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NEUROCIÊNCIA
NEUROPSICOLOGIA
Belo Horizonte
2020
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SUMÁRIO
Memória............................................................ 33
Transtornos do neurodesenvolvimento ............. 48
Funções Executivas ........................................... 50
Avaliação Neuropsicológica em idoso ................. 53
Dicas de vídeos .................................................. 54
Dicas de conteúdo ............................................. 55
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Pra começo de conversa...
Esta apostila foi organizada com diversas fontes com o objetivo de facilitar o estudo da
neuropsicologia que é um ramo da ciência que cresce a cada dia. Atualizações se fazem
necessárias com constância.
É importante perceber também que há muitas leituras possíveis em cada tema abordado,
pois alguns autores focam no biológico, outros são mais relacionais, e há sempre
divergências. Contudo o ponto comum é a necessidade de considerar o contexto da
pessoa estudada. Não podemos perder de vista que a pessoa que tem uma dificuldade
neurológica não é apenas uma maquina biológica, ela possui um contexto sócio
econômico, emoções, sentimentos e um delicado mecanismo psicológico que compõe a
forma de manifestação neuropsicológica.
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O SISTEMA NERVOSO
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O Sistema Nervoso
Norma Moreira Salgado Franco
A grande maioria dos nomes usados para denominar as estruturas do SN vem do latim,
do grego ou do nome de algum cientista que a descobriu. Para o nosso alívio os
cientistas preferem usar nomes derivados do latim, o que muito nos facilita, pois estes
têm uma correspondência direta com a nossa língua portuguesa. O nosso grande
problema é com os livros traduzidos que utilizam a palavra inglesa brain para indicar
tanto cérebro quanto encéfalo. O que para nós, neuroanatomistas, tem muita
diferença. Tentaremos dar aqui uma pequena base para você saber discernir melhor
esse termo.
O Sistema Nervoso é formado por um tecido composto por duas células: os neurônios
(elementos ativos de condução nervosa) e as neuróglias (elementos de suporte
estrutural, entre outras funções). Assim, para realizar qualquer tarefa precisamos
dessas células. As mensagens são enviadas através de impulsos nervosos que trafegam
através do axônio (a fibra do neurônio) e são passadas a outros neurônios em junções
especializadas conhecidas como sinapse (ponto de encontro entre dois neurônios).
Uma cadeia desses neurônios é chamada de via.
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substâncias cinzentas. O SNC é formado por essas substâncias, que são assim
chamadas, por apresentarem esta colaração quando observadas macroscopicamente.
Os órgãos do SNC são protegidos, além das estruturas ósseas já citadas, pelas
meninges chamadas de dura-máter (a mais externa), aracnóide (a intermediária) e
pia-máter (a mais interna); esta última adere intimamente as estruturas do SNC. Entre
as meninges existem espaços, um deles é o espaço subaracnóide que fica
compreendido entre a meninge aracnóide e pia-máter e circula o líquor também
conhecido como líquido cefalorraquidiano. Esse líquor é também encontrado em
quatro cavidades chamadas de ventrículos e circula por todo o SNC (o que
estudaremos mais tarde no capítulo 10).
O SNP é formado por nervos (31 pares de nervos espinhais e 12 pares de nervos
cranianos), gânglios e terminações nervosas. Os nervos são cordões esbranquiçados
(formados por fibras nervosas) especializados em conduzir impulsos nervosos (tanto
levam a informação ao SNC quanto trazem a resposta para a periferia). Se a união se
faz no encéfalo são chamados de cranianos e se ocorre na medula são chamados de
espinhais. Os gânglios são aglomerados de corpos de neurônios, que do ponto de vista
funcional podem ser de dois tipos: gânglios sensitivos (encontrados na medula
espinhal) e gânglios viscerais pertencentes ao Sistema Nervoso Autônomo (os quais
veremos mais tarde no capítulo 15). Nas extremidades das fibras nervosas que
constituem os nervos, encontram-se as terminações nervosas que do ponto de vista
funcional, podem ser de dois tipos: as que captam informações do ambiente levando-
as ao SNC, chamadas de sensitivas ou aferentes, e as que levam as informações do
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SNC ao efetores, chamadas de eferentes ou motoras.
Referências Bibliográficas:
POLISUK, Julio; GOLDFELD, Sylvio. Pequeno dicionário de termos médicos. 4.ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1995. REY, Luís. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde.
2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
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Exames Especiais do SNC
Norma Moreira Salgado Franco
Vários exames são usados por neurologistas e psiquiatras para auxiliar no diagnóstico
de patologias relacionadas ao SNC. A seguir, descreveremos resumidamente alguns
destes exames:
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infartos cerebrais. Esta técnica está baseada na tecnologia utilizada nos raios X, capaz
de produzir feixes muito estreitos e paralelos que percorrem ponto a ponto o plano da
estrutura do SNC a qual pretende-se observar, verificando a radiodensidade de cada
ponto. Na realidade é uma reconstrução matemática das densidades dos tecidos
estudados, pois os dados obtidos são enviados a um computador, o qual reconstrói a
imagem. A TC mostra o sangue, o líquor e o tecido nervoso, apesar das substâncias
branca e cinzenta não serem bem distinguidas nessa técnica. O método não é invasivo
e o paciente pode estar acordado ou em coma. É indicado para a investigação de
processos expansivos, doenças vasculares, degenerativas, parasitárias e nos
traumatismos cranianos. Muitos pesquisadores têm lançado mão desse método para a
investigação de anormalidades cerebrais que ocorrem em alguns distúrbios
psiquiátricos, como por exemplo, a esquizofrenia (que apresenta os ventrículos mais
dilatados). 4 – Angiografia cerebral Permite a visualização dos vasos sanguíneos
intracranianos. Nessa técnica é utilizada uma injeção de contraste radiopaco nas
artérias carótida e vertebral. Normalmente essa técnica é usada na suspeita do
diagnóstico de aneurisma. 5 – Ressonância Magnética (RM) Foi inventada por Purcell e
Bloch em 1940, porém a sua utilização ocorreu somente a partir do final da década de
80. A RM ampliou as possibilidades de obtenção de imagens através da análise
estrutural do encéfalo, da formação de imagens tridimensionais e de métodos de
volumetria. Utiliza ondas magnéticas, ao invés de radiação X, a fim de produzir as
imagens. Nesse método, observa-se a diferenciação existente entre a substância
branca e a cinzenta, o fluxo sanguíneo cerebral e o tamanho dos ventrículos. 174 175 A
RM possibilita obter imagens do encéfalo em qualquer plano de corte (sagital, coronal
ou transversal), superando as que são obtidas na TC, por apresentarem alta nitidez e
melhor resolução. É indicada nas patologias intracranianas de origem tumoral e
desmielinizante. O paciente submetido a esse procedimento deve estar acordado e
não ser portador de aparelhos metálicos, próteses respiratórias ou marcapasso.
