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APOSTILA

NEUROCIÊNCIA
NEUROPSICOLOGIA

Organizado por Prof. Dra. Luciana Gaudio Martins Frontzek

Neuropsicóloga e pós doutora em intervenções clinicas e sociais

Belo Horizonte

2020

1
SUMÁRIO

Pra começo de conversa....................................... 3


O SISTEMA NERVOSO........................................... 4
O Sistema Nervoso .................................................................................................................... 5
Exames Especiais do SNC .......................................................................................................... 8
Lobos cerebrais e suas especializações .......................................................................... 10
Neurotransmissores: principais tipos e funções biológicas desempenhadas......................... 13

Histórico da neuropsicológica e da neurociência. 21


Histórico da neuropsicologia- artigos e textos........................................................................ 22
A história da neurociência....................................................................................................... 25

Memória............................................................ 33
Transtornos do neurodesenvolvimento ............. 48
Funções Executivas ........................................... 50
Avaliação Neuropsicológica em idoso ................. 53
Dicas de vídeos .................................................. 54
Dicas de conteúdo ............................................. 55

2
Pra começo de conversa...

Esta apostila foi organizada com diversas fontes com o objetivo de facilitar o estudo da
neuropsicologia que é um ramo da ciência que cresce a cada dia. Atualizações se fazem
necessárias com constância.

Os textos desta apostila da neurocientista Norma Moreira foram retirados do livro:


Franco, Norma Moreira Salgado, 1965- Descomplicando as práticas de laboratório de
neuroanatomia : noções básicas / Norma Moreira Salgado Franco & colaboradores ;
[capa e ilustrações animadas Marcelo Casé]. - Rio de Janeiro : N. M. S. Franco, 2006
184p.

É importante perceber também que há muitas leituras possíveis em cada tema abordado,
pois alguns autores focam no biológico, outros são mais relacionais, e há sempre
divergências. Contudo o ponto comum é a necessidade de considerar o contexto da
pessoa estudada. Não podemos perder de vista que a pessoa que tem uma dificuldade
neurológica não é apenas uma maquina biológica, ela possui um contexto sócio
econômico, emoções, sentimentos e um delicado mecanismo psicológico que compõe a
forma de manifestação neuropsicológica.

Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é.


A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991

3
O SISTEMA NERVOSO

4
O Sistema Nervoso
Norma Moreira Salgado Franco

Em primeiro lugar a melhor maneira de entender um pouco sobre o Sistema Nervoso


(SN) é não ficar nervoso com os inúmeros nomes que são apresentados.

A grande maioria dos nomes usados para denominar as estruturas do SN vem do latim,
do grego ou do nome de algum cientista que a descobriu. Para o nosso alívio os
cientistas preferem usar nomes derivados do latim, o que muito nos facilita, pois estes
têm uma correspondência direta com a nossa língua portuguesa. O nosso grande
problema é com os livros traduzidos que utilizam a palavra inglesa brain para indicar
tanto cérebro quanto encéfalo. O que para nós, neuroanatomistas, tem muita
diferença. Tentaremos dar aqui uma pequena base para você saber discernir melhor
esse termo.

O Sistema Nervoso é formado por um tecido composto por duas células: os neurônios
(elementos ativos de condução nervosa) e as neuróglias (elementos de suporte
estrutural, entre outras funções). Assim, para realizar qualquer tarefa precisamos
dessas células. As mensagens são enviadas através de impulsos nervosos que trafegam
através do axônio (a fibra do neurônio) e são passadas a outros neurônios em junções
especializadas conhecidas como sinapse (ponto de encontro entre dois neurônios).
Uma cadeia desses neurônios é chamada de via.

O Sistema Nervoso é dividido em dois Sistemas. Um é denominado de Sistema


Nervoso Central (SNC) e o outro de Sistema Nervoso Periférico (SNP). No SNC essa
cadeia de neurônios recebe o nome de feixes, fascículo ou tratos e no SNP, essa
mesma cadeia recebe o nome de nervos. (Pode isso? Uma mesma “coisa” ser chamada
de forma diferente só para testar a nossa memória... pensando nisso ... é bom
exercitarmos mesmo os nossos neurônios..... mas isso fica para depois).

O SNC recebe, analisa e integra as informações. É o local onde ocorre, ao mesmo


tempo, as tomadas de decisões e o envio de ordens para executá-las. O SNP leva as
informações dos órgãos sensoriais para o SNC e deste para os efetores (músculos e
glândulas). A separação do SN é somente uma questão didática, pois o SNC depende
do SNP e vice-versa.

Anatomicamente podemos dividir o SN em SNC e SNP.

O SNC divide-se em encéfalo, que está localizado dentro da cavidade craniana, e em


medula espinhal, que está localizada dentro da coluna vertebral. O encéfalo
corresponde ao cérebro (telencéfalo e diencéfalo10), cerebelo e tronco encefálico
(mesencéfalo, ponte e bulbo). No SNC, existem as “chamadas” substâncias brancas e

5
substâncias cinzentas. O SNC é formado por essas substâncias, que são assim
chamadas, por apresentarem esta colaração quando observadas macroscopicamente.

A substância cinzenta é formada por corpos celulares e prolongamentos de neurônios,


já a substância branca é formada por fibras nervosas mielinizadas. As neuróglias são
encontradas nas duas substâncias.

A substância cinzenta é encontrada mais externamente tanto no cérebro quanto no


cerebelo e recebe o nome de córtex (quando encontrada na parte de dentro,
normalmente recebe o nome de núcleos). Já na medula, a substância cinzenta
encontra-se mais internamente e recebe outro nome, como veremos mais tarde.

Os órgãos do SNC são protegidos, além das estruturas ósseas já citadas, pelas
meninges chamadas de dura-máter (a mais externa), aracnóide (a intermediária) e
pia-máter (a mais interna); esta última adere intimamente as estruturas do SNC. Entre
as meninges existem espaços, um deles é o espaço subaracnóide que fica
compreendido entre a meninge aracnóide e pia-máter e circula o líquor também
conhecido como líquido cefalorraquidiano. Esse líquor é também encontrado em
quatro cavidades chamadas de ventrículos e circula por todo o SNC (o que
estudaremos mais tarde no capítulo 10).

O SNP é formado por nervos (31 pares de nervos espinhais e 12 pares de nervos
cranianos), gânglios e terminações nervosas. Os nervos são cordões esbranquiçados
(formados por fibras nervosas) especializados em conduzir impulsos nervosos (tanto
levam a informação ao SNC quanto trazem a resposta para a periferia). Se a união se
faz no encéfalo são chamados de cranianos e se ocorre na medula são chamados de
espinhais. Os gânglios são aglomerados de corpos de neurônios, que do ponto de vista
funcional podem ser de dois tipos: gânglios sensitivos (encontrados na medula
espinhal) e gânglios viscerais pertencentes ao Sistema Nervoso Autônomo (os quais
veremos mais tarde no capítulo 15). Nas extremidades das fibras nervosas que
constituem os nervos, encontram-se as terminações nervosas que do ponto de vista
funcional, podem ser de dois tipos: as que captam informações do ambiente levando-
as ao SNC, chamadas de sensitivas ou aferentes, e as que levam as informações do

6
SNC ao efetores, chamadas de eferentes ou motoras.

Referências Bibliográficas:

BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W; PARADISO, Michael A. Neurociências -


desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artemed Editora S.A., 2002.

BRANDÃO, Marcus Lira. Psicofisiologia. São Paulo: Atheneu, 1995.

COSENZA, Ramon M. Fundamentos de neuroanatomia. 2. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 1998. DANGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia
Humana Sistêmica e Segmentar, 2ª edição. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.

FERNANDES, Paulo Roberto Brasil; WANDERLEY, Swami Salgado; PEREIRA, Tereza


Cristina AbiChahin. Princípios de neuroanatomia . Rio de Janeiro: MEDSI, 2002.

GUYTON, Arthur C. Neurociência básica: anatomia e fisiologia. 2.ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 1991.

JACOB, Stanley W.; FRANCONE, Clarice Ashworth, LOSSOW; Walter J. Anatomia e


fisiologia. 5.ed. Rio de Janeiro : Guanabara, 1990.

LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios : conceitos fundamentais de neurociência.


São Paulo: Atheneu, 2002. MACHADO, Angelo B.M. Neuroanatomia funcional. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1983.

POLISUK, Julio; GOLDFELD, Sylvio. Pequeno dicionário de termos médicos. 4.ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1995. REY, Luís. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde.
2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

7
Exames Especiais do SNC
Norma Moreira Salgado Franco

Vários exames são usados por neurologistas e psiquiatras para auxiliar no diagnóstico
de patologias relacionadas ao SNC. A seguir, descreveremos resumidamente alguns
destes exames:

1) Raquicentese – Exame do Líquor Trata-se da retirada do líquor através de punção


lombar37, abaixo da L2 (onde só é encontrado a cauda eqüina), preferencialmente nos
espaços L4- L5 ou L3-L4. O seu estudo permite a investigação de um grande número de
doenças neurológicas, tais como: as doenças infecciosas (meningite), parasitárias
(neurocisticercose38), vascular (hemorragia subaracnóide) e imunológica (esclerose
múltipla ).

2) Eletroencefalograma (EEG) A prática clínica do eletroencefalograma foi introduzida


em 1929 por um psiquiatra alemão chamado Hans Berger. Este exame consiste na
captação da atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos que são colocados no
couro cabeludo do paciente. A atividade elétrica é aumentada por um sistema de
amplificadores e registradas em uma tira de papel sob a forma de ondas. Ultimamente,
a informática através de softwares próprios e de cálculos matemáticos complexos, tem
ajudado a melhorar de forma significativa esse exame. Assim, os sinais são registrados
nos sistemas computacionais, analisados e apresentados em monitores,
proporcionando uma melhor visão gráfica e uma localização pormenorizada das
alterações elétricas. O exame tradicional avalia de forma qualitativa as ondas
cerebrais, ao passo que o exame mais moderno, avalia-o também de forma
quantitativa. Atualmente, o EEG Quantitativo (digital) tem sido empregado para
determinar com mais precisão a localização de focos epilépticos, tumores cerebrais,
alterações cerebrais e acidentes vasculares hemorrágicos. Normalmente esse exame é
mais empregado na avaliação da epilepsia, servindo também para classificá-la (quanto
ao tipo) e auxiliando na escolha do anticonvulsivante mais indicado, além de ajudar no
acompanhamento e alta do tratamento. 37 Pode-se, ainda, retirar o líquor através da
punção suboccipital ou ventricular. 38 Infestação de cisticercos – fase larvar da tênia
(Taenia solium). Cabe aqui ressaltar, que no caso da epilepsia, esse exame é apenas
complementar, pois são encontrados potenciais epileptiformes em pessoas que nunca
tiveram crises epilépticas. Portanto, exames laboratoriais, avaliação e história clínica
são muito importantes para um bom diagnóstico da doença.

3) Tomografia Computadorizada (TC) Foi concebida na Inglaterra por Godfrey


Houndsfield e Allan Cormack e colocada no mercado na década de 70. A TC
revolucionou os métodos utilizados para o diagnóstico das patologias intracranianas
(que eram vistos através do exame de raio X). A TC permite a identificação e
diferenciação de várias entidades clínicas que cursam como distúrbios cognitivos,
como a hidrocefalia de pressão normal, os hematomas subdurais, os tumores e

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infartos cerebrais. Esta técnica está baseada na tecnologia utilizada nos raios X, capaz
de produzir feixes muito estreitos e paralelos que percorrem ponto a ponto o plano da
estrutura do SNC a qual pretende-se observar, verificando a radiodensidade de cada
ponto. Na realidade é uma reconstrução matemática das densidades dos tecidos
estudados, pois os dados obtidos são enviados a um computador, o qual reconstrói a
imagem. A TC mostra o sangue, o líquor e o tecido nervoso, apesar das substâncias
branca e cinzenta não serem bem distinguidas nessa técnica. O método não é invasivo
e o paciente pode estar acordado ou em coma. É indicado para a investigação de
processos expansivos, doenças vasculares, degenerativas, parasitárias e nos
traumatismos cranianos. Muitos pesquisadores têm lançado mão desse método para a
investigação de anormalidades cerebrais que ocorrem em alguns distúrbios
psiquiátricos, como por exemplo, a esquizofrenia (que apresenta os ventrículos mais
dilatados). 4 – Angiografia cerebral Permite a visualização dos vasos sanguíneos
intracranianos. Nessa técnica é utilizada uma injeção de contraste radiopaco nas
artérias carótida e vertebral. Normalmente essa técnica é usada na suspeita do
diagnóstico de aneurisma. 5 – Ressonância Magnética (RM) Foi inventada por Purcell e
Bloch em 1940, porém a sua utilização ocorreu somente a partir do final da década de
80. A RM ampliou as possibilidades de obtenção de imagens através da análise
estrutural do encéfalo, da formação de imagens tridimensionais e de métodos de
volumetria. Utiliza ondas magnéticas, ao invés de radiação X, a fim de produzir as
imagens. Nesse método, observa-se a diferenciação existente entre a substância
branca e a cinzenta, o fluxo sanguíneo cerebral e o tamanho dos ventrículos. 174 175 A
RM possibilita obter imagens do encéfalo em qualquer plano de corte (sagital, coronal
ou transversal), superando as que são obtidas na TC, por apresentarem alta nitidez e
melhor resolução. É indicada nas patologias intracranianas de origem tumoral e
desmielinizante. O paciente submetido a esse procedimento deve estar acordado e
não ser portador de aparelhos metálicos, próteses respiratórias ou marcapasso.

