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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

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BASES NEUROBIOLÓGICAS DOS TRANSTORNOS DE
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APRENDIZAGEM
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Renata Carvalho Rodrigues Mendes


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ORIENTADOR:

MSc. Marta Relvas


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Rio de Janeiro
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2018
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

BASES NEUROBIOLÓGICAS DOS TRANSTORNOS DE


APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à AVM como requisito


parcial para obtenção do grau de especialista em
Neurociência pedagógica.
Por: Renata Carvalho Rodrigues Mendes

Rio de Janeiro
2018
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos aqueles, que assim


como eu, necessitam entender como se processo
o conhecimento em nível biológico, isto é, como a
aprendizagem cerebral acontece, de fato
INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda assuntos inerentes à neurociência, que são


necessários para o perfeito entendimento do tema. Os seguintes assuntos: a
visão histórica, a estrutura e a funcionalidade das células, anátomo-fisiologia
cerebral e o conhecimento das responsabilidades das diferentes áreas do cérebro
são citados, em uma ampla pesquisa dos teóricos mais importantes da área.

Na opinião de Neri (2017, p.28.), é de extrema importância para o


professor conhecer a ciência que estuda o cérebro, porque os profissionais de
educação são os principais agentes na formação do indivíduo. Essa opinião, é
uma explicação para os graves problemas enfrentados pelos professores, pois a
neurociência ainda é negligenciada nos cursos de licenciatura no Brasil.

Conhecer as competências desenvolvidas pelo cérebro ao longo do


tempo, precisa fazer parte da formação de professores. Formar um mestre, sem
levar em consideração a parte do organismo responsável pelos saberes é como
um mecânico não conhecer as ferramentas que vai usar para consertar motores,
por exemplo.

Visando o entendimento amplo dos transtornos que acometem os


estudantes, este trabalho faz uma visão geral dos transtornos mais comuns e
apresenta possíveis relações do comportamento humano com as áreas cerebrais
responsáveis pelo seu processamento.

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ou escrita. Posteriormente essa área na transição dos lobos parietal e temporal e
ao redor delas, no hemisfério esquerdo, ficou conhecida como área de Wernick.
Mais tarde Korbinian Brodmann, que analisou a organização celular do
córtex através de técnicas de coloração de tecidos, o que permitiu a diferenciação
das células em diferentes regiões cerebrais, levando a identificação de 52 regiões
cerebrais diferentes.
Outras grandes descobertas aconteceram com o trabalho de Camilo Golgi,
que desenvolveu uma coloração de prata que impregnava os neurônios,
permitindo a identificação completa de um único neurônio. Surgindo então a
visão de que o neurônio era uma entidade única, defendida por Santiago Ramon y
Cajal. Além dessa conclusão ele também identificou a transmissão da informação
elétrica em uma única direção, dos dendritos para a extremidade dos axônios.
Muitos outros brilhantes cientistas voltaram seus estudos para este
fascinante órgão, embora as limitações tecnológicas da época atrapalhassem o
pleno desenvolvimento da neurociência, ela continuou a ser estudada e mais
tarde com o advento dos exames de imagem na década de 90, foi possível
confirmar no estudo “in vivo” as conclusões elaboradas no passado.

2. A célula
A célula como estrutura básica formadora dos seres vivos foi
descoberta após a invenção, que revolucionou a ciência – o microscópio. O
cientista inglês Robert Hook, dedicou-se a observação de pedaços de cortiça.
Após tentativas de pouco sucesso, o cientista teve a ideia de cortar finos pedaços
do material e observar ao microscópio. Essa observação foi a base para toda a
discussão que tomou o meio acadêmico da época, Hook observou a presença de
cavidades preenchidas por ar, então pela primeira vez foi possível a observação
da célula. Seu nome derivou do latim “cella”, que significa pequena cavidade.
Um pouco depois, outro importante cientista, Anton van Leeuwenhoek,
observou pela primeira vez a célula animal. Este cientista fez grandes
contribuições para a ciência, além de observar a célula animal, ele também
construiu microscópios e foi o primeiro a observar e descrever as células
vermelhas do sangue, protozoários e bactérias.

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Dentro do núcleo está o material genético, o ácido desoxirribonucleico
(ADN), que “comanda” a síntese de proteínas. Como o ADN não sai do núcleo,
quem leva a informação ao citoplasma é uma outra molécula chamada de ácido
ribonucleico (ARN), por isso essa molécula é chamada de ARN mensageiro.
Dentre as organelas citoplasmáticas presentes nos neurônios podemos
citar o retículo endoplasmático rugoso, que é mais abundante nos neurônios do
que em outros tipos celulares. Ele é responsável pela síntese de proteínas,
graças aos ribossomos associados.
Outra organela muito abundante no corpo celular é a mitocôndria, que é
especializada em fornecer energia para a célula por meio do processo de
respiração celular.
Como em qualquer célula, a membrana plasmática desempenha função de
permeabilidade seletiva, separando os meios intra- celular e extra- celular, com
proteínas associadas, que auxiliam no transporte de substancias. Entretanto, na
membrana dos neurônios - a membrana neuronal – a composição proteica varia
de acordo com a sua localização, no soma, dendritos ou axônios (BEAR, F. Mark,
pag. 35). ainda como afirma:
“A função dos neurônios não pode ser compreendida sem o conhecimento da
estrutura e da função da membrana neuronal e de suas proteínas associadas .”

2.1.2. Dendritos

São estruturas que partem do soma, aumentando consideravelmente a


superfície receptora dos neurônios. Geralmente são curtos e ramificam-se como
galhos de uma árvore, ficando mais finos à medida que se ramificam. Como
disciplina RELVAS, 2005, p.30:
“Estas estruturas se ramificam como galhos de uma árvore e servem como
principal aparato para receber sinais de outras células nervosas. Eles funcionam
como ‘antenas’ do neurônio e são cobertas por milhares de sinapses ”

Os dendritos apresentam pequenas projeções citoplasmáticas, chamadas de


espinhos dendríticos, que correspondem a locais de contato sináptico. Os
espinhos dendríticos são estruturalmente diversos: espinhos do tipo thin- com
protusões finas- mushroom - com uma larga cabeça em forma de bulbo e stubby -
sem um pescoço bem definido.

