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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2. O sistema nervoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 O desenvolvimento do cérebro – o cérebro triuno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Plasticidade neural ou neuroplasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.1 O neurônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.2 A sinapse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.3 Relação entre plasticidade cerebral e memória/experiência . . . . 27
3. Sistema límbico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1 As estruturas cerebrais que compõem o sistema límbico e são responsáveis
pela formação das emoções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1.1 Amígdala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1.2 Hipocampo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1.3 Tálamo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1.4 Hipotálamo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.1.5 Giro cingulado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.6 Tronco cerebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.1.7 Área tegmental ventral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1.8 O septo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.1.9 Área pré-frontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6. Linguagem e pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
INTRODUÇÃO
A neurociência é uma ciência que somente se configurou como tal a partir de meados do século
XX. Antes disso, muitos estudiosos já estudavam e pesquisam o sistema nervoso e suas funções, e
há indícios de que desde a pré-história os hominídeos já entendiam que o cérebro era importante.
Nosso sistema nervoso é o responsável pelas funções do pensar, movimentar e sentir. Ele está
organizado de forma que possuímos terminações nervosas que compõem os sistemas sensoriais e
que são capazes de captar as informações do meio ambiente e de nosso próprio organismo. Essas
informações chegam às várias áreas do cérebro responsáveis por seu processamento, e a partir
dessas percepções podemos tomar decisões e realizar tarefas.
Todas as informações que são processadas em nosso sistema nervoso são importantes para
nossa aprendizagem. Já está comprovado que nossas experiências e aprendizagem modificam
o nosso cérebro por meio da plasticidade neural. Um adulto possui um cérebro único que foi
redesenhado pela plasticidade neural por suas experiências de vida e aprendizagens.
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Todos nós temos consciência de que nosso sistema nervoso é o responsável pelo que pensamos,
sentimos e por movermos, mas desde quando os estudiosos pensaram dessa forma? Como surgiram
essas ideias?
Quando falamos em sistema nervoso, estamos falando do encéfalo, da medula espinhal e dos
nervos do corpo, sendo que o encéfalo é composto pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico (ou
cerebral), ou seja, tudo o que está dentro de nossa caixa craniana.
Desde a pré-história nossos ancestrais já entendiam que o encéfalo era importante para a
vida humana. Há evidências de crânios de hominídios encontrados há cerca de 7.000 anos que
foram abertos cirurgicamente com a pessoa ainda viva, porque há sinais de cicatrização. Esses
procedimentos eram chamados de trepanação, provavelmente feitos com a intenção de curar dores
de cabeça ou transtornos mentais – por exemplo, “talvez oferecendo aos ‘maus espíritos’ uma porta
de saída” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 3).
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Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gersdorff_-_Sch%C3%A4delwunde.jpg>.
Há cerca de 5.000 anos os egípcios também tinham noção dos sintomas dos danos cerebrais.
Há escritos médicos que indicam essas informações.
Na Grécia Antiga, ainda no século IV a.C., Hipócrates (469-370 a.C.), o pai da medicina ocidental,
com a perspectiva da teoria da “correlação entre estrutura e função”, afirmava que o encéfalo era o
órgão das sensações e a sede da inteligência. A teoria da “correlação entre estrutura e função” indicava
que as partes de nosso corpo adquiriam ou tinham características de acordo com suas funções,
logo, em nossa cabeça está localizado os olhos, responsável pela visão; ouvidos, responsável pela
audição; nariz, que capta os odores por meio do olfato; língua, que capta os sabores por meio do
paladar; e, se fizermos uma dissecação em nosso encéfalo, podemos observar os nervos captadores
dessas sensações se encaminhando para dentro dele.
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O médico grego Galeno (130-200 d.C.) também concordava com Hipócrates. Em suas experiências
de dissecações com encéfalos de ovelhas, com o toque do dedo, observou e afirmou que o cérebro,
com sua estrutura macia, deveria ser o receptor e armazenador das sensações, e o cerebelo, com
sua estrutura mais rígida, deveria comandar os nervos do corpo. Galeno não ficou tão longe da
verdade, e não foi a primeira vez na história que uma dedução correta partiu de um raciocínio
improvável. “O cérebro está, de fato, bastante comprometido com as sensações e percepções, e o
cerebelo é principalmente um centro de controle motor. Além do mais, o cérebro é um repositório
da memória.” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 5).
Outra dedução de Galeno, não acertada, era que os nervos eram tubulações ocas e que fluidos
ou humores que ele encontrou nos ventrículos percorriam os nervos, impulsionando os movimentos
dos membros. Essa ideia de Galeno permaneceu ainda por aproximadamente 1.500 anos, e alguns
detalhes foram adicionados à estrutura do encéfalo durante a Renascença.
René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático, foi um grande defensor da “teoria de fluído
mecânico”, apesar de considerar que essa teoria deveria explicar o funcionamento do encéfalo dos
animais, mas não completamente dos seres humanos, pois, para ele, nós humanos tínhamos algo
mais, a mente, e para ele a nossa mente era como uma entidade espiritual. Hoje em dia, “pesquisas
modernas em neurociências suportam outra conclusão: a mente tem uma base física, que é o
cérebro” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 6).
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O encéfalo de acordo com Descartes. Este desenho apareceu em uma publicação de 1662 feita por Descartes.
Nervos “ocos” projetam-se dos olhos aos ventrículos cerebrais. A mente influencia a resposta motora,
controlando a glândula pineal (H), que trabalha como uma válvula para controlar o movimento dos “espirilos”
animais através dos nervos que inflam os músculos (Fonte: FINGER, 1994 apud BEAR; CONNORS; PARADISO,
2002, p. 6). O encéfalo de acordo com Descartes. Este desenho apareceu em uma publicação de 1662 feita
por Descartes Fonte: <https://jimsonweedcarnival.files.wordpress.com/2013/06/descartesvision.jpg>.
Nos séculos XVII e XVIII, essa teoria foi rompida e os pesquisadores começaram a dar importância
às outras substâncias cerebrais, divididas em duas: a substância branca e a cinzenta. Foram
designadas as funções de cada uma delas. A substância branca, que têm continuidade com os
nervos do corpo, “[...] foi corretamente indicada como contendo as fibras que levam e trazem a
informação para a substância cinzenta” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 7).
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Por volta do final do século XVIII, todo o sistema nervoso já havia sido dissecado e descrito
em detalhes. Para a neuroanatomia foi um grande passo a observação dos sulcos e giros. Isso
possibilitou o desenvolvimento das teorias da localização cerebral.
O trecho a seguir serve de revisão da compreensão do sistema nervoso no final do século XVIII:
- O encéfalo opera como uma máquina e segue as leis da natureza. (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2002, p. 7).
Durante o século XIX, quatro descobertas foram chaves para as novas pesquisas em neurociência.
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1. “Em 1751, Benjamin Franklin publicou um panfleto intitulado Experimentos e Observações sobre
a Eletricidade, o qual levou a uma nova compreensão dos fenômenos elétricos.” (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2002, p. 7). No início do século XIX, o cientista italiano Luigi Galvani e o biólogo alemão
Emil Du Bois-Reymond mostraram que os músculos podiam ser movimentados por estímulos
elétricos nos nervos, e que o encéfalo podia gerar eletricidade. Essas descobertas derrubaram a
teoria dos fluidos, assim a nova teoria era de que os nervos eram como cabos que conduziam sinais
elétricos de e para o encéfalo. Uma questão não foi respondida: se esses nervos conduziam sinais
dos movimentos e das sensações ao mesmo tempo, essa resposta veio por volta de 1810, quando
dois cientistas observaram que os nervos tinham em suas terminações filamentos. Estes se ligavam
à espinha dorsal pela parte de trás e pela parte da frente. Testando essas ligações com a medula
espinhal, descobriu-se que esses dois braços conduziam informações diferentes para o encéfalo.
Representação do nervo espinhal formado pela união das raízes dorsais sensitivas e raízes ventrais
motoras. Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABWkYAF/02-organizacao-geral-sn>.
Trinta e um pares de nervos deixam a medula espinhal para inervar a pele e os músculos. Cortar
um nervo promove a perda da sensação e dos movimentos na região afetada do corpo. Fibras
motoras de saída dividem-se em raízes espinhais onde os nervos se ligam à medula espinhal. Bell
e Magendie observaram que as raízes ventrais contém somente fibras motoras, e as raízes dorsais
contém fibras sensoriais. (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 9) (Figura 5).
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do sistema nervoso. Ele provou que o cerebelo realmente era o responsável pela coordenação dos
movimentos. Quem deu o primeiro passo em direção à localização de funções específicas em
diferentes partes do cérebro foi o neurologista francês Paul Broca. Ele examinou pós-morte o encéfalo
de um paciente que podia entender a linguagem mas que não falava e observou que havia uma
lesão em seu lobo frontal, logo deduziu que o lobo frontal seria responsável pela produção da fala.
3. A evolução do sistema nervoso: Tendo como base a teoria de Charles Darwin da seleção
natural e da evolução das espécies, pode-se observar que há similaridades entre as reações de
diferentes espécies em relação a alguns comportamentos, como o medo e o senso de proteção,
que são ativados pelo sistema nervoso, ou seja, o sistema nervoso de diferentes espécies evoluíram
de ancestrais comuns. Por outro lado, as espécies desenvolveram comportamentos altamente
especializados para os ambientes em que vivem. Quando os neurocientistas desenvolveram
pesquisas em encéfalos de diferentes espécies, puderam identificar quais partes do encéfalo eram
especializadas e em quais funções.