6 – Tomografia por Emissão de Prótons (PET) Possibilita a avaliação da informação


estrutural e funcional do SNC. Injeta-se no paciente uma substância radioativa que
será absorvida pelo cérebro. Trata-se na verdade, de uma molécula de glicose ligada
artificialmente ao flúor radioativo. O PET detecta a atividade das células cerebrais,
através da captação da atividade do radiofarmarco (Flúor). Infelizmente sua aplicação
prática é muito restrita, pois seu custo operacional é muito alto.

Referências Bibliográficas:

BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W; PARADISO, Michael A. Neurociências -


desvendando o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artemed Editora S.A., 2002.

BRANDÃO, Marcus Lira. Psicofisiologia. São Paulo: Atheneu, 1995. JACOB, Stanley W.;
FRANCONE, Clarice Ashworth; LOSSOW, Walter J. Anatomia e fisiologia humana. 5.ed.
Rio de Janeiro: Guanabara, 1990.

9
KANDEL, Eric R.; SCHWARTZ, James, H.; JESSELL, Thomas M. Fundamentos da
neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios : conceitos fundamentais de neurociência.


São Paulo: Atheneu, 2002. MACHADO, Angelo B.M. Neuroanatomia funcional. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1983.

POLISUK, Julio; GOLDFELD, Sylvio. Pequeno dicionário de termos médicos. 4.ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1995. RADIOLOGY 101 : the basics and fundamentals of imaging.
William E. Erkonen [Editor]. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998. RATTON, José Luiz de
Amorim. Medicina intensiva. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1997.

Lobos cerebrais e suas especializações

Didaticamente o cérebro pode ser subdividido em cinco lobos anatômicos. A


divisão funcional dessas regiões não é tão perfeita quanto a própria divisão
neuroanatômica, entretanto, é possível apontar algumas funções de certa forma
peculiares a cada lobo. A figura acima procura ilustrar tais funções. Abaixo, elas
estão descritas em maiores detalhes:

Lobo frontal

O lobo frontal pode ser subdividido em quatro áreas funcionais: aárea


motora primária, as áreas pré-motoras e motoras suplementares, a área de Broca e

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o córtex pré-frontal. A área motora primária constitui a maior parte do giro pré-
central. Contém quase todos os corpos celulares dos neurônios que originam as vias
motoras descendentes, sendo ativada na iniciação dos movimentos voluntários. As
áreas pré-motoras e motoras suplementares ocupam o restante da circunvolução
pré-central, envolvendo também porções adjacentes dos giros frontais superior e
médio. Estão também funcionalmente relacionadas com a iniciação dos
movimentos voluntários, principalmente o planejamento. A área de
Brocacorresponde às porções opercular e triangular do giro frontal inferior.
Localiza-se, preferencialmente na população, no hemisfério esquerdo. Suas funções
estão associadas à escrita e à fala. O córtex pré-frontal é todo o restante do lobo
frontal. Essa região relaciona-se com a regulação e inibição de comportamentos e a
formação de planos e intenções. As alterações provocadas no lobo frontal teriam
como consequência dificuldades de atenção, concentração e motivação, aumento
da impulsividade e da desinibição, perda do autocontrole, dificuldades em
reconhecer a culpa, hipersexualidade, dificuldade em avaliar as consequências das
ações praticadas, agressividade e aumento da sensibilidade ao álcool, bem como
incapacidade de aprendizagem com a experiência (fonte:
mapadocrime.com.sapo.pt).

Lobo parietal

Pode ser subdividido basicamente em três áreas funcionais: a área


somatossensitiva primária, uma parte especializada do lóbulo parietal inferior no
hemisfério esquerdo e o restante do córtex parietal. A área da sensibilidade primária
corresponde ao giro pós-central e está relacionada com a iniciação do
processamento cortical da informação, seja ela tátil, proprioceptiva, térmica ou
dolorosa. Em conjunto com o lobo temporal, geralmente no hemisfério esquerdo,
porções do lóbulo parietal inferior estão envolvidas na compreensão da linguagem.
O restante do córtex parietal relaciona-se com a orientação espacial, a percepção
dos objetos e do próprio corpo. Indivíduos com danos nos lobos parietais
geralmente demonstram profundos déficits, tais como anormalidades na imagem
corporal e nas relações espaciais. Danos ao lobo parietal esquerdo podem
resultar na chamada Síndrome de Gerstmann. Esta inclui confusão entre esquerda e
direita, dificuldade de escrita (agrafia) e dificuldades com o pensamento

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matemático (acalculia). Também pode produzir desordens na linguagem (afasia) e
inabilidade em perceber objetos (agnosia). Danos ao lobo parietal direito podem
resultar em negligência a uma parte do corpo ou do espaço (negligência
contralateral), a qual abala muitas das habilidades de cuidado próprio, tais como
vestir-se e banhar-se. Danos no lado direito também podem causar dificuldades
para a realização de tarefas (apraxia), a negação de déficits (anosagnosia) e perda
das habilidades para desenhar (fonte: Neuroanatomia funcional, 2ª edição, Adel K.
Afifi e Ronald A. Bergman).

Lobo temporal

O lobo temporal, por sua vez, pode ser subdividido funcionalmente na área
auditiva primária, na área de Wernicke, porções inferiores do lobo
temporal relacionadas ao processamento da informação visual e a parte mais medial
do lobo temporal, relacionada com aprendizagem e memória. A área auditiva
primária está localizada em parte da superfície superior do lobo temporal que se
continua com uma pequena área do giro temporal superior. A área de Wernicke,
localizada na porção posterior também do giro temporal superior, geralmente no
hemisfério esquerdo, é importante para a compreensão da linguagem. Alguns
autores estendem esta área para o lóbulo parietal inferior e para o giro temporal
médio. Como estas áreas circundam a fissura de Sylvius são muitas vezes referidas
como zona da linguagem perisylviana (fonte: Neuroanatomia funcional, 2ª edição,
Adel K. Afifi e Ronald A. Bergman).

Lobo occipital

O lobo occipital praticamente está todo relacionado à visão. A área visual


primária está contida nas paredes do sulco calcarino e do córtex envolvente. A área
visual de associação, envolvida com o processamento da informação visual, está
representada pelo restante do lobo occipital, estendendo-se também para o lobo
temporal, o que reflete a importância da visão para a espécie humana
(fonte: http://saude-info.info/funcao-do-lobo-occipital.html).

Lobo da ínsula
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Até pouco tempo, a ínsula era caracterizada como uma das áreas mais
primitivas do cérebro, envolvida em atividades básicas como alimentação e sexo.
Recentemente, novos estudos determinaram outras funções mais complexas. Por
exemplo, na porção frontal da ínsula, experiências sensoriais são transformadas em
emoções e sentimentos, como nojo, desejo, decepção, culpa, ressentimento,
orgulho, humilhação, arrependimento, compaixão e empatia. A ínsula está ativada
quando o organismo é preparado para situações premeditadas. Quando, por
exemplo, alguém tem de sair de casa e lá fora faz frio, ela é ativada de modo a
ajustar o metabolismo para enfrentar a situação. Além disso, a ínsula modula a
resposta do organismo a estímulos dolorosos. Curiosamente, em pacientes vítimas
de fobias e de transtorno obsessivo-compulsivo, a ínsula registra atividade intensa
(fonte: neurologista Mauro Muszkat e revista Science).

https://fredywander.blogspot.com/2012/12/lobos-cerebrais-e-suas-
especializacoes.html

Neurotransmissores: principais tipos e funções biológicas


desempenhadas

As funções complexas do cérebro e do sistema nervoso são um conseqüência da


interação que ocorre no âmbito das redes neurais, e não o resultado de características
específicas de cada neurônio isoladamente. A transmissão de impulsos nervosos de um
neurônio para outro, ou para células efetoras, depende da ação combinada de certas

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substâncias com determinados receptores específicos para elas. Esses mensageiros
químicos são conhecidos como neurotransmissores.

Neste artigo, você vai poder entender mais sobre quais características uma substância
precisa apresentar para ser considerada um neurotransmissor. Além disso, conhecerá
os tipos principais, as principais funções biológicas desempenhadas e o que a falta
delas pode produzir no organismo.

Um pouco mais sobre neurotransmissão

A neurotransmissão constitui a base para a maior parte dos eventos de transferência


de informação no sistema nervoso. A acuidade e a complexidade desses processos
durante o desenvolvimento humano formam o substrato para atividades superiores
como aprendizado, memória, percepção e cognição.

A quantidade de neurotransmissores liberada entre dois neurônios, ou na rede neural


como um todo, pode aumentar ou diminuir para responder a mudanças fisiológicas.
Muitos transtornos neuropsiquiátricos ocorrem por conta desse desbalanço excessivo.
Nesse contexto, certos mensageiros químicos e muitas drogas podem modificar o
processo de neurotransmissão, produzindo efeitos adversos ou, por outro lado,
corrigindo algumas disfunções. A título de exemplo, temos as substâncias psicoativas e
estimulantes do sistema nervoso central, como a cocaína, e os antidepressivos que
atuam inibindo a recaptação de neurotransmissores na fenda sináptica, como é o caso
da fluoxetina.

Não podemos falar sobre neurotransmissão e neurotransmissores sem falar sobre


sinapse. O termo, cunhado pela primeira vez em 1897 pelo neurofisiologista Charles
Sherrington, representa uma junção intercelular especializada, especificamente
entre neurônios ou entre um neurônio e uma célula efetora (quase sempre glandular
ou muscular).

Basicamente, ao ser acionado, o neurônio receptor passa por uma transformação


química em sua membrana, o que desencadeia uma descarga elétrica através de seus
prolongamentos. Essa corrente elétrica pode ser transmitida (ou inibida) por longas
distâncias no cérebro, principalmente a partir da atuação dos neurotransmissores.

Por milênios, o sistema nervoso, em especial o cérebro, evoluiu e vários tipos de


sinapses se formaram. Além das sinapses formadas entre axônios terminais e
dendritos, já foram descobertas entre axônios e corpos celulares, músculos, outros
axônios, e até mesmo outras sinapses. Em 2003, Kolb & Wishaw descobriram sinapses
que conectam dendritos a outros dendritos.

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É importante destacar que a neurotransmissão é um processo extremamente
específico. Em ouras palavras, para ser afetada por certos neurotransmissores, a célula
deve ter receptores específicos para essas moléculas.

Que substância pode ser considerada neurotransmissor?

1. Existe em terminais de axônio pré-sináptico

2. A célula pré-sináptica contém enzimas para sintetizar a substância

3. A substância é liberada em quantidades significativas quando os impulsos


nervosos
terminais de alcance

4. Receptores específicos da substância na membrana pós-sináptica

5. Aplicação da substância causa potenciais pós-sinápticos

6. O bloqueio da liberação da substância evita que os impulsos pré-sinápticos


gerem potenciais pós-sinápticos

Classificação dos neurotransmissores

De maneira geral, os neurotransmissores são classificados em relação à família química


a qual pertencem. A neurociência considera atualmente a existência de seis grandes
grupos de substâncias neurotransmissoras. São eles:

 Aminas biogênicas: esse grupo é constituído pela acetilcolina, com


características que a diferem de todo o restante, e pelas monoaminas. Estas
ainda podem ser subdividas em catecolaminas, como dopamina, noradrenalina
e adrenalina, e indolaminas, como a serotonina e outros derivados e a
histamina.

 Aminoácidos: o grupo de aminoácidos neurotransmissores é constituído por


glutamato, GABA (ácido gama-aminobutírico), glicina, aspartato dentre outros).

 Peptídios: Exemplos desta classe são as substâncias opioides,


orexinas/hipocretinas, encefalinas, peptídios de origem hipofisária, NPY e
substância P.

 Purinas: adenosina e ATP.

 Gases: NO (óxido nítrico) e CO (monóxido de carbono).

 Substâncias de origem lipídica: endocanabinoides, prostaglandinas etc.

Como os neurotransmissores atuam?

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Os neurotransmissores podem atuar como mensageiros de sinais inibitórios ou
excitatórios para o neurônio pós-sináptico. Eles produzem uma hiperpolarização ou
uma despolarização de sua membrana, embora a mesma molécula possa inibir ou
excitar. Isso acontece porque há um certo número de neurotransmissores, mas uma
grande variedade de receptores em diferentes tipos de células.

Principais neurotransmissores do sistema nervoso

Dentre as dezenas de substâncias com capacidade de propagar um sinal elétrico entre


as células neuronais, selecionamos as seis principais. Confira a seguir.

Acetilcolina

A acetilcolina foi o primeiro neurotransmissor descoberto. Este feito rendeu o prêmio


Nobel de Fisiologia e Medicina de 1936 para Henry Hallet Dale (o primeiro a identificá-
la 22 anos antes) e Otto Loewi (quem a categorizou como molécula
neurotransmissora).

A acetilcolina está amplamente distribuída por todo o sistema nervoso central (SNC) e
periférico (SNP), e também na junção neuromuscular. É o único neurotransmissor
utilizado no sistema nervoso somático e um dos muitos neurotransmissores do
sistema nervoso autônomo (SNA). É também o neurotransmissor de todos os gânglios
autonômicos.

Um mediador sináptico muito importante para o cérebro e a mente. Desempenha


papel central na modulação de determinados processos cognitivos, especialmente
aprendizagem e memória. Ainda do ponto de vista da saúde mental e neurológica,
perturbações do sistema colinérgico se associam a quadros patológicos importantes,
como as doenças de Parkinson e Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia e tabagismo.

Dopamina

A dopamina é um importante neurotransmissor que pode ser encontrado


principalmente nos gânglios da base, como núcleo caudado e estriado, no sistema
mesolímbico, na região do hipotálamo, hipófise e também na medula espinhal.

A produção de dopamina ocorre especificamente em duas áreas do sistema nervoso


central: substância negra e área tegumentar ventral. Fora do sistema nervoso, ela é
produzida na medula das glândulas adrenais, tendo atuação importante no sistema
cardiovascular.

