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IESI - CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR

UNAÍ-MG
2016
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Biologia Celular e Molecular

Introdução a Biologia Celular e Molecular

Biologia Celular é um campo científico que estuda as células. Tem como


propósito analisar como funciona uma célula, suas organelas (espécie de órgão das
células) e as relações entre tecidos, órgãos e seres vivos que as células
possibilitam. Seu início aconteceu com a invenção do microscópio, isso porque, a
partir daí, foi possível o estudo das células e, posteriormente, das organelas. Mais
tarde os microscópios foram se aperfeiçoando e viraram microscópios eletrônicos.
Então, com a imagem mais ampliada, as estruturas celulares de células animais,
vegetais e de vírus puderam ser mais analisadas.
Existem as células animais e as células vegetais. As diferenças entre as duas
são bastante acentuadas. Mas também existem semelhanças. Algumas diferenças
vistas são, por exemplo, a forma da rígida da parede celular da célula vegetal, em
comparação com a membrana plasmática. Apesar da célula vegetal ter essa parede
semirrígida, a membrana tem menos rigidez, as duas fazem a mesma função: a
proteção da célula e o controle do que entra e sai dela. Muitas outras organelas das
duas células se parecem e outras divergem, é comum ver semelhanças e diferenças
em ambas.
As células são as menores partes vivas presentes no nosso corpo. É a
unidade responsável por formar todo o corpo humano, sendo que seu bom
funcionamento significa o correto funcionamento do corpo. Existem vários tipos de
células dentro do corpo humano, por exemplo. Essa variedade se explica pelo fato
das células serem parte de diferentes sistemas e funções no nosso funcionamento.
Existem células para o sistema digestivo, para o nervoso e outros. Isso não impede
que, entre as células, existam algumas características semelhantes em todas; a
presença de núcleo é um exemplo disso.
Seu pequeno tamanho não é proporcional a sua importância para qualquer
ser vivo. São aproximadamente 10 trilhões de células no corpo humano. Sendo que
todas as células têm sua devida importância para o bom funcionamento do corpo,
mas as células do sistema nervoso, chamadas de neurônios, tem uma destacada
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função. Ela transmite impulsos elétricos do cérebro para o corpo. Sem elas, um
comando do cérebro não chega ao destino desejado, e assim não é executado.
A Biologia Celular estuda todas essas ações, as potencialidades das células
suas funções e sua importância. Esse conhecimento traz mais informações para
tratar problemas degenerativos, problemas em que células de algum tecido, ou do
corpo todo, morrem e não nascem outras em seu lugar no mesmo ritmo. Tais
problemas degenerativos são graves e podem levar à morte.
A Biologia Molecular é um ramo da Biologia que explora o estudo da vida em
escalas moleculares. Seu principal foco é o estudo de genética, DNA, produção de
proteínas e o material genético em geral. Seu campo de estudos é bem amplo. Seus
estudos são baseados nas relações entre esse material genético e a produção de
proteínas, assunto que envolve várias áreas. Essa área de estudo tem ligação intima
com outras áreas de estudo, como bioquímica e a própria genética.
Os objetos de estudo da Biologia Molecular são todas ligadas às informações
genéticas, hereditariedade, DNA, células. Todas essas coisas são alvo principal de
outras áreas de pesquisa. A genética também explora esses fenômenos, embora
essa biologia dê mais ênfase no grau molecular da pesquisa. A diferença básica
entre essas áreas é que, enquanto essas áreas trabalham com análise macro ou
microscópica de tecidos ou células, a biologia molecular trabalha num nível
submicroscópico. Essa diferença se fez possível pelo avanço da tecnologia. Tanto é
que, a Biologia Molecular é um campo bem mais novo que as outras áreas ligadas a
ela.
Na verdade, não há como dizer, exatamente, que a Biologia Molecular é um
campo mais novo ou não de outras áreas, como a genética. Isso porque eventos
importantes para uma área não é, necessariamente, para outra. Podemos dizer que
a Biologia Molecular é, na verdade, uma área menos explorada que a outras.
Os eventos importantes para a construção da história dessas áreas têm início
em 1665, quando Roberto Hooke fez a primeira observação de uma célula num
microscópio. Em 1831, Robert Brown descobriu a unidade nuclear presente nas
células, o que possibilitou que, em 1865, Gregor Mendel pudesse desenvolver a lei
da hereditariedade. Essa lei foi desenvolvida com estudos em que Mendel isolava o
núcleo de células de pus de feridas (isso porque eram células de núcleo maior e
mais fáceis de isolar). Na lei da hereditariedade, era citado que as características
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hereditárias eram transportadas por unidade que, mais tarde, seriam denominadas
células.
Em 1869, Friedrich Miescher descobriu o ácido nucleico e, em 1882, Walther
Flemming descobre a existência e a atividade dos cromossomos. Já no século XX,
em 1915, Thomas Morgan relacionou a ligação dos genes com os cromossomos, o
que deu início à teoria cromossômica de herança. Vinte nove anos depois (1944),
houve um salto no estudo da herança genética: foi aceito que, segundo Oswald
Avery, as informações genéticas estavam guardadas no DNA enquanto o consenso
da época era de que essas informações estariam nas proteínas produzidas pelo
DNA.
Em 1953, James Watson e Francis Crick foram responsáveis por mostrar, de
forma tridimensional, como poderia ser a molécula do DNA. Cinco anos mais tarde,
Matthew Meselson e Franklin Stahl, notaram que o DNA se multiplica de forma
semiconservativa, ou seja, o DNA, ao se multiplicar, apesar de variar informações
contidas nele, conservava algumas características genéticas que seriam passadas
para outras gerações. Essas partes, responsáveis por perpetuar informações
genéticas, eram os genes. Esse ano é apontado como o início da Biologia Molecular.
Isso porque essa montagem de DNA deu origem a outras várias descobertas que
levaram ao estudo dessa área.
Marshall Nirenberg e Har Khorana, em 1966, conseguiram decifrar o código
genético humano, dando mais informações sobre nossa formação, enquanto, em
1982, Richard Palmiter e Ralph Brinster criaram o primeiro exemplar vivo de
clonagem, um camundongo. Já em 1985, Alec Jeffreys, foi responsável por
desenvolver a técnica de impressão digital por DNA. É o que possibilita os atuais
exames de criminalística e de paternidade por meio do qual se analisam
semelhanças de pessoas com seus respectivos DNA.
No final do século XX, em 1996, Ian Wilmut clonou o primeiro mamífero
adulto, nesse caso uma ovelha. O clone foi chamado Dolly. Apesar desses casos
ganharem destaques na mídia e instigarem tanto a comunidade científica e a
população, através de debates que colocam a prova o código de ética e a ética
médica, a clonagem natural já existe há tempos. Finalmente, em 2001, cientistas do
mundo divulgaram o mapeamento de 99% genoma humano com uma precisão de
99%.
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Origem da vida a DNA


Atualmente existe um amplo consenso que o DNA (o ácido
desoxirribonucleico) deve ter entrado em
cena em período bem mais tardio deste
processo, provavelmente, tendo sido
precedido por algum outro tipo de
polímero aperiódico orgânico, talvez vários
mais simples e mais versáteis, ainda que
não tão estáveis.
Existem basicamente dois cenários
principais que são investigados pela
comunidade científica como formas de explicar a origem da vida em nosso planeta e
querecebem as denominações genéricas de ’replicadores
primeiro’ e ’metabolismo primeiro’.
Entre as diversas propostas do primeiro tipo,
('replicadores primeiro’) existe a acordo amplo que os primeiros
sistemas autorreplicantes e protocelulares teriam passado por
uma fase prévia ao surgimento da replicação guiada pelo
DNA (ácido desoxirribonucleico) em que tal função era exercida pelo RNA (ácido
ribonucleico) que, além da função informacional/hereditária – com as sequências
servindo como moldes para a replicação de outras moléculas de RNA e mesmo de
proteínas e peptídeos –, também desempenha a função de agente catalizador,
mantendo, assim, um papel duplo que mais tarde seria dividido com as proteínas e
as moléculas de DNA que tomariam a dianteira nos sistemas vivos modernos em
boa parte das funções originalmente exercidas apenas pelo RNA.
Esta conclusão é baseada em pelo menos cinco linhas de evidências que
indicam fortemente que, antes do DNA, os ácidos ribonucleicos devem ter servido de
base aos genomas ou proto-genomas dos sistemas autorreplicantes mais antigos:
1. Polímeros de RNA podem guiar a síntese de uma nova cadeia
de RNA ou mesmo de DNA, por pareamento de bases Watson-Crick,
complementares que se estabelecem por pontes de hidrogênio entre bases
púricas e pirimídicas, assim como ocorre no DNA.
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2. A síntese de proteínas pode ocorrer na ausência de DNA, mas


não na ausência de RNA;
3. Algumas moléculas de RNA modernas têm propriedades
catalíticas, e hoje conhecemos vários exemplos destas sequências, como as
chamadas ribozimas.
4. A ubiquidade de coenzimas nucleotídicas baseadas em purinas
e piridinas, bem como outros cofactores semelhantes as base de
ribonucleótidos em vias metabólicas, e
5. O fato da biossíntese de desoxirribonucleotídeos (os monômeros
de DNA) sempre ocorre através da redução enzimática de ribonucleótidos.
Portanto, fica claro que um 'mundo de RNA’ provavelmente precedeu o nosso
atual mundo de “DNA/RNA/proteína” que, provavelmente, deve ter se estabelecido
apenas quando certas pressões seletivas que levaram à biossíntese da
desoxirribose, a partir da ribose (especialmente da timina) e a concomitante
evolução de enzimas como as DNA polimerases com habilidades corretoras,
passaram a existir muito provavelmente por que o DNA (dentro de um contexto onde
proteínas e RNA já existiam) era uma molécula bem mais estável.
Estas considerações, portanto, deixam claro que o problema é como os
monômeros de RNA, os ribonucleotídeo - as moléculas formadas de uma
das quatro bases nitrogenadas (adenina, uracila, guanina, citosina), um grupo
fosfato e uma pentose (um açúcar de cinco carbonos, no caso a ribose) que, ao se
polimerizarem por ligações fosfodiester, dão origem as cadeias de RNA.
Esta é uma das questões mais discutidas entre os pesquisadores da área por
que, diferentemente de outras biomoléculas (como aminoácidos e seus polímeros,
as proteínas, peptídeos e mesmo ácidos graxos que se formam espontaneamente
em várias condições), os nucleotídeos e alguns dos seus precursores são mais
complicados de serem sintetizados, especialmente em condições que os cientistas
acreditam mimetizar as da terra primitiva, tornando este processo um grande
desafio.
O químico Leslie Orgel, em um artigo de 2004, define os quatro principais
desafios que envolvem a hipótese do 'mundo do RNA’, na perspectiva do cenário
dos ’replicantes primeiro’, como sendo: (1) a síntese não-ezimática de nucleotídeos,
no caso, ribonucleotídeos; (2) a polimerização não-enzimática desses nucleotídeos
em uma dada sequência aleatória; (3) a replicação/cópia não enzimática dessas
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sequências de polímeros de RNA; e por fim, (4) a emergência através de um


processo de replicação diferencial de RNA catalíticos que poderiam juntos
sustentarem crescimento exponencial em um ambiente pré-biótico, isto é, seleção
natural para a eficiência catalítica e de replicação.
Aqui é importante destacar que, enquanto as três primeiras etapas estariam
dentro da chamada área de estudos da química pré-biótica, portanto estando no
contexto de um modelo de 'sopa primordial’, a quarta já estaria em uma região de
estudo na fronteira com a biologia evolutiva, uma vez que já estamos lidando com
sistemas capazes de evoluir em sentido mais estrito, através de variação hereditária
e replicação/reprodução diferencial.
Um dos maiores problemas com estas etapas, particularmente com a
primeira, é que a ribose é um açúcar difícil de ser formado de maneira seletiva, e o
processo de adição de nucleobases à ribose é muito ineficaz, no caso do purinas, e
simplesmente não ocorre no caso das pirimidinas canônicas.
De acordo com Orgel ,foi Graham Cairns-Smith o primeiro a enfatizar que
talvez as dificuldades de síntese de nucleotídeos tornassem improvável que o
'mundo do RNA’ surgisse diretamente a partir de um período de química pré-biótica
na terra primitiva. Contudo, ao invés de simplesmente decretar a questão como uma
parede intransponível ao conhecimento, o próprio Cairn-Smith sugeriu cenários
alternativos, um deles que tem sido cada vez mais explorado. A proposta geral é que
um sistema anterior ao RNA teria sido o primeiro a surgir, talvez mesmo envolvendo
processos envolvendo a seleção natural de sistemas autorreplicantes baseados em
outros tipos de moléculas.
A proposta favorita de Cairn-Smith é que estes sistemas originais seriam
muito mais simples do que imaginaríamos: Argilas, cujo padrão de fraturas orientaria
o crescimento destes sistemas minerais de maneira análoga aos processos de
replicação por cópia de molde, fazendo com que estes sistemas minerais fossem
capazes de algum nível de hereditariedade. Mas Cairn-Smith, não parou aí, e
apontou que mesmo que a sua proposta preferida não estivesse correta, ainda
assim, antes do RNA outro tipo de polímero linear, que fossem bem mais simples e
facilmente sintetizada nas condições prébióticas que o RNA, poderia ter cumprido a
função de molécula genética.
A ideia de Cairn-Smith era de que este sistema pré-RNA (especialmente, o
seumodelo de argilas autorreplicantes) teriam dado origem ao RNA ou a outro
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polímero autorreplicante mais simples e estes teriam substituído o sistema anterior,


no que ele batizou de 'tomada genética’.
Vamos voltar a esta questão mais adiante, mas agora é importante enfatizar
que meros 5 anos após os comentários de Orgel referindo ao prognóstico de Cairn-
Smith, cientistas conseguiram produzir ribonucleotídeos ativados por vias
alternativas de síntese em que essas moléculas a base de pirimidina podem ser
formadas em sequências curtas sem passar por uma etapa em que existem a ribose
e as nucleobases . A equipe liderada por John Sutherland da Universidade de
Manchester mostrou que é possível formar estas moléculas por meio da síntese
continua de intermediários quiméricos sem a necessidade de açúcares e
nucleobases livres, e estes podem ser formados com alta produtividade de até 92
por cento.
Ao contrário das vias tradicionais, esta via prossegue através dos
intermediários arabinose amino-oxazolina e anidronucleosídeos. Estas reações têm
como reagentes básicos a cianamida, o cianoacetileno, o glicolaldeído, o
gliceraldeído, além do fosfato inorgânico, todas moléculas pré-bióticas bastante
plausíveis, portanto, sugerindo que esta via é consistente com as condições da terra
primitiva e os modelos geoquímicos em que se baseiam .
Todavia, mesmo que os ribonucleotídeos mostrem-se realmente muito difíceis
de serem sintetizados em condições pré-bióticas, ainda assim, não podemos
esquecer que existem outros tipos de cenário bem mais indiretos que dependem do
surgimento de outras moléculas diferentes do RNA, e mesmo que não sejam ácidos
nucleicos, como Cairn-Smith já havia notado.
Estas outras biomoléculas especialmente os aminoácidos, encontrados
mesmo no espaço sideral, sendo particularmente diversos e abundantes em certos
tipos de meteoritos, como o Murchinson [e mesmo os seus
polímeros (peptídeos e proteínas), assim como vários tipos de
lipídios e moléculas anfifílicas que tem a tendência de formar
vesículas e encapsular outras moléculas], são muito mais
facilmente formadas e podem perfeitamente terem precedido o
mundo do RNA, tendo até mesmo preparado o cenário para ele.
Desde que o químico Sidney W. Fox na década de 1950
e 1960 descreveu a formação de aminoácidos, peptídeos / proteinoides
e microesferas peptídicas a partir de processos termais - inclusive, tendendo a criar
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certos tipos de sequência mais do que outras o que minimizaria o papel da chance –
ficou claro que proteínas podem ter tido uma origem independente e anterior aos
ácidos nucleicos. Assim, existem várias evidências que mostram que estas
moléculas podem surgir em muitas condições, inclusive através da polimerização
autoinduzida a partir da afinidade das cadeias laterais ou também por meio da
polimerização assistida por superfícies minerais. Portanto, peptídeos poderiam ter se
formado, nas condições de terra primitiva, por exemplo, por meio de reações
induzidas por sais em conexão com a adsorção em minerais de argila, que estão até
o momento entre os mecanismos mais simples e mais universais conhecidos.
Um ponto interessante é que as propriedades destas reações favorecem a
formação de certos peptídeos biologicamente relevantes dentro de uma ampla gama
de condições ambientais, tais como temperatura, pH, e da presença de compostos
inorgânicos. Essas preferências de reação inerentes às ligações peptídicas tornam o
argumento de 'impossibilidade estatística’ da formação evolutiva das biopolímeros
'corretos’, pelo menos no caso dos peptídeos eproteínas, completamente mudo.
Além destas considerações importantes, uma parte dos estudiosos da origem da
vida propõem que conjuntos autocatalíticos de proteínas [isto é, conjuntos de
moléculas que formariam uma rede autossustentada de reações que reproduziriam
tal rede] poderiam ser os sistemas autoprodutores originais a partir dos quais a vida
baseada em moléculas informacionais como o RNA e DNA teria surgido.
Na realidade, nas últimas décadas, vários químicos vêm trabalhando vários
tipos de moléculas muito mais facilmente sintetizadas que os ácidos nucleicos e que
compartilham várias das mesmas propriedades, como os PNA e os TNA. Ainda mais
recentemente vários, outros tipos de nucleotídeos alternativos, os chamados de
XNAs (Ácidos Xenonucleicos) também estão sendo investigados e mostram
propriedades intermediárias e relativamente flexíveis
que poderiam ter facilitado o processo de transição
para o 'mundo do RNA’, reforçando a tese que, antes
do ’mundo do RNA’, outro polímero pode ter ocupado
o papel de molécula informacional/hereditária e
catalítica. Sendo assim, os ribonucleotídeo e as
cadeias de RNA poderiam ter se originado já a partir
de sistemas bioquímicos mais complexos.
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Por enquanto, existem seis polímeros alternativos aos ácidos nucleicos


