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16/09/2023, 23:07 Introdução à Biologia Molecular

Introdução
à Biologia
Molecular
Prof. Eldio Gonçalves dos Santos

Descrição

A construção história da Biologia Molecular e seu emprego no estudo


das moléculas presentes nas células responsáveis pela manutenção da
vida, como o DNA, o RNA e as proteínas.

Propósito

Compreender como o RNA e o DNA foram descobertos e a importância


dessas moléculas para as células procariontes e eucariontes.

Objetivos

Módulo 1

A origem da vida e a organização gênica nos


organismos

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Descrever a história da Biologia Molecular, a origem da vida e a


organização gênica nos organismos.

Módulo 2

Mecanismos de regulação da expressão


gênica
Reconhecer alguns dos mecanismos de regulação da expressão
gênica nos procariotos e eucariotos.

meeting_room
Introdução
A Biologia Molecular é a área da Biologia que estuda as
moléculas presentes nas células responsáveis pela manutenção
da vida. Vamos iniciar nosso aprendizado sobre, possivelmente,
as moléculas mais importantes para a existência da vida na
Terra: os ácidos nucleicos RNA e DNA. Você sabia que até
mesmo os vírus, microrganismos intracelulares obrigatórios,
apresentam ácidos nucleicos? Não existe sequer um ser vivo que
não tenha moléculas de RNA ou DNA.

Vamos explorar um breve histórico sobre como começaram os


estudos da Biologia Molecular, passando pela provável origem da
vida na Terra, conhecendo as estruturas e composições dos
ácidos nucleicos e observando como é dada a organização deste
material em diferentes seres vivos. Aprenderemos alguns dos
mecanismos de regulação gênica dos procariotos e os eucariotos
e, por fim, noções de epigenética.

Vamos juntos?

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1 - A origem da vida e a organização gênica nos organismos


Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a história da Biologia Molecular, a origem
da vida e a organização gênica nos organismos.

Histórico da biologia molecular


Nosso histórico começa em 1869 com um bioquímico suíço chamado
Johannes Friedrich Miescher.

Em seus estudos, ele buscava determinar quais os componentes


químicos que existem dentro dos glóbulos brancos (leucócitos),
presentes no pus de feridas, que, de modo geral, possuem um núcleo
grande e bem definido.

No interior desse núcleo, ele observou uma grande quantidade de um


composto ácido que continha átomos de nitrogênio e fósforo,
nomeando-o de nucleína por estar localizado no núcleo. Mal ele sabia
da importância desta descoberta!

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Friedrich Miescher.

Glóbulos brancos
Receberam esse nome devido às características físicas do sangue
após a centrifugação, que apresentam uma camada fina de células
brancas, compostas pelos leucócitos.

Diversos outros cientistas continuaram investigando o tal composto


nucleína, entre eles Albrecht Kossel, que em 1880 demonstrou que na
nucleína existiam diferentes bases nitrogenadas. Richard Altmann em
1889 conseguiu purificar a nucleína e nomeou o purificado de ácido
nucleico. Com o tempo, os ácidos nucleicos foram ainda mais
estudados, pareciam muito importantes já que praticamente todas as
células possuíam esse material. Foram descobertas quatro diferentes
bases nitrogenadas, as bases púricas: adenina e guanina e as bases
pirimídicas: citosina e timina, todas com um glicídio desoxirribose.

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Nucleotídeo, contendo a base nitrogenada, o fosfato e a pentose.

Essas bases podiam estar ligadas entre si, sempre obedecendo a um


padrão, onde a adenina se associava à timina por 2 ligações de
hidrogênio e a guanina se associava à citosina por 3 ligações, sendo
esta interação a mais estável devido à maior quantidade de ligações.

Bases nitrogenadas e suas interações por ligação de hidrogênio. O grupamento R nas riboses
consiste em um OH e nas desoxirriboses de um H.

Entretanto, havia um fato curioso: a presença de uma base diferente,


chamada de uracila, em alguns desses materiais. Essa base
apresentava uma ribose no lugar da desoxirribose e se ligava à timina
no lugar da adenina. As moléculas que continham desoxirribose foram
nomeadas de ácido desoxirribonucleico (ADN), em inglês
Deoxyribonucleic Acid, o famoso DNA. As moléculas com ribose como
glicídio foram nomeadas de ácido ribonucleico (ARN), em inglês
Ribonucleic Acid, conhecido como RNA.

Ribose
Aldopentose (apresenta um grupo funcional aldeído), com cinco
átomos de carbono (pentose) e um grupamento hidroxila (-OH) na

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posição 2.

Todas as bases nitrogenadas.

Vamos agora juntar todos os conceitos estabelecidos para entendermos


como é a estrutura do DNA e do RNA. Um nucleotídeo é um conjunto
formado por uma base nitrogenada, que pode ser uma purina ou
pirimidina. Dentre as purinas, temos a adenina e a guanina; entre as
pirimidinas, temos a citosina e a timina, no caso de uma molécula de
DNA, e o uracil(a), no caso de uma molécula de RNA. A ligação entre as
bases é realizada entre a molécula de açúcar, de uma ribose para o RNA
ou uma desoxirribose para o DNA, com o grupamento fosfato da base
adjacente, na ligação conhecida como ligação fosfodiéster.

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Ligação fosfodiéster entre nucleotídeos da mesma fita de DNA.

A estrutura do DNA encontra-se em fita dupla. A união entre as duas


fitas se dá por ligações de hidrogênio entre as bases nitrogenadas,
como demonstrado. Vamos voltar para a nossa história!