É o neurotransmissor da motivação. Além de regular o chamado sistema de


recompensa cerebral, regula o sono, humor, atenção, aprendizagem, controle do
vômito, dor e amamentação.

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Contudo, apesar de desempenhar importante papel em determinadas funções
emocionais e cognitivas, a dopamina é sobretudo conhecida pela sua associação com a
doença de Parkinson. Ocorre nesta doença a degeneração de neurônios
dopaminérgicos provenientes da substância negra, e que enviam suas projeções para o
estriado. Este está envolvido no controle do movimento.

Noradrenalina

A noradrenalina é o principal neurotransmissor do sistema nervoso autônomo


simpático periférico. Pode ser encontrada sobretudo no tronco cerebral e hipotálamo,
e possui ação depressora sobre os neurônios do córtex cerebral. Produzida no locus
coeruleus.

A noradrenalina do sistema nervoso central provém da metabolização da dopamina. É


uma das monoaminas que mais influenciam o humor, ansiedade, sono e alimentação
junto com a serotonina, dopamina e adrenalina.

Regula os batimentos cardíacos, pressão arterial, conversão de glicogênio em energia e


outros. A liberação da noradrenalina facilita a atenção e o alerta durante o dia. A
neurociência tem estudado a atuação dela em distúrbios do sono, especialmente o
sono REM, mecanismos de estresse, e nos processos de aprendizado e memória.

Serotonina

Esta amina biogênica neurotransmissora pode ser encontrada sobretudo no


mesencéfalo, tálamo, hipotálamo e amígdala cerebral. Possui tanto ação excitatória
quanto inibitória. Apesar de serem poucos os neurônios com capacidade para produzir
e liberar serotonina, existe um grande número de células que detectam esse
neurotransmissor.

A diminuição da liberação de serotonina no sistema nervoso central está associada


a transtornos afetivos e de humor, como agressividade, depressão e ansiedade. Há
evidências de que ela atue na regulação do ritmo circadiano, sono e apetite. Diversos
estudos já testaram medicamentos com atuação nas vias serotoninérgicas buscando
tratar, além da ansiedade e depressão, também obesidade, enxaqueca e esquizofrenia.

Drogas como ecstasy e LSD mimetizam a atuação da serotonina no cérebro.

Glutamato

O glutamato é o aminoácido livre mais abundante do sistema nervoso central. Além


disso, atua como principal neurotransmissor excitatório, sendo extremamente
importante para o desenvolvimento neural, plasticidade sináptica, aprendizado e
memória.

17
Estudos já identificaram a associação entre o glutamato e doenças como epilepsia,
isquemia cerebral, tolerância e dependência a drogas, dor neuropática, ansiedade e
depressão.

Produzido em excesso, o glutamato é tóxico para as células nervosas. A doença de Lou


Gherig é prova disso, onde a hiperprodução deste neurotransmissor causa morte
neuronal por todo o cérebro e medula.

Ácido gama-aminobutírico (GABA)

O GABA está presente no córtex cerebral, no cerebelo, sendo liberado por diversos
interneurônios localizados no cérebro e na medula espinhal. É o principal
neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, estando presente em
aproximadamente 20% das sinapses.

Os neurocientistas acreditam que o GABA seja responsável pela sintonia fina e


coordenação dos movimentos; há relatos de que ele desempenhe importante papel na
regulação do tônus muscular.

Medicamentos que aumentam a atuação deste neurotransmissor inibitório no sistema


nervoso central são capazes de reduzir a ansiedade e produzir relaxamento muscular,
prevenindo a hipertonia. Há hipóteses de que a deficiência de GABA possa levar a
quadros de esquizofrenia.

No entanto, a linha de pesquisa mais importante acerca desse neurotransmissor está


relacionada à ansiedade. Duas evidências apontam para essa correlação: (1) há
grandes concentrações de GABA no sistema límbico e (2) a atuação dos
benzodiazepínicos, ansiolíticos que interagem em grande parte com receptores
gabaérgicos.

Leonardo Faria - Neurocirurgião que atua na região do Triângulo Mineiro e Alto


Paranaíba. Membro-sócio titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Idealizador
e CEO do site Meu Cérebro. https://meucerebro.com/neurotransmissores-principais-
tipos-e-funcoes-biologicas-desempenhadas/

Drogas que influenciam Neurotransmissores

Talvez a maior aplicação prática para a descoberta e compreensão detalhada de como


os neurotransmissores funcionam tenha sido o desenvolvimento de drogas que afetam
a transmissão química. Essas drogas são capazes de alterar os efeitos dos
neurotransmissores, o que pode aliviar os sintomas de algumas doenças.

18
Agonistas vs antagonistas

Alguns medicamentos são conhecidos como agonistas e funcionam aumentando os


efeitos de neurotransmissores específicos. Outros medicamentos e referidos como
antagonistas e atuam para bloquear os efeitos da neurotransmissão.

Efeitos diretos versus indiretos: Esses medicamentos de ação neurológica podem ser
ainda mais discriminados com base no fato de terem um efeito direto ou indireto.
Aqueles que têm um efeito direto funcionam imitando os neurotransmissores porque
são muito semelhantes na estrutura química. Aqueles que têm um impacto indireto
agem agindo nos receptores sinápticos.

As drogas que podem influenciar a neurotransmissão incluem medicamentos usados


para tratar doenças, incluindo depressão e ansiedade, como
ISRS, antidepressivos tricíclicos e benzodiazepínicos.

As drogas ilícitas, como heroína, cocaína e maconha, também afetam a


neurotransmissão. A heroína age como um agonista de ação direta, imitando os
opióides naturais do cérebro o suficiente para estimular seus receptores associados. A
cocaína é um exemplo de uma droga de ação indireta que influencia a transmissão da
dopamina.

Identificando neurotransmissores

A identificação real dos neurotransmissores pode ser bastante difícil. Embora os


cientistas possam observar as vesículas que contêm neurotransmissores, descobrir
quais substâncias químicas são armazenadas nas vesículas não é tão simples.

19
Por causa disso, os neurocientistas desenvolveram várias diretrizes para determinar se
um produto químico deveria ou não ser definido como um neurotransmissor:

 O produto químico deve ser produzido dentro do neurônio.

 As enzimas precursoras necessárias devem estar presentes no neurônio.

 Deve haver quantidade suficiente da substância química presente para


realmente ter um efeito sobre o neurônio pós-sináptico.

 O produto químico deve ser liberado pelo neurônio pré-sináptico e o neurônio


pós-sináptico deve conter receptores aos quais o químico se ligará.

 Deve haver um mecanismo de recaptação ou enzima presente que interrompa


a ação do produto químico.

Os neurotransmissores desempenham um papel crítico na comunicação neural. Eles


influenciam em tudo, desde movimentos involuntários até o aprendizado e o humor.
Este sistema é complexo e altamente interconectado. Os neurotransmissores atuam
de maneiras específicas, mas também podem ser afetados por doenças, drogas ou
mesmo pelas ações de outros mensageiros químicos.

Artigo traduzido e adaptado pela Vittude do artigo original em inglês Identifying a


Neutransmitter

20
Histórico da neuropsicológica e da neurociência

21
Histórico da neuropsicologia- artigos e textos
 Aspectos históricos da neuropsicologia: subsídios para a formação de
educadore http://www.scielo.br/pdf/er/n25/n25a11.pdf
 Avaliação neuropsicológica: aspectos históricos e situação atual
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98931996000300003

Histórico da Neuropsicologia

A neuropsicologia, enquanto uma área do conhecimento surgiu a partir do interesse


em compreender a localização anatômica das funções mentais e suas primeiras
evidências enquanto ciência são oriundas de estudos conduzidos com indivíduos
acometidos por danos cerebrais.

Contudo, desde a antiguidade, busca-se identificar que parte do corpo humano seria
a sede de controle da mente, das emoções e do comportamento. Existem evidências
de que técnicas de trepanação eram praticadas desde a pré-história e umas das
hipóteses, dentre as várias existentes, para explicar esta prática é a de que, na
antiguidade, acreditava-se que ao fazer orifícios no crânio criava-se uma saída para
os maus espíritos e assim era possível curar transtornos mentais e dores de cabeça.

O papiro egípcio chamado de Papiros de Edwin Smith (1600 A.C) é considerado o


documento mais antigo com relatos da localização das funções mentais nele consta a
descrição de 48 indivíduos com lesões cerebrais.

O coração também já foi tido como o centro da mente ou da alma humana. Essa
ideia ficou conhecida como hipótese cardíaca. Ainda hoje, ouvimos popularmente
expressões coerentes com esta ideia, como, por exemplo, quando dizemos “fazer o
que o coração manda”.

No período grego clássico, muitos filósofos buscaram explicar a relação corpo e alma.
Platão (428-348 a.C.) explicava que o corpo era a instância material, perene, e
mutável do homem enquanto a alma era a imaterial, a eterna, imutável. Aristóteles
(384-322 a.C.) explicava a atividade mental dividindo-a em diversas capacidades
(pensar, julgar, imaginar, etc.), mas todas tinham o coração como sede anatômica
(HAMDAN et al., 2011).

As ideias, baseadas na hipótese cardíaca, enfrentaram críticas dos adeptos da

22
chamada hipótese cerebral, que viam o cérebro como o responsável pela atividade
mental.

A hipótese cardíaca foi definitivamente abandonada a partir das confirmações da


hipótese cerebral. Entre essas confirmações encontram-se os achados de Galeno
(130-201 a.C.) obtidos a partir da dissecação do cérebro de animais e cadáveres que
contribuíram para teoria ventricular. Segundo esta teoria, os ventrículos cerebrais
eram a sede da mente e os resultados de Galeno descreviam com precisão estas
estruturas anatômico-fisiológicos.

Nesta época, os ventrículos causavam grande interesse entre os anatomistas porque


se destacam na aparência gelatinosa que o cérebro não fixado apresentava. Segundo
a teoria ventricular, haveriam três ventrículos, o primeiro associado as sensações, o
segundo associado a razão e o pensamento e o terceiro seria a o responsável pela
memória.
A Igreja reconhecia a explicação de Galeno de que o fluido que circulavam nos
ventrículos seriam os espíritos e que estes determinavam os comportamentos. Com
apoio da Igreja, que tinha que forte influência sobre as ideias da época, a teoria
ventricular perdurou até boa parte da Idade Média.

O filósofo francês René Descartes (1596-1650), baseado nos princípios do dualismo


cartesiano, defende, no final do século XVII, a ideia de que a mente e o corpo seriam
entidades separadas e elas interagiam a partir de uma estrutura encontrada no
corpo humano, a glândula pineal. Esta glândula era vista como a sede do espírito no
corpo e por meio dela eram controlados os comportamentos (HAMDAN et al., 2011).

A hipótese cerebral tornou-se a ideia predominante e debate passou a ser quanto à


organização e o funcionamento do órgão de comando. Entre os estudiosos que
defenderam a hipótese cerebral estavam os holistas e os localizacionistas que apesar
de concordarem sobre o cérebro como a sede do funcionamento mental
discordavam sobre a forma como esse controle era possível. Para os holistas, o
cérebro atuaria como um todo comandando as funções mentais e o comportamento
enquanto os localizacionistas acreditavam em um funcionamento fragmentado, de
forma que cada uma de suas regiões cerebrais teria uma função específica (COSENZA
et al., 2008).

Entre os localizacionistas, teve grande influência a frenologia - teoria de Franz Joseph


Gall (1757-1828), difundida por seu aluno, Johann Gaspar Spurzheim (1776-1832).
Estes estudiosos afirmavam que o cérebro estava organizado em aproximadamente

23
35 funções específicas (ver figura 2) e acreditavam ser possível por meio da análise
do crânio descrever a personalidade de uma pessoa. Esta técnica foi chamada de
personologia anatômica.

Segundo Consenza et al. (2008) os pressupostos básicos da frenologia podem ser


resumidos da seguinte forma:

1) cada região cerebral pode ser entendido como um “órgão” que comanda
determinada atividade mental ou comportamental específica;
2) a superfície craniana poderia ser moldada a partir do desenvolvimento de cada
região cerebral;
3) uma região cerebral bem desenvolvida pode crescer em volume e resultar em um
crescimento visível no crânio.

Outras evidências contribuíram de forma significativa para a neuropsicologia como a


conhecemos na atualidade, como a divulgação do caso do funcionário americano
Phineas Gage (1823-1860) que, em decorrência de uma explosão, teve o cérebro
perfurado por uma barra de metal.

A barra atingiu o olho esquerdo e atravessou a parte frontal do cérebro. Apesar


disto, Phineas sobreviveu, aparentemente, sem sequelas motoras e cognitivas, mas
com alteração significativa em sua personalidade, comportando-se de forma opostos
ao que costumava fazer antes do acidente. Esta sequela tão específica em uma lesão
tão agrave gerou interesse dos estudiosos em neurociências.

Na atualidade, a neuropsicologia superou esta necessidade de estabelecer a


localização das funções mentais como sua prioridade. A discussão localizacionismo
versus holismo foi superada com o surgimento das modernas técnicas de
neuroimagem que hoje são as principais ferramentas para fins de localização de
regiões lesionadas.

Isso não quer dizer que uma avaliação neuropsicológica não mantenha este objetivo,
mas este propósito é prioritário, exclusivamente, em casos de patologias cujos
sintomas manifestam-se antes, ou independente, das alterações cerebrais
alcançarem um nível detectável pelos procedimentos de neuroimagem.

24
A história da neurociência
Investigando o cérebro.

O cérebro é o ultimo órgão humano a revelar seus segredos. Durante muito tempo,
as pessoas não entendiam nem mesmo para que serve o cérebro. A descoberta da
anatomia, das funções e dos processo do cérebro tem sido uma longa e vagarosa
viagem através dos milênios.