tradicionais que podem transmitir informação genética, e evoluir em laboratório de
modo que possam ligar-se especificamente a várias moléculas alvo.
Os XNA produzidos pela equipe de Holliger têm as pentoses típicas do DNA e
do RNA substituídas por outras seis estruturas cíclicas, mas que ainda permitem a
formação de cadeias helicoidais e pareamento entre bases. Os cientistas ao invés
de usar a síntese química tradicional, modificaram enzimas polimerases e
transcriptases reversas de modo a copiarem a informação genética a partir de
modelos de DNA para XNA e vice-versa.
Como essas enzimas não funcionam muito bem com estes novos
nucleotídeos, os pesquisadores tiveram que mutá-las e aos poucos selecionado as
mais capazes de processar estes novos aćidos nucleicos, como fizeram com os
nucleotídeos ativados dos ácidos 1,5-anidro-hexitol (HNA) ciclohexenil (CENA) -
nucleicos.
Os pesquisadores então fizeram basicamente o mesmo com a transcriptase
reversa,oque permitiu a eles isolar enzimas que conseguissem transferir a
informação genética entre os seis XNA e o DNA. Essas enzimas podem replicar com
precisão a informação genética do DNA para o XNA e de volta ao DNA com muita
eficiência, mas ainda assim com erros de cópia suficientes para possibilitarem o
surgimento de sequências mutantes que poderiam assim evoluir novas funções. De
fato, os cientistas mostraram que estas enzimas com algumas
modificações podem não só catalizar essas as reações de
polimerização usando cadeias de nucleotídeos diferentes
como moldes, como podem induzir alguns desses XNA mais
diferentes (por exemplo que não se pareia
complementarmente por pontes de hidrogênio mas sim por
interações hidrofóbicas) assumirem uma conformação
helicoidal mesmo que o sistema de pareamento entre
monômeros complementares seja muito diferente daqueles
que ocorre entre desoxirribo- e ribonucleotídeos.
Jack Szostak, da Universidade de Harvard, EUA , um
dos principais investigadores da área de pesquisas sobre a
origem da vida na Terra, ao comentar o trabalho da equipe de Holliger, afirmou:
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“Em princípio, muitos polímeros diferentes podem servir as funções de RNA e


DNA em organismos vivos. Por que então a biologia moderna usa apenas RNA e
DNA? A resposta provavelmente reside em dois “filtros”. Em primeiro lugar, apenas
alguns ácidos nucleicos podem realmente ser feitas na Terra primitiva. Em segundo
lugar, em relação aos polímeros que, na verdade, podem ser produzidos, alguns
podem ter sido funcionalmente superiores aos outros em termos de facilidade e
precisão de replicação ou capacidade de gerar estruturas catalíticas dobradas”
Em conjunto, essas novas descobertas sugerem fortemente que podem existir
vários tipos de moléculas capazes de servir como armazenadores e transmissores
de informação hereditária e também de funcionar como agentes catalíticos e de
ligação. Isso nos permite tirar duas conclusões relativamente sólidas. A primeira
delas é que não existe um único caminho para a origem da vida, portanto, os
argumentos de improbabilidade não têm qualquer força contra as teorias, cenários e
modelos de origens naturais para os sistemas biológicos. A segunda é que a
evolução de sistemas autorreplicantes e protocelulates, a partir dos quais a vida
como nós conhecemos (formados por moléculas como RNA e DNA) pode ter
ocorrido através da evolução pregressa em um contexto protocelular mais complexo
do que os modelos convencionais pré-bióticos, substituindo sistemas bioquímicos de
controle de replicação bem mais simples e antigos, mas em que a catálise por
proteínas (e/ou por outro tipo de polímero já existiria), conservando este aspecto de
modo similar ao que deve ter acontecido em relação ao RNA quando este teve
muitos de seus papéis substituídos pelo DNA .Aqui voltamos a questão da distinção
entre química pré-biótica e evolução molecular de sistemas autorreplicantes. Caso o
apresentado neste parágrafo esteja correto, as três primeiras etapas sugeridas por
Orgel em relação a origem do RNA poderiam não estarem associadas a química
pré-bióticas, mas já a evolução molecular de sistemas de polímeros mais antigos e
mais simples que o RNA.
Note bem, uma vez estabelecido o RNA (embora sem dúvida restem muitos
desafios para compreender como se deu a evolução neste 'mundo de RNA’), as
questões a serem respondidas passam a ser mais simples quando comparadas aos
problemas que cercam a origem em si do RNA, uma vez que existe ampla evidência
experimental que a partir de conjuntos aleatórios de polímeros de RNA de vários
tamanhos é perfeitamente possível selecionar sequências autorreplicantes de vários
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tipos e com várias propriedades catalíticas bem específicas e interessantes do ponto


de vista das formas como a evolução destes sistemas pode ter ocorrido.
Assim, Orgel já concluíra em 2004 que já se sabia o suficiente para sugerir
que cada uma das etapas consideradas necessárias para que se evolua, a partir de
uma dessas bibliotecas aleatórias de sequências de fitas duplas de RNA, um
sistema autossustentado, enclausurado em um sistema membranar, já poderiam ser
demonstradas através de experimentos de laboratório.
Por exemplo, Gerald Joyce e Tracey Lincolntrabalhando no Scripps Research
Institute em La Jolla, California, criaram um sistema químico in vitro que exibe certas
propriedades que se assemelham muito as dos seres vivos, como capacidade
autorreplicação indefinida, mutação e
'sobrevivência dos mais aptos’. O sistema de
acordo com os autores do trabalho de ribozimas
(enzimas de RNA) pode replicar-se
indefinidamente nos deixa mais próximos de
compreendermos as origens da vida em nosso
planeta, assim como nos ajudar a descobrir como
sistemas vivos podem ser sintetizados em
laboratórios.
O sistema de ribozimas autorreplicantes
opera através de replicação cruzada (cross-
replication) e envolve um par de ribozimas que
sintetizam uma a outra a partir de um total de quatro substratos de oligonucleótidos.
Cada uma das ribozimas é formada por 70 nucleotídeos que catalizam a síntese
uma da outra. Desta maneira, a ribozima da 'esquerda’ serve com molde à síntese
da ribozimas da direita que por sua vez serve de molde para a da 'esquerda’ e assim
por diante, uma construindo a outra através do pareamento Watson-Crick, isto é, A-
U e C-G.
Como Joyce enfatiza, quando chegamos nesta fase estamos na realidade na
fronteira em que a química começa a se tornar biologia, o que permite que a
'informação genética molecular’ passe a ser 'imortalizada’. O processo de
amplificação ocorre com um tempo de duplicação de aproximadamente 1 hora e
pode ser mantido indefinidamente.
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Vários outros sistemas similares, mas envolvendo uma única ribozima, já


haviam sido desenvolvidos, mas eles acabavam mais cedo ou mais tarde se
degenerando e parando de se replicar. Porém, isso ocorria, segundo Joyce e
Lincoln, por que a ligação entre o catalizador e o seu produto tornava-se forte
demais, colocando um ponto final ao processo. Este problema foi resolvido pelos
dois pesquisadores ao adotarem este sistema de replicação cruzada de duas
sequências de RNA que agiam como ribozimas distintas tendo a outra como
substrato. Assim, enquanto os pesquisadores continuarem acrescentando
nucleotídeos a solução o processo de replicação cruzada continua a ocorrer, sendo
esta uma das mais belas demonstrações de princípio dentro dos estudos modernos
sobre as origens da vida em nosso planeta .
O sistema também demostra a ação da seleção natural, o que foi atingido
através do desenvolvimento, por parte do grupo de pesquisa, de 12 pares de
ribozimas que se replicam cruzadamente, deixando-as competir por um mesmo
estoque limitado de oligonucleotídeos livres na solução. Assim, ocasionalmente,
uma mutação surge fazendo com que um dos pares começasse a combinar os
nucleotídeos de uma maneira ligeiramente diferente e um pouco mais eficaz, dando
origem a uma variante de um dos doze sistemas originais que, após vários turnos de
replicação (gerações), acabava por eventualmente dominar a população inteira .
Mas a história não acaba aí, nas últimas décadas certos conjuntos de reações
de polimerização cruzadas ainda mais complexas que as envolvidas no sistema de
Joyce e Licoln, conhecidos como 'conjuntos autocatalíticos’, têm sido estudados e
propostos como tendo tido uma participação nesta fase inicial da origem da vida e
criado as bases para a emergência de moléculas orgânicas cada vez mais
complexas, dando origem a diversidade química necessária para o surgimento de
moléculas como o RNA e o DNA.
Este cenário aproxima-se bastante da outra grande abordagem para a origem
da vida já mencionada, o 'metabolismo primeiro’, na qual estas reações haveriam
antecedido muito o surgimento de moléculas autorreplicantes.
Na abordagem “metabolismo primeiro” processos análogos ao desses
conjuntos autocatalíticos [isto é, envolvendo conjuntos de várias reações cujos
produtos ajudariam da formação dos reagentes de outras e portanto formariam um
ciclo autossustentado], mas que ocorreria com moléculas inorgânicas muito mais
simples - como ferro, enxofre, níquel e cobre, como o ’mundo de ferro-enxofre’ de
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Günter Wächtershäuser que propôs o modelo de 'metabolismo de superfície’. Este


modelo envolve ciclos de reações de transferência de elétrons, tendo como base o
acetato e o ciclo reverso do ácido cítrico, por exemplo, que seriam alimentados por
atividade geotérmica, como os fluxos de materiais e os gradientes térmicos formados
em respiros e fumarolas submarinas. De acordo com os defensores desta
abordagem, estes sistemas poderiam ser a base da vida ou, pelo menos, os
responsáveis pela síntese de moléculas cada vez mais complexas.
Para Wächtershäuser, as pistas de como teria sido este sistema
protometabólico original podem ser encontradas em certas reações bioquímicas
modernas ubíquas entre os seres vivos. O químico alemão propôs que este ciclo
autocatalítico original pode ser retrodito a partir do ciclo redutor do ácido cítrico
substituindo os tioésters por tioácidos, ao pressupor-se que a fonte de redução
necessária poderia ser suprida pela formação oxidativa de pirita (FeS2).
Wächtershäuser também postula que este ciclo não poderia existir sozinho, mas
deveria fazer parte de um conjunto maior de redes de reações concatenadas que
estariam por trás de outros ciclos metabólicos modernos.
Neste modelo 'quimioautotrófico’ para origem da vida, através de um 'mundo
de ferro-enxofre’, é postulado que estes sistemas protometabólicos teriam se
originado em locais de exalações vulcânicas redutoras, como certas fumarolas
subaquáticas cuja temperatura próxima as suas saídas estaria por volta 100 0C.
Este proto-organismo possuiria uma estrutura composta de uma subestrutura
inorgânica e uma superestrutura orgânica. Dentro da subestrutura inorgânica as
superfícies do ferro, cobalto, níquel e outros núcleos formados por metais de
transição (complexados com sulfido, carbonila e outros ligantes) seriam
cataliticamente ativas, promovendo o crescimento da superestrutura orgânica por
meio da fixação do carbono, impulsionado pelo potencial de redução das exalações
vulcânicas.
Este protometabolismo pioneiro seria mantido por um mecanismo de
retroalimentação autocatalítico, com alguns produtos orgânicos servindo como
ligantes que ativariam os centros catalisadores metálicos onde estes mesmos
compostos orgânicos haviam sido formados. Esta relação estrutura-função unitária
característica deste proto-organismo pioneiro, postulado Wächtershäuser, mais tarde
teria dado origem a duas características chave dos sistemas biológicos, como os
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conhecemos hoje: a celularização e a emergência da maquinaria genética em que


moléculas molde como RNA e DNA dirigiriam a replicação.
Estes protoorganismos de superfície (’metabolistas de superfície’,
como Wächtershäuser às vezes se refere a eles) seriam, portanto, anionicamente
ligados às superfícies carregadas positivamente (como seria caso da pirita, por
exemplo) na região de interface com a água quente. Porém, a aderência à superfície
mineral carregada positivamente não seria o resultado de adsorção, mas sim, uma
decorrência do crescimento autotrófico in situ dos componentes aniônicos
nascentes. Ao invés da adsorção, na realidade estes ’metabolistas de superfíce’
enfrentariam a 'dessorção’, isto é, estariam sujeitos a um processo de separação
seletiva dos seus constituintes que acabaria por selecionar moléculas com maior
força de ligação aniônica, como, por exemplo, moléculas maiores polianiônicas, que
seriam automaticamente selecionadas, a começar por coenzimas polianiônicas,
mas, eventualmente, também ácidos nucleicos e mesmo polipeptídeos.
Esses “metabolistas de superfície” primitivos cresceriam, espalhando-se
sobre as superfícies vagas; reproduzindo-se ao replicarem as coenzimas
autocatalíticas, evoluindo pela indução ambiental da ignição de novos ciclos
autocatalíticos. Os “metabolistas de superfície” evoluíram, portanto, em direção a
maior complexidade por que o equilíbrio termodinâmico em um sistema de
metabolismo de superfície favorece os processos de síntese e não os de
degradação, como ocorreria em uma solução aquosa em que os reagentes
estivessem livres.
De acordo com Wächtershäuser, grupos fosfoanidridicos de alta energia não
seriam necessários para a formação de ligações covalentes e os grupos fosfato, que
devem ter se originado do substrato mineral, teriam como única função neste
período original a fixação à superfície, uma vez que a energia para a fixação do
carbono seria fornecida pelo processo redox de conversão de íons ferrosos e sulfeto
de hidrogênio em pirita, que, por sua vez, não seria apenas um refugo do processo,
mas forneceria a mais importante superfície de ligação para os componentes
orgânicos.
Wächtershäuser em parceria com vários colaboradores, especialmente
Claudia Huber, têm conseguido mostrar que sistemas baseados nessas ideias em
condições que mimetizam ambientes vulcânicos subaquáticos, e outras formas de
emissões geotérmicas submarinas, conseguem produzir desde aminoácidos à
16

peptídeos, além de gerarem uma série de reações em cadeia em que produtos de


mais alta complexidade vão sendo formados retroalimentando a reação ao
funcionarem como reagentes no próprio sistema de reação.
Nesta perspectiva, a vida teria começado de maneira bastante direta por meio
de um mecanismo químico determinista e com o tempo ao produzir moléculas cada
vez mais complexas, teria dado origem a evolução bem mais indireta com a
compreendemos hoje, através de mecanismo estocásticos envolvendo variação
herdável causada por erros nos sistemas de replicação e reprodução diferencial.

Acima está destacado um sistema de fumarolas subaquáticas semelhantes às


da 'Cidade Perdida’, descobertos em 2000 no fundo do Oceano Atlântico, que
podem ter tido a combinação geoquímica e geofísica apropriada para o surgimento
das primeiras células. Perto das aberturas, as temperaturas estão em torno de 100˚
Celsius, a água é alcalina e compostos orgânicos são abundantes.
Não obstante, é preciso deixar claro que estas duas abordagens
(’replicadores primeiro’ e ’metabolismo primeiro’) não são necessariamente
mutuamente exclusivas. Por exemplo, alguns pesquisadores propõem que um
sistema de catalíse mútua através de uma rede pré-biótica de reações químicas
acopladas, com as discutidas acima, poderia iniciar uma progressão de fases
caracterizadas por cada vez maiores e mais eficientes catalisadores que dariam
sustentação a uma rede proto-metabólica, que por fim teria resultado no
aparecimento do RNA como macromolécula dominante, exatamente por causa da
sua capacidade tanto de catalisar reações químicas e como servir de base para a
replicação dirigida por molde.
Assim, muitas características dos sistemas vivos modernos, incluindo as vias
de biossíntese que levam a metabólitos simples, as estruturas de co-factores de íons
17

orgânicos e metais, a homoquiralidade e a replicação dirigida por moldes dos ácidos


nucleicos, teriam surgido antes do 'Mundo do RNA’ e talvez mesmo a partir de
sistemas protocelulares muito simples que haveriam e originado neste contexto
geoquímico e geofísico bem especifico, por exemplo, tendo os poros dos sistemas
hidrotermais servido como compartimentos ou 'proto-membranas’.

Mas ainda assim, como teria o DNA substituído o RNA?