Em 1953, uma dupla de cientistas, James Watson e Francis Crick,


publicou um artigo na revista Nature chamado de Molecular Structure of
Nucleic Acids. Eles eram contrários às ideias que existiam na época a
respeito da estrutura do DNA. Entre os modelos antigos, o que mais se
destacou foi o Modelo de Linus Pauling; ele acreditava que o DNA era
interligado pelos grupamentos fosfatos, formando uma coluna. Watson
e Crick, baseados em uma foto tirada por Rosalind Franklin, propuseram
uma nova estrutura para essa molécula. A estrutura era uma dupla
hélice, com as bases nitrogenadas purinas se ligando às pirimidinas no
centro da hélice espiralada, sendo muito parecida com a que usamos
até hoje.

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Foto de raios X tirada por Rosalind Franklin, responsável pelas conclusões de Watson e Crick.

Modelo de Linus Pauling


Modelo de estrutura de uma molécula de DNA proposta por Linus
Pauling. Essa proposta atualmente é considerada obsoleta.

Foto
É tirada utilizando difração de raios X, técnica onde um feixe de raios
atravessa uma molécula cristalizada e mancha um filme atrás,
revelando assim uma imagem por onde esses raios X foram
difratados. É semelhante aos nossos raios X atuais de ossos, mas
com pequenas moléculas.

Com a estrutura do DNA resolvida e com o conhecimento sobre a


química dessas moléculas, faltava agora entender a atuação e a
organização delas nas células e por que eram tão importantes. Ao longo
dos anos, o conhecimento sobre o DNA e o RNA vem crescendo. Hoje,
com técnicas de sequenciamento do DNA, podemos, por exemplo, ver

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rapidamente se algum indivíduo possui propensão a determinado


câncer analisando a sua sequência de DNA. Estamos começando a ter
mais segurança na edição genética, e um dia poderemos curar doenças
que ainda nem se manifestaram.

Atualmente, podemos quantificar esse material genético que


expressamos para diagnosticar doenças, como a covid-19, e modificar
outros organismos para que produzam nossas proteínas. É dessa forma
que algumas das insulinas vendidas na farmácia são produzidas.
Existem inúmeras possibilidades decorrentes do desenvolvimento da
Biologia Molecular.

A origem da vida
A origem da vida sempre despertou curiosidade. Ao longo dos anos,
existiram diversas teorias, algumas se provaram erradas e outras se
mantêm até hoje.

Você imagina como a vida começou? Vamos conhecer um


pouco dessas teorias?

Sabemos que átomos podem fazer ligações de maneira espontânea


desde que estejam em um ambiente favorável e tenham afinidade um
pelo outro, ou seja, ao se ligarem, encontram estabilidade, assim são
construídas as moléculas. Dentre as teorias existentes, uma delas, a
teoria de Oparin e Haldane, era justamente a ideia da formação
espontânea de pequenas moléculas orgânicas, as quais, com o tempo,
passaram a se organizar de maneira cada vez mais complexa até se
replicarem e evoluírem, formando as células primitivas.

Em 1953, Stanley Miller tentou provar que era possível existir a criação
espontânea de moléculas orgânicas na Terra, desde que o ambiente
fosse favorável. Ele fez um experimento simulando como possivelmente
era a atmosfera primitiva da Terra, cerca de 4 bilhões de anos atrás. No
seu experimento, tinham moléculas, como gás hidrogênio, metano e
vapor de água, que eram bastante comuns no ambiente primitivo. Esses
gases, na presença de uma descarga elétrica, como um raio, ligavam-se
formando diversas moléculas orgânicas, dentre elas os aminoácidos
alanina, glicina e ácido aspártico.

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Experimento de Miller.

A teoria de Oparin e Haldane continuou ganhando relevância à medida


que novos estudos foram realizados, dentre eles os estudos do geólogo
Michael Russell. Russell demonstrou que existem fontes de águas
termais no fundo dos oceanos aquecidas pelo manto da Terra, que
jorram água alcalina. Essas fontes são ricas em minérios de ferro, níquel
e enxofre dissolvidos. A reação desses minérios com o gás carbônico,
hidrogênio reativo e moléculas de água é capaz de produzir compostos
orgânicos, como hidrocarbonetos e até mesmo nucleotídeos.

Uma das descobertas mais incríveis sobre essas fontes termais são as
reações químicas que lá ocorrem e como a geração dessas moléculas
orgânicas acontece. As fontes termais são ricas em minerais, sendo
assim, possuem um elemento que pode ser oxidado, como o ferro. O
elétron oriundo da oxidação é carregado pelos núcleos metálicos
desses minerais até chegar ao aceptor final de elétrons, este pode ser o
monóxido ou o dióxido de carbono, que vai ser reduzido gerando a
energia necessária para a confecção das moléculas orgânicas.

Você já ouviu falar de um mecanismo parecido com esse


anteriormente, onde um elétron percorre uma cadeia até
chegar ao seu aceptor gerando energia?

Exatamente! É de maneira muito semelhante a esta que diversos seres


vivos produzem energia como nós. Esse mecanismo ocorre durante a
fosforilação oxidativa nas mitocôndrias, etapa metabólica da nossa
respiração celular. Isso mostra um elo entre todos os nossos ancestrais,
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fortalecendo a hipótese de que a vida se originou dessas fontes de


águas termais há muitos anos.

No entanto, ainda temos diversas perguntas para serem respondidas.


Hoje, essa é a teoria melhor aceita para a origem da vida.

Fonte termal vulcânica, a possível origem da vida.