Referências Bibliográficas:
BRANDÃO, Marcus Lira. Psicofisiologia. São Paulo: Atheneu, 1995. JACOB, Stanley W.;
FRANCONE, Clarice Ashworth; LOSSOW, Walter J. Anatomia e fisiologia humana. 5.ed.
Rio de Janeiro: Guanabara, 1990.
9
KANDEL, Eric R.; SCHWARTZ, James, H.; JESSELL, Thomas M. Fundamentos da
neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
POLISUK, Julio; GOLDFELD, Sylvio. Pequeno dicionário de termos médicos. 4.ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1995. RADIOLOGY 101 : the basics and fundamentals of imaging.
William E. Erkonen [Editor]. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998. RATTON, José Luiz de
Amorim. Medicina intensiva. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1997.
Lobo frontal
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o córtex pré-frontal. A área motora primária constitui a maior parte do giro pré-
central. Contém quase todos os corpos celulares dos neurônios que originam as vias
motoras descendentes, sendo ativada na iniciação dos movimentos voluntários. As
áreas pré-motoras e motoras suplementares ocupam o restante da circunvolução
pré-central, envolvendo também porções adjacentes dos giros frontais superior e
médio. Estão também funcionalmente relacionadas com a iniciação dos
movimentos voluntários, principalmente o planejamento. A área de
Brocacorresponde às porções opercular e triangular do giro frontal inferior.
Localiza-se, preferencialmente na população, no hemisfério esquerdo. Suas funções
estão associadas à escrita e à fala. O córtex pré-frontal é todo o restante do lobo
frontal. Essa região relaciona-se com a regulação e inibição de comportamentos e a
formação de planos e intenções. As alterações provocadas no lobo frontal teriam
como consequência dificuldades de atenção, concentração e motivação, aumento
da impulsividade e da desinibição, perda do autocontrole, dificuldades em
reconhecer a culpa, hipersexualidade, dificuldade em avaliar as consequências das
ações praticadas, agressividade e aumento da sensibilidade ao álcool, bem como
incapacidade de aprendizagem com a experiência (fonte:
mapadocrime.com.sapo.pt).
Lobo parietal
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matemático (acalculia). Também pode produzir desordens na linguagem (afasia) e
inabilidade em perceber objetos (agnosia). Danos ao lobo parietal direito podem
resultar em negligência a uma parte do corpo ou do espaço (negligência
contralateral), a qual abala muitas das habilidades de cuidado próprio, tais como
vestir-se e banhar-se. Danos no lado direito também podem causar dificuldades
para a realização de tarefas (apraxia), a negação de déficits (anosagnosia) e perda
das habilidades para desenhar (fonte: Neuroanatomia funcional, 2ª edição, Adel K.
Afifi e Ronald A. Bergman).
Lobo temporal
O lobo temporal, por sua vez, pode ser subdividido funcionalmente na área
auditiva primária, na área de Wernicke, porções inferiores do lobo
temporal relacionadas ao processamento da informação visual e a parte mais medial
do lobo temporal, relacionada com aprendizagem e memória. A área auditiva
primária está localizada em parte da superfície superior do lobo temporal que se
continua com uma pequena área do giro temporal superior. A área de Wernicke,
localizada na porção posterior também do giro temporal superior, geralmente no
hemisfério esquerdo, é importante para a compreensão da linguagem. Alguns
autores estendem esta área para o lóbulo parietal inferior e para o giro temporal
médio. Como estas áreas circundam a fissura de Sylvius são muitas vezes referidas
como zona da linguagem perisylviana (fonte: Neuroanatomia funcional, 2ª edição,
Adel K. Afifi e Ronald A. Bergman).
Lobo occipital
Lobo da ínsula
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Até pouco tempo, a ínsula era caracterizada como uma das áreas mais
primitivas do cérebro, envolvida em atividades básicas como alimentação e sexo.
Recentemente, novos estudos determinaram outras funções mais complexas. Por
exemplo, na porção frontal da ínsula, experiências sensoriais são transformadas em
emoções e sentimentos, como nojo, desejo, decepção, culpa, ressentimento,
orgulho, humilhação, arrependimento, compaixão e empatia. A ínsula está ativada
quando o organismo é preparado para situações premeditadas. Quando, por
exemplo, alguém tem de sair de casa e lá fora faz frio, ela é ativada de modo a
ajustar o metabolismo para enfrentar a situação. Além disso, a ínsula modula a
resposta do organismo a estímulos dolorosos. Curiosamente, em pacientes vítimas
de fobias e de transtorno obsessivo-compulsivo, a ínsula registra atividade intensa
(fonte: neurologista Mauro Muszkat e revista Science).
https://fredywander.blogspot.com/2012/12/lobos-cerebrais-e-suas-
especializacoes.html
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substâncias com determinados receptores específicos para elas. Esses mensageiros
químicos são conhecidos como neurotransmissores.
Neste artigo, você vai poder entender mais sobre quais características uma substância
precisa apresentar para ser considerada um neurotransmissor. Além disso, conhecerá
os tipos principais, as principais funções biológicas desempenhadas e o que a falta
delas pode produzir no organismo.
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É importante destacar que a neurotransmissão é um processo extremamente
específico. Em ouras palavras, para ser afetada por certos neurotransmissores, a célula
deve ter receptores específicos para essas moléculas.
