamento ou de identidade (Bem, 1993; Herek et aI., 1991). O
heterossexismo é um conceito novo utilizado para explicar o preconceito
contra a homossexualidade. É preferível ao conceito mais espalhado de
homofobia, pelo menos por duas razões: 1) o termo fobia implica que o
preconceito contra a homossexualidade é um medo irracional e uma forma
psicopatológica, o que aliás, só explica uma reduzida percentagem de casos; e
2) focaliza-se mais na própria história pessoal do homofóbico que no contexto
cultural mais vasto em que se desenvolvem sentimentos contra
homossexualidade (Herek, 1994).
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3.4 Idadismo
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Após estas considerações sobre algumas das formas de preconceito e de
discriminação talvez esteja a pensar se haverá alguém que possa não ser vítima
de preconceito. Efectivamente a evidência não é muito encorajadora. Para
além das categorias sociais evocadas, as vítimas de preconceito e
discriminação também podem ser as pessoas gordas (McEvoy, 1991), as
pessoas baixas (Jackson e Ervin, 1992) e as pessos deficientes (Anderson,
1988-1989). Na Irlanda do Norte, na antiga Jugoslávia e noutras paragens, os
preconceitos religiosos levam as pessoas a cometer assassínios. Vítimas de
preconceitos podem ser pessoas de várias raças, grupos étnicos, mulheres,
homossexuais e lésbicas, pessoas idosas, e virtualmente qualquer outra
categoria susceptível de ser identificada. Parece que utilizamos todos os
modos possíveis para dividir as pessoas em categorias sociais e usamos essas
categorias como uma base para preconceito e discriminação.
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4. A face mutante do preconceito
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Muita coisa mudou desde os primeiros estudos sócio-psicológicos sobre o
preconceito nos anos trinta. Hitler subiu ao poder e perdeu-o, o anti-semitismo
foi desacreditado perante o holocausto nazi. Os movimentos das mulheres e o
activismo em prol de pessoas afectadas pelo SIDA, bem como de outros
grupos minoritários em situação desvantajosa têm-se feito ouvir de diversos
modos. Tem efectivamente havido mudanças na legislação e nos domínios
educativo e social. Tais mudanças na sociedade ocidental significam todavia
que ela é menos preconceituosa? Estarão racismo, sexismo e outras formas de
discriminação em declínio? Certos investigadores respondem "sim" (Fosu,
1992; Ransford e Palusi, 1992) e outros respondem "não" (Hurtado, 1992,
Lang, 1992). Se há, sem sombra de dúvida, sinais positivos, há também sinais
de que preconceito e discriminação podem ter mudado, tal corno um vú'us que
desenvolve urna estirpe mais resistente.
A expressão aberta do racismo declinou, pelo menos nos Estados Unidos, nos
últimos anos (Katz e Taylor, 1988), devido em parte ao estigma social ligado
ao racismo e ao aumento de tomada de consciência em certos sectores da
população. No Documento 6.3 apontam-se diferentes perspectivas do racismo
moderno.
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diferentes formas de resistência perante as preocupações da minoria negra, como, por
exemplo, no voto sistemático contra os candidatos negros nas eleições. Este racismo
exprimir-se-ia em situações em que o comportamento não pudesse ser directamente rotulado
de racista.
Segundo o racismo regressivo os brancos partilham hoje em dia uma norma mais
igualitária que está em contradição com os antigos modos de se comportar com os negros
(Rogers e Prentice-Dunn, 1981). Esta norma guia os comportamentos na maior parte das
situações. Todavia em situações de stress os membros da maioria têm tendência a regressar a
antigos modos de se comportar, ou seja, a voltar a comportamentos discriminatórios em
relação a grupos minoritários.
Segundo o racismo aversivo as pessoas brancas escondem o seu racismo a elas próprias, em
especial às pessoas liberais e com boas intenções (Gaertner e Dovidio, 1986). De um modo
geral o seu comportamento conforma-se com a norma que proíbe a discriminação. Contudo
os verdadeiros sentimentos só se exprimem quando o seu comportamento discriminatório
pode ser imputado a motivos que nada têm a ver com o racismo. Por exemplo, pode-se
justificar a recusa em dar emprego a negros invocando a sua falta de experiência, ao passo
que na realidade os negros nunea tiveram oportunidades de adquirir esta experiência pelo
facto de se terem sempre preferido candidatos brancos.
