Você está na página 1de 95

GEOVANI PAULINO OLIVEIRA

GERSON PIRES DE ARAÚJO

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

2ª EDIÇÃO
EGUS 2014
INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada
PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica
Diretor Presidente das Faculdades INTA Equipe de Produção Audiovisual
Oscar Rodrigues Júnior
Roteirista
Pró-Diretor de Inovação Pedagógica Arnaldo Vicente Sá
Prof. Pós Doutor João José Saraiva da Fonseca
Gerente de Produção de Vídeos
Coordenadora Pedagógica e de Avaliação Francisco Sidney Souza Almeida
Profª. Sônia Henrique Pereira da Fonseca
Edição de Áudio e Vídeo
Equipe de Pesquisa e Desenvolvimento de Projetos Francisco Sidney Souza Almeida
Tecnológico e Inovadores para Educação José Alves Castro Braga

Gerente de Filmagem/Fotografia
Coordenador José Alves Castro Braga
Anderson Barbosa Rodrigues
Operador de Câmera/Iluminação e Áudio
Analista de Sistemas Mobile José Alves Castro Braga
Francisco Danilo da Silva Lima
Desenhista/Ilustrador
Analista de Sistemas Front End Juliardy Rodrigues de Souza
André Alves Bezerra
Designer Gráfico
Analista de Sistemas Back End Marcio Alessandro Furlani
LuisNeylor da Silva Oliveira Cícero Romário Rodrigues
Técnico de Informática / Ambiente Virtual Assesoria Pedagógica/Equipe de Revisores
Luiz Henrique Barbosa Lima Sonia Henrique Pereira da Fonseca
Rhomelio Anderson Sousa Albuquerque Anaisa Alves de Moura
Evaneide Dourado Martins

Gerente de Execução de Projetos


Anaisa Alves de Moura
Sumário
Palavras do Professor-Autor....................................................11
Ambientação....................................................................................12
Trocando ideias com os autores............................................14
Problematizando.............................................................16

1 A Filosofia
Filosofia: Por que e para que?...........................................................................21
Achegando-se à Filosofia....................................................................................29
A especificidade do saber filosófico...............................................................31
Diversas visões de Filosofia.................................................................................34

2 Os grandes paradigmas da filosofia na história


O paradigma do ser...............................................................................................41
Sócrates.........................................................................................................................48
Platão.............................................................................................................................50
Aristóteles.....................................................................................................................53
Pensamento Cristão...............................................................................................55
Patrística.......................................................................................................................55
Escolástica....................................................................................................................56
O paradigma da consciência............................................................................57
Renascença..................................................................................................................57
Reforma.........................................................................................................................59
Racionalismo..............................................................................................................60

INTA EAD Introdução à Filosofia 7


Empirismo....................................................................................................................60
Iluminismo...................................................................................................................62
O paradigma da linguagem.............................................................................65
Idealismo......................................................................................................................65
Positivismo...................................................................................................................66
Ecletismo Filosófico.................................................................................................67
Século XX......................................................................................................................67
Intuicionismo..............................................................................................................68
Fenomenologia.........................................................................................................68
Existencialismo..........................................................................................................68
Pós-Modernismo......................................................................................................70

3 A filosofia e seus campos de conhecimento


A Ontologia e Axiologia.......................................................................................76
A Filosofia Prática....................................................................................................80
Estética...........................................................................................................................82
Arte..................................................................................................................................82

Leitura Obrigatória..........................................................................................84
Saiba mais................................................................................................................86
Revisando................................................................................................................88
Autoavaliação.......................................................................................................92
Bibliografia.............................................................................................................94
Bibliografia da Web........................................................................................96

8 Introdução à Filosofia INTA EAD


INTA EAD Introdução à Filosofia 9
Geovani Paulino Oliveira

Graduado em Filosofiapela UVA e Mestre em Filosofia


pela UECE. Atualmente é coordenador adjunto do curso
de Filosofia na UVA e Professor das Faculdades INTA. Tem
experiência na área de Filosofia, atuando principalmente
nas seguintes temáticas: Angústia, Filosofia da Existência,
Filosofia Contemporânea, Teoria Crítica, Dialética, Memória e
Identidade.

Gerson Pires de Araújo

Gerson Pires de Araújo é pastor e professor, exercendo


suas atividades como educador por mais de meio
século, especialmente nas áreas de Filosofia e Psicologia.
Destaca-se também em outras atividades como tradutor,
palestrante, maestro e conselheiro matrimonial.
Bacharel em Teologia e Letras, licenciado em Letras e
Pedagogia, Mestre em Educação pela Andrews University,
USA, e pela Universidade de São Paulo (USP). É doutorando
em Liderança pela Andrews University, tendo trabalhado no UNASP ( Centro
Universitário Adventistas de São Paulo) por 37 anos. Atua na área de educação de
jovens, procurando proporcionar-lhes uma cosmovisão de acordo com a realidade
presente e preparando-os para um futuro mais promissor. Membro fundador da
Sociedade Criacionista Brasileira, também se dedica a apresentar o criacionismo
como a alternativa mais lógica e coerente para explicar a origem da vida humana e
do mundo.
Atualmente exerce suas atividades como capelão e professor nas Faculdades
INTA, em Sobral, Ceará.

10 Introdução à Filosofia INTA EAD


Palavra do Professor-Autor
Caro estudante,
Para adentrarmos no mundo da filosofia é necessário nos distanciar dos pré-
conceitos que, por vezes, associam a filosofia à ideia do pensar “mais difícil”. A
filosofia, se pensada enquanto processo de compreensão do conhecimento à
disposição de cada um de nós, está ao alcance de todos.
Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o homem desenvolveu um
estilo de vida no qual passou a se submeter e depender do que estas produzem.
A maioria das pessoas passa a ter uma existência mecânica, na qual o cotidiano se
desvela de maneira automática.
Conectados ao momento presente, ao “aqui e agora”, não resta tempo para
analisarmos o significado de nossa existência neste mundo e para a procura de
respostas a questionamentos como: De onde surgiu o homem? Por que o homem
existe? Qual o significado da existência do mundo e da vida? Somos nós produtos de
uma inteligência ou obra cega do acaso? O que é a vida? O que é de fato importante
para nossa existência? Há, ou não, significado para aquilo que o homem procura
realizar? Está certo tudo o que o ser humano faz? O que é bem, o que é mal? O que
é verdade, o que é mentira? Como sei que posso confiar no que a minha mente
pensa? Existe realidade ou as coisas são simples aparências? Como posso confiar no
que vejo, sinto, ouço? Posso conhecer e ter certeza de que sei alguma coisa?
Esses mesmos questionamentos sobre o mundo e o universo foram colocados
pelos gregos e a partir das suas indagações e inquietações surgiu a filosofia.
Bom estudo!

Os autores.

INTA EAD Introdução à Filosofia 11


AMBIENTAÇÃO À
DISCIPLINA
Este ícone indica que você deverá ler o texto para ter
uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina.
O estudo de filosofia aconselha o comprometimento da reflexão,
da pesquisa e da busca incessante pela informação que explica os fatos
existentes no âmbito das relações moldadas com a natureza, com outros
homens e consigo mesmo. Este conhecimento é abrangido em toda a ação
humana.
A filosofia resulta de uma ruptura do saber já
existente com o saber a ser adquirido, haja vista ela
problematizar e convidar à discussão. O estudo de
filosofia é essencial porque oferece as condições
teóricas para o desenvolvimento da consciência
crítica pela qual a experiência vivida é transformada
em experiência compreendida. A filosofia rejeita o sobrenatural, a
interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. Procura a
inteligibilidade numa dinâmica que considera o saber enquanto alicerce
para a transformação. Exige coragem, pois descobrir a verdade obriga o
enfrentamento do poder e suas diversas formas de manifestação como
também aceitação do desafio à mudança.
As afirmações anteriores foram sintetizadas
do prefácio da obra “Antologia de Textos
Filosóficos”. Desse modo, possibilita aos
estudantes ter afinidade com os textos dos
filósofos. Diante do exposto, convidamos você,
prezado estudante, a ler essa obra e refletir
sobre a importância da filosofia para que
possamos atribuir sentido à rede de significações
relacionadas aos objetos que percebemos.

JAIRO, Marçal. (org.). Antologia de Textos Filosóficos. SEED – Paraná: –


Curitiba: 2009.

INTA EAD Introdução à Filosofia 13


TROCANDO IDEIAS
COM OS AUTORES
A intenção é que seja feita a leitura de obras indicadas
pelo professor-autor numa perspectiva de dialogar com
os autores de relevo nacional e/ou mundial.
Você é convidado a conversar com os autores dos livros indicados. Leia
a obra Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, na qual a autora aborda o
domínio da Filosofia para o ser humano.

O saber filosófico é uma aspiração ao


conhecimento racional, lógico e sistemático da
realidade natural e humana. A reflexão filosófica
possibilita aprender a partir da problematização
da realidade social como ponto de partida e como
ponto de chegada das experiências da vida diária,
além de advertir o entendimento das situações
habituais da vida humana. Esta mesma ponderação
também adverte o entendimento das situações
habituais da vida humana quando revelamos as
características da filosofia.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2006.

A segunda leitura recomendada é a da obra


Vivendo a Filosofia, de Gabriel Chalita, a qual traz
questões como: De onde provêm todas as coisas?
O que é o pensamento, o bem, o belo, o amor? Estudo Guiado:
Ao concluir a leitura
Estes são questionamentos que a filosofia desde a
dos livros, faça uma
Antiguidade tem investigado. Este livro, por meio síntese comparando
de uma linguagem clara, demonstra a habilidade as ideias dos autores
do autor ao dar nova vida aos pensamentos que destacando os
conceitos básicos do
compõem a base da tradição ocidental e permanecem ponto de vista de
sendo ferramentas benéficas para compreendermos cada um.
o mundo contemporâneo.
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2008.

INTA EAD Introdução à Filosofia 15


PROBLEMATIZANDO
É apresentada uma situação problema onde será feito
um texto expondo uma solução para o problema
abordado, articulando a teoria e a prática profissional.
A problematização idealiza questionamentos incompreensíveis de Estudo Guiado:
atitudes humanas. No cenário do cotidiano acontecem diferentes situações Leia a situação-
problema e
em que o SER HUMANO é sujeitado a afirmar, negar, desejar, aceitar ou reflita sobre os
recusar coisas, pessoas e situações. As pessoas estão constantemente se questionamentos;
encontre as respostas
questionando e, por esta razão, almejam respostas. Diante dessa situação, de acordo com os
a expectativa é a de que alguém, dispondo de um relógio ou calendário, princípios defendidos
pelos autores nos
venha a responder questionamentos com exatidão. livros recomendados
nesta unidade de
A partir do momento que perguntamos e aceitamos a resposta, confiamos ensino. , reflita e faça
que o tempo existe e que ele é medido por horas e dias. Muitos dizem que uma resenha crítica
e comente com seus
quando perguntamos estamos filosofando. Você talvez já se perguntou: O colegas.
que é o homem? Para que serve o homem? A ciência melhora o homem?
A espécie humana tem evoluído para melhor? Afinal, a filosofia serve para
quê? Por que devo estudar filosofia? O que estuda a filosofia? Qual o seu
significado? Por meio da filosofia é possível transmitir conhecimentos?

INTA EAD Introdução à Filosofia 17


APRENDENDO A PENSAR
O estudante deverá analisar o tema da disciplina em
estudo a partir das ideias organizadas pelo professor-
autor do material didático.
1
A FILOSOFIA

Conhecimentos
Conhecer o conceito de filosofia a partir de diversos posicionamentos teóricos;
Compreender o processo de construção do pensamento filosófico;
Compreender as diversas facetas em que o conhecimento humano se desenvolve.

Habilidades
Identificar posturas críticas sobre questões essenciais ao mundo e à vida no
contexto sociocultural em que está inserido;
Reconhecer os fundamentos filosóficos oriundos de qualquer acontecimento,
evento, fenômeno ou pensamento de questões relacionadas ao conhecimento.

Atitude
Saber ampliar a ação da filosofia na construção do conhecimento
a partir de novos olhares.
Filosofia: Por que e para que?

Pensar filosoficamente é uma aventura – uma viagem aos limites do pensamento


e do entendimento. (LAW, 2008, p. 10)

De fato, a filosofia pode ser considerada uma aventura, é um lançar-se no


desconhecido, no novo, no que não estamos acostumados. Ao mesmo tempo é um
convite a abandonarmos nossas convicções, crenças, nos despojarmos de nossas
seguranças, das verdades que nos foram transmitidas. Portanto, filosofar é um ato de
coragem que leva ao crescimento intelectual, à reflexão autônoma. Sim, autonomia!
Essa, talvez, seja, hoje, a principal tarefa da filosofia: fazer-nos pensar de modo
autônomo, crítico, reflexivo, numa época em que a mídia, os grupos religiosos, os
partidos políticos, as instituições de ensino etc., nos enquadram numa forma rígida,
cristalizada, de pensar. Tal tarefa nos remete ao filósofo alemão Immanuel Kant, que
nos leva a pensar sobre o esclarecimento no texto Resposta à pergunta: O que é
o Esclarecimento? escrito em dezembro de 1783, mas que nos é bastante atual.
Vamos ler um trecho do referido texto:

Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade,


pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se
servir de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. É a si próprio
que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não resulta da falta
de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para
utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude! Tenha a
coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é portanto a divisa do
Esclarecimento.

A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão grande dos
homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela alheia (naturaliter
majorennes), comprazem-se em permanecer por toda sua vida menores; e
é por isso que é tão fácil a outros instituírem-se seus tutores. É tão cômodo
ser menor. Se possuo um livro que possui entendimento por mim, um diretor
espiritual que possui consciência em meu lugar, um médico que decida
acerca de meu regime, etc., não preciso eu mesmo esforçar-me. Não sou
obrigado a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim
da aborrecida tarefa. Que a maior parte da humanidade (e especialmente

INTA EAD Introdução à Filosofia 21


todo o belo sexo) considere o passo a dar para ter acesso à maioridade como
sendo não só penoso, como ainda perigoso, é ao que se aplicam esses tutores
que tiveram a extrema bondade de encarregar-se de sua direção. Após ter
começado a emburrecer seus animais domésticos e cuidadosamente impedir
que essas criaturas tranquilas sejam autorizadas a arriscar o menor passo
sem o andador que as sustenta, mostram-lhes em seguida o perigo que as
ameaça se tentam andar sozinhas. Ora, esse perigo não é tão grande assim,
pois após algumas quedas elas acabariam aprendendo a andar; mas um
exemplo desse tipo intimida e dissuade usualmente toda tentativa ulterior.

É portanto difícil para todo homem tomado individualmente livrar-se dessa


minoridade que se tornou uma espécie de segunda natureza. Ele se apegou
a ela, e é então realmente incapaz de se servir de seu entendimento, pois
não deixam que ele o experimente jamais. Preceitos e fórmulas, esses
instrumentos mecânicos destinados ao uso racional, ou antes ao mau uso
de seus dons naturais, são os entraves desses estado de minoridade que se
perpetua. Quem o rejeitasse, no entanto, não efetuaria mais do que um salto
incerto por cima do fosso mais estreito que seja, pois ele não tem o hábito
de uma tal liberdade de movimento. Assim, são poucos os que conseguiram,
pelo exercitar de seu próprio espírito, libertar-se dessa minoridade tendo ao
mesmo tempo um andar seguro. (KANT, 1783)

Sapere Aude! Este é o convite que a filosofia nos faz hoje. Nisso consiste a
importância de estudá-la, sua tarefa, no mundo de homens-máquinas, de homens
programados. A filosofia é um exame crítico dos fundamentos de nossas convicções,
de nossos preconceitos e de nossas crenças e é, conforme Bertrand Russell, filósofo
inglês, na não-certeza que chegamos quando filosofamos onde devemos procurar o
valor da filosofia, pois o seu valor está nas incertezas que ela nos proporciona, pois
quem não pratica o filosofar caminha pela vida preso aos pré-conceitos que são
adquiridos ao longo de sua vida.
Porém, mesmo com esta consciência da tarefa da filosofia hoje, muitas pessoas
questionam sua utilidade para o cotidiano. De modo imediato a filosofia realmente
não tem muita utilidade para as pessoas. No entanto, sua utilidade se apresenta de
modo mediato, ou seja, indiretamente. Bem nos explica a Professora Marilena Chauí:

As evidências do cotidiano

Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou


recusamos coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas como “que horas

22 Introdução à Filosofia INTA EAD


são?”, ou “que dia é hoje?”. Dizemos frases como “ele está sonhando”, ou
“ela ficou maluca”. Fazemos afirmações como “onde há fumaça, há fogo”,
ou “não saia na chuva para não se resfriar”. Avaliamos coisas e pessoas,
dizendo, por exemplo, “esta casa é mais bonita do que a outra” e “Maria está
mais jovem do que Glorinha”.

Numa disputa, quando os ânimos estão exaltados, um dos contendores pode


gritar ao outro: “Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu”, e
alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer: “Vamos ser objetivos, cada
um diga o que viu e vamos nos entender”.

Também é comum ouvirmos os pais e amigos dizerem que somos muito


subjetivos quando o assunto é o namorado ou a namorada. Frequentemente,
quando aprovamos uma pessoa, o que ela diz, como ela age, dizemos que
essa pessoa “é legal”.

Vejamos um pouco mais de perto o que dizemos em nosso cotidiano.