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Os neurotransmissores podem atuar como mensageiros de sinais inibitórios ou
excitatórios para o neurônio pós-sináptico. Eles produzem uma hiperpolarização ou
uma despolarização de sua membrana, embora a mesma molécula possa inibir ou
excitar. Isso acontece porque há um certo número de neurotransmissores, mas uma
grande variedade de receptores em diferentes tipos de células.
Acetilcolina
A acetilcolina está amplamente distribuída por todo o sistema nervoso central (SNC) e
periférico (SNP), e também na junção neuromuscular. É o único neurotransmissor
utilizado no sistema nervoso somático e um dos muitos neurotransmissores do
sistema nervoso autônomo (SNA). É também o neurotransmissor de todos os gânglios
autonômicos.
Dopamina
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Contudo, apesar de desempenhar importante papel em determinadas funções
emocionais e cognitivas, a dopamina é sobretudo conhecida pela sua associação com a
doença de Parkinson. Ocorre nesta doença a degeneração de neurônios
dopaminérgicos provenientes da substância negra, e que enviam suas projeções para o
estriado. Este está envolvido no controle do movimento.
Noradrenalina
Serotonina
Glutamato
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Estudos já identificaram a associação entre o glutamato e doenças como epilepsia,
isquemia cerebral, tolerância e dependência a drogas, dor neuropática, ansiedade e
depressão.
O GABA está presente no córtex cerebral, no cerebelo, sendo liberado por diversos
interneurônios localizados no cérebro e na medula espinhal. É o principal
neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, estando presente em
aproximadamente 20% das sinapses.
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Agonistas vs antagonistas
Efeitos diretos versus indiretos: Esses medicamentos de ação neurológica podem ser
ainda mais discriminados com base no fato de terem um efeito direto ou indireto.
Aqueles que têm um efeito direto funcionam imitando os neurotransmissores porque
são muito semelhantes na estrutura química. Aqueles que têm um impacto indireto
agem agindo nos receptores sinápticos.
Identificando neurotransmissores
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Por causa disso, os neurocientistas desenvolveram várias diretrizes para determinar se
um produto químico deveria ou não ser definido como um neurotransmissor:
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Histórico da neuropsicológica e da neurociência
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Histórico da neuropsicologia- artigos e textos
Aspectos históricos da neuropsicologia: subsídios para a formação de
educadore http://www.scielo.br/pdf/er/n25/n25a11.pdf
Avaliação neuropsicológica: aspectos históricos e situação atual
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98931996000300003
Histórico da Neuropsicologia
Contudo, desde a antiguidade, busca-se identificar que parte do corpo humano seria
a sede de controle da mente, das emoções e do comportamento. Existem evidências
de que técnicas de trepanação eram praticadas desde a pré-história e umas das
hipóteses, dentre as várias existentes, para explicar esta prática é a de que, na
antiguidade, acreditava-se que ao fazer orifícios no crânio criava-se uma saída para
os maus espíritos e assim era possível curar transtornos mentais e dores de cabeça.
O coração também já foi tido como o centro da mente ou da alma humana. Essa
ideia ficou conhecida como hipótese cardíaca. Ainda hoje, ouvimos popularmente
expressões coerentes com esta ideia, como, por exemplo, quando dizemos “fazer o
que o coração manda”.
No período grego clássico, muitos filósofos buscaram explicar a relação corpo e alma.
Platão (428-348 a.C.) explicava que o corpo era a instância material, perene, e
mutável do homem enquanto a alma era a imaterial, a eterna, imutável. Aristóteles
(384-322 a.C.) explicava a atividade mental dividindo-a em diversas capacidades
(pensar, julgar, imaginar, etc.), mas todas tinham o coração como sede anatômica
(HAMDAN et al., 2011).
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chamada hipótese cerebral, que viam o cérebro como o responsável pela atividade
mental.
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35 funções específicas (ver figura 2) e acreditavam ser possível por meio da análise
do crânio descrever a personalidade de uma pessoa. Esta técnica foi chamada de
personologia anatômica.
1) cada região cerebral pode ser entendido como um “órgão” que comanda
determinada atividade mental ou comportamental específica;
2) a superfície craniana poderia ser moldada a partir do desenvolvimento de cada
região cerebral;
3) uma região cerebral bem desenvolvida pode crescer em volume e resultar em um
crescimento visível no crânio.
Isso não quer dizer que uma avaliação neuropsicológica não mantenha este objetivo,
mas este propósito é prioritário, exclusivamente, em casos de patologias cujos
sintomas manifestam-se antes, ou independente, das alterações cerebrais
alcançarem um nível detectável pelos procedimentos de neuroimagem.
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A história da neurociência
Investigando o cérebro.
O cérebro é o ultimo órgão humano a revelar seus segredos. Durante muito tempo,
as pessoas não entendiam nem mesmo para que serve o cérebro. A descoberta da
anatomia, das funções e dos processo do cérebro tem sido uma longa e vagarosa
viagem através dos milênios.
Exploração do cérebro:
O cérebro é difícil de ser investigado porque suas estruturas são minúsculas e seu
funcionamento não pode ser observado a olho nu. Seu produto mais interessante – a
consciência – não era percebido como um processo físico; por tanto, não havia
razões para que nossos ancestrais a relacionassem ao cérebro. Mas nos últimos 25
anos com o advento das técnicas de imageamento, os neurocientistas conseguiram
produzir um mapa detalhado do que já foi um território inteiramente misterioso.
Cronologia:
4000 a.C: Sumérios escrevem sobre a euforia provocada pela semente de papoula.
1700 a.C: Papiros descrevem detalhadamente o cérebro, mas os egípcios não o tem
em alta conta; diferentemente de outros órgãos, era removido e descartado antes da
mumificação, indicando que não se acreditava que seria útil nas encarnações
seguintes.
450 a.C: Os gregos antigos começam a reconhecer o cérebro como centro das
sensações humanas.
387 a.C: O filosofo grego Platão dá aulas em Athenas; ele acredita que o cérebro é o
centro dos processos mentais.
335 a.C: O filosofo grego Aristóteles reitera a crença antiga de que o coração é o
órgão superior; o cérebro, diz ele, é um radiador que impede o superaquecimento do
corpo.