Estas diferentes perspectivas do racismo moderno levantam diversas questões sobre o modo
de lutar contra os preconceitos e a discriminação. Perante um desfilar de conflitos
interétnicos a que se vem assistindo ultimamente na América do Norte e na Europa, e em
virtude das manifestações abertas de discriminação estarem interditas pela lei, interrogamo-
nos se não se está perante o desenvolvimento de racismo latente.
Não é difícil imaginar como estas ideias do racismo moderno se podem também aplicar ao
sexismo. Homens "liberais" podem revelar a sua discriminação contra mulheres em situações
em que o seu sexismo podia ser atribuído a outras causas, como por exemplo, à biologia das
mulheres. Um homem "liberal" podia dizer: "Acredito que uma mulher podia fazer este
trabalho tão bem como um homem, mas que aconteceria se tivesse de parar para ter um
filho?" Homens "conservadores" podiam revelar o seu sexismo se pudessem atribui-lo à
defesa de valores conservadores, como por exemplo, à família. Um homem "conservador"
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podia dizer: "As mulheres são tão capazes como os homens, mas as famílias sofrem quando
as mulheres trabalham fora de casa."
o racismo moderno enfatiza que os aspectos afectivos das atitudes raciais são
geralmente adquiridos na infância e são mais difíceis de mudar que os aspectos
cognitivos. Por isso muitas pessoas que abandonaram crenças e atitudes
racistas antiquadas, apesar disso mantêm sentimentos negativos em relação aos
negros (Gaertner e Dovidio, 1986). O resultado destas tendências
contraditórias é que em muitas pessoas os seus sentimentos raciais negativos
influenciam novas questões. Acontece que, geralmente, as pessoas brancas não
têm a percepção que as suas atitudes nestas novas questões são racistas e
tendem a justificar as suas posições de modo não racista. Exemplos de tais
questões novas incluem crenças sobre se ainda continua a haver discriminação
racial nos Estados Unidos, atitudes em relação ao transporte de crianças para a
escola e apoio a vários programas governamentais para ajudar os pobres.
O moderno racismo pode também ser detectado sem que se façam perguntas
directas. O tempo de reacção - a velocidade com que se responde a uma
questão - pode ser utilizado para evidenciar preconceitos escondidos. Por
exemplo, num estudo sujeitos brancos liam pares de palavras e carregavam
num botão sempre que pensavam que as palavras se ajustavam conjuntamente
(Dovidio, Evans, e Tyler, 1986). Em cada caso, as palavras negros ou brancos
eram emparelhadas quer com um traço positivo (limpo, ambicioso, etc) quer
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o racismo aberto parece estar em declínio, de modo que actos abertamente
racistas são relativamente raros. Todavia novas formas subtis de racismo
continuam a surgir e, proventura, a aumentar.
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grande parte a factores históricos, encontram-se hoje em dia poucas
mulheres camionistas.
Alvo
de
preconceito
~ Abordagens
cognitivas
~
.: Abordagens .
psico
dinâmicas
. .
: Abordagens :
. sócio :
culturais
Abordagens:
históricas :
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5. Génese do preconceito e da discriminação
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Os preconceitos encontram-se difundidos por todas as sociedades. Cada
um de nós certamente já teve um preconceito e foi igualmente sua vítima.
Dados os problemas sociais gerados por preconceitos, pode-se levantar a
questão de se saber as suas origens. De onde provêm os preconceitos
contra migrantes e outros grupos minoritários? Que é que desencadeia a
discriminação? Porque é que temos tendência a percepcionar mais
positivamente os membros do nosso próprio grupo que os dos outros
grupos? Quais os factores que determinam a evolução das relações
intergrupais para relações conflituosas? A compreensão da génese do
preconceito e da discriminação é necessária para se poderem utilizar
técnicas que permitam erradicá-los.
5. 1 Abordagens históricas
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grande parte a factores históricos, encontram-se hoje em dia poucas
mulheres camionistas.