Exploração do cérebro:

O cérebro é difícil de ser investigado porque suas estruturas são minúsculas e seu
funcionamento não pode ser observado a olho nu. Seu produto mais interessante – a
consciência – não era percebido como um processo físico; por tanto, não havia
razões para que nossos ancestrais a relacionassem ao cérebro. Mas nos últimos 25
anos com o advento das técnicas de imageamento, os neurocientistas conseguiram
produzir um mapa detalhado do que já foi um território inteiramente misterioso.

Cronologia:

4000 a.C: Sumérios escrevem sobre a euforia provocada pela semente de papoula.

2500 a.C: A trepanação (abertura de orifícios do crânio) era um procedimento


cirúrgico comum em diversas culturas. Possivelmente era usado para tratar
transtornos cerebrais, como a epilepsia ou por razões rituais ou espirituais.

1700 a.C: Papiros descrevem detalhadamente o cérebro, mas os egípcios não o tem
em alta conta; diferentemente de outros órgãos, era removido e descartado antes da
mumificação, indicando que não se acreditava que seria útil nas encarnações
seguintes.

450 a.C: Os gregos antigos começam a reconhecer o cérebro como centro das
sensações humanas.

387 a.C: O filosofo grego Platão dá aulas em Athenas; ele acredita que o cérebro é o
centro dos processos mentais.

335 a.C: O filosofo grego Aristóteles reitera a crença antiga de que o coração é o
órgão superior; o cérebro, diz ele, é um radiador que impede o superaquecimento do
corpo.

170 a.C: O medico romano Galena lança a teoria de que o temperamento e o caráter
humanos são decorrentes do quatro “humores” (líquidos mantidos nos ventrículos
do cérebro). A ideia persistiu por mais de 1000 anos. A descrições de anatomia de
Galeno, usadas por gerações de médicos, tiveram como base principal em macacos e
porcos.

25
1543: Andreas Versalius, medico europeu publica o primeiro livro de anatomia
(moderno) com ilustrações detalhadas do cérebro humano.

1649: Para o filosofo francês Renê Descartes, o cérebro é um sistema hidráulico que
controla o comportamento. Funções mentais “mais elevadas” seriam geradas por
uma entidade espiritual, que interagiria com o corpo e a glândula pineal.

1664: Medico de Oxford, Thomas Willis, publica o primeiro atlas do cérebro,


localizando as diversas funções nos diferentes “módulos” do órgão.

1774: O medico alemão Franz Anton Mesme introduz “Magnetismo animal”, mais
tarde chamado de hipnose.

1791: Luiz Galvani, físico italiano descobre a base elétrica da atividade nervosa
fazendo a perna de uma rã se retorcer.

1848: Phineas Gage tem o cérebro perfurado por uma barra de ferro.

1849: O físico alemão Hermann Von Helmeholtz mede a velocidade da condução


nervosa e subsequentemente desenvolve a ideia de que a percepção depende de
“inferências inconscientes”.

1850: Franz Joseph Gall funda a frenologia que atribui diferentes traços de
personalidade a áreas especificas do crânio.

1859: Charles Darwin publica a origem das espécies.

1862 – 1874: Broca e Wernicke descobrem as duas áreas principais da linguagem no


cérebro.

1873: O cientista italiano Camilo Golgi publica o método do nitrato de prata,


possibilitando a observação completa dos nervos. Ganha o Prêmio Nobel de 1906.

1874: Carl Wernicke publica o seu trabalho sobre afasia “distúrbios de linguagem
após lesão cerebral.”

1889: Santiago Ramón y Cajal, em A doutrina do neurônio, propõe que os neurônios


são elementos independentes e unidades básicas do cérebro. Divide o Prêmio Nobel
de 1906 com Camilo Golgi.

Por volta de 1900 Sigmund Freud abandona a neurologia ainda no inicio para estudar
psicodinâmica. O sucesso da psicanálise freudiana ofuscou a psiquiatria fisiológica
por meio século.

26
1906: Santiago Ramón y Cajal descrevem como os neurônios se comunicam. Ainda
em 1906 Alóis Alzheimer descreve a degeneração pré-senil.

1909: Korbinian Broadman descreve as 52 áreas corticais distintas com base na


estrutura neural. Essas áreas são utilizadas até hoje.

1914: O fisiologista britânico Henry Hallett Dale isola a acetilcolina o primeiro


neurotransmissor descoberto. Ganha o primeiro Prêmio Nobel em 1936.

1919: O neurologista irlandês Gordon Morgan Holmes relaciona a visão com a córtex
estriado (a córtex visual primário).

1924: Os primeiros eletroencefalogramas (ECG) são desenvolvidos por Hans Berger.

1934: O neurologista português Egas Moniz executa a primeira operação de


leucotomia (conhecida como mais tarde por lobotomia). Ele também inventou a
angiografia, uma das primeiras técnicas que captava a imagem do cérebro.

1953: Brenda Milner descreve o paciente H.M que perde a memória após remoção
cirúrgica de porção da ambos os lobos temporais.

1957: W.Penfield e T.Rasmussen concebem os “homúnculos motor e sensorial”.

1970-80: Desenvolve-se a tecnologia de escaneamento do cérebro. Durante essa


década surgem o PET SCAN o SPECT o IRM e o MEG.

1981: Roger Wolcott Sperry ganha o Prêmio Nobel pelo estudo das diferentes
funções nos dois hemisférios cerebrais.

1983: Benjamin Libert escrever sobre a determinação do (“timing”) da volição


consciente.

1992: Os neurônios espelho são descobertos por Giacomo Rizzolatti em Parma.

2009: A exploração prossegue e os grupos de pesquisa avançam continuamente para


um entendimento maior.

Marcos da neurociência:

A maior parte do que sabemos do cérebro provém da pesquisa lenta e meticulosa de


grandes grupos de pessoas, mas a neurociência é pontuada por grandes descobertas
ou idéias em geral surgidas a partir de um trabalho de um único cientists. Algumas
provaram mais tarde serem inovações valiosas.

27
Frenologia - Franz Joseph Gall

Gall acreditava que a personalidade podeia ser verificada apalpando-se o contorno


do crânio. Segundo essa teoria, das diversas faculdades humanas localizadas no
cérebro, as mais fortes eram as mais protuberantes, possibilitando a medição das
saliências do crânio. A teoria foi muito popular no século XIX - quase todas as cidades
tinham um instituto de frenologia, embora absurda no conjunto, a ideia de Gall
acabou se tornando uma grande verdade. Técnicas de imageamento destinadas a
localizar as funções cerebrais são frequentemente chamadas de frenologia moderna.

Cabeça frenológica.

Dizia-se que modelos como este mostravam as protuberâncias do crânio que


revelavam o carater de uma pessoa. As categorias incluam "suavidade" ou
"benevolência".

O homem que se perdeu - Phineas Gage

Este educado e benquisto supervisor de obras ferrovias americano passou por uma
transformação, tornando-se agressivo e desrespeitoso depois que teve parte do
cérebro destruída em um acidente. O estudo deste paciente demonstrou que
faculdades como o juízo moral e social podem estar localizados no lobos frontais.

28
Lesão Fatídica

Essa ilustração do crânio de Phineas Gage mostra como a barra de ferro lesionou os
lobos frontais.

Áreas da linguagem - Broca e Wernicke

Em 1861, o médico francês Paul Broca descreveu o caso de um paciente que chamou
de "Tan", pois essa era a única palavra que ele falava. Quando Tan morreu, Broca
examinou seu cérebro e descobriu uma lesão na porção interior do córtex frontal
esquedo. Essa parte do cérebro passou a se chamada "Área de Broca". Em 1876 o
neurologista alemão Carl Wernicke descobriu que a lesão na porção posterior do
lobo temporal do hemistério cerebral esquerdo, a Área de Wernicke, também
causava problemas de linguagem. Os dois cientistas foram os primeiros a definir com
clareza áreas funcionais do cérebro.

Primeiros implantes cerebrais - José Delgado

O neurologista espanhol José Delgado inventou um implante cerebral que podia ser
controlado remotamente por ondas de rádio. Numa famosa experiência, realizada
em 1964. Delgado enfrentou um touro fazendo com que ele parasse ativando o
implante no cérebro do animal. Em outras experiências colocou o dispositivo no
cérebro de um chimpanzé que intimidava um companheiro. Delgado colocou o
29
controle na gaiola do chimpanzé- vitima, que o usou para "desligar" o mau
comportamento do outro.

Delgado e o touro

Mapeando o cérebro - Wilder Penfield

Os primeiros mapas detalhados da função cerebral humana foram feitas pelo


neurocirurgião canadense Wilder Penfield. Ele trabalhou com paciente submetidos a
cirurgia para o controle de epilepsia. Enquanto o cérebro estava exposto e o paciente
consciente, Penfield investigava o córtex com um eletrodo e observava a resposta do
paciente enquanto tocava em cada uma das partes. O trabalho de Penfield foi o
primeiro a revelar o papel do lobo temporal na memória e a mapear as áreas do
córtex que controlam o movimento e fornecem as sensações ao corpo.

Lobotomia - Egas Moniz

As primeiras lobotomias foram excutadas na década de 1980, mas realizada em larga


escala somente a partir dos anos 1950 quando o neurologista português Egas Moniz
descobre que a interrupção dos nervos que vão do córtex frontal ao talamo alviava
os sintomas psicóticos em alguns de seus pacientes. O trabalho de Muniz foi
aproveitado pelo cirurgião americano Walter Freedman, que inventou a "lobotomia
com o furador de gelo". Entre a década de 1936 e 1950, ele defendia o uso da
lobotomia como cura para uma série de problemas entre 40 mil e 50 mil pacientes
foram submetidos a ela. A operação foi usada de maneira discriminada e hoje em dia
é considerada um processo ultrapassado. Em muitos casos ela, no entanto, ela
amenizou o sofrimento; o acompanhamento de pacientes submetidos à lobotomia
30
na Grã-Bretanha mostrou que 41% estavam "recuperados" ou tinham "melhorado
bastante", 28% "haviam melhorado minimamente", 25% "não apresentaram
mudanças", 4% morreram e 2% pioraram.

Formação da memória - Henry G. Molaison

Em 1953, aos 27 anos "HM" foi submetido a uma cirurgia nos EUA para tratar de uma
epilepsia grave. Os cirurgiões, que na época desconheciam as funções do hipocampo,
retiraram uma grande parte dele. O paciente se tornou incapaz de formar novas
memórias até o fim da vida. Esse acidente trágico demonstrou o papel crucial do
hipocampo na memória.

Congelado no tempo.

Henry G. Molaison - geralmente conhecido apenas como "HM" - foi um dos pacientes
mais estudados na história da medicina moderna.

Experiências com o cérebro bipartido - Roger Sperry

31
O neurobiologo Roger Sperry conduzio as experiências do cérebro bipartido em
pessoas cujo os hemisférios foram separados cirurgicamente durante o tratamento
para epilepsia. Elas demonstraram que sob determinadas condições, cada hemisfério
pode abrigar pensamentos e intensões diferentes. Isso suscitou a profunda questão
sobre ser uma única pessoa, ter um único "eu".

Roger Sperry com o Prêmio Nobel de 1981

Decisões conscientes - Benjamin Libet

Uma série de experiências geniais desenvolvidas pelo neurocientista americano


Benjamin Libet no começo da década de 1980 demonstrou que o que pensamos
serem atos de 'decisões" conscientes são, na verdade, apenas o reconhecimento do
que o cérebro inconsciente já está fazendo. As experiências de Libet têm profundas
implicações filosóficas, porque os resultados sugerem que não temos uma escolha
consciente sobre o que faremos e, portanto não temos livre arbítrio.

Roger Sperry com o Prêmio Nobel de 1981

Neurônios-espelho - Giacomo Rizzolatti

Os neurônios-espelhos foram descobertos por um grupo de pesquisadores da Italia,


liderados por Giacomo Rizzolatti, monitoravam a atividade neural no cérebro de
macacos que faziam movimento de se esticar. Um dia um pesquisador
inadvertidamente imitou o movimento do macaco enquanto este o observava e
descobriu que a atividade neural no cérebro do macaco deflagrava em resposta à
32
visão era idêntia a atvidade ocorrida quando o macaco fazia a ação. Alguns
estudiosos acreditam que os neurônios-espelho sejam a base da teoria da mente, da
imitação e da empatia.

Macaco imitador

Os neurônios-espelho provocam o mimetismo automático ao produzir no cérebro do


observador um estado similar ao da pessoa que ele está observando.

Referências Bibliográficas:

MORAES, Alberto Parahyba Quartim de - O Livro do cérebro. Vol 1. São Paulo. SP,
Editora Duetto - 2009. Pag 8 até 11.

Memória
Psicologia: Reflexão e Crítica
Print version ISSN 0102-7972On-line version ISSN 1678-7153

Psicol. Reflex. Crit. vol.28 no.4 Porto Alegre Oct./Dec. 2015

https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528416

Memória
Carlos Alberto Mourão Júnior *

Nicole Costa Faria1

1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil

RESUMO

Este artigo tem como objetivo central apresentar os processos de memória de maneira
didática, proporcionando aos alunos e futuros pesquisadores um primeiro contato

33
satisfatório com o tema. Já há algum tempo, tem sido observada a ocorrência de
confusões conceituais e metodológicas no campo da neurociência cognitiva, tanto em
relação à memória quanto em relação às outras funções psicológicas básicas. Neste
ensaio, alguns conceitos principais são esclarecidos. É apresentada uma classificação
fenomenológica da memória, a qual inclui a memória sensorial, a memória de trabalho e
as memórias de curta duração e de longa duração. Também são explicados os
processos de consolidação e evocação das memórias, evidenciando os mecanismos
biológicos envolvidos nestes processos.