A teoria da panspermia surgiu a partir da observação de compostos


orgânicos presentes em meteoritos e ganhou força a partir de 1997 com
a análise do Meteorito de Muchinson. Os pesquisadores encontraram
diversos aminoácidos e adenina, presente no nosso DNA, que datavam
de aproximadamente 7 bilhões de anos, sendo assim mais antigos que
nosso próprio planeta, que possui cerca de 4,5 bilhões de anos. Apesar
de muito interessante, essa teoria não possui evidências científicas
suficientes para explicar a origem da vida no nosso planeta, diferente da
teoria de Oparin e Haldane.

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Meteorito de Muchinson.

Entretanto, é muito interessante imaginar que, em outros lugares do


Universo, existem compostos orgânicos e quem sabe até mesmo vida.

Essas amostras extraterrestres evidenciaram também que é possível a


criação de matéria orgânica, incluindo bases presentes no DNA e no
RNA. Em um mundo onde existiam alguns nucleotídeos, aminoácidos e
hidrocarbonetos, essas moléculas começaram a interagir entre si,
formando cadeias cada vez mais complexas, ligações entre diferentes
nucleotídeos formaram os primeiros RNAs e ligações entre diferentes
aminoácidos formaram os oligopeptídeos.

A interação entre os oligopeptídeos e o RNA leva a benefícios mútuos,


gerando, por exemplo, estabilidade na estrutura de ambos, originando
maiores quantidades de determinadas estruturas.

Imagine essas diversas interações por milhares e milhares de anos, é


natural que, com o tempo, estruturas mais complexas se formem e se
mantenham. Hoje, temos o conhecimento que tanto o RNA quanto
pequenos peptídeos conseguem realizar reações químicas com
diversas funções (neurotransmissores, hormônios, regulação gênica
etc). Recentemente, foi descoberto que o RNA seria capaz até mesmo

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de se autorreplicar, gerando outras moléculas de RNA também capazes


de se autorreplicarem, assim a evolução poderia acontecer ainda mais
rápido, isso é o chamado “Mundo RNA”.

Naquele mesmo ambiente, existiam outros compostos orgânicos, como


os primeiros lipídeos oriundos dos hidrocarbonetos formados.

Você já jogou um pouco de óleo na água? Sabe que não se


misturam, certo?

Isso se dá a partir da característica anfipática dos lipídeos que, em um


ambiente aquoso, tendem a formar micelas, estruturas circulares
formadas naturalmente devido à forma que interagem com a água,
expondo a parte hidrofílica e escondendo a parte hidrofóbica da água.

Hidrofílica
Regiões polares de determinada molécula, que tendem a interagir
com a água. “Hidro” deriva de água e “fílica” deriva de amizade.

Hidrofóbica
Regiões apolares de determinada molécula, que não interagem com
a água. “Fóbica” deriva de medo.

Atenção!

Nem todos os lipídeos possuem características anfipáticas, portanto


nem todos são capazes de formar estruturas de micelas. Dos lipídeos
anfipáticos, o mais importante na formação da membrana celular é o
fosfolipídeo.

Desse modo, esses lipídeos formavam grandes micelas, originando


“membranas” celulares rudimentares com moléculas de RNA em seu
interior, surgindo as primeiras células primitivas, com material genético
com capacidade replicativa. Hoje, grande parte dos seres vivos ainda
possui seu material genético disperso no citoplasma, o que chamamos
esses organismos de procariontes ou procariotos.

É importante ressaltar que, ao longo dos anos, o mundo RNA evoluiu, o


DNA, constituído de uma dupla fita, é mais estável que o RNA. Sendo
assim, possui uma maior confiabilidade para armazenar informações de
determinado ser vivo e tem as informações responsáveis pela
manutenção da vida. O DNA passa pelo processo de transcrição, que dá
origem a um RNA mensageiro (RNAm), este pode ser traduzido e passa
a ser uma proteína, unidade que vai realizar as funções que a célula

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precisa, como catalisar reações, servir para replicar o DNA, formar


estruturas etc.

Possível estrutura das primeiras células da Terra.

video_library
Entendendo melhor como a vida pode
ter surgido
Confira agora um pouco mais das teorias relacionadas com a origem da
vida e reflita sobre as que apresentam maior evidência científica.

Organização do material genético em


procariotos
Os procariotos são os organismos mais antigos da Terra. Todos são
unicelulares e não possuem um núcleo organizado, ou seja, o seu
material genético, o DNA, não é separado por uma membrana nuclear,
chamada de carioteca, muito parecido com as primeiras células
encontradas no nosso planeta. Esses organismos são os mais simples
e toda a sua expressão gênica é diferente da nossa. Nós, seres
humanos, pertencemos ao grupo dos eucariontes, pois temos o material
genético separado do citoplasma pela carioteca.

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Expressão gênica
Processo em que uma informação contida no DNA é transcrita e
traduzida para a formação de proteínas. A proteína é a expressão da
informação presente no DNA.

Núcleo disperso nas células procariontes e núcleo compartimentado pela carioteca nas células
eucariontes.

Antes de falar da organização do material genético dos procariotos,


vamos conhecer alguns conceitos básicos para lembrarmos de certas
nomenclaturas:

O gene

É um segmento codificante do DNA, ou seja, de fato, será


transcrito e traduzido.

O cromossomo

É uma estrutura formada por uma molécula de DNA altamente


compactada e associada a proteínas auxiliadoras, que ajudam

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a compactar e descompactar o DNA para facilitar o acesso de


outras proteínas a essa região, por exemplo.