Alvo
de
preconceito
~ Abordagens
cognitivas
~
.: Abordagens .
psico
dinâmicas
. .
: Abordagens :
. sócio :
culturais
Abordagens:
históricas :
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5.2 Abordagens sócio-culturais
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negros e brancos e manifestam sentimentos diferenciais sobre brancos e
negros.
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solicitava-se novamente as suas atitudes em relação a grupos minoritários.
Em comparação com o grupo de controlo, os sujeitos frustrados revelaram
um aumento de preconceito.
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individuais; tende a projectar sobre os outros as tendências que não aceita
para ele; está muito preocupado pela pureza da sua consciência; mostra
uma intolerância rígida em relação aos outros; admira o poder e faz prova
de uma dominação excessiva sobre os fracos e de uma submissão
exagerada aos fortes.
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escalas de etnocentrismo e de fascismo com as questões que não foram
retidas, e encontrar-se-iam correlações diferentes das que foram
encontradas por Adorno e colaboradores com essas novas escalas.
Como se observou, uma das críticas da investigação sobre a personalidade autoritária foi
de que se tinha focalizado demasiado no autoritarismo da extrema direita. Nas
democracias ocidentais, a investigação mostra uma tendência para o autoritarismo estar
mais associado com a política da extrema direita que da extrema esquerda (Altemeyer,
1988).
Se bem que o conceito de autoritarismo se tenha desenvolvido para dar conta das
tendências "fascistas" nas pessoas, as características fulcrais das pessoas autoritárias -
convencionalismo, submissão à autoridade, agressão em relação aos exogrupos - não são
directamente definidas por atitudes políticas. Por isso as atitudes políticas específicas que
têm as pessoas autoritárias podem variar de país para país. Houve um estudo que
demonstrou precisamente este assunto quando se compararam a atitudes autoritárias nos
russos e nos americanos (McFarland, Ageyev, e Abalakina, 1992). Os russos altamente
autoritários tendiam a opor-se ao individualismo "laissez faire" mas apoiavam a
igualdade, ao passo que os autoritários americanos apresentaram precisamente o padrão
oposto.
Em suma, parece claro que podem existir pessoas com preconceitos a quem
não se lhes aplica a abordagem psicodinâmica. Esta não explica cabalmente
os casos em que preconceito e discriminação se imbricam na estrutura
social.
Henri Tajfel propôs que as pessoas mostram uma tendência a distinguir entre "nós" e
"eles" com base em distinções triviais. Para além disso, com base nestas diferenças
tendemos a tratar membros do endogrupo de modo favorável e membros do exogrupo de
modo desfavorável.
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Kandinsky. Era-lhes então dito que seriam colocados num grupo com outros rapazes que
partillhavam as suas preferências (o grupo Klee ou o grupo Kandinsky). Em seguida,
antes de encontrar os outros rapazes dava-se-Ihes a oportunidade de dividir algumas
recompensas monetárias entre o seu grupo e o outro grupo. Mesmo nesta situação, o dito
"paradigma do grupo mínimo" (dado que a preferência partilhada é ou seria sem
consequências e o grupo nunca foi encontrado), os sujeitos dividiam os recursos de modo
desigual: favoreciam o seu grupo à custa do outro.
Este resultado tem sido replicado ainda com categorizações grupais mais triviais (Brewer
e Silver, 1978). Por exemplo, o mesmo viés de favorecimento do endogrupo ocorreu se os
sujeitos eram divididos em grupos de "sobreavaliadores" do número de pontos num
diapositivo ou de "subavaliadores", ou até se os grupos eram formados arbitrariamente
com base no lançamento de uma moeda perante o sujeito.
Mas quais serão as forças que levarão a categorização social a ter como
resultado o favoritismo do endogrupo e viés negativos do exogrupo?
Turner (1981) avançou duas explicações para isso: a categorização social
faz com que os indivíduos a) percepcionem maiores semelhanças dentro do
seu próprio grupo e maiores diferenças entre o endogrupo e o exogrupo do
que existem; b) e se avaliem e comparem em relação ao seu próprio grupo
para procurar uma identidade social positiva.