Quando pergunto “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, minha expectativa
é a de que alguém, tendo um relógio ou um calendário, me dê a resposta
exata. Em que acredito quando faço a pergunta e aceito a resposta? Acredito
que o tempo existe, que ele passa, pode ser medido em horas e dias, que o
que já passou é diferente de agora e o que virá também há de ser diferente
deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido, e o futuro,
desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente,
várias crenças não questionadas por nós.

Quando digo “ele está sonhando ”, referindo-me a alguém que diz ou pensa
alguma coisa que julgo impossível ou improvável, tenho igualmente muitas
crenças silenciosas: acredito que sonhar é diferente de estar acordado,
que, no sonho, o impossível e o improvável se apresentam como possível e
provável, e também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a vigília
se relaciona com o que existe realmente. Acredito, portanto, que a realidade
existe fora de mim, posso percebê-la e conhecê-la tal como é, sei diferenciar
realidade de ilusão.

A frase “ela ficou maluca” contém essas mesmas crenças e mais uma: a de
que sabemos diferenciar razão de loucura e maluca é a pessoa que inventa
uma realidade existente só para ela. Assim, ao acreditar que sei distinguir
razão de loucura, acredito também que a razão se refere a uma realidade
que é a mesma para todos, ainda que não gostemos das mesmas coisas.

INTA EAD Introdução à Filosofia 23


Quando alguém diz “onde há fumaça, há fogo” ou “não saia na chuva
para não se resfriar”, afirma silenciosamente muitas crenças: acredita que
existem relações de causa e efeito entre as coisas, que onde houver uma
coisa certamente houve uma causa para ela, ou que essa coisa é causa de
alguma outra (o fogo causa a fumaça como efeito, a chuva causa o resfriado
como efeito). Acreditamos, assim, que a realidade é feita de causalidades,
que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações causais que
podemos conhecer e, até mesmo, controlar para o uso de nossa vida.

Quando avaliamos que uma casa é mais bonita do que a outra, ou que
Maria está mais jovem do que Glorinha, acreditamos que as coisas, as
pessoas, as situações, os fatos podem ser comparados e avaliados, julgados
pela qualidade (bonito, feio, bom, ruim) ou pela quantidade (mais, menos,
maior, menor). Julgamos, assim, que a qualidade e a quantidade existem, que
podemos conhecê-las e usá-las em nossa vida. Se, por exemplo, dissermos
que “o sol é maior do que o vemos”, também estamos acreditando que nossa
percepção alcança as coisas de modos diferentes, ora tais como são em si
mesmas, ora tais como nos aparecem, dependendo da distância, de nossas
condições de visibilidade ou da localização e do movimento dos objetos.
Acreditamos, portanto, que o espaço existe, possui qualidades (perto, longe,
alto, baixo) e quantidades, podendo ser medido (comprimento, largura,
altura). No exemplo do sol, também se nota que acreditamos que nossa visão
pode ver as coisas diferentemente do que elas são, mas nem por isso diremos
que estamos sonhando ou que ficamos malucos.

Na briga, quando alguém chama o outro de mentiroso porque não estaria


dizendo os fatos exatamente como aconteceram, está presente a nossa
crença de que há diferença entre verdade e mentira. A primeira diz as coisas
tais como são, enquanto a segunda faz exatamente o contrário, distorcendo
a realidade. No entanto, consideramos a mentira diferente do sonho,
da loucura e do erro porque o sonhador, o louco e o que erra se iludem
involuntariamente, enquanto o mentiroso decide voluntariamente deformar
a realidade e os fatos. Com isso, acreditamos que o erro e a mentira são
falsidades, mas diferentes porque somente na mentira há a decisão de falsear.

Ao diferenciarmos erro de mentira, considerando o primeiro uma ilusão ou


um engano involuntários e a segunda uma decisão voluntária, manifestamos
silenciosamente a crença de que somos seres dotados de vontade e que
dela depende dizer a verdade ou a mentira. Ao mesmo tempo, porém, nem

24 Introdução à Filosofia INTA EAD


sempre avaliamos a mentira como alguma coisa ruim: não gostamos tanto
de ler romances, ver novelas, assistir a filmes? E não são mentira? É que
também acreditamos que quando alguém nos avisa que está mentindo, a
mentira é aceitável, não seria uma mentira “no duro”, “pra valer”.

Quando distinguimos entre verdade e mentira e distinguimos mentiras


inaceitáveis de mentiras aceitáveis, não estamos apenas nos referindo ao
conhecimento ou desconhecimento da realidade, mas também ao caráter da
pessoa, à sua moral. Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem
vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é livre
para o bem ou para o mal.

Na briga, quando uma terceira pessoa pede às outras duas para que
sejam “objetivas” ou quando falamos dos namorados como sendo “muito
subjetivos”, também estamos cheios de crenças silenciosas. Acreditamos
que quando alguém quer defender muito intensamente um ponto de vista,
uma preferência, uma opinião, até brigando por isso, ou quando sente um
grande afeto por outra pessoa, esse alguém “perde” a objetividade, ficando
“muito subjetivo”. Com isso, acreditamos que a objetividade é uma atitude
imparcial que alcança as coisas tais como são verdadeiramente, enquanto a
subjetividade é uma atitude parcial, pessoal, ditada por sentimentos variados
(amor, ódio, medo, desejo). Assim, não só acreditamos que a objetividade e
a subjetividade existem, como ainda acreditamos que são diferentes e que
a primeira não deforma a realidade, enquanto a segunda, voluntária ou
involuntariamente, a deforma.

Ao dizermos que alguém “é legal” porque têm os mesmos gostos, as mesmas


ideias, respeita ou despreza as mesmas coisas que nós e tem atitudes, hábitos
e costumes muito parecidos com os nossos, estamos, silenciosamente,
acreditando que a vida com as outras pessoas - família, amigos, escola,
trabalho, sociedade, política - nos faz semelhantes ou diferentes em
decorrência de normas e valores morais, políticos, religiosos e artísticos,
regras de conduta, finalidades de vida.

Achando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de


conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na
companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos
quais discordam e com os quais entram em conflito, acreditamos que somos
seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores, finalidades só
podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.

INTA EAD Introdução à Filosofia 25


Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas,
da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos
parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na
qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho
ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na
diferença entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade,
do bem e do mal, da moral, da sociedade.

A atitude filosófica

Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e


começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou
“que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está
sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura?
A razão?

Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas


afirmações por outras: “Onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva
para não ficar resfriado”, por: O que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo”,
ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que é a
subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”?
O que é “menos”? O que é o belo?

Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é a verdade? O que é o


falso? O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e por quê?
Quando existe ilusão e por quê?

Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o


amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos?

Se, em lugar de discorrer tranquilamente sobre “maior” e “menor” ou “claro”


e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a qualidade?

E se, em vez de afirmar que gosta de alguém porque possui as mesmas


ideias, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos valores,
preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um
valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade?

Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância da vida


cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e
os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Ao tomar

26 Introdução à Filosofia INTA EAD


essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que
cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas
crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o
que chamamos de atitude filosófica.

Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: A


decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos,
as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana;
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.

Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu:

“Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores


considerações”. (CHAUÍ, 2000, p. 5 – 9).

Portanto, a filosofia não está apartada de nós, faz parte da nossa vida, está
diretamente ligada ao que somos de mais essência, seres inacabados, em construção.
As perguntas e respostas que buscamos através da filosofia é uma forma de nos
tornarmos humanos.

ATIVIDADE
Após a leitura dos textos de Kant e Marilena Chauí redija um texto dissertativo
sobre a importância da filosofia para a vida humana. Faça uso do saber autônomo,
posicionando a favor ou contra o tema.

O termo "filosofia" vem do grego e significa "amor à sabedoria". O ser


humano possui profundo desejo de saber, fato que o leva a buscar as causas dos
acontecimentos.
É possível encontrar dois motivos para a busca de conhecimento:
• Considerações teóricas (saber simplesmente por saber, para satisfazer as
exigências de seu intelecto);
• Razões práticas (a necessidade de conhecimento a fim de agir com retidão
moral ou com eficiência técnica).
Um ser humano experimenta, por exemplo, a necessidade de descobrir o
propósito de sua própria existência; para isso, ele precisa encontrar as respostas de
muitas perguntas acerca das coisas existentes ao seu redor.

INTA EAD Introdução à Filosofia 27


Os homens observam certas coisas acontecendo ao seu redor como o
crescimento das plantas, a chuva que cai, o sol nascendo... E eles começam
a se perguntar sobre as causas destas coisas.
Um verdadeiro filósofo é uma pessoa que se dedica à vida aparentemente
Contemplação: "inútil" de contemplação. Por esse motivo, um filósofo é, muitas vezes,
Ação de contemplar:
considerado ridículo: uma pessoa que está "fora de contato" com o mundo
contemplação dos
astros. ao seu redor.
Concentração
do espírito sobre Sobre Thales de Mileto, por exemplo, foi dito que ele caiu em um poço,
assuntos intelectuais
enquanto estava olhando para o céu. Esse fato provocou o riso de uma
ou religiosos;
meditação; viver na empregada doméstica.
contemplação.
Através do uso de imagens, Platão, em seus diálogos, mostra as pessoas
que estão imersas no mundo dos "bens úteis" - o grupo de atenienses que
possuem dinheiro e sucesso. Estas pessoas são incapazes de tornarem-se
filósofas, pois não têm nenhum desejo de verdade, apenas sucesso; não
aspiram conhecer o sentido da vida.
O que os filósofos procuraram demonstrar é que o espírito filosófico é
a busca de um conhecimento acerca da realidade espontânea, que vai além
do conhecimento alcançado pelas artes e ciências técnicas.
O objetivo de um filósofo consiste na busca do conhecimento em si,
não tem um fim utilitário (não para ganhar dinheiro, fama, etc.; não é uma
ciência de produção).
Então, por que começamos a filosofar?
Para Aristóteles, todos os homens, naturalmente, desejam saber. Pertence
à natureza humana a busca das causas dos acontecimentos. Há a busca por
respostas, razões, explicações, levando a outras questões (não é igual a um
direito de saber tudo - curiosidade, invasão de privacidade, etc.). A mente
humana é obrigada, por sua própria constituição, a fazer as perguntas que
os filósofos discutem. O objeto do intelecto é a busca pela verdade.
É de Aristóteles a seguinte premissa: "Você diz que é preciso filosofar.
Então você deve filosofar. Você diz que não se deve filosofar. Então, para
provar sua alegação, você deve filosofar. Em qualquer caso, você deve
filosofar". Portanto não podemos fugir da filosofia. Podemos até não cultivar
um espírito filosófico, mas as questões fundamentais da filosofia sempre
andam conosco, pois são questões essencialmente humanas.

28 Introdução à Filosofia INTA EAD


Achegando-se à Filosofia

O primeiro contato com a filosofia, no entanto, pode, para muitos, ser


extremamente difícil, doloroso, árduo, devido a diversos fatores, tais como, o
questionamento que ela põe às nossas crenças, ao modo peculiar da argumentação
filosófica, a abstração de seus conceitos etc. Contudo, isso não deve servir de
justificativa para permanecermos na minoridade intelectual.
Estudar filosofia, começar pelo entendimento que já existe uma filosofia, não
se trata de aprender pensamentos dos pensadores, mas sim aprender a pensar
filosoficamente. Sempre houve filosofia, uma vez que em seu sentido mais amplo,
filosofar consiste em pensar sobre tudo que envolve o ser humano na tentativa de
explicar as coisas.
As questões fundamentais que o pensamento humano procura esclarecer giram
em torno daquilo que nos cerca e está além do que nos chega através dos órgãos
dos sentidos. O que vem a ser real e imaginário, haja vista a possibilidade da mente
criar e desenvolver ideias e pensamentos que provavelmente, ou não, correspondem
à realidade?
“O que é a vida?”, “O que é o homem?”, “Existe algum sentido para a existência do
ser humano neste planeta?”, “Existe algo que se encontra além do que percebemos
pelos sentidos?”. Perguntas como estas fazem parte de inúmeras questões levantadas
pelo ser humano e, de acordo com as respostas dadas ou encontradas, o homem vai
pautando sua existência. Certamente a maioria das pessoas vive sem pensar nessas
questões ou pensa apenas no imediato sem se preocupar com as perguntas mais
profundas da existência e da vida humana.
O estudo de filosofia objetiva despertar o estudante para as grandes questões
que determinam e dirigem a vida humana. Todavia, essa forma de estudar fica restrita
a especialista nas academias. No entanto, não deveria ser reservado somente para
os estudantes das áreas humanas, mas também para aqueles que buscam profissões
em outras áreas de conhecimento, por exemplo, técnicos e profissionais das áreas
de ciências exatas e biológicas.

Será que você realiza uma ação sem antes pensar?

É impossível admitir a existência humana sem reflexão. Somos obrigados a pensar


antes de qualquer ação; isso significa que o ser humano tem um ponto de vista
sobre o mundo, uma linha de conduta ética e política para manter ou transformar
os modos de pensar e agir do seu tempo histórico.

INTA EAD Introdução à Filosofia 29


Esta maturidade do homem é resultado da aquisição da sua autonomia
sobre o pensar e o agir no mundo. A filosofia dá condições teóricas para
a superação da consciência ingênua e promove aquisição da consciência
crítica. Por exemplo, tente responder as seguintes questões: Quais são os
limites da liberdade em uma sociedade civilizada? É errado comer carne ou
usar animais para investigação científica? Devemos respeitar a natureza? O
que é a mente e como esta se relaciona com o corpo? Existe vida após a
morte?
Certamente você concordará que estas questões dizem respeito a
Antídoto: todos nós e que as respostas podem afetar profundamente a forma como
Substância que conduzimos nossas vidas no cotidiano. Você, provavelmente, já pensou em
impede a ação nociva
de um veneno sobre muitas delas e pode ter discutido esses temas com amigos ou parentes.
o organismo. Alguns Algumas pessoas pensam uma coisa, outros pensam outra.
antídotos agem
quimicamente sobre A filosofia possibilita modos de pensar sobre essas questões. Os filósofos
os venenos para
torná-los inócuos tentam construir argumentos racionais para seus pontos de vista seguindo
pressupostos lógicos. Filósofos também tentam construir argumentos contra
Dogmatismo : O
dogmatismo filosófico as posições de seus oponentes. Esses processos nem sempre vão levar a um
é a contestação acordo universal, mas eles possibilitarão o debate, ajudando-nos a entender
do ceticismo, é
quando as verdades os pontos fortes e fracos das diferentes posições e as relações entre eles.
são questionadas,
para fazer com que Os filósofos também devem submeter as suas próprias crenças aos
os indivíduos não padrões de argumentação racional, e devem estar preparados para mudar
confiem e nem se
tornem submissos as suas mentes, caso existam bons argumentos contra suas opiniões. Ao
perante as verdades questionar suas crenças e testá-las de forma rigorosa, eles podem identificar
estabelecidas.
Alguns dos filósofos seus preconceitos e suposições e substituí-los coerentemente. A filosofia é,
dogmáticos mais pois, um antídoto útil ao dogmatismo. Ao estudar filosofia, as pessoas,
conhecidos são
Platão, Aristóteles e muitas vezes, percebem que suas opiniões não eram tão firmes como
Parmênides. pensavam e tornam-se mais dispostas a ouvir a opinião de outras pessoas.
Essa preocupação com o esclarecimento de ideias é fundamental para a
Sátira: filosofia e tem aplicações em muitas áreas. Por exemplo, os políticos falam
Construção poética,
livre e repleta de sobre liberdade, democracia e direitos humanos, mas o que exatamente
ironia que se opõe eles têm em mente quando usam essas palavras?
aos costumes, ideias
ou instituições da Contudo, apesar da relevância que pode ser atribuída à filosofia, nem
época (em questão).
sempre ela é compreendida. Vejamos o exemplo de uma sátira entre dois
Construção poética
com o propósito de comediantes sobre o papel da filosofia na vida cotidiana.
criticar: sátira política.
— John: Pode me esclarecer que relevância a filosofia tem para a vida
cotidiana?
— Smith: Sim, eu posso fazer isso com bastante facilidade. Esta manhã

30 Introdução à Filosofia INTA EAD


fui a uma loja e o vendedor estava discutindo com um cliente. O vendedor disse
“sim”. E que o cliente disse: "O que quer dizer "sim"?. E o vendedor falou: “Eu quero
dizer sim”.
— John: Isso é muito emocionante.
— Smith: Aqui está um exemplo esplêndido da vida cotidiana entre duas pessoas
comuns trabalhando com questões filosóficas essenciais – ‘Você quer dizer ‘sim’?” –
“Eu quero dizer ‘sim’. “- E onde eu, como filósofo, poderia ajudá-los?”
— John: E você ajudou?
— Smith: “Bem, não. Eles estavam com bastante pressa...”
John e Smith estavam satirizando as tendências filosóficas de seu tempo, mas
seu diálogo ilustra dois pontos de vista sobre a filosofia que ainda estão bastante
difundidos. Um deles é que os filósofos estão fora de contato com a vida cotidiana
e as preocupações das pessoas comuns. A outra é que os debates filosóficos são
muito abstratos e muitas vezes descem ao nível de discutir o significado das palavras
('O que quer dizer, "sim”? ').

ATIVIDADE
Há alguma verdade na sátira acima? A filosofia é pura abstração e sem relevância?
Comente de modo crítico e reflexivo.