4. O neurônio como unidade básica do sistema nervoso: Com a ajuda do microscópio no inicio
do século XIX, pôde-se refinar as pesquisas a nível celular. Em 1839, o zoologista alemão Theodor
Schwann propôs a “teoria celular: todos os tecidos são compostos por unidades microscópicas
chamadas células” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 12). Haviam dúvidas de que os neurônios
fossem realmente a unidade celular do sistema nervoso (Figura 6).
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A história moderna das neurociências ainda está sendo escrita. Os neurocientistas estão, em
suas pesquisas, a todo o momento fazendo novas constatações importantíssimas para a sociedade.
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2. O SISTEMA NERVOSO
Sendo o sistema nervoso o objeto de pesquisa das neurociências, faremos uma breve apresentação
dele.
O sistema nervoso humano é composto basicamente pelo sistema nervoso central – cérebro,
cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal – e pelo sistema nervoso periférico – nervos e
gânglios (Figura 7).
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No sistema nervoso central (SNC) temos o encéfalo (cérebro, tronco encefálico e cerebelo),
localizado na caixa craniana.
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FIGURA 9 - Encéfalo
O sistema nervoso periférico é composto por nervos e gânglios. Os primeiros são divididos em
cranianos (derivados do encéfalo, têm funções sensitivas, motoras e viscerais) e nervos espinhais
(aqueles que estão ligados à coluna espinhal), e os segundos são acúmulos de corpos celulares
de neurônios situados fora do sistema nervoso central.
Em 1970, o neurocientista Paul Maclean, em seu livro The triune brain in evolution: role in
paleocerebral functions (tradução livre: “O encéfalo triuno em evolução: papel das funções
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paleocebrais”), propõe que nosso cérebro se divide em três funções, de acordo com a evolução
pela qual ele passou ao longo da história da humanidade.
Segundo Greco (1992), somente após esta época, quando a agricultura foi desenvolvida e os
homens passaram a fixar-se, ocupando e utilizando o solo, construindo moradias e dividindo o
trabalho é que a unidade sintético-intuitiva passou a se desenvolver. Isso ocorreu por volta de 4.000
anos atrás. Iniciou-se uma interpretação do mundo genuinamente humana, em que se começa a
assumir contornos de correntes religiosas bem ordenadas. A sabedoria não era lógica, mas intuitiva,
sintética, mística, mítica e holística.
A terceira unidade funcional do cérebro passa a predominar a partir de 600 a.C. Na Grécia, os
pensadores dessa época, como Tales, Pitágoras, Heráclito, Platão e Sócrates, entre outros, são os
precursores históricos desse processo que se consolida por volta do século XVIII. Este novo ciclo que
marca a nova era culmina com a sistematização do método científico e novos padrões tecnológicos
que possibilitaram e possibilitam o progresso da humanidade e uma nova revolução cerebral.
Esses três processos fundamentais do cérebro podem ser traduzidos como lógico, intuitivo e
prático, constituindo um sistema funcional complexo, simultâneo e para-autônomo. O processo
sintético-intuitivo ocorre predominantemente no hemisfério direito do cérebro, o analítico-lógico é
um processo do hemisfério esquerdo e o motriz-operacional (prático) ocorre na porção central ou
comum.
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Segundo Greco (1992), há um jogo ou um conflito em nosso cérebro. Quando um dos três
processos é acionado, os outros dois ficam de lado. Tal identificação das funções é importante
para que possamos ter um olhar especial para cada pessoa e ver qual de suas funções é a mais
desenvolvida e em qual ela tem mais deficiência.
A função motriz operacional está ligada ao cérebro reptiliano, que é composto pela medula, tronco
cerebral e cerebelo. São as estruturas mais antigas do cérebro (arquiencéfalo) e que controlam as
funções vitais: respiração, batimentos cardíacos e todo o sistema neurovegetativo.
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FIGURA 11 - As profissões
A segunda função, exercida predominantemente pelo lado direito do cérebro e que evolui há
dezenas de milhões de anos em ancestrais que eram mamíferos, mas não primatas, é a sintético-
intuitiva, sistema límbico ou sistema emocional, responsável pelo controle emocional, onde são
sediados nossos sentimentos e emoções, orientando nossas ações e reações. Devemos a ela nossa
imaginação, afetividade, intuição, criatividade, estética, mística, religiosidade, poesia, música e artes.
FIGURA 12 - As artes
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ambos os hemisférios e em ambos os lados, chamá-lo de lado esquerdo é uma convenção, porque
ele é responsável pela comunicação e a fala foi localizada no lado esquerdo do cérebro, na área de
Broca. É o nosso lado “lógico, acadêmico, racional, teórico, científico, matemático, comunicador,
responsável pela reflexão e pelo pensamento” (GRECO, 1992, p. 118). Essa função detém a distinção
da nossa espécie.
As três funções não devem ser pensadas de forma isolada. Esse modelo foi estruturado apenas
para localizarmos em que momento evolutivo da humanidade ele teve seu início e apogeu. Hoje,
essas manifestações estão corticalizadas e sabemos que o cérebro funciona em uníssono para
desenvolver suas funções.
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O sistema nervoso “detecta estímulos externos e internos, tanto físicos quanto químicos, e
desencadeia as respostas musculares e glandulares”. (AMARAL; OLIVEIRA, 2017, s/p). Logo, o
sistema nervoso é responsável por integrar o organismo com o meio ambiente à sua volta.
O sistema nervoso é formado por células nervosas interconectadas de uma forma muito específica,
que compõem circuitos neurais, por meio desses circuitos o organismo consegue produzir respostas
como reflexos, que são comportamentos fixos e invariáveis e também comportamentos variáveis.
Todo ser vivo dotado de um sistema nervoso é capaz de modificar o seu comportamento
em função de experiências passadas. Essa modificação comportamental é chamada
de aprendizado, e ocorre no sistema nervoso através da propriedade chamada
plasticidade cerebral (AMARAL; OLIVEIRA, 2017, s/p, grifo no original).
2.2.1 O neurônio
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As formas e funções dos neurônios variam dependendo de sua localização e estrutura morfológica,
mas basicamente os neurônios são constituídos dos mesmos componentes básicos:
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2.2.2 A sinapse
A região ou estrutura dos neurônios onde ocorrem os processos de comunicação entre eles é
a sinapse. Nessa região ocorrem as transmissões sinápticas, ou seja, a passagem do sinal neural
por meio de processos eletroquímicos.
FIGURA 16 – Sinapse
A capacidade plástica do sistema nervoso é demonstrada pelo número e qualidade das sinapses.
O número de conexões sinápticas que um neurônio pode enviar ou receber varia entre 1.000 a 100.000,
e a qualidade é estabelecida pela experiência e aprendizagem de cada um. O mapa neural de adultos
varia de pessoa para pessoa, pois o que o determina são os fatores de vivências e aprendizagens
que geraram a plasticidade do cérebro adulto. Conforme De Groot (apud AMARAL; OLIVIERA, 2017,
s/p) “[...] a plasticidade neural é a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento
de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a
estímulos repetidos”.
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CURIOSIDADE
Assista esse vídeo, que mostra imagens de sinapses neurais. Clique aqui: <https://www.youtube.com/
watch?v=epPlAXBXTlk>
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No sistema nervoso central, duas áreas são mais importantes para a aprendizagem relacionada
à neuroplasticidade, “[...] o cerebelo e o sistema límbico. O primeiro com uma função coordenadora
do ato cognitivo, e o segundo trazendo a modulação afetiva para que tal função seja executada”
(ROTTA, 2015, p. 479).
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Sabe-se hoje que o cérebro não é capaz de produzir novos neurônios, mas ele responde à
estimulação do meio ambiente com a aprendizagem, e esta provoca modificações que são a
expressão da plasticidade. As janelas de oportunidades devem ser bem aproveitadas, ou seja, há
momentos certos para que essas aprendizagens ocorram, o que pode ser chamado de momentos
críticos. Nestes períodos, a estimulação sensitivo-sensorial é essencial, apesar de saber-se também
que mesmo os SNC dos adultos são capazes de responder, em algum grau, à estimulação (ROTTA,
2015).
3. SISTEMA LÍMBICO
FIGURA 20 - O sistema límbico
[...] na superfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do cortex, existe
uma região constituída por núcleos de células cinzentas (neurônios), a qual ele deu o
nome de lobo límbico (do latim limbus, que traduz a ideia de círculo, anel, em torno de,
etc), uma vez que ela forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico [...].
Esse conjunto de estruturas, mais tarde denominado sistema límbico, surgiu com a
emergência dos mamíferos inferiores (mais antigos). (AMARAL; OLIVEIRA, 2017, s/p).
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brincar. Os sentimentos como o medo, ódio, alegria, entre outros, também são originários do sistema
límbico. É responsável também por “alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes
funções ligadas à memória” (AMARAL; OLIVEIRA, 2017, s/p).
SAIBA MAIS
O presente artigo de revisão trata dos aspectos anatômicos das estruturas neurais, destacando
particularmente as suas relações topográficas e as suas principais conexões. O estudo tem como
objetivo fundamental contribuir para a compreensão das organizações anatômicas e funcionais
básicas das principais estruturas encefálicas relacionadas com o comportamento humano. Clique no
link para saber mais: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v29n1/a17v29n1.pdf>.
3.1.1 Amígdala
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de uma informação vinda de fora, como a visão de uma pessoa conhecida. Ele sabe
quem está vendo, mas não sabe se gosta ou desgosta da pessoa em questão.