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mais curtas a etiqueta (A) e a cada uma das quatro linhas mais longas a
etiqueta (B). No grupo 2 mostravam-se as oito linhas sem que elas fossem
categorizadas. No grupo 3 apresentavam-se as oito linhas com a etiqueta A
e B mas aleatoriamente, não estando associadas ao comprimento. Os
grupos 2 e 3 eram grupos de controlo para comparar os efeitos da
categorização (grupo 1). Encontrou-se que a linha mais longa na categoria
das linhas mais curtas (A) era percepcionada como sendo muito mais curta
do que era e muito mais curta que a avaliada pelos grupos de controlo. Ao
invés, a linha mais curta na categoria das linhas mais compridas (B) era
percepcionada como sendo mais comprida pelo grupo 1 do que era. A
existência de uma categorização (o facto de dividir as linhas em duas
categorias A e B) tinha influenciado a percepção das linhas pelos sujeitos.
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inerente diferentes de outras generalizações. Por outras palavras, trata-se
de generalizações acerca dos atributos de categorias de pessoas, como por
exemplo, grupos étnicos, sexuais e etários.
Americanos Deligentes 48 30 23 21
Inteligentes 47 32 20 lO
Materialistas 33 37 67 65
Negros Supersticiosos 84 41 13 6
Preguiçosos 75 31 26 13
Musicais 26 33 47 29
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Entre as explicações avançadas para o desenvolvimento dos estereótipos
refira-se a homogeneidade do exogrupo, isto é, a tendência para assumir
que há maior semelhança entre membros dentro de exogrupos que dentro
de endogrupos. Quantas vezes ouviu dizer a uma mulher: "Bem, conhece
os homens... São todos iguais e todos querem a mesma coisa!" Do mesmo
modo quantas vezes ouviu homens a descreverem mulheres em termos
semelhantes? Por outras palavras, as pessoas estão geralmente conscientes
de diferenças muitas vezes subtis entre pessoas dentro dos seus próprios
grupos, contudo os membros dos exogrupos, "eles" são todos iguais
(Linville, Salovery, e Fisher, 1986; Quatrone, 1986).
Estes dados são bastante perturbantes. Na vida real, traços muito negativos
(por exemplo, ser desonesto) e actos igualmente muito negativos (tais
como assassinato) tendem a ser raros, e quase por definição, observações
de membros minoritários são mais raras que observações de membros
maioritários. Por isso os mecanismos cognitivos que levam a correlações
ilusórias podem colocar inevitavelmente minorias em desvantagem em
termos de como são retratadas nos nossos estereótipos.
549
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se saber como se conservam os estereótipos em relação a estes membros de
exogrupos. Há várias noções provenientes dos trabalhos sobre cognição
social que nos podem ajudar a este propósito (Mackie e Hamilton, 1992).
Os estereótipos são fundamentalmente esquemas e interpretamos e
relembramos a informação que confirma os nossos esquemas (Hamilton e
Trolier, 1986). Da mesma maneira alguém pode lembrar-se de uma
negociação muito dura com um comerciante judeu e esquecer-se da sua
generosa contribuição para uma fundação que se ocupa de doentes de
SIDA. Deste modo é mantida a imagem irracional de que os judeus são
avarentos. Além disso, as investigações sobre o efeito do caso excepcional
demonstram que a informação individual que contradiz um estereótipo nos
leva muito raramente a modificar o estereótipo em questão (Krueger e
Rothbart, 1988). Efectivamente, o estereótipo continua a aplicar-se ao
conjunto do grupo, excepto ao caso particular; este torna-se a excepção
que confirma a regra (Rothbart e Lewis, 1988).
550
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relação a um membro de um exogrupo se alicerçam nos nossos
estereótipos, podem levar esta pessoa a reagir conforme às nossas
expectativas. Por exemplo, numa conversa telefónica caso um homem
acredite que uma mulher é muito atraente, terá tendência a comportar-se
em relação a ela de modo afável. Este comportamento levará a mulher a
sentir-se calma e segura, o que confirma o estereótipo de que as mulheres
atraentes são socialmente competentes (Snyder, Tanke e Berscheid, 1977).