Takeuchi, Hogeweg e Koonin, em um artigo recente avaliaram os cenários


evolutivos e as pressões seletivas que podem explicar a divisão de trabalho entre o
sistema de armazenamento/transferência, por cópia de uma polímero molde, da
função catalisadora que culminou em nosso mundo de DNA/RNA/proteínas a partir
de sistemas em que essas funções eram compartilhadas pelo RNA (talvez com
ajuda de proteínas).
Os pesquisadores investigaram estes cenários da evolução de moléculas
semelhantes ao DNA, isto é, moléculas que podem funcionar apenas como molde,
através de modelos computacionais mínimos dos sistemas de replicadores de RNA
que podem funcionar tanto como moldes para a replicação assim como ribozimas
polimerisadores (como as DNA e RNA polimerases proteicas modernas) dirigida por
moldes.
Os cientistas exploraram duas classes de modelos, os modelos de superfície,
em que os replicadores ficam aderidos às superfícies com difusão finita, e os
modelos de compartimentos, em que os replicadores ficam sequestrados por limites
similares a vesículas. Em ambos os casos, os modelos exibiram a evolução de
trabalho típico do DNA em que uma molécula especializa-se na função de molde e
outras na de catalisadores. Segundo Takeuchi, Hogeweg e Koonin, no primeiro tipo
de modelo, o DNA tem como vantagem conferir uma maior resistência contra
sequencias moldes parasitas que replicam-se sem contribuir para a manutenção e
replicação do sistema como um todo. No entanto, esta vantagem é em parte
compensada pela desvantagem de multiplicação mais lenta devido ao aumento da
complexidade do ciclo de replicação. Já, no modelo de compartimento, o DNA pode
atrasar significativamente a evolução intracompartimental do RNA por meio de
deterioração catalítica.
Os pesquisadores explicam estes resultados em termos de trade-offs entre os
papeis de molde e de catalisador que seriam problemas inerentes somente aos
18

ciclos de replicação do RNA. Por isso, versões de moléculas como o DNA liberariam
o RNA deste trade-off, fazendo com que seja desnecessário RNA como molde,
tornado assim o sistema mais resistente contra a evolução do parasitismo genômico.
Os três cientistas concluem, por fim, que a falta de atividade catalítica do DNA
por si só, pode conferir aos sistemas onde há divisão de trabalho uma vantagem
seletiva que seria suficiente para os sistemas replicadores de RNA evoluírem a
produção do DNA . Esta hipótese oferece uma nova possibilidade que pode ter
impulsionado a evolução do DNA, juntando-se ao modelo mais tradicional cuja
vantagem conferida pelo DNA estariam associados a sua estabilidade frente ao
RNA. Isso mostra que estes fenômenos estão longe de serem realmente tão
improváveis como muitos indivíduos que negam a origem natural de sistemas
biológicos tendem a pressupor sem, entretanto, demonstrar tal impossibilidade.
Este ramo da pesquisa científica ainda é profundamente desafiador e não
existe uma única grande teoria que de conta de todos os aspectos que os
pesquisadores imaginam estarem relacionados com a origem da vida, mesmo por
que é extremamente complicado obter evidências mais diretas do que houve a 4
bilhões de anos atrás. Mas, mesmo assim, temos avançado muito nas últimas
décadas em termos da compreensão do que pode ter acontecido. De fato, hoje,
existem vários cenários, hipóteses e modelos mais específicos que dão conta em
maior ou menor grau de vários dos passos e etapas que os cientistas acreditam
terem se sucedido desde a origem abiótica das primeiras moléculas orgânicas,
inclusive certos biopolímeros, até os primeiros sistemas autorreplicantes e
protocelulares que começaram realmente a evoluir nas primeiras células.
O que os pesquisadores fazem é dividir o problema da origem da vida em
vários subproblemas com vários grupos investigando várias partes do quebra-
cabeça de maneiras distintas e às vezes adotando uma divisão de etapas diferentes
uns dos outros. Reconhecer este ponto é importante por que frequentemente os
criacionistas argumentam como se os cientistas simplesmente pressupusessem que,
em um único evento um sistema celular similar a uma bactéria teria surgido por
combinação aleatória de seus componentes, na tal 'sopa primordial’, algo que
nenhum cientista que trabalha com esta área sugeriria em sã consciência.
Muitos dos modelos discutidos e testados pelos cientistas que trabalham
neste campo são competidores, mas muitos na realidade são complementares e
iluminam-se mutuamente, sendo apoiados por várias linhas de evidências distintas,
19

inclusive com muitos trabalhos experimentais desenvolvidos por vários grupos


multidisciplinares de investigadores em laboratórios de algumas das maiores e mais
sérias instituições de pesquisa do mundo todo.
As questões são realmente bem complicadas e existem vários debates e
discussões envolvendo a pesquisa sobre as origens da vida. Mas isso é algo
completamente compreensível já que ainda sabemos muito pouco sobre esta
questão, e como já aludido, muitas das evidências cruciais podem ter simplesmente
sido apagadas com o passar das eras ou os sistemas 'protobióticos’ originais mesmo
nem terem deixado vestígios devido a sua natureza mais lábil. Contudo, não é
possível negar que cada vez compreendemos mais e melhor estas questões de
maneira que estas abordagens (isto é, naturalisticas e científicas) são as únicas que
tem dado frutos intelectuais verdadeiros e portanto, não devem jamais serem
subestimadas.

Estrutura geral das células procariotas e vírus

A principal característica comum a todas as células procarióticas é não terem


núcleo: o seu cromossoma não está encerrado num espaço delimitado, como
acontece em muitas outras células.
Todas estas células possuem uma membrana plasmática. É ela que delimita
o espaço vital e lhe confere individualidade. Habitualmente, a membrana é revestida
externamente por uma parede celular de composição química complexa. Deste
modo, a célula encontra-se encerrada num estojo que lhe confere a forma e a
protege contra o rebentamento induzido por uma elevada pressão osmótica. Entre a
membrana e a parede subsiste por vezes um espaço periplasmático, onde residem
enzimas hidrolíticos (exoenzimas), destinados a intervir em processos de digestão
extracelular. Algumas bactérias possuem ainda uma cápsula polissacarídica, externa
à parede.
Parede celular: A composição e a estrutura da parede celular determina o
comportamento da célula procariótica face a um dos métodos de coloração utilizado
em bacteriologia: a coloração de Gram. Distinguem-se deste modo dois grupos
principais de paredes celulares: a parede das bactérias gram-positivas, a parede das
bactérias gram-negativas.
As bactérias gram-positivas (que se deixam corar pela coloração de Gram)
possuem uma parede espessa e homogénea, ligada e encostada diretamente à face
20

externa da membrana plasmática. Nestes casos, não existe espaço periplasmático.


A parede é composta por um complexo mucoso formado essencialmente por um
polímero de malha tridimensional, cujo monómero é o peptidoglicano. Consoante a
espessura da parede, assim esta será diferentemente permeável a moléculas.
Pelo contrário, a parede das bactérias gram-negativas é formada por dois
folhetos: o folheto interno, constituído por uma delgada camada de mucocomplexo
não encostado à membrana plasmática; o folheto externo, também designado por
membrana externa, dada a sua estrutura ser semelhante à de uma membrana
unitária. A coesão entre os dois folhetos estabelece-se através de lipoproteínas
integradas no folheto externo e ligadas por ligações covalentes a peptidoglicanos.
No folheto externo existem ainda canais proteicos através dos quais passa a água e
diversos metabolitos.
Alguns antibióticos, como a penicila e a cefalosporina, interferem com a
síntese da camada de peptidoglicano. Incapazes de produzir a parede celular, as
células tornam-se assim vulneráveis à pressão osmótica.
A lisozima é um enzima que se encontra nas secreções nasais e na clara dos
ovos e que corta especificamente as ligações entre o ácido acetilmurâmico e a
acetilglucosamina do peptidoglicano. Desintegrando-se a parede, a bactéria não
poderá resistir á pressão osmótica.
A diferença de comportamento das duas paredes relativamente à coloração
de Gram reside essencialmente na técnica de coloração utilizada e não na afinidade
das duas paredes para o corante. Com efeito, ambas as paredes são coradas pelo
corante de Gram (violeta de genciana e lugol). Contudo, no final, as células são
lavadas com um solvente não polar (acetona ou álcool), que dissolve e elimina a
membrana externa, quando existe. Se bem que a parede mucossacarídica
subsistente seja suficientemente rígida para garantir a integridade da célula, pela
sua espessura delgada, ela não retém suficientemente o corante. Pelo contrário, as
bactérias Gram positivas retêm o corante nas suas espessas paredes.
Cápsula: Muitas bactérias fabricam e exportam moléculas de polímeros que
aderem externamente à parede celular e formam uma cápsula. Por vezes a
espessura da cápsula ultrapassa a própria espessura da célula procariótica. Esses
polímeros são geralmente polissacáridos que ajudam as bactérias a aderirem a
superfícies, como certas bactérias que contribuem para as cáries dentárias, ou a
21

evitar serem fagocitadas pelos glóbulos brancos, como algumas que causam
doenças infecciosas, como certos pneumococos.
Nucleoide: Todas as bactérias possuem uma zona geralmente central, o
nucleoide, onde se localiza um único cromossoma, constituído por uma molécula
circular e bicatenária de DNA, relativamente longa, mas enovelada. Em Escherichia
coli, por exemplo, a célula mede 2 por 6 mm e o anel de DNA, se estivesse todo
desenovelado, teria um perímetro de 1.400 m m ! A análise química do nucleoide
revela a presença, para além de DNA, de RNA e de proteínas.
Algumas bactérias possuem ainda pequenas moléculas circulares de DNA, os
plasmídeos, com autonomia de replicação independente do cromossoma.
O citoplasma das células procarióticas apresenta raramente estruturas
membranares internas. Aquelas que existem resultam de extensões da membrana
plasmática, adaptadas às funções específicas de fotossíntese ou respiração. São:
 Os tilacoides lamelares das cianobactérias, onde se localizam alguns
dos pigmentos fotossintéticos utilizados por estas bactérias;
 As lamelas fotossintéticas das bactéria púrpura (ou roxas), onde se
situam as bacterioclorofilas a e b;
 As lamelas respiratórias, nas bactérias nitrificantes, onde se localizam
possivelmente os complexos enzimáticos da fosforilação oxidativa.
Não é nosso objetivo detalhar os diversos tipos de células procarióticas.
Recorreremos a uma síntese, traduzida no esquema de uma hipotética bactéria que
reunisse em si todos os atributos de todas as bactérias, veja abaixo.

Esquema de uma bactéria hipotética


22

Organitos das células procarióticas:

Os ribossomos são os organitos onde se realiza a síntese proteica e


encontram--se em todas as bactérias. O diâmetro é de cerca de 15nm. São
formados por RNA e proteínas e constituídos por duas subunidades caracterizadas
por diferentes velocidades de sedimentação.
Os clorossomas são pequenas vesículas elípticas, presentes nas bactérias
verdes. São organitos onde se localizam pigmentos fotossintéticos e, se bem que
estejam ligados à membrana plasmática, não estabelecem nenhuma continuidade
com ela.
Os ficobilissomas ou cianossomas são corpúsculos das cianobactérias,
onde se localizam pigmentos fotossintéticos do grupo das ficobilinas.
Os vacúolos de gás são organitos de flutuação, presentes em muitas
bactérias fotossintéticas. São formados pela aglutinação de inúmeras vesículas
gasosas tubulares, de paredes proteicas.

Inclusões das bactérias:

Grãos de glicogénio, que constituem reservas de carbono.


Grãos de cianoficina, próprios das cianobactérias, que constituem reservas
de azoto sob a forma de aminoácidos, arginina e asparagina.
Carboxissomas, presentes em muitas cianobactérias e bactérias nitrificantes
e que são reservatórios da enzima ribulose-1,5-difosfato carboxilase, específica do
mecanismo bioquímico de fixação do CO2.
Magnetossomas, presentes em bactérias aquáticas, e que proporcionam
orientação no campo magnético terrestre. São partículas de magnetite (Fe3O4), de
40 a 100 nm, limitadas por uma membrana.
Algumas bactérias possuem um ou mais flagelos, constituídos por um único
microtúbulo proteico e oco, com cerca de 20 nm de diâmetro, suportado por um
corpo basal, complexo. As espiroquetas (bactérias vermiformes) possuem um
conjunto vasto de flagelos enrolados externamente e helicoidalmente em volta da
célula, denominados flagelos periplasmáticos.

Diferenças entre células procarionte e eucarionte:

As diferenças entre estes seres são a nível celular, como podemos observar
através da tabela que se segue:
23

Características Célula procarionte Célula eucarionte

10 a 100 μm de diâmetro e em média


Tamanho 0,5 a 5 μm de diâmetro 1000 a 10000 vezes o volume da célula
procariótica

Apenas nas plantas e fungos,


Rígida, constituída por
Parede celular constituída por celulose e quitina, com
polissacarídeos com aminoácidos
consistência rígida

Em contato com o citoplasma e


Material genético Possui núcleo e um ou mais nucléolos
sem qualquer invólucro nuclear

Cromossomo
Presente Ausente
circular

Vários tipos de organelas


Sem organelas membranares,
Organelas membranares (mitocôndrias, retículo,
com muitos ribossomos
complexo de Golgi)

Estruturas Hialoplasma e membrana


Hialoplasma e mitocôndrias
respiratórias plasmática

Sem cloroplastos,mas ocorre por Dá-se nos cloroplastos (apenas nas


Fotossíntese
vezes em lamelas fotossintéticas células vegetais)

Organelas locomotoras simples,


Organelas locomotoras, complexos
Flagelos apenas ligados à superfície da
envoltos na membrana plasmática
célula

Vírus: Diferentemente de todos os seres vivos, os vírus são acelulares, ou


seja, não são constituídos por células. Eles são extremamente pequenos (medem
menos de 200 nm de diâmetro) e de estrutura muito simples, pois possuem apenas
24

uma cápsula, constituída de proteínas (capsídeo), no interior da qual se encontram


uma ou mais moléculas de ácido nucléico.
Em alguns casos, além das moléculas de proteínas, o capsídeo pode conter
um revestimento de lipídios ou de glicoproteínas. Quanto ao ácido nucléico, alguns
vírus apresentam DNA, como é o caso dos adenovírus, causadores do resfriado, e
dos bacteriófagos, vírus que atacam bactérias. Já nos vírus da gripe e no HIV,
causador da AIDS, é encontrado RNA.

Os vírus são sempre parasitas intracelulares, por serem incapazes de fabricar


ou de degradar substâncias. Ao invadirem as células de diversos seres vivos,
causam alterações em seu funcionamento, podendo inclusive levar à morte celular.
Além das que já foram citadas, muitas outras doenças humanas são causadas por
vírus, entre elas, a febre amarela, a dengue, a poliomielite, etc.
Os vírus foram descobertos em 1892 por Dimitri Iwanowsky, biólogo russo
que trabalhava com uma doença da planta de fumo. Ele percebeu que o agente
causador dessa doença devia ser um organismo tão pequeno que não podia ser
visto ao microscópio óptico - e atravessava filtros finíssimos.
Outros pesquisadores estudaram agentes causadores de doenças, com as
mesmas características daqueles estudados por Iwanowsky, mas foi só a partir de
1932, com o desenvolvimento do microscópio eletrônico, que esses agentes
puderam ser visualizados.
Até hoje persiste uma discussão entre os cientistas, a respeito do fato de os
vírus serem seres vivos ou não. Muitos cientistas os consideram apenas como
partículas infecciosas, pelo fato de serem acelulares e por não manifestarem
nenhuma atividade vital quando se encontram fora de células. Outros defendem que
25

eles são seres vivos extremamente econômicos, já que reduziram ao máximo as


funções vitais, mantendo apenas a característica mais típica da vida, que é a
capacidade de reprodução.
Reprodução: Para se reproduzirem, os vírus precisam infectar células,
introduzindo o seu material genético no interior delas. Esse processo tem início
quando o vírus adere à parede celular ou à membrana, ligando-se a certas
moléculas receptoras, existentes na superfície das células.
Alguns vírus atacam as células, invadindo-as com o capsídeo, e outros
injetam nelas apenas o seu material genético. Mas o fato é que, uma vez no seu
interior, o vírus passa a controlar o metabolismo da célula infectada, inativando a
maior parte dos genes e utilizando-se das substâncias existentes no interior da
célula, a fim de multiplicar seu próprio material genético e fabricar capsídeos para os
novos vírus gerados:

Esquema representativo da especificidade dos vírus: moléculas presentes no capsídeo são capazes
de se ligar a receptores na membrana da célula hospedeira.

No caso de vírus como os bacteriófagos, cujo material genético é o DNA, a


reprodução pode ocorrer de duas formas. Em uma delas, o DNA começa a se
multiplicar imediatamente após ser injetado na célula hospedeira e, ao mesmo
tempo, tem início a síntese das proteínas que formarão os capsídeos dos novos
vírus formados. Assim que a bactéria estiver repleta de vírus, rompe-se sua parede
celular e os vírus são liberados, podendo infectar muitas outras bactérias e reiniciar
o ciclo.
Muitas vezes, no entanto, ao invés de se multiplicar assim que invade a
célula, o DNA do bacteriófago incorpora-se ao DNA da bactéria, sendo chamado
26

deprovírus. Nesse caso, os genes bacterianos não são inativados e o provírus


duplica-se juntamente com o DNA bacteriano. E, dessa forma, é herdado pelas
células-filhas da bactéria infectada.
Também nos vírus que possuem RNA como material genético pode haver
diferenças no ciclo viral. Nos vírus causadores da gripe, por exemplo, assim que
invadem a célula, tem início a multiplicação de seu RNA e a síntese das proteínas
que farão parte dos capsídeos. Ao deixar a célula infectada, os vírus da gripe não
causam necessariamente a sua morte, mas carregam consigo fragmentos da
membrana celular que formarão um envoltório lipoprotéico do capsídeo.
Já nos chamados retrovírus, além das moléculas de RNA, o capsídeo
envolve algumas moléculas de uma enzima chamada transcriptase reversa, que,
uma vez no interior da célula, atuará na fabricação de DNA a partir do RNA viral.
Portanto, o contrário do que ocorre durante o processo de transcrição que ocorre
nas células.
Um exemplo bastante conhecido de retrovírus é o HIV, causador da AIDS,
que ataca os linfócitos T auxiliadores, células de nosso sistema imunológico. O DNA,
produzido a partir do RNA viral, penetra no núcleo do linfócito e integra-se a um dos
cromossomos (provírus); e, dessa forma, comanda a fabricação de novas moléculas
de RNA viral e da enzima transcriptase reversa - e, portanto, a fabricação das
proteínas dos capsídeos e a origem de novos vírus. Os novos vírus formados são
expelidos das células e podem infectar outras.
Embora, em geral, os vírus sejam lembrados por serem causadores de
doenças, é bom saber que eles têm sido usados em muitas das pesquisas em
Biologia Molecular e Engenharia Genética. É o caso, por exemplo, de certos
bacteriófagos, usados para introduzir em bactérias determinados genes para a
produção, pelas bactérias recombinantes, de substâncias de interesse médico ou
econômico.