FIGURA 21 - Amígdala
CURIOSIDADES
O neurocientista Antonio Damásio apresenta em seu livro O mistério da consciência (2000, p. 63-68)
um caso de uma paciente com lesão nas amígdalas, como segue:
“A descrição a seguir ilustra o primoroso traçado dos sistemas cerebrais relacionados à produção
e ao reconhecimento da emoção. Este é apenas um de vários exemplos que podem ser citados em
defesa da ideia de que não existe um único centro cerebral de processamento de emoções, e sim
sistemas distintos relacionados a padrões emocionais separados.
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Sem medo
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Por outro lado, a história de S no que diz respeito à sua vida social era
extraordinária. Simplificando o máximo possível, eu diria que S tinha uma
atitude predominantemente positiva diante das pessoas e das situações.
Outros diriam, de fato, que sua atitude era excessiva, até indevida. S não
era apenas simpática e alegre; parecia ávida por interagir com praticamente
qualquer um que começasse a conversar com ela, e na clínica e no laboratório
várias pessoas achavam que faltavam a ela o comedimento e a reserva que
seriam de esperar em uma moça como ela. Por exemplo, pouco depois de ser
apresentada a alguém, S não se abstinha de abraçar e tocar a pessoa. Sem
dúvida alguma, seu comportamento não chegava a constranger ninguém,
mas invariavelmente era visto como muito diferente do comportamento
usual de um paciente em suas circunstâncias.
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Era razoável supor que sua inversão afetiva tivesse origem na lesão
da amígdala. Todas essas suposições foram comprovadas quando Ralph
Adolphs veio trabalhar em meu laboratório. Usando diversas técnicas
engenhosas no estudo de vários pacientes, alguns com lesões na amígdala,
alguns com lesões em outras estruturas, Adolphs pôde determinar que a
assimetria afetiva era em grande medida causada pelo comprometimento
de uma emoção: o medo.
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Novamente, ela não tem dificuldade para produzir uma expressão facial
de surpresa. Por fim, S não sente medo do mesmo modo que você ou eu
em uma situação que normalmente o induziria. Em um nível puramente
intelectual, teoricamente ela sabe o que é o medo, o que deveria provocá-
lo e até mesmo o que se deve fazer em situações de medo, mas pouco ou
nada dessa bagagem intelectual, por assim dizer, tem utilidade para ela
no mundo real. A inexistência do medo em sua natureza, resultante da
lesão bilateral em suas amígdalas, impediu-a de aprender, na infância e
na juventude, o significado de situações desagradáveis pelas quais todos
nós passamos. Em consequência, ela não aprendeu os sinais reveladores
que anunciam um possível perigo ou uma possível situação desagradável,
especialmente quando eles se manifestam no rosto de outra pessoa ou em
uma situação. Isso foi comprovado com a máxima clareza por um estudo
recente que pedia que algumas pessoas fossem avaliadas como confiáveis
e acessíveis, com base em suas expressões faciais.
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S foi uma dos três pacientes com lesão bilateral na amígdala incluídos
no estudo, mas também examinamos o desempenho de sete pacientes
com lesão em uma das duas amígdalas, esquerda ou direita, três pacientes
com lesão no hipocampo e incapacidade para aprender fatos novos e dez
pacientes com lesão em algum outro local do cérebro, que não a amígdala
e o hipocampo.
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3.1.2 Hipocampo
• Função: responsável pela memória de longa duração. Permite ao animal e ao homem avaliar
situações atuais com base em experiências vividas para fazer a melhor escolha e garantir a
sua preservação e segurança.
• Lesão: Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são destruídos, nada mais é gravado
na memória. O indivíduo esquece rapidamente a mensagem recém-recebida.
FIGURA 22 - Hipocampo
3.1.3 Tálamo
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FIGURA 23 - Tálamo
3.1.4 Hipotálamo
• Anatomia: Esta estrutura tem amplas conexões com as demais áreas do prosencéfalo e com
o mesencéfalo.
• A lesão dos núcleos hipotalâmicos interfere em diversas funções vegetativas e em alguns dos
chamados comportamentos motivados, como regulação térmica, sexualidade, combatividade,
fome e sede. Aceita-se que o hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções.
• Função: Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto
que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso
(gargalhada) incontrolável. De um modo geral, contudo, a participação do hipotálamo é menor
na gênese do que na expressão (manifestações sintomáticas) dos estados emocionais. Quando
os sintomas físicos da emoção aparecem, a ameaça que produzem, retorna, via hipotálamo,
aos centros límbicos e, destes, aos núcleos pré-frontais, aumentando, por um mecanismo de
feedback negativo, a ansiedade, podendo até chegar a gerar um estado de pânico.
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FIGURA 24 - Hipotálamo
• Anatomia: Situado na face medial do cérebro, entre o sulco cingulado e o corpo caloso (principal
feixe nervoso ligando os dois hemisférios cerebrais).
• Função: Há ainda muito por conhecer a respeito desse giro, mas sabe-se que a sua porção
frontal coordena odores e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Esta região
participa, ainda, da reação emocional à dor e da regulação do comportamento agressivo.
• A ablação do giro cingulado (cingulectomia) em animais selvagens domestica-os totalmente.
A simples secção de um feixe desse giro (cingulotomia), interrompendo a comunicação neural
do circuito de Papez, reduz o nível de depressão e de ansiedade pré-existentes.
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FIGURA 25 - Giro cíngulo
• Anatomia: As estruturas envolvidas são a formação reticular e o locus coeruleus, uma massa
concentrada de neurônios secretores de nor-epinefrina. Outras estruturas do tronco cerebral
são os núcleos dos pares cranianos.
• Função: O tronco cerebral é a região responsável pelas “reações emocionais”, na verdade,
apenas respostas reflexas, de vertebrados inferiores, como os répteis e os anfíbios. É importante
assinalar que, até mesmo em humanos, essas primitivas estruturas continuam participando,
não só dos mecanismos de alerta, vitais para a sobrevivência, mas também da manutenção
do ciclo vigília-sono. Os núcleos dos pares cranianos, estimuladas por impulsos provenientes
do córtex e do estriado (uma formação subcortical) respondem pelas alterações fisionômicas
dos estados afetivos: expressões de raiva, alegria, tristeza, ternura etc.
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3.1.8 O septo
Anteriormente ao tálamo situa-se a área septal, onde estão localizados os centros do orgasmo
(quatro para a mulher e um para o homem). Certamente por isto, esta região se relaciona com as
sensações de prazer, mormente aquelas associadas às experiências sexuais.
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FIGURA 28 - Septo
• Anatomia: Compreende toda a região anterior não motora do lobo frontal. Ela se desenvolveu
muito durante a evolução dos mamíferos, sendo particularmente extensa no homem e em
algumas espécies de golfinhos. Não faz parte do circuito límbico tradicional, mas suas intensas
conexões bidirecionais com o tálamo, amígdala e outras estruturas subcorticais explicam o
importante papel que desempenha na gênese e, especialmente, na expressão dos estados
afetivos.
• Função: Quando o córtex pré-frontal é lesado, o indivíduo perde o senso de suas responsabilidades
sociais, bem como a capacidade de concentração e de abstração. Em alguns casos, a pessoa,
conquanto mantendo intactas a consciência e algumas funções cognitivas, como a linguagem,
já não consegue resolver problemas, mesmo os mais elementares. Quando se praticava a
lobotomia pré-frontal, para tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, os pacientes entravam
em estado de “tamponamento afetivo”, não mais evidenciando quaisquer sinais de alegria,
tristeza, esperança ou desesperança. Em suas palavras ou atitudes não mais se vislumbravam
quaisquer resquícios de afetividade.
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E a evolução dos mamíferos nos traz até o homem: O nosso antepassado hominídeo
certamente diferenciava as sensações que experimentava em ocasiões distintas,
como estar em sua caverna polindo uma pedra, correndo atrás de um animal mais
fraco, fugindo de um animal mais forte ou caçando uma fêmea da sua espécie.
(AMARAL; OLIVEIRA, 2017, s/p).
A aquisição da linguagem pelo homem permitiu a nomeação das sensações, mas até hoje, pela
subjetividade desse componente não há uma uniformidade quanto à terminologia que usamos em
relação a essas sensações.
Primeiramente, devemos fazer uma diferenciação entre afeto, emoção e sentimento, pois esses
termos são usados de forma indiscriminada para designar as sensações, cada um desses termos
deve ser bem definido por sua etimologia e pelas diferentes reações físicas e mentais que produzem.
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4.1 Afeto
Na descrição de Amaral e Oliveira (2017, s/p, grifo nosso),
Afeto (do Latim affectus, significando afligir, abalar, atingir) é definido por Aurélio
como sendo “um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam acompanhadas
sempre da impressão de prazer ou dor, de satisfação sob a forma de emoções,
sentimentos ou paixões, ou insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza”.
Curiosamente, existe uma tendência universal para só considerar como afeto (e seus
derivados, afetividade, afeição, etc.) as impressões positivas. Assim, ao se dizer
“sinto afeto por fulana” estou manifestando amor ou carinho; nunca raiva ou medo.
4.2 Emoções
Etimologicamente, vem do latim emovere, significando movimentar, deslocar. São reações que
manifestamos quando estamos frente a situações afetivas que, quando são intensas, mobilizam-
nos em direção a uma ação. Diferentemente dos afetos, as emoções e os sentimentos são usadas
nos dois sentidos, isto é, podem ser boas ou más.