A especificidade do saber filosófico

A filosofia, assim como a ciência, busca o conhecimento. Porém, esses campos


têm seus métodos próprios e atingem determinadas “verdades”. Além dos saberes
filosófico e científico, existe ainda o saber do senso comum, que é uma série de
crenças admitidas por um determinado grupo social, cujos membros acreditam ser
compartilhadas por todos. E produzido por meio das percepções sensíveis e imediatas.
É caracterizado pela falta de fundamentação, de coerência e sistematicidade. As
pessoas não sabem o porquê das coisas, mas aglutinam acriticamente juízos. Nessa
forma de saber, as verdades provisórias e parciais são tomadas por definitivas e
absolutas. As descrições são imprecisas e os relatos dos fatos e acontecimentos
são abordados de maneira superficial, impregnados de opiniões, que geram
uma infinidade de pré-conceitos os quais, aos poucos, vão se tornando parte do
conhecimento popular. Por fim, o senso comum é um conhecimento prático, utilitário,

INTA EAD Introdução à Filosofia 31


sem ou quase sem nenhuma teoria, integrante da chamada cultura popular.
Contudo, nem todos os conhecimentos integrantes do senso comum são
irrelevantes, já que partem da própria realidade. Algumas concepções são, de fato,
precisas, faltando a elas, entretanto, o rigor, o método, a objetividade e a coerência
típica do senso crítico.
Já o saber científico é forma especializada, metódica, observacional de estudo
da realidade. Não se contenta com as opiniões, com as verdades disseminadas
culturalmente. O saber, para ser cientificamente validado, precisa passar por uma
série de investigações, experimentos, verificações etc. Somente após um longo
processo de investigação é que uma afirmação pode ser tomada por uma verdade
científica.
Por sua vez, o saber filosófico é uma atividade reflexiva que deixa de ver os
elementos que compõem determinada realidade como dados naturais, universais,
óbvios, eternamente válidos, para serem analisados, relativizados, examinados
criticamente, compreendidos como construções histórico-sociais. É fruto de
uma metodologia orientada pela razão e pela pesquisa reflexiva. O filósofo tem
a incumbência de questionar a realidade das aparências, de ilusões dos sentidos,
abrindo a perspectiva do logos. Esse espírito filosófico é expresso de modo magistral
pelo poeta:

“Nós pedimos com insistência:


Não digam nunca: isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão.
Em que corre sangue,
Em que se ordena a desordem,
Em que o arbítrio tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza.
Não digam nunca: isso é natural!”
(Bertoldo Brecht)

Tem-se comumente a ideia que o filósofo é aquele que divaga em questões


abstratas, desconectadas da vida cotidiana com um discurso que não diz respeito
aos interesses da maioria. Já o cientista, pelo contrário, é um pesquisador confinado

32 Introdução à Filosofia INTA EAD


em seu laboratório e preocupado com problemas práticos, imbuído na elaboração
de um saber útil.
No entanto, podemos questionar: até que ponto o saber filosófico não tem
utilidade e o quanto o saber científico está próximo das expectativas práticas?
Na modernidade, filosofia e ciência seguem caminhos diferentes, determinados
por uma metodologia própria. O método determina a diferença de abordagem
dos problemas em cada área e a lógica é o instrumento comum entre a ciência
e a filosofia. Com a separação entre filosofia e ciência, a partir da revolução
científica do século XVI, cada qual passou a guardar características próprias:

CIÊNCIA FILOSOFIA
Trabalha com métodos científicos, ou Trabalha com elementos teóricos e não
seja, baseia-se na observação de dados condiciona o objeto de sua análise as
empíricos. experimentações.
Saber especializado. Visão de conjunto.
Descritiva. Crítica.

O saber filosófico designa o conjunto dos conhecimentos racionais. Portanto, um


saber amplo e universalista. Como a ciência passou a direcionar suas investigações a
campos delimitados da realidade, a filosofia, hoje, passou a ter a função de buscar a
unidade do saber e de examinar a validade dos métodos e dos saberes formulados
pelas ciências.
Entretanto, a filosofia pode se valer dos resultados alcançados pelas ciências e
questioná-los. Já as ciências podem se valer dos elementos teóricos da filosofia. É
o que faz, por exemplo, a Filosofia da Mente, a Filosofia da Natureza, a Filosofia da
Ciência etc.

PESQUISA
Escolha um tema de sua preferência e faça uma pesquisa para entender como o
senso comum, a ciência e a filosofia abordam esse determinado assunto.

INTA EAD Introdução à Filosofia 33


Diversas visões de filosofia
Etimológico:
Ciência que investiga Você sabia que a filosofia tem vários significados? Vamos elencar
a origem, étimo, das alguns deles: do ponto de vista etimológico, filosofia significa “amigo da
palavras procurando
determinar as causas sabedoria”. Para muitas pessoas, a palavra filosofia quer dizer a maneira
e circunstâncias própria de uma pessoa ver e explicar as coisas. Quando dizemos que cada
de seu processo
evolutivo. Matéria pessoa tem sua própria filosofia, estamos nos referindo a este conceito.
ou disciplina que Embora a explicação seja um verdadeiro absurdo do ponto de vista da
analisa a descrição
de uma palavra lógica, um mito ou superstição, por exemplo, mas é sua filosofia.
em vários âmbitos
linguísticos anteriores Outro significado que o termo filosofia desenvolveu foi o de conhecimento
a sua formação. adquirido de maneira sistemática, pensada, examinada. Não se trata de
Procedência de um
termo tanto em sua simples opiniões, mas de conhecimentos baseados num processo lógico
forma mais antiga de pensamento em que se usa determinado método para chegar a alguma
quanto nos aspectos
relacionados a sua conclusão.
evolução.
A filosofia consiste num conjunto de conhecimentos sobre certos
assuntos sistematizados e obtidos por meio de métodos definidos que
procuram explicar todas as coisas por suas causas mais profundas e não
imediatas. Para isto, são usadas a observação sensível e a razão natural.
Razão:
Capacidade para
O conjunto dessas regras chama-se lógica. Nota-se que este segundo
resolver (alguma conceito está ligado apenas ao mundo sensível e à razão natural, excluindo
coisa) através do
raciocínio; aptidão
o campo da ciência e da religião.
para raciocinar, para
compreender, para
Um terceiro conceito é o da mente humana quando esta procura
julgar; a inteligência explicação para todas as coisas e relaciona todo o conhecimento dos
de modo abrangente:
todo indivíduo é
diversos campos, como o conhecimento especulativo, experimental, entre
dotado ou faz uso outros. Reunindo todos num processo de integração, elabora-se uma visão
da razão. Raciocínio
através do qual se
do mundo ou do universo.
consegue induzir
ou deduzir (alguma
Esta visão desenvolve um sistema de pensamento que compreende a
coisa). existência de todas as coisas do universo e é denominada de cosmovisão.
Habilidade para fazer
avaliações de maneira
Dentro desse conceito, inclui-se tanto o campo da ciência experimental,
correta; em que há quanto da religião fundamentada na Revelação Escrita, isto é, da Teologia
juízo; bom senso.
Bíblica e do conhecimento adquirido pelo processo sensitivo racional.
Finalmente chegamos a um significado da palavra filosofia, um modo
de pensar, que inclui não apenas uma compreensão intelectual ou teórica,
mas também um saber que faça parte do nosso “eu”, de nosso ser psíquico.
Abrange o conjunto total de nossas experiências vividas e modos de viver.
Filosofia, então, é vivência.

34 Introdução à Filosofia INTA EAD


Portanto, essa forma de conhecimento é, essencialmente, prática, na
qual o ser humano passa a viver de acordo com sua visão de mundo. Esse
modo de viver deverá ser coerente com a cosmovisão obtida a fim de que o
ser humano não experimente uma dicotomia entre a psique, que se refere
à mente, e a soma, que se refere ao corpo material.
Psique:
Podemos perceber então que diferentes são os conceitos de filosofia, o A alma, a mente, o
modo como cada pessoa vê as coisas no mundo e as maneiras pelas quais espírito.

os seres humanos elaboram sua visão sobre este.


Cada conceito diferente de filosofia também provoca mudança na
natureza do saber filosófico. Ao considerar a função, ou funções, da filosofia,
constatamos que sua natureza é tríplice e culmina em aspectos amplos e
globalizantes. Vejamos cada uma delas:
• Em primeiro lugar, ao expor seu sistema, analisar as causas
fundamentais e explicar a existência/essência das coisas, a filosofia é
descritiva em sua natureza. Discorre sobre tudo o que existe, explica
conceitos, enumera e descreve os componentes, procura integrar as partes,
relacionando-as de modo apropriado e buscando abranger o todo.
• Quando a filosofia estabelece as regras do pensamento válido e a
aplicação destas no processo do raciocínio, passa a ter um caráter normativo.
Normativo:
Este caráter normativo também ocorre ao se tratar da Filosofia Prática na Que estabelece
qual são estabelecidas normas de conduta para servir como modelo de normas ou regras.

comportamento aos indivíduos, determinando as noções de dever e direito,


certo e errado.
• Finalmente, a parte da filosofia que faz uma avaliação do conhecimento
adquirido pela especulação e verifica se as regras foram obedecidas na
conduta ou na produção de uma obra de arte, chama-se Filosofia Crítica
ou Avaliativa. Isso também ocorre quando a filosofia procura se certificar
da validade deste conhecimento, bem como dos argumentos empregados,
procurando trazer à mente mais certeza e convicção da realidade e da
verdade das coisas.

Ainda verifica-se esse caráter de crítica quando a filosofia julga o valor e a


legitimidade dos métodos empregados pelas ciências particulares e quando
Postulados:
fornece a essas ciências postulados fundamentais sobre os quais elas estão Ideia que se pode,
sem demonstração
construídas. O conceito de crítica equivale a analisar os aspectos positivos e
admitir como
negativos, justificando as colocações feitas nas funções anteriores. É quando verdadeira.

se verifica a coerência das exposições com a realidade.

INTA EAD Introdução à Filosofia 35


Devemos mencionar que para se pensar de maneira correta, é preciso conhecer
e obedecer as regras que comandam o pensamento a fim de que este seja válido em
sua forma e verdadeiro em sua aplicação. É necessário, portanto, que se conheçam
essas leis estudadas pela lógica.
Para concluir, dizemos que a filosofia é sintética em sua natureza
quando procura compreender, dentro de seu campo, tudo o que existe e é acessível
à inteligência humana. A filosofia, enquanto cosmovisão tem em si esse caráter
sintético. Ela deve admitir que todos os métodos usados na ciência, na filosofia
especulativa e na religião são válidos e possíveis de serem empregados para se
descobrir a verdade. Também é necessário estabelecer princípios pelos quais seremos
orientados em nosso processo de filosofar, usando todas as formas e campos de
conhecimento.
Podemos então dizer que todos os métodos serão usados, tais como a lógica,
experimentação, observação sistematizada, revelação, intuição, entre outros.

36 Introdução à Filosofia INTA EAD


INTA EAD Introdução à Filosofia 37
OS GRANDES PARADIGMAS DA
2
FILOSOFIA NA HISTÓRIA
Conhecimentos

Conhecer a história da filosofia no período clássico, moderno, contemporâneo


e suas respectivas fases a partir dos grandes paradigmas que perpassaram cada
época.

Habilidades
Identificar a função dos diversos ciclos da filosofia no processo
de construção do conhecimento.

Atitude
Vincular os conhecimentos advindos do pensamento
filosófico à vida cotidiana.
Os grandes paradigmas
da Filosofia na História

Você sabia que quando estudamos a história da filosofia podemos fazê-


lo de duas maneiras?

A cronológica, que é o estudo de cada época da filosofia, seus pensadores e as


principais correntes e escolas; paradigmática, que estuda as épocas históricas da
filosofia a partir dos grandes temas, paradigmas, que perpassaram as discussões
filosóficas de cada época. Será nesta perspectiva que abordaremos a história da
Filosofia. De antemão afirmamos que ao longo de sua história, a Filosofia teve três
grandes paradigmas: o paradigma do ser, que marcou a antiguidade clássica e a
Idade Média e que tinha como principal tarefa a busca do ser, da essência, de todas
as coisas; o paradigma da consciência, que assinalou a modernidade e que teve
seu marco com a reviravolta antrocêntrica-subjetal; o paradigma da linguagem, que
marca a filosofia contemporânea. Veremos cada um deles a seguir.

O Paradigma do Ser

O grande paradigma que marcou as filosofias da


antiguidade grega e da Idade Média foi o do SER. Mas em
que consiste esse paradigma? E o que é esse ser que os
filósofos buscavam?

Para entendermos bem esse paradigma, é preciso, antes de mais nada,


entender a postura filosófica destas épocas. A questão fundamental era saber qual
o fundamento, a essência, de todas as coisas. Os filósofos gregos, por exemplo,
buscavam o ser, o princípio (arché) que era a origem de tudo. Procuravam descobrir
quais os elementos primários constituidores das coisas existentes como a terra, as
plantas, os animais, a água, o ar, o fogo, etc.
O ser pode ter dois sentidos, a saber: significar Existência: existir, estar aí; significar
Consistência: ser isto, ser aquilo. Quando perguntamos: Que é o homem? Que é a
água? Que é a luz? Não queremos perguntar se existe ou não existe o homem, se
existe ou não existe a água ou a luz. Queremos dizer: qual é a sua essência? Em que
consiste o homem? Em que consiste a água? Em que consiste a luz?

INTA EAD Introdução à Filosofia 41


Apogeu: Durante o tempo que antecedeu o período considerado áureo no
O mais alto grau ou
qual o pensamento grego chegou a seu apogeu, houve um grupo de
ponto de elevação,
o auge, chegou ao pensadores que se dedicaram aos assuntos já mencionados sem, contudo,
apogeu da carreira.
ter a preocupação de construir um sistema de pensamento coordenado e
integrado. A este período denominou-se período naturalista e se estendeu
desde o século VI até o séc. IV a.C. Os filósofos desse período ficaram
conhecidos como pré-socráticos, porque viveram antes de Sócrates.

As questões fundamentais para os filósofos pré-socráticos eram:

• Por que existe algo e não o nada?


• Se existe algo, em que consiste esse algo?
• Qual a essência do que existe?
• Qual o elemento fundamental, o ser em si, que constitui a realidade?

Podemos afirmar que a filosofia pré-socrática caracterizava-se como um


Realismo Metafísico (res = coisa ► realismo = o que existe), na medida em
que eles se perguntavam sobre a existência do ser que era o pressuposto
de qualquer existência, o fundamento de toda a realidade, o ser que é em
si, que não se decompunha em outras coisas. Com os gregos começou
um esforço para discernir entre aquilo que tem uma existência meramente
aparente e aquilo que tem uma existência real, uma existência em si, uma
existência primordial, irredutível a outra. Estes filósofos gregos procuram
qual é ou quais são as coisas que têm uma existência em si. Eles chamavam
a isto o "princípio" (arché), nos dois sentidos da palavra: como começo e
como fundamento de todas as coisas.
Vamos conhecer alguns filósofos pré-socráticos:

Tales de Mileto (640 – 548 a.C.)

► O princípio de toda a realidade era a ÁGUA;


Não consiste em nada; existe, com uma existência primordial, como
princípio essencial, fundamental, primário.

42 Introdução à Filosofia INTA EAD


Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.)

► O princípio fundamental da realidade era o APEIRON (INDEFINIDO);

Uma coisa indefinida que não era nem água, nem cerra,
nem fogo, nem ar, nem pedra, mas antes tinha em si, por
assim dizer, em potência, a possibilidade de que dela se
derivassem as demais coisas.

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.)

► O princípio fundamental da realidade era o AR INFINITO


(pneuma ápeiron);
► Foi quem pela primeira vez denominou o princípio de
arché;

O universo era o resultado das transformações do ar, da sua rarefação, o fogo,


ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra. Esse era o processo pelo qual
se passava da substância primordial para a multiplicidade dos elementos.

Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.)

Não procurou um, mas vários princípios para a realidade, com a ideia de salvar
as qualidades diferenciais das coisas, admitindo, não uma origem única, mas uma
origem plural; não uma só coisa, da qual fossem derivadas todas as coisas, mas
várias coisas. Assim, ele admitiu que eram quatro as coisas realmente existentes,
das quais se derivam todas as demais e que essas quatro coisas eram: a água, o ar,
a terra e o fogo, que ele chamou "elementos", isto é, aquilo com que se faz "tudo o
mais”.

INTA EAD Introdução à Filosofia 43


Pitágoras de Samos (séc. VI a.C.)

Foi o primeiro filósofo que pensou como fundamento da realidade um ser não-
material, não acessível aos sentidos. Para Pitágoras a essência última de todo ser,
dos que percebemos pelos sentidos, é o número.
As coisas são números, escondem dentro de si números. As coisas são distintas
umas de outras pela diferença quantitativa e numérica.
O 1 é o ponto, o 2 determina a linha, o 3 gera a superfície e o 4 produz o volume.
Por exemplo, Pitágoras descobriu que na lira se as notas das diferentes cordas
soam diferentemente, é porque umas são mais curtas que as outras e não somente
descobriu isso, mas também mediu o comprimento relativo e encontrou que as
notas da lira estavam entre si numa simples relação numérica de comprimento: na
relação de um dividido por dois, um dividido por três, um dividido por quatro, um
dividido por cinco. Descobriu, pois, a oitava, a quinta, a quarta, a sétima musical.
Assim, Pitágoras chegou à ideia de que tudo quanto vemos e tocamos as coisas tais
e como se apresentam, não existem de verdade, mas antes são outros tantos véus
que ocultam a verdadeira e autêntica realidade, a existência real que está atrás dela
e que é o número.
É a primeira vez que na história do pensamento grego surge como coisa
realmente existente, uma coisa não material, nem extensa, nem visível, nem tangível.

Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)

Foi o primeiro filósofo a perceber que as coisas são e não-são, ao mesmo tempo,
ou seja, que a realidade está em constante movimento. Quando nós queremos fixar
uma coisa e definir sua consistência, dizer em que consiste esta coisa, ela já não
consiste no que consistia um momento antes. O existir é um perpétuo mudar, um
estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir. O
elemento que representa o princípio de todas as coisas é o fogo, pois este mostra
a fluidez de tudo, o contínuo deixar de ser para tornar-se ser. O fogo consome,
destrói, para tornar-se o que é.

44 Introdução à Filosofia INTA EAD


Parmênides de Eléia (544-470 a.C.)

Diametralmente:
Sua filosofia está diametralmente oposta à filosofia de Heráclito. Na direção
Enquanto este afirmava que o ser é e o não-ser também é, Parmênides do diâmetro -
transversalmente.
afirmava que o ser é e o não-ser não é.
Em direções opostas
Parmênides verifica, pois, que dentro da ideia do devir há uma - ausência de
confluência para um
contradição lógica, há esta contradição: que o ser não é; que aquele que mesmo ponto: ideias
é não é, visto que o que é neste momento já não é neste momento, antes dia¬me¬tralmente
opostas.
passa a ser outra coisa. Qualquer olhar que lancemos sobre a realidade nos
confronta com uma contradição lógica, com um ser que se caracteriza por
não ser. E diz Parmênides: isto é absurdo; a filosofia de Heráclito é absurda,
é ininteligível, não há quem a compreenda. Porque como pode alguém
compreender que o que é não seja, e, o que não é seja? As qualidades do
ser de Parmênides são:

1) Idêntico a si mesmo - (princípio da identidade);

2) Único - não pode haver dois seres;

Suponhamos que haja dois seres; pois, então, aquilo que distingue um
do outro "é" no primeiro, porém "não é" no segundo. Mas se no segundo
não é aquilo que no primeiro é, então chegamos ao absurdo lógico de que o
ser do primeiro não é no segundo. Tomando isto absolutamente, chegamos
ao absurdo contraditório de afirmar o não-ser do ser. Dito de outro modo:
se há dois seres, que há entre eles? O não-ser. Mas dizer que há o não-
ser é dizer que o não-ser, é. E isto é contraditório, isto é absurdo, não tem
cabimento; essa proposição é contrária ao princípio de identidade.

3) Eterno - não tem princípio nem fim;

Se tem princípio, é que antes de começar o ser havia o não ser. Mas,
como podemos admitir que haja o não-ser? Admitir que há o não-ser, é
admitir que o não-ser é. Pela mesma razão não tem fim, porque se tem fim é
que chega um momento em que o ser deixa de ser. E depois de ter deixado

INTA EAD Introdução à Filosofia 45


de ser o ser, que há? O não-ser. Mas, então, temos que afirmar o ser do não-ser, e
isto é absurdo.

4) Imutável

Toda mudança do ser implica o ser do não-ser, visto que toda mudança é deixar
de ser o que era para ser o que não era, e, tanto no deixar de ser como no chegar a
ser, vai implícito o ser do não-ser, o que é contraditório.

5) Infinito - não está em parte algum;

Estar em uma parte é encontrar-se em algo mais extenso e, por conseguinte,


ter limites. Mas o ser não pode ter limites, porque se tem limites, cheguemos até
estes limites e suponhamo-nos nestes limites. Que há além do limite? O não-ser.
Mas então temos que supor o ser do não-ser além do ser. Por conseguinte o ser não
pode ter limites e se não pode ter limites, não está em parte alguma e é ilimitado.

6) Imóvel - mover-se é deixar de estar em um lugar para estar em outro;

Mas como predicar-se do ser o estar em um lugar? Estar em um lugar supõe


que o lugar onde está é mais amplo, mais extenso que aquilo que está no lugar.
Por conseguinte, o ser, que é o mais extenso, o mais amplo que há, não pode estar
em lugar algum, e se não pode estar em lugar algum, não pode deixar de estar no
lugar; ora: o movimento consiste em estar estando, em deixar de estar num lugar
para estar em outro lugar.

Mas, na realidade, as coisas estão em movimentos, os seres são múltiplos, vão


e vêm, que se movem, que mudam, que nascem e que perecem. Não podia, pois,
passar despercebido a Parmênides a oposição em que sua metafísica se encontrava
frente ao espetáculo do universo. Então Parmênides não hesita um instante, daí
tira a conclusão: este mundo heterogêneo de cores, de sabores, de cheiros, de
movimentos, de subidas e descidas, das coisas que vão e vêm, da multiplicidade
dos seres, de sua variedade, do seu movimento, de sua heterogeneidade, todo este
mundo sensível é uma aparência, é uma ilusão dos nossos sentidos, uma ilusão
da nossa faculdade de perceber. Assim como um homem que visse forçosamente

46 Introdução à Filosofia INTA EAD


o mundo através de uns cristais vermelhos diria: as coisas são vermelhas, e estaria
errado: do mesmo modo quando dizemos: o ser é múltiplo, o ser é movediço, o
ser é mutável, o ser é variadíssimo, estamos errados. Na realidade, o ser é único,
imutável, eterno, ilimitado e imóvel. Desse modo, Parmênides cria dois mundos, um
sensível e outro inteligível. Pela primeira vez na história da filosofia aparece esta tese
da distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível.

Demócrito de Abdera (460-370 a. C.)

► O princípio fundamental da realidade é o Átomo;

Partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu e eternos. Se fossem


divisíveis, a natureza acabaria por se diluir. E como nada pode surgir do nada, são
eternos.
► Um dos primeiros materialistas;
► Tenta resolver os impasses surgidos nas teorias de Heráclito e Parmênides;
O ser, o átomo é eterno (como pensava Parmênides), mas está em constante
movimento (como pensava Heráclito), como, por exemplo, os átomos que compõem
a alma (feita de átomos sutis, que se movem, lisos e arredondados), já que esta se
move.

Após o período da filosofia naturalista ou pré-socrática, temos o período das


grandes sínteses. Os principais pensadores dessa época são Sócrates, Platão e
Aristóteles. Estes filósofos dão uma configuração mais rebuscada às questões e
teorias dos pré-socráticos, a partir da tentativa de desenvolver sistemas de ideias
capazes de abarcar todas as dimensões da realidade. Daí o nome de período das
grandes sínteses ou período sistemático. Nele procurou-se coordenar e sistematizar
o que se havia pensado até então e continuar se aprofundando no pensamento
sobre elementos constituintes do nosso universo. Tais elementos diziam respeito
não somente ao que se podia perceber através dos sentidos como também daquilo
que estava além, isto é, a metafísica.

INTA EAD Introdução à Filosofia 47


Sócrates

Sócrates considera o uso do raciocínio e o ato de elogiar


os outros ao fazê-los na busca de respostas. As histórias
dos deuses tinham muitas contradições em si e tornou-se
difícil acreditar neles. Como alguns devem, eventualmente,
acreditar em Papai Noel, também muitos precisaram desistir
de sua crença nos deuses. Mas, assim como a crença no Papai
Noel é reconfortante e traz presentes físicos, a crença nos deuses era reconfortante
para fornecer uma base de ordem moral. Uma vez que a crença nos deuses foi
removida, o que os gregos colocaram em seu lugar? O que serviria de base para a
ordem social e moral? Sócrates foi em busca dessas respostas no momento de sua
morte.

Platão achava que ele tinha encontrado, mas Sócrates obteve julgamentos sobre
as histórias dos deuses. Ele sabia que certos atos dos deuses devem ser seguidos e
outros definitivamente evitados. Sócrates foi à procura de uma base para afirmar a
existência de um padrão moral ou conjunto de regras ao qual até os deuses estão
sujeitos. Isto é conhecido como Ética em Filosofia.
Sócrates foi um dos primeiros seres humanos a prosseguir na resposta para
a pergunta "O que é o bem?" usando razão e não crença. Concluiu que não há
realmente princípios válidos de pensamento e de ação que devam ser seguidos para
desfrutarmos de uma vida boa se quisermos ser, ao mesmo tempo, genuinamente
felizes e verdadeiramente bons. Estes princípios são objetivos e verdade para todos
os homens e mulheres, sempre e onde quer que vivam. Algumas pessoas são
injustas, autoindulgentes, obcecadas com metas inúteis, confusas e cegas sobre o
que é verdadeiramente importante. Estas pessoas precisam encontrar a verdade e
viver de acordo com ela.
Tornou-se famoso por dar uma volta em torno da ágora (mercado) e questionar
os cidadãos sobre: "O que é a justiça", "O que é o conhecimento". Desafiava as
pessoas questionando de volta cada resposta que elas davam.
Filho de uma parteira, preocupou-se em purificar e esclarecer os conceitos
através do método de questionar seus alunos. Reuniu em torno de si um grupo de
jovens estimulando o pensamento, questionando conceitos e fazendo perguntas a
fim de tornar as ideias mais claras e precisas. Buscava retirar da mente o que, em
potencial, já se encontrava no íntimo.

48 Introdução à Filosofia INTA EAD


Maiêutica :
A este processo deu-se o nome de maiêutica, comparando-o com o Na filosofia socrática,
processo do parto em que a parteira procurava tirar a criança do ventre arte de levar o
interlocutor, através
materno. Dessa forma, Sócrates procurava retirar conhecimento do íntimo de uma série de
das coisas. perguntas, a descobrir
conhecimentos que
Este filósofo, cujo aforismo atribuído era “Conhece-te a ti mesmo”, ele possuía sem que
o soubesse. (Significa
demonstrava também as incoerências e inconsistências da sociedade de “arte de partejar”; daí,
sua época apresentando a injustiça das leis. Motivava seus alunos a buscar o sentido figurado de
“dar à luz ideias”.).
conhecimentos sobre si mesmos. A verdade está dentro de cada um de nós,
não nas estrelas, nem na tradição, ou nos livros religiosos, ou nas opiniões
das massas. Cada um tem ocultado dentro de si os verdadeiros princípios
de pensar e agir. Por isso, ninguém pode ensinar a verdade sobre a vida a
ninguém. Se isso não fosse verdade dentro de você, você nunca encontraria
tais princípios, mas eles existem e somente por intermédio de um implacável
autoexame de crítica, eles se revelarão para você. Introspecção:
Análise íntima e
Sócrates não deixou nada escrito. Seus ensinamentos vieram-nos através reflexiva que uma
de dois alunos seus: Platão e Xenofonte. Ele procurava induzir as pessoas pessoa faz sobre
si mesma; exame
através do questionamento de algo, sem necessidade de palestra ou dizer profundo acerca
qual é a resposta. Ele orientava as pessoas para os valores universais cujo de suas próprias
experiências ou
primado era conhecer o fundamento dos processos de introspecção, daquilo que ocorre
indução e definição empregando isso na conduta moral que procurou de modo íntimo;
introversão.
estabelecer pela prática das leis. Segundo Sócrates, o fim do homem é
a prática do bem através de uma vida virtuosa que deve acompanhar o Indução:
Ação de induzir;
conhecimento. instigação. (A
indução desempenha
Sócrates afirmava: "A vida não examinada não vale a pena ser vivida." papel fundamental
Ele acreditava que o conhecimento é virtude e os seres humanos nunca, nas ciências
experimentais.)
intencionalmente, cometem erros. Em outras palavras, é indigno quem
simplesmente vive o dia a dia sem nunca se perguntar: "O que estou
fazendo aqui? Por que estou vivendo como eu sou?". Para ser verdadeira
e completamente humano, no pensamento de Sócrates, cada ser humano
deve submeter sua vida e convicções à prova de crítica do autoexame. Por
intermédio desse processo de autoexame, podemos alcançar a verdadeira
felicidade.
Além disso, defendia que a ignorância é o mal e para ser moral, o ser
humano deve educar-se. Em sua opinião, a única coisa da qual ele realmente
sabia era que não sabia de nada e ser fiel a si mesmo era a coisa mais
importante a fazer. Por intermédio de seu método de interrogatório, pensava
poder levar os homens a reavaliar suas respostas e examinar suas crenças.

INTA EAD Introdução à Filosofia 49


A sabedoria consiste em admitir que não sabemos de nada e que a busca pelo
conhecimento é o mais elevado bem. Por causa de sua ignorância confessada, ele
pode parecer contraditório, para ser sábio. No entanto, Sócrates percebeu que não
sabia de nada e estava ciente de sua ignorância; de fato, foi esse reconhecimento
que o fez sábio. Na realidade, muitas pessoas que se diziam sábias, não o eram.
A prática do que é errado ocorre devido à falta de conhecimento. Sócrates
preocupava-se com o comportamento moral e devia obedecer às leis embora
mostrasse a seus alunos que muitas vezes estas são injustas. Este filósofo foi levado
a julgamento por "corromper a juventude" ao criticar a sociedade e as leis de Atenas
e por "questionar os deuses”. Ele tinha a opção de ser exilado ou beber cicuta, um
veneno que iria matá-lo. Mantendo-se fiel às suas crenças, ele bebeu a cicuta.
Sócrates afirmou também que a tarefa mais importante na vida era cuidar da
alma. Ele acreditava que a alma de uma pessoa era verdadeiramente a pessoa e
o centro de seu caráter. Assim como o corpo, a alma deve ser mantida saudável;
Sócrates propôs uma maneira de manter a alma saudável: por meio da introspecção
e a busca por livrar-se da ignorância.
Este mesmo filósofo acreditava também que uma boa pessoa não poderia ser
prejudicada por terceiros. Claro, as pessoas podem ser machucadas fisicamente por
outras, mas Sócrates estava se referindo ao fato de uma pessoa de alma boa não
poder ser prejudicada por forças externas. Ou seja, se a parte mais importante de
uma pessoa é a alma e esta não é física, e sim algo dentro do ser humano, então a
pessoa não poderia ser prejudicada pela alma. O corpo pode ser prejudicado por
outra pessoa, mas a alma não, a menos que exista uma permissão a si mesmo para
tornar-se suscetível aos outros e mudar suas crenças, valores e percepções sobre a
vida.

Platão

Considerando o governo que condenou o mestre, Platão,


discípulo de Sócrates, acreditava que a democracia, o governo
dirigido pela maioria, estava fadado ao fracasso e dizia que
o rei deveria ser um filósofo. Procurava definir o que é justiça
e o que é o estado. Busca então resposta a questões mais
fundamentais como: Qual é a natureza da realidade? Qual
a natureza do mundo físico? Qual a natureza humana? Qual o maior bem para o
homem?

50 Introdução à Filosofia INTA EAD


A teoria das ideias é a base da filosofia de Platão: as ideias não são apenas os
objetos reais, ontologicamente falando; elas são, também, objetos de conhecimento
autêntico e epistemológico.
Platão defende um claro dualismo ontológico em que existem dois tipos de
realidades ou mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível, ou, como ele chama,
o mundo das ideias. O mundo sensível é o mundo das realidades individuais, e
assim, é múltiplo e em constante mutação; é o mundo da geração e destruição, é o
reino do sensível, do material, das coisas temporais e de espaço.
O mundo inteligível, ao contrário, é o mundo das realidades universais, eternas
e invisíveis chamadas ideias (ou formas), que não mudam (imutáveis) porque não são
materiais, temporais ou espaciais. As ideias podem ser compreendidas e conhecidas,
pois são a realidade autêntica. Elas não são apenas conceitos ou eventos psíquicos
de nossas mentes; existem como seres objetivos e independentes de nossas
consciências.
As ideias são ordenadas hierarquicamente, há diferentes tipos e elas não têm,
todas, o mesmo valor. Os tipos de ideias que estão incluídas no mundo inteligível
são: ideia de retidão, ideias morais e outras como justiça, virtude, etc.; ideias estéticas
(especialmente a ideia de beleza); ideias de multiplicidade, unidade, identidade,
diferença; ideias matemáticas.
Platão localizava a ideia de retidão na posição mais alta do mundo inteligível; às
vezes ele se identificava com a ideia de beleza e até mesmo com a ideia de Deus. A
ideia de retidão é a origem da existência de tudo, pois o comportamento humano
depende dele próprio e tudo tende a ele (intrínseco propósito na natureza).
De alguma maneira misteriosa, as coisas materiais individuais participam da
realidade de ideias, assim como sombras dependem de objetos reais. Platão ensinou
que o nosso conhecimento acerca das ideias existia dentro de nós a partir de outra
vida, quando já existia em um mundo superior, sem um corpo.
Platão acreditava que um ser humano alcança conhecimento por recordar o que
era conhecido antes da alma deste ter entrado no corpo. Há um mundo de formas
eternas, de ideias que nunca mudam. Estas formas ideais existem em um reino além
deste universo físico.
O referido filósofo elabora sua teoria do mundo material, imperfeito, que está
sempre em mudança e seria sobra de outro mundo, perfeito, imutável, o mundo
ideal para onde se dirigiam as almas que eram partes do homem e se desprendiam
do corpo após a morte. Para Platão, o início da filosofia é a ideia, que seria a realidade
objetiva, eterna, perfeita, imutável.

INTA EAD Introdução à Filosofia 51


A ideia platônica é centrada no Bem Absoluto, que é Deus; este é a felicidade
suprema do homem. Essa ideia de outro mundo, ideal, perfeito e deste, material,
imperfeito e passageiro, é ilustrada no Mito da Caverna que engloba os pontos
cardeais de sua filosofia. Ele quer que ela seja uma metáfora de nossa natureza
quanto à sua educação e a sua falta de educação, isto é, serve para ilustrar questões
relativas à teoria do conhecimento.