Membrana plasmática

Todas as células procariotas e eucariotas apresentam na superfície um


envoltório, a membrana plasmática, também chamada de membrana
citoplasmática ou plasmalema. Além de conter o citoplasma, essa membrana regula
a entrada e saída de substâncias, permitindo que a célula mantenha uma
composição química definida, diferente do meio extracelular.
27

A espessura da membrana plasmática é da ordem de 75Å e, por isso, só


pode ser observada com o auxílio da microscopia eletrônica, onde aparece como
duas linhas escuras separadas por uma linha central clara. Tal estrutura trilaminar
também é comum às outras membranas encontradas na célula, sendo assim
denominada unidade de membrana.
As membranas biológicas, inclusive as que delimitam organelas
membranosas, possuem estruturas constituídas, basicamente, por lipídeos,
proteínas e hidratos de carbono ligados a essas estruturas. A quantidade de cada
um desses componentes varia bastante em função da função ou do tipo de célula ou
estrutura que a membrana está envolvendo. As membranas são compostas de uma
porção fluida e uma porção sólida, respectivamente lipídeos e proteínas. A estrutura
se trata de duas camadas contínuas de lipídeos e, imersas ou associadas à
bicamada, proteínas que conformarão a aparência de um mosaico, o que, muito
provavelmente, deu origem ao nome do modelo: mosaico fluido.
Os principais lipídeos das membranas se tratam de moléculas relativamente
complexas e longas denominadas fosfolipídeos. Eles nada mais são do que um tipo
de lipídeo – os esfingolipídeos ou os fosfoglicerídeos – associado à molécula
de fosfato. Esses fosfolipídeos possuem uma dupla afinidade com a água
denominada anfipatia, ou seja, uma região da molécula é hidrofílica (com muita
afinidade com água) polar e outra é hidrofóbica (“foge” da água, sem intermediária
formada pelas cadeias apolares de ambas as camadas, afinidade) apolar. Para
facilitar a assimilação, pense num alfinete com não uma haste, mas duas. A cabeça
do alfinete seria a região polar e as duas cadeias de ácidos graxos – as duas hastes
– a região apolar. Nesse sentido, teríamos duas camadas dessas estruturas em que
as cabeças ficariam nos limites externo e interno e uma região.
28

Uma vez que os meios intra e extracelular são compostos, essencialmente,


por água, essa característica anfipática da membrana impede o trânsito de grande
maior parte das substâncias importantes pra a manutenção da vida. Isso é resolvido
pelo outro componente principal das membranas: as proteínas. Assim, a água e as
substâncias dissolvidas nela que não conseguem passagem por meio dos lipídeos,
são colocadas para dentro e para fora das células através das proteínas.
Como falado anteriormente, a proporção dos componentes da membrana é
bem variável. No caso das proteínas, elas podem representar até metade da
composição total desse envoltório. Outro detalhe importante é que cada tipo de
membrana possui proteínas específicas de acordo com suas funções. Isso ocorre
porque as proteínas funcionam como portas de entrada e saída de moléculas
específicas, ou seja, determinadas moléculas usam um tipo de proteína para entrar
na célula enquanto outros grupos não conseguem fazê-lo por essa mesma “porta”.
Essa relação pode ser ilustrada pela seguinte analogia: uma pessoa não consegue
entrar em uma casa pela “portinhola” de cachorros ou gatos.
Essas proteínas que compõem a membrana são divididas em dois grupos:
extrínsecas e intrínsecas. As proteínas extrínsecas são as que se associam aos
lipídios de maneira superficial, ou seja, estão aderidas à membrana na superfície
interna ou externa da membrana. Já as proteínas intrínsecas se ligam aos lipídeos e
também têm características anfipáticas, dificultando isolá-las. Nesse grupo, estão
presentes as proteínas transmembrana, que são àquelas que se transpõem do meio
externo ao meio interno da célula.
Por fim, os hidratos de carbono associados às proteínas ou aos lipídeos se
tratam, basicamente, de açúcares que se associam às essas estruturas. Assim,
esses conjuntos são conhecidos como glicolipídeos e glicoproteínas.
A membrana plasmática tem a função de regular as trocas de substâncias
entre a célula e o meio, o que é feito por meio de uma propriedade chamada
permeabilidade seletiva. Além disso, a membrana plasmática intervém nos
mecanismos de reconhecimento celular por meio de receptores específicos –
moléculas que reconhecem agentes do meio, como, por exemplo, os hormônios.
A membrana plasmática é dotada de diversas especializações, as quais
variam de acordo com as diferenciações celulares. Assim, temos as
microvilosidades, as invaginações de base, os desmossomos, as interdigitações, as
cutículas e os cimentos intercelulares.
29

As microvilosidades são delgadas saliências da membrana plasmática, se


expandem pela Superfície livre da Célula. Ocorrem nas células do epitélio intestinal
e servem para aumentar a superfície de absorção.
As membranas das células dos canais renais possuem, na base, profundas
invaginações relacionadas com o transporte da água reabsorvida por esses órgãos.
Os desmossomos são espécies de “botões adesivos”, que aparecem nas
membranas adjacentes de células vizinhas. Ocorrem nos epitélios e servem para
aumentar a adesão entre as células.
As interdigitações correspondem a dobras da membrana que se encaixam
para aumentar a adesão; também ocorrem em células epiteliais.
As cutículas são camadas delgadas (películas) que em muitos casos
recobrem externamente a membrana plasmática. A composição química dessas
películas geralmente é glicoproteica. A cutícula também recebe o nome de glicocálix.
As cutículas não são indispensáveis à integridade da célula, mas estão relacionadas
com a associação celular na constituição dos tecidos.
Nos organismos pluricelulares, nos quais as células se organizam em tecidos,
elas se acham ligadas entre si por meio de substâncias cimentificantes. Nos
vegetais em geral essas substâncias são pectatos de cálcio; nos tecidos animais são
os ácidos hialurônico e condroitinossulfúrico.
Para a manutenção de suas funções vitais, uma célula necessita de
substâncias existentes no meio externo, como é o caso dos nutrientes. Por outro
lado, a célula deve eliminar outras substâncias, como as toxinas para o meio
extracelular. Para permitir a entrada e saída de substâncias, a membrana plasmática
apresenta um comportamento seletivo, realizado através de uma propriedade
exclusiva, chamada de permeabilidade seletiva. Assim, através dessa propriedade, o
meio intracelular é capaz de manter uma composição química específica, constante
e diferente daquela existente no meio extracelular.
Tipos de transporte: O fluxo, ou seja, o transporte de substâncias através da
membrana plasmática pode ser ativo ou passivo.
Transporte passivo: Caracteriza-se por acontecer a favor do gradiente de
concentração, sem gasto de energia. O fato de ser a favor do gradiente e sem gasto
de energia significa que as substâncias nela envolvidas deslocam-se do meio mais
concentrado para o meio menos concentrado, sem utilizar a energia fornecida pela
hidrólise do ATP (ATP ? ADP + P + Energia).
30

Transporte ativo: Neste processo, as substâncias são transportadas contra o


gradiente de concentração, ou seja, da região menos concentrada para a região
mais concentrada, consumindo a energia fornecida pelo ATP.

Difusão simples: Trata-se de um transporte passivo no qual pequenas


moléculas atravessam a membrana plasmática. Saliente-se que a existência da
bicamada lipídica, de natureza hidrofóbica, cria uma barreira à passagem de
substâncias hidrofílicas. A difusão simples depende, principalmente, de dois fatores:
 Tamanho das moléculas Em geral, quanto menor for a molécula, mais
rápida será a sua penetração através da membrana.
 Grau de solubilidade em lipídeos As substâncias lipossolúveis penetram
mais rapidamente, como é o caso de álcoois, cetonas e anestésicos.
Osmose, um transporte passivo: Em condições normais, a água entra e sai
continuamente da célula, difundindo-se, através da membrana, por meio de um
processo designado osmose. A membrana plasmática é semipermeável, ou seja, é
permeável ao solvente (água), mas é impermeável aos solutos (sais, açúcares etc.).
Osmose é a difusão de água através de uma membrana semipermeável. Quando
duas soluções com concentrações diferentes estão separadas por uma membrana
semipermeável, a água passa da solução mais diluída (hipotônica) para a mais
concentrada (hipertônica), tendendo a uma isotonia entre as duas soluções.

Junções celulares e matriz extracelular

As células de organismos multicelulares estão organizadas em grupos


chamados tecidos. Nos tecidos existe também uma rede complexa de
macromoléculas chamadas de matriz extracelular. Para esta organização é
necessário a existência de junções célula-célula e célula-matriz.
31

Neste sentido, os tecidos epiteliais e conjuntivo representam dois extremos.


Como no tecido conjuntivo há abundância de matriz extracelular um número
reduzido de células, predomina-se as junções célula matriz. Já no tecido epitelial as
células estão firmemente unidas em camadas e a matriz extracelular é escassa,
consistindo apenas da fina camada que constitui a lâmina basal. Assim, no tecido
epitelial há predomínio das junções célula-célula. As junções celulares estão
presentes em todos os tipos de tecidos.
Há três tipos de junções:

 Junções bloqueadoras: selam as células adjacentes em uma camada


epitelial, impedindo a passagem de substâncias entre o epitélio. Ex.: Junções
oclusivas.
 Junções ancoradouras: conectam mecanicamente as células adjacentes
e a matriz extracelular por meio do citoesqueleto. Ex.: Junções de adesão,
desmossomos e hemidesmossomos.
 Junções comunicantes: permitem a passagem de sinais elétricos ou
químicos entre as células adjacentes. Ex.: Junções tipo gap ou fenda.

Junções oclusivas: adere firmemente às membranas plasmáticas das


células epiteliais logo abaixo da superfície livre do epitélio. A junção oclusiva é
formada pelas proteínas integrais ocludinas e claudinas, e bloqueia o espaço
intercelular impedindo a passagem de substâncias através do epitélio.

Junções aderentes: está localizada abaixo da junção oclusiva e é constituída


por proteínas da família das caderinas. As caderinas se conectam aos filamentos de
actina mediante proteínas ligadoras como as placoglobinas, catenina, alfa-actina e
vinculina. As junções de adesão mantem as células ligadas entre si e estão
localizadas em uma região rica em microfilamentos de actina que forma o cinturão
de adesão.
32

Junções comunicantes: as junções comunicantes ou tipo Gap são canais


formados por proteínas transmembrana. Cada canal é composto pela associação
entre seis proteínas conexinas, o que forma uma estrutura cilíndrica e oca que
atravessa a membrana plasmática permitindo a passagem de substâncias entre as
células.

Desmossomos: são encontrados por baixo da zona de adesão. Neste ponto


dos desmossomos as membranas plasmáticas se encontram separadas por uma
distância de 30 a 50 nm. Os demossomos são formados por proteínas da família
caderinas denominadas desmogleína e desmocolina. Estão envolvidos também os
filamentos intermediários. Os demossomos conferem resistência mecânica aos
tecidos.

Hemidesmossomos: ligam as células epiteliais à lâmina basal. É constituído


pela associação de integrinas e filamentos intermediários de queratina a uma rede
de colágeno da lâmina basal. Esta conexão acontece por meio da proteína laminina.
33

Matriz extracelular:

A matriz extracelular é uma rede estrutural complexa não celular, que rodeia e
suporta as células do tecido conjuntivo. São as próprias células do tecido conjuntivo
que segregam as diferentes moléculas que constituem a matriz extracelular.
Para além disso, a matriz extracelular possui características mecânicas e
bioquímicas específicas características do tecido no qual está presente.
Assim sendo, a razão entre a porção celular do tecido conjuntivo e a matriz
extracelular varia consoante o tipo de tecido conjuntivo e define a sua principal
função e é uma combinação de colágenas, glicoproteínas não-colagênicas e
proteoglicanos.
Além de auxiliar na ligação das células para a formação dos tecidos, a matriz
extracelular tem um papel importante no controle do crescimento e na diferenciação
celular. Os proteoglicanos, glicosaminoglicanos, proteases e glicosidases
desencadeiam eventos de sinalização celular, importantes nas interações célula-
célula e célula-matriz, participando deste modo da integridade dos tecidos.
Os proteoglicanos presentes na matriz extracelular realizam várias e
importantes funções, nomeadamente a regulação da atividade de moléculas
sinalizadoras, o controle do tráfego de células e moléculas, atuam como
correceptores e interagem com proteínas fibrosas da matriz.
A matriz extracelular apresenta várias funções, entre elas:
1. Fornecer suporte mecânico e estrutural e conferir resistência à tração do
tecido;
2. Funcionar como uma barreira química;
3. Regular as funções metabólicas das células que se encontram rodeadas
pela própria matriz;
34

4. Possuir capacidade de ligar e reter fatores de crescimento, que por sua vez
modulam o crescimento celular;
5. Fornecer vias para a reparação celular (por exemplo, na reparação de uma
ferida);
6. Transmitir informação através da membrana plasmática das células do
tecido conjuntivo.
Relativamente à composição da matriz extracelular podemos distinguir a
substância fundamental e o componente fibrilar.

Substância fundamental:

A substância fundamental é a parte da matriz extracelular que ocupa o


espaço entre as células e as fibras do tecido conjuntivo. É uma substância viscosa,
incolor, com alto teor em água. Não é visível ao microscópio ótico quando corada
com hematoxilina e eosina (H&E).
Devido à sua viscosidade, atua como lubrificante e como barreira contra a
penetração de microrganismos invasores.
A substância fundamental é constituída essencialmente por três grupos de
moléculas:
Proteoglicanos – São compostos por um eixo proteico associado a
glicosaminoglicanos. Encontram-se presentes em grânulos citoplasmáticos, na
membrana celular ou na matriz extracelular.
Glicoproteínas multiadesivas – São compostas por proteínas ligadas a
cadeias de glícidos.
Glicosaminoglicanos – São polímeros lineares compostos por unidades
repetidas de dissacarídeos.

Componente fibrilar:

O componente fibrilar é a parte da matriz extracelular que compreende as


fibras de colágeno, as fibras reticulares e as fibras elásticas. Cada tipo de fibra é
composta por longas cadeias polipeptídicas produzidas pelos fibroblastos.
As diferentes fibras estão presentes em quantidades variáveis dependendo
das necessidades funcionais e estruturais do tecido / órgão em questão. As fibras de
colágeno e as fibras reticulares são formadas pela proteína colágeno e as fibras
elásticas são formadas principalmente pela proteína elastina.
35

Fibras de colágeno:

As fibras de colágeno são o tipo mais abundante de fibras no tecido


conjuntivo. Possuem flexibilidade e alta resistência à tração. As fibras ou feixes de
colágeno, a fresco têm cor branca e em lâminas coradas com H&E coram de rosa
com o corante eosina.
As fibras de colágeno são compostas por subunidades menores, as fibrilas de
colágeno. As fibrilas são estruturas finas e alongadas com diâmetro variável (20 a
90nm), que quando associadas e interligadas por uma substância glicídica,
constituem as fibras de colágeno.
Por sua vez, as fibrilas são compostas por várias moléculas de colágeno (que
no espaço extracelular se transforma em tropocolagénio) dispostas paralelamente,
com 300nm de comprimento e 1,5 nm de diâmetro. Cada molécula de colágeno é
uma hélice tripla composta por três moléculas polipeptídicas interligadas
denominadas cadeias α ligadas por pontes de hidrogénio.
Até à data já foram descritas pelo menos 47 tipos de cadeias α codificadas
por diferentes genes, tendo sido categorizados em numeração Romana 28 tipos de
colágeno com base na combinação das cadeias α. Por exemplo, as fibras de
colágeno de tipo I são as fibras mais numerosas do tecido conjuntivo.
Os diferentes tipos de colágeno, produzidos por diferentes tipos de células,
distinguem-se entre si pela composição química, propriedades físicas, morfologia,
distribuição nos tecidos e funções. Os principais são os tipos classificados de I a V:
Colágeno do tipo I – 90% do colágeno total do organismo dos mamíferos,
formando feixes e fibras muito resistentes. São encontrados nos tendões,
ligamentos, cápsula dos órgãos, derme, tecido conjuntivo frouxo, ossos, dentina, etc.
É sintetizado pelos fibroblastos, odontoblastos e osteoblastos.
Colágeno do tipo II – encontrado na cartilagem hialina e elástica. Forma
fibrilas muito finas e é produzido pelas células cartilaginosas.
Colágeno do tipo III – associado ao tipo I, é o que forma as fibras reticulares.
É sintetizado pelos fibroblastos e células reticulares.
Colágeno do tipo IV – não é um constituinte do tecido conjuntivo. Está
presente na lâmina basal do tecido epitelial e é sintetizado por células epiteliais.
Colágeno do tipo V – componente das membranas do feto, membranas
basais da placenta e pouca quantidade no adulto. Este tipo é pouco conhecido.
36

Fibras reticulares:

As fibras reticulares fornecem uma rede de suporte para os constituintes


celulares dos vários órgãos e tecidos. São particularmente abundantes no músculo
liso, em órgãos hematopoiéticos como o baço, gânglio linfático, rim e medula óssea
vermelha.
Constituem uma delicada rede ao redor de células de órgãos
parenquimatosos como as glândulas endócrinas e criam uma rede flexível em
órgãos que são sujeitos a mudanças fisiológicas de forma ou volume, como artérias,
baço, fígado, útero e camadas musculares do intestino.
As fibras reticulares são formadas predominantemente por colágeno de tipo III
associado a um elevado teor de glicoproteínas e proteoglicanos. Tal como nas
fibrilas de colágeno, também as fibrilas reticulares são estriadas transversalmente e
com um diâmetro de cerca de 20 nm.
A disposição em rede / malha das fibras reticulares não é visível em lâminas
de histologia coradas com H&E, mas pode ser facilmente corada de preto por
impregnação com sais de prata para os quais apresentam grande afinidade
(argirófilas).