O genoma

É possuidor de toda a informação hereditária, de todo DNA que


será passado da célula-mãe para a as células-filhas, incluindo
os genes e as sequências não codificantes.

Os procariotos possuem apenas um cromossomo linear ou circular que


contém todo o seu material genético, chamado de DNA cromossomal.
Além do cromossomo, alguns deles possuem elementos genéticos
móveis (EGM), os responsáveis por transmitir algumas características
genéticas a outros indivíduos vizinhos a fim de conferir alguma
vantagem ou desvantagem.

O cromossomo dos procariotos possui uma quantidade de DNA que


pode variar entre 0,16 a 13 Mpb. Apenas para termos um exemplo, o
DNA da bactéria E. coli possui cerca de 4,6 Mpb contido em uma célula
de 2 μm! Esse volume só é possível devido ao alto grau de condensação
do DNA. A condensação é feita através da formação de grandes alças
na molécula de DNA, que originam alças menores, possibilitando que o
DNA ocupe um menor volume na célula. As alças são formadas com o
auxílio das proteínas DNA girase e topoisomerase l, a região formada
por este único cromossomo condensado é chamada de nucleoide.

Mpb
É a sigla para megapares de base, sendo mega 106. Pb: indica pares
de bases.

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Compactação do DNA procarionte.

Os EGMs são partes fundamentais do DNA dos procariotos, mesmo não


pertencendo ao cromossomo e possuem diversas funções que serão
detalhadas posteriormente. É importante saber que existem diferentes
tipos de EGMs, vamos estudar os três principais: plasmídeos,
bacteriófagos e os transposons.

Os plasmídeos são moléculas circulares de DNA fita dupla,


independentes do cromossomo e possuem capacidade de replicação
autônoma. Seu tamanho é de cerca de 1 a 35 kpb. Cada célula pode
conter diversos ou nenhum plasmídeo, com uma ou várias cópias. Os
plasmídeos são considerados elementos de herança
extracromossômica, já que possuem replicação autônoma,
independentemente do cromossomo. Eles também não são vitais, não
causam malefícios à célula hospedeira, geralmente, possuem
informações que serão aproveitadas para produção de toxinas, pilinas,
adesinas e diversos outros tipos de proteínas que podem conferir algum
tipo de vantagem para a célula hospedeira. Justamente por isso, podem
ser chamados também de elementos genéticos acessórios.

DNA bacteriano e plasmídeos no citoplasma de uma bactéria.

Os plasmídeos não são normalmente sintetizados, e sim adquiridos


através de um fenômeno chamado conjugação bacteriana, onde uma
bactéria transfere os seus plasmídeos para outra e mantém uma cópia
desses para si. Os plasmídeos são de grande importância, por exemplo,
no desenvolvimento de estudos na área de Biologia Molecular pela

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facilidade de manuseio e replicação. São utilizados como vetores, onde


uma sequência de interesse é inserida no plasmídeo, o qual é difundido
entre os indivíduos de determinada colônia de bactérias. As bactérias,
ao se replicarem, possibilitam originar uma grande quantidade de cópias
da sequência de interesse. A partir disso, podemos purificar esse
material e usar para os mais diversos fins.

Exemplo

Uma das formas de obtenção e produção de insulina é utilizando os


plasmídeos como vetores.

Os bacteriófagos podem se inserir no DNA cromossomal e se replicar


junto com o organismo. Após a inserção, os genes contidos no
bacteriófago são expressos e podem codificar fatores de virulência e
toxinas entre outras proteínas. Eles são perigosos porque podem
transformar uma bactéria não patogênica em uma bactéria patogênica.
Alguns até mesmo podem produzir capsídeo viral e se multiplicar
diversas vezes, iniciando um ciclo lítico que termina na destruição da
célula hospedeira.

Bacteriófagos
São vírus que infectam bactérias, injetando o seu material genético.

Ciclo lítico
Processo em que um vírus insere o material genético em uma célula
e se multiplica exponencialmente, formando novos vírus e resultando
no rompimento de dentro para fora da membrana celular, liberando
grande carga viral.

Bacteriófagos infectando e injetando seu material genético no citoplasma de uma bactéria.

Os transposons são pequenas sequências de DNA que serão inseridas


de forma aleatória no DNA do organismo hospedeiro, formando novos

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trechos de genoma, evento chamado de transposição e catalisado por


enzimas chamadas de transposases. As transposases são capazes de
cortar o DNA na região do transposon, liberando essas sequências, que
se difundem pela célula. Os transposons são identificados a partir de
mudanças fenotípicas nas bactérias. Como quase todo o DNA
bacteriano é codificante, essas inserções podem causar algumas
alterações funcionais no organismo tprocarioto, como a perda de
atividade enzimática.

Existem três principais subgrupos de transposons:

As sequências de inserção (chamadas de IS, do inglês Insertion


Sequence).

Os transposons compostos (simbolizados pela sigla Tn).

Transposons complexos ou elementos TnA.

Codificante
DNA codificante é o termo utilizado para o DNA que de fato será
transcrito e traduzido. DNA não codificante é o termo utilizado para
todo o DNA que não será transcrito.

Os ISs são os transposons mais simples, podem se inserir tanto no


cromossomo quanto nos plasmídeos, possuem cerca de 700 a 2.500 pb
e são nomeados pela sigla IS, seguido de um número, por exemplo IS3
ou IS37. Eles contêm os genes responsáveis pelo próprio mecanismo de
transposição, que codificam as transposases e possuem sequências
muito parecidas em suas extremidades para que a sua respectiva
transposase corte essa região, liberando o IS para ser reinserido em um
outro sítio. A transposição acontece no momento de abertura da dupla
fita de DNA, que antecede a replicação, onde o transposon é inserido na
fita de DNA e replicado junto com o DNA do procarioto.