5.5.3 Atribuição
55l
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internas. Pettigrew sugere quatro modos para explicar como as pessoas
com preconceitos tratam com o problema de acções positivas de membros
do exogrupo: o caso excepcional, diferenciando-se o actor dos outros
membros dos grupos minoritários; a vantagem especial ou sorte; os factares
situacionais que estão fora do seu controlo; alta motivação para o sucesso e
esforço extraordinário.
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Imagine que participava com alguns colegas num estudo sobre a percepção
de pistas emocionais (Lerner e Simmons, 1966). Um dos participantes, um
compadre, foi seleccionado à sorte para realizar uma tarefa de memória.
Esta pessoa recebe choques dolorosos sempre que dá uma resposta errada.
Você e os colegas notam as suas respostas emocionais. Depois de haver
observado que a vítima recebe um certo número destes choques
aparentemente dolorosos, é-lhes pedido para avaliar a vítima. Como
responderia? Com compaixão? Bem pelo contrário, os resultados
mostraram que observadores desprovidos de poder para alterar a sorte da
vítima, rejeitavam e desvalorizavam a vítima.
Nas pessoas com scores elevados neste viés do mundo justo tem-se
encontrado que acreditam que vítimas, por exemplo de violação, de
violência familiar, de pobreza, devem ter sido a causa do seu próprio
sofrimento. São pois mais susceptíveis de censurar a vítima, viés que apoia
muitas formas de preconceito. Um estudo intercultural evidenciou que as
crenças num mundo justo e as crenças num mundo injusto eram mais
elevadas na Índia, seguida da África do Sul, países do Terceiro Mundo em
que há extremos de riqueza e de pobreza (Furnham, 1993). Os dados
sugerem que as pessoas nos países mais pobres tendem a acreditar que o
mundo não é um lugar justo.
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estereótipos dos endogrupos, os estereótipos dos exogrupos parecem
reflectir exagero, preconceito. Uma segunda conclusão é de que a força da
identificação com o endogrupo exacerba as diferenças endogrupo/exogrupo
na verdade do estereótipo.
Por conseguinte, ao longo dos anos têm sido propostas muitas teorias para
explicar o preconceito. Estas diferentes abordagens têm sido dominantes
em diferentes períodos históricos (Duckitt, 1992). Assim, a teoria da
personalidade autoritária e outros construtos da personalidade que se
situam ao nível individual dominaram a investigação nos anos 50. Nos anos
60 e 70 a ênfase foi colocada nos processos sócio-culturais.· Mais
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recentemente a abordagem cogmtIva tem sido predominante na
compreensão e explicação do preconceito e das relações intergrupais
(Messick e Mackie, 1989). Apesar deste domínio, a perspectiva cognitiva
defronta-se com vários limites. Entre eles refIra-se, por exemplo, a
negligência de factores afectivos. "Se há algum domínio da interacção
humana que a história nos diga estar cheia de fortes, e até apaixonantes,
sentimentos, é na área das relações intergrupais. E este ponto torna claro o
facto de que a abordagem cognitiva, apesar de ricos e variados avanços
efectuados nos anos recentes, só ela é incompleta "(Hamilton, 1981 b, p.
347).
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6. Consequências do preconceito
e da discriminação
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Os efeitos evidentes do racismo sobre o grupo alvo são fáceis de identificar.
Oito milhões de Judeus foram mortos em resultado do anti-semitismo dos
Nazis. Cerca de oito milhões de africanos morreram ou ficaram de modo
permanente incapacitados durante a viagem forçada para a América (Skillings
e Dobbins, 1991). Centenas de pessoas perderam as suas vidas este século
devido a linchagens, motins, atentados e outros actos suscitados por ódios
raciais. Existem também formas mais subtis, se bem que igualmente insidiosas,
de discriminação com base na raça, no alojamento, na educação e no emprego.
Perante a opressão do grupo dominante, como reagem as vítimas do
preconceito? Será este aspecto que passaremos a abordar, e depois,
examinaremos as consequências do racismo sobre o racista.
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intergrupais competitivas. Trata-se de um modelo atribucional e dá conta do
modo como as vítimas podem interpretar e responder a essa situação.