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CAPÍTULO II

FUNDAMENTOS DA ANATO-FISIOLOGIA E APRENDIZAGEM HUMANA

1. Impulso nervoso
Como disciplina Robert Lent (cem bilhões de neurônios, pag. 84),
“Talvez seja um exagero dizer que a membrana é o componente mais importante do
neurônio, já que muitos outros componentes são essenciais a vida. Mas é certo pelo
menos, que a membrana do neurônio apresenta uma propriedade muito particular que o
distingue da maioria das células do organismo. Essa propriedade – excitabilidade –
permite que o neurônio produza, conduza e transmita a outros neurônios os sinais
elétricos que constituem a linguagem do sistema nervoso”

Essa propriedade excitatória constante na citação é o impulso nervoso. O


potencial elétrico dos neurônios foi identificado ainda no século XIX pelo
fisiologista Emil DuBois- Reymond. Entretanto, as limitações tecnológicas da
época impediram que se conhecesse os mecanismos biofísicos envolvidos.
Hoje, sabe-se que a bioeletrogênese, não depende de elétrons, mas de
íons, moléculas eletricamente carregadas frequentes no meio intra e extracelular.
O impulso acontece quando esses íons atravessam a membrana neuronal,
tendendo sempre a um desequilíbrio de quantidades, característico do transporte
ativo.
A membrana neuronal, assim como as demais membranas, apresenta
proteínas incrustadas na bicamada lipídica. As proteínas específicas dos
neurônios, por onde os íons passam de modo seletivo, recebem o nome de
canais iônicos.
Trata-se de proteínas formadas pela associação de aminoácidos
diferentes, a partir de 20 aminoácidos essenciais. Os canais iônicos são
formados por proteínas que estão suspensas na bicamada fosfolipídica da
membrana, atravessando- a; contendo uma parte hidrofóbica no interior da
membrana e uma porção hidrofílica exposta ao ambiente aquoso. Essas
proteínas se juntam formando os canais iônicos. Que são como poros, que a
depender das proteínas que a formam, apresentam seletividade iônica.
Na estrutura dos neurônios encontram-se vários tipos diferentes de canais,
como: canal de sódio, canal de potássio, canal de cálcio, canal de acetilcolina.

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CAPÍTULO III

NEUROCIÊNCIA E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM

1. Aprendizagem e seus transtornos


O aprendizado acontece no cérebro, existindo um elo complementar entre
aprendizagem e memória. Para que o ser humano possa realizar um simples ato,
como ficar em pé, é preciso que seu cérebro acesse a memória, e que esta, lhe
passe um conjunto de posturas que possibilita essa ação. Quando uma nova
informação chega ao cérebro, produz uma modificação nas proteínas cerebrais
que leva uma modificação de comportamento, isto é aprendizagem. Então, o
processo de aprendizagem é um processo biológico dependente da memória.
A embriogênese, que envolve o processo de formação de um novo ser
vivo, é importante para esclarecer como esse cérebro foi formado e correlacionar
ao desenvolvimento de alguns transtornos que podem atingir o indivíduo na
infância.
O desenvolvimento embrionário é dividido por muitos estudiosos em três
fases: crescimento, que envolve a divisão celular e a elaboração de produtos
celulares; morfogênese, desenvolvimento da forma, que inclui os movimentos de
massas de células, possibilitando sua interação durante a formação dos tecidos e
órgãos e diferenciação, maturação dos processos biológicos.
Próximo de acabar a neurogênese inicia-se a migração de células para seu
local definitivo. Esse processo acontece na 7ª e na 14ª semana de gestação.
Entretanto, os neurônios encontram seu lugar no encéfalo, com o auxílio das
células gliais, que atuam direcionando-os a seus sítios específicos.
A formação dos circuitos neurais em sua maior parte acontece após o
nascimento, sendo, portanto, suscetível a interferências ambientais, que vão
influenciar a bagagem genética trazida no ADN do bebê. A partir desse momento
inicia a remodelagem neuronal, que contempla uma adaptação a nova vida fora
do útero. Essa adaptação envolve a apoptose e a criação de novos circuitos
neurais. (ROTTA, OHLWEILER, RIESGO, Transtornos de aprendizagem, pag.87):

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palavras, problemas na decodificação e dificuldade de ortografia. Sendo dessa
forma, específico das habilidades da leitura.
O DSM-5 classifica como critérios diagnósticos: “leitura de palavras de
forma imprecisa ou lenta e com esforço; dificuldade para compreender o sentido
do que é lido. Na prática em sala de aula, a identificação dessa condição fica
prejudicada pela grande quantidade de alunos e pela falta de conhecimento de
profissionais de educação.
As funções cognitivas envolvidas neste tipo de transtorno estão
relacionadas ao funcionamento ineficiente da região perissilviana esquerda.
O processamento da leitura é complexo e envolve estímulos atencionais,
que passam pelo tronco encefálico; a codificação, processamento simultâneo
sequencial, construção, significado e compreensão- lobos occipital, temporal e
parietal; e finalmente a planificação que nesse caso a área cerebral envolvida é o
córtex frontal, que acessa os sistemas de organização, internalização verbal.
Nos indivíduos disléxicos há uma falha nesse circuito. Ao invés de
ativarem, como os leitores normais, as partes anterior e posterior do cérebro, há
uma sub-ativação de caminhos neurais da parte posterior e uma super-ativação
da parte anterior do cérebro. Isso representa uma assinatura ou marca neural
para as dificuldades fonológicas. A consequência na falha na parte posterior do
cérebro é a incapacidade de transformar as letras em sons ao analisarem as
palavras e o não reconhecimento rápido e automático das palavras. Uma forma
de compensar essa falha de sub- ativação da parte posterior é a criação de vias
alternativas cerebrais diferentes. Isso se dá por meio do uso de sistemas
auxiliares na parte frontal e lado direito do cérebro e da área de Broca. Porém
esses sistemas secundários são funcionais, mas não são automáticos, ou seja,
permitem que haja uma leitura precisa, mas ocorre de forma muito lenta.

3. Transtorno da matemática
É a disfunção no domínio da linguagem matemática, entretanto sem afetar
o raciocínio lógico. Para RELVAS, 2015: “a discalculia apresenta sistemas de
dificuldades em lidar com a linguagem matemática, em associar números,
fórmulas e símbolos”.