Estrutura esquemática do ISs.

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O segundo subgrupo é formado pelos transposons compostos (Tn),


chamados de transposons compostos, porque são formados por duas
sequências de ISs em suas extremidades. Os Tn podem conferir
vantagens a bactérias, por exemplo, o caso do Tn9, que gera resistência
ao antibiótico cloranfenicol.

Os transposons complexos (TnA), o último subgrupo, possuem cerca de


500 pb. Ao invés de ISs em suas extremidades, possuem pequenas
sequências indicando o local de corte pela transposase. Os TnA
induzem a replicação do procarioto com objetivo de se multiplicarem.

Atenção!

É importante destacar que os EGMs possibilitam que as bactérias


troquem informação genética de maneira muito rápida. Desse modo,
caso apareça algum desses elementos, como a capacidade de gerar
resistência a um antibiótico, logo todas as bactérias daquela colônia
também ganham essa mesma resistência. Essas características foram
fundamentais para a evolução e manutenção da vida dos organismos
procariontes.

Organização do material genético em


eucariotos
Conforme já aprendemos, a maior diferença entre procariotos e
eucariotos é a presença da carioteca, uma membrana nuclear que
engloba o material genético, isolando o citoplasma, no conjunto
chamado de núcleo. O núcleo permite um maior nível de organização
celular e modifica a organização e a estrutura gênica.

Para começarmos a entender o nível de complexidade da organização


do material genético em eucariotos, vamos a algumas contas básicas.

Todo o genoma humano possui cerca de 3.2 Gpb, enquanto isso a


espécie Polychaos dubium, um pequeno parasita unicelular eucarionte,
possui 670 Gpb, ou seja, cerca de 200 vezes maior que o nosso.

Gpb
Giga de pares de base, onde G representa 109.

A complexidade do paradoxo do valor C, nome dado a


esse fenômeno, não está associada ao tamanho do
seu material genético, uma vez que nós seres humanos
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somos mais complexos que este parasita. O paradoxo


do valor C pode ser explicado pela maneira com que o
DNA é codificado e processado.

Outro fator relevante é o nível de compactação do DNA. Vamos agora


fazer um comparativo entre duas células que já conhecemos os valores
de pares de base existentes: a humana, com 3,2 Gpb, e a E. coli, com 4,6
Mpb.

O DNA humano é contido em um diâmetro de cerca de 5 a 10 μm,


enquanto na E. coli esse valor é de 2 μm, ou seja, um DNA 700 vezes
maior ocupando um espaço quase semelhante ao da bactéria. Isso é
possível graças a uma diferente forma de estruturação e compactação
do DNA.

O genoma dos eucariotos é compactado em cinco níveis diferentes:

check_circle_outline No primeiro, todo DNA, que possui 2 nm, é


acoplado a proteínas chamadas histonas, essa
estrutura é conhecida como nucleossomo.

check_circle_outline No segundo o nucleossomo, que possui 11 nm, se


compacta formando uma estrutura solenoide de 30
nm. Essas histonas ficam bem juntas formando
uma estrutura ainda mais densa como se fossem
fibras.

check_circle_outline Nos terceiros e quartos níveis de compactação, são


formadas alças dos solenoides (parecidas com as
alças dos procariotos), as quais possuem 300 e 700
nm, respectivamente.

check_circle_outline No último grau de compactação, ocorre a formação


de uma alça ainda maior, 1.400 nm, que dá origem à

t t h d d átid ô i
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estrutura chamada de cromátide cromossômica.
Duas cromátides unidas por uma estrutura
chamada de centrômero formam o cromossomo.

O conjunto de cromossomos, ou seja, o DNA e as proteínas acessórias,


principalmente, as histonas, formam a cromatina. O cromossomo
também possui em suas extremidades os telômeros, que são estruturas
fundamentais para a estabilidade do cromossomo e indicadores da
idade celular, uma vez que um pequeno trecho desse telômero é perdido
devido à forma com que o DNA replica.

Etapas da compactação do DNA em eucariotos.

O grau de compactação do DNA eucarionte pode variar de acordo com a


fase do ciclo celular que se encontra, pois a cromatina se organiza de

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diferentes formas, obedecendo à necessidade de expressão gênica.


Quando o DNA está menos condensado (um estado mais aberto), pode
ser exposto a toda a maquinaria de transcrição e/ou replicação
existente, e a cromatina se encontra em um estado de eucromatina.

Quando o DNA está bastante condensado, a célula não consegue


expressar ou replicar tal região, e ele se encontra no estado de
heterocromatina. Há ainda a heterocromatina constitutiva, formada por
trechos que nunca serão transcritos.

Normalmente, chama-se estado de eucromatina/heterocromatina


porque não é algo fixo. Logo, o mesmo trecho pode ficar ora em estado
de eucromatina ora em de heterocromatina. Porém, não é errado
chamar apenas de eucromatina ou heterocromatina.

Transcrição do DNA descompactado.

Os eucariotos possuem também um DNA extracromossomal, presente


nas mitocôndrias e nos cloroplastos (nas células vegetais) e
completamente independentes do DNA cromossomal. Existem teorias
de que essas organelas eram organismos extracelulares que acabaram
sendo inseridos nas células eucariontes e lá permaneceram, pois o
ambiente era favorável. Em troca do ambiente seguro, eles geravam
energia para as células hospedeiras, formando uma relação de
simbiose.