Para o neurocientista Antonio Damásio (2000, p. 64), a emoção “[...] designa o conjunto de
reações, muitas delas, publicamente observáveis. Ela ocorre em um contexto de consciência.
Podemos sentir consistentemente nossas emoções, e sabemos que as sentimos”.
Segundo Souza (2008), podemos a princípio definir as emoções como reações instintivas e
comportamentos inatos.
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Representação das emoções primárias, figura retirada da animação “Divertidamente” Fonte: <https://
i1.wp.com/www.medosefobias.com.br/wp-content/uploads/2016/09/afetividade1-400.jpg?w=400>.
As emoções de fundo são mais sutis e mais difíceis de serem observadas no outro, porque
ocorrem internamente. Elas geralmente são induzidas por esforços físicos prolongados. As suas
reações são mais íntimas e seu alvo é mais interno do que externo, também expressadas por
mudanças musculoesqueléticas, posturas sutis do corpo ou na configuração dos movimentos
corporais (DAMÁSIO, 2000).
Damásio (2000) discute a relevância do papel biológico das emoções em relação à consciência
e afirma que as emoções são instrumentos voltados para a sobrevivência. Nos organismos que são
equipados para sentir emoções, ou seja, para ter sentimentos, as emoções têm um impacto sobre
a mente, quando ocorrem, no aqui e agora. Para os organismos que também são equipados com
consciência, os sentimentos são reconhecidos e promovem internamente o impacto da emoção,
isso permite que a emoção e a consciência permeiem o processo de pensamento.
Por fim, a consciência torna possível que qualquer objeto seja conhecido — o “objeto”
emoção e qualquer outro objeto — e, com isso, aumenta a capacidade do organismo
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4.3 Consciência
O que vem a ser a consciência, para Damásio? “[...] consciência começa com um sentimento,
[...] a consciência dá a sensação de ser um sentimento [...]. Ela dá a sensação de ser um padrão
construído com os sinais não verbais dos estados do corpo.” (DAMÁSIO, 2000, p. 394, grifo do autor)
Ainda segundo o autor, “[...] A consciência é uma revelação da existência [...]. Em algum ponto
de seu desenvolvimento, com a ajuda da memória, do raciocínio e, mais tarde, da linguagem, a
consciência também se torna um meio de modificar a existência.” (DAMÁSIO, 2000, p. 398). Logo, se
a consciência começa com um sentimento, ela é privada de emoção, ou seja, ela não se manifesta
publicamente e não pode ser observada por outras pessoas.
É a consciência que nos faz conhecer nossas emoções e nos ajuda a reagir a elas de acordo
com nossa cultura e aprendizado social.
4.4 Sentimento
Segundo Damásio (2000, p. 64), sentimento é uma “experiência mental privada de uma emoção.
Ninguém pode observar os sentimentos que um outro vivencia, mas alguns aspectos das emoções
que originam esses sentimentos serão patentemente observáveis por outras pessoas”.
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CONSCIÊNCIA
O nível básico de regulação da vida – o kit de sobrevivência – inclui os estados biológicos que podem
ser percebidos conscientemente como impulsos e motivações e como estados de dor e de prazer.
As emoções encontram-se em um nível mais elevado e complexo. As setas duplas indicam relação
causal ascendente ou descendente. Por exemplo, a dor pode induzir emoções, e algumas emoções
podem incluir um estado de dor.
Fonte: Damásio (2000, p. 79).
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Confirmando Damásio, o neurobiólogo Maturama (2005, p. 16), afirma que, “[...] biologicamente,
as emoções são dispositivos corporais que determinam ou especificam domínios de ações”. As
emoções são publicamente observáveis. Podemos lê-las nas expressões do corpo, pois os animais
e as pessoas agem de acordo com elas (SOUZA, 2008).
Embora as emoções sejam inatas, Damásio (2004) reitera que o aprendizado e a cultura alteram
nossas expressões das emoções, e isso lhes confere novos significados. Nós, humanos, segundo
Maturana (2005), entrelaçamos o emocional e o racional por meio da linguagem, porque com ela
defendemos e justificamos nossas ações.
Retornando a ideia de que nosso corpo é o teatro das emoções, Damásio (2004) considera que,
quando nos sentimos felizes ou tristes, esses sentimentos são percepções do que nosso corpo
está demonstrando, ou seja, de uma paisagem corporal, e temos consciência disso. Assim como
tomamos consciência de nossas percepções visuais, táteis, auditivas, olfativas, entre outras. Temos
que entender que todas essas percepções vem acompanhadas de “sentimentos de emoções”.
Quando ouvimos uma música ou comemos algo que gostamos, essa percepção vem acompanhada
do sentimento afetivo que temos pela música ou pelo alimento.
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Imaginem quando comemos um bolo que nossa avó costumava fazer para nós quando éramos
criança, conseguimos até nos transportar para cenas vividas na casa de nossa avó, vivenciando
emoções e sentimentos passados naqueles momentos da infância.
[...] a criança influenciada por suas emoções e sentimentos que são inatas, mas
também aprendidas pelo seu meio social, terá consciência de seu corpo, do que
ocorre com ele, assim como terá consciência do mundo ao seu redor por meio
das percepções, e essas serão em grande parte influenciadas pelas emoções e
sentimentos. Se as experiências que ela vivenciar proporcionarem boas percepções
sua aprendizagem será facilitada. (SOUZA, 2008, s/p)
Podemos reiterar as considerações de Souza (2008) apresentando o que afirma Vygotsky (1984,
p. 95) em relação ao aprendizado, o autor afirma que “[...] o aprendizado e o desenvolvimento estão
inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. A criança aprende incidentalmente,
todo o tempo, quando interage com as pessoas, com os objetos e com o meio ambiente ao seu
redor. Vygotsky (1984) ainda reitera que o aprendizado não é desenvolvimento, mas somente um
dos aspectos do processo de desenvolvimento. O aprendizado desperta “processos internos de
desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”
(VYGOTSKY, 1984, p. 101) quando a criança interage com pessoas em seu meio ambiente.
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se manifesta como uma forma peculiar de seu comportamento social com respeito
a si mesma?
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1988, p. 678, grifos nossos),
volitivo é um adjetivo que diz respeito à “volição ou à vontade”, que é “o ato pelo qual a vontade
se determina a alguma coisa”, e a vontade é a “faculdade de representar mentalmente um ato que
pode ou não ser praticado em obediência a um impulso ou a motivos ditados pela razão”. É também
um “sentimento que incita alguém a atingir o fim proposto por esta faculdade; aspiração; anseio;
desejo”. Pode ser a “capacidade de escolha, de decisão”.
A cognição está diretamente ligada à vontade de aprender da criança, que, por sua vez, depende
da motivação intrínseca e da autoestima. Tudo isso deve ser mediado por adultos que respeitam a
criança em suas dificuldades, em sua cultura e em seu meio, e assim o desenvolvimento se dará
mais efetivamente. A cognição, a emoção e a vontade estão imbricadas. Elas são componentes
dos processos mentais, formatam, organizam e dão sentido às nossas ações e comportamentos.
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Damásio (1996, p. 292) traz uma conclusão sobre o desenvolvimento do encéfalo humano que
confirma as considerações anteriores em relação à aprendizagem e ao meio social e cultural de
cada indivíduo, como segue:
Em primeiro lugar, [...] só uma parte das redes de circuitos nos nossos cérebros é
especificada pelos genes. O genoma humano especifica com grande minúcia a
construção dos nossos corpos, o que inclui o design geral do cérebro. Mas nem
todos os circuitos se desenvolvem ativamente e funcionam como se encontram
estabelecidos nos genes. Uma grande parte das redes de circuitos do cérebro, em
grande momento da vida adulta, é individual e única, refletindo fielmente a história
e as circunstancias daquele organismo em particular. Naturalmente que isso não
facilita a revelação dos mistérios neurais. Em segundo lugar, cada organismo humano
funciona em conjuntos de seres semelhantes; a mente e o comportamento dos
indivíduos que pertencem a esses conjuntos e que funcionam em meios ambientes
culturais e físicos específicos não são moldados apenas pela atividade das redes de
circuitos acima mencionadas, muito menos apenas pelos genes. Para se compreender
satisfatoriamente o modo como o cérebro cria a mente e o comportamento humanos,
é necessário considerar seu contexto social e cultural. E é isso que torna a empresa
tão espantosamente difícil.
Mais uma vez vemos a afirmação de que o contexto social e cultural é de fundamental importância
para formação da pessoa. Mesmo o cérebro, que parecia ser algo tão formatado biologicamente,
é influenciado pelo contexto social e cultural e se torna único.
Tudo o que a pessoa vive ao longo de sua vida, a aprendizagem, a linguagem e as habilidades
adquiridas vão delineando seu cérebro de forma a torná-lo único. Isto parece mágico, quase um
milagre, mas é real. O que nos é transmitido culturalmente e pela aprendizagem do dia a dia é de
fundamental importância nessa diferenciação que se faz internamente.
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ATIVIDADE REFLEXIVA
“Em 1937 que o sistema límbico foi identificado como o responsável pela regulação das emoções,
quando o neuroanatomista James Papez publicou um trabalho ainda de cunho especulativo; hoje
há um consenso entre os pesquisadores da área de que o sistema límbico é o responsável pela
regulação emocional no ser humano (Machado, 2002).