Fibras elásticas:

As fibras elásticas permitem responder ao estiramento e à retração dos


tecidos. São tipicamente mais finas do que as fibras de colágeno e a sua disposição
é em rede tridimensional ramificada. Coram com eosina, no entanto, são utilizados
corantes especiais, como a orceína, para uma melhor distinção destas fibras.
Contrariamente às fibras reticulares, as fibras elásticas são compostas por
dois componentes estruturais: um núcleo central de elastina e um anel de
microfibrilas cujo componente principal é a fibrilina. As microfibrilas são formadas
primeiro e posteriormente a elastina é depositada na sua superfície. A elastina é a
proteína que confere as propriedades de estiramento e de retração das fibras
elásticas.
As fibras elásticas são encontradas essencialmente nas artérias elásticas, nos
ligamentos vertebrais e na laringe. Caracterizam-se por serem separadas umas das
outras, não constituindo feixes, como é o caso das fibras de colágeno.
37

Citoesqueleto
O citoesqueleto é o conjunto de filamentos e finíssimos túbulos de proteínas
presentes no citosol das células, responsáveis pela sustentação e forma, permitindo
o seu movimento e transporte de substâncias.

As fibras proteicas de sua composição se associam e formam uma rede


citoplasmática bastante complexa. Elas costumam se associar a proteínas motoras,
as cinesinas e dineínas, que são importantes para a construção e mobilidade das
estruturas.

Fibras proteicas e suas funções:

Microfilamentos: são bastante finos e também muito flexíveis, tem em torno 5


nanômetros de diâmetro. Cruzam as células em várias direções, mas são
comumente encontrados abaixo da membrana plasmática. Estão associados aos
movimentos celulares por ser constituído por actina, uma proteína que pode ser
contraída.
Microtúbulos: estes são mais grossos, tendo até 25 nanômetros em seu diâmetro
e estão dispostos em formato helicoidal, formando cilindros que por sua vez são
38

bem rígidos. A proteína que os constituem é chamada tubulina, que pode ser de três
tipos, alfa e beta, que são orientadas pelas gama-tubulinas para formar um
microtúbulo.
Existem duas regiões no microtúbulo onde acontece a polimerização dele, em
uma, mais rapidamente; em outra, mais lentamente. O microtúbulo deve se
polimerizar e despolimerizar para que ocorra a divisão celular.
Os microtúbulos são responsáveis por algumas funções tais como:
- Movimentação dos cromossomos durante um processo de divisão celular;
- Servir como uma espécie de esteira rolante que permitirá o deslocamento
de substâncias, vesículas e organoides com o auxílio de proteínas motoras. Assim
as motoras irão se ligar aos microtúbulos de um lado e pelo outro irão se associar as
partículas que serão movimentadas.

Filamentos intermediários: possuem diâmetro em torno de 10 nanômetros, e por


ter tamanho contido entre o dos outros filamentos, é definido como intermediário.
Possui em sua composição a queratina, que é responsável por manter as células do
tecido juntas sem se romper ao passarem por um processo de estiramento. Ou seja,
estão no interior das células amarrando-as e promovendo estabilidade no tecido,
sem permitir que agentes externos venha a causar rompimentos nelas.

Entre as funções do citoesqueleto, destacam-se:

- A participação na organização dos centríolos, cílios e flagelos;


- Orientação e deslocamento dos cromossomos, formando as fibras do fuso e do
áster durante o processo de divisão celular (mitose e meiose);
- Ponto de apoio para a manutenção da disposição dos orgânulos citoplasmáticos;
- Projeção e retração citoplasmática que levam as células a mudar de forma (a
emissão de pseudópodes);
- E execução de contrações musculares pelo deslizamento dos filamentos de
miosina sobre os de actina.

Sistema de endomembranas

O sistema de endomembranas se distribui por todo o citoplasma e é formado


por vários compartimentos. Entre as organelas constituintes do Sistema de
39

Endomembranas destacam-se o retículo endoplasmático, o complexo de golgi, o


lisossomo e o endossomo. A comunicação entre estas organelas acontece
principalmente por meio de vesículas transportadoras, que brotam de um
compartimento doador e se fundem a um compartimento receptor.

Retículo Endoplasmático liso e rugoso:

O retículo endoplasmático é formado por um sistema de membranas que


formam tubos ou cisternas. O retículo endoplasmático rugoso (RER) ou granular e
formado predominantemente por cisternas e apresenta ribossomos associados a
membranas. O RER está envolvido com a síntese de proteínas. O retículo
endoplasmático liso (REL) é formado por estruturas tubulares e não possuem
ribossomos aderidos a membrana. No REL acontece a síntese de lipídios e
hormônios esteroides.
Uma das características estruturais do RE é a continuidade com o envoltório
nuclear. A luz do RE tem continuidade com o espaço perinuclear. As funções do RE
são:
 Síntese proteica
 Síntese de lipídios
 Síntese de hormônios esteroides
 Modificação de lipídios e proteínas
 Destoxificação
 Armazenamento de cálcio.
 Glicogenólise

Complexo de Golgi:

O complexo de golgi é uma organela membranosa que se posiciona entre o


retículo endoplasmático e a membrana celular. Ele é formado por compartimentos
ordenados que constituem unidades chamadas de dictiossomo. Cada dictiossomo
possui uma rede Cis, uma cisterna Cis, uma cisterna média, uma cisterna trans e
uma rede trans. A rede Cis do golgi é uma região voltada para o RE e de fusão das
vesículas transportadoras provenientes do RE. A rede trans é voltada para
membrana celular e é uma região de saída de vesículas transportadoras que
carregam substâncias para outros compartimentos celulares ou para o meio
extracelular.
40

O complexo de golgi é a organela responsável pelo processamento de


lípideos e proteínas sintetizadas no RE. Entre o processamento que acontece no
golgi destaca-se a glicosilação, a fosforilação e a sulfatação. O complexo de golgi
também é responsável por sintetizar polissacarídeos.

Lisossomo:
Os lisossomos são organelas esféricas, delimitadas por membrana e
que acumula inúmeras enzimas hidrolíticas. A principal função dos lisossomos é a
digestão intracelular, esta função é importante pois permite as células digerir
porções danificadas ou/e o material proveniente da endocitose. Os lisossomos
apresentam a face interna da membrana revestida por carboidratos, o que impede a
digestão da própria membrana pelas enzimas presentes no interior desta organela.
As enzimas lisossomais são sintetizadas no RE e processadas no complexo de
golgi.
41

Endossomo:

É uma organela localizada entre o complexo de golgi e a membrana


plasmática, que possui formas e dimensões variáveis. O endossomo primário é
formado durante os processos de encocitose, onde a membrana plasmática envolve
o material ingressado na celular. Em seguida o endossomo primário se funde ao
lisossomo primário (vesícula marcada por manose 6-fosfato proveniente do golgi que
carrega as enzimas lisossomais inativas) formando o endossomo secundário. Por
meio de bombas de prótons localizadas na membrana do endossomo secundário
ocorre um decréscimo do pH desta organela o que torna as enzimas lisossomais
ativas e converte o endossomo secundário em lisossomo secundário.

Lisossomo
Os lisossomos são organelas citoplasmáticas membranosas presentes em
praticamente todas as células eucariontes. Em seu interior existem enzimas que
realizam normalmente a digestão intracelular, porém extracelular em casos
excepcionais.
Os lisossomos foram descobertos em 1955 pelo citologista belga Christian De
Duve. Hoje, é bem conhecida sua ação em células como amebas e glóbulos
brancos.
A estrutura de um lisossomo tem sua origem a partir do processo de síntese e
transformações que envolvem a complexidade celular. Partindo inicialmente do
controle genético, são sintetizadas moléculas de RNA precursoras das enzimas
digestivas. Essas moléculas juntamente ao retículo endoplasmático rugoso realizam
o processo de transcrição de uma proteína.
Finalizada a síntese, essas proteínas são transportadas em vesículas
(pequenas bolsas) que se dissociam do retículo com destino ao complexo de Golgi.
42

Nesse local as proteínas irão passar por transformações (maturação), havendo


acréscimo de grupamentos químicos (fosforilação) nas extremidades dos filamentos
proteicos, caracterizando o seu potencial enzimático.

Ciclo de atuação do lisossomo

Após esse estágio as enzimas formadas são empacotadas em vesículas que


se desprendem do aparelho golgiense, constituindo o lisossomo. A este estado de
pré-formação dá-se o nome de lisossomo primário e quando em ação funcional
propriamente dita, formado: o vacúolo digestivo, o vacúolo autofágico e corpo
residual, recebem a denominação de secundário.
Quanto ao aspecto interno da vesícula lisossômica, esta possui um pH por
volta de 5, um potencial hidrogeniônico ácido em virtude do conteúdo, visto que as
enzimas são chamadas de hidrolases ácidas.
Durante o processo digestivo, os lisossomos podem tanto associar-se a
fogossomos quanto a pinossomos (denominação que condiz com a consistência das
substâncias ou partículas engolfadas), formando o vacúolo digestivo.
À medida que a digestão se processa, as moléculas necessárias ao
metabolismo da célula atravessam a membrana do vacúolo dispersando-se pelo
hialoplasma. O material não digerido constitui o corpo residual, eliminado por
exocitose (clasmocitose ou defecação celular).
Essas organelas também podem atuar na degeneração de outros orgânulos da
própria célula, mantendo a renovação das estruturas permanentemente
reconstruídas, mecanismo chamado de autofagia (auto = próprio, fagia = comer).
Dependendo da informação e controle gênico, as enzimas lisossômicas, em
resposta ao envelhecimento das células ou a qualquer alteração morfofisiológica
(hormonal, lesões ou tumores), podem desencadear o mecanismo de morte celular
43

programada (apoptose), ou seja, a célula se auto destrói, evitando maiores danos ao


organismo.
Quando se trata de organismos unicelulares, como uma ameba, é fácil
compreender a importância dos lisossomos, já que permitem à célula “desmontar”
moléculas complexas vindas de fora para utilizar na sua nutrição. Nos animais
pluricelulares, porém, o alimento é “desmontado” não nas próprias células, mas sim
no tubo digestivo. Assim, as células recebem moléculas simples já prontas, não
tendo a necessidade de “desmontá-las”. Neste caso, poderíamos nos perguntar:
qual seria a função dos lisossomos em organismos pluricelulares?
As respostas são variadas. No caso dos leucócitos, por exemplo, que
englobam microrganismos invasores, o papel de digestão dos lisossomos não está
ligado à nutrição, mas sim à destruição do invasor, à defesa do corpo. Além disso,
a reciclagem de materiais das próprias células somente pode acontecer se houver
lisossomos.
O gráfico a seguir mostra, em vários estágios da metamorfose, a porcentagem
de enzima digestiva em função do tamanho da cauda. Repare: quanto menor a
cauda, maior a porcentagem de enzima. Na realidade a quantidade total de enzima
é a mesma em todos os estágios: a enzima não é consumida na reação. O que
muda é a concentração, já que a massa da cauda vai diminuindo aos poucos, sem
que mude a quantidade de enzima. Um exemplo interessante da reciclagem de
materiais é dado pelo estudo da cauda do girino durante sua metamorfose:
inicialmente longa em relação ao corpo, ela é gradativamente reabsorvida. Essa
reabsorção ocorre de forma simultânea ao aparecimento e crescimento das patas.
Os lisossomos estão certamente implicados neste fenômeno. As células da cauda, a
partir de um determinado momento, sofrem autodigestão gradativa, causada pelo
rompimento de seus próprios lisossomos. O material proveniente da digestão é
aproveitado para o crescimento de outras partes do organismo em transformação,
como por exemplo das patas.
44

A exemplo do que ocorre com a cauda do girino, o lisossomo deve ter muitas
outras funções semelhantes no desenvolvimento embrionário de organismos
pluricelulares, permitindo, no momento correto, a reabsorção de certas estruturas e
o aproveitamento da matéria-prima resultante para a formação de outras.
Há casos de patologia celular pelos quais os lisossomos são, direta ou
indiretamente, responsáveis. A silicose, doença dos pulmões que ataca
trabalhadores de minas, é causada pela inalação de partículas de sílica, ao longo
dos anos. Aparentemente, essas partículas penetram nas células e provocam a
destruição da membrana lisossômica, o que leva à autólise da célula. As enzimas,
por sua vez, atacam as células vizinhas, e aos poucos atingem grande parte da área
respiratória.

Mitocôndria

As mitocôndrias são organelas membranosas presentes em diversos tipos


celulares e a sua quantidade dentro da célula varia de acordo com o tipo ou função
da célula. Elas possuem um genoma próprio, ou seja, o material genético que existe
dentro das mitocôndrias é diferente do material genético da célula em si. São
organelas citoplasmáticas com formas variáveis: ovoides, esféricas ou de
bastonetes, medindo aproximadamente de 02μm a 1μm de diâmetro e 2μm a 10μm
de comprimento.
Existem teorias (endossimbiótica) à cerca da origem das mitocôndrias, que
demonstram o surgimento dessas organelas nas células eucariontes durante a
evolução a partir de análise comparativa e evidências como:

- a dupla membrana, sendo a interna semelhante aos mesossomos (dobras


membranosas de bactérias, ricas em enzimas respiratórias);
- o pequeno tamanho dos ribossomos, semelhantes aos de procariotos, e
diferenciados aos encontrados no hialoplasma da mesma célula eucarionte;
- e a presença de DNA circular.

Portanto, supõe-se que por volta de 2,5 bilhões de anos, células procarióticas
teriam fagocitado, sem digestão, arqueobactérias capazes de realizar respiração
aeróbia, disponibilizando energia para a célula hospedeira, garantindo alimento e
proteção (uma relação harmônica de dependência).
45

Uma característica bastante curiosa dessas estruturas envolve o DNA


mitocondrial. O DNA da célula em si é composto pelo DNA de ambos os indivíduos
parentais, ou seja, metade do DNA de um filho é herdado da mãe e a outra metade
do pai. O DNA mitocondrial não segue essa regra, ele é herdado exclusivamente da
mãe. Assim, isso significa que as mitocôndrias presentes na célula ovo, e nas
demais células subsequentes, são originadas exclusivamente a partir das da mãe.
Assim como a quantidade dessas estruturas na célula, o seu tamanho e forma
também são variáveis. Elas podem ser encontradas bastante diminutas ou
relativamente grandes, em geral, elas ocupam uma posição intermediária em uma
escala de tamanho entre as estruturas celulares.
As mitocôndrias podem ser encontradas em diversos formatos. Isso quer
dizer que elas podem adotar formas desde arredondadas ou mais alongadas, se
assemelhando a um bastonete ou adotando uma forma ovoide, até se apresentarem
como filamentos.
Com relação a sua estrutura básica, a mitocôndria é composta por duas
membranas, uma interna e outra externa, e dois espaços formados por elas, o hiato
entre as membranas e o interior da membrana interna. Ambas as membranas
mitocondriais são formadas por uma bicamada lipídica associada a proteínas, que
exercem o controle de entrada e saída de moléculas.
A membrana externa é lisa e possibilita a entrada de diversas moléculas
pequenas e leves. A membrana interna, por sua vez, possui diversas dobras ou
pregas que são chamadas de cristas mitocondriais. Essas cristas são de extrema
importância por aumentarem a superfície da estrutura, o que é muito importante pelo
fato de ser ali que ocorrem processos indispensáveis para a manutenção da vida
aeróbica. Além disso, essa membrana possui a constituição mais complexa do que a
anterior e exerce uma maior seleção sobre o que passa por ali.
Entre a membrana externa e interna existe uma região da mitocôndria que é
conhecida como espaço intermembranoso. Essa região possui uma concentração e
constituição de moléculas e íons bastante semelhante ao citosol por causa da
seletividade da membrana externa. Por outro lado, interior da membrana interna é
denominado matriz mitocondrial, essa que é composta por diversas enzimas,
ribossomos, íons e material genético mitocondrial que estão envolvidos nos
processos internos, como a geração de energia, por exemplo.
46

A função das mitocôndrias está intimamente ligada com o fornecimento de


energia para a célula. Para facilitar a compreensão é possível fazer uma analogia:
Ao se pensar nas células como uma indústria, relaciona-se o núcleo com a gerência
ou administração, o complexo de Golgi com uma central de processamento,
distribuição e armazenamento entre outros exemplos. Nesse sentido, podemos
considerar as mitocôndrias como se fossem usinas de energia para a “empresa”.
Em linhas gerais, a energia utilizada pelas reações que ocorrem na célula é
oriunda do ATP (adenosina trifosfato). Muito embora o ATP possa ser formado no
citosol de maneira anaeróbica, essa produção é ineficiente. Isso é contornado pela
estratégia adotada pelos seres aeróbicos que passaram a gerar seu ATP de uma
forma muito mais eficaz, pela fosforilação oxidativa, que é um processo que ocorre
nas mitocôndrias.
Enfim, as mitocôndrias são organelas indispensáveis à vida aeróbica e o seu
surgimento se trata de um grande salto evolutivo para a vida como se conhece. Isso
porque a grande maior parte da energia utilizada pelas células dos seres aeróbicos é
produzida nessa organela, energia essa que é utilizada para todos os processos
celulares e sistêmicos do corpo, como por exemplo, para a regulação térmica.