Simbiose
Associação entre duas ou mais espécies diferentes com vantagens
mútuas, onde todas se ajudam.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Estudamos as teorias do surgimento da vida e as características


estruturais das moléculas que compõem o genoma. Sobre esses
assuntos, leia as afirmativas abaixo e responda:

I. A teoria de Oparin e Haldane era a mais aceita até a descoberta


do meteoro de Murchinson, a partir de então a teoria mais aceita foi
a da panspermia.
II. A teoria mais aceita atualmente para a origem da vida na Terra é
derivada da teoria de Oparin e Haldane, onde a vida surgiu de forma

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espontânea a partir de pequenas moléculas orgânicas.


III. O RNA e o DNA são moléculas capazes de armazenar
informação genética, entretanto o DNA é mais estável e se
consolidou nesta função.
IV. O mundo RNA dependia de organismos complexos.

Estão corretas as afirmativas:

A I e II.

B I e III.

C II e III.

D II, III e IV.

E III e IV.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Vamos analisar caso a caso. Apesar de surpreendente, a teoria da


panspermia (vida vinda do espaço) não apresenta evidências o
suficiente. A teoria de Operin e Haldane se baseia na criação da
vida através de moléculas orgânicas criadas de forma espontânea
em um ambiente favorável que, com o tempo, formaram moléculas
cada vez mais complexas. Essa teoria vem ganhando cada vez
mais força com novas descobertas. Os eucariotos e procariotos
utilizam moléculas de DNA para armazenar sua informação
genética, a dupla fita de DNA é mais estável que o RNA. O “mundo-
RNA” é uma teoria que surgiu com a possibilidade de o RNA
autorreplicar.

Questão 2

Vimos as principais diferenças na organização das células


procariontes e eucariontes. Sobre a organização nos eucariotos,
como você espera que esteja organizado o DNA de uma célula
pronta para se replicar?

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DNA completamente enovelado em estado de


A
eucromatina.

DNA parcialmente desenovelado, em estado de


B
heterocromatina.

C DNA desenovelado, em estado de eucromatina.

DNA completamente enovelado em estado de


D
heterocromatina.

E DNA desenovelado em estado de heterocromatina.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Para a maquinaria de replicação ter acesso ao DNA, ele precisa


estar exposto. No caso da replicação, todo o material genético será
copiado para dar origem a uma nova célula filha, portanto todo o
DNA precisa estar desenovelado, no estado de eucromatina.
Heterocromatina seria com o DNA enovelado, dessa forma, o DNA
não teria como ser replicado.

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2 - Mecanismos de regulação da expressão gênica


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer alguns dos mecanismos de regulação da
expressão gênica nos procariotos e eucariotos.

Seleção natural
Todos os seres vivos estão em um ambiente sujeito a constantes
alterações. Às vezes, podem faltar nutrientes, ou a temperatura fica
muito alta. Existem inúmeras possibilidades e nossos genes precisam
responder a essas variações. Se faltar nutriente, o indivíduo que melhor
conseguir economizar recursos, vai sobreviver; já aqueles que
continuarem usando normalmente tendem a morrer. Portanto, há uma
seleção natural daqueles que conseguem se adaptar rapidamente ao
novo meio em detrimento dos que não têm essa habilidade.

Você sabe que a seleção natural tem a ver com a


capacidade dos mecanismos de regulação gênica?

Poupar recursos depende que determinados genes que gastam muita


energia fiquem menos ativos, mais condensados. Já genes
responsáveis pelo armazenamento de recursos, como os que
expressam as proteínas promotoras da formação do glicogênio, ficam
mais ativos, ou seja, descompactados, para que a maquinaria de
transcrição possa acessá-los. É importante ressaltar que existem ainda
os genes que são essenciais para a manutenção da vida, chamados de
genes constitutivos. Não podemos simplesmente economizar energia
expressando uma menor quantidade desses genes, caso contrário, há
uma alta possibilidade de isso levar à morte.

Vamos agora entender os ajustes finos e as diferentes estratégias entre


procariotos e eucariotos com relação à regulação da expressão gênica,
começando pelos organismos procariontes.

Mecanismos de regulação gênica em


procariotos
A regulação da expressão em procariotos pode acontecer em diferentes
pontos, com maior custo energético, durante a estabilização da
proteína, que é o produto da fase de tradução, ou durante a transcrição,

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com menor custo de energia, pois ainda não ocorreu a tradução do


RNAm (RNA mensageiro).

Transcrição Região promotora

A transcrição ocorre a Essa região pode


partir do acoplamento inclusive favorecer uma
da RNA polimerase em maior ou menor
uma sequência de DNA, expressão gênica,
chamada de região fazendo um controle
promotora. Todos os negativo ou positivo,
genes (sequências de arrow_forward dependendo da ligação
DNA codificantes) de determinadas
possuem uma região proteínas conhecidas
promotora. como fatores
transcricionais, que
inibem ou ativam a
expressão gênica.

Vamos ver um exemplo mais concreto desse conceito de regulação


baseado em fatores transcricionais repressores (controle negativo) ou
efetores (controle positivo). Uma regulação negativa pode acontecer de
algumas formas. Um fator repressor se liga à região promotora e
impede que a RNA polimerase acople na fita de DNA, inibindo a
transcrição. Além disso, um fator repressor pode se ligar a um fator
efetor, impedindo a sua atuação e diminuindo a expressão de
determinado gene. O mesmo conceito pode ser aplicado inversamente,
um fator efetor se liga à região promotora aumentando a transcrição ou
pode se ligar a um fator repressor e impedir a inibição do gene.