Afirma-se também que é nesse sistema que se encontra a base biológica da vulnerabilidade ao stress
(Anthony & Cohler, 1987; Friedman, Charney & Deutch, 1995; Pfeffer,1996).
Fonte: BENZONI, Paulo Eduardo; LIPP, Marilda Emannuel Novaes. Interação entre práticas parentais
e sensibilidade límbica na determinação do stress crônico. Boletim - Academia Paulista de
Psicologia, v. 29, n. 2, dez. 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1415-711X2009000200011>. Acesso em: 21 ago. 2017.
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A partir dos sentidos captamos o mundo ao nosso redor, e disso ninguém tem dúvida, pois
com as informações captadas e processadas conseguimos entender e determinar o ambiente em
que vivemos. Nossos sentidos a princípio são visão, audição, paladar, olfato e tato, e os sentidos
corporais são o proprioceptivo ou cinestésico (percepção muscular do corpo no espaço, articulações)
e o vestibular (equilíbrio).
Na maioria dos casos utilizamos sempre mais de um sentido para avaliarmos as situações ou
“sentirmos” o que estamos fazendo ou o que está acontecendo ao nosso redor. Imaginemos uma
cena cotidiana: no momento de nosso banho, temos a água caindo sobre nosso corpo, que pode
estar quente, morna ou fria; o sabonete que passamos em nosso corpo é mais liso ou mais áspero
e tem seu perfume. Essas são sensações que, para sentirmos, temos que usar vários de nossos
sentidos, como o tato, o olfato e mesmo a audição, ouvindo o som da água saindo do chuveiro caindo
sobre nosso corpo e de nosso corpo no chão... nosso cérebro está nesse momento recebendo todas
essas informações/sensações, decodificando-as, integrando-as e dando feedback para avaliarmos
se a água está muito quente, por exemplo, ou muito fria para o dia de inverno. Esse processo em
nosso cérebro é chamado de percepção.
Trataremos cada um de nossos sentidos como sistemas sensoriais. Para a codificação sensorial,
cada um desses sistemas possuem “células especializadas em órgãos dos sentidos, denominadas
receptores.” (NOLEN-HOEKSENA et al., 2012, p. 103)
Esses sistemas evoluíram para captar informações sobre cada objeto e evento do mundo. Quais
informações precisamos saber sobre um evento como uma luz piscante? Sua intensidade (brilho),
sua cor, de onde vem (localização), a frequência de sua intermitência (breve ou longo) e cada um de
nossos sistemas sensoriais nos fornecerá informações sobre esses diversos atributos. Isso está
relacionado à codificação da intensidade e da qualidade das informações captadas pelos sistemas
sensoriais.
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Como podemos observar no esquema (Figura 34), os sistemas sensoriais captam os estímulos.
Primeiramente é apenas uma sensação. Com o processamento do cérebro, esses estímulos são
integrados e nominados e podemos chamá-los de percepções. Essas percepções influenciam
nossos comportamentos. Os sistemas sensoriais de nosso corpo ajudam no controle visceral e
influenciam também nosso comportamento.
5.1 A visão
A visão é um dos nossos sentidos de distância, juntamente com a audição e o olfato. Ele é o
mais especializado e adaptado de nossos sentidos de distância.
Cada um dos nossos sentidos reagem a uma forma particular de energia física. Para nossa
visão, o estímulo é a luz. “A luz é uma forma de energia eletromagnética – uma energia que emana
do sol e do restante do universo e banha o nosso planeta constantemente.” (NOLEN-HOEKSENA
et al., p. 105). A energia eletromagnética apresenta-se em ondas que variam de 4 trilionésimos de
um centímetro até vários quilômetros. Nossa visão capta o equivalente a aproximadamente 400
a 700 nanômetros, sendo que um nanômetro corresponde a bilionésima parte de um metro. “A
energia eletromagnética visível – a luz, portanto – constitui apenas uma pequena parte da energia
eletromagnética.” (NOLEN-HOEKSENA et al., p. 105).
O sistema visual é composto pelos olhos, várias partes do cérebro e as vias que as conectam.
Os olhos, como podemos ver na Figura 35, possui vários componentes/partes que necessitam
estar preservadas para seu perfeito funcionamento. A parte anterior de nossos olhos é composta
pela córnea, pupila e íris, além, logo atrás, do cristalino (lente) e do humor vítreo. Ao fundo temos
a retina e o nervo óptico como principais componentes.
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Todas essas partes dos olhos são responsáveis por captar as imagens do mundo utilizando-se
da luz, e o nervo óptico conduzirá os estímulos para serem decodificados no cérebro.
• Córnea – Superfície frontal transparente do olho, por ela passam os raios luminosos defletidos,
o que dá início ao processo de formação da imagem.
• Pupila – É uma abertura circular entre a córnea e o cristalino, cujo diâmetro varia em função
do nível de luz presente. Quando a luz está fraca, ela se abre, quando em luz plena, ela se
fecha, deixando passar a quantidade de luz suficiente através do cristalino para a formação
da imagem.
• Cristalino – É como uma lente. Ele muda de formato, fica mais esférico ou menos esférico,
para focalizar objetos mais distantes ou mais próximos.
FIGURA 35 - A estrutura do olho
Na Figura 36 podemos observar como ocorre a captação das imagens pelo nervo óptico e como
os impulsos são conduzidos para o cérebro. As imagens capturadas pelo campo visual esquerdo
são enviadas para o lado direito do cérebro, e as capturadas pelo campo visual direito são enviadas
para o lado esquerdo do cérebro.
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Todo o processo de transmissão dos impulsos nervosos para o cérebro chama-se transdução
sensorial, que é a capacidade de todo receptor sensorial transformar a energia de um estímulo em
um sinal biológico (elétrico).
[...] vários tipos de receptores neurais que se espalham pela retina, de forma semelhante
à maneira pela qual os fotodetectores se espalham sobre a superfície da imagem
de uma câmera digital. Há dois tipos de células receptoras, bastonetes e cones,
denominadas assim devido às suas formas distintas, mostradas na figura .... [...] A
retina também contém uma rede de outros neurônios, com células de apoio e vasos
sanguíneos. (NOLEN-HOEKSEMA, 2012, p. 106).
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• Bastonetes – são utilizados para a visão noturna. Eles funcionam em intensidades baixas e
ocasionam baixa resolução e sensações sem cores.
• Cones – São específicos para a visão diurna. Eles reagem a altas intensidades e resultam em
sensações de alta resolução que incluem cores.
FIGURA 37 - Transdução visual
Cones e bastonetes são os dois tipos de células na retina que contêm pigmentos em seu interior.
Quando os pigmentos são estimulados, eles geram modificações energéticas que são
transmitidas às células sensitivas, cujos prolongamentos se reúnem, formando o nervo
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As células ganglionares se estendem para fora do olho para moldar o nervo óptico e ligar-se
ao cérebro. No ponto onde o nervo óptico deixa o olho não há receptores, ou seja, há um ponto
cego. Nosso cérebro preenche automaticamente esse ponto, por isso não o percebemos (NOLEN-
HOEKSEMA, 2012).
Na região da fóvea há uma concentração de receptores. Ela é uma região no centro da retina.
Quando queremos ver detalhes em um objeto, movemos nossos olhos para que o objeto seja
projetado para essa região.
A pupila e as alterações fotoquímicas que ocorrem nos receptores de luz são responsáveis pelas
adaptações de nossos olhos ao escuro. Quando saímos de um ambiente iluminado e entramos em
um ambiente escuro, demoramos um pouco para adaptar nossos olhos à pouca luz. A princípio,
praticamente não enxergamos nada, mas aos poucos nossos olhos vão se adaptando à penumbra e
conseguimos enxergar os objetos que estão a nossa volta e, com o passar do tempo, até distinguir
o rosto das pessoas. Lembre-se de nossas experiências quando entramos em uma sala de cinema,
por exemplo.
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mas nem sempre essa tabela é a mais indicada para medir a acuidade visual, pois com crianças e
pessoas que não sabem ler, ela não funcionará, além de que o método foi desenvolvido para testar
a acuidade de objetos vistos a distância, e não a acuidade para a leitura e outras atividades a curta
distância, logo deve-se usar outros testes para essas situações.
A visão das cores – nosso sistema visual faz algo extraordinário para podermos ver as cores.
Todas a luz visível é semelhante, logo para vermos as cores, nosso sistema visual transforma o
comprimento da onda em cores. “A visão de cores é compreendida por meio da teoria tricromática,
a qual defende que a percepção de cores é baseada na atividade de três tipos de receptores de
cone. [...].” (NOLEN-HOEKSEMA, 2012, p. 117).
Apesar da visão da cor ser uma experiência subjetiva, pois é o resultado da análise de nosso cérebro
do comprimento das ondas, ela também é objetiva na medida em que dois ou mais “observadores
com os mesmos tipos de receptores de cores (cones)” (NOLEN-HOEKSEMA, 2012, p. 110) conseguem
interpretar a mesma cor em um objeto.
Podemos organizar nossas experiências com cores em três dimensões: nuance, brilho e saturação.
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Para termos ideia da importância das cores em nossas vidas, temos cerca de 7.500 cores
nominadas e, levando em consideração o brilho e a saturação, o sistema visual pode distinguir um
número superior a 7 milhões de cores.
Temos uma segunda teoria sobre a percepção de cores, a das cores oponentes. Há quatro
sensações de cores básicas: vermelho, amarelo, verde e azul. A teoria de cores oponentes propõe
que há processos oponentes de cores vermelha-verde e amarela-azul, cada um deles reagindo de
forma oposta às suas duas cores oponentes. As teorias tricomática e de cores oponentes têm sido
combinadas com sucesso, considerando-se a proposta de que operam em diferentes localizações
neurais do sistema visual.