Palavras-Chave: Memória; cognição; neurociências

ABSTRACT

This paper aims to present the memory processes in a didactic manner, providing
students and future researchers with a first contact with this subject. For a long time,
we have observed the occurrence of conceptual and methodological confusion in the
field of cognitive neuroscience, regarding memory and other basic psychological
functions. In this essay, some key concepts are clarified. A phenomenological
classification of memory is presented, which includes sensory memory, working memory
and long term memories. Memory consolidation and retrieval processes are also
explained, appraising the biological background involved in these processes.

Key words: Memory; cognition; neurosciences

O presente artigo tem como objetivo central apresentar os processos de memória


de maneira didática, proporcionando aos alunos e futuros pesquisadores um
primeiro contato satisfatório com o tema. O texto é destinado, sobretudo, a
iniciantes no assunto, mas esperamos que também seja útil aos já iniciados. Apesar
de não se tratar de um texto técnico e especializado, não deixaremos de lado o
rigor metodológico e conceitual.

Percebemos certa carência de textos curtos de revisão sobre o tema, que permitam
aos interessados em estudar a memória uma visão panorâmica sobre o assunto. Já
há algum tempo, temos observado a ocorrência de confusões conceituais e
metodológicas no campo da neurociência cognitiva, tanto em relação à memória
quanto em relação às outras funções psicológicas básicas. Tentaremos, neste
ensaio, sistematizar e esclarecer alguns conceitos. Não serão colocadas citações ao
longo do texto a fim de facilitar a fluidez da leitura, exceto se apresentarmos dados
de outros estudos.

Por fim, é importante deixar claro que a separação das funções psicológicas se dá
apenas no nível teórico para atender a fins didáticos. No entanto, essa separação é
artificial, pois as funções psicológicas não atuam separadamente umas das outras.
No processo de memorização, por exemplo, há outras funções psicológicas
envolvidas, como a motivação, a atenção, a percepção e o aprendizado. Da mesma
maneira, para a evocação das memórias, são necessárias outras funções
psicológicas como a função executiva e a linguagem.

Memória: Conceituação e Processos Envolvidos

"A memória recolhe os incontáveis fenômenos de nossa existência em um todo


unitário; não fosse a força unificadora da memória, nossa consciência se
estilhaçaria em tantos fragmentos quantos os segundos já vividos" Ewald Hering (1920).

Grosso modo, chamamos de memória a capacidade que os seres vivos têm de


adquirir, armazenar e evocar informações. Apesar dessa definição aparentemente

34
simplista, veremos, no decorrer do texto, que ao falar de memória, definitivamente
não estamos falando de algo simples.

A memória é um dos mais importantes processos psicológicos, pois além de ser


responsável pela nossa identidade pessoal e por guiar em maior ou menor grau
nosso dia a dia, está relacionada a outras funções corticais igualmente importantes,
tais como a função executiva e o aprendizado. Ainda que sem perceber, estamos
fazendo uso desse importante recurso cognitivo a todo momento. Se entramos no
carro para ir para a faculdade, temos necessariamente que nos lembrar para onde
estamos indo. Lembrar envolve diretamente a memória. Não fosse assim,
estaríamos impossibilitados de chegar ao nosso destino. Não fosse a memória,
sequer saberíamos que cursamos uma faculdade, não saberíamos nem mesmo
nosso nome, e tampouco o nome de nossos pais, amigos etc. Em outras situações
da vida, somos capazes de identificar comportamentos automáticos que estão,
também, intrinsecamente relacionados à memória. Voltando ao exemplo do carro,
muitas pessoas (aquelas com um tempo considerável de prática) não estão atentas
aos seus movimentos enquanto estão ao volante e dirigem perfeitamente. Acontece
ainda de a pessoa fazer o mesmo trajeto para o trabalho há tanto tempo, que, não
raro, chega ao seu destino sem se lembrar do percurso que tomou. Isso se dá
porque realizamos tão repetidamente certas atividades que é como se nosso corpo
memorizasse os movimentos e pudesse realizá-los automaticamente, sem que nós
tenhamos que estar conscientes dos mesmos.

Com relação à maneira pela qual as memórias são armazenadas, pouco se sabe a
esse respeito. Apesar dos inúmeros avanços feitos pela neurociência nos últimos
anos, ainda é um mistério entender como potenciais elétricos e fenômenos
bioquímicos estão ligados às representações mentais que fazemos, mesmo que
alguns neurocientistas se atrevam a dar saltos conceituais, encerrando premissas
que a ciência é incapaz de fundamentar. O que se sabe, atualmente, é que as
informações que chegam ao nosso cérebro formam um circuito neural, ou seja, a
informação recebida ativa uma rede de neurônios, que, caso seja reforçada,
resultará na retenção dessa informação (por informação, entendemos qualquer
evento passível de ser processado pelo sistema nervoso: um fato, um objeto, uma
experiência pessoal, um sentimento ou uma emoção). Por isso considera-se que a
repetição seja uma estratégia necessária para a memória. Não nos esquecemos,
por exemplo, o número do telefone de nossa casa porque, ao longo de nossa vida,
repetimos essa informação inúmeras vezes. Esse processo interfere na
memorização do número exatamente porque toda vez que repetimos os estímulos,
ativamos o mesmo circuito neural. A ativação contínua reforça esse circuito e torna
mais fácil a posterior evocação da informação armazenada.

Sobre o processo de armazenamento, podemos dividi-lo em três subprocessos,


quais sejam: aquisição, consolidação e evocação. A aquisição diz respeito ao
momento em que a informação chega até nosso sistema nervoso e se dá por meio
das estruturas sensoriais, as quais transportam a informação recebida até o
cérebro. O estímulo atinge os órgãos receptores, o qual, através dos nervos
sensitivos, chega ao sistema nervoso central (Kandel, 2006).

Posteriormente, temos o processo de consolidação, que diz respeito ao momento de


armazenar a informação. Esse armazenamento - que representa a memória - pode
se dar de duas maneiras distintas: (a) através de alterações bioquímicas ou (b)
através de fenômenos eletrofisiológicos. Nos fenômenos eletrofisiológicos, ao
tentarmos memorizar uma situação nova, determinados conjuntos de neurônios
continuam disparando durante alguns segundos, retendo temporariamente a
informação somente durante o tempo em que a mesma é necessária, extinguindo-a
logo em seguida. Esse tipo de fenômeno tem duração extremamente efêmera e não
forma traços bioquímicos. É isso o que ocorre na memória sensorial e na memória

35
de trabalho (ou memória operacional) que discutiremos mais adiante ( Squire & Kandel,
2003
).

Por outro lado, os fenômenos bioquímicos (também chamados de traços de


memória) incluem dois tipos de alterações: as estruturais (morfológicas) e as
funcionais, que ocorrem, ambas, na circuitaria neural. As alterações estruturais
compreendem a formação de novas espinhas dendríticas (as quais permitem que
um determinado neurônio receba mais aferências de outros neurônios) ou então a
formação de novos prolongamentos axonais (os quais permitem que um dado
neurônio transmita mais sinais para os neurônios com os quais ele se conecta).
Podem ocorrer ainda alterações morfológicas que criam novos circuitos que
anteriormente não existiam. Finalmente, no caso das alterações funcionais, são
formados novos canais iônicos ou novas proteínas sinalizadoras, que otimizam a
transmissão sináptica (Purves et al., 2010).

É interessante observar que, tanto as alterações morfológicas quanto as funcionais,


têm como substrato biológico o mesmo fenômeno: a síntese proteica. Assim, a
informação (quando repetida várias vezes), de alguma maneira ainda
desconhecida, produz fatores que atuam no DNA do neurônio, fazendo com que
este comande a síntese de novas proteínas, que podem ser, por exemplo, canais
iônicos (produzindo alterações funcionais), ou espinhas dendríticas e
prolongamentos axonais (produzindo alterações morfológicas) ( Luria, 1981).

Fica claro, portanto, que quando dizemos que o cérebro armazena informações, não
podemos imaginar que a informação fique guardada dentro de "gavetas cerebrais",
ou seja, armazenar uma informação não significa colocá-la dentro de certos
neurônios como se estes fossem uma espécie de armário. O armazenamento é
possível graças à neuroplasticidade, que pode ser definida como a capacidade que o
cérebro tem de se transformar diante de pressões (estímulos) do ambiente. Disso,
podemos concluir também que as informações ficam armazenadas em regiões
difusas do cérebro, envolvendo redes complexas de neurônios, as quais modificam-
se para armazenar informações (Kandel, Schwartz, Jessell, Siegelbaum, &
Hudspeth, 2013).

Mas, como aquilo que lemos, ouvimos, vemos ou pensamos é capaz de transformar
nosso cérebro? Como potenciais elétricos são capazes de gerar as imagens que
vêm à tona em nossa consciência quando nos lembramos da nossa casa, por
exemplo? Ou será que essa relação de causa e efeito entre fenômenos físico-
químicos e representações mentais nem mesmo pode ser estabelecida?
Infelizmente, para essas questões a neurociência ainda não tem respostas
definitivas.

Por fim, após o processo de retenção, estaremos aptos a iniciar, caso assim o
desejemos, o processo de evocação das memórias, o qual diz respeito ao retorno
espontâneo ou voluntário das informações armazenadas. A evocação (ou
recuperação) envolve a organização dos traços de memória em uma sequência
coerente no tempo (fenômeno chamado de integração temporal) e ocorre
principalmente no córtex pré-frontal, através de um processo denominado memória
de trabalho, o qual será detalhado mais adiante. Alguns autores apontam que
existem dois tipos de recuperação frequentemente distinguidos:
o reconhecimento e a recordação (Mourão & Melo, 2011b).

A diferença é bem simples: no reconhecimento, estamos diante de um estímulo


previamente conhecido e armazenado, o que implica em certo sentimento de
familiaridade. É o que acontece quando nos encontramos com pessoas que
conhecemos, por exemplo. O contato com um estímulo anteriormente armazenado

36
traz a sensação de reconhecimento. Por outro lado, na recordação, não há nada de
familiar momentaneamente presente em nossa percepção consciente. Nesse caso,
não estamos diante do estímulo previamente conhecido (o qual será recuperado). É
como se recuperássemos voluntariamente uma informação armazenada. É isso que
acontece quando precisamos nos lembrar de uma fórmula de física durante a
prova: temos que "puxá-la" da memória. Mais uma vez, é importante destacar que
normalmente esses processos estão relacionados. Quando estamos diante de uma
pessoa conhecida, por exemplo, nós a reconhecemos e, logo em seguida,
começamos a recordar espontaneamente uma série de informações referentes a
ela, como seu nome, o local onde a conhecemos, as conversas que tivemos, se é ou
não uma pessoa interessante etc.

Por muito tempo, acreditou-se que evocar uma informação era reativar o mesmo
circuito neural que foi ativado quando estivemos em contato com esse estímulo
pela primeira vez. Assim, quanto mais parecido fosse o ambiente externo no
momento do armazenamento e no momento da evocação, mais eficiente seria o
nosso processo de evocação, pois mais parecidos seriam os padrões neurais
ativados. No entanto, estudos recentes (Izquierdo & Medina, 1997) demonstraram que tanto
os mecanismos cerebrais quanto a bioquímica envolvidos no processo de evocação
são diferentes daqueles envolvidos no processo de armazenamento.

Deve-se atentar para o fato de que os subprocessos descritos acima não acontecem
de maneira linear no tempo, essa divisão é feita apenas para atender a fins
didáticos. Na realidade, o mais das vezes, esses processos acontecem de maneira
simultânea. Por exemplo, enquanto o processo de armazenamento da informação
está em curso (evidentemente esse processo leva algum tempo), podemos dar
início ao processo de evocação dessa mesma informação, sem que para isso
tenhamos que "pausar" momentaneamente o processo de consolidação da
informação. Ou então, quando estamos tentando memorizar um novo conjunto
específico de informações, ao mesmo tempo, o cérebro está recebendo outras
tantas informações relacionadas à primeira (logo os processos de aquisição e
consolidação estão em curso concomitantemente). Para exemplificar, imagine que
estejamos estudando sobre o átomo. Enquanto tentamos construir e armazenar
uma possível definição para a palavra átomo, estaremos lendo (adquirindo) outras
inúmeras informações que complementarão tudo aquilo que iremos armazenar
sobre esse assunto, bem como estaremos evocando quaisquer informações prévias
que estejam armazenadas em nosso cérebro e que sejam relacionadas ao tema.

Além disso, é importante ressaltar que, na prática, os processos de armazenamento


e evocação estão intimamente relacionados e são interdependentes, pois o modo
de organizar a informação quando a mesma é armazenada influenciará fortemente
na facilidade ou dificuldade de recuperar essa informação posteriormente. Nota-se,
portanto, que a divisão do fenômeno mnemônico em subprocessos se dá apenas a
nível teórico, de tal maneira que, na realidade, eles acontecem de maneira
interdependente e não linear.

Classificação das Memórias

Conhecendo melhor as peculiaridades e detalhes relativos ao processo de


memorização, os pesquisadores da área classificam a memória em diferentes tipos.
A literatura fala de memória de curto prazo e de memória de longo prazo desde o
século XIX, no entanto, algumas classificações mais recentes levam em
consideração outras características além do tempo de retenção da informação.

37
Lent (2010)
, por exemplo, propõe que podemos diferenciar as memórias a partir de
duas características centrais: tempo de armazenamento (ultrarrápida, curto prazo e
longo prazo) e natureza da memória (explícita, implícita e de trabalho).

Mourão e Abramov (2011), por outro lado, propõem uma divisão de caráter
funcional, segundo a qual existem dois tipos de memória: a memória de arquivo e
a memória de trabalho. Nesse caso, os autores apontam que a divisão se faz
apenas para atender a fins didáticos, embora tal classificação não se dê apenas no
nível teórico, uma vez que os diferentes tipos de memória são, de fato, operados
por regiões cerebrais e por mecanismos diferentes. Além disso, pode acontecer de
as memórias apresentarem até mesmo uma natureza diferenciada, como no caso,
por exemplo, das memórias sensorial, memória de trabalho e memória de longo
prazo.