Regulação da expressão gênica negativa (esquerda) e positiva (direta).

Antes de continuarmos, vamos relembrar a jornada que se inicia na


molécula de DNA até a formação de uma proteína. Um complexo
proteico chamado RNA polimerase (existem diferentes subtipos de
polimerases, para fins didáticos, vamos considerar apenas como RNA
polimerase) acopla na região promotora de um gene e começa a

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construção de um RNAm. Nos procariotos, a região codificante é


chamada de operon e é composta por mais de um gene, geralmente,
com função final relacionada (de uma mesma via metabólica), ou seja,
todos os genes de um determinado operon irão formar proteínas com
funções de alguma forma vinculadas umas às outras, como veremos
em breve. O RNAm oriundo da transcrição de um operon é formado por
mais de um gene e é chamado de RNAm policistrônico.

De modo diferente, nos eucariotos, todas as regiões promotoras estão


associadas a apenas um gene, logo o RNAm final possui informações
apenas deste gene, sendo chamado de RNAm monocistrônico; apesar
do RNAm dos eucariotos ser formado por apenas um gene, ele precisa
ser processado para continuar a sua jornada .

Diferenças no RNAm de eucariontes e procariontes. UTR é uma sigla do termo inglês untranslated
region que significa região não codificante.

Após a formação e o processamento do RNAm nos eucariotos, ele


precisa sair do núcleo para encontrar o ribossomo. Nos procariotos, por
não possuir carioteca, o RNAm encontra-se no citoplasma, e um RNAt
(RNA transportador) é responsável por levar o RNAm contendo as
informações do DNA para o ribossomo, local onde iniciará a tradução. O
processo de tradução inicia a partir de um código de leitura presente no
RNAm (conhecido como códon) e segue com a leitura das bases de três
em três nucleotídeos até um determinado ponto onde teremos um
códon de parada (Stop códon). Um conjunto de 3 bases de nucleotídeos
traduzidas corresponde a 1 aminoácido, e a união dos aminoácidos
origina uma cadeia polipeptídica, que é modelada por proteínas
conhecidas como chaperonas, dando origem a uma proteína funcional.

Vamos entender mais a fundo como o ribossomo traduz 3 bases de


nucleotídeos em um aminoácido verificando o exemplo a seguir: quando
um ribossomo identifica os nucleotídeos UUA, insere um aminoácido a
leucina a cadeia peptídica que está sendo formada. Os códons e seus
respectivos aminoácidos são os mesmo para qualquer organismo, o
código genético é universal.

Atenção!

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Todos os seres vivos compartilham o mesmo código de códons. Esse é


mais um indício da teoria da evolução, segundo a qual todos nós viemos
de um mesmo ancestral comum.

Agora, podemos continuar falando sobre a regulação gênica dos


procariotos. Para facilitar a compreensão, vamos ver um exemplo
prático: a regulação do operon Lac da bactéria Escherichia coli.

Esse operon é responsável pelo metabolismo da lactose, um açúcar


importante para a nutrição dessas bactérias. O operon Lac é composto
de diferentes trechos, em sequência, temos:

filter_1 P1, Promotor 1 (promotor do gene I).

filter_2 Gene I (gene repressor).

filter_3 O2, Operador 2 (operador secundário).

filter_4 P2, Promotor 2 (promotor dos genes Z, Y e


A).

filter_5 O1, Operador 1 (operador secundário).

filter_6 Gene Z.

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filter_7 O3, Operador 3 (operador secundário).

filter_8 Gene Y.

filter_9 Gene A.

Os promotores são responsáveis por iniciar a transcrição do gene


adjacente. Os operadores são regiões regulatórias, onde podem ativar
ou reprimir a transcrição do operon. Nesse caso, o O1 é um sítio em que
o repressor Lac se liga e O2 e O3 são operadores secundários. Os
operadores sempre se localizam próximos aos genes que regulam.
Temos ainda os três genes estruturais LacZ (gene Z), LacY (Gene Y) e
LacA (Gene A), que codificam as enzimas β-galactosidase, permease e
transacetilase e o Gene I, que codifica o inibidor do próprio operon, este
possui uma região promotora exclusiva para ele.

Trechos do Operon Lac da Escherichia coli.

Por ser um recurso muito valioso, as células tentam tornar o consumo


de energia o mais eficiente possível.

Na ausência de lactose, não existem motivos para que os genes Z, Y e A


sejam expressos, uma vez que são ligados ao metabolismo da lactose,
mas a expressão do gene I é constitutiva, ou seja, ele é sempre expresso
mesmo quando não tem presença de lactose intracelular. O gene I dá
origem a uma proteína repressora do promotor 2 (repressor Lac) que se
liga à região do O1, inibindo a expressão de Z, Y e A, mesmo que a RNA
polimerase acople em P2 os genes não são expressos.

A lactose não atua diretamente no operon Lac, entretanto, quando


algumas moléculas de galactose entram na célula, as poucas enzimas
β-galactosidase conseguem converter a galactose em alolactose; essa
se liga ao repressor Lac, favorecendo uma mudança conformacional da
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proteína, que leva à desassociação entre o repressor e o operador 1,


liberando o funcionamento da RNA polimerase, que transcreve os genes
Z, Y e A.

Alolactose
É um isômetro da lactose responsável justamente por induzir a
expressão do operon Lac.

Esquema de regulação do operon Lac mediado pela lactose. Pol: RNA polimerase, mRNA lac: RNA
mensageiro lactose.