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5.2 A audição
FIGURA 38 - A audição
Em relação à frequência, as ondas sonoras (o som) são medidas por hertz, que é a frequência
do tom, o número de ciclos por segundo. Os tons de alta frequência assumem ondas senoidais de
alta frequência, e os tons de baixa frequência assumem as ondas senoidais de baixa frequência.
A sensação de sonoridade diz respeito à amplitude do som, e este é medido em decibéis. Os sons
tem amplitudes diferentes, por exemplo, um sussurro cerca de 30 decibéis, e um avião decolando
pode produzir mais de 140 decibéis.
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Assim como o sistema visual, o sistema auditivo tem componentes que captam o som, ampliando-o
e transmitindo-o para os receptores. A maior parte desse sistema está localizado dentro da caixa
craniana.
O sistema de transmissão é composto pelo ouvido externo ou pavilhão, com o canal auditivo
e o ouvido médio, que consiste no tímpano e três ossículos, o martelo, a bigorna e o estribo. “O
sistema de transdução é abrigado em uma parte do ouvido interno, chamada cóclea, que contém
os receptores de som.” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 118).
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• O ouvido externo auxilia na coleta do som, conduzindo-o do canal auditivo até uma membrana
firme, o tímpano.
• O tímpano, a parte mais externa do ouvido médio, é levado a vibrar por ondas sonoras conduzidas
até ele através do canal auditivo.
• O ouvido médio transmite as vibrações do tímpano através de uma cavidade cheia de ar para
outra membrana, a janela oval, que é a porta de entrada para o ouvido interno e os receptores.
• Martelo, bigorna e estribo: três ossículos que fazem a transmissão mecânica do som no ouvido
médio, transmitindo e ampliando o som.
• Cóclea: tubo espiral de osso, dividida em seções de líquidos e membranas.
• Membrana basilar: sustenta os receptores auditivos, são chamados de células capilares, pois
têm estruturas semelhantes aos cabelos, que se prolongam até o líquido.
A pressão na janela oval (que conecta o ouvido médio e o interno) acarreta alterações
de pressão no líquido da cóclea, o qual, por sua vez, faz com que a membrana basilar
vibre, resultando em uma curvatura das células capilares e um impulso elétrico.
Por meio desse processo complexo, a onda sonora é então convertida em impulsos
elétricos. Os neurônios que fazem sinapse com as células capilares possuem axônios
longos que fazem parte do nervo auditivo. A maioria desses neurônios auditivos se
conecta a células capilares isoladas. [...] A via auditiva de cada ouvido segue para
ambos os lados do cérebro e faz sinapses em vários núcleos antes de alcançar o
córtex auditivo. (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 119).
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SAIBA MAIS
O vídeo “A natureza do som e do ouvido humano” apresenta como o ouvido reage as ondas sonoras e
vibrações: <https://www.youtube.com/watch?v=wsCIl5ehL0c>.
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5.3 O olfato
FIGURA 41 - O olfato
O olfato não é considerado como um “sentido superior” como a audição e a visão, mas ele auxilia
na sobrevivência de nossa espécie: “[...] ele é necessário para a detecção de alimentos estragados
ou vazamento de gás, e a perda do sentido olfato pode levar à falta de apetite” (NOLEN-HOEKSEMA
et al, 2012, p. 123). A área ocupada no cérebro responsável pelo olfato varia de espécie para espécie.
No homem ela ocupa aproximadamente a vigésima parte do que ocupa no cérebro de um cão, por
exemplo.
Diferentemente dos sistemas visuais e auditivos, que os receptores estão protegidos, no sistema
olfativo os receptores dos cheiros estão na cavidade naval ligados diretamente ao cérebro, sem
mediações sinápticas.
Os receptores olfativos são cobertos por substância oleosa. Por isso as moléculas voláteis que
deixam as substâncias e entram na cavidade naval devem ser solúveis em gordura.
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Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_EOeMSfWG13s/TIlqpFZLO5I/AAAAAAAAABY/LMEd8puod5I/s320/NAZO.jpg>.
Nosso sistema gustativo não é considerado um dos principais. Nem sempre damos a ele seu
real valor, mas sua importância está em podermos avaliar os sabores dos alimentos em conjunto
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com o sistema olfativo. Imaginem quanto valioso esses sistemas sensoriais eram para nossos
antepassados que passaram por épocas em que não conheciam todos os alimentos in natura e
tinham que prová-los para avaliá-los, e assim o nosso paladar foi com o tempo se especializando
para hoje termos consciência dos sabores dos alimentos que estamos comendo.
FIGURA 43 - A língua
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Fonte: <http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/09/colunistas/feres_chaddad_
neto/389731-a-geografia-da-lingua-e-a-percepcao-dos-sabores.html>.
5.5 O tato
FIGURA 45 - O tato
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Nosso tato é constituído por nossa pele, que é considerada o maior órgão de nosso organismo
e é composta por derme e epiderme.
A epiderme é a camada mais superficial da pele, menos espessa e com células epiteliais
estratificadas. A derme é a camada mais profunda, é densa e composta por uma rede tecido fibroso
e elástico. Nossa pele ainda possui os pelos e as glândulas sebáceas e sudoríparas, a primeira com
a função de lubrificar a pele e a segunda de secretar o suor.
Fonte: <https://belezanoar.net/2016/08/03/citologia-e-histologia-celulas/>.
Nas regiões providas de pelo temos terminações nervosas que captam as forças mecânicas
aplicadas contra o pelo, como os receptores de Ruffini, que são receptores de calor.
Nas regiões desprovidas de pelo, assim como naquelas que estão cobertas de pelos encontramos
três tipos de receptores comuns:
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Há ainda na pele:
Fonte: <http://cdn.portalsaofrancisco.com.br/wp-content/uploads/2016/08/tato-h3.jpg>
Como podemos observar, nosso tato é responsável pelo recepcionar diferentes sensações –
calor, frio, dor, toques sutis ou pressões mais acentuadas. Essas sensações são transmitidas para
nosso cérebro e processadas no lobo parietal, responsável pela sensação de dor, tato, gustação,
temperatura e pressão.
Podemos afirmar que com o sistema tátil nosso organismo tem a habilidade de receber e
interpretar estímulos através do contato com a pele. Tem-se formulado teorias sobre como o sistema
tátil se desenvolve ainda antes do nascimento. O sentido do tato é importante no desenvolvimento
da consciência corporal.
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protetor, por sua vez, provê-nos de informações sobre como somos tocados (por exemplo: toque
suave, pressão profunda, temperatura ou dor). O sistema protetor é responsável pelo corpo evitar
automaticamente aquele toque que lhe pareça ruim.
Uma pessoa com um problema do sistema tátil pode ser hipo ou hipersensível ao toque ou
pode ter uma discriminação tátil pobre. Uma pessoa hipossensível pode não estar consciente de
que lhe tocam ou pode não reagir apropriadamente às experiências dolorosas (cortes, golpes). Uma
pessoa hipersensível pode parecer agressiva com os outros: pode evitar a terra, a areia ou projetos
artísticos ou pode ter dificuldade para completar uma tarefa devido à necessidade de proteger a si
mesma, com medo da entrada tátil que virá.
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com a habilidade de prestar atenção a uma tarefa. Estimulação apropriada a este sistema pode
prover um efeito calmante e preparar o cérebro para concentrar sua atenção.
Sistemas vestibulares imaturos podem reacionar de duas maneiras. Algumas crianças são
extremamente sensíveis a qualquer atividade de movimento e ficam aterrorizadas com a ideia de
participar em qualquer atividade física. Por outro lado, algumas crianças não processam informações
vestibulares suficientes. Estas crianças nunca parecem tontas e adoram as atividades que provoquem
estimulação sensorial. Parece que não existe uma atividade que as deixe tontas. Uma criança
com baixa visão e múltipla deficiência pode mexer-se continuamente ou dar voltas em círculos
de maneira autoestimulante. Isto pode ser interpretado como um sistema nervoso imaturo que
necessita de estímulo vestibular. Quando ele é provido com uma informação sensorial apropriada,
aquela atitude tende a diminuir.
A estimulação vestibular é uma fonte de informação forte para o sistema nervoso. Pode ser
estimulada de diferentes maneiras, muitas das quais são simples. Devemos ter cuidado – como
em qualquer tipo de atividade – de protegê-los contra quedas e lesões. Em todas as atividades
vestibulares a criança deve estar no controle. Permita que seja ela quem decida quanto de estímulo
pode tolerar. Crianças com uma desordem que provoque convulsões não devem participar de
atividades de rodopio. Isso é contraindicado e poderia causar as mencionadas convulsões. Essas
crianças podem beneficiar-se de estímulos vestibulares, porém estes devem ser providos de maneira
linear (movimentos para frente e para trás, ou de um lado para outro).
Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-ROd5sIQ6QDM/UaTr9cX8IzI/AAAAAAAAARg/
WHhIQPssPDI/s400/alt=sistema+vestibular.png>.
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Segundo Lent (2001), a propriocepção refere-se a percepção do próprio corpo, o que propicia
a consciência da postura, do movimento, das diferentes partes de nosso corpo e das mudanças
de equilíbrio que ocorrem durante os movimentos. Ela também se refere ao posicionamento das
articulações e das sensações dos movimentos. Ainda se conhece pouco sobre a propriocepção,
apesar de ser muito estudada.