Núcleo

O núcleo, de forma geral a maior organela celular eucarionte, medindo cerca


de 5μm, é a região delimitada por membrana, onde se localizam os cromossomos e
47

um ou mais nucléolos mergulhados no nucleoplasma ou também cariolinfa. Foi


identificado e descrito inicialmente em 1833, pelo botânico escocês Robert Brown,
ao analisar tecidos vegetais. Em suas observações descobriu que a maioria das
células apresentava uma estrutura interna, com morfologia esférica ou ovoide,
recebendo desde então a denominação ‘núcleo’.

Atualmente sabemos que existem células com apenas um núcleo, outras


binucleadas (com dois núcleos), multinucleadas (com vários núcleos) e anucleadas
(que perderam o núcleo durante a diferenciação).

Mononucleadas: células do tecido epitelial;


Binucleadas: células hepáticas e cartilaginosas;
Multinucleadas: células musculares estriadas do coração humano;
Anucleadas: hemácias de muitos mamíferos.
A membrana nuclear ou carioteca (karyon = núcleo; théke = invólucro) é
formada por duas camadas lipoprotéicas, separadas entre si por um espaço
perinuclear transpassado por numerosos poros com 100nm de diâmetro,
funcionando como válvulas, que regulam a entrada e saída de substâncias
comunicantes entre o núcleo e o citoplasma, armazenando e protegendo o material
genético.
De acordo com o estágio do ciclo celular, o núcleo pode assumir
comportamento distinto: totalmente íntegro e funcionante durante a interfase e
desintegrado quando a célula se encontra em divisão (mitose e meiose).
48

A cariolinfa, semelhante a um coloide, é constituída por água, sais minerais,


proteínas e materiais que participam da síntese de ácidos nucléicos (moléculas de
DNA e RNA). E também uma massa corpuscular densa, o nucléolo, um significativo
acúmulo de proteínas onde se formam os ribossomos.
Características e função da membrana nuclear da célula: formada por duas
camadas lipoproteicas; apresenta numerosos poros comunicantes com o
hialoplasma, por onde saem e entram substâncias moleculares; proteção do material
genético; e barreira física que limita a região reguladora do metabolismo, através do
processo de transcrição.
Contudo, mesmo uma célula nucleada, dependendo do estágio de seu ciclo
celular, pode admitir distintos comportamentos: durante a interfase, período de
síntese intensa, o núcleo apresenta aspecto evidente, enquanto no período de
multiplicação (divisão - mitose ou meiose) tanto a carioteca quanto o nucléolo se
desintegram, reaparecendo no final deste evento.

Ácidos nucleicos

Os ácidos nucleicos são moléculas com extensas cadeias carbônicas,


formadas por nucleotídeos: um grupamento fosfórico (fosfato), um glicídio
(monossacarídeo com cinco carbonos / pentoses) e uma base nitrogenada (purina
ou pirimidina), constituindo o material genético de todos os seres vivos.
Nos eucariontes ficam armazenados no núcleo das células e nos procariontes
dispersos no hialoplasma. Podem ser de dois tipos: ácido desoxirribonucleico (DNA)
e ácido ribonucleico (RNA), ambos relacionados ao mecanismo de controle
metabólico celular (funcionamento da célula) e transmissão hereditária das
características.
Há mais de 50 anos foi descoberto que o DNA é o material que compõe
os genes, embora já soubessem que os genes estão nos cromossomos. Quem
descobriu o DNA foi um cientista suíço chamado Johann Friedrich Miescher, no
século XIX. Johann trabalhou com o núcleo de leucócitos retirados do pus de
ataduras de ferimentos infeccionados e identificou uma substância desconhecida,
que possuía nitrogênio e fósforo na composição. Após algumas pesquisas, ele
verificou que esta substância descoberta era ácida e estava presente em todos os
núcleos celulares, e que haviam dois tipos de ácidos, uma ribose e uma
desoxirribose.
49

A molécula de DNA é composta por uma fita dupla de nucleotídeos. Existem


quatro subunidades de nucleotídeos, e as duas cadeias unem-se através de pontes
de hidrogênio entre as bases nitrogenadas dos nucleotídeos.
As cadeias de nucleotídeos são formadas por uma pentose (açúcar de cinco
carbonos) associada a um ou mais grupos fosfato e a uma base nitrogenada.
O DNA é composto por uma desoxirribose e um grupo fosfato. As quatro
bases nitrogenadas contidas no DNA são: adenina, citosina, guanina e timina.
A cadeia possui duas extremidades, denominadas extremidade 3’ e
extremidade 5’. A extremidade 3’ possui um hidroxil e a extremidade 5’, um fosfato.
As bases nitrogenadas estão no interior da hélice, ligadas por pontes
de hidrogênio. As bases nitrogenadas citosina e timina são chamadas de pirimidinas,
e as bases adenina e guanina, chamadas de purinas.

Os dois filamentos que compõem o DNA se enrolam, um sobre o outro,


formando uma dupla hélice, semelhante um espiral de caderno, podendo ter
milhares de nucleotídeos. Como já foi dito, estas duas cadeias mantêm-se unidas
por pontes de hidrogênio entre os pares de bases A->T e C->G, formando sempre
na cadeia complementar. Se tivermos uma cadeia com a seguinte sequência de
nucleotídeos AATCTGCAC, a cadeia complementar será TTAGACGTG.
Nos genes estão todas as informações biológicas de um organismo, que
devem ser passadas para seus descendentes, ou até mesmo na produção de
50

células filhas na proliferação celular. A descoberta da dupla hélice permitiu


responder muitas perguntas sobre duplicação do DNA e transmissão de genes.
Em 1953 o biólogo norte-americano James D. Watson e o físico inglês H.C.
Crick propuseram o modelo da dupla hélice do DNA, respondendo que a duplicação
ocorre pela formação de uma cadeia complementar a partir da separação das duas
fitas, e este processo é chamado de duplicação semiconservativa, pois conserva
50% do DNA da célula mãe, utilizando uma das fitas com molde para a duplicação.
Para que essa duplicação ocorra, as pontes de hidrogênio se desfazem para
as cadeias se separarem. Após esta separação, que ocorre com a ajuda de
enzimas, uma nova cadeia começa a ser formada, chamada cadeia complementar,
com a ajuda da enzima DNA-polimerase. A adenina sempre emparelha com a
timina, e a guanina sempre emparelha com a citosina na fita de DNA, no RNA a
adenina emparelha com a uracila. No final do processo temos duas fitas idênticas.

Todos os processos são mediados por enzimas, por exemplo, o


desenrolamento da hélice é feito por uma enzima chamada helicase.
Todos os genes de um organismo compõem o genoma dele.
DNA Mitocondrial: A mitocôndria é uma organela presente no citoplasma das
células de organismos superiores e possui grande importância no processo
de respiração celular. Possuem um tamanho que varia de 0,5 a 1,0 μm de
comprimento e são consideradas fábricas de energia, pois processa o oxigênio e a
glicose convertendo-os em ATP.
Esta organela, diferentemente das outras, possui carga genética própria,
conhecido como DNA mitocondrial (mtDNA). Este não é como o DNA nuclear que
possui longas fitas, formadas por dupla hélice e que codificam cerca de 100.000
51

genes, o mtDNA representa apenas 1 a 2% do DNA celular, em duplo filamento


circular, codificando apenas 37 genes. Acredita-se na hipótese endossimbiótica,
devido a existência do mtDNA. Esta sugere que o surgimento das células
eucarióticas se deu com o englobamento das células procarióticas sem ocorrer a
digestão, e estas duas desenvolveram uma relação simbiótica.

Não possui diferença na sua composição química, em relação ao DNA


nuclear, mas possui um código genético apenas seu. Possui genoma haploide, por
ser apenas de origem materna, não havendorecombinação, pois se acredita que as
mitocôndrias dos espermatozoides são destruídas pelo gameta feminino (óvulo)após
a fecundação. Possui também uma região não codificadora que, aparentemente,
controla a replicação e transcrição do mtDNA. Quando comparada com o genoma
nuclear, possui uma alta taxa evolutiva (substituições de base). Sendo assim, tem
sido muito usado em estudos evolutivos para a investigação de linhagens antigas.
Os métodos de análises mais usados para a identificação do genoma e/ou
variabilidade genética entre populações ou espécies, são eles: análise com enzimas
de restrição (RFLP), construção de mapa de restrição para todo o genoma,
amplificação via PCR seguido de digestão com endonucleases; clonagem
e sequenciamento.
Existem doenças que são consideradas mitocondriais, pois afetam genes
desta organela, que pode afetar ambos os sexos. Quando o ovócito é formado, não
há uma regra para a segregação das mitocôndrias, podendo existir uns com mais
mitocôndrias com DNA mutado.
52

O RNA é formado pelo ácido ribonucleico. O processo de produção de uma


molécula de RNA a partir de uma molécula de DNA é chamado de transcrição. A
produção de proteínas é feita por comandos do RNA, e este processo é chamado
de tradução.
O RNA não possui a base nitrogenada timina, em seu lugar está presente
a uracila.

Transcrição: A cadeia de DNA é separada através de enzimas que


promovem a quebra das pontes de hidrogênio. Quando as hélices estão separadas,
uma enzima chamada RNA polimerase une-se a uma das extremidades da fita, pois
apenas uma fita é copiada, e segue pela cadeia, formando os pares: A->U e C->G.
Ao término do processo, a molécula de RNA se desprende e as fitas de DNA voltam
a se unir.
O começo e o fim de uma cadeia são limitados por sequências específicas
de gene, reconhecidas pela polimerase.

Tipos de RNA:

 RNA ribossômico: O RNA ribossômico participa na produção de


ribossomos, que por sua vez produzem proteínas. A região do DNA molde para esse
53

RNA é chamada de região organizadora do nucléolo. Ao serem sintetizadas, as


moléculas de RNA ribossômico se acumulam nessas regiões, formando
os nucléolos.
 RNA transportador: Este RNA transporta os aminoácidos até os
ribossomos para a produção das proteínas. O anticódon é uma região do
aminoácido por onde a tradução começa e é formado por uma trinca de bases, onde
o RNA transportador se emparelha ao códon, que é uma trinca complementar de
bases do RNA mensageiro.
 RNA mensageiro: O RNA mensageiro possui as informações para a
síntese de proteínas. Ele possui as trincas de bases nitrogenadas que definem os
aminoácidos. O RNA transportador possui o anticódon, que vai se encaixar com o
códon do RNA mensageiro. Por exemplo, se o códon for AAA, o anticódon será
UUU, e o aminoácido formado será a lisina. Mas os RNA só se encaixam se códon e
anticódon forem correspondentes.
As primordiais diferenças e características entre os ácidos nucleicos são:
Além do peso molecular, relativa à quantidade de nucleotídeos (tamanho da
molécula), existem outras diferenças estruturais, como por exemplo:
- A diferença das bases nitrogenadas: púricas e pirimídicas.
No filamento de DNA → Purinas (adenina e guanina) e Pirimidinas (timina e
citosina).
No filamento de RNA → Purinas (adenina e guanina) e Pirimidinas (uracila e
citosina).
54

- A essencial disposição (a sequência) dos nucleotídeos, implicando na


diferença mantida entre os genes no filamento de DNA e dos códons e anticódons
no filamento de RNA;

-A conformação linear ou circular dos filamentos;


- E a duplicidade complementar (fita dupla) observada no DNA, diferenciada
da unicidade (fita única / simples) do RNA.

Replicação, Transcrição e Tradução

Replicação, transcrição e tradução são processos que ocorrem com os


ácidos nucléicos e que são essenciais para o funcionamento das nossas células.
Replicação: é a duplicação de uma molécula de DNA. Isso ocorre porque
nossas células estão constantemente em divisão, e como todas as células
somáticas possuem a mesma quantidade de DNA, precisamos sempre duplicar
nosso DNA antes da célula se dividir.
O primeiro passo é o rompimento das ligações de hidrogênio entre as bases
nitrogenadas dos nucleotídeos, permitindo a separação das duas fitas. Esse
processo é auxiliado pela enzima DNA helicase. E como a DNA helicase sabe onde
ela vai começar a “abrir” o DNA? Nós possuímos em cada cromossomo uma região
denominada origem de replicação, composta por uma sequência de nucleotídeos
que a DNA helicase reconhece. Então, toda vez que a célula duplica seu DNA, ela
começa no mesmo local.
55

Cada fita de DNA servirá como molde para a síntese de uma nova fita de
DNA. Esse é o segundo passo, quando atuam as DNA polimerases. Essas enzimas
ligam nucleotídeos que estavam dispersos no núcleo aos nucleotídeos das fitas de
DNA, obedecendo às regras de pareamento entre as bases nitrogenadas. Com isso
cada dupla fita de DNA nova formada será metade antiga e metade nova, e por isso
que se diz que a duplicação do DNA é semiconservativa. Existem outras enzimas
que atuam nesse processo, como as DNA primases que adicionam os primeiros
nucleotídeos antes da DNA polimerase, além de existirem diversos tipos de DNA
polimerases. O interessante é que as polimerases, além de adicionarem os
nucleotídeos, possuem a capacidade de verificar se acabaram de cometer erros, a
chamada atividade revisora. Mesmo com todo esse cuidado, as polimerases erram e
causam muitas das nossas mutações no genoma.
A replicação sempre ocorre em um sentido: 5’- 3’, isso quer dizer que vai do
grupo fosfato de um nucleotídeo (que está ligado ao carbono 5’ do açúcar) para o
grupo hidroxila de outro (que está ligado ao carbono 3’ do açúcar). Com isso, a
polimerase consegue sintetizar uma cadeia de maneira contínua, mas a outra não
(as fitas ficam em sentidos antiparalelos). Esta fita retardada é formada aos
pouquinhos, e cada fragmento que é formado é dado o nome de fragmento de
Okazaki, que foi o pesquisador que os descobriu.

Transcrição: é um processo onde a informação sai do genoma de DNA para


a formação de mRNAs, que comandam toda a maquinaria celular. Como o “idioma”
do DNA e do RNA é o mesmo, os nucleotídeos, a informação é transcrita, ou seja,
copiada.
56

No caso da transcrição, a enzima que atua é a RNA polimerase, que também


atua no sentido 5’-3’, mas que não precisa da enzima primase para iniciar a
polimerização. Essa enzima não possui atividade revisora, mas isso não é um
grande problema, pois um erro em uma molécula de RNA produzirá algumas
proteínas defeituosas, ao contrário de um erro no DNA. Uma das fitas de DNA
aberta serve de molde para a síntese de uma cadeira de RNA mensageiro
complementar a fita molde, e que codifica pra um gene que será expresso na forma
de proteína. E como a RNA polimerase sabe onde começar? A maioria dos nossos
genes possuem regiões que controlam sua própria expressão, os promotores. Os
promotores são sequências de nucleotídeos onde se ligam moléculas que inibem ou
ativam a transcrição. Serve também, como ponto de ligação de um complexo de
proteínas que auxiliam a RNA polimerase a se ligar e agir.
Um fenômeno interessante é o splicing alternativo que ocorre no
processamento do mRNA ainda no núcleo. Nesse processo algumas partes não
importantes para a proteína a ser formada são retiradas (íntrons), bem como é
permitida a combinação entre o restante do mRNA (éxons), formando várias
proteínas diferentes a partir de uma mesma molécula de mRNA.
Tradução: é o processo final de cascata, que ocorre nos ribossomos, livres
ou no retículo endoplasmático. As moléculas de RNA são críticas nesse momento,
pois são elas que fazem a ponte entre a sequência dos nucleotídeos no DNA e o
“idioma” das proteínas, os aminoácidos.
Uma molécula de mRNA já processada é exportada para o citoplasma, onde
se liga aos ribossomos. Lembre-se que os ribossomos, além de proteínas, são
formados por moléculas de rRNA. Nos ribossomos, além do sítio para a ligação do
mRNA, existem sítios para a ligação dos tRNAs, que se ligam aos nucleotídeos do
mRNA. No ribossomo ocorre então a ligação entre os aminoácidos de vários tRNAs
diferentes até a formação da cadeia polipeptídica, ou seja, da proteína.
Cada três letras (nucleotídeos) no DNA correspondem a uma letra
(aminoácido) na proteína final, e algumas combinações diferentes de letras do DNA
resultam na mesma letra da proteína, como se fossem palavras sinônimas. Por
causa desse fenômeno é dito que o código genético é degenerado.
As proteínas então seguirão suas funções na célula até serem degradadas.
Quando são necessárias novas enzimas, a célula novamente transcreve e traduz.
57

Comunicações celulares

As células em um organismo multicelular, precisam se comunicar umas com


as outras de modo a direcionarem e regularem seu crescimento, desenvolvimento e
organização. Células animais se comunicam secretando substâncias químicas que
sinalizam células distantes.
Sinais endócrinos ocorrem quando substâncias chamadas hormônio são
secretadas pelas células e viajam através da corrente sanguínea até células-alvo.
Na sinalização parácrina, a célula secreta mediadores químicos locais que agem
somente em células vizinhas. Moléculas de sinalização parácrina são rapidamente
internalizadas, destruídas ou imobilizadas. A sinalização sináptica ocorre quando
58

moléculas são liberadas de vesículas em junções neuronais chamadas sinapses.