170 a.C: O medico romano Galena lança a teoria de que o temperamento e o caráter
humanos são decorrentes do quatro “humores” (líquidos mantidos nos ventrículos
do cérebro). A ideia persistiu por mais de 1000 anos. A descrições de anatomia de
Galeno, usadas por gerações de médicos, tiveram como base principal em macacos e
porcos.
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1543: Andreas Versalius, medico europeu publica o primeiro livro de anatomia
(moderno) com ilustrações detalhadas do cérebro humano.
1649: Para o filosofo francês Renê Descartes, o cérebro é um sistema hidráulico que
controla o comportamento. Funções mentais “mais elevadas” seriam geradas por
uma entidade espiritual, que interagiria com o corpo e a glândula pineal.
1774: O medico alemão Franz Anton Mesme introduz “Magnetismo animal”, mais
tarde chamado de hipnose.
1791: Luiz Galvani, físico italiano descobre a base elétrica da atividade nervosa
fazendo a perna de uma rã se retorcer.
1848: Phineas Gage tem o cérebro perfurado por uma barra de ferro.
1850: Franz Joseph Gall funda a frenologia que atribui diferentes traços de
personalidade a áreas especificas do crânio.
1874: Carl Wernicke publica o seu trabalho sobre afasia “distúrbios de linguagem
após lesão cerebral.”
Por volta de 1900 Sigmund Freud abandona a neurologia ainda no inicio para estudar
psicodinâmica. O sucesso da psicanálise freudiana ofuscou a psiquiatria fisiológica
por meio século.
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1906: Santiago Ramón y Cajal descrevem como os neurônios se comunicam. Ainda
em 1906 Alóis Alzheimer descreve a degeneração pré-senil.
1919: O neurologista irlandês Gordon Morgan Holmes relaciona a visão com a córtex
estriado (a córtex visual primário).
1953: Brenda Milner descreve o paciente H.M que perde a memória após remoção
cirúrgica de porção da ambos os lobos temporais.
1981: Roger Wolcott Sperry ganha o Prêmio Nobel pelo estudo das diferentes
funções nos dois hemisférios cerebrais.
Marcos da neurociência:
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Frenologia - Franz Joseph Gall
Cabeça frenológica.
Este educado e benquisto supervisor de obras ferrovias americano passou por uma
transformação, tornando-se agressivo e desrespeitoso depois que teve parte do
cérebro destruída em um acidente. O estudo deste paciente demonstrou que
faculdades como o juízo moral e social podem estar localizados no lobos frontais.
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Lesão Fatídica
Essa ilustração do crânio de Phineas Gage mostra como a barra de ferro lesionou os
lobos frontais.
Em 1861, o médico francês Paul Broca descreveu o caso de um paciente que chamou
de "Tan", pois essa era a única palavra que ele falava. Quando Tan morreu, Broca
examinou seu cérebro e descobriu uma lesão na porção interior do córtex frontal
esquedo. Essa parte do cérebro passou a se chamada "Área de Broca". Em 1876 o
neurologista alemão Carl Wernicke descobriu que a lesão na porção posterior do
lobo temporal do hemistério cerebral esquerdo, a Área de Wernicke, também
causava problemas de linguagem. Os dois cientistas foram os primeiros a definir com
clareza áreas funcionais do cérebro.
O neurologista espanhol José Delgado inventou um implante cerebral que podia ser
controlado remotamente por ondas de rádio. Numa famosa experiência, realizada
em 1964. Delgado enfrentou um touro fazendo com que ele parasse ativando o
implante no cérebro do animal. Em outras experiências colocou o dispositivo no
cérebro de um chimpanzé que intimidava um companheiro. Delgado colocou o
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controle na gaiola do chimpanzé- vitima, que o usou para "desligar" o mau
comportamento do outro.
Delgado e o touro
Em 1953, aos 27 anos "HM" foi submetido a uma cirurgia nos EUA para tratar de uma
epilepsia grave. Os cirurgiões, que na época desconheciam as funções do hipocampo,
retiraram uma grande parte dele. O paciente se tornou incapaz de formar novas
memórias até o fim da vida. Esse acidente trágico demonstrou o papel crucial do
hipocampo na memória.
Congelado no tempo.
Henry G. Molaison - geralmente conhecido apenas como "HM" - foi um dos pacientes
mais estudados na história da medicina moderna.
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O neurobiologo Roger Sperry conduzio as experiências do cérebro bipartido em
pessoas cujo os hemisférios foram separados cirurgicamente durante o tratamento
para epilepsia. Elas demonstraram que sob determinadas condições, cada hemisfério
pode abrigar pensamentos e intensões diferentes. Isso suscitou a profunda questão
sobre ser uma única pessoa, ter um único "eu".
Macaco imitador
Referências Bibliográficas:
MORAES, Alberto Parahyba Quartim de - O Livro do cérebro. Vol 1. São Paulo. SP,
Editora Duetto - 2009. Pag 8 até 11.
Memória
Psicologia: Reflexão e Crítica
Print version ISSN 0102-7972On-line version ISSN 1678-7153
https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528416
Memória
Carlos Alberto Mourão Júnior *
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil
RESUMO
Este artigo tem como objetivo central apresentar os processos de memória de maneira
didática, proporcionando aos alunos e futuros pesquisadores um primeiro contato
33
satisfatório com o tema. Já há algum tempo, tem sido observada a ocorrência de
confusões conceituais e metodológicas no campo da neurociência cognitiva, tanto em
relação à memória quanto em relação às outras funções psicológicas básicas. Neste
ensaio, alguns conceitos principais são esclarecidos. É apresentada uma classificação
fenomenológica da memória, a qual inclui a memória sensorial, a memória de trabalho e
as memórias de curta duração e de longa duração. Também são explicados os
processos de consolidação e evocação das memórias, evidenciando os mecanismos
biológicos envolvidos nestes processos.
ABSTRACT
This paper aims to present the memory processes in a didactic manner, providing
students and future researchers with a first contact with this subject. For a long time,
we have observed the occurrence of conceptual and methodological confusion in the
field of cognitive neuroscience, regarding memory and other basic psychological
functions. In this essay, some key concepts are clarified. A phenomenological
classification of memory is presented, which includes sensory memory, working memory
and long term memories. Memory consolidation and retrieval processes are also
explained, appraising the biological background involved in these processes.