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característicos estavam relacionados à disfunções em vias nervosas e não lesões
como etiologia.
Atualmente, o DSM-5 apresenta três sintomas que caracterizam o portador
do desatenção, hiperatividade e impulsividade. Caracteriza-se por alterações nos
sistemas atencionais, motores, perceptivos, cognitivos e de comportamento,
comprometendo a aprendizagem, vida social e familiar de crianças com potencial
intelectual adequado. Presença de alterações nas funções executivas.
Estudos de neuroimagem funcional apontam para alterações sensoriais,
psicomotoras e da ativação disfuncional do cerebelo, o que causaria a
hiperatividade, apresentando nesse caso volumes cerebrais menores do que em
crianças sem o TDHA.
Estudos encefalográficos verificam alterações na ativação do ritmo
cerebral, caracterizando a imaturidade cerebral. Verificou-se também com os
procedimentos que o portador dessa condição utiliza circuitos alternativos diante
de estímulos distratores, e, portanto, respostas mais lentas a estímulos cognitivos.
O DSM-5 trouxe a possibilidade de classificar o portador do TDAH como:
 TDAH com predomínio de sintomas de desatenção – com elevadas taxas
de prejuízo acadêmico, quando apenas esse critério é preenchido nos
últimos seis meses;
 TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade – com
altas taxas de rejeição e de impopularidade frente aos colegas, quando
apenas esse critério é preenchido nos últimos seis meses;
 TDAH combinado – elevada taxa de prejuízo acadêmico e maior presença
de sintomas de conduta, oposição e desafio, quando ambos os critérios
estão presentes.
Ainda é possível classificar o transtorno como leve, moderado e grave,
de acordo com o grau de comprometimento do indivíduo.

6. Transtorno do espectro autista (TEA)


É um transtorno do neurodesenvolvimento infantil caracterizado por três
sinais e sintomas específicos: dificuldade de interação social, problemas de
comunicação social e comportamentos repetitivos e restritos. Essa condição
geralmente se expressa na primeira infância.
Os critérios apontados pelo DSM-5 na identificação do TEA, são:
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Embora existam diferenças fundamentais entre os seres vivos, existem
apenas duas classes de célula, segundo disciplina JUNQUEIRA & CARNEIRO
(1999)
“as procariontes (pro, primeiro, e cario, núcleo), cujos cromossomos não
estão separados do citoplasma por uma membrana, e as eucariontes (eu, verdadeiro, e
cario, núcleo), com um núcleo bem individualizado e delimitado por um envoltório
nuclear.”

Além de núcleo individualizado, as células dos eucariontes apresentam


membrana plasmática e citoplasma, além de organelas que executam diferentes
funções metabólicas. Os tipos celulares que serão abordados neste trabalho são
os eucariontes, especificamente as células que fazem parte do sistema nervoso.

2.1. Neurônio

O neurônio é a principal célula que compõem o sistema nervoso.


Neste tipo celular além das estruturas básicas- membrana, citoplasma, núcleo e
organelas – encontram-se ramificações, que transmitem as informações a outros
neurônios. Morfologicamente, os neurônios possuem três partes distintas soma,
dendritos e axônio.

2.1.1. Soma

É a parte central da célula, é nela que se encontram o núcleo, citoplasma,


organelas e membrana. A membrana neuronal separa o meio intracelular do
meio externo, ela é responsável pela sua aparência tridimensional característica
(BEAR, F. Mark, pag. 28).
Internamente, observa-se a presença de um fluido aquoso, chamado de
citosol, que contém sais ricos em potássio. Mergulhados nesse material
gelatinoso observa-se a presença das organelas citoplasmáticas, como em
qualquer outro tipo de célula, sendo responsáveis pelo seu metabolismo.
O núcleo fica localizado no centro do corpo celular e em seu interior
encontra-se o material genético, que fica separado do citoplasma por uma dupla
membrana, a membrana nuclear. A membrana nuclear possui a superfície
coberta por poros, para que substâncias circulem com facilidade.

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Dentro do núcleo está o material genético, o ácido desoxirribonucleico
(ADN), que “comanda” a síntese de proteínas. Como o ADN não sai do núcleo,
quem leva a informação ao citoplasma é uma outra molécula chamada de ácido
ribonucleico (ARN), por isso essa molécula é chamada de ARN mensageiro.
Dentre as organelas citoplasmáticas presentes nos neurônios podemos
citar o retículo endoplasmático rugoso, que é mais abundante nos neurônios do
que em outros tipos celulares. Ele é responsável pela síntese de proteínas,
graças aos ribossomos associados.
Outra organela muito abundante no corpo celular é a mitocôndria, que é
especializada em fornecer energia para a célula por meio do processo de
respiração celular.
Como em qualquer célula, a membrana plasmática desempenha função de
permeabilidade seletiva, separando os meios intra- celular e extra- celular, com
proteínas associadas, que auxiliam no transporte de substancias. Entretanto, na
membrana dos neurônios - a membrana neuronal – a composição proteica varia
de acordo com a sua localização, no soma, dendritos ou axônios (BEAR, F. Mark,
pag. 35). ainda como afirma:
“A função dos neurônios não pode ser compreendida sem o conhecimento da
estrutura e da função da membrana neuronal e de suas proteínas associadas .”

2.1.2. Dendritos

São estruturas que partem do soma, aumentando consideravelmente a


superfície receptora dos neurônios. Geralmente são curtos e ramificam-se como
galhos de uma árvore, ficando mais finos à medida que se ramificam. Como
disciplina RELVAS, 2005, p.30:
“Estas estruturas se ramificam como galhos de uma árvore e servem como
principal aparato para receber sinais de outras células nervosas. Eles funcionam
como ‘antenas’ do neurônio e são cobertas por milhares de sinapses ”

Os dendritos apresentam pequenas projeções citoplasmáticas, chamadas de


espinhos dendríticos, que correspondem a locais de contato sináptico. Os
espinhos dendríticos são estruturalmente diversos: espinhos do tipo thin- com
protusões finas- mushroom - com uma larga cabeça em forma de bulbo e stubby -
sem um pescoço bem definido.

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2.1.3. Axônio

Até agora foram observadas estruturas comuns a vários tipos de células, o


axônio por sua vez está presente apenas nos neurônios. Essa estrutura parte do
soma, a partir de uma área piramidal, chamada cone de implantação, formando
um prolongamento único. Segundo, JUNQUEIRA & CARNEIRO (1999, p.133), o
axônio é um cilindro de comprimento e diâmetro variáveis conforme o tipo de
neurônio.
O axônio é a principal unidade condutora do neurônio, entretanto alguns
não tem axônio, chamadas de células amácrinas, neste caso todos os processos
neuronais são dendríticos (RELVAS, 2005, pag. 31.)
Nos axônios pode existir a presença de uma “capa”, conhecida como
bainha de mielina, composta por proteínas e lipídeos. Inicialmente achava-se que
sua função era apenas de proteção do axônio, hoje sabe-se que ela está
envolvida na velocidade de propagação dos impulsos nervosos, porque faz com
que o impulso nervoso salte pelos nódulos de Ranvier, deixando o processo mais
ágil.