O mito descreve a nossa situação acerca do conhecimento:


somos como os prisioneiros de uma caverna que somente observam
as sombras dos objetos e assim vivem na mais completa ignorância.
Somente a filosofia pode nos libertar e permitir que saiamos da
caverna para o mundo verdadeiro, ou mundo das ideias.

Platão pede-nos para imaginar que somos prisioneiros em uma caverna


subterrânea. Estamos acorrentados e imobilizados desde a infância, de tal forma
que somente podemos ver as sombras dos objetos projetadas na parede extrema
da caverna e as pessoas que caminham junto a essa parede, falando e levando
esculturas que representam objetos diferentes (animais, árvores, objetos artificiais...).
Nesta situação, naturalmente, os prisioneiros pensariam que as sombras e os ecos
das vozes que se ouvem são a verdadeira realidade.
Platão defende que um prisioneiro libertado aos poucos iria descobrir diferentes
níveis de realidade autêntica: primeiro ele veria os objetos e a luz dentro da caverna,
mais tarde ele veria de fora, em seguida ele veria o reflexo desses objetos da água e,
finalmente, os objetos reais. Finalmente, ele veria o sol e concluiria que ele é a razão
das estações, que governa o reino dos objetos visíveis e é a razão de tudo o que
os prisioneiros podem ver. Lembrando a sua vida na caverna e seus companheiros
de cativeiro, ele se sentiria feliz por estar livre e, apesar dos perigos, voltaria para o
mundo subterrâneo para libertá-los.
Estas são as chaves que Platão nos dá para ler o mito: a fuga para o mundo
exterior visando a contemplação dos seres reais (metáfora do mundo das ideias)
deve ser comparada com o caminho de nossas almas para elevar-se ao mundo
inteligível.
A teoria das ideias responde a pergunta sobre a possibilidade de conhecimento.
Esta teoria divide o mundo em duas esferas de realidades distintas, ontologicamente,
que correspondem a duas sabedorias diferentes. Os tipos de conhecimento são:
ciência, que cuida das ideias imutáveis e está dividida em dialética e pensamento
discursivo e parecer, que é o conhecimento do mundo sensível e mutável e, por sua

52 Introdução à Filosofia INTA EAD


vez, está dividido em crença (animais que nos rodeiam, plantas e objetos artificiais)
e conjecturas (que se ocupam de "tons" e coisas semelhantes).
Platão trabalha a ideia de ciência (conhecimento estritamente falando) baseada
na sensação como critério de verdade não possível, pois não podemos ter ciência das
coisas mutáveis (do mundo sensível), que somente aparecem aos nossos sentidos.
A ciência deve ser baseada na razão, que estuda a natureza ou essência das coisas
(ideias). A ciência estritamente falando não consegue lidar com as coisas que estão
mudando continuamente; o mundo sensível está em constante mudança, por isso a
ciência não pode estudá-lo. Esta deve estudar um mundo imutável.
Platão concebe o homem como um composto de duas substâncias diferentes:
o corpo, que nos liga ao mundo sensível, e a alma, que nos retira dessa esfera
material e se relaciona com um mundo superior – esta é entendida como imortal e
tem um destino superior ao corpo. Essa superioridade vem do fato de que a alma,
ao contrário do corpo, é, em essência, um princípio de retidão e conhecimento. O
corpo é governado pela corrupção e pela morte, enquanto a alma é imortal.

Aristóteles

Com Aristóteles, a filosofia grega chega a seu ápice no


que se refere à sistematização do conhecimento. Estabelece
as leis norteadoras do pensamento válido para dedicar-se
depois à cosmologia, na qual ele observa a matéria e a forma
mostrando que foi profundo investigador da natureza e
caracterizando-se por seu realismo, elemento que estimulava
suas observações.
Depois de estudar o mundo físico e o homem, Aristóteles passa para a metafísica,
na qual, através de abstração, ele constrói sua ontologia, estudando o ser, suas causas,
possibilidades e realizações com as ideias de potência e ato. Potência significa que
uma coisa pode ser, mas ainda não está na realidade. O ato significa existência plena
e perfeita, como se a ação mais perfeita de uma coisa existisse apenas para ser o
que é.
As coisas reais da natureza são compostas pelos dois fatores acima mencionados.
Eles estão em ato porque realmente existem, mas sua existência é incompleta porque
eles estão sujeitos a alterações e por isso têm uma potência de certos tipos de
mudanças. O homem seria, como todos os seres da natureza, formado de matéria
de modo que o corpo seria a matéria e a alma, a forma.

INTA EAD Introdução à Filosofia 53


Aristóteles estranha alguém pensar que a sabedoria prática é a mais
excelente forma de conhecimento. Ele diz que a sabedoria teórica produz
felicidade por ser uma parte da virtude, e que a sabedoria prática olha
para o desenvolvimento da sabedoria teórica emitindo comandos para a
sua atuação. Assim, é evidente que o exercício da sabedoria teórica é um
componente mais importante do nosso objetivo final do que a sabedoria
prática.
Em seus escritos, trata ainda da ética e política. Nestas o comportamento
moral seria de acordo com a razão e seu fim seria a felicidade do homem
e a política na qual o estado é um organismo moral em que se objetiva o
bem da sociedade. Aristóteles defende a ideia de que existem diferenças
de opinião sobre o que é melhor para os seres humanos e que devemos
resolver essa divergência.
Ao levantar a questão “O que é o bem-estar?”, Aristóteles não está à
procura de uma lista de itens. Ele assume que essa lista pode ser reunida
com bastante facilidade. A maioria concorda, por exemplo, que é bom ter
amigos, sentir prazer, ser saudável, honrado e ter virtudes como a coragem.
A questão difícil e controversa surge quando perguntamos se alguns desses
itens são mais desejáveis do que outros. A busca de Aristóteles pelo bem-
estar é uma busca pelo bem-estar maior e ele assume que este tem três
características: é desejável por si mesmo e não pode ser a finalidade da vida,
pois embora seja desejável por si mesmo, não é válido por si mesmo, mas
como um relaxante que nos torna aptos a uma atividade séria.
Finalmente Aristóteles chega à conclusão da existência de um Ser que é
Teodiceia: o motor do universo, a causa primeira de tudo o que existe: Deus. Este seria
Doutrina, tratado
sobre a justiça de
o real absoluto, puro. A Teodiceia se fundamenta na razão natural e não na
Deus.Parte da filosofia Revelação Escrita.
que trata da justiça de
Deus. Como já dissemos, com Aristóteles a filosofia da Grécia chega a seu
apogeu, pois trata de tudo que nos cerca e que é objeto do pensamento.
Embora, em vários aspectos, o pensamento de Aristóteles esteja ultrapassado,
nosso mundo ocidental ainda sofre sua influência. Costumamos dizer que
“ou contra Aristóteles ou a favor de Aristóteles, mas nunca sem Aristóteles”,
pois quando se trata da retrospectiva da filosofia em geral, está presente a
visão aristotélica, defensora da ideia de que o homem é a medida de todas
as coisas.

54 Introdução à Filosofia INTA EAD


Pensamento Cristão

O Cristianismo não é considerado uma filosofia, no sentido de ser um conjunto


de conhecimentos fundamentados na razão natural, mas uma religião. Seu
estabelecimento foi fundado em princípios recebidos por um processo sobrenatural
de seu fundador, Jesus Cristo, e nos ensinos de apóstolos e profetas supostamente
inspirados pelo Espírito Santo. Desta forma, o Cristianismo não se constitui como
filosofia pelo fato de buscar suas respostas no campo místico.

Patrística

Com o advento do Cristianismo e sua disseminação por todos os recantos do


império romano, os princípios por ele estabelecidos entraram em contato com o
pensamento greco-romano. Na busca de explicar e defender os princípios pregados
por Jesus Cristo, os pais da Igreja procuravam fazê-lo justificando esses princípios
pela argumentação lógica da razão. Houve a tentativa de fazer uma síntese entre
as doutrinas cristãs, refutar as objeções dos pensadores pagãos e esclarecer as
verdades do evangelho de Cristo, usando-se os argumentos da lógica.
Durante os primeiros séculos da era cristã, o pensamento dos pais da Igreja Cristã
incipiente que se espalhava rapidamente pelo império passou por três fases distintas:
período de formação do apogeu com a figura destacada de Santo Agostinho e um
período de transição para a Escolástica que surgiria depois.
Santo Agostinho domina o pensamento da época da patrística como Tomás
de Aquino o faz na Escolástica. Agostinho procurou, ao expor as doutrinas cristãs
e o pensamento filosófico cristão, harmonizar elementos da filosofia pagã grega,
especialmente de Platão, desenvolvendo um sistema metafísico em que tentou
integrar elementos estranhos ao Cristianismo autêntico como é o caso do dualismo
antropológico, em corpo e alma, em vez de ser o homem um ente uno e indivisível.
A alma seria um ente espiritual que se separa do corpo por ocasião da morte; esta
doutrina é aceita até hoje pelo catolicismo.
Para Santo Agostinho, a maior verdade é Deus e Sua
criação. Segundo ele, há uma disposição hierárquica dentro
da natureza na qual somente Deus é maior do que a razão
humana. Ele argumentou que deve haver uma "concordância
necessária" entre razão e fé. A fé pode ajudar a "iluminar"
verdades de filosofia e de raciocínio ao longo do caminho para
conhecer a Deus, e a razão pode ajudar a fé na compreensão
da perfeição de Deus.

INTA EAD Introdução à Filosofia 55


Santo Agostinho correlacionava as etapas da vida cristã com as etapas da história
na sua obra Enchirdion. Em primeiro lugar, os seres humanos viviam na ignorância
e “perturbados por qualquer luta da razão”. Na história, este é o tempo da queda de
Adão e da primeira aliança com Abraão.
Em segundo lugar, os seres humanos tornam-se conscientes da lei do pecado,
sem o auxílio da fé, vivendo como um escravo do pecado, mas na culpa. Esta fase
corresponde ao tempo anterior à graça de Deus.
Em terceiro lugar, com a consciência de Deus, os seres humanos lutam contra
o pecado. Esta fase corresponde a viver sob a graça de Deus, ou seja, a partir da
Encarnação de Cristo até a idade dos escritos de Agostinho.
Em quarto lugar, os homens são recompensados por sua fé com a tranquilidade
do espírito e a ressurreição do corpo. Esta etapa corresponde à descoberta da
verdadeira paz e o fim da história.

Escolástica

Na tentativa de justificar e expor os ensinamentos do Cristianismo por meio


de argumentação lógica estabelecida por Aristóteles, Tomás de Aquino deixou sua
obra Suma Teológica em que procurou fazer uma síntese harmonizando a doutrina
cristã e a lógica aristotélica. Nesta tentativa, o Cristianismo passou a constituir-se de
elementos que não eram parte do Cristianismo primitivo pregado por Seu fundador,
Jesus Cristo.
Podemos afirmar que o Cristianismo foi além de Cristo, isto é, em sua forma
global, elementos estranhos aos ensinos de Cristo entraram na constituição dessa
filosofia medieval. Foi uma obra gigantesca e se constitui, ainda hoje, na maior parte
da filosofia e doutrina do catolicismo romano.
Tomás de Aquino trabalha a reconciliação entre fé e razão. A razão pode ser
usada para explicar, colocar em ordem e desenvolver as doutrinas reveladas. Os
dogmas da religião cristã não são aceitos por toda a humanidade. Acontecem
algumas tentativas de debilitar os alicerces da fé, e alguns, sem prestar atenção aos
fundamentos, atacam o edifício sagrado em pontos que para eles parecem fracos.
Contra tais ataques, não podemos usar todas as armas, exceto aquelas fornecidas
pela razão porque os nossos adversários não admitem os princípios da fé. A razão,
diz São Tomás, pode defender a fé de duas maneiras: em primeiro lugar, mostrando
que as objeções apresentadas se baseiam em mentiras; e em segundo lugar,
mostrando que, seja qual for a verdade, não é possível provar a falsidade do dogma
cristão. Resumindo, a razão prepara a mente para a fé, assim como também explica
e defende as verdades desta.

56 Introdução à Filosofia INTA EAD


O paradigma da Consciência

O período da história que se seguiu à Idade Média, cujo fim data de 1453
com a queda de Constantinopla, é chamado de Era Moderna. Não vamos
aqui alinhar todas as características desse período, mas nos reportaremos
aos movimentos que caracterizaram o pensamento.
Nesse período, a filosofia voltou a libertar-se dos elementos sobrenaturais
da religião cristã constituída em seus fundamentos pelo pensamento oriundo Lídimo:

da razão natural, sendo seu mais lídimo representante, René Descartes. O mesmo que
legítimo, autêntico,
A era moderna caracterizou-se por maior liberdade de pensamento, de vernáculo

publicações e disseminação de obras produzidas em virtude da invenção da


imprensa. Grandes navegações descobriram outras partes do mundo; desse
modo, também houve mais possibilidade de ampliação e diversificação do
pensamento bem como sua disseminação.
Esse período, que vai desde meados do século XV até o século XVIII, na
história do pensamento teve vários aspectos e passou por várias fases, em
sequência: Renascença e Reforma (séculos XV e XVI); Racionalismo (século
XVII); Empirismo (séculos XVII e XVIII) e Iluminismo (século XVIII).

Renascença

A primeira fase da Idade Moderna caracterizou-se pelo movimento de


reação à Escolástica que dominou a segunda parte da Idade Média. Esta Imanentismo :
reação foi uma revolta contra a autoridade e atitudes religiosas como forma Doutrina metafísica
segundo a qual a
de restaurar e valorizar a dignidade do espírito humano. Foi uma reação ao presença do divino
catolicismo, pois certos ensinamentos da Igreja mostraram-se como não é pressentida pelo
homem, mas não
sendo verdadeiros em suas declarações científicas. pode ser objeto
de qualquer
No entanto, entre os aspectos dessa forma de pensamento renascentista, conhecimento claro.
salientamos o imanentismo e o humanismo. No aspecto da religião
Humanismo:
propriamente dita surge a Reforma Protestante. No sentido amplo,
significa valorizar
A Renascença, enquanto movimento, foi o renascer do pensamento o ser humano e a
condição humana
clássico grego, principalmente com a influência de Platão e Aristóteles, e
acima de tudo.
também do epicurismo (um sistema filosófico, que prega a procura dos Está relacionado
com generosidade,
prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação
compaixão e
do medo), estoicismo (filosofia segundo a doutrina originada por Zenão de preocupação em
valorizar os atributos
Cício, o homem sábio o que prega a rigidez moral e a serenidade diante das
e realizações
dificuldades, e ceticismo (é um estado de quem duvida de tudo, de quem é humanas.

INTA EAD Introdução à Filosofia 57


descrente). O imanentismo nega a existência de influências transcendentais
sobre o mundo. Tudo poderia ser explicado de maneira lógica sem haver
necessidade de algo sobrenatural.
O humanismo se caracteriza como um sistema ou modo de pensamento
em que os interesses e valores humanos estão acima de quaisquer outros,
inclusive da crença em Deus. O homem volta a ser o centro do sistema; se
há uma crença em Deus, Ele se encontra na periferia do pensamento sem
ter qualquer ação sobre o mundo. O homem é que passa a ser considerado,
celebrado e até divinizado.
Pela descoberta das leis naturais e pela aplicação do método científico,
o homem julga-se o senhor do mundo e dominador da natureza. Na reação
contra a escolástica sobressai o nome de Giordano Bruno que foi condenado
pelo tribunal da Inquisição. Outros nomes despontam: Maquiavel, Galileu
e Campanella. Mas o maior nome da Renascença é Erasmo de Roterdam
que critica a vida social da época e exalta a religião natural de maneira
humanista.
Desiderius Erasmus of Rotterdam (1467-1536), ou Erasmo de Roterdã,
viveu numa época que tinha como pano de fundo a crescente Reforma
Religiosa Europeia. Contudo, sendo um defensor da tolerância religiosa e
crítico dos abusos dentro da Igreja, ele procurou manter uma distância com
Lutero e continuou a reconhecer a autoridade do papa.
Erasmo enfatizou um profundo respeito pela fé tradicional, piedade e
graça, e permaneceu como membro da Igreja Católica durante toda a sua
vida. Em relação aos abusos clericais na Igreja, Erasmo continua empenhado
em reformar a Igreja a partir de dentro.
A revolta de Erasmo contra as formas de vida da Igreja não resultou tanto
de dúvidas como a verdade da doutrina tradicional. Sentiu a necessidade de
aplicar seus conhecimentos na purificação da doutrina e na libertação das
instituições do cristianismo.
Como acadêmico, Erasmo tentou libertar os métodos da Escolástica da
Retidão: rigidez e do formalismo das tradições medievais, mas não ficou satisfeito.
Característica,
condição ou
Ele viu-se como o pregador da retidão. Acreditava que o necessário para
qualidade do que é regenerar a Europa era uma aprendizagem sã, aplicada liberalmente e sem
reto.
receios pela administração de assuntos públicos da Igreja e do Estado. Esta
convicção confere unidade e consistência a uma vida que, de outra forma,
pode parecer plena de contradições.