Em virtude da extrema dificuldade em classificar as memórias, no presente artigo


apresentaremos uma visão fenomenológica das memórias, ou seja, nos limitaremos
a descrever como cada modalidade de memória se apresenta à nossa consciência,
sem nos preocuparmos com classificações, as quais, como já dissemos, acabam por
ser mais artificiais do que elucidativas.

De fato, a confusão conceitual tem sido a regra, e não a exceção, quando se


escreve sobre memória. Por exemplo, dois especialistas em memória, ambos com
renome internacional, conceituam de maneira totalmente diversa o termo "memória
de curta duração". Para Izquierdo (2011), as memórias de curta duração são
fenômenos de natureza bioquímica, que envolvem plasticidade sináptica e que se
relacionam com a consolidação de memórias de longo prazo. Já para Baddeley (2007) as
memórias de curta duração são fenômenos de natureza elétrica (que não formam
traços bioquímicos) e que se resumem ao armazenamento de pequenas
quantidades de informação por um breve período de tempo. Paralelamente, Chan,
Shum, Toulopoulou e Chen (2008)
citam diversas classificações diferentes dos "sistemas de
memória", desde Luria até os dias atuais. Nesse artigo pode-se observar que há
muito mais dissensão do que consenso.

Como o principal objetivo deste nosso artigo é justamente tentar sanear as


confusões conceituais, passaremos ao largo de classificações ambíguas. Ao
contrário, nos concentraremos nos fenômenos mais facilmente observáveis quando
se analisa o ato de armazenar e evocar informações. Passemos, então à descrição
dos tipos de memória, de acordo às características que podemos perceber em cada
um desses tipos.

Memória Sensorial

A memória sensorial é aquela que nos permite reter as informações que chegam
até nós através dos sentidos, podendo ser estímulos visuais, auditivos, gustativos,
olfativos, táteis ou proprioceptivos. Caracteriza-se por ter curtíssima duração, caso
o estímulo não seja recuperado. Outro detalhe importante é que a memória
sensorial apresenta capacidade relativamente grande, se comparada à memória de
trabalho (que será discutida no próximo tópico). Isso quer dizer que, na memória
sensorial, registramos mais estímulos do que podemos recuperar, pois, no caso da
evocação da informação, entra em ação da memória de trabalho, que, como citado,
tem capacidade reduzida em relação à memória sensorial. De fato, a memória de
trabalho é capaz de armazenar somente cerca de 5 a 9 (7 mais ou menos 2) itens,
conforme discutiremos no próximo tópico. Apesar da capacidade relativamente
maior de reter informações, nem tudo o que fica gravado na memória sensorial se
torna consciente pra nós, apresentando, portanto, caráter pré-consciente (Mourão
& Melo, 2011a).

38
Além dos atributos citados acima, a memória sensorial se caracteriza
biologicamente por ser um fenômeno de natureza elétrica. Isso quer dizer que
essas informações não produzem alterações morfológicas e nem funcionais nos
neurônios envolvidos neste processo. A informação está disponível apenas
enquanto os neurônios disparam potenciais elétricos. Com o fim desses disparos,
perde-se a informação. Por exemplo, quando vemos um objeto, a imagem fica
gravada por frações de segundos por meio de disparos elétricos em neurônios na
região do córtex visual (área visual primária), antes mesmo que tomemos
consciência da imagem. Da mesma maneira, quando ouvimos um som, este produz
o disparo de neurônios do córtex auditivo primário (no lobo temporal),
reverberando ali por segundos, independentemente de ser ou não evocado
posteriormente (Kim, 2011).

A memória sensorial visual é conhecida como memória icônica, e seu registro


elétrico fica retido até cerca de apenas meio segundo (500 milissegundos). Já a
memória sensorial auditiva é conhecida como memória ecoica e seu registro dura
até 20 segundos (bem mais que a memória icônica). Assim, todas as modalidades
de memórias sensoriais são perdidas em menos de meio minuto, sendo, por isso,
consideradas memórias de natureza ultrarrápida (Squire et al., 2013).

Como veremos mais adiante, a memória de trabalho também se caracteriza por ser
um fenômeno de natureza elétrica. Essa característica nos leva a concluir que a
memória sensorial e a memória de trabalho apresentam uma natureza diferente
das memórias de longa duração, as quais produzem alterações físicas nos
neurônios, modificando a morfologia da circuitaria neural e força de conexão entre
as sinapses. Podemos, portanto, assinalar cinco características essenciais da
memória sensorial: (a) sua matéria-prima são as informações que chegam até nós
pelos sentidos; (b) é ultrarrápida, ou seja, apresenta curtíssima duração (da ordem
de poucos segundos), apesar da variação de tempo entre diferentes tipos de
estímulos (a memória visual, por exemplo, é mais curta que a memória auditiva);
(c) apresenta maior capacidade de armazenamento que a memória de trabalho,
apesar de durar bem menos tempo que esta; (d) apresenta caráter pré-consciente,
ou seja, ocorre antes que tomemos consciência da informação que os sentidos nos
trazem; (e) tal qual a memória de trabalho, trata-se tão somente de um fenômeno
elétrico nos neurônios, não produzindo alterações morfológicas ou funcionais nas
sinapses (como ocorre com as memórias de longa duração) (Bear, Connors, & Paradiso, 2008).

Memória de Trabalho

Existe um tipo de memória que, contrariando um pouco o senso comum, não serve
somente para armazenar informações. Ela serve, sobretudo, para contextualizar o
indivíduo e para gerenciar as informações que estão transitando pelo cérebro. É o
que chamamos de memória de trabalho. O termo memória de trabalho passou a
ser utilizado há pouco tempo, aparecendo na literatura somente na década de
1960, o que indica que seu estudo é também recente. Talvez por isso não haja
convergência entre os pesquisadores da área a respeito da definição desse termo.
No entanto, há alguns pontos consensuais a respeito das características da
memória de trabalho, a saber: sua duração ultrarrápida (de apenas poucos
segundos) e sua capacidade limitada (retém apenas 5 a 9 itens) ( Goldberg, 2009).

A duração da memória de trabalho é ultrarrápida porque ela nos permite armazenar


uma informação apenas enquanto estamos fazendo uso dessa mesma informação,
ou seja, apenas enquanto certo trabalho está sendo realizado ou enquanto
precisamos elaborar determinado comportamento. Quando queremos encomendar
uma pizza, por exemplo, olhamos o número no imã da geladeira e conseguimos
guardá-lo tempo suficiente para que possamos chegar ao telefone e discar o

39
número. Quando a informação temporariamente armazenada deixa de ser útil, ela
é descartada e, normalmente, esquecida. Portanto, é provável que esqueçamos o
número de telefone da pizzaria alguns minutos após termos discado. A memória de
trabalho também entra em ação quando estamos conversando com alguém e, para
que possamos encadear as ideias para que a conversa tenha sentido, temos que
nos lembrar (temporariamente) da última e da penúltima palavra que foram ditas
para que a frase e, posteriormente, a conversa façam sentido. Ao fim do diálogo,
normalmente nos esquecemos da maioria das palavras e nos lembramos somente
de seu conteúdo. É claro que pode acontecer de não nos esquecermos da
informação. Isso dependerá da nossa motivação em armazenar aquela informação.
Portanto, caso seja de nosso interesse, podemos transformá-la em memória
duradoura.

Um modelo conhecido da memória de trabalho é o modelo multicomponente de


Baddeley e Hitch (1974). Segundo esses autores, a memória de trabalho pode ser
dividida em 4 componentes principais: (a) executivo central (que representa o
sistema atencional do cérebro); (b) esboço visuoespacial (que gerencia e armazena
temporariamente informações a partir de imagens, como se estivéssemos vendo
algo mentalmente); (c) alça fonológica (que gerencia e armazena temporariamente
informações a partir de sons, como se estivéssemos repetindo sons mentalmente);
(d) retentor episódico (que gerencia informações já arquivadas em nosso cérebro,
comparando-as com as novas informações que chegam através dos sentidos).
Portanto, a memória de trabalho é bem mais do que um sistema de memórias, ela
é fundamental na evocação das memórias e no processamento lógico de
informações.

De fato, a memória de trabalho, conserva uma informação na consciência enquanto


tal informação está sendo processada e, após tal processamento, a memória se
estingue sem necessariamente formar traços (ou seja, sem necessariamente se
transformar em arquivo duradouro). Mas sua função vai muito além disso. A outra
função fundamental da memória de trabalho é comparar as novas informações que
estamos recebendo com informações antigas, já consolidadas e armazenadas em
nossa memória de longo prazo. Por isso dizemos que a memória de trabalho
trabalha com memórias, ou seja, ela é um sistema de processamento que confronta
as informações que estão chegando ao cérebro pelas vias sensoriais com as
informações que já estão arquivadas nos sistemas cerebrais que compõem a
memória de longa duração (Andrade, Santos, & Bueno, 2004).

Apesar de estar intimamente relacionada às memórias de longa duração, a


memória de trabalho não deve ser confundida com arquivos de memória (Mourão &
Melo, 2011b). Um bom exemplo da relação e da diferença entre a memória de
trabalho e os outros sistemas de memória de longa duração é o seguinte: imagine
que tenhamos um depósito grande, capaz de estocar um número relativamente
grande de caixas (que seria a nossa memória de longa duração). Apesar da
capacidade de armazenamento do seu estoque, para retirar as caixas de lá,
precisamos, por exemplo, de um carrinho, que, obviamente, é bem menor que o
nosso depósito, o que nos impede de retirar do estoque toda a mercadoria de uma
só vez (nesse caso, o carrinho representa nossa memória de trabalho). Conclusão:
nosso estoque é capaz de armazenar muitas caixas, mas só somos capazes de
transportar poucas delas simultaneamente. Transpondo esse raciocínio para nossa
memória, temos a seguinte situação: os sistemas de memória de longa duração são
capazes de armazenar muitas informações, no entanto, a memória de trabalho, que
entra em ação na evocação dessas informações, nos permite recuperar apenas
algumas delas ao mesmo tempo (Bear et al., 2008).

Portanto, a memória de trabalho gerencia as informações contidas em nossa


memória de longo prazo, trazendo à consciência as informações de maneira

40
sequencial e ordenada, criando um fluxo de pensamento coeso e coerente,
permitindo que, assim, possamos produzir nossas ideias em consonância com o que
a realidade nos apresenta (Goldberg, 2009).

Convém ressaltar que não temos a menor ideia de como se dá, do ponto de vista
neurobiológico, esse processo de evocação de memória. Em outras palavras,
estamos muito longe de compreender: (a) como a memória de trabalho "sabe"
exatamente qual informação deverá buscar por vez nos arquivos de memória de
longo prazo; (b) como ela localiza tal informação; (c) como ela coloca as
informações evocadas na ordem correta a fim de formarem um todo coeso; (d)
como essa sequência de informações evocadas é trazida à luz da consciência (Bennett
& Hacker, 2013
).

O pouco que sabemos é que esses processos de integração de informação se


localizam preferencialmente no córtex pré-frontal, e que a dopamina é um
neurotransmissor muito importante para a ocorrência de tais processos. Nada mais
sabemos a respeito do mistério da evocação das memórias (Fuster, 2003).

Algumas doenças que afetam diretamente a memória de trabalho servem para


ilustrar sua função. Dentre elas, podemos citar a esquizofrenia (bem como outras
várias psicoses). Nessa doença o paciente não consegue manter um fluxo coerente
de ideias - ele pensa diversas coisas ao mesmo tempo e as ideias que vêm à sua
consciência não se juntam de maneira organizada. Assim, ele perde o contato com
a realidade, ficando invadidos por ideias delirantes, caóticas e sem qualquer sentido
(Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, & Cosenza, 2008).

Memória de Longa Duração

Como o próprio nome indica, a memória de longa duração (MLD) é aquela que
armazena informações por longos períodos de tempo, meses, anos ou até mesmo
décadas. Por isso, a MLD é também conhecida como memória remota. Uma
característica importante da MLD é sua capacidade de guardar informações por
tempo indeterminado, bastando, para tanto, que a memória continue a ser
reforçada com o passar dos anos. Os limites de sua capacidade de armazenamento
são ainda desconhecidos, mas sabe-se que sua capacidade é muito grande (Bear et
al., 2008).

A memória de longa duração pode ser didaticamente dividida em duas categorias


principais: (a) memória declarativa(também conhecida como memória explícita),
que corresponde às memórias que estão prontamente acessíveis à nossa
consciência e que podem ser evocadas através de palavras; (b) memória não
declarativa (também conhecida como memória implícita), que correspondem às
memórias que estão em nível subconsciente, não podendo ser evocadas por
palavras, mas sim por ações (Lent, 2010). Falaremos primeiro da memória
declarativa e, ao final deste tópico, faremos comentários sobre a memória não
declarativa.

É na memória declarativa que estão "guardados" os episódios de nossa infância, as


imagens de uma viagem que fizemos há muito tempo e os conhecimentos
adquiridos na escola. Sobre o conteúdo da memória declarativa, podemos
subdividi-la em duas categorias: (a) memória episódica, que diz respeito a
experiências passadas, a "episódios" de nossas vidas (uma viagem, um momento
muito triste, o primeiro beijo etc.). A memória episódica guarda informações
relacionadas a um determinado momento no tempo, sendo, portanto, responsável
pela nossa autobiografia; (b) memória semântica, que diz respeito a conhecimentos
não relacionados a tempo e espaço específicos. Trata-se de uma memória que não

41
guarda momentos, mas sim fatos (e.g. o significado das palavras, os
conhecimentos de biologia, as regras gramaticais de um idioma, símbolos etc.).
Essa subdivisão da memória declarativa se justifica, pois parece que as memórias
episódica e semântica se relacionam a diferentes áreas cerebrais, podendo ser
afetadas de maneira distinta em diversas doenças que acometem o cérebro.
Portanto, é possível que um paciente tenha déficits acentuados de sua memória
episódica, a despeito de manter sua memória semântica praticamente intacta ( Hill,
2010
).