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A discriminação é pois percepcionada como ameaçadora e em certas
circunstâncias as pessoas discriminadas podem agir contra o grupo dominante.
Caplan e Paige (1968) referiram que os negros que participavam em motins
raciais nos Estados Unidos nos anos 60 eram mais sensíveis à discriminação
percepcionada, referiam que experienciaram mais frequentemente a
discriminação e aceitavam menos os estereótipos da inferioridade negra que os
negros que permaneceram inactivos.
Dennis (1981) demonstra que a imersão de pessoas numa rede social racista
torna difícil para qualquer pessoa branca evitar a sua influência. Dennis (1981)
evidencia um certo número de efeitos da socialização racial sobre crianças
brancas: a) ignorância das outras pessoas, b) desenvolvimento de uma
consciência psicológica dupla e confusi'í.o moral, e c) conformidade ao grupo.
Por seu lado, Terry (1981) defende que o racismo mina e distorce a
autenticidade das pessoas brancas. Tal leva os brancos a centralizarem os
valores postulados nos seus comportamentos quotidianos, a distorcer o poder
nas relações, a construir organizações que nem compreendem nem gerem de
modo eficaz. A explicação psicológica do racismo branco dada por Karp
(1981) apoia-se numa perspectiva psicodinâmica, vendo o racismo como um
mecanismo de defesa para lidar com feridas do passado. A sua posição, tal
como a de Dennis e de Terry, é a de que os brancos estão profundamente
feridos pelo seu racismo. Isola brancos das pessoas de cor e cria um
isolamento geral entre os brancos. Falsas barreiras raciais são erigidas que
negam as amizades de brancos com não brancos. O racismo restringe aspectos
quotidianos das suas vidas, tais como onde viver, trabalhar e divertir-se.
Segundo Karp (1981), as consequências emocionais do racismo são pesadas:
culpa, vergonha, bem como o sentir-se mal em ser branco.
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7. Redução do preconceito e da discriminação
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Poderia ser-se levado a pensar que os psicólogos sociais só têm estado
obssecados com teorias que explicam a génese do preconceito e da
discriminação e teriam prestado pouca atenção à maneira de os reduzir. A
redução do preconceito e o combate aos seus efeitos negativos sendo um
objectivo de suma importância para a sociedade, levou efectivamente os
psicólogos sociais a conceberem e porem em acção estratégias para atingir
esse objectivo. Se bem que reconheçamos a possibilidade de que o
contexto histórico, político e econó mico mais amplo desempenha um papel
importante no relacionamento intergrupal, abordaremos alguns dos
métodos que os psicólogos sociais têm utilizado para tratar com o
problema do preconceito e da discriminação: a tomada de consciência, a
hipótese do contacto e, para além da hipótese do contacto, o contacto
vicariante através dos meios de comunicação social.
565
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reconhecem que o problema é partilhado por elas enquanto grupo e não
causado pela sua própria família ou pelo seu estado mental. O agente de
tomada de consciência tenta então propor uma ideologia que permita
congregar as mulheres. Mostra-se que o sistema social controla o
indivíduo sendo responsável pela sua situação insatisfatória. A mulher
apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro de um grupo e
este pode então dirigir uma acção contra o sistema (Figura 6. 2).
Insatisfação Sentimento
Auto Limites quanto
com a sua 1----+1 limitado de 1-----.1
censura à acção
condição controlo pessoal
Fonnação
do grupo
Tomada de
consciência do
controlo pelo
Aumento do
sistema social
L-t .Censura d~ r------ sentimento de -----t Acção dirigida
sistema social con tro Io pessoaI para o sistema
Desenvolvimento
da ideologia
Reacção do
sistema
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7.1.2 Tomada de consciência de distinções
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o assimilador cultural recorre a "incidentes críticos" que são episódios
com importância para a interacção intergrupal e que são susceptíveis de ser
mal interpretados pelas pessoas que não estão habituadas a lidar com a
população alvo, sendo todavia claros para os que conhecem a cultura
(Triandis, 1972; Landis, Day, McGrew, Thomas e Miller, 1976).