58 Introdução à Filosofia INTA EAD


Reforma

Na religião há o despertar de um estudo direto


das Escrituras Sagradas que provocou a Reforma
Protestante a partir de um monge católico alemão,
Martinho Lutero, que, pelo estudo da Bíblia, descobriu
que doutrinas defendidas pela Igreja eram contrárias
aos princípios bíblicos.
Entretanto, as principais afirmações do protestantismo contrárias aos
ensinamentos do catolicismo são: a corrupção do homem em virtude do
pecado, a salvação do homem do pecado mediante a graça de Jesus Cristo
e não por obras humanas, a autoridade suprema da Bíblia como regra de fé
e prática sem ser necessária a interpretação exclusiva da Igreja conforme era
ensinada, entre outras.
Excomungado:
Lutero foi excomungado pela Igreja e passou a pregar e ensinar a
Considerado ruim,
doutrina fundamental do protestantismo: a salvação pela graça mediante não aceitado.

a fé em Jesus Cristo que assumiu a culpa do pecado do homem, morrendo


em seu lugar e possibilitando a salvação da humanidade. Esse movimento
deu origem às Igrejas protestantes onde se dividiu o movimento da reforma
nos anos posteriores.
O movimento da Reforma Protestante motivou um movimento dentro
da Igreja Católica em reação e defesa da fé: a Contra-Reforma, liderada por
Inácio de Loyola ao fundar a Companhia de Jesus.
Embora a Reforma se opusesse à Renascença, houve o mesmo espírito
de reação contra a Igreja Medieval. Isso abriu portas para a fase seguinte do
pensamento moderno: o Racionalismo.

INTA EAD Introdução à Filosofia 59


Racionalismo
Gnosiologia (ou
gnoseologia):
É a parte da
O movimento do racionalismo preocupou-se
Filosofia que estuda
o conhecimento com a questão do conhecimento. Como podemos
humano. É formada a
conhecer as coisas e saber se elas são como parecem?
partir do termo grego
“gnosis” que significa
“conhecimento” e
“logos” que significa Essa preocupação com o problema gnosiológico deu origem a
“doutrina, teoria”.
duas vertentes de pensamento: o racionalismo e o empirismo. Ambas se
Subjetivismo: fundamentam no subjetivismo e no fenomenismo: um dando primazia à
Sistema filosófico que
só admite a realidade
razão (racionalismo) e outro ao sensível (empirismo). O empirismo floresceu
do sujeito pensante. mais na Inglaterra enquanto o racionalismo foi na França.
Propensão para o que
é subjetivo; tendência O racionalismo está intimamente ligado às ciências em que os fenômenos
a considerar e
avaliar as coisas de
são examinados à luz da razão. René Descartes, seu maior representante,
um ponto de vista através da obra “Discurso sobre o Método”, estabelece o caminho pelo qual
meramente pessoal.
o conhecimento deve ser adquirido e desenvolvido até que o pensamento
Fenomenismo: se torne claro, preciso e adequado.
Doutrina universal
que reduz toda Quanto à expressão “raciocínio cartesiano”, (advinda de Cartesius, nome
realidade cognoscível
aos fenômenos da
dado a Descartes na academia) significa um raciocínio claro, límpido, preciso.
experiência sensível. A verdade trata-se daquilo que é deduzido pelo intelecto; para Descartes,
o fim da vida seria a procura pela verdade. Exerceu grande interesse pelo
método racionalista, pelo espírito crítico na procura da verdade. Entre outros
nomes do racionalismo, podemos mencionar Spinoza, Malebranche, Leibniz
e Wolff.

Empirismo

No empirismo o conhecimento se fundamenta nas sensações e na


experiência. Estas nos dão as aparências das coisas, como nós percebemos
através dos órgãos dos sentidos. É um fenomenismo sensível em que se
enaltecem a experiência e o método.
Portanto, todo o conhecimento é reduzido ao que obtemos através
dos sentidos; não podemos conhecer a realidade das coisas, mas o modo
como elas aparecem a nós em nosso subjetivismo. Verdade é aquilo que
nós sentimos e o modo como sentimos. A religião não se encontra numa
revelação especial, mas no processo de sentir a Deus e isso depende da
subjetividade de cada um.

60 Introdução à Filosofia INTA EAD


Os diferentes representantes do empirismo têm o mesmo fundamento: os
sentidos. Contudo, variam entre si em certos aspectos do conhecimento e na forma
como admitem a existência de Deus, a moral, a religião, a política e o próprio
raciocínio. Entre os nomes mais conhecidos do empirismo citamos: Bacon, Hobbes,
Locke, Berkeley e Hume.
Com Francis Bacon encontramos a primeira tentativa
sistemática para mostrar a importância do argumento indutivo
na formação do conhecimento científico em oposição ao
dedutivismo vigente à época. Os argumentos indutivos são
argumentos de risco. Basearmo-nos em premissas verdadeiras
não permite excluir a possibilidade da conclusão ser falsa.

Argumento indutivo
(1) Todos os corvos observados até hoje são pretos.
∴ Todos os corvos são pretos.
Estamos perante um raciocínio indutivo por generalização. A premissa refere-se
à informação da qual dispomos acerca das características da amostra. A conclusão
estende esta característica a todos os indivíduos pertencentes à classe nela
representada, i. e., à população. Embora não se tenha a garantia de que todos os
corvos têm tal característica, a amostra torna-se mais provável do que o contrário.
É, portanto, mais racional, com base na amostra, concluir que todos os corvos são
pretos do que concluir que há corvos que não são pretos.
Suponha agora que você está indeciso entre comprar uma de duas caixas de
maçãs. O preço é convidativo, mas talvez por isso, o número de maçãs podres na
caixa pode não ser compensador. Imagine que você tira, ao acaso, três maças da
caixa A, verificando que duas estão podres; volta a fazer isso com a caixa B e verifica
que todas as maçãs estão sãs. Como decidir?
O método de Bacon procura levar os homens aos próprios fatos particulares
para que eles renunciem suas noções e se habituem às coisas: formação de noções
e axiomas pela verdadeira indução e, assim, repelir os ídolos. Desse modo, ao invés
de haver criação dos fenômenos, o homem conhece por meio da constatação, ou
seja, os resultados do conhecimento advêm da adequada aplicação das regras
estipuladas.
O autêntico conhecimento, para o pensador, somente é possível mediante a
observação passiva e objetiva dos fenômenos da natureza com o objetivo de se
alcançar as leis (universais) que os explicam. Bacon tentou desvelar a realidade

INTA EAD Introdução à Filosofia 61


por meio de explicações objetivas ou isentas da subjetividade do cientista,
decorrentes de observações neutras. Este empirista afirmou que o homem
que deseja conhecer a natureza deve estar em contato com ela. Somente
pode conhecê-la mediante a via empírica e experimental, nunca por meio
da especulação – da antecipação mental, um produto da imaginação
humana. Ademais, as observações devem ser registradas e catalogadas. As
leis da natureza não estão no intelecto humano, mas na própria natureza, e
o método de Bacon permitiria, por meio da observação, conhecer essas leis
naturais e universais.
Existe, nas ideias de Bacon, um modelo que propõe a formulação de
um novo método para a investigação da natureza de modo que se permita
alcançar o verdadeiro conhecimento sobre os fenômenos. Segundo esse
método indutivo, devemos partir dos fatos concretos – a experiência – para
ascender às formas gerais – a abstração – no intuito de descobrir suas causas
e leis.

Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento que pretendia iluminar com a razão o


que havia de obscuro, místico e nebuloso na religião e tradição medieval. Em
seu pensamento remontam as origens da humanidade e sofre a influência
do racionalismo e empirismo do período anterior.
Como já vimos, o racionalismo contribuiu com o espírito crítico, analítico
e com a atitude de demolir a tradição trazendo à cena a evidência, a clareza
Associacionismo:
Doutrina que faz da e a razão. O empirismo influenciou no pensar simples pelo mecanismo e
associação de ideias a
associacionismo, processos fundamentados nos sentidos.
base da vida mental.

Este movimento, Iluminismo, almejava a capacidade de, através


do conhecimento das leis naturais, do que o homem havia aprendido e
acumulado, resolver os problemas deste e assim penetrar em todos os níveis
da vida social, cultural, econômica e política.
O desenvolvimento do pensar e agir da sociedade veio eclodir na
Revolução Francesa. O homem, usando de suas capacidades de raciocínio
e ação, não poderia falhar, uma vez que conhecia agora tudo o que a
humanidade havia acumulado pelos séculos. Este conhecimento foi reunido
numa série de obras que, organizadas por alguns dos iluministas, deram
origem à Enciclopédia Francesa.

62 Introdução à Filosofia INTA EAD


Com esse conhecimento e a ação do homem, seriam resolvidos os problemas
fundamentais da humanidade: liberdade, igualdade e fraternidade, ideais defendidos
pela Revolução Francesa. A religião da Igreja é abolida e a religião natural, juntamente
com a moral natural, é que vai determinar a conduta e a fé da sociedade.
O Iluminismo, surgido na Inglaterra, passou à França e então se espalhou
pela Alemanha e Itália. Seus maiores nomes foram: D`Alembert, Diderot, Voltaire,
Rousseau, Condillac, Vico, entre outros. O Iluminismo abriu as portas para outras
correntes de pensamento da era que se seguiu: o pensamento contemporâneo.
François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694 - 1778), é umas
das figuras centrais do movimento intelectual intitulado Iluminismo. Voltaire foi
um filósofo francês do século XVIII, época em que a liberdade de pensamento era
suficiente para estimular novos desafios à ordem estabelecida.
Recorrendo a uma crítica social mordaz, Voltaire condenou
a injustiça, os abusos clericais, o preconceito e o fanatismo. Ele
enfatizava a razão, desprezava a democracia, enquanto regra
da multidão, e acreditava que uma monarquia esclarecida,
informada pelos conselhos dos sábios, seria a proposta mais
adequada para governar.
Os escritos de Voltaire são conhecidos por sua defesa à autonomia do indivíduo
e do Estado com respeito à Igreja. Longe de ser um ateu, Voltaire acreditava no
"eterno, supremo, ser inteligente" e pensava que a religião era uma coisa boa em
uma sociedade civilizada. No entanto, ele discordava do fanatismo religioso. “Vi
homens que apoiaram a ‘loucura de assassinato’ e homens que mataram por ‘amor
a Deus’. E eu vi isso acontecendo em toda a Igreja. Se esta era a religião, que efeito
teria sobre a sociedade, se ela somente iria criar uma ‘doença epidêmica’?”
Provavelmente sua obra mais famosa é a sátira Cândido, publicada em 1759. O
pequeno volume faz oposição à doutrina filosófica e teológica de Leibniz, segundo
a qual nosso mundo é o melhor de todos os mundos possíveis.
Respondendo a um desafio revivido na filosofia moderna de Descartes, Leibniz
argumentou que o mundo onde vivemos é o melhor que Deus poderia ter criado
para justificar o fato de Sua benevolência ser compatível com Sua onipotência.
Na representação mais genuína do espírito do Iluminismo, Voltaire mostrou,
por uma sequência de exemplos, que o argumento de Leibniz não resiste ao teste
da razão. No início do livro, um jovem chamado Cândido, é convencido por seu
mentor, Pangloss, que este é o melhor de todos os mundos. O mentor orienta o
jovem a realizar uma viagem ao redor do mundo e a testemunhar, em primeira mão,
alguns dos mais cruéis e infelizes acontecimentos na história recente (por exemplo,

INTA EAD Introdução à Filosofia 63


o terremoto de Lisboa de 1755 e a Guerra dos Sete Anos). Porém, Cândido muda de
ideia com respeito à lição de Pangloss. No final, decide não aceitar qualquer forma
de crença com respeito à benevolência de Deus e decide cuidar de assuntos mais
imediatos para a sobrevivência: sua fazenda. "Devemos cultivar nosso jardim".
Outra figura de destaque do Iluminismo foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Sua influência é considerada fonte de inspiração durante a Revolução Francesa.
Este filósofo suíço criou uma filosofia revolucionária baseada em uma oposição
rígida: a natureza é boa, a sociedade é ruim. Rousseau afirma que, por natureza, o
homem que não foi atingido pela civilização, é bom e sociável.
O pensamento de Rosseau propõe a construção utópica de
um estado natural sobre a estrutura do estado da sociedade.
Para este, a natureza pertence a todos, não é artificial, mas
real; a natureza também se pode associar o sentimento, a
espontaneidade, sinceridade, vida rural, os povos primitivos,
selvagens e a criança, que não é corrompida pela sociedade.
Por outro lado, pertencem à sociedade as convenções, a moda, hipocrisia, elegância,
bondade, as instituições. É na sociedade que os indivíduos tentam controlar seus
próprios impulsos por consideração aos outros.
A transição do homem do estado natural, associado à imagem do "bom
selvagem" (espécie de inocência natural, sem o pecado original), para o estado da
sociedade, torna-o um ser menos feliz, menos livre. Para Rousseau, uma comunidade
de cidadãos é única. É uma parceria, e não uma personalidade total, moral e coletiva.
Rousseau afirmou que a vontade popular é a única forma de organização política.
Ele acreditava que o povo soberano não pode ser representado, nem pode delegar
sua autoridade ou seu direito de governar.
A ideia de progresso está claramente sob ataque. Aparecendo a sociedade, o
homem começa a perder a liberdade e a desigualdade começa a ganhar terreno
quando se define o direito de propriedade e autoridade. Assim, a sociedade é uma
farsa, que supostamente procura unir os homens em defesa dos mais fracos, mas
na realidade o que acontece é a defesa dos interesses dos ricos. As diferenças são
claras: rico, pobre, poderoso, fraco, senhor e escravo. A consciência é o único reduto
intacto, mas praticamente ignorada. O homem, fora de si, é considerado alienado.
A ordem social, segundo Rousseau, é um direito sagrado que subjaz a todos os
outros. É uma forma de associação que protege não apenas seus associados como
também seus bens, e pela qual, unindo-se cada um a todos, terminam obedecendo
a si mesmos e permanecem tão livres quanto antes.

64 Introdução à Filosofia INTA EAD


Para Rousseau, o estado ou a cidade é uma pessoa moral, cuja vida é a união
de seus membros. É na comunidade que os homens dão início à liberdade civil
(liberdade de direito natural e não apenas moral).
Como a natureza dá a cada homem um poder absoluto sobre todos os seus
membros, o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os
seus. O retorno do homem às exigências do "natural" é fundamental. O primeiro
passo é a transformação do indivíduo por intermédio da educação.

O paradigma da Linguagem

Durante os séculos XIX e XX, o pensamento se dividiu em correntes influenciadas


pela era moderna e continuou em diferentes direções. Tendo como fundamento
o imanentismo e subjetivismo, diversas correntes surgem como o idealismo,
positivismo, espiritualismo, entre outras.

Idealismo

Uma grande reviravolta ocorre no pensamento de Immanuel Kant. Procurando


sintetizar o racionalismo e empirismo, Kant faz uma crítica especulativa em que surge
como primado o argumento de que não podemos realmente conhecer a realidade
das coisas, apenas sua aparência. Não podemos saber se realmente as coisas são
como aparecem para nós. Conhecemos as ideias, mas não temos como conhecer
a realidade. Immanuel Kant (1724-1804) descreveu que os atos de qualquer tipo
devem ser realizados a partir de um sentido de dever ditado pela razão.
Será que o bem e o mal, o certo e o errado, poderão ser universais sem necessidade
de recorrer a um Deus único? Kant foi um dos que pensaram ser possível justificar a
existência de regras universais de comportamento apelando à sua origem racional.
Se quisermos defender a universalidade das regras de conduta, precisamos nos
embasar na razão, algo que todos os seres humanos têm em comum. Kant falava de
regras de conduta moralmente significativas.
O indivíduo deve evitar ser influenciado por constrangimentos externos e
rejeitar a autoridade externa, que seria arbitrária e caprichosa, porque a mais alta
autoridade somente pode estar na razão. A condição para isso é a liberdade de
fazer uso público da razão. Seu desejo é a liberação de dogmas metafísicos, de
preconceitos morais, de relações desumanizadas entre homens e tiranias políticas.

INTA EAD Introdução à Filosofia 65


Por outro lado, somente conhecendo o seu potencial enquanto ser racional,
o homem pode ser verdadeiramente livre.
Kant influenciou o pensamento de outros filósofos que seguiram a linha
do idealismo desenvolvendo sistemas de pensamento com características
próprias e que influenciaram a vida moderna. Entre eles, podemos mencionar:
Fichte, Hegel, Schelling, Schleiermacher, Schopenhauer.

Positivismo

O positivismo representa uma reação ao idealismo


imanentista e procura limitar-se à experiência
imediata, pura, sensível. Tenta aplicar os métodos
da ciência à filosofia buscando assim resolver os
Imanentismo :
Doutrina metafísica problemas do mundo e da vida, embora fique no
segundo a qual a
mesmo âmbito do imanentismo idealista.
presença do divino
é pressentida pelo
Do ponto de vista do conhecimento, o positivismo admite como fonte
homem, mas não
pode ser objeto de verdade a experiência, os fatos positivos, os dados sensíveis. Teve um
de qualquer
impulso graças ao desenvolvimento dos problemas econômico-sociais que
conhecimento claro.
necessitavam de uma visão materialista para sua solução.
August Comte destaca-se como o maior representante do positivismo
francês e exerceu influência sobre várias correntes que derivaram do
pensamento positivista. Para Comte, o pensamento da humanidade passa
por três fases: a teológica – quando a humanidade procura explicar os
fenômenos da experiência recorrendo a seres divinos; a metafísica – quando
busca a solução através da razão; e a positiva – procurando entender os
fatos através da ciência, bem como solucionar seus problemas por meio
dela.
A filosofia de Comte se conecta com o pressuposto da razão e da ciência
como o único guia da humanidade, capaz de estabelecer a ordem social,
sem apelar para o que ele considera obscurantismo teológico ou metafísico.
August Comte propõe a ciência enquanto único guia para a humanidade
e a adoção do método científico como base para a organização política da
sociedade.
No processo de evolução, a sociedade passou por três momentos:
a) Estado Teológico: diz que dois fenômenos naturais sociais são
causados por forças divinas - "Tudo o que acontece no mundo é a força
divina”.