Como já vimos, para que seja possível guardar tantas informações por tanto
tempo, o cérebro se modifica de algumas maneiras para dar conta do recado. As
alterações possíveis já foram descritas anteriormente, quais sejam: alterações
estruturais (morfológicas) e alterações sinápticas (funcionais) ( Hebb, 1949).

No caso das alterações funcionais (fortalecimento das conexões sinápticas), parece


que quanto mais simples é a memória a ser consolidada, menor é o número de
sinapses que precisa ser modificada. Por outro lado, quanto mais complexa é a
memória, maior o número de sinapses a ser modificada. Chamamos de "memórias
simples" o fato de sabermos que não devemos colocar o dedo na tomada, por
exemplo. Nesse caso, alguns milhões de sinapses modificadas em poucas regiões
do cérebro são suficientes. No caso das "memórias complexas" (todo o
conhecimento que aprendemos na escola, por exemplo), são necessários bilhões de
novas sinapses em muitas áreas cerebrais. Isso quer dizer que quanto mais
complexa for uma memória, mais difusa ela se encontrará no cérebro. E, por outro
lado, quanto mais simples, mais localizada ela estará. No entanto, a consolidação
das informações apresenta ainda outras peculiaridades (Gazzaniga, Ivry, & Mangun, 2006).

A primeira delas é a labilidade da informação nas horas iniciais do processo de


armazenamento. A formação de uma memória de longa duração leva, em média,
entre três e oito horas. Enquanto esse processo não chega ao fim, a informação a
ser consolidada pode sofrer alterações, apresentando-se suscetível, por exemplo, à
ação de drogas, à interferência de outras memórias e ao aumento/declínio
excessivo de neurotransmissores, tais como dopamina, noradrenalina e acetilcolina.
Verificou-se experimentalmente que todos esses fatores, de alguma maneira ainda
pouco conhecida, interferem nos mecanismos cerebrais envolvidos no processo de
consolidação. É por esse motivo que muitas pessoas, após terem sofrido um susto
muito grande (um acidente de carro muito violento, por exemplo) relatam não se
lembrar de nada imediatamente antes da descarga de adrenalina promovida pelo
susto (é o que chamamos de amnésia retrógrada) (James, 1890).

Até certo ponto, o aumento do nível de neurotransmissores associados ao estado


de alerta otimiza a qualidade da consolidação. Isto é, se uma determinada situação
tem "colorido emocional" para o sujeito, ou se ele está atento, é provável que ele
se lembre de muitos detalhes sobre tal situação, mais detalhes do que ele
normalmente lembra sobre as situações cotidianas. Por outro lado, se os níveis de
neurotransmissores apresentam-se muito elevados, o armazenamento da
informação é prejudicado, podendo ocorrer perda de muitos detalhes ou perda total
da informação (Mourão & Abramov, 2011).

Vale ressaltar que por mais carregado de emoção que seja um evento, nunca
seremos capazes de nos lembrar de todos os detalhes. Mesmo as "melhores"
memórias não são perfeitas, há sempre algum grau de perda durante o processo de
consolidação. Assim, outra peculiaridade das memórias de longa duração é seu
caráter não estável. Além das perdas que ocorrem logo durante o processo de
consolidação, toda vez que evocamos uma memória, modificamos mais ainda essa
mesma memória. Portanto, com o passar do tempo, ao relatar uma vivência de

42
nossa infância, por exemplo, estamos cada vez mais distantes de relatar o que
realmente aconteceu. De fato, a evocação nada mais é do que um processo de
edição de fragmentos de memória, os quais são organizados pela memória de
trabalho e pelas funções executivas visando formar um todo mais ou menos
coerente. Por isso cada um lembra de um determinado fato à sua maneira. A
evocação está, portanto, longe de ser uma reprodução fiel das informações que
foram arquivadas. Trata-se, em verdade, mais de um processo criativo do que
reprodutivo.

As perdas durante o processo de consolidação devem ser encaradas de maneira


natural, uma vez que o que os neurônios realmente fazem é traduzir a realidade
por nós percebida em potenciais elétricos ou em alterações bioquímicas. Em toda
tradução há perdas, e quem já leu a tradução de qualquer texto comparando-o ao
original sabe disso. Além dessa primeira tradução, nossas memórias são
novamente traduzidas quando são evocadas e, novamente, há perdas ou
modificações, pois fatos novos podem ser adicionados, incluindo falsas memórias
(Mourão & Abramov, 2011).

A consolidação de memórias ocorre no hipocampo, que é uma região bem


delimitada e filogeneticamente antiga no lobo temporal. O hipocampo tem esse
nome por ter a forma de um cavalo-marinho. Sabemos da importância do
hipocampo no processo de consolidação porque pacientes com lesão bilateral dessa
estrutura são totalmente incapazes de guardar qualquer informação nova. Tornam-
se escravos do passado, sendo capazes de lembrar de tudo o que se passou antes
da lesão ocorrer, mas não conseguem mais armazenar nada de novo. Esse quadro
se denomina amnésia anterógrada (Kandel, 2006).

Parece que a consolidação ocorre durante determinadas fases do sono, e é por isso
que o sono é fundamental para a consolidação de novas informações. Acredita-se
que os sonhos, com seu conteúdo muitas vezes desconexo, seja nada mais do que
a evocação de fragmentos de memória que estejam sendo descartados para que
novas memórias se consolidem. Entretanto, apesar dessa hipótese ser atraente, é
importante ressaltar que o sono e os sonhos ainda são um mistério absoluto na
neurociência. Além do sono, outros fatores como atenção, motivação, nível de
estresse e estado emocional são fundamentais para uma boa consolidação de
memórias, como já foi dito (Luria, 1981).

Além da perda natural que ocorre com o decorrer do tempo, as induções por parte
de terceiros também podem nos levar a editar nossas lembranças. A psicóloga
americana Elizabeth Loftus (1975)demonstrou a força da indução na alteração de nossas
memórias. Essa força é tamanha que levou muitos indivíduos a criarem uma
lembrança completamente falsa sobre um determinado episódio de suas infâncias.
Os sujeitos que participaram da pesquisa da psicóloga jamais tinham passado pela
situação em questão (estar perdido no shopping) e, apesar disso, após terem sido
induzidos por parentes, os participantes relataram, com certo grau de detalhe,
terem passado por essa situação. Esses achados mostram o quanto pode ser
perigoso confiar plenamente em provas testemunhais, principalmente em processos
judiciais, já que é possível fazer alguém acreditar que viveu uma situação que, de
fato, não viveu.

Um aspecto interessante da memória declarativa é que o conhecimento por ela


armazenado interfere fortemente em nossa maneira de perceber o mundo e em
nossas decisões. Passar por uma situação extremamente desagradável em
determinado lugar nos leva a perceber de maneira negativa este mesmo lugar. E,
provavelmente, quando formos escolher um local para ir, decidiremos visitar algum
lugar diferente. Essa característica tem um importante papel adaptativo, pois pode

43
nos livrar de situações de perigo semelhantes a alguma experiência anterior.
Quando uma memória é adquirida em situação de estresse, ansiedade ou medo,
sua evocação será mais rápida e precisa em situações em que o sujeito apresente-
se novamente estressado, ansioso ou amedrontado. Dessa maneira, diante de uma
situação potencialmente perigosa, a qual desperta em nós certa ansiedade, somos
capazes de evocar com mais rapidez e eficiência um maior número de respostas
que já tenhamos emitido em situações semelhantes e que tenham se apresentado
adequadas.

Outro papel adaptativo da memória declarativa é o esquecimento e a extinção. A


importância de ambos os processos é óbvia e está relacionada à economia de
sinapses e à otimização na ocupação de áreas do córtex cerebral com informações.
Tão importante quanto conseguir memorizar é conseguir esquecer. O esquecimento
acontece porque somos bombardeados com incontáveis estímulos o tempo inteiro,
muitos dos quais são totalmente irrelevantes. Por isso, selecionamos as
informações mais importantes para serem arquivadas (Mourão & Abramov, 2011).
Se pararmos para pensar, a atividade de esquecer é mais proeminente que a
atividade de armazenar. Quando assistimos a um filme de duas horas, por
exemplo, somos capazes de relatar tudo o que lembramos a seu respeito em
poucos minutos. Portanto, o esquecimento é um processo tão natural quanto a
memorização, sendo extremamente importante para nós.

Sujeitos que são incapazes de esquecer apresentam grandes dificuldades em outros


aspectos cognitivos, por exemplo, na capacidade de interpretação da leitura, no
raciocínio lógico-matemático, entre outros. É como se o cérebro estivesse tão
ocupado gravando cada vez mais informações, que não é capaz de realizar outras
atividades cognitivas, tais como processar as informações que está gravando sem
parar. Alguns autores diferenciam esquecimento de extinção. Segundo eles, uma
memória esquecida não pode mais ser evocada. Por outro lado, uma memória
extinta é aquela que fica latente, no entanto, diante de condições específicas,
somos capazes de evocá-las (Flavel, Miller, & Miller, 1999).

Como as memórias remotas, uma vez consolidadas, se distribuem difusamente pelo


córtex cerebral, a perda de memórias declarativas - denominada demência -
acontece quando ocorrem lesões corticais extensas. Isso se dá na doença de
Alzheimer, na qual ocorre uma excessiva deposição de proteínas anômalas
formando corpúsculos e emaranhados que impedem o trânsito de substâncias
químicas no corpo celular dos neurônios e nas sinapses. Outras doenças que podem
evoluir com quadro demencial são a doença de Parkinson em fase avançada e a
síndrome de Down, quando os pacientes atingem idades mais avançadas (Bear et
al., 2008).

Agora vamos falar sobre uma outra modalidade de memória de longa duração: a
memória não declarativa (MND). As MND operam em nível subconsciente e não se
tratam de processos intelectivos. No grupo das MND incluímos os
condicionamentos, as memórias motoras e o priming. Os condicionamentos nada
mais são do que associações que fazemos entre estímulos ou então entre
determinados comportamentos com sua consequência (recompensa ou punição).
Como os condicionamentos se relacionam mais aos processos de aprendizado,
tendo menos relação com a memória em si (Izquierdo & Medina, 1997), eles fogem
ao escopo deste trabalho. Portanto, não discorreremos sobre eles.

As memórias motoras são memórias relacionadas a procedimentos e habilidades


motoras. São difíceis de serem aprendidas, pois necessitam de muita repetição
para se tornarem consolidadas. Porém, uma vez consolidadas, se tornam
automáticas, inconscientes e extremamente resistentes ao esquecimento. São

44
exemplos de memórias motoras o aprender a andar de bicicleta ou o aprendizado
do manejo de um instrumento musical. Custamos a aprender; é necessário repetir
muitas vezes; mas uma vez aprendido, não mais conseguimos esquecer. E nem
tampouco somos capazes de explicar (declarar) como tocamos um violoncelo ou
andamos de bicicleta. Só conseguimos "explicar" mostrando, isto é, tocando o
instrumento ou andando na bicicleta. As regiões cerebrais envolvidas no
aprendizado e no armazenamento de habilidades motoras são as regiões do
encéfalo relacionadas à motricidade, quais sejam, o cerebelo e os núcleos da base
(conhecido também como corpo estriado) (Fuster, 2003).

Um fenômeno muito interessante relacionado às memórias e que merece ser


mencionado é o priming (também conhecido como pré-ativação). O priming é, na
realidade, um tipo de memória induzido por pistas ou dicas. Às vezes estamos
tentando lembrar de uma música ou de um poema, e não conseguimos. Porém, se
alguém cantarolar para nós as primeiras oitavas da música ou recitar para nós o
início dos primeiros versos do poema, quase instantaneamente nos lembramos de
todo o restante, como se fora uma reação em cascata. De fato, parece que, muitas
vezes, só nos lembramos de onde está um prédio quando dobramos a esquina
anterior à sua localização. Da mesma maneira, um animal só consegue lembrar da
saída do labirinto na medida em que vai percorrendo o mesmo - cada etapa serve
de pista para a etapa seguinte (Lashley, 1963).

Não sabemos quais regiões do cérebro estão envolvidas no priming, mas acredita-
se que ele seja um fenômeno difuso e que sua localização tenha a ver com a pista.
Se a pista for visual, o priming se associa a disparos de neurônios do córtex
occipital (área visual primária); se a pista for auditiva, disparam neurônios do lobo
temporal (área auditiva primária), e assim por diante. Entretanto, áreas
neocorticais de associação, como o córtex pré-frontal, estão certamente envolvidas
nesse fenômeno, uma vez que o priming envolve integração temporal de
informações (Kandel et al., 2013).

Parece que o priming é mais importante do que imaginamos, pois ele faz com que
tenhamos a tendência de evocar informações sobre as quais já recebemos alguma
pista em algum momento de nossa vida (Kandel et al., 2013). Ocorre que tais
pistas nos chegam, muitas vezes, tão rapidamente que nem tomamos consciência
delas, mas elas serão decisivas para nossas decisões futuras. Um exemplo claro
disso são as propagandas subliminares, nas quais o cérebro é bombardeado com
pistas (e.g. uma determinada marca de refrigerante). Da próxima vez que formos
comprar um refrigerante, nossa "escolha" acabará recaindo sobre a marca que nos
foi apresentada no passado.