3. Cérebro
Abrigado sob a proteção da caixa craniana e das meninges – pia mater,
dura mater e aracnoide, encontra-se o órgão principal do sistema nervoso. Ele
tem a capacidade de responder a estímulos ambientais e comandar todas as
funções vitais.
O cérebro contém sulcos e fissuras que auxiliaram os pesquisadores na
identificação das funcionalidades das áreas. Anatomicamente sua divisão foi:
telencéfalo e diencéfalo; tronco encefálico – mesencéfalo, ponte e bulbo;
cerebelo.
As células que compõem este órgão apresentam a capacidade de
conduzir as informações, sob a forma de impulsos nervosos, célula a célula até
produzir uma resposta, que é enviada em uma fração de segundos. A passagem
de impulsos nervosos de uma célula para outra é chamada de sinapse. O
impulso nervoso segue sempre o mesmo sentido: dendrito  corpo celular
axônio.
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CAPÍTULO II

FUNDAMENTOS DA ANATO-FISIOLOGIA E APRENDIZAGEM HUMANA

1. Impulso nervoso
Como disciplina Robert Lent (cem bilhões de neurônios, pag. 84),
“Talvez seja um exagero dizer que a membrana é o componente mais importante do
neurônio, já que muitos outros componentes são essenciais a vida. Mas é certo pelo
menos, que a membrana do neurônio apresenta uma propriedade muito particular que o
distingue da maioria das células do organismo. Essa propriedade – excitabilidade –
permite que o neurônio produza, conduza e transmita a outros neurônios os sinais
elétricos que constituem a linguagem do sistema nervoso”

Essa propriedade excitatória constante na citação é o impulso nervoso. O


potencial elétrico dos neurônios foi identificado ainda no século XIX pelo
fisiologista Emil DuBois- Reymond. Entretanto, as limitações tecnológicas da
época impediram que se conhecesse os mecanismos biofísicos envolvidos.
Hoje, sabe-se que a bioeletrogênese, não depende de elétrons, mas de
íons, moléculas eletricamente carregadas frequentes no meio intra e extracelular.
O impulso acontece quando esses íons atravessam a membrana neuronal,
tendendo sempre a um desequilíbrio de quantidades, característico do transporte
ativo.
A membrana neuronal, assim como as demais membranas, apresenta
proteínas incrustadas na bicamada lipídica. As proteínas específicas dos
neurônios, por onde os íons passam de modo seletivo, recebem o nome de
canais iônicos.
Trata-se de proteínas formadas pela associação de aminoácidos
diferentes, a partir de 20 aminoácidos essenciais. Os canais iônicos são
formados por proteínas que estão suspensas na bicamada fosfolipídica da
membrana, atravessando- a; contendo uma parte hidrofóbica no interior da
membrana e uma porção hidrofílica exposta ao ambiente aquoso. Essas
proteínas se juntam formando os canais iônicos. Que são como poros, que a
depender das proteínas que a formam, apresentam seletividade iônica.
Na estrutura dos neurônios encontram-se vários tipos diferentes de canais,
como: canal de sódio, canal de potássio, canal de cálcio, canal de acetilcolina.

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Através dos canais iônicos são bombeados alguns íons do líquido
extracelular para o interior da fibra nervosa, e outros do interior da fibra nervosa
de volta ao líquido extracelular. Dessa forma funciona a bomba de sódio e
potássio, que bombeia ativamente o sódio para fora, enquanto o potássio é
bombeado ativamente para dentro. Todavia, esse processo não é equivalente,
para cada três íons de sódio bombeados para o líquido extracelular, apenas dois
de potássio são bombeados para o espaço intracelular.
No potencial de repouso, quando um neurônio não está gerando impulso
nervoso, a membrana neuronal é praticamente impermeável ao sódio, com os
canais de sódio fechados. Nesse caso o sódio é lançado para fora da membrana
pela bomba de sódio e potássio. A saída do sódio não é acompanhada pela
entrada de potássio, estabelecendo uma diferença de potencial elétrico, há déficit
de cargas positivas dentro da célula embora as faces da membrana mantenham-
se eletricamente carregadas. O potencial de repouso é gerado justamente pelo
potencial eletronegativo criado no interior da fibra nervosa. Nesse caso o exterior
da membrana fica com carga positiva e o interior negativo. Dessa maneira, a
membrana fica polarizada.
Com a abertura dos canais de sódio, sua entrada é acompanhada pela
saída de pequena quantidade de potássio, esta inversão vai sendo transmitida ao
longo do axônio, num processo denominado despolarização. Os impulsos
nervosos são gerados pela despolarização da membrana. Que se propagam
como “ondas” ao longo do axônio.

2. Sinapse elétrica
Chama-se sinapse, o local de transmissão do impulso nervoso de um
neurônio para outro. As sinapses elétricas ocorrem de maneira mais simples e
são evolutivamente mais antigas. Ela permite a transferência direta da corrente
iônica de uma célula para outra.
As sinapses ocorrem em sítios especializados denominados junções gap
ou junções comunicantes. Essas junções separam a membrana pré-sináptica da
pós-sináptica por minúsculo espaço. Esse espaço é ainda atravessado por
proteínas especiais – conexinas – que se agrupam e formam um canal permitindo
que íons passem diretamente do citoplasma de uma célula para outra.

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Geralmente, nesse tipo de estrutura a corrente iônica passa em ambos os
sentidos- bidirecional.

3. Sinapse química
As sinapses químicas acontecem no sistema nervoso maduro,
apresentando mediadores químicos, chamados neurotransmissores. Eles têm um
papel central na transmissão do impulso nervoso.
Neste tipo de sinapse as membranas pré e pós-sináptica encontram-se
separadas por um espaço denominado: fenda sináptica. A fenda, em
comparação com as junções comunicantes, é mais larga – cerca de 10 vezes – e
preenchida por uma matriz extracelular proteica, que mantém a adesão entre as
membranas.
A membrana pré-sináptica contém dúzias de pequenas organelas esféricas
que armazenam os neurotransmissores, que ao receberem o estímulo adequado,
liberam essas substâncias na fenda sináptica. Ao alcançarem a membrana pós-
sináptica os neurotransmissores são captados pelos receptores específicos, que
convertem os sinais químicos, levando a mudança no potencial de membrana.
Como ensina, RELVAS, 2009, pag.40:
“O sinal nervoso (impulso), que vem por meio do axônio da célula pré-sináptica, chega a
sua extremidade e provoca a liberação de neurotransmissores depositados em bolsas
chamadas vesículas sinápticas. Este elemento químico se liga quimicamente a
receptores específicos do neurônio pós-sináptico, dando continuidade à propagação do
sinal.”