A pessoa que está a ser treinada lê o episódio que descreve uma interacção
intercultural e faz uma interpretação dessa interacção. É então explicado à
pessoa se a sua resposta está certa ou errada. Se a resposta está errada, a
pessoa deve voltar ao episódio e escolher outra resposta. Apresenta-se no
Documento 6.6 um exemplo de um episódio utilizado para diminuir o
preconceito racial no exército. Neste episódio um oficial tenta
compreender porque é que se lhe pede para rever decisões negativas de
promoção muito mais frequentes em relação aos negros que aos brancos.
Às pessoas em treino são-lhes dadas quatro escolhas e, após a resposta,
explica-se porque é que a resposta está certa ou errada. Trata-se neste
exemplo de um item entre 100 sobre interacções entre brancos e negros.
Porque é que houve mais negros que brancos que pediram revisões da decisão de
promoção?
Opção I. Os negros sentem que não lhes seria dada uma promoção a não ser que
a pedissem. (Sim)
Explicação: Muitos negros sentem que uma boa nota não é suficiente para ser
promovido. Sentem que a não ser que eles chamem a atenção para o seu caso,
não se agirá. Esta acção não é para ser considerada como desprovida de respeito,
mas antes como uma acção que é assumida como sendo necessária para a
promoção.
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Opção 2. O C. prejudicou e promoveu mais brancos que negros. (Não)
Explicação: O comportamento dos negros não era para intimidar. Não havia
ameaças ou insinuações. Está a ler demasiado neste incidente. Releia o incidente
e tente novamente.
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No caso dos grupos estarem de costas voltadas pode-se desenvolver a
hostilidade autista. Ora se membros de grupos diferentes desenvolvem a
hostilidade autista pode surgir o fenómeno de reflexo nos preconceitos
intergrupais (Bronfenbrenner, 1960). Cada um dos grupos considera-se
com boas intenções e com razão e vê o inimigo como estando errado e
sendo ameaçador.
Condições necessárias
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2. COllfacto íntimo: A interacção entre membros de diferentes grupos deveria ser
face-a-face e deveria manter-se durante um longo período de tempo.
4. Normas sociais que favoreçam a igualdade: Deve haver uma clara percepção
social, amplamente apoiada pelas figuras investidas de autoridade nos grupos
onde preconceito e discriminação não são perdoados.
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intergrupais foi efectuado por Sherif et aI. (1961) que se apresentou no
primeiro capítulo. Inicialmente foi encorajada a competição entre dois
grupos de rapazes num campo de férias. Mas isso criou tanta raiva e
hostilidade entre grupos que emergiu até aquando de acontecimentos
desprovidos de competição como ao ver um filme. Os investigadores mais
tarde reduziram com sucesso esta hostilidade levando os rapazes a
trabalhar de modo cooperativo para resolver um problema comum.
Resultados semelhantes foram obtidos na sala de aula utilizando o que
Elliot Aronson e os seus colegas (1978) chamaram de técnica do "quebra-
cabeças" (jigsaw technique) que envolve a aprendizagem cooperativa em
pequenos grupos (ver as aplicações para uma discussão mais
pormenorizada desta técnica). Uma razão possível da cooperação reduzir
viés intergrupais e hostilidade é que ao cooperarem os membros de
diferentes grupos sociais aparece cognitivamente a recategorização de uns
e outros num novo grupo (Bettencourt et aI., 1992).
Uma última condição para reduzir com sucesso conflitos é que deve haver
normas sociais que favoreçam a igualdade (Blanchard, Lilly e Vaughn,
1991). Como se demonstrou no capítulo 4, as normas sociais têm um
efeito significativo na determinação das intenções comportamentais das
pessoas. Eis onde as figuras investidas de autoridade e os líderes de grupos
podem desempenhar um papel fulcraI. Se afirmam publicamente apoio para
a igualdade, outras pessoas são susceptíveis de seguir líderes. Se se opõem
ao contacto intergrupal, a redução do preconceito é improvável (Cook,
1984). Por exemplo, tensões ligadas à raça, ao sexo e mesmo à orientação
sexual têm sido atenuadas com sucesso em muitos locais de trabalho
quando os supervisores tornam claro que afirmações preconceituosas e
acções discriminatórias não serão toleradas.