Estas moléculas, os neurotransmissores, se difundem através da fenda sináptica e
vão agir somente na célula-alvo pós-sináptica. Todas estas substâncias químicas se
ligam à receptores de dentro ou de fora da célula-alvo iniciando a resposta celular.
O mecanismo de recepção varia de acordo com a solubilidade de cada tipo de
molécula (endócrina, parácrina ou neurotransmissor) em água. Moléculas
hidrofóbicas precisam ser carregadas pela corrente sanguínea ligadas a proteínas
transporte e por isso sua meia-vida na corrente sanguínea é de horas ou dias, ao
contrário de moléculas hidrofílicas que são degradadas rapidamente. Portanto,
moléculas de sinalização que são solúveis em água usualmente medeiam respostas
de curta duração, enquanto moléculas de sinalização que não são solúveis em água
medeiam respostas bem mais longas.
Receptores intracelulares: Pequenas moléculas hidrofóbicas de sinalização
(hormônios esteroides e tireoideanos) atravessam a membrana da célula-alvo para
se ligarem a receptores intracelulares localizados no citoplasma ou no núcleo desta
célula. O complexo hormônio-receptor sofre uma mudança conformacional que leva
a um aumento da afinidade do receptor pelo DNA regulando a transcrição de genes
específicos, tal ligação, leva à ativação ou à supressão destes genes. O produto de
alguns genes,ainda, podem servir de ativadores de outros genes produzindo um
efeito secundário.
Receptores ligados à membrana: Todas as moléculas hidrofílicas e as
prostaglandinas efetuam sua resposta celular por se ligarem a receptores proteicos
específicos localizados na membrana da célula-alvo. Estes receptores se ligam a
moléculas sinalizadoras com grande afinidade e transduzem o sinal em sinais
intracelulares que afetam o desenvolvimento celular. Receptores de membrana não
regulam a expressão gênica diretamente. Estes receptores transmitem o sinal
através da membrana e a resposta da célula-alvo vai depender de moléculas
secundárias, denominadas segundo mensageiro (ex: CAMP, fosfato de inositol ou
cálcio).
Existem três tipos de receptores de membrana, baseados no mecanismo de
transdução de sinal.
Receptores associados a canais: estes são canais de íons envolvidos na
sinalização sináptica (tecido nervoso ou junção neuromuscular).Um transmissor
específico pode rapidamente abrir ou fechar os canais de íons por se ligarem a
59

receptores associados a estes canais, mudando, assim, a permeabilidade da


membrana celular a certo íon.
Receptores catalíticos: estes receptores se comportam como enzimas
quando ativados por um ligante específico. A maioria destes receptores apresentam
uma região citoplasmática catalítica que se comporta como uma tirosina quinase.
Uma proteínas-alvo é fosforilada em resíduos específicos de tirosina, mudando,
assim, sua conformação (ex: receptor para insulina).
Receptores associados a proteína-G: quando ligados a um ligante
específico estes receptores, indiretamente, ativam ou inativam uma enzima ou um
canal iônico ligados a membrana celular, esta interação é mediada por uma proteína
associada a uma molécula de GTP. Proteínas-G associadas a receptores iniciam
uma cascata de eventos químicos dentro da célula-alvo que geralmente altera a
concentração de mensageiros intracelulares como CAMP ou trifosfato de inositol,
estes mensageiros intracelulares alteram o comportamento de proteínas
intracelulares. O efeito destes mensageiros são rapidamente revertidos quando o
sinal extracelular é removido.

Mecanismos de regulação gênica

As necessidades de um microrganismo como a bactéria Escherichia coli são


muito variadas e mudam constantemente. Para cada situação determinada a
bactéria precisa lançar mão de uma bateria de enzimas e proteínas, que não
estavam disponíveis momentos antes e que provavelmente não serão mais
necessárias minutos depois. Como consegue o organismo ligar e desligar genes,
que comandarão a síntese de mRNAs, que darão origem por fim às proteínas
necessárias? A este processo chamamos controle da expressão gênica.

O operon lac:

Há muitos diferentes mecanismos de controle da expressão gênica,


mesmo se considerarmos apenas a bactéria E. coli. Por isso procuraremos nos
concentrar na análise de um deles, que tem muita aplicação em engenharia
genética. Este mecanismo foi elucidado pelos franceses François Jacob e Jacques
Monod, que receberam por isso o Prêmio Nobel em Medicina, em 1965, juntamente
60

com Andre Lwoff. Eles estudaram os genes que codificam as enzimas responsáveis
pela degradação da lactose em E. coli. O modelo que discutimos a seguir já
incorpora as modificações subsequentes, fruto das contribuições de grupos de
pesquisa no mundo todo, e exemplifica de forma didática um mecanismo que é
comum a muitos outros microrganismos e observado na regulação de muitos genes.
Através de experimentos em genética clássica (empregando mutantes e
plasmídeos que transportavam genes e sítios reguladores para a bactéria
hospedeira, criando assim diploides parciais) Jacob e Monod criaram um modelo no
qual o sítio promotor, associado a um outro sítio chamado operador, controlava a
expressão de todos os genes imediatamente “abaixo”, isto é, 3’, do promotor. A este
conjunto chamaram operon. Como os genes que estudavam eram os responsáveis
pela síntese das proteínas que degradavam lactose, chamaram a este arranjo de
genes operon lac. O diagrama básico do operon lac está representado nas figuras a
seguir.

Figura 1: Distribuição dos genes e módulos de controle do operon lac. O gene i, para o repressor lac,
expresso constitutivamente, está situado próximo ao conjunto dos genes induzíveis lacZ, lacY e lacA,
responsáveis pela síntese das proteínas b-galactosidase, permease e transacetilase. O promotor
plac é controlado pelo operador olac, onde se ligam duas moléculas do repressor.

O sítio operador é uma região do DNA logo abaixo do sítio promotor. Na


verdade, os dois sítios estão parcialmente embricados (superpostos), pois o
promotor se estende da base -45 até a base +5, enquanto o sítio operador vai da
base -8 até a +12. Desta forma, se tivermos uma proteína ligada ao sítio operador,
ela vai impedir que este seja ligado pela RNApol. Uma analogia razoável seria
comparar o promotor com uma bota, em cujo bico está o sítio operador. Quando o
bico da bota está ocupado com uma pedra, não se pode calçar a bota.
Analogamente, quando o operador está ocupado pelo represssor lac (produto do
gene i, que se liga ao operador na forma de um dímero), a RNA polimerase não
pode se ligar ao promotor. O repressor lac, por sua vez, é o produto de um gene que
61

está próximo ao operon, porém não faz parte integral dele (na verdade, este gene
poderia estar muito distante no genoma de E. coli). Na ausência de lactose, as
poucas moléculas de repressor presentes no citosol da bactéria (menos de 10 por
célula!) são suficientes para silenciar a expressão do operon, ligando-se ao sítio
operador. Todos estes eventos estão representados na figura 2a, a seguir.

Figura 2a: Esquema representativo do controle da transcrição dos genes para as enzimas
responsáveis pelo uso da lactose em E. coli. O repressor, produto do gene i, liga-se ao operador (em
verdade, duas moléculas), impedindo a ligação da RNApol ao sítio promotor P lac e bloqueando a
transcrição. O repressor está representado por elipses vermelhas.

Na presença de lactose, contudo, o repressor é inativado pela ligação de um


produto do metabolismo da lactose, a alolactose. Inicia-se, então, a transcrição dos
genes lacZ, lacY elacA, formando-se um mRNA policistrônico. Este mRNA é
imediatamente traduzido para formar três enzimas da via de degradação da lactose:
a b-galactosidase (b-gal), a permease e a transacetilase. A b-gal degrada a lactose a
galactose e glicose e a permease aumenta muitas vezes a permeabilidade da célula
à lactose. Com isto a lactose do meio de cultura é rapidamente assimilada e utilizada
pela célula. Quando a concentração de lactose reduz-se muito, até as moléculas que
estão ligadas ao repressor acabarão sendo clivadas pela b-gal. A consequência
disto é a ligação dos repressores, agora ativos, ao sítio operador, provocando a
parada da transcrição dos genes lacZ, lacY e lacA. Estes eventos estão
representados na figura 2b a seguir.
62

Figura 2a: Esquema representativo do controle da transcrição dos genes para as enzimas
responsáveis pelo uso da lactose em E. coli. A lactose no citosol bacteriano (rigorosamente, a
alolactose, produto obtido pela transformação da lactose no interior da bactéria) liga-se ao repressor,
inativando-o e liberando o promotor para ser ligado pela RNApol. O processo de transcrição estará
liberado até que a concentração citosólica de lactose seja insuficiente para garantir a inativação das
moléculas do repressor. Os produtos dos genes lacZ, lacY e lacA, b-galactosidase, permease
transacetilase, respectivamente, estão representados por elipses azuis, em três tonalidades. O
repressor está representado por elipses vermelhas.

Este é o exemplo clássico de um operon que funciona por repressão. Há


muitos outros semelhantes, que controlam em geral a síntese de enzimas
responsáveis pela degradação de um determinado produto nem sempre disponível
no ambiente. Há também genes operons que estão sempre “ligados” e que devem
ser silenciados em determinadas situações. São em geral os genes para biossíntese
de algum produto que a bactéria pode obter do ambiente. Somente quando falta este
produto no meio de cultura é que a bactéria ativa a transcrição dos genes que irão
produzir as enzimas necessárias à biossíntese do produto em falta.

Um ponto que fica obscuro na explicação acima é: como a lactose entrou na célula,
se a permease não estava presente na membrana para transportá-la do exterior
para o citosol? A razão é a seguinte: há sempre um pouco de permease na
membrana, porque o operon "vaza", isto é, um pouco dos três produtos gênicos é
sempre produzido. E vaza porque os repressores se desligam por breve momento
do operador, já que a ligação de moléculas uma às outras por forças fracas não é
eterna. No instante em que o operador estiver livre uma RNA polimerase pode
transcrever o operon, o que de fato acontece. O vazamento é observado em todos
os genes e operons bacterianos e, em grau muito menor, na maioria dos genes dos
demais organismos. Pode parecer um gasto de energia desnecessário, mas o
vazamento é inevitável. Por outro lado, sem ele a maior parte dos operons não
funcionaria, porque não teria como ser disparado.
63

Além destes dois sistemas há ainda outros, bastante mais complexos, que
modulam de forma fina a expressão de genes nos procariotos. Há mesmo operons
que são controlados por repressão e ativação simultaneamente. Vale ressaltar que o
próprio operon lac tem uma particularidade, descoberta muitos anos depois de sua
elucidação por Jacob e Monod: é o controle da sua expressão exercido por uma
proteína chamada CAP (“catabolite gene activator protein”), uma proteína dimérica
como o repressor lac, com aprox. 45.000 Da. A proteína CAP não tem qualquer
influência na expressão do operon enquanto não estiver ligada ao AMP cíclico.
Entretanto, uma vez ligada, ela se associa a um sítio acima (5’) do promotor, o que
permite uma ligação muito mais rápida e efetiva da RNApol ao sítio promotor. Na
analogia da bota que fizemos acima, o complexo CAP-CAMP funcionaria como uma
calçadeira: na ausência de pedra na ponta da bota (repressor) a calçadeira (CAP-
CAMP) facilitaria muito a entrada do pé (RNApol) na bota (promotor). Este curioso
mecanismo de controle positivo do operon lac também foi observado em diversos
outros operons bacterianos. Qual seu objetivo, afinal? A explicação é simples:
quando a bactéria não tem glicose para degradar, ela passa por um processo de
“fome” celular, com consequente aumento dos níveis de CAMP celulares. Este
CAMP se liga à proteína CAP, permitindo uma expressão aumentada de todos os
operons que são responsáveis pela degradação de açúcares e outros produtos
energéticos. A figura a seguir ilustra e comenta o fenômeno da "indução" da
expressão pelo consumo da glicose.

Figura 4: Controle do operon lac pela proteína CAP

P.: Quando se adicional lactose ao meio de cultura da bactéria E. coli, há um


aumento da produção de b-galactosidase, mas de apenas 10X. Somente depois de
alguns minutos é que a produção de b-gal dispara para 100.000 X o valor final.
Como se explica isso, que está representado no gráfico?
64

R: O fenômeno pode ser explicado pela conversão do promotor lac de fraco em


forte. Na natureza, o promotor deste operon em E. coli é fraco, isto é, mesmo
quando liberado, ele não será sempre reconhecido pela RNApol.
Consequentemente, a expressão dos genes do operon vai ser discreta. Assim que
adicionamos lactose ao meio de cultura (que tinha uma pequena fração de glicose,
sem que os experimentadores se dessem conta disso), o promotor é liberado, pois
os repressores que estavam ligados ao operador são retirados. Mas sendo o
promotor fraco, o aumento de expressão é de apenas 10X. Após um intervalo de
tempo (Dt) a glicose residual presente no meio de cultura é degradada, o que faz
com que a concentração do CAMP da célula comece a aumentar (indicando a fome
celular). O CAMP se liga a uma proteína citosólica denominada CAP, e o complexo
CAP-CAMP vai ligar-se ao DNA bacteriano um pouco acima do promotor lac (em
torno da posição -45). Assim que isso ocorre, o promotor converte-se de fraco em
forte, obrigando a toda RNApol que passar por ele a transcrever uma fita de RNA. O
resultado é a produção explosiva de b-galactosidase, que vai ser usada para
degradar e aproveitar rapidamente a lactose do meio, "matando a fome" da bactéria.
Enfim, o gráfico demonstra a conversão de um promotor fraco num promotor forte e
a predileção da E. coli pela glicose como fonte de energia.

Que importância tem o operon lac na genética molecular? Muitos dos vetores
de expressão, sejam eles fagos ou plasmídeos, empregados em engenharia
genética, têm o gene clonado sob o controle de um promotor/operador lac. Este
sistema propicia o controle da expressão do gene clonado através da adição de um
análogo da lactose, o IPTG (isopropiltiogalactosídeo). Este produto é muitas vezes
mais efetivo que a lactose na indução da expressão do operon lac, além de não ser
degradado. Veremos mais adiante como podemos tirar vantagem destas
construções artificiais de genes para a produção de proteínas recombinantes.

O operon triptofano (operon tryp):

A biossíntese de aminoácidos é um processo muito caro em termos


energéticos. Por isso, quando há, por exemplo, triptofano disponível no meio de
cultura, a Escherichia coli imediatamente cessa de produzir as enzimas necessárias
à biossíntese do aminoácido. O processo é alcançado pela ativação de um repressor
solúvel que, na ausência de triptofano, é inativo.
A ativação é feita, compreensivelmente, pelo próprio triptofano que assim,
estando presente, bloqueia sua própria síntese endógena. A figura abaixo
representa este processo. Quando a concentração de triptofano diminui muito, o
complexo repressor-triptofano se desfaz e o operon é ativado. A figura mostra de
forma esquemática que o operon tem uma região que antecede os genes da via
65

biossintética propriamente ditos, trypE, trypD, trypC, trypB e trypA. Esta sequência é
conhecida como sequência líder e tem um papel fundamental no processo que será
discutido mais adiante, chamado atenuação. Observe que cada gene inicia com um
códon ATG e termina com um códon TGA (ou qualquer dos outros dois códons de
parada).

Figura 5: Esquema representativo do controle da transcrição dos genes para as enzimas


responsáveis pela síntese de triptofano na E. coli, no nível de repressão do operador. O repressor é
inativo logo após sua síntese e necessita do triptofano para ativar-se. Quando isto ocorre, ele se liga
ao operador , impedindo a ligação da RNApol ao sítio promotor P tryp e bloqueando a transcrição. O
processo de transcrição é de novo liberado quando a concentração citosólica de triptofano é
insuficiente para garantir a ativação das moléculas do repressor.

Pela primeira vez ao longo deste texto enfatizamos a presença de uma


sequência que antecede a região a ser traduzida, representada na figura pela sigla
SD. É a sequência de Shine-Delgarno, ou sítio ligador de ribossomos (RBS) da E.
coli. Os demais procariotos têm estruturas muito semelhantes e os eucariotos não
são muito diferentes neste aspecto. A subunidade leve do ribossomo, ainda antes
de agregar-se à subunidade pesada, associa-se ao mRNA através desta sequência
e desliza no sentido 3´ até alcançar o primeiro códon AUG. De acordo com o
conhecimento atual o tRNA para formil-metionina (nos procariotos) também se liga à
sub-unidade leve associada ao mRNA, ainda no RBS, e é ele que determina a
parada do complexo "sub-unidade leve-tRNA" no primeiro códon AUG (que o
anticódon do tRNA para metionina reconhece). À frente de todo gene ou região que
será traduzida (como a parte da sequência líder do operon triptofano, da qual
falaremos em breve, que dá origem a um peptídeo líder) deve haver fatalmente um
RBS, como mostrado na figura acima e nas demais abaixo, neste sub-item, sem o
66

que não haverá síntese proteica. A existência de um RBS entre genes de um mRNA
policistrônico é a forma pela qual a natureza garante a tradução do gene após a
liberação das duas sub-unidades do ribossomo quando termina a tradução do gene
anterior.
Uma vez liberado o operador, há a transcrição imediata do DNA. O RNA
produzido inicia-se pelas 4 sequências representadas em vermelho, que têm uma
particularidade interessante: podem parear duas a duas, 1 com 2, 2 com 3 ou 3 com
4, formando sempre grampos. Apenas o grampo 3-4 é um grampo de terminação,
pois é seguido de um poli-U. Por outro lado, apenas a primeira sequência possui
códons para triptofano (dois seguidos, neste caso). Para que existe esta sequência-
líder à frente dos genes da via biossintética? Como veremos a seguir, ela serve para
interromper precocemente a síntese de RNA caso ainda haja algum triptofano no
citosol bacteriano, insuficiente para ativar o repressor mas suficiente para garantir a
produção de proteínas. O que a bactéria mede com este sistema? A concentração
de tRNA carregado com triptofano, que é exatamente o "precursor" deste
amonoácido necessário à cadeia polipeptídica nascente.
A figura a seguir mostra a situação em que a quantidade de triptofano na
célula é tão reduzida que não há tRNA carregado com triptofano disponível para a
síntese proteica.