Percebemos certa carência de textos curtos de revisão sobre o tema, que permitam
aos interessados em estudar a memória uma visão panorâmica sobre o assunto. Já
há algum tempo, temos observado a ocorrência de confusões conceituais e
metodológicas no campo da neurociência cognitiva, tanto em relação à memória
quanto em relação às outras funções psicológicas básicas. Tentaremos, neste
ensaio, sistematizar e esclarecer alguns conceitos. Não serão colocadas citações ao
longo do texto a fim de facilitar a fluidez da leitura, exceto se apresentarmos dados
de outros estudos.
Por fim, é importante deixar claro que a separação das funções psicológicas se dá
apenas no nível teórico para atender a fins didáticos. No entanto, essa separação é
artificial, pois as funções psicológicas não atuam separadamente umas das outras.
No processo de memorização, por exemplo, há outras funções psicológicas
envolvidas, como a motivação, a atenção, a percepção e o aprendizado. Da mesma
maneira, para a evocação das memórias, são necessárias outras funções
psicológicas como a função executiva e a linguagem.
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simplista, veremos, no decorrer do texto, que ao falar de memória, definitivamente
não estamos falando de algo simples.
Com relação à maneira pela qual as memórias são armazenadas, pouco se sabe a
esse respeito. Apesar dos inúmeros avanços feitos pela neurociência nos últimos
anos, ainda é um mistério entender como potenciais elétricos e fenômenos
bioquímicos estão ligados às representações mentais que fazemos, mesmo que
alguns neurocientistas se atrevam a dar saltos conceituais, encerrando premissas
que a ciência é incapaz de fundamentar. O que se sabe, atualmente, é que as
informações que chegam ao nosso cérebro formam um circuito neural, ou seja, a
informação recebida ativa uma rede de neurônios, que, caso seja reforçada,
resultará na retenção dessa informação (por informação, entendemos qualquer
evento passível de ser processado pelo sistema nervoso: um fato, um objeto, uma
experiência pessoal, um sentimento ou uma emoção). Por isso considera-se que a
repetição seja uma estratégia necessária para a memória. Não nos esquecemos,
por exemplo, o número do telefone de nossa casa porque, ao longo de nossa vida,
repetimos essa informação inúmeras vezes. Esse processo interfere na
memorização do número exatamente porque toda vez que repetimos os estímulos,
ativamos o mesmo circuito neural. A ativação contínua reforça esse circuito e torna
mais fácil a posterior evocação da informação armazenada.
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de trabalho (ou memória operacional) que discutiremos mais adiante ( Squire & Kandel,
2003
).
Fica claro, portanto, que quando dizemos que o cérebro armazena informações, não
podemos imaginar que a informação fique guardada dentro de "gavetas cerebrais",
ou seja, armazenar uma informação não significa colocá-la dentro de certos
neurônios como se estes fossem uma espécie de armário. O armazenamento é
possível graças à neuroplasticidade, que pode ser definida como a capacidade que o
cérebro tem de se transformar diante de pressões (estímulos) do ambiente. Disso,
podemos concluir também que as informações ficam armazenadas em regiões
difusas do cérebro, envolvendo redes complexas de neurônios, as quais modificam-
se para armazenar informações (Kandel, Schwartz, Jessell, Siegelbaum, &
Hudspeth, 2013).
Mas, como aquilo que lemos, ouvimos, vemos ou pensamos é capaz de transformar
nosso cérebro? Como potenciais elétricos são capazes de gerar as imagens que
vêm à tona em nossa consciência quando nos lembramos da nossa casa, por
exemplo? Ou será que essa relação de causa e efeito entre fenômenos físico-
químicos e representações mentais nem mesmo pode ser estabelecida?
Infelizmente, para essas questões a neurociência ainda não tem respostas
definitivas.
Por fim, após o processo de retenção, estaremos aptos a iniciar, caso assim o
desejemos, o processo de evocação das memórias, o qual diz respeito ao retorno
espontâneo ou voluntário das informações armazenadas. A evocação (ou
recuperação) envolve a organização dos traços de memória em uma sequência
coerente no tempo (fenômeno chamado de integração temporal) e ocorre
principalmente no córtex pré-frontal, através de um processo denominado memória
de trabalho, o qual será detalhado mais adiante. Alguns autores apontam que
existem dois tipos de recuperação frequentemente distinguidos:
o reconhecimento e a recordação (Mourão & Melo, 2011b).
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traz a sensação de reconhecimento. Por outro lado, na recordação, não há nada de
familiar momentaneamente presente em nossa percepção consciente. Nesse caso,
não estamos diante do estímulo previamente conhecido (o qual será recuperado). É
como se recuperássemos voluntariamente uma informação armazenada. É isso que
acontece quando precisamos nos lembrar de uma fórmula de física durante a
prova: temos que "puxá-la" da memória. Mais uma vez, é importante destacar que
normalmente esses processos estão relacionados. Quando estamos diante de uma
pessoa conhecida, por exemplo, nós a reconhecemos e, logo em seguida,
começamos a recordar espontaneamente uma série de informações referentes a
ela, como seu nome, o local onde a conhecemos, as conversas que tivemos, se é ou
não uma pessoa interessante etc.
Por muito tempo, acreditou-se que evocar uma informação era reativar o mesmo
circuito neural que foi ativado quando estivemos em contato com esse estímulo
pela primeira vez. Assim, quanto mais parecido fosse o ambiente externo no
momento do armazenamento e no momento da evocação, mais eficiente seria o
nosso processo de evocação, pois mais parecidos seriam os padrões neurais
ativados. No entanto, estudos recentes (Izquierdo & Medina, 1997) demonstraram que tanto
os mecanismos cerebrais quanto a bioquímica envolvidos no processo de evocação
são diferentes daqueles envolvidos no processo de armazenamento.