Finalmente, devemos mencionar que estudar a memória é algo extremamente


difícil em virtude de dois problemas de ordem metodológica. Em primeiro lugar, não
há como estudar a memória de maneira "pura", pois os processos de memória
estão totalmente ligados a outros processos cognitivos, tais como função executiva,
atenção, emoção, motivação, linguagem, nível de estresse etc. Além disso, as
inúmeras baterias de testes psicométricos que se propõem a avaliar a memória
apresentam um grande inconveniente prático: em todas elas o examinador escolhe
o que e quando o paciente deve guardar e evocar uma dada informação. Acontece
que, na vida real, não é isso o que ocorre, pois, na realidade, é o sujeito quem
decide o que, quando e como deve lembrar de algo, e isso não é passível de ser
medido por meios objetivos (Luria, 1981).

REFERÊNCIAS

45
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Recebido: 14 de Julho de 2014; Revisado: 20 de Novembro de 2014; Aceito: 30 de


Dezembro de 2014

*
Endereço para correspondência: Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de
Ciências Biológicas, Departamento de Fisiologia, Campus Universitário, São Pedro,
Juiz de Fora, MG, Brasil 36036-900. E-mail: camouraojr@gmail.com

47
Transtornos do neurodesenvolvimento
Valeska Magierek

Publicado em 15 jul, 2018

 O que são os Transtornos do Neurodesenvolvimento?


Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições que surgem no
início do período do desenvolvimento (na infância) e que se manifestam bem cedo,
geralmente antes da criança ingressar na escola.

 O que caracteriza os Transtornos do Neurodesenvolvimento?

Os transtornos do neurodesenvolvimento são caracterizados por déficits no


desenvolvimento que trazem prejuízos no funcionamento pessoal, social,
acadêmico/pedagógico e, posteriormente, profissional.

Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas


naaprendizagem ou no controle de funções executivas (p, ex. planejamento e execução
de atividades, incluindo iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção sustentada)
até prejuízos globais em habilidades sociaisou inteligência.

 É frequente a ocorrência de mais de um transtorno do


neurodesenvolvimento?

Sim, é frequente aparecer mais de um transtorno do neurodesenvolvimento na criança.


Por exemplo, pessoas com Transtorno do Espectro Autista frequentemente apresentam
deficiênciaintelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual), e muitas crianças
com transtornode déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) apresentam também um

48
transtorno específico daaprendizagem. No caso de alguns transtornos, a apresentação
clínica inclui sintomas tanto deexcesso quanto de déficits e atrasos em atingir os marcos
esperados.

 Quais são os Transtornos do Neurodesenvolvimento?


Os Transtornos do Neurodesenvolvimento incluem as Deficiências Intelectuais, os
Transtornos da Comunicação (Transtorno da Linguagem, Transtorno da Fala, Gagueira,
Transtorno da Comunicação Social, Transtorno da Comunicação sem outras
especificações), o Transtorno do Espectro Autista (TEA), O Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH – Apresentação Combinada, Predominantemente
Desatenta,, Predominantemente hiperativa/impulsiva ), o Transtorno Específico da
Aprendizagem (com prejuízo na leitura, com prejuízo na escrita, com prejuízo na
matemática), os Transtornos Motores (Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação
e Transtorno do Movimento Estereotipado), os Transtornos de Tique (Transtorno de
Tourette, Transtorno de Tique Motor ou Vocal Crônico e Transtorno de Tique
Transitório) e Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento, com e sem especificações.

Há níveis de gravidade dos Transtornos do Neurodesenvolvimento?

Sim. Os Transtornos do Neurodesenvolvimento podem ser leve, moderado, grave e


profundo.

O nível de gravidade depende da frequência de comorbidades (outros quadros


associados) existentes.

 A que sinais as famílias precisam ficar atentas e que podem sinalizar a


existência de um Transtorno do Neurodesenvolvimento?
Como os Transtornos do Neurodesenvolvimento surgem na infância, os familiares
precisam ficar atentos aos Marcos do Desenvolvimento (quando a criança começou a
falar, quando começou a andar, se engatinhou, como é o sono da criança, se é uma
criança agitada ou quieta demais, se compreende bem o que lhe é dito, se se alimenta
bem e adequadamente, se a criança brinca com outras da mesma idade, dentre outros).

Por que é importante observar o desenvolvimento da criança?

A observação do desenvolvimento da criança favorece a identificação precoce de


quaisquer sinais que estejam abaixo do esperado para aquela faixa etária. A
identificação precoce favorece tanto o diagnóstico quanto o tratamento (reabilitações)
necessárias, a fim de minimizar os prejuízos ao desenvolvimento global da criança.

49
 O que devemos fazer quando identificarmos algum atraso no desenvolvimento
da criança?
Diante de qualquer atraso, mesmo que leve, no desenvolvimento se uma criança,
procure um especialista (médico, psicólogo, fonoaudiólogo ou outro profissional da área
de saúde), o mais rapidamente possível, a fim de que ele avalie a criança. A
identificação precoce é a forma mais eficiente de favorecer o desenvolvimento infantil,
mesmo nos casos mais graves, onde as reabilitações encontram maior dificuldade de
ações, devido às limitações da própria criança.

Valeska Magierek é Psicóloga, com especialização em Neuropsicologia e mestrado


em Psicobiologia. Atua há 20 anos na área de Psicologia Infantil e Neuropsicologia.
É Diretora clínica do Centro AMA de Desenvolvimento em
Barbacena. www.centroamadesenvolvimento.com.br

Funções Executivas

Funções Executivas: o que são e para que servem?

O cérebro é um elemento fundamental para a vida de uma pessoa. O órgão é o


responsável pelo controle que temos sobre nosso próprio comportamento e
autonomia. Em meio a tantas funções presentes nesta parte do corpo, uma que
devemos destacar é a executiva. Mas, afinal, como podemos definir as funções
executivas?

Elas são responsáveis pela realização das atividades diárias, indispensáveis em nossas
vidas. A definição que utilizaremos aqui é a seguinte: as funções executivas são um

50
conjunto de habilidades necessárias para o controle de nossa saúde mental e vida
funcional.

A importância das Funções Executivas

Ao longo de vários anos de pesquisa cientistas chegaram a uma conclusão importante


acerca das funções executivas. Estudos sugerem que o desenvolvimento dessas
funções é responsável por exercer influências diretas na regulação emocional. Além
disso, as funções cognitivas também são trabalhadas. As funções executivas são
responsáveis por coordenar e integrar o espectro da tríade neurofuncional da
aprendizagem.

Vale dizer que isso revela a necessidade da criação de um modelo integrado de


desenvolvimento tanto emocional quanto cognitivo. A evolução das funções
emocionais apresenta um papel importante na vida de todos, uma que vez que essa
habilidade atua na aprendizagem de diferentes conteúdos acadêmicos. Uma evidência
de tal ligação é o fato de muitos pesquisadores estudarem a relação entre distúrbios
de aprendizagem e as funções executivas.

Qual o papel das Funções Executivas na prática?

As funções executivas estão inteiramente ligadas a uma série de atividades, tal qual o
seu desenvolvimento é indispensável para uma vida regular e sem problemas. Vejam
abaixo:

 atenção(sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes dos


irrelevantes, evitamento de distratores, etc);

 percepção(intraneurossensorial, interneurossensorial, meta-integrativa,


analítica e sintética, etc);

 memória de trabalho (localização, recuperação, rechamada, manipulação,


julgamento e utilização da informação relevante, etc);

 controle(iniciação, persistência, esforço, inibição, regulação e auto-avaliação de


tarefas, etc);

 ideação(improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo, precisão e conclusão de


tarefas, etc);

 planificação e a antecipação(priorização, ordenação, hierarquização e predição


de tarefas visando a atingir fins, objetivos e resultados, etc);

 flexibilização (autocrítica, alteração de condutas, mudança de estratégias,


detecção de erros e obstáculos, busca intencional de soluções, etc);

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 metacognição(auto-organização, sistematização, automonitorização, revisão e
supervisão, etc);

 decisão (aplicação de diferentes resoluções de problemas, gestão do tempo


evitando atrasos e custos desnecessários, etc);

 execução(finalização e concomitante verificação, retroação e reaferênciação,


etc) (FONSECA, 2014).

A importância de treinar as funções executivas é evidente também para treinar as


funções cognitivas, tendo em vista que esses conjuntos de habilidades estão
interligados.

Além disso, o potencial de aprendizagem de pessoas que estão em idade escolar ou


universitária pode ser otimizado de forma que o cérebro receba bem os estímulos
necessários para o seu processo de desenvolvimento, trabalho, etc.

Funções executivas na escola

É imprescindível que um estudante tenha suas funções executivas bem trabalhadas


para uma vida acadêmica satisfatória. Um conjunto diversificado de competências
executivas deve ser aprimorado. Esse grupo pelas atividades:

 Estabelecer objetivos;

 Planificar, gerir, predizer e antecipar tarefas, textos e trabalhos;

 Priorizar e ordenar tarefas no espaço e no tempo para concluir projetos e


realizar testes;

 Organizar e hierarquizar dados, gráficos, mapas e fontes variadas de


informação e de estudo;

 Separar ideias e conceitos gerais de ideias acessórias ou de detalhes e


pormenores;

 Pensar, reter, manipular, memorizar e resumir dados ao mesmo tempo em que


leem, etc.

FONSECA, V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem. Abordagem


neuropsicológica e psicopedagógica. Petrópolis: Vozes, 2007.

52
Avaliação neuropsicolohica em idosos

Artigo- Avaliação neuropsicolohica em idosos


http://seer.upf.br/index.php/rbceh/article/view/101/252

https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1103.pdfA NEUROPSICOLOGIA DO ENVELHECER:


AS “FALTAS” E “FALHAS” DO CÉREBRO E DO PROCESSO COGNITIVO QUE PODEM SURGIR NA
VELHICE

Avaliação Neuropsicológica em idoso


11 de Maio de 2018

A população está vivendo por um tempo maior e isso é muito bom. De acordo com
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma pessoa nascida no
Brasil em 2016 tem a expectativa de viver, em média, até os 75 anos. O estudo
realizado em 2011 pelo IBGE sobre o envelhecimento no Brasil aponta que a
população idosa, pessoas com 60 anos ou mais, corresponde a 23,5 milhões de
brasileiros.

Tem uma música do Arnaldo Antunes que diz: “A coisa mais moderna que existe
nessa vida é envelhecer”. E concordo muito com essa frase, realmente, não há nada
mais moderno que envelhecer. E chegar nessa fase da vida é uma grande conquista,
mas também é um grande desafio.

Juntamente com o processo do envelhecimento, as doenças envolvidas e associadas


ao envelhecimento também se tornam mais frequentes. E dentre essas doenças
estão as demências. A Neuropsicologia é uma especialidade da psicologia que
contribui com o tratamento dessas doenças.

Portanto, nesse artigo abordarei as principais contribuições da avaliação


neuropsicológica em idosos e a sua relação no tratamento de demências. Se você
quer se informar sobre esse assunto, continue a leitura desse artigo.

Qual a importância da Avaliação Neuropsicológica em idosos?

A Neuropsicologia se compromete, na avaliação com idosos, identificar se as


habilidades cognitivas, que são a atenção, linguagem, memória, percepção visual e
outras funções executivas, se conferem com aquilo que é esperado para
determinada faixa etária ou se elas estão apresentando algum prejuízo além do
esperado para a idade do paciente.

O cérebro envelhece e então algumas habilidades cognitivas podem se alterar. Por


exemplo, é comum um idoso ficar mais lento, a qualidade da atenção ser um pouco

53
mais limitada, ele pode ter uma dificuldade de velocidade de processamento de
respostas. Mas isso só até certo ponto. Não é esperado que isso seja tão intenso e
nem é esperado que ele tenha dificuldades significativas para gravar novas
informações, para ter raciocínios e assim por diante.

Avaliação neuropsicológica para tratar a demência

A avaliação neuropsicológica em idosos contribui, e muito, para a identificação dos


processos demenciais. E cada vez mais, nós Neuropsicólogos contamos com repertório
de testes e instrumentos que estão sendo validados pra população brasileira,
contemplando essa faixa etária mais avançada.

Um fator muito importante que o profissional precisa saber que esse tratamento não
engloba apenas a necessidade de compreender o envelhecimento cognitivo
saudável, mas também compreender o perfil cognitivo de cada demência. Como
exemplo, a demência de Alzheimer, demência vascular, demência frontotemporal,
dentre outros tipos da doença. É fundamental compreender as patologias e
acompanhar esse paciente, porque mesmo que a demência não tenha cura, ela tem
um tratamento para amenizar os seus impactos.

As intervenções medicamentosas precisam ser associadas às intervenções não


medicamentosas. Dentre elas a reabilitação cognitiva, que visa minimizar o impacto
das demências no dia a dia do idoso e da família. Além das estratégias de treino
cognitivo para tentar diminuir a velocidade da progressão da demência.

https://blog.ipog.edu.br/saude/como-funciona-a-avaliacao-neuropsicologica-em-
idosos/

Dicas de vídeos
Minutos psíquicos

https://youtu.be/hk37Avkusv0 sistema nervoso - cerébro

https://youtu.be/XsLNJSshq34 Neuronios

https://youtu.be/dUCQdMti3rM agnosia apraxia e afasia

https://youtu.be/213Wcb6iIT8 Tilts do cerébro

54
Dicas de conteúdo
@nnc.ufmg

@cesepsi.neuropsicologia

@ind.ufmg

@revista.neurociencias

@prof.aclerton

@newscientist

@neurostudent

Que a psicologia e a neuropsicologia possa estar sempre a serviço da melhora da


qualidade de vida das pessoas que dela necessite. Que haja comprometimento, ética
e amor a psicologia por parte de quem a pratica.

Bons estudos!
Luciana Gaudio

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