Figura 6:Esquema representativo do controle da transcrição dos genes para as enzimas


responsáveis pela síntese de triptofano na E. coli, no nível de atenuação. A parada dos ribossomos
sobre a região 1 (I) permite o pareamento das regiões 2 e 3 (II) que, distantes do poli-U que sucede a
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região 4, não configuram um grampo de terminação. A transcrição progride (III), dando ao final a
síntese das 5 enzimas que formam a via biossintética do triptofano.

A síntese do mRNA inicia-se assim que o operador é liberado.O ribossomo se


liga à sequência de Shine Delargno acima (5´) da região 1 e desliza até encontrar o
primeiro AUG. Ao entrar na região 1 o ribossoma vai encontrar dois códons para
triptofano. Na situação prevista nesta figura não há tRNA carregado com triptofano.
A síntese protéica pára. A síntese de RNA continua, pois é independente destes
fatores, transcrevendo as regiões 2 e 3, que pareiam entre si, já que a região 1 está
protegida contra pareamentos pelos ribossomos que a estão cobrindo. Em seguida a
RNApol transcreve a região 4 e a sequência poli-A, dando origem a uma sequência
poli-U. Este poli-U está muito distante do grampo 2-3 formado anteriormente e não
configura um grampo de terminação. A síntese de RNA, portanto, avança pela
região dos genes da biossíntese do triptofano e termina por permitir a síntese das 5
enzimas da via biossintética. Todo este processo faz sentido nesta situação, pois
não há definitivamente triptofano suficiente para garantir a síntese das proteínas
pela bactéria.
Ao contrário, quando há ainda um pouco de triptofano, insuficiente para ativar
o repressor mas suficiente para garantir a síntese proteica, o pareamento das
sequências que compões a sequência-líder muda. A figura seguinte representa esta
nova situação.

Figura 7: Esquema representativo do controle da transcrição dos genes para as enzimas


responsáveis pela síntese de triptofano na E. coli, no nível de atenuação. A cobetura das regiões 1 e
2 pelos ribossomos, na presença de tRNA carregado com triptofano no citosol bacteriano, permite o
pareamento das regiões 3 e 4 que, próximas do poli-U que sucede a região 4, configuram agora um
grampo de terminação. A transcrição é encerrada precocemente, não dando origem à síntese das 5
enzimas que formam a via biossintética do triptofano.
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Nesta nova situação a quantidade de triptofano é muito pequena, porém


suficiente para garantir a presença de tRNAs carregados com triptofano no citosol.
Com isto, os ribossomos não param sobre a região 1 e progridem para a região 2,
quando a RNA polimerase está transcrevendo a região 3. Antes que toda a tradução
da região 2 seja, feita a RNApol já transcreveu a região 4 e formou o poli-U, o que
dá origem ao grampo de terminação mostrado na figura acima. ativado. É bom
relembrar que as regiões 1 e 2 não podem parear pois estão recobertas e protegidas
pelos ribossomos engajados na síntese do peptídeo líder. Quando este fenômeno
acontece, a síntese de RNA é encerrada antes da transcrição dos genes da via
biossintética, e nenhuma enzima da via será produzida. De fato, a atenuação da
transcrição economiza energia da bactéria, que não precisa sintetizar enzimas para
a produção de um aminoácio que ela ainda dispõe, embora em pequena quantidade.
O mesmo mecanismo descrito para o triptofano é empregado em outras vias
biossíntéticas de aminoácidos. A razão parece ser o alto custo energético destas
vias. A Natureza criou com este sistema uma forma de discriminar entre pouco e
insuficiente, contornando a forma tosca com que o sistema repressor/operador
controla a expressão gênica (lembre-se de que o repressor se desliga
ocasionalmente do operador, dando origem ao vazamento, que é importante para a
expressão gênica, particularmente ao disparo de certos operons, como o lac). É
possível que se um sistema de repressão simples como o das bactérias fosse
"regulado" para não ser aberto ou fechado senão em circunstâncias extremas, ele
jamais funcionaria, ficando sempre fechado ou sempre aberto, conforme o caso.

Câncer

Chamamos de câncer uma classe a qual pertencem mais de 100 doenças,


que tem como característica básica o crescimento desordenado e irregular de
células do corpo, que invadem outros tecidos (conjunto de células) e podem
espalhar-se para outras regiões do organismo (metástase).
Em condições normais as células do nosso corpo crescem e se reproduzem
por um processo conhecido como divisão celular, onde uma célula se divide e dá
origem a duas células idênticas (mitose), este processo é o responsável pela
reposição de células mortas, regeneração dos tecidos saudáveis do corpo ou pelo
crescimento do indivíduo. Porém existem situações em as células sofre uma
69

mutação e tornam-se cancerosas, essas células perdem a sua função e começam a


se multiplicar rapidamente, invadindo e colonizando áreas reservadas para outras
células. Esse crescimento celular descontrolado origina um novo tecido celular, que
recebe o nome de tumor. O tumor está divido em duas classes:

Tumor benigno – as células que crescem e se multiplicam, não tem a


capacidade de invadir outros tecidos.
Tumor maligno – é o tumor formado células cancerosas que tem a
capacidade de formar novos vasos sanguíneos, que as nutrirão e assim elas
continuarão a crescer e se multiplicar desordenadamente. Através dessa
multiplicação essas células invadem e destroem os tecidos celulares vizinhos.

As células cancerosas são menos especializadas do que as células sadias do


nosso corpo e por isso ao invadirem os tecidos e começarem a substituir as células
normais, os tecidos começam perder suas funções debilitando o órgão e tornando-o
suscetível a infecções. Essas células cancerosas também podem chegar ao interior
de um vaso sanguíneo ou linfático e se espalhar para outros órgãos dando origem a
outros tumores em locais diferentes. Esse processo de disseminação das células
cancerosas no corpo recebe o nome de metástase.
Existem mais de cem formas de câncer, que são classificadas de acordo com
a sua origem. A divisão principal inclui grandes grupos, os quais se subdividem de
acordo com a região do corpo e o tipo específico de célula que dá origem ao câncer.
Assim, temos quatro grandes grupos: carcinomas, que correspondem aos
cânceres originados a partir de células epiteliais; sarcomas, que são os cânceres
originados a partir do tecido conjuntivo ou muscular; cânceres do sistema linfático
ou hematopoético; e cânceres do sistema nervoso central.
Causas: O câncer não é uma doença contagiosa, ele pode se desenvolver
em qualquer pessoa independente de idade e condição social, mas existem alguns
fatores que podem colaborar com o seu surgimento:

- Pré-disposição genética – pessoas com histórico de câncer na família;


- Tabagismo – os fumantes tem mais possibilidades de desenvolverem a
doença no pulmão, boca ou garganta;
- Consumir bebidas alcoólica em excesso, aumenta as possibilidades dessa
doença no estômago ou boca;
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- Ficar exposto ao sol excessivamente sem a devida proteção, pode


desencadear câncer de pele;
- Distúrbio hormonal – provoca câncer de mama;
- Exposição à radiações – pode causar a leucemia;
- HPV (papillomavirus humano) – é um vírus que causa verrugas genitais está
associado ao desenvolvimento do câncer do colo uterino;
- Hábitos alimentares inadequados, uma vida estressante e a exposição a
alguns fatores como poluição, fumaça também estão relacionados com o surgimento
dessa doença.
Tratamento: O tratamento depende do tipo de câncer, do grau de metástase
e de características individuais do paciente, como idade e histórico médico.
Basicamente, existem três opções: a radioterapia, a quimioterapia e
as intervenções cirúrgicas. Muitas vezes, utiliza-se uma combinação dessas três
técnicas. Porém, nem sempre esses tratamentos conseguem eliminar
completamente o tumor e as metástases.
A radioterapia consiste na utilização de radiação para eliminar as células
cancerígenas e impedir a sua proliferação pelo organismo. A radiação interfere no
DNA da célula cancerígena, impedindo seu processo de divisão ou determinando a
morte celular, quando esse processo se inicia. Atualmente, existem métodos
computadorizados para a aplicação da radiação, de forma que se atinja
precisamente o tumor, aumentando a probabilidade de sua eliminação.
Na quimioterapia são utilizados medicamentos administrados por via oral, de
aplicação tópica ou através de injeções intravenosas, subcutâneas, ou no liquor da
medula espinhal. Através da circulação sanguínea ou da simples difusão, os
quimioterápicos se espalham por todo o organismo e atingem as células
cancerígenas. As substâncias contidas nesses medicamentos prejudicam a divisão
ou causam a morte celular programada (apoptose). Assim, dificultam o crescimento,
principalmente, das células que se multiplicam rapidamente.
A quimioterapia possui a vantagem de atingir as células tumorais em todas as
regiões do corpo. Porém, pode afetar também outras células de crescimento rápido,
como as células epidérmicas, sanguíneas e do epitélio do sistema digestivo. Dessa
forma, alguns dos possíveis efeitos colaterais do tratamento são: queda de cabelo,
diminuição do número de células sanguíneas e disfunções do aparelho digestivo.
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Em diversos casos o tumor é removido cirurgicamente e, em seguida, é


realizado o tratamento através da radioterapia ou da quimioterapia, ou ainda da
combinação entre ambas. Em alguns casos, também pode ser realizado o
transplante do órgão ou tecido afetado. É o caso do transplante de medula óssea
realizado em alguns pacientes com leucemia, um tipo de câncer que ataca os
glóbulos brancos do sistema imunológico.
Prevenção: Muitos tipos de câncer podem ser combatidos através de
medidas preventivas. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a adoção de
hábitos de vida saudáveis - como uma alimentação balanceada, rica em vegetais, e
a prática regular de exercícios - pode contribuir para a redução, ao menos, de 40%
da chance de desenvolvimento de alguns tipos de câncer.
Não fumar ou parar de fumar é outro fator muito importante na prevenção,
pois, muitos casos de câncer - por exemplo, de boca ou de pulmão - são provocados
pelas substâncias tóxicas encontradas no cigarro.
Os raios UVA presentes na radiação solar são capazes de penetrar em
camadas profundas da epiderme, danificando-a e favorecendo o surgimento do
câncer de pele. Assim, devemos evitar a exposição ao sol entre 10 e 16 horas, e
utilizar sempre proteções adequadas como filtro solar, chapéu e óculos escuros.
Para pessoas que trabalham ao ar livre e não podem evitar o sol nesse período
recomenda-se, além das proteções relacionadas acima, a utilização de roupas que
protejam ao máximo a pele, como calças e camisas de manga comprida.
Porém, a prevenção de tumores com origem genética só é possível através
do diagnóstico precoce. Para tanto, é importante a realização de exames de rotina e
também de exames específicos, no caso de pacientes com histórico familiar de
algum tipo de câncer. Por exemplo: mulheres a partir dos 25 anos devem realizar o
exame ginecológico preventivo (Papanicolau) para diagnosticar o câncer de colo de
útero; e, a partir dos 40 anos, devem realizar mamografias periódicas para
diagnosticar a presença de câncer de mama.
Para os homens, recomenda-se a realização de exames para detectar a
presença de câncer de próstata a partir dos 50 anos. Cabe lembrar que, para
pacientes com históricos familiares de câncer de mama ou próstata, a idade para o
início desses exames é menor. Para aqueles com histórico de algum outro tipo de
câncer, a realização de exames específicos, como a colonoscopia, também é
recomendável.
72

Microscópio Óptico

O microscópio é um instrumento utilizado para ampliar e observar estruturas


pequenas dificilmente visíveis ou invisíveis a olho nu. O microscópio óptico utiliza
luz visível e um sistema de lentes de vidro que ampliam a imagem das amostras.
Os primeiros microscópios ópticos datam de 1600, mas é incerto quem terá
sido o autor do primeiro. A sua criação é atribuída a vários inventores: Zacharias
Janssen, Galileu Galilei, entre outros. A popularização deste instrumento, no
entanto, é atribuída a Anton van Leeuwenhoek.
Os microscópios ópticos são constituídos por uma componente mecânica de
suporte e de controlo da componente óptica que amplia as imagens. Os
microscópios atuais que usam luz transmitida partilham os mesmos componentes
básicos:

Microscópio óptico
1. Lentes oculares
2. Revólver
3. Lentes objetivas
4. Parafuso macrométrico
5. Parafuso micrométrico
6. Platina
7. Foco luminoso (lâmpada ou espelho)
8. Condensador e diafragma
9. Braço

Componentes mecânicos:

 pé ou base – apoio a todos os componentes do microscópio


 braço – fixo à base, serve de suporte às lentes e à platina
 platina – base de suporte e fixação da preparação, tem uma abertura central
(sobre a qual é colocada a preparação) que deixa passar a luz. As pinças ajudam
à fixação da preparação. A platina pode ser deslocada nos microscópios mais
modernos, nos antigos tinha que se mover a própria amostra, segura pelas
pinças.
 revólver – suporte das lentes objetivas, permite trocar a lente objetiva rodando
sobre um eixo
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 tubo ou canhão – suporta a ocular na extremidade superior


 parafuso macrométrico – permite movimentos verticais da grande amplitude da
platina
 parafuso micrométrico – permite movimentos verticais lentos de pequena
amplitude da platina para focagem precisa da imagem

Componentes ópticos:
 condensador – sistema de duas lentes (ou mais) convergentes que orientam e
distribuem a luz emitida de forma igual pelo campo de visão do microscópio
 diafragma – regula a quantidade de luz que atinge o campo de visão do
microscópio, através de uma abertura que abre ou fecha em diâmetro
(semelhante às máquinas fotográficas)
 fonte luminosa – atualmente utiliza-se luz artificial emitida por uma lâmpada
incluída no próprio microscópio com um interruptor e algumas vezes com um
reóstato que permite regular a intensidade da luz. Os modelos antigos tinham um
espelho de duas faces: a face plana para refletir luz natural e a face côncava
para refletir luz artificial.
 lente ocular – cilindro com duas ou mais lentes que permitem ampliar a imagem
real fornecida pela objetiva, formando uma imagem virtual mais próxima dos
olhos do observador. As oculares podem ser de diferentes ampliações sendo a
mais comum de 10x. A imagem criada pela ocular é ampliada, direita e virtual.
 lente objetiva – conjunto de lentes fixas no revolver, que girando permite alterar
a objetiva consoante a ampliação necessária. É a lente que fica mais próxima do
objeto a observar, projetando uma imagem real, ampliada e invertida do mesmo.
As objetivas secas, geralmente com ampliação de 10x, 40x e 50x, são assim
designadas porque entre a sua extremidade e a preparação existe somente ar.
As objetivas de imersão (ampliação até 100x), pelo contrário, têm a sua
extremidade mergulhada em óleo com o intuito de aumentar o poder de
resolução da objetiva: como o índice de refracção de óleo é semelhante ao do
vidro o feixe de luz não é tão desviado para fora da objetiva.

Funcionamento:

A intensidade da luz pode ser regulada diretamente através do reóstato que


atua na própria fonte luminosa ou indiretamente através do condensador e do
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diafragma: a intensidade aumenta de se subir o condensador e abrir o diafragma e


diminui se se descer o condensador e fechar o diafragma.
A ampliação – número de vezes que a imagem é aumentada em relação ao
objeto real – é função conjunta do poder de ampliação da objetiva e ocular
utilizadas. A ampliação total é o produto da ampliação da objetiva pela ampliação da
ocular (exemplo, ampliação da ocular 10x, ampliação da objetiva 20x, ampliação
total é 10 x 20 = 200x.
A imagem observada depende também do poder de resolução, isto é, a
capacidade que as lentes têm de discriminar objetos muito próximos. O poder de
resolução depende do comprimento de onda da luz utilizada, e o seu valor teórico
para um microscópio óptico é de cerca de 0,2 µm – ou seja, dois objetos têm de
estar pelo menos a uma distância um do outro de 0,2 µm para poderem ser
discriminados ao microscópio óptico. Este valor, contudo, só é alcançável com lentes
de elevada qualidade e preço!
A preparação é colocada na platina e fixa com o auxílio das pinças. Com os
parafusos existentes na platina move-se a preparação até esta estar sobre a
abertura por onde passa a luz. Olhando através da ocular (monocular ou binocular,
respectivamente com uma ou duas lentes) e com a objetiva de menor ampliação
foca-se a imagem, preferencialmente no centro do campo de visão, utilizando os
parafusos macrométrico e micrométrico. Após esta primeira focagem, podem-se
utilizar objetivas de maior poder de ampliação, de forma sequencial repetindo todo o
processo já descrito. A imagem final observada será ampliada, virtual e invertida.
Dependendo do microscópio, em alguns casos, a imagem final pode ser direita e
não invertida.

Imagens obtidas por uma lente objetiva e ocular a partir de uma preparação com a letra F.
As posições relativas da letra F são como se observariam ao microscópio.
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REFERÊNCIAS

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