Deve-se atentar para o fato de que os subprocessos descritos acima não acontecem
de maneira linear no tempo, essa divisão é feita apenas para atender a fins
didáticos. Na realidade, o mais das vezes, esses processos acontecem de maneira
simultânea. Por exemplo, enquanto o processo de armazenamento da informação
está em curso (evidentemente esse processo leva algum tempo), podemos dar
início ao processo de evocação dessa mesma informação, sem que para isso
tenhamos que "pausar" momentaneamente o processo de consolidação da
informação. Ou então, quando estamos tentando memorizar um novo conjunto
específico de informações, ao mesmo tempo, o cérebro está recebendo outras
tantas informações relacionadas à primeira (logo os processos de aquisição e
consolidação estão em curso concomitantemente). Para exemplificar, imagine que
estejamos estudando sobre o átomo. Enquanto tentamos construir e armazenar
uma possível definição para a palavra átomo, estaremos lendo (adquirindo) outras
inúmeras informações que complementarão tudo aquilo que iremos armazenar
sobre esse assunto, bem como estaremos evocando quaisquer informações prévias
que estejam armazenadas em nosso cérebro e que sejam relacionadas ao tema.
37
Lent (2010)
, por exemplo, propõe que podemos diferenciar as memórias a partir de
duas características centrais: tempo de armazenamento (ultrarrápida, curto prazo e
longo prazo) e natureza da memória (explícita, implícita e de trabalho).
Mourão e Abramov (2011), por outro lado, propõem uma divisão de caráter
funcional, segundo a qual existem dois tipos de memória: a memória de arquivo e
a memória de trabalho. Nesse caso, os autores apontam que a divisão se faz
apenas para atender a fins didáticos, embora tal classificação não se dê apenas no
nível teórico, uma vez que os diferentes tipos de memória são, de fato, operados
por regiões cerebrais e por mecanismos diferentes. Além disso, pode acontecer de
as memórias apresentarem até mesmo uma natureza diferenciada, como no caso,
por exemplo, das memórias sensorial, memória de trabalho e memória de longo
prazo.
Memória Sensorial
A memória sensorial é aquela que nos permite reter as informações que chegam
até nós através dos sentidos, podendo ser estímulos visuais, auditivos, gustativos,
olfativos, táteis ou proprioceptivos. Caracteriza-se por ter curtíssima duração, caso
o estímulo não seja recuperado. Outro detalhe importante é que a memória
sensorial apresenta capacidade relativamente grande, se comparada à memória de
trabalho (que será discutida no próximo tópico). Isso quer dizer que, na memória
sensorial, registramos mais estímulos do que podemos recuperar, pois, no caso da
evocação da informação, entra em ação da memória de trabalho, que, como citado,
tem capacidade reduzida em relação à memória sensorial. De fato, a memória de
trabalho é capaz de armazenar somente cerca de 5 a 9 (7 mais ou menos 2) itens,
conforme discutiremos no próximo tópico. Apesar da capacidade relativamente
maior de reter informações, nem tudo o que fica gravado na memória sensorial se
torna consciente pra nós, apresentando, portanto, caráter pré-consciente (Mourão
& Melo, 2011a).
38
Além dos atributos citados acima, a memória sensorial se caracteriza
biologicamente por ser um fenômeno de natureza elétrica. Isso quer dizer que
essas informações não produzem alterações morfológicas e nem funcionais nos
neurônios envolvidos neste processo. A informação está disponível apenas
enquanto os neurônios disparam potenciais elétricos. Com o fim desses disparos,
perde-se a informação. Por exemplo, quando vemos um objeto, a imagem fica
gravada por frações de segundos por meio de disparos elétricos em neurônios na
região do córtex visual (área visual primária), antes mesmo que tomemos
consciência da imagem. Da mesma maneira, quando ouvimos um som, este produz
o disparo de neurônios do córtex auditivo primário (no lobo temporal),
reverberando ali por segundos, independentemente de ser ou não evocado
posteriormente (Kim, 2011).
Como veremos mais adiante, a memória de trabalho também se caracteriza por ser
um fenômeno de natureza elétrica. Essa característica nos leva a concluir que a
memória sensorial e a memória de trabalho apresentam uma natureza diferente
das memórias de longa duração, as quais produzem alterações físicas nos
neurônios, modificando a morfologia da circuitaria neural e força de conexão entre
as sinapses. Podemos, portanto, assinalar cinco características essenciais da
memória sensorial: (a) sua matéria-prima são as informações que chegam até nós
pelos sentidos; (b) é ultrarrápida, ou seja, apresenta curtíssima duração (da ordem
de poucos segundos), apesar da variação de tempo entre diferentes tipos de
estímulos (a memória visual, por exemplo, é mais curta que a memória auditiva);
(c) apresenta maior capacidade de armazenamento que a memória de trabalho,
apesar de durar bem menos tempo que esta; (d) apresenta caráter pré-consciente,
ou seja, ocorre antes que tomemos consciência da informação que os sentidos nos
trazem; (e) tal qual a memória de trabalho, trata-se tão somente de um fenômeno
elétrico nos neurônios, não produzindo alterações morfológicas ou funcionais nas
sinapses (como ocorre com as memórias de longa duração) (Bear, Connors, & Paradiso, 2008).
Memória de Trabalho
Existe um tipo de memória que, contrariando um pouco o senso comum, não serve
somente para armazenar informações. Ela serve, sobretudo, para contextualizar o
indivíduo e para gerenciar as informações que estão transitando pelo cérebro. É o
que chamamos de memória de trabalho. O termo memória de trabalho passou a
ser utilizado há pouco tempo, aparecendo na literatura somente na década de
1960, o que indica que seu estudo é também recente. Talvez por isso não haja
convergência entre os pesquisadores da área a respeito da definição desse termo.
No entanto, há alguns pontos consensuais a respeito das características da
memória de trabalho, a saber: sua duração ultrarrápida (de apenas poucos
segundos) e sua capacidade limitada (retém apenas 5 a 9 itens) ( Goldberg, 2009).
39
número. Quando a informação temporariamente armazenada deixa de ser útil, ela
é descartada e, normalmente, esquecida. Portanto, é provável que esqueçamos o
número de telefone da pizzaria alguns minutos após termos discado. A memória de
trabalho também entra em ação quando estamos conversando com alguém e, para
que possamos encadear as ideias para que a conversa tenha sentido, temos que
nos lembrar (temporariamente) da última e da penúltima palavra que foram ditas
para que a frase e, posteriormente, a conversa façam sentido. Ao fim do diálogo,
normalmente nos esquecemos da maioria das palavras e nos lembramos somente
de seu conteúdo. É claro que pode acontecer de não nos esquecermos da
informação. Isso dependerá da nossa motivação em armazenar aquela informação.