O sistema proprioceptivo tem como receptores os proprioceptores, eles estão localizados nas
articulações, músculos, tendões, cápsulas e ligamentos. As sensações captadas pelos proprioceptores
são enviadas ao sistema nervoso central pelas vias aferentes, “[...] de modo consciente ou inconsciente,
e estas podem influenciar o tônus muscular, programas de execução motora, coordenação, cinestesia,
reflexos musculares, equilíbrio postural e estabilidade articular” (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL.
2003, p. 215).
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FIGURA 51 - Propriocepção
Representação dos receptores que desempenham, em simultâneo, a função de detectar todas as variações
mecânicas e de enviar a informação recolhida ao sistema nervoso central. Fonte: <http://4.bp.blogspot.
com/_7H9r_7bo6nc/SlgHt2VqyBI/AAAAAAAAA3g/Z5i1zzF4JRQ/s400/sc_proprioception.jpg>
Quando ocorre algum tipo de alteração no sistema proprioceptivo, o organismo apresenta alguns
sintomas variados, que podem ser:
• Dor: pode surgir como cefaleia, enxaqueca, dor muscular, na planta dos pés, pescoço e ou
costas.
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5.8 Percepção
Os nossos sentidos captam e enviam para o cérebro informações brutas do meio ambiente em
que vivemos. A percepção é o que vai organizar e integrar essas informações, ou seja, ela vai nos
ajudar a fazer “suposições de como o mundo se junta” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 138).
O que isso significa? Que tudo o que se apresenta à nossa volta tem certa lógica. Não podemos
conceber um elefante sobre uma geladeira em nossa cozinha, por exemplo. Quando pensamos em
uma cozinha comum vemos um fogão, uma geladeira, uma pia e talvez um microondas sobre um
armário. Logo nossa percepção dessa realidade ou dessas cenas cotidianas é repleta de “suposições
para integrar o mundo, com base no qual tomamos decisões e agimos”. (NOLEN-HOEKSEMA et al.,
2012, p. 138).
5.8.1 Atenção
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Esses processos interagem para compor a atenção, quando queremos prestar atenção a um
objeto ou som, dirigimos nossa atenção visual ou auditiva, a esses atos denominamos atenção
seletiva, que “[...] é o processo por meio do qual selecionamos os estímulos para processamento
ulterior enquanto ignoramos outros. Na visão, o meio primário de direcionar nossa atenção são os
movimentos dos olhos” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 141).
Essa capacidade de atenção seletiva, que nos faz ignorar partes dos estímulos que estão a
nossa volta, ajuda nosso cérebro a reduzir a quantidade de processamento de informações até
um ponto em que possa ser administrado pelo cérebro, e, ao mesmo tempo, na maioria dos casos,
não conseguiremos nos lembrar das informações que não foram selecionadas para prestarmos
atenção, pois elas não foram processadas pelo cérebro.
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Fonte: <http://www.meusmiolos.com.br/wp-content/uploads/2015/11/
aten%C3%A7%C3%A3o-seletiva-221x300.jpg>.
5.8.2 Localização
Localizar um objeto requer também que saibamos sua distância até nós. Esta forma
de percepção, conhecida como percepção de profundidade, não é tão fácil porque
não está disponível na imagem retinal. Nós temos uma variedade de sugestões de
profundidade, seja monocular e binocular, que nos permite fazê-lo. (NOLEN-HOEKSEMA
et al., 2012, p. 149).
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O que vemos primeiro? O vaso ou os rostos? Mesmo que queiramos e sabemos que as duas imagens
estão presentes, nossa percepção visual distingue uma ou a outra imagem de cada vez. Imagem do vaso
de Rubin, onde em apenas uma imagem temos duas formas de ver. Essa imagem se refere à teoria da
psicologia Gestalt. Fonte: <http://psicoativo.com/wp-content/uploads/2016/09/Vaso-de-Rubin.png>.
5.8.3 Reconhecimento
Para reconhecermos um objeto, precisamos ter atenção, e ele requer que várias características
associadas ao objeto, como cores e formas, estejam corretamente vinculadas entre si. Geralmente
utilizamos como auxílio os aspectos globais da cena.
Há dois processos-chaves para o reconhecimento de objetos: o bottom-up (de baixo para cima)
e o top-down (de cima para baixo). “Os processos bottom-up são movidos somente pelo input – os
dados brutos, sensoriais –, considerando que os processos top-down são movidos pelo conhecimento
da pessoa, sua experiência, atenção e expectativas.” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 156).
Na maioria das vezes utilizamos no reconhecimento o processo bottom-up por meio dos inputs
dos dados brutos sensoriais, ao passo que o processo top-down também tem importante papel na
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O reconhecimento de faces pelos seres humanos passa por processos diferentes do que o
reconhecimento de objetos. Os homens desenvolveram uma capacidade excepcional para reconhecer
faces, pois, diferentemente dos objetos que podem ter formas e cores diferentes, os rostos mantêm
uma configuração parecida – possuem dois olhos, um nariz e uma boca, na mesma posição.
Uma pessoa que sofre um dano cerebral e passa a ter a chamada prosopagnosia não consegue
reconhecer rostos, mas continua reconhecendo objetos. Também é difícil reconhecermos rostos
quando apresentados de cabeça para baixo.
Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/-MNPGrIrf-_w/VZsKsWJ32sI/
AAAAAAAABVs/QJxK8mOPz6Q/s400/coelho-ou-pato.jpg>.
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5.8.4 Abstração
As abstrações ocupam menos espaço em nosso cérebro do que as sensações brutas que
recebemos dos órgãos sensoriais. Podemos comparar com um computador. Se fazemos um
desenho no Paint à mão livre, quando o salvamos, ele tomará, por exemplo, 60 Kb de espaço, ao
passo que se o mesmo desenho for feito com formas do próprio programa, como círculos, linhas,
quadrados, retângulos, ela tomará, por exemplo somente 20 kb de espaço. O mesmo acontece em
nosso cérebro.
Necessitamos das constâncias perceptivas “[...] para manter a aparência dos objetos igual, apesar
das grandes variações nas representações iniciais dos estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais
que são engendrados pelos diversos fatores ambientais.” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 168).
O que isso significa? Que nosso cérebro, apesar de receber informações variadas dos órgãos
sensoriais sobre um objeto que reconhecemos, consegue manter nossa percepção sobre esse
objeto invariável.
O mesmo ocorre com a constância de cor e brilho, percebemos a cor e o brilho de um objeto,
mesmo que eles possam estar alterados pela luz do ambiente.
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Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-xGI9ARpKqWI/TqTQUzjMWTI/
AAAAAAAAAPM/aeN6vfeqmK4/s400/ilusao-otica02.png>.
Os pesquisadores investigaram o desenvolvimento perceptivo para entender até que ponto essas
habilidades perceptivas são inatas ou aprendidas pela experiência. Para isso, estudam as habilidades
de discriminação dos bebês e já comprovaram que, a partir dos seis meses, as capacidades de
constâncias perceptivas começam a ser desenvolvidas.
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Os seres humanos têm uma capacidade incrível de aprender uns com os outros. Esta habilidade já
é evidente a partir do primeiro ano de vida da criança, quando elas podem aprender o significado
de uma nova palavra observando poucas vezes seu uso, bem como as funções de um novo objeto
simplesmente vendo outras pessoas interagindo com ele. O aprendizado rápido e extensivo que
ocorre na infância sugere que muito do que os humanos vêm a conhecer e acreditar se forma por
nossos encontros com outras coisas e pessoas. Mas será nossa capacidade de perceber as coisas
e as pessoas o resultado do aprendizado? Ou a percepção se origina de processos de crescimento
gerados intrinsecamente e se desenvolve em uma independência relativa dos encontros das pessoas
com as coisas que percebem?
Ao longo de dois milênios, a maioria dos pensadores que ponderou esta questão favoreceu sua
visão de que os humanos aprendem para perceber e que o curso do desenvolvimento procede
de sensações sem estrutura e sem significado para percepções estruturadas e significativas. A
pesquisa realizada com bebês humanos, contudo, mostra evidências contrárias a esta opinião. Por
exemplo, agora sabemos que bebês recém-nascidos percebem a profundidade e usam informações
sobre a profundidade como fazem os adultos, para entender os verdadeiros tamanhos e formas dos
objetos. Os bebês recém-nascidos dividem os fluxos da fala nos mesmos tipos de moldes de sons
que os adultos fazem, focando o conjunto particular de contrastes de sons usados pelas linguagens
humanas. Os bebês recém-nascidos diferenciam rostos humanos de outros modelos e preferem os
primeiros aos outros. Por fim, bebês recém-nascidos são sensíveis a muitas das características dos
objetos que os adultos usam para diferenciar uns aos outros, e eles parecem combinar informações
características da mesma forma que fazem os adultos.
Como a percepção muda depois do período da primeira infância? Com o desenvolvimento, os bebês
percebem a profundidade, os objetos e rostos com crescente precisão. Os bebês começam também
a focar os contrastes da fala que são relevantes para sua própria linguagem em preferência aos
contrastes da fala relevantes para outras linguagens. (É interessante destacar que este foco parece
resultar mais do declínio na sensibilidade a contrastes de idiomas estrangeiros que do aumento
na sensibilidade aos contrastes do idioma nativo). Por fim, os bebês se tornam mais sensíveis a
novas fontes de informações sobre o ambiente, tais como informações estereoscópicas para a
profundidade, informações de configuração para limites de objetos e novas estruturas de referência
para encontrar objetos e eventos. Esses desenvolvimentos trazem grande precisão e riqueza à
experiência perceptiva dos bebês, porém não mudam o mundo do bebê de um fluxo insignificante de
sensações para um ambiente estruturado e significativo.