4. Plasticidade cerebral
A plasticidade cerebral é a incrível capacidade de adaptação do sistema
nervoso, “é a propriedade (...) que permite o desenvolvimento de alterações
estruturais, em resposta à experiência e como adaptação a condições mutantes e
a estímulos repetidos” (RELVAS, 2009, pag. 49).
Durante o desenvolvimento do sistema nervoso, na infância e
adolescência, os indivíduos apresentam uma maior capacidade de se moldar, de
acordo com as experiências vividas. Depois que o organismo chega a
maturidade, sua capacidade plástica diminui, por isso às vezes é tão difícil
lecionar para adultos, que apresentam uma resistência maior a mudanças.
Logo, percebe-se que o meio influencia diretamente na neuroplasticidade,
fato constatado por pesquisadores que concluíram existir uma plasticidade
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morfológica, isto é, novos neurônios gerados em uma região ou desaparecimento
de neurônios por apoptose. Essa modificação morfológica cria novos caminhos
neurais, havendo efetiva mudança de comportamento.
Em outros casos, foi possível identificar relatos funcionais, sem alterações
estruturais evidentes – plasticidade funcional – geralmente ligada a atividade
sináptica de determinado circuito ou grupo de neurônios.
Portanto, (LENT, Robert, pag. 149)
“É preciso considerar que essas mudanças estruturais e funcionais do sistema nervoso
produzem efeitos no comportamento e no desempenho psicológico do indivíduo, que o
obriga a admitir também uma plasticidade comportamental”

5. Áreas cerebrais e suas habilidades


O cérebro é o órgão mais importante dos seres humanos. Essa afirmação
parte do fato, que ele é responsável pelo processamento das informações
recebidas e pela elaboração de uma resposta.
O cérebro dos seres humanos evoluiu, aumentando de tamanho, por isso
observa-se os sulcos e giros cerebrais, que resultaram da grande expansão de
área da superfície do córtex durante o desenvolvimento fetal. Sem esse
mecanismo o cérebro ocuparia uma área muito maior. O aumento da área
cortical é o que diferencia humanos e animais.
Com os avanços nos estudos da fisiologia cerebral, foi possível estabelecer
relações entre as áreas do cérebro e as atividades executadas pelos seres
humanos.
O cérebro está dividido em telencéfalo – córtex e neo córtex, camada mais
superficial -; diencéfalo – porção mais interior do cérebro e mesencéfalo.

5.1. Telencéfalo
O telencéfalo compreende dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo.
Nos hemisférios é possível identificar os lobos cerebrais, que são sítios de
funções distintas.
Lobo frontal localiza-se na porção anterior do cérebro, sob o osso frontal.
Este local é o principal envolvido na cognição. Nele acontece o processamento
das informações que vão gerar uma resposta, ainda se identifica uma área
chamada de córtex pré-frontal.

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O córtex pré-frontal está relacionado ao planejamento de comportamentos,
pensamentos complexos, tomada de decisão, controle inibitório e modulação do
comportamento social. Pode-se citar ainda que se relaciona intimamente com as
funções executivas.
Lobo temporal é considerado por muitos autores como área associativa,
têm as seguintes funções: processamento de estímulos auditivos, processamento
da informação visual, aprendizagem e memória. Neste local, geralmente no
hemisfério esquerdo, encontra-se a área de Wernick, responsável pela
compreensão da linguagem.
Lobo parietal localiza-se na parte superior do cérebro. Nele identificou-se
uma área chamada de córtex somatossensorial. Suas funções estão
relacionadas a recepção de sensações, como tato, dor, temperatura. Na parte
posterior dos lobos parietais observam-se como funções, a interpretação das
informações recebidas anteriormente, permitindo o reconhecimento de objetos
pelo tato, por exemplo.
O lobo occipital localiza-se na porção inferior posterior do cérebro. Este
lobo é também chamado de córtex visual, porque sua função está relacionada a
processar estímulos visuais. Segundo RELVAS, 2015, pag.37:
“Esta região realiza a integração visual a partir da recepção de estímulos que
ocorrem em áreas primárias, leva as informações para serem apreciadas e decodificadas
nas áreas secundárias e de associação visual.”

Ainda, observa-se em cérebros humanos a presença de um lobo interno


chamado de lobo da ínsula ou somente ínsula. Esta estrutura está relacionada ao
sistema límbico, portanto participando do processamento das emoções.
A comunicação entre os dois hemisférios é feita por uma estrutura interna,
chamada de corpo caloso. É formado por um grande número de fibras mielínicas
que cruzam o plano mediano do cérebro, logo, faz a união dos hemisférios direito
e esquerdo.

5.2. Diencéfalo
Corresponde a parte mais interna do cérebro. Nele identifica-se as
seguintes estruturas: tálamo, hipotálamo e epitálamo.
Localizado acima do sulco hipotalâmico, encontra-se o tálamo. Essa
estrutura é composta de duas massas ovoides de tecido nervoso, unidas pela
18
aderência intertalâmica. Sua fisiologia está relacionada ao direcionamento de
informações a áreas específicas do córtex, com exceção dos estímulos olfatórios,
tudo passa por ele. Presente também no tálamo, uma via direta com a área
motora. Além das funções já citadas o tálamo tem importante papel na
motricidade, no comportamento emocional, ativação do córtex entre outros.
Tanto o tálamo quanto o hipotálamo fazem parte do circuito de Papez. Sua
relação com o sistema límbico, está motivado na geração de memórias de longa
duração, fixadas no hipocampo, a emoções fortes.
O hipotálamo situa-se abaixo do tálamo, caracterizado pela visualização
das áreas: quiasma óptico, túber cinério e os corpos mamilares. Esta estrutura
faz conexão com o sistema límbico (relacionado ao comportamento emocional),
com a área pré-frontal, conexões aferentes e eferentes com o tecido medular e do
tronco encefálico, desempenhando importante papel como controlador das
funções viscerais.
O hipotálamo faz conexões ainda com a hipófise, sendo componente
essencial ao sistema neuroendócrino. Seu papel na estimulação e produção de
hormônios está bem claro para a ciência. Seus hormônios são estimuladores ou
inibidores da hipófise.
Outra questão importante envolvendo o hipotálamo está na sua conexão
com o córtex visual, é através dele que ocorre a regulação do ciclo circadiano.
Conclui-se que sua função está relacionada a homeostase, ou seja,
manutenção do equilíbrio interno, dentro dos limites compatíveis com o
funcionamento adequado dos diversos órgãos. Controle da temperatura corporal,
regulação do comportamento emocional, regulação da ingestão de alimentos
(centro da saciedade e da fome), regulação da ingestão de água entre outros, tem
papel preponderante na homeostase corporal.
O epitálamo localiza-se na transição do mesencéfalo, nele encontra-se a
glândula pineal, responsável pela secreção do hormônio melatonina. As outras
porções do epitálamo estão relacionadas a regulação do comportamento
emocional.