Portanto, caso seja de nosso interesse, podemos transformá-la em memória
duradoura.
40
sequencial e ordenada, criando um fluxo de pensamento coeso e coerente,
permitindo que, assim, possamos produzir nossas ideias em consonância com o que
a realidade nos apresenta (Goldberg, 2009).
Convém ressaltar que não temos a menor ideia de como se dá, do ponto de vista
neurobiológico, esse processo de evocação de memória. Em outras palavras,
estamos muito longe de compreender: (a) como a memória de trabalho "sabe"
exatamente qual informação deverá buscar por vez nos arquivos de memória de
longo prazo; (b) como ela localiza tal informação; (c) como ela coloca as
informações evocadas na ordem correta a fim de formarem um todo coeso; (d)
como essa sequência de informações evocadas é trazida à luz da consciência (Bennett
& Hacker, 2013
).
Como o próprio nome indica, a memória de longa duração (MLD) é aquela que
armazena informações por longos períodos de tempo, meses, anos ou até mesmo
décadas. Por isso, a MLD é também conhecida como memória remota. Uma
característica importante da MLD é sua capacidade de guardar informações por
tempo indeterminado, bastando, para tanto, que a memória continue a ser
reforçada com o passar dos anos. Os limites de sua capacidade de armazenamento
são ainda desconhecidos, mas sabe-se que sua capacidade é muito grande (Bear et
al., 2008).
41
guarda momentos, mas sim fatos (e.g. o significado das palavras, os
conhecimentos de biologia, as regras gramaticais de um idioma, símbolos etc.).
Essa subdivisão da memória declarativa se justifica, pois parece que as memórias
episódica e semântica se relacionam a diferentes áreas cerebrais, podendo ser
afetadas de maneira distinta em diversas doenças que acometem o cérebro.
Portanto, é possível que um paciente tenha déficits acentuados de sua memória
episódica, a despeito de manter sua memória semântica praticamente intacta ( Hill,
2010
).
Como já vimos, para que seja possível guardar tantas informações por tanto
tempo, o cérebro se modifica de algumas maneiras para dar conta do recado. As
alterações possíveis já foram descritas anteriormente, quais sejam: alterações
estruturais (morfológicas) e alterações sinápticas (funcionais) ( Hebb, 1949).
Vale ressaltar que por mais carregado de emoção que seja um evento, nunca
seremos capazes de nos lembrar de todos os detalhes. Mesmo as "melhores"
memórias não são perfeitas, há sempre algum grau de perda durante o processo de
consolidação. Assim, outra peculiaridade das memórias de longa duração é seu
caráter não estável. Além das perdas que ocorrem logo durante o processo de
consolidação, toda vez que evocamos uma memória, modificamos mais ainda essa
mesma memória. Portanto, com o passar do tempo, ao relatar uma vivência de
42
nossa infância, por exemplo, estamos cada vez mais distantes de relatar o que
realmente aconteceu. De fato, a evocação nada mais é do que um processo de
edição de fragmentos de memória, os quais são organizados pela memória de
trabalho e pelas funções executivas visando formar um todo mais ou menos
coerente. Por isso cada um lembra de um determinado fato à sua maneira. A
evocação está, portanto, longe de ser uma reprodução fiel das informações que
foram arquivadas. Trata-se, em verdade, mais de um processo criativo do que
reprodutivo.
Parece que a consolidação ocorre durante determinadas fases do sono, e é por isso
que o sono é fundamental para a consolidação de novas informações. Acredita-se
que os sonhos, com seu conteúdo muitas vezes desconexo, seja nada mais do que
a evocação de fragmentos de memória que estejam sendo descartados para que
novas memórias se consolidem. Entretanto, apesar dessa hipótese ser atraente, é
importante ressaltar que o sono e os sonhos ainda são um mistério absoluto na
neurociência. Além do sono, outros fatores como atenção, motivação, nível de
estresse e estado emocional são fundamentais para uma boa consolidação de
memórias, como já foi dito (Luria, 1981).
Além da perda natural que ocorre com o decorrer do tempo, as induções por parte
de terceiros também podem nos levar a editar nossas lembranças. A psicóloga
americana Elizabeth Loftus (1975)demonstrou a força da indução na alteração de nossas
memórias. Essa força é tamanha que levou muitos indivíduos a criarem uma
lembrança completamente falsa sobre um determinado episódio de suas infâncias.
Os sujeitos que participaram da pesquisa da psicóloga jamais tinham passado pela
situação em questão (estar perdido no shopping) e, apesar disso, após terem sido
induzidos por parentes, os participantes relataram, com certo grau de detalhe,
terem passado por essa situação. Esses achados mostram o quanto pode ser
perigoso confiar plenamente em provas testemunhais, principalmente em processos
judiciais, já que é possível fazer alguém acreditar que viveu uma situação que, de
fato, não viveu.
43
nos livrar de situações de perigo semelhantes a alguma experiência anterior.
Quando uma memória é adquirida em situação de estresse, ansiedade ou medo,
sua evocação será mais rápida e precisa em situações em que o sujeito apresente-
se novamente estressado, ansioso ou amedrontado. Dessa maneira, diante de uma
situação potencialmente perigosa, a qual desperta em nós certa ansiedade, somos
capazes de evocar com mais rapidez e eficiência um maior número de respostas
que já tenhamos emitido em situações semelhantes e que tenham se apresentado
adequadas.
Agora vamos falar sobre uma outra modalidade de memória de longa duração: a
memória não declarativa (MND). As MND operam em nível subconsciente e não se
tratam de processos intelectivos. No grupo das MND incluímos os
condicionamentos, as memórias motoras e o priming. Os condicionamentos nada
mais são do que associações que fazemos entre estímulos ou então entre
determinados comportamentos com sua consequência (recompensa ou punição).