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As descobertas dos estudos realizados com bebês humanos ganham ulterior apoio de estudos
sobre o desenvolvimento perceptivo em outros animais. Desde o trabalho pioneiro de Gibson e Walk,
sabemos que a percepção da profundidade se desenvolve sem a experiência visual em todos os
animais testados: as habilidades inatas de perceber a profundidade permitem que cabras recém-
nascidas não caiam dos penhascos e permitem que ratos e gatos criados no escuro não batam
contra as superfícies das quais se aproximam. Estudos mais recentes revelam que galinhas recém-
nascidas percebem os limites dos objetos como fazem os adultos humanos, e até representam
a existência continuada dos objetos que estão escondidos. Estudos realizados em cérebros de
animais em desenvolvimento revelam que tanto os genes como a atividade neural intrinsecamente
estruturada são cruciais para o desenvolvimento do funcionamento normal dos sistemas perceptivos,
mas os encontros com os objetos de percepção – coisas externas e eventos – têm um papel bem
inferior. Como ocorre com bebês humanos, a experiência visual normal enriquece e harmoniza os
sistemas perceptivos de animais jovens e a experiência visual anormal pode perturbar fortemente
seu funcionamento. Como ocorre em bebês humanos, contudo, outros animais não precisam
da experiência visual para transformar o mundo perceptivo de uma vazão de sensações não
estruturadas para uma disposição visual estruturada.
Fonte: NOLEN-HOEKSEMA, Susan et al. Introdução à psicologia. 15. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2012. p. 177-188.
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6. LINGUAGEM E PENSAMENTO
FIGURA 56 – Linguagem mãe e bebê - Maternagem
Fonte: <http://disneybabble.uol.com.br/sites/default/filesBR/uploads/7641/
CA-bebe-muda-vida-mae-chegada-bebe-2-D-732x412.jpg>.
O desenvolvimento da linguagem faz parte das aprendizagens da criança desde sua tenra idade.
Ele se dá nos momentos de interação com os adultos, outras crianças e com os objetos em seu
meio social e cultural.
Fröbel (ver o boxe Saiba mais) foi um dos precursores da educação infantil. Ele afirmava que o
adulto é o mediador para a criança no processo de aquisição de linguagem, o adulto nomeia e dá
significado a objetos e ações. Quando brincamos com a criança e nomeamos a ação, os locais,
dando condições para a criança entender o fenômeno e sua denominação. Outro ponto importante
para Froebel é que a criança deve ter um sentimento de pertencimento em relação à comunidade.
Geralmente isso se inicia na família. Somente com esse sentimento a criança consegue desenvolver
plenamente sua linguagem (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
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SAIBA MAIS
A mãe, segundo Fröbel, interage com a criança pequena todo o tempo, durante o cuidado
pessoal, trocas de roupa, banho, a alimentação, nomeando as partes do corpo, e isso auxilia o
“desenvolvimento da linguagem e a consciência de si e das partes de seu corpo” (KISHIMOTO;
PINAZZA, 2007, p. 47).
[...] o bebê encontra sua mãe na brincadeira antes de começar a viver na linguagem.
Todavia, a mãe humana pode encontrar o bebê na linguagem e no brincar, pois já
está na linguagem quando começam as conversações que constituem o seu bebê.
J. Bruner afirma que a “mãe dispõe de um saber que a criança ainda não tem completamente,
ou que tem apenas no sentido primitivo. Para auxiliar nesse processo, a mãe usa diferentes formas
de diálogo por andaimes (BRUNER, 1978 apud KISHIMOTO, 2007, p. 260, grifo nosso)
Fröbel menciona também as brincadeiras interativas, que seriam aquelas de esconder objetos
e perguntar à criança onde está, esperar que ela procure e dê a resposta, e a afirmação do acerto
ou erro vem do adulto como feedback.
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prazeroso com situações marcadas por uma pergunta, uma resposta e um feedback.
(KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 51).
Essa dinâmica de “minha vez - sua vez” é uma das bases da linguagem e do diálogo, além da
formação de conceitos de lugar, nomes de objetos e ações. As brincadeiras interativas trazem todas
essas possibilidades de aquisição e ampliação da linguagem. J. Bruner também se refere ao jogo
como “[...] uma forma de caracterizar o diálogo, com papéis, turnos de pegar, iniciar e responder”
(KISHIMOTO, 2007).
Mãe brincando de esconde-esconde com seu filho e estimulando a criança com essa brincadeira
Fonte: <http://www.tempojunto.com/wp-content/uploads/2015/09/brincadeira-com-o-
bebe-no-espelho-para-estimular-os-sentidos-brincadeira-do-cade-1024x678.jpg>
Quando as brincadeiras acontecem com o uso de objetos e brinquedos, começa uma nova fase
do brincar e da aquisição da linguagem, pois a criança observa e interage com objeto, e o adulto
nomeia o movimento (por exemplo, “jogar a bola” e a ação “pegar a bola”), que leva ao “brincar-
palavra” a que Fröbel se refere. A criança adquire o saber-fazer nas ações, compreende o fenômeno
e a sua denominação, e a aquisição da linguagem o acompanha. (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
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O homem, segundo Vygotsky (1998), desenvolveu sua linguagem pela necessidade de comunicação
com seu grupo. “A vivência pessoal, ou seja, suas experiências particulares para serem compartilhadas
necessitavam ser traduzidas em signos, simples e generalizantes, para serem transmitidas aos
outros.” (SOUZA, 2009, p. 168).
Segundo Maturana (2005) o viver na linguagem surgiu na história evolutiva do homem. Para o
autor, “[...] o conversar (linguajear - linguagem) é resultado da intimidade do viver em comunidade,
ou seja, de seus relacionamentos socioculturais”. (SOUZA, 2009, p. 168).
Vygotsky (1998) corrobora Fröbel quando afirma que a criança começa a dar significado às
coisas, a partir de sua ação sobre o objeto, que é o que dará as propriedades dos objetos. Essa
ação sobre o objeto dará à criança as experiências necessárias para a formação do conhecimento.
Quando uma criança leva à boca um objeto, balança-o, agita-o, atira-o, todas estas
ações trarão informações acerca de cor, forma, tipo de material, peso, tamanho,
etc. Depois ela começará a fazer as comparações e relações entre os objetos para
conceituar grande/pequeno, leve/pesado, etc. (SOUZA, 2005, p. 28).
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informações das mais variadas fontes e capta essas informações com seus sistemas sensoriais,
aprendendo, em muitos casos incidentalmente, e isso ocorre quando ela interage com as pessoas,
os objetos e com tudo o que ocorre ao seu redor.
J. Bruner utiliza o termo “andaime” para a Zona de Desenvolvimento Proximal. Ele ocorre na díade
mãe-filho, em que o adulto nomeia o objeto de interesse apontado pela criança, em livros ilustrados
ou objetos reais, ajudando no desenvolvimento da narrativa da criança (KISHIMOTO, 2007).
Vygotsky (1984) afirma que o aprendizado não é desenvolvimento, mas somente um dos aspectos
do processo de desenvolvimento. Ele desperta “processos internos de desenvolvimento das funções
psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas” (VYGOTSKY, 1984, p. 101),
quando a criança interage com pessoas em seu meio ambiente, um exemplo disso é a linguagem.
A linguagem se inicia como uma forma de comunicação entre ela e as pessoas de seu convívio e
depois se torna um organizador de seu pensamento.
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Sendo assim, o brincar é importantíssimo para o desenvolvimento da criança, pois nele, com
a interação com os objetos, situações e as pessoas que brincam com ela, a criança se desenvolve
em todos os sentidos.
CONCLUSÃO
Apresentamos um panorama do que é a neurociência voltada para a área educacional com
a apresentação de conceitos básicos sobre o que é a neurociência e como ela se consolidou
historicamente.
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A plasticidade neural foi assunto discutido no sentido de entendermos como nosso cérebro
se organiza e se reorganiza durante o desenvolvimento do homem, desde a concepção até a vida
adulta, tornando-se único de acordo com nossas experiências e aprendizagens.
O sistema límbico foi explicado em suas estruturas e funções para entendermos a importância
das emoções, do afeto, da consciência, da vontade, da cognição e tantos outros componentes que
são processados nele e são peças fundamentais para as aprendizagens humanas.
Para fecharmos, o desenvolvimento da linguagem foi discutido com autores que a relacionam com
a mediação e o brincar, ações cruciais para a aquisição de linguagem e consequente aprendizagem
das crianças em fase de desenvolvimento.
GLOSSÁRIO
Detrimento: Substantivo masculino que significa dano, prejuízo, perda. Também é sinônimo de
estrago, quebra e desvantagem (fonte: <https://www.significados.com.br/detrimento/>).
Uníssono: Que está em concordância com; unânime. / Que não apresenta diferenças; semelhante
(fonte: <https://www.dicio.com.br/unissono/>).
Volitivo: Que resulta da vontade; determinado pela vontade ou causado por ela; em que há intenção
(fonte: <https://www.dicio.com.br/volitivo/>).
Imbricado: Unido tão perfeitamente que se confunde com outro; entrelaçado (fonte: <https://www.
dicio.com.br/imbricado/>).
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