19
CAPÍTULO III

NEUROCIÊNCIA E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM

1. Aprendizagem e seus transtornos


O aprendizado acontece no cérebro, existindo um elo complementar entre
aprendizagem e memória. Para que o ser humano possa realizar um simples ato,
como ficar em pé, é preciso que seu cérebro acesse a memória, e que esta, lhe
passe um conjunto de posturas que possibilita essa ação. Quando uma nova
informação chega ao cérebro, produz uma modificação nas proteínas cerebrais
que leva uma modificação de comportamento, isto é aprendizagem. Então, o
processo de aprendizagem é um processo biológico dependente da memória.
A embriogênese, que envolve o processo de formação de um novo ser
vivo, é importante para esclarecer como esse cérebro foi formado e correlacionar
ao desenvolvimento de alguns transtornos que podem atingir o indivíduo na
infância.
O desenvolvimento embrionário é dividido por muitos estudiosos em três
fases: crescimento, que envolve a divisão celular e a elaboração de produtos
celulares; morfogênese, desenvolvimento da forma, que inclui os movimentos de
massas de células, possibilitando sua interação durante a formação dos tecidos e
órgãos e diferenciação, maturação dos processos biológicos.
Próximo de acabar a neurogênese inicia-se a migração de células para seu
local definitivo. Esse processo acontece na 7ª e na 14ª semana de gestação.
Entretanto, os neurônios encontram seu lugar no encéfalo, com o auxílio das
células gliais, que atuam direcionando-os a seus sítios específicos.
A formação dos circuitos neurais em sua maior parte acontece após o
nascimento, sendo, portanto, suscetível a interferências ambientais, que vão
influenciar a bagagem genética trazida no ADN do bebê. A partir desse momento
inicia a remodelagem neuronal, que contempla uma adaptação a nova vida fora
do útero. Essa adaptação envolve a apoptose e a criação de novos circuitos
neurais. (ROTTA, OHLWEILER, RIESGO, Transtornos de aprendizagem, pag.87):

20
“O ambiente é responsável pelo aporte sensitivo- sensorial, que é adquirido por meio da
substância reticular ativadora ascendente e é modificada pelo sistema límbico, que
contribui com os aspectos afetivos-emocionais da aprendizagem.”

Dessa forma, o ato de aprender é um ato que envolve a plasticidade cerebral e a


elaboração de experiências, que promova ambiente saudável psicologicamente.
O processo de aprendizagem ocorre em diferentes áreas do córtex cerebral
e são consolidados em diferentes momentos, ressalta-se ainda, que o
aprendizado não ocorre de forma homogênea. Trata-se de um processo de
aquisição, conservação e evocação do conhecimento.
A aquisição relaciona-se ao surgimento de novas sinapses e uma
modificação nas já existentes. A consolidação acontece com modificações
bioquímicas e moleculares. E a evocação, consiste na capacidade de acessar na
memória determinado conhecimento e utilizá-lo da forma adequada.
A literatura descreve alterações no processo de aprendizagem como
“distúrbios, dificuldades, problemas incapacidades, transtornos”, esse trabalho vai
abordar os transtornos mais frequentes da aprendizagem. O que difere os
transtornos de dificuldades de aprendizado, está na causa envolvida. Quando se
escuta dificuldade de aprendizagem logo vem a tona uma situação passageira,
causada por algum problema social, por exemplo. Já os transtornos, (RELVAS,
2006, pag.53:
“compreende uma inabilidade específica, como de leitura, escrita ou matemática, em
indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para o seu
nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual.”

Logo, os transtornos de aprendizagem são observados em indivíduos com


inteligência normal, sem alterações motoras, de níveis socioeconômicos e
culturais diferentes.
O DSM-5 apresenta basicamente 3 tipos de transtornos específicos da
aprendizagem: transtorno da leitura, transtorno da matemática e transtorno da
expressão escrita. Estes três grandes grupos serão explorados ainda nesse
capítulo.

2. Transtorno da leitura
É um transtorno específico da habilidade da leitura. Também conhecido
como dislexia, é caracterizado por problemas no reconhecimento preciso de
21
palavras, problemas na decodificação e dificuldade de ortografia. Sendo dessa
forma, específico das habilidades da leitura.
O DSM-5 classifica como critérios diagnósticos: “leitura de palavras de
forma imprecisa ou lenta e com esforço; dificuldade para compreender o sentido
do que é lido. Na prática em sala de aula, a identificação dessa condição fica
prejudicada pela grande quantidade de alunos e pela falta de conhecimento de
profissionais de educação.
As funções cognitivas envolvidas neste tipo de transtorno estão
relacionadas ao funcionamento ineficiente da região perissilviana esquerda.
O processamento da leitura é complexo e envolve estímulos atencionais,
que passam pelo tronco encefálico; a codificação, processamento simultâneo
sequencial, construção, significado e compreensão- lobos occipital, temporal e
parietal; e finalmente a planificação que nesse caso a área cerebral envolvida é o
córtex frontal, que acessa os sistemas de organização, internalização verbal.
Nos indivíduos disléxicos há uma falha nesse circuito. Ao invés de
ativarem, como os leitores normais, as partes anterior e posterior do cérebro, há
uma sub-ativação de caminhos neurais da parte posterior e uma super-ativação
da parte anterior do cérebro. Isso representa uma assinatura ou marca neural
para as dificuldades fonológicas. A consequência na falha na parte posterior do
cérebro é a incapacidade de transformar as letras em sons ao analisarem as
palavras e o não reconhecimento rápido e automático das palavras. Uma forma
de compensar essa falha de sub- ativação da parte posterior é a criação de vias
alternativas cerebrais diferentes. Isso se dá por meio do uso de sistemas
auxiliares na parte frontal e lado direito do cérebro e da área de Broca. Porém
esses sistemas secundários são funcionais, mas não são automáticos, ou seja,
permitem que haja uma leitura precisa, mas ocorre de forma muito lenta.