66 Introdução à Filosofia INTA EAD


b) Estado Metafísico: o mundo é explicado pela entidade ontológica
como a metafísica.
c) Estado Positivo: a explicação dos fenômenos sociais e naturais por
meio do método científico.

Ecletismo Filosófico

Da segunda metade do século XIX e durante o século XX nota-se que


houve um posicionamento em que o homem tendeu a refletir sobre sua
consciência e sobre o fato de haver em cada um a capacidade de ver as
coisas a seu modo.
Assim surgiu um ecletismo em que cada um sofria influência dos modos
de pensar anteriores; surgiram então diferentes direções e correntes de
pensamento dependendo da posição de seus iniciadores. Alguns chamam
estes movimentos de espiritualistas em que a autoconsciência exerce papel
preponderante.
Psicologismo:
Podemos mencionar correntes como o evolucionismo de Spencer, o explicação psicológica
dos atos humanos
monismo materialista de Feuerbach, o socialismo e o materialismo histórico
em detrimento da
de Marx, o psicologismo de Wundt, o pragmatismo de William James, explicação por uma
qualquer outra ciência
entre outros.
Pragmatismo:
Doutrina filosófica
Século XX que adota como
critério da verdade
a útilidade prática,
Durante o século XX, percebemos uma reação ao idealismo e ao identificando o
positivismo, bem como às formas ecléticas anteriores. Provavelmente em verdadeiro como útil;
senso prático.
decorrência das duas grandes guerras mundiais, desenvolveu-se uma forma
de pensamento pessimista, mas que procura encontrar uma saída para a
solução dos problemas do homem.
Foi considerado o século mais violento, época de recusa de dogmas
desprovidos de uma sustentação nos interesses essenciais de cada um.
Século em que mais houve confronto de ideias, pois o aumento da violência
na era contemporânea resultou não apenas em morte massiva, mas também
na perda de autoridade dos governos.

INTA EAD Introdução à Filosofia 67


Intuicionismo

Para essa forma de pensar, o conhecimento se fundamenta não nos conceitos da


mente, mas na intuição. Somente a intuição será o tipo de conhecimento concreto
e absoluto. Entre esses pensadores destacamos Bergson, que procura iniciar seu
conhecimento num impulso vital que seria o início de seu processo de conhecimento.
Esse impulso inicial se encontraria no próprio Ser, e este seria o próprio Deus, embora
não fale muito nisso em sua obra.

Fenomenologia

Embora muitas correntes existissem sem muita influência, uma se notabilizou


exercendo papel de movimento mais generalizado: a fenomenologia. Nesta se deu
um valor ao fenômeno, isto é, como as coisas aparecem diante da consciência.
Tornou-se o objeto da pesquisa a essência das coisas, como as coisas são, sem
atribuir a elas qualquer significado. Seria um estudo descritivo do que a coisa é em
si, em sua essência.
A função da fenomenologia é apenas conhecer e descrever as coisas,
independente dos elementos referentes ao sujeito psíquico. O objeto é o que é
dado ao sujeito, o que está presente na consciência. Conhece-se o fenômeno e não
o que a coisa representa.
Entre os estudiosos de fenomenologia, Husserl se destaca como um de seus
iniciantes, seguindo-se Scheler e Hartmann. Cada um deles procurou levar sua
filosofia mais adiante contribuindo com outros detalhes e direções. A fenomenologia
conduziu o pensamento humano para outra manifestação durante o século XX: o
Existencialismo.

Existencialismo

Limpando as coisas de qualquer significado e examinando-as em si, o espírito


humano, ao tomar consciência de sua existência, também percebe que é livre para
atribuir a estas coisas significados diferentes. A declaração inicial é que a existência
precede à essência.
A análise da existência humana surge como ponto de partida para qualquer
reflexão sobre a realidade. O homem é o único animal que tem existência; esta
é concebida como um presente absoluto e não como algo estático. A existência
apresenta-se como algo que depois de criado é liberado e torna-se projeto. A
existência, portanto, é algo pertencente apenas aos seres que podem viver em
liberdade.

68 Introdução à Filosofia INTA EAD


De acordo com esta distinção entre essência e existência, a posição metafísica
tradicional sobre a relação Deus/seres humanos poderia ser reduzida a uma simples
explicação: Deus pensou o homem (sua essência) e, posteriormente, criou, ou seja,
deu existência ao pensamento. A mente pode decidir que rumo vai tomar e o que vai
ser. É a total independência do espírito humano em construir sua própria natureza.
O ser humano, ao perceber-se no mundo sem qualquer significado, traz à mente
um senso de total desamparo sem ter apoio em mais nada a não ser em si mesmo.
O estar no mundo provoca no espírito humano a necessidade de se autodefinir
buscando construir sua própria essência. Esta filosofia, portanto, é um humanismo,
na qual, desprovida de Deus e de significado, a vida se torna sem sentido a não ser
que o sujeito lhe dê significado e direção.
O existencialismo reflete sobre o estar no tempo e o caminhar para a morte. O
ser estaria direcionado para a morte. O significado da existência seria elaborado
pelo próprio homem, daí o significado de humanismo.
Dos principais existencialistas, mencionamos Kierkegaard (seu iniciador),
Heidegger, Jaspers, Paul Sartre, Merleau Ponty, Simone de Beauvoir, entre outros.
Sem dúvida, o representante mais notável do existencialismo no século XX foi Jean
Paul Sartre com grande número de obras, especialmente “O Ser e o Nada”, na qual
apresenta as linhas mestras de seu pensamento.
Jean Paul Sartre explica que o homem é existência e com esta existência ele
vai construindo a sua própria essência, que é a sua autobiografia. A existência
antecede e é superior à essência. O homem não apresenta uma essência universal;
ele desenvolve a sua própria essência, única, que não coincide com nenhuma outra.
Esta essência é elaborada pela liberdade, que caracteriza para Sartre a própria
existência humana.
Com a liberdade, o homem constrói sua própria essência e atribui sentido às
coisas; ela é o fundamento da essência que ele vai construindo. O homem que
vive sua liberdade sente o peso esmagador desta responsabilidade e isso causa-lhe
angústia. Por este motivo, a grande maioria das pessoas prefere fugir da existência
autêntica, que é livre, responsável e angustiada, refugiando-se em valores e regras
anteriormente elaborados.
Sartre nega a existência de Deus. Se Deus existir, o homem já não pode ser livre,
pois Ele, enquanto Ser infinito e criador, estaria de posse de todas as essências que
criou. O homem seria, nesse caso, uma essência já feita, determinada, incompatível
com a liberdade. Posto que o homem é livre, segundo Sartre, Deus não pode existir.

INTA EAD Introdução à Filosofia 69


Pós-Modernismo

Desde o final do século XX, a tendência geral do pensamento humano


é totalmente diversificada, não apenas no pensamento como também na
ação.
O pós-modernismo é caracterizado como eclético, haja vista misturar
tendências, estilos, questões culturais e modos de pensar dentro de um
individualismo e subjetivismo aceitos como libertação de todo pensamento
pré-fabricado. Não há regras a serem seguidas e sua ideia básica consiste
no seguinte: “É proibido proibir”.
Idiossincrasias:
Um ideal não pode ser imposto a uma sociedade de indivíduos. Tudo
Particularidade
comportamental é incerto, inseguro, contudo, cada qual tem seus direitos, idiossincrasias,
própria de um
modos de pensar e agir. A ciência não pode mais ser considerada fonte de
indivíduo ou de um
grupo de pessoas. verdade, pois a verdade é relativa a cada indivíduo.
Não existe um sistema de pensamento, pois o pós-modernismo defende
o fim dos sistemas. Repudia-se a objetividade, a disciplina formal. Não é
possível chegar-se a uma conclusão única. Não há clareza de pensamentos,
nem definições ou conceitos objetivos.
No entanto, percebe-se que, deste modo, a humanidade caminha para
um caos. Dos principais representantes deste modo de pensar destacamos
Lyotard, Derrida, Foucault, Lacan, entre outros.
Para onde caminha o pensamento humano? Somente o tempo nos
dirá. É oportuno e conveniente que reflitamos sobre nossa atual situação e
procuremos encontrar uma filosofia que seja consistente, coerente com as
leis do pensamento válido e traga confiança, tranquilidade e paz ao inquieto
espírito do homem.

70 Introdução à Filosofia INTA EAD


INTA EAD Introdução à Filosofia 71
A FILOSOFIA E SEUS
3
CAMPOS DE CONHECIMENTO
Conhecimentos

Compreender os diversos campos do saber filosófico atual.

Habilidades
Identificar a essência das ideias e a forma como elas são abstraídas, formadas
ou construídas a partir da realidade concreta das coisas;
Reconhecer as suas ações práticas, relacionadas à própria vida
e à vida de outros seres.

Atitude
Ampliar o conhecimento filosófico sobre os diversos campos da vida humana,
articulando esse conhecimento às práticas cotidianas, especialmente nas ações
ético-políticas, epistemológicas e estéticas.
A Filosofia e seus
Campos de Conhecimento

Como já tivemos a oportunidade de estudar, a filosofia nasceu na Grécia. É difícil


saber a data exata em que a palavra filosofia começou a ser utilizada num sentido
próximo do atual. Filosofia é a atividade a que se dedicam os que amam/procuram o
saber. Os primeiros filósofos começaram a se interessar pelo estudo dos fenômenos
naturais de maneira a tentar compreender as causas que lhes deram origem.
Apesar de suas teorias terem sido ultrapassadas, elas representaram um avanço
considerável em relação às explicações do seu tempo, baseadas na ação de seres
ou forças sobrenaturais, como deuses, espíritos. A tarefa do filósofo consistia em
descobrir essas causas através da observação cuidada da natureza e da utilização
correta da razão. No entanto, a filosofia incluía a procura de conhecimento em todos
os domínios, e não apenas acerca da natureza. Aos poucos, a explicação tradicional
para a origem e ordem do mundo foi substituída por uma nova visão científica da
natureza, das suas leis e dos seus padrões de funcionamento.
Hoje, filosofia e ciência tornaram-se áreas distintas, ao contrário do que sucedia
no início, quando os primeiros filósofos foram também os primeiros cientistas.
O estudo da natureza passou a ser feito por diferentes disciplinas voltadas para
a investigação de certos setores específicos do mundo natural. Ciências como a
astronomia, física, química, biologia, psicologia, sociologia, ganharam autonomia
desenvolvendo-se de forma cada vez mais independente da filosofia. O mesmo
sucedeu com a matemática e a geometria. Com o decorrer do tempo, a filosofia
tornou-se uma disciplina particular, com temas próprios, distintos daqueles de que
se ocupam as várias ciências. Algumas das disciplinas filosóficas, tais como a filosofia
da religião, a ética (ou filosofia moral), a filosofia política, a estética e a metafísica
serão discutidas nesta unidade de estudo.

INTA EAD Introdução à Filosofia 75


A Ontologia e Axiologia

A parte da filosofia preocupada em estudar a essência das ideias que


são abstraídas, formadas ou construídas, a partir da realidade das coisas,
denomina-se Ontologia. Podemos afirmar que a ideia é a representação
intelectual de um objeto qualquer; ela é construída exatamente pelo
processo de abstração, o qual tira de um objeto os elementos essenciais
que o constituem e formam a representação na mente.

Assim, os elementos essenciais estão presentes tanto na ideia


como nos objetos concretos.
Tomemos como exemplo o objeto cadeira.

Quando olhamos para uma cadeira, verificamos que ela é constituída de


três elementos essenciais: uma base (que pode ser de quatro pernas, três,
ou apenas uma, com largura que possa dar suporte ao segundo elemento),
um assento e um encosto.
Para nossa mente, na cadeira estão presentes esses três elementos; se
faltar um dos três, ou mesmo se houver os três e estes se encontrarem de
uma forma diferente da que se apresenta no objeto, não é mais cadeira,
Mocho:
Assento de madeira mas outro objeto. Se não tiver o encosto, será um banquinho ou mocho.
sem braço nem Se a cadeira tem apoio para os braços, chamamos de poltrona. Assim, se
encosto.
retirarmos ou acrescentarmos elementos ao objeto, já teremos outro ser.
No estudo do ser podemos nos referir à sua existência e aos elementos
que o constituem; estes correspondem à essência do ser. Podemos também
analisar as causas pelas quais o ser existe, as diferentes maneiras pelas
quais o ser se apresenta e ainda o valor que ele tem, ou que lhe atribuímos.
Quando examinamos a ideia de ser, notamos esses dois aspectos: essência
e existência.

76 Introdução à Filosofia INTA EAD


Tudo o que há na realidade, ainda que esta seja no campo abstrato, existindo
apenas na mente como uma ideia, tem uma essência, algum elemento ou substância
que a forma. Se pensarmos em paciência, por exemplo, e analisarmos essa ideia,
notamos que ela é constituída de outros elementos também abstratos como
tolerância, generosidade, esperança, tranquilidade, entre outros.

Agora no caso concreto da cadeira, ela é construída de madeira, tecido,


estofo de algodão ou outra matéria qualquer: é a sua essência. Existe, porém, uma
correspondência entre os elementos concretos e abstratos da cadeira.
Já mencionamos que tudo o que existe tem uma essência. É o princípio racional
da essencialidade. Naturalmente, se pensarmos na existência de um objeto ou ideia,
primeiro deverá haver uma essência que, adequadamente relacionada, deve dar
origem à existência de um ser. É a essência antecedendo a existência.
Entretanto, quando consideramos o ser e suas possibilidades de se desenvolver
ou adquirir para si alguns atributos sem, contudo, mudar sua essência, denominamos
este conjunto de possibilidades de potência. Quando esses atributos passam a existir
no ser, dizemos que é o ser em ato. Nenhum ser tem sua existência espontaneamente,
casualmente. Todo ser pressupõe a existência de outros seres que promovem sua
existência, exceto o ser primeiro.
É o princípio da relação causa-efeito da causalidade. Ao fator que promove
a existência do ser denominamos causa eficiente. O conjunto de elementos que
constituem o ser, sua essência, quer seja um objeto concreto ou ideia abstrata,
compõe a causa material.

INTA EAD Introdução à Filosofia 77


O ser se apresenta de alguma forma que o identifica. É o que se denomina de
causa formal.
Quando o ser é concebido, tem um propósito a cumprir. Este propósito chama-
se causa final.

A axiologia é a parte da filosofia que estuda a existência


e importância dos valores. A palavra origina-se de dois
termos gregos: axis: valor e logia: estudo

Trata-se do estudo dos valores que as coisas têm, ou que nós, seres humanos,
atribuímos às coisas. O valor é uma qualidade que as coisas têm em si, ou que nós
lhes atribuímos.
Com isso, podemos, desde o início, perceber pela definição que um valor é
objetivo quando a coisa tem valor em si mesmo, ou subjetivo, quando nós atribuímos
às coisas alguma qualidade que elas não têm em si mesmas.
Em relação ao tempo, os valores podem ser classificados em: temporais,
temporários, permanentes e eternos. Dizemos que um valor é temporal quando ele
existe enquanto durar o tempo. Será temporário quando existir por certo tempo
e depois não servir mais como valor. Será permanente enquanto durar o objeto, e
eterno, quando não depender de tempo nem de circunstâncias, durar para sempre.
Se considerarmos a natureza da qualidade em si e o que o homem pode ter,
podemos ainda classificar os valores em:
Volitivo: Capacidade que o homem tem de fazer escolhas entre duas ou mais
possibilidades e força de vontade em executar suas decisões.
Espiritual: Capacidade que o homem tem em relação às coisas transcendentais,

78 Introdução à Filosofia INTA EAD


isto é, que ultrapassam ao âmbito humano, da vida presente e do mundo natural.
Estabelecer relação com Deus e obter respostas às questões levantadas pela mente
bem como os pedidos que Lhe foram feitos é um exemplo.
Intelectual ou mental: Capacidade que a mente tem de pensar, efetuar processos
e tirar conclusões, entendendo o mundo, seu lugar e papel a realizar neste.
Social: Capacidade de estabelecer relação com outros seres humanos e executar
tarefas em comum ou coletivamente.
Ético ou moral: Capacidade de estabelecer, aceitar e agir de acordo com
princípios de conduta pelos quais o ser humano se deixa conduzir durante sua vida.
Afetivo: Capacidade de desenvolver e deixar-se envolver por sentimentos,
emoções e paixões.
Estético: Capacidade do ser humano de estabelecer, aceitar e desenvolver
princípios de percepção, apreciação e produção de beleza.
Físico: Capacidades físicas que o homem pode ter naturalmente ou desenvolver
através de exercícios ou prática.
Material: Qualidades dos objetos ou coisas existentes na matéria.
Nem todos os objetos têm o mesmo valor. Alguns são mais importantes ou
necessários que outros. A importância do valor pode ser dada pela pessoa ou pode
ter valor em si mesmo. Exemplificando: um rapaz quer dar um presente a uma garota,
então resolve comprar flores. A pergunta é: será que esse presente tem valor para
ela? Os valores não estão nas coisas em si, eles dependem de quem avalia, por isso
os valores variam de pessoa para pessoa. Quando nossos valores mudam, nosso
olhar sobre o mundo também muda.
O homem quer entender as coisas, explicá-las e transmitir o conhecimento a
respeito delas. Isso ele pode fazer através do processo da linguagem e do ensino
prático. Mas esse ensino e essa linguagem devem expressar a verdade. Assim é que
devemos entender a verdade. Nossa inteligência precisa entender as coisas para
somente depois dizer que as conhece. Quando expressamos ou dizemos alguma
coisa que corresponde à realidade, dizemos que aquilo é uma verdade. Portanto,
verdade é a expressão exata da realidade.
Quando nossas ideias correspondem exatamente às coisas exteriores, dizemos
que é uma verdade lógica; quando as coisas correspondem ao que pensamos sobre
elas, dizemos que é verdade ontológica.
São quatro as posições da mente em relação ao conhecimento da realidade:
a) Quando não temos nenhum conhecimento sobre o assunto, não podendo

INTA EAD Introdução à Filosofia 79


afirmar ou negar qualquer coisa a respeito, dizemos que isso é ignorância.
b) Quando nossa mente fica entre duas posições diferentes não podendo
afirmar, convictamente, sobre qual posição é a verdadeira, dizemos que é
dúvida.
c) Quando afirmamos alguma coisa, mas temos receio de que podemos
nos enganar, pensando que estamos certos, isso é opinião.
d) Quando afirmamos, convencidamente, que estamos certos e não
temos receio de estar errados, é certeza.
Para afirmar que as coisas são como pensamos, precisamos estar
baseados em algum sinal de certeza. Sobre este sinal que usamos para
servir de fundamento à nossa maneira de pensar, dizemos que se trata
de um critério de verdade. Entre os vários critérios que podem servir de
fundamento para nossas afirmações, mencionamos: os sentidos, a razão, o
senso comum, o uso de instrumentos, a autoridade e a revelação.
Teocentrismo:
Crença, ou doutrina, O Teocentrismo cristão tem como verdade as afirmações feitas pela
segundo a qual Deus
Bíblia. Este livro sagrado é aceito como verdade para a elaboração de
é centro do universo.
uma cosmovisão cristã coerente com a realidade do mundo exterior e que
explique a existência do bem e do mal, da origem de todas as coisas.