Como os condicionamentos se relacionam mais aos processos de aprendizado,
tendo menos relação com a memória em si (Izquierdo & Medina, 1997), eles fogem
ao escopo deste trabalho. Portanto, não discorreremos sobre eles.
44
exemplos de memórias motoras o aprender a andar de bicicleta ou o aprendizado
do manejo de um instrumento musical. Custamos a aprender; é necessário repetir
muitas vezes; mas uma vez aprendido, não mais conseguimos esquecer. E nem
tampouco somos capazes de explicar (declarar) como tocamos um violoncelo ou
andamos de bicicleta. Só conseguimos "explicar" mostrando, isto é, tocando o
instrumento ou andando na bicicleta. As regiões cerebrais envolvidas no
aprendizado e no armazenamento de habilidades motoras são as regiões do
encéfalo relacionadas à motricidade, quais sejam, o cerebelo e os núcleos da base
(conhecido também como corpo estriado) (Fuster, 2003).
Não sabemos quais regiões do cérebro estão envolvidas no priming, mas acredita-
se que ele seja um fenômeno difuso e que sua localização tenha a ver com a pista.
Se a pista for visual, o priming se associa a disparos de neurônios do córtex
occipital (área visual primária); se a pista for auditiva, disparam neurônios do lobo
temporal (área auditiva primária), e assim por diante. Entretanto, áreas
neocorticais de associação, como o córtex pré-frontal, estão certamente envolvidas
nesse fenômeno, uma vez que o priming envolve integração temporal de
informações (Kandel et al., 2013).
Parece que o priming é mais importante do que imaginamos, pois ele faz com que
tenhamos a tendência de evocar informações sobre as quais já recebemos alguma
pista em algum momento de nossa vida (Kandel et al., 2013). Ocorre que tais
pistas nos chegam, muitas vezes, tão rapidamente que nem tomamos consciência
delas, mas elas serão decisivas para nossas decisões futuras. Um exemplo claro
disso são as propagandas subliminares, nas quais o cérebro é bombardeado com
pistas (e.g. uma determinada marca de refrigerante). Da próxima vez que formos
comprar um refrigerante, nossa "escolha" acabará recaindo sobre a marca que nos
foi apresentada no passado.
REFERÊNCIAS
45
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Paulo, SP: Artes Médicas. [ Links ]
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executive functions: Review of instruments and identification of critical issues.
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Purves, D., Augustine, G. J., Fitzpatrick, D., Hall, W. C., LaMantia, A.-S.,
McNamara, J. O., & White, L. E. (2010). Neurociências (4. ed.). Porto Alegre, RS:
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Squire, L. R., Berg, D., Bloom, F. E., du Lac, S., Ghosh, A., & Spitzer, N. C. (2013).
Fundamental neuroscience (4th ed.). New York: Academic Press. [ Links ]
*
Endereço para correspondência: Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de
Ciências Biológicas, Departamento de Fisiologia, Campus Universitário, São Pedro,
Juiz de Fora, MG, Brasil 36036-900. E-mail: camouraojr@gmail.com
47
Transtornos do neurodesenvolvimento
Valeska Magierek
48
transtorno específico daaprendizagem. No caso de alguns transtornos, a apresentação
clínica inclui sintomas tanto deexcesso quanto de déficits e atrasos em atingir os marcos
esperados.
49
O que devemos fazer quando identificarmos algum atraso no desenvolvimento
da criança?
Diante de qualquer atraso, mesmo que leve, no desenvolvimento se uma criança,
procure um especialista (médico, psicólogo, fonoaudiólogo ou outro profissional da área
de saúde), o mais rapidamente possível, a fim de que ele avalie a criança. A
identificação precoce é a forma mais eficiente de favorecer o desenvolvimento infantil,
mesmo nos casos mais graves, onde as reabilitações encontram maior dificuldade de
ações, devido às limitações da própria criança.
Funções Executivas
Elas são responsáveis pela realização das atividades diárias, indispensáveis em nossas
vidas. A definição que utilizaremos aqui é a seguinte: as funções executivas são um
50
conjunto de habilidades necessárias para o controle de nossa saúde mental e vida
funcional.
As funções executivas estão inteiramente ligadas a uma série de atividades, tal qual o
seu desenvolvimento é indispensável para uma vida regular e sem problemas. Vejam
abaixo:
51
metacognição(auto-organização, sistematização, automonitorização, revisão e
supervisão, etc);
Estabelecer objetivos;
52
Avaliação neuropsicolohica em idosos
A população está vivendo por um tempo maior e isso é muito bom. De acordo com
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma pessoa nascida no
Brasil em 2016 tem a expectativa de viver, em média, até os 75 anos. O estudo
realizado em 2011 pelo IBGE sobre o envelhecimento no Brasil aponta que a
população idosa, pessoas com 60 anos ou mais, corresponde a 23,5 milhões de
brasileiros.
Tem uma música do Arnaldo Antunes que diz: “A coisa mais moderna que existe
nessa vida é envelhecer”. E concordo muito com essa frase, realmente, não há nada
mais moderno que envelhecer. E chegar nessa fase da vida é uma grande conquista,
mas também é um grande desafio.
53
mais limitada, ele pode ter uma dificuldade de velocidade de processamento de
respostas. Mas isso só até certo ponto. Não é esperado que isso seja tão intenso e
nem é esperado que ele tenha dificuldades significativas para gravar novas
informações, para ter raciocínios e assim por diante.
Um fator muito importante que o profissional precisa saber que esse tratamento não
engloba apenas a necessidade de compreender o envelhecimento cognitivo
saudável, mas também compreender o perfil cognitivo de cada demência. Como
exemplo, a demência de Alzheimer, demência vascular, demência frontotemporal,
dentre outros tipos da doença. É fundamental compreender as patologias e
acompanhar esse paciente, porque mesmo que a demência não tenha cura, ela tem
um tratamento para amenizar os seus impactos.
https://blog.ipog.edu.br/saude/como-funciona-a-avaliacao-neuropsicologica-em-
idosos/
Dicas de vídeos
Minutos psíquicos
https://youtu.be/XsLNJSshq34 Neuronios
54
Dicas de conteúdo
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Bons estudos!
Luciana Gaudio
55