3. Transtorno da matemática
É a disfunção no domínio da linguagem matemática, entretanto sem afetar
o raciocínio lógico. Para RELVAS, 2015: “a discalculia apresenta sistemas de
dificuldades em lidar com a linguagem matemática, em associar números,
fórmulas e símbolos”.

22
O estudo da matemática contempla uma linguagem que se utiliza de uma
simbologia própria e dependente da compreensão da leitura para que o
aprendizado aconteça de forma natural.
A luz do DSM-5 (2014, p.67):
“Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades
caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas,
aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Se o
termo discalculia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades
matemáticas, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que
estejam presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou na precisão na
leitura de palavras.”

O processamento numérico está relacionado as áreas parietais,


especificamente a uma região conhecida como sulco intraparietal. Por ser um
processo dinâmico, conta também com o lobo frontal. O lobo parietal responsável
pela representação do domínio de quantidades, funções verbais espaciais e do
foco de atenção para a resolução de operações. O giro angular esquerdo é outra
área envolvida no processo de resolução de problemas matemáticos,
possibilitando a recuperação da memória de longo prazo para o reconhecimento
de fatos matemáticos.

4. Transtorno da expressão escrita


Refere-se apenas a ortografia ou caligrafia, na ausência de outras
dificuldades na expressão escrita. Nesse transtorno há uma combinação de
dificuldades na capacidade de compor textos escritos, evidenciada por erros de
gramática e pontuação dentro das frases, má organização dos parágrafos,
múltiplos erros ortográficos, na ausência de outros prejuízos da escrita.
Os critérios diagnósticos elencados pelo DSM-5: dificuldades para
ortografar e dificuldades com a expressão escrita.
Sua base biológica encontra-se na área cerebral, presente no hemisfério
esquerdo, que é responsável pela função motora da escrita.

5. Deficit de atenção e hiperatividade (TDAH)


É o transtorno mais comum em crianças na idade escolar. A primeira
descrição dos sintomas foi feita em 1902; na década de 40, surge a denominação
de lesão cerebral mínima; na década de 60 a denominação mudou para
“disfunção cerebral mínima” na qual se reconheceu que os sintomas
23
característicos estavam relacionados à disfunções em vias nervosas e não lesões
como etiologia.
Atualmente, o DSM-5 apresenta três sintomas que caracterizam o portador
do desatenção, hiperatividade e impulsividade. Caracteriza-se por alterações nos
sistemas atencionais, motores, perceptivos, cognitivos e de comportamento,
comprometendo a aprendizagem, vida social e familiar de crianças com potencial
intelectual adequado. Presença de alterações nas funções executivas.
Estudos de neuroimagem funcional apontam para alterações sensoriais,
psicomotoras e da ativação disfuncional do cerebelo, o que causaria a
hiperatividade, apresentando nesse caso volumes cerebrais menores do que em
crianças sem o TDHA.
Estudos encefalográficos verificam alterações na ativação do ritmo
cerebral, caracterizando a imaturidade cerebral. Verificou-se também com os
procedimentos que o portador dessa condição utiliza circuitos alternativos diante
de estímulos distratores, e, portanto, respostas mais lentas a estímulos cognitivos.
O DSM-5 trouxe a possibilidade de classificar o portador do TDAH como:
 TDAH com predomínio de sintomas de desatenção – com elevadas taxas
de prejuízo acadêmico, quando apenas esse critério é preenchido nos
últimos seis meses;
 TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade – com
altas taxas de rejeição e de impopularidade frente aos colegas, quando
apenas esse critério é preenchido nos últimos seis meses;
 TDAH combinado – elevada taxa de prejuízo acadêmico e maior presença
de sintomas de conduta, oposição e desafio, quando ambos os critérios
estão presentes.
Ainda é possível classificar o transtorno como leve, moderado e grave,
de acordo com o grau de comprometimento do indivíduo.

6. Transtorno do espectro autista (TEA)


É um transtorno do neurodesenvolvimento infantil caracterizado por três
sinais e sintomas específicos: dificuldade de interação social, problemas de
comunicação social e comportamentos repetitivos e restritos. Essa condição
geralmente se expressa na primeira infância.
Os critérios apontados pelo DSM-5 na identificação do TEA, são:
24
 Inabilidade persistente na comunicação social e na interação social nos
mais variados contextos, não justificados por atraso geral no
desenvolvimento, e que se manifesta por três características: déficits na
reciprocidade socioemocional; déficits nos comportamentos não verbais de
comunicação usuais para a interação social e déficits nos processos de
desenvolver e manter relacionamentos;
 Padrões restritos, repetitivos de comportamento, de interesses ou
atividades manifestado por pelo menos, 2 dos itens a seguir: fala,
movimentos motores ou uso de objetos de forma repetitiva ou
estereotipada; adesão excessiva a rotinas, rituais verbais ou não verbais
ou excessiva resistência a mudanças; interesses fixos e altamente restritos
que são anormais em intensidade e foco; hiper ou hipo- reatividade para
percepção sensorial de estímulos do ambiente ou interesse anormal ou
excessivo para estímulos senso perceptivos;
Ainda não foi possível diagnosticar o transtorno do espectro autista através de
exames, o diagnóstico é exclusivamente clínico. Estudos recentes indicam que o
autismo está relacionado a uma disfunção nas áreas do sistema límbico e na
região orbito-frontal.

25
CONCLUSÃO
O desenvolvimento ontogenético dos seres humanos, é o período que vai
da fertilização de uma única célula até a maturidade. O que diferencia seres
humanos de qualquer outro animal é a sua capacidade cerebral, que compreende
a recepção de estímulos e o planejamento de uma resposta adequada ao
estímulo. Isso só é possível graças a maturação do tecido cerebral e de suas
complexas estruturas.
Qualquer tecido é formado por um tipo determinado de célula, o neurônio é
a célula principal do tecido nervoso, entretanto não é a única, encontra-se
também as células gliais. É nos neurônios que efetivamente processa a
aprendizagem, desde que o ser humano nasce até a vida adulta, sim, a
capacidade de aprender acompanha o ser humano até a senil idade.
Nesse contexto observa-se a neuroplasticidade neuronal, que está
presente ativamente levando a uma mudança de caminhos, que conduz o
indivíduo a compensar determinadas faltas, desenvolvendo rotas alternativas.
Essas novas rotas são entendidas também como aprendizagem. A maturação
cerebral, permite que determinados conceitos sejam melhores absorvidos em
determinadas idades, por isso a escola acontece na fase da infância e
adolescência, porque é quando o cérebro está com a maior capacidade plástica.
Portanto, a aprendizagem acontece no cérebro e por isso conhecer qual o
mecanismo biológico desencadeador da aprendizagem é peça chave para os
professores do futuro. Embora, hoje, não se observe em muitos currículos o
estudo da fisiologia cerebral. Essa deficiência, nos currículos dos cursos de
formação de professores, precisa entrar em pauta o quanto antes, é urgente que
se adapte os processos pedagógicos, levando em consideração os processos
biológicos envolvidos na aprendizagem do currículo escolar e também do
currículo oculto.
Diferentes situações interferem na aprendizagem escolar, como questões
cognitivas, dificuldades, transtornos, questões sociais e familiares; em
consequência, tais disfunções podem trazer prejuízos acadêmicos que serão
carregados até a vida adulta.
A função de educador não é de um mero aplicador de conteúdo, é de um
profissional que se ajuste as dificuldades encontradas; que tenha a capacidade de