A filosofia prática

Uma das funções da filosofia é estabelecer regras de conduta para o ser


humano. É a função normativa que apresenta regras, não somente para o
processo de pensar de modo correto e válido (lógica) como também para
indicar como o homem deve proceder em relação a si mesmo, aos outros
seres humanos e ao ambiente em que ele vive e do qual depende para sua
sobrevivência.
Essa parte da filosofia corresponde a Ética. Esse termo veio do grego
ethos que quer dizer, caráter, costume, modo de ser. A ética é a parte que se
preocupa em estabelecer um conjunto de leis que devem reger a conduta
do homem. Trata-se de um conceito que engloba uma série de elementos
destinados a conduzir o ser humano. Quando é aplicado esse conjunto de
regras, temos a moral, cuja origem vem do latim mores e significa costumes.
Os costumes de um povo, ou indivíduo, devem estar de acordo com as
normas da ética.

80 Introdução à Filosofia INTA EAD


Os seres humanos devem respeitar e compreender o ambiente em que
vivem e precisam de liberdade para decidir, ou não, seguir os princípios
éticos. Nesse sistema não há mais do que duas posições: obedecer, ou não,
às determinações das regras. Tal sistema deve ter um conjunto de normas
de conduta ao qual damos o nome de lei. Esta consiste na expressão da
vontade de uma autoridade que tem o poder de impor uma regra e fazê-
la cumprir. É expressa em forma de proposições que sejam inteligíveis ao
ser humano. A lei estipula o padrão de conduta que o homem deve seguir
estabelecendo ordem e harmonia na sociedade humana.

Em virtude da lei surgem outros elementos como:


Certo e Errado: Pela lei, passamos a conhecer o que é certo, adequado e
próprio à conduta e o que está errado e que não devemos fazer.
A lei ainda expressa quais são os deveres e os direitos de uma pessoa
em sua conduta. O que ela deve, ou não, fazer, quais são seus direitos para
obedecer e porque ela obedeceu. Isso porque em virtude de sua obediência
à lei, ela adquire mérito, ou merecimento, e no caso de desobediência, ela Demérito:
acumula demérito, ou desmerecimento. Desmerecimento;
o que faz perder a
Cada membro de uma sociedade ética deve responder por seus atos consideração e a
estima
diante da autoridade do sistema. Daí surge a responsabilidade de um ser
ético por sua conduta. Além de responder diante da autoridade, o ser
humano tem uma consciência ética que julga o mérito ou demérito de suas
ações.
No entanto, essa consciência deve estar estruturada de acordo com o
sistema implantado para que seu julgamento seja coerente com este sistema.
Portanto, assumir responsabilidade implica em sofrer as consequências
resultantes dos atos praticados conforme a decisão de outro componente
do sistema.
Cada sistema ético deve ter como elementos constituintes um corpo
ou conjunto de pessoas que julgam as ações dos membros do sistema,
verificando e avaliando-os de acordo com a lei. Se a avaliação indicar que
o ser ético cumpriu a lei, recebe então a recompensa. Se for encontrado o
transgressor da lei, este sofrerá as penalidades determinadas por ela.

INTA EAD Introdução à Filosofia 81


Estética

Há uma parte da filosofia que trata sobre a natureza do que é belo e dos
fundamentos da beleza: a estética.

A palavra estética, originada do grego aiesthetike, significa


percepção, sensação, emoção. Refere-se a tudo o que
provoca emoção, causa admiração e contribua para o
desenvolvimento do ser humano.

Definimos aqui estética como a parte da filosofia que trata da beleza, dos
princípios e regras que determinam o belo, conduzindo o homem à percepção,
apreciação e produção de obras tidas como belas. Estas provocam nele emoções que
vão enobrecer, elevar e conduzi-lo na direção de perfeição em sua personalidade.

Arte

Se a estética está preocupada em estabelecer os princípios e leis que regem


as coisas belas, quando aplicamos estas leis e princípios na elaboração de algo
que expresse beleza, estamos diante do que denominamos de arte. Esta seria a
aplicação das regras de beleza na produção de obras belas. É a obediência ao que
denominamos de cânone estético.
Existem pessoas que têm um dom natural, uma tendência para as obras de arte;
têm facilidade para produzir e interpretar obras estéticas. Já outras necessitam de
estudo e treinamento para aprender alguma coisa sobre arte. Mas todos podem
aprender, apreciar e produzir alguma obra de arte entre as várias artes existentes:
música, pintura, escultura, dança, desenho, arquitetura, entre outras.

82 Introdução à Filosofia INTA EAD


INTA EAD Introdução à Filosofia 83
LEITURA OBRIGATÓRIA
Este ícone apresenta uma obra indicada pelo professor-
autor que será indispensável para a formação
profissional do estudante
Prezado estudante, sugerimos que leia a obra A Filosofia
na crise da Modernidade, de Manfredo Araújo de Oliveira.
Nesta o autor tece considerações sucintas sobre o mundo em
que vivemos e fala da consciência como uma de suas principais
características. O homem percebe que as coisas e o mundo
estão mudando. Nosso mundo necessita urgentemente de uma
reflexão sobre o sentido da virada que a cultura ocidental viveu
e sobre as mudanças da modernidade.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. A Filosofia na crise da Modernidade. 3ª Ed. São


Paulo: Edições Loyola, 2001.

INTA EAD Introdução à Filosofia 85


SAIBA MAIS
Neste ícone será encontrado sugestões de
aprofundamento da disciplina em outro espaço.
Pesquisas divulgadas, em formato de entrevistas, com o
próprio autor da investigação
Sugerimos a leitura da entrevista de Fernando Savater,
professor de Ética na Universidade de Madri, com o tema
Da ética como método de trabalho. Nesta entrevista ele
mostra como levar a filosofia para dentro de sala de aula e
afirma que a ética é o caminho para uma vida melhor. Vale a
pena conferir!

INTA EAD Introdução à Filosofia 87


REVISANDO
É uma síntese dos temas abordados com a intenção
de possibilitar uma oportunidade para rever os pontos
fundamentais da disciplina e avaliar a aprendizagem
No decorrer da disciplina, estudamos sobre a Filosofia Clássica, onde um grupo
de pensadores procurava descobrir quais os elementos que constituíam as coisas.
A Era Moderna é composta por várias fases. Vimos a Renascença, cuja essência
era o humanismo, no qual a figura humana era mais importante. Deus continuava
soberano, mas sem se opor a essa ideia, o homem era o centro das reflexões.
Martinho Lutero, durante a reforma, foi um dos primeiros a contradizer a
doutrina da Igreja Católica. Após ser sido amaldiçoado pela Igreja, passou a ensinar
a doutrina do Protestantismo.
Quanto ao movimento do Racionalismo, preocupou-se com o conhecimento. Já
o Empirismo se fundamentava nas sensações e experiências, enquanto o Iluminismo
defendia o uso da razão como sendo a ponte para alcançar a liberdade.
Na Era Contemporânea o pensamento foi dividido em várias correntes como o
Idealismo, que procura a unificação da experiência mediante a razão, e o Positivismo,
que tenta aplicar os métodos da ciência, buscando resolver os problemas do mundo.
Na segunda metade do século XIX surgiu o Ecletismo. Neste, cada homem reflete
sobre sua consciência e vê as coisas por seu próprio ponto de vista.
O Intuicionismo se fundamenta não nos conceitos da mente, mas na intuição.
Já a Fenomenologia apresentou notoriedade dando valor ao fenômeno; e no
Existencialismo, o espírito humano, ao tomar consciência de sua existência, entende
que é livre para atribuir significado às coisas.
No Pós-Modernismo o pensamento humano é diversificado, não somente no
pensamento como no modo de agir.
Aprendemos a etimologia da palavra filosofia e seus conceitos atuais, que são
os seguintes: cada pessoa vê o mundo que a cerca de sua maneira e o explica a seu
modo; notemos que esse é um conceito mais amplo da palavra.
Outro significado que o termo filosofia desenvolveu foi o de conhecimento
adquirido de forma sistemática, pensando e examinando as coisas; o conjunto
dessas regras chama-se lógica. A filosofia, como modo de pensar, inclui não apenas
uma compreensão intelectual, que denominamos de Cosmovisão - esta inclui todo
conhecimento verdadeiro da ciência, da filosofia e da religião-, mas compreende
também um saber que faça parte do nosso “eu”, de nosso ser psíquico. Abrange o
conjunto total de nossas experiências vividas e modos de viver.
Considerando a função, ou funções, da filosofia, verificamos que sua natureza é
tríplice, culminando em aspectos abrangentes e globalizantes:
a) Ao expor seu sistema, analisando as causas fundamentais, explicando a
essência das coisas, a filosofia é descritiva em sua natureza;

INTA EAD Introdução à Filosofia 89


b) Quando a filosofia estabelece as regras do pensamento válido bem como a
aplicação destas no processo do raciocínio, ela passa a ter um caráter normativo;
c) A parte da filosofia que faz uma avaliação do conhecimento adquirido pela
especulação e verifica se as regras foram ou estão sendo obedecidas na conduta de
uma obra de arte chama-se Filosofia Crítica. O conceito de crítica equivale à análise
dos aspectos positivos e negativos, argumentando as colocações feitas nas funções
anteriores.
Um das formas de se conhecer é através da percepção de nossos sentidos, pois
estes fazem parte de um processo de tomada de consciência sobre o que ocorre no
mundo exterior.
A compreensão da realidade faz parte do conhecimento através do raciocínio e
dos processos mentais que compõem a razão.
Da vivência, ou familiarização, fazem parte outros aspectos constitutivos do
homem como afetividade, atividade e experiência prática em lidar com o objeto
conhecido. Para conhecer o homem, precisa-se estar envolvido em sua totalidade.
Em primeiro lugar, devemos verificar se o que julgamos conhecer está de
acordo com nossa experiência. Devemos saber que nossa experiência se inicia pelos
sentidos. Se o que julgamos conhecer está de acordo com aquilo que é evidente e
podemos sentir, consideremos então ser um componente que nos dá mais certeza
e convicção sobre o que pensamos conhecer.
Se a sucessão de experiências confirma o que sabemos, a certeza vai se
fortalecendo. Para conhecermos o todo da verdade, é recomendável que se examine
cada parte da verdade global e como essas partes se relacionam logicamente com o
todo. O conhecimento pode ser objeto de busca constante e permanente do homem.
Ninguém pode se julgar conhecedor de tudo, uma vez que somos imperfeitos, falhos
e limitados em nossas capacidades.
A filosofia apresenta diversos paradigmas: a metafísica, a ontologia, a axiologia, o
conhecimento, entre outros. Esses paradigmas foram pensados e criados para tentar
conhecer, responder e solucionar os problemas humanos, sejam eles ontológicos ou
práticos. Outras questões relevantes estão associadas ao modo como os conceitos
de conhecimento e verdade são construídos, a relação entre eles e as questões que
os circundam.
Os conceitos de moral e ética, apesar de diferentes, são frequentemente aplicados
como sinônimos. No entanto, é possível encontrar diferenças entre esses conceitos:
a moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou
grupo de pessoas; a ética centraliza a discussão em torno das noções e princípios
que fundamentam a vida moral.

90 Introdução à Filosofia INTA EAD


Estética é a parte da filosofia que trata da beleza de sua natureza; há várias
teorias de como se vê o belo dentro de um contexto da filosofia. Se a estética está
preocupada em descobrir os princípios que regem as coisas belas, quando aplicamos
esses princípios na elaboração de algo belo denominamos arte.

INTA EAD Introdução à Filosofia 91


AUTOAVALIAÇÃO
Momento de parar e fazer uma análise sobre o que o
estudante aprendeu durante a disciplina.
1. A partir dos conceitos atuais da filosofia, procure interpretar a frase: “A filosofia
não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais
que se fazem cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não à razão da
força" (Fernando Savater).
2. De que forma você utiliza a filosofia na sua vida profissional?
3. Elabore um conceito pessoal de filosofia a partir do texto da competência.
4. A ciência tem na sociedade atual mais importância que a filosofia?
5. Descreva de que forma ocorre a elaboração do conhecimento filosófico.
6. Qual a relação da filosofia com a religião?
7. Qual a importância da verdade na estrutura dos conhecimentos filosóficos?
8. Relacione os conceitos de Metafísica, Ontologia e Axiologia.
9. Conceitue ética e moral e elenque suas diferenças.
10. Discorra sobre estética e arte.
11. Teça comentários sobre as características da Era Moderna e da Era
Contemporânea.
12. Quais as principais características do Pós-Modernismo?

INTA EAD Introdução à Filosofia 93


BIBLIOGRAFIA
Indicação de livros e sites que foram usados para a
constituição do material didático da disciplina
ABRANTES, P. Imagens da natureza, imagens de ciência. Campinas/SP: Editora
Papirus, 1998.

ARANHA, A.L.M; MARTINS, P.H.M. Filosofando : Introdução à filosofia. São Paulo:


Editora Moderna, 2009.

BORNHEIM, Gerd A. Introdução ao Filosofar: o pensamento filosófico em bases


existenciais. Porto Alegre: Globo, 1986.

CAMELLO, Maurílio José de Oliveira. A questão da verdade na filosofia. Theoria


- Revista Eletrônica de Filosofia. Disponível em: http://www.theoria.com.br/
edicao0109/A_questao_da_verdade_na_Filosofia.pdf Acesso em: 03/05/2013.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2008.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

______________.Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2006.

CORTELLA, S. M. Não Nascemos Prontos! – Provocações Filosóficas. São Paulo:


Editora Vozes, 2011.

HOLLIS, M. Filosofia: um convite. São Paulo: Editora Loyola, 1996.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos Pré-Socráticos a


Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. A Filosofia na crise da Modernidade. 3ª Ed. São


Paulo: Edições Loyola, 2001.

SAVATER, F. Ética para um jovem. Portugal: Editora Dom Quixote, 2005.

VAZ, H. C. Escritos de Filosofia II – Ética e Cultura. São Paulo: Editora Loyola,


1993.

INTA EAD Introdução à Filosofia 95


Bibliografia Web
ALMEIDA, Aires. Filosofia e ciências da natureza: alguns elementos históricos.
Crítica. Disponível em: http://criticanarede.com/filos_fileciencia.html. Acesso em:
03/05/2013.

CABRAL, João F. P. O conceito de Filosofia. Disponível em: http://www.brasilescola.


com/filosofia/a-filosofia-grega.htm. Acesso em: 05/07/2013.

_____________. Conhecimento. Disponível em: http://www.brasilescola.com/filosofia/


conhecimento.htm. Acesso em: 07/05/13.

_____________. A estética na filosofia de Platão e Aristóteles. http://www.brasilescola.


com/filosofia/a-estetica-na-filosofia-platao-aristoteles.htm. Acesso em: 22/05/13.

JAIRO, Marçal. (org.). Antologia de Textos Filosóficos. SEED – Paraná: – Curitiba:


2009. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/
cadernos_pedagogicos/caderno_filo.pdf. Acesso em: 24/06/13.

SAVATER, Fernando. Da ética como método de trabalho. Disponível em: http://


revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/etica-como-
metodo-trabalho-431445.shtml. Acesso em: 06/06/2013.

TAYLOR, Richard. O que é Metafísica? Disponível em: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/


taylor.htm. Acesso em: 22/05/13.
08/05/13.

96 Introdução à Filosofia INTA EAD


INTA EAD Introdução à Filosofia 97

Você também pode gostar