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três semanas. As mulheres racistas desenvolveram quase sempre estreitas
relações com as suas colegas de equipa negras. Verificou-se também nos
sujeitos uma diminuição do preconceito com medidas gerais efectuadas
fora do contexto de trabalho. Ao contrário, não se encontrou redução de
preconceito num grupo de controlo de mulheres racistas que não
participaram no jogo.
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APLICAÇÕES: ESTRATÉGIAS PARA MUDAR ATITUDES
NEGATIVAS
Em 1971 foi pedido a Elliot Aronson para traçar um plano que permitisse
reduzir a tensão interracial n~s escolas recentemente de-segregadas nos
Estados Unidos. Após haver observado a interacção dos estudantes em
várias salas de aula, Aronson pensou que a dinâmica psico-social era
notavelmente semelhante à descrita por Sherif na experiência de campo da
Caverna dos Ladrões. Recorrendo a este estudo corno guia, Aronson e a
sua equipa desenvolveram uma técnica de aprendizagem que foi
denominada de "técnica do quebra-cabeças" (jigsaw technique) (Aronson,
1990; Aronson, Bridgeman, e Geffner, 1978). A técnica foi assim chamada
porque os estudantes tinham de cooperar para "juntar" as suas lições
diárias, do modo semelhante como se reúne um "quebra-cabeças". Foram
submetidas a esta técnica dez turmas do quinto ano, e três turmas
adicionais serviram como grupos de controlo.
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11
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período de 50 minutos de contacto, todos os SUjeItos descreveram o
"doente mental" utilizando a mesma lista de adjectivos que tinham utilizado
um mês antes para descrever um doente mental antigo típico.
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cooperativo estruturado com um membro do grupo. A Figura 6.3 ilustra
este modelo.
Estádio 1: Expectativa
Estádio 2: Adaptação
Estádio 3: Generalização
SUMÁRIO
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estereótipos, atribuição e crenças sociais. A categorização social envolve a
distinção entre endogrupo e exogrupo e o exagero de diferenças nas
crenças. Os estereótipos podem ser suscitados pela percepção exagerada
de heterogeneidade do exogrupo e da homogeneidade do endogrupo, pelas
correlações ilusórias e pelas profecias de auto-realização. A atribuição
inclui rotulagem enviesada e o erro irrevogável da atribuição, ambas
interpretações distorcidas do comportamento dos membros do exogrupo.
Crenças sociais que apoiam o preconceito podem provir de ideologias
políticas e religiosas. As pessoas que acreditam num mundo justo podem
ser mais susceptíveis de censurar as vítimas do preconceito.
582
© Universidade Aberta
PARA IR MAIS LONGE
ALLPORT, G. W.
DUCKITT, J.
Esta obra fornece urna revisão das causas do racismo, com um particular
ênfase na análise do racismo na África do Sul.
SIMPSON, G. E. e YINGER, 1. M.
583
© Universidade Aberta
TAJFEL, H.
TAYLOR, D. M. e MOGHADDAM, F. M.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
2) O que é que entende por racismo? Esboce algumas notas sobre as suas
experiências pessoais neste domínio e sobre as da sua comunidade.
4) Pode ver alguma semelhança entre sexismo e racismo que possa dar
conta de alguma das dificuldades em eliminar o sexismo?
584
© Universidade Aberta
I
"il
I
I
585
© Universidade Aberta
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© Universidade Aberta
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
© Universidade Aberta
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© Universidade Aberta
ABRAMSON, L.Y., SELIGMAN, M. E. P., TEASDALE, 1
ABRIC, l-C.
Universitaires de France.
ACKERMANN, W. E ZIGOURIS, R.
ADAIR, J. G.
589
© Universidade Aberta
ADORNO, T., FRENKEL-BRUNSWIK, E., LEWINSON, D. e
SANFORD,N.
A1ZEN, I.
A1ZEN, I. E FISHBEIN, M.
AJZEN, I. E MADDEN, J. T.
ALBERT, S.
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Composto e maquetizado
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1.a edição
Lisboa, 2001
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136 ISBN: 978-972-674-613-3