26
identificar possíveis causas de baixo desempenho; que realiza a sua função, de
mediar a aprendizagem, sob três aspectos fundamentais: cognitivo, motor e
afetivo.
Cognitivo: incentivando a busca pela construção do conhecimento, gerando
autonomia, levando em consideração que cada ser humano é único e que
apresenta necessidades pedagógicas diferentes. Motor: encarando a educação
sob todas as vertentes, sob o aspecto motor está sendo trabalhado a atenção, o
foco, o caráter social e de interação, lembrando que seres humanos são
sensoriais e que aprendem também pela via motora. Afetivo: relaciona-se a dar
sentido e significado ao que está sendo estudado, mantendo uma relação
prazerosa, gerando neurotransmissores que levem a uma sensação de bem-
estar, de alegria, em estar naquele ambiente. Dessa forma o professor está
trabalhando também a motivação, que leva ao indivíduo ter vontade de continuar
na busca pelo conhecimento.
E para finalizar, a parceria entre família e escola deve reger as relações
educacionais, porque afinal a educação começa em casa. A escola deve
complementar a educação recebida no lar. Pela ação dos neurônios espelhos, os
indivíduos tendem a copiar modelos próximos, sobretudo dentro da família. Por
isso pais e mestres devem pautar suas relações com respeito, com afeto, com
palavras positivas. Trabalhando dessa forma o sistema inibitório e o cérebro
social.
Os professores devem perceber a sua importância para a sociedade, é
através dela que se forma uma sociedade mais justa, menos desigual. São essas
pessoas que estão hoje na escola, que vão formar a sociedade de amanhã,
portanto a educação não é lugar de profissional desmotivado, que não acredita
que é possível haver a mudança, até porque a partir dessa pesquisa, é possível
concluir que a capacidade de mudança está presente em nosso corpo biológico.

27
REFERÊNCIAS

ABNT. Apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de Janeiro, 2001.

ABNT. Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro, 2001.

ABNT. Apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2001.

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Barbosa, A neurobiologia da dislexia, 2013, revista ciência e cognição.
Disponível em: <http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=1126> – acesso
em: 07 agosto 2018, 07:32.

Foz, F. S. B.; Rondó, A.G.; Rebello, M.P.; Rocha, A.F. 1,3; Ramazzini,
P.B. Cardoso, M.B.; Leite, C.C., Plasticidade neural e linguagem: efeitos de
lesões congênitas na alocação dos circuitos neurais no hemisfério direito.
Disponível em:
<http://www.enscer.com.br/pesquisas/artigos/plasticidade/plasticidade.html >
acesso em: 08 agosto 2018, 08:32.

GAZZANIGA, Michael S.; IVRY, Richard B.; MANGUN, Georg Ronald.


Neurociência Cognitiva: a biologia da mente, ed:artmed. 2006.

JUNQUEIRA, Luiz C., CARNEIRO, Jose. Biologia celular e molecular. 7ª. ed.
Guanabara Koogan: São Paulo, 2000.

JUNQUEIRA, Luiz C., CARNEIRO, Jose. Histologia básica. 9º. ed. Guanabara
Koogan: São Paulo, 1999.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais- DSM-5- AMERICAN


PSYCHIATRIC ASOCIATION, Porto Alegre: artes médicas.

MOORE, Persaud, Embriologia clínica, ed.Guanabara Koogan: Rio de Janeiro,


2002.

NERI, Carine P., Neurociência aplicada a educação: teorias da aprendizagem .,


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PIMENTEL, Letícia da Silva; LARA, Isabel Cristina Machado, Discalculia: o


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RELVAS, Marta, Fundamentos biológicos da educação, ed. Wak: Rio de Janeiro,


2005.

28
RELVAS, Marta, Neurociência e transtornos de aprendizagem, 6º. ed. Wak: Rio
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ROTTA, Newra Tellechea, OHLWEILER, Lygia, RIESGO, Rudimar dos santos,


Transtornos da aprendizagem – abordagem neurobiológica e multidisciplinar, ed.
artmed: Porto Alegre, 2016.

29
ÍNDICE REMISSIVO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................8
CAPÍTULO I .........................................................................................................................9
A NEUROCIÊNCIA E A RELAÇÃO COM A BIOLOGIA CELULAR ...........................9
1. História da neurociência .............................................................................................9
2. A célula....................................................................................................................... 10
2.1. Neurônio .............................................................................................................. 11
2.1.1. Soma ................................................................................................................ 11
2.1.2. Dendritos.......................................................................................................... 12
2.1.3. Axônio............................................................................................................... 13
3. Cérebro ...................................................................................................................... 13
CAPÍTULO II ..................................................................................................................... 14
FUNDAMENTOS DA ANATO-FISIOLOGIA E APRENDIZAGEM HUMANA ......... 14
1. Impulso nervoso........................................................................................................ 14
2. Sinapse elétrica ........................................................................................................ 15
3. Sinapse química ....................................................................................................... 16
4. Plasticidade cerebral ................................................................................................ 16
5. Áreas cerebrais e suas habilidades....................................................................... 17
5.1. Telencéfalo ......................................................................................................... 17
5.2. Diencéfalo ........................................................................................................... 18
CAPÍTULO III .................................................................................................................... 20
NEUROCIÊNCIA E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM............................ 20
1. Aprendizagem e seus transtornos ......................................................................... 20
2. Transtorno da leitura ................................................................................................ 21
3. Transtorno da matemática ...................................................................................... 22
4. Transtorno da expressão escrita............................................................................ 23
5. Deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ......................................................... 23
6. Transtorno do espectro autista (TEA) ................................................................... 24
CONCLUSÃO ................................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 28

30

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