Outra forma de regulação é a dependente de glicose, cuja presença inibe


o operon Lac, pois a célula deve priorizar o metabolismo da glicose
antes dos outros carboidratos. Quando os níveis de glicose estão
baixos, ocorre a ativação do operon Lac, a indução é feita por uma
pequena molécula efetora, o cAMP (AMP cíclico), e uma proteína
regulatória chamada de CRP (sigla para cAMP receptor protein, ou seja,
proteína receptora de cAMP, CRP, também pode ser chamada de CAP,
catabolite activator protein).

Vamos entender como esse processo acontece?

Na ausência de glicose, a concentração de cAMP aumenta e essa


molécula se liga ao CRP (CAP), formando o complexo CRP-cAMP (ou
CAP-cAMP). O complexo se liga ao DNA em uma região operadora
dependente de CAP-cAMP próxima ao operador 3, ativando a
transcrição dos genes Z, Y e A, para a metabolização da lactose. Na
presença de glicose, os níveis de cAMP diminuem e não é formado o
complexo CAP-cAMP, logo o operon Lac fica inibido. É importante
destacar que, quando os níveis de glicose estão altos, a presença de
lactose, não leva à expressão dos genes Z, Y, A, devido à ausência do
indutor CAP-cAMP. Esse fato é justificado pela necessidade do
consumo de glicose antes da lactose.

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Regulação do operon Lac mediado por glicose. cAMP: AMP cíclico; CAP: proteína receptora de
cAMP; Pol: RNA Polimerase; ATP: adenosina trifosfato; P: região promotora.

A regulação gênica do metabolismo de lactose para as bactérias E. coli


é de grande importância para a sobrevivência. Elas se adaptam ao meio
e à presença de diferentes nutrientes, consumindo-os de modo
inteligente. Estudar o operon Lac nos possibilita entender os principais
métodos de regulação gênica em procariotos, pois ele engloba fatores
repressores e efetores em diferentes estratégias e meios nutricionais.
Agora, podemos ir adiante e aprender sobre a regulação gênica nos
eucariotos.

video_library
Operons
Reflita agora sobre operons, sua importância e exemplos.

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Mecanismos de regulação gênica em


eucariotos
Os organismos eucariontes podem ser multicelulares, com cada célula
com funções diferentes e atuando em locais diferentes. Entretanto,
todas as células possuem o mesmo DNA.

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Procariotos Organismos
multicelulares
Aqui, vamos considerar
a estrutura e a Aqui, de modo diferente,
organização dos se considerarmos os
procariotos, seres organismos
unicelulares cujo multicelulares, temos
material genético quase que eles possuem
todo é codificante, têm maior nível de
os operons gerando complexidade e, ao
RNAm policistrônico mesmo tempo, o
(não existem operons percentual de gene
em organismos codificante e não
eucariontes), proteínas codificante é muito
interligadas de uma close menor. Nos humanos,
mesma via metabólica cerca de 2% do DNA é
sendo expressas, codificante. É um pouco
regulações básicas de contraintuitivo pensar
ativação ou repressão que um organismo mais
genética e os complexo, onde todas
promotores. As células as células, mesmo com
procariontes funcionam funções variadas,
muito bem ao pensar possuam o mesmo
que são unidades DNA, e este ainda por
individuais, buscando a cima tem
sobrevivência. proporcionalmente
menor porcentagem de
genes codificantes.

Vamos a um exemplo?

Ao pensarmos em especialização celular, uma célula do seu intestino


precisa absorver e transportar nutrientes com muita eficiência. Já uma
célula da sua pele tem que se multiplicar mais, conferir resistência e
acumular queratina. No entanto, ambos os tipos celulares têm os
mesmos genes, praticamente todo o DNA é igual. Mas como isso é
possível?

Resposta
O segredo desse paradoxo é a regulação gênica e o processamento do
RNAm. Para podermos transcrever uma fita de DNA, primeiro, temos o
acoplamento da RNA polimerase na fita dupla. Esse DNA precisa estar

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acessível à maquinaria de transcrição, logo em um estado


descompactado.

A compactação e descompactação do DNA em eucariotos são dadas


pelas proteínas histonas, sendo um tipo de regulação gênica. As
histonas ditam a compactação da cromatina e são moduladas por
pequenas alterações químicas em sua estrutura, sendo elas: metilação
(adição de grupamentos metila favorecem a compactação do DNA
pelas histonas, impossibilitando a atuação da maquinaria transcricional)
e a acetilação (a adição de grupamentos acetil favorecem a
descompactação do DNA, possibilitando a atuação da maquinaria de
transcrição. Esse mecanismo é catalisado pelas proteínas histona acetil
transferase (HAT) e é reversível). Assim, uma das maneiras de regular o
que vai ser expresso é dependente do padrão de acetilação/metilação
de histonas.

Acetilação de histonas mediada por histona acetil transferase (HAT).

Voltando ao exemplo dado anteriormente, as células do seu intestino


certamente possuem trechos do DNA menos compactados do que as
células da sua pele. Esses trechos expressarão proteínas responsáveis
pela absorção dos nutrientes. Nas células da pele, os mesmos trechos
estarão com as suas respectivas histonas metiladas, ou seja, mais
compactadas.

Determinados fatores transcricionais podem promover a acetilação e a


metilação das histonas de maneira direcionada, gerando
especializações celulares. Em resumo, o padrão de histonas do seu DNA
é um dos fatores que faz com que diferentes células tenham funções
diferentes.

Outro mecanismo de inibição da expressão gênica é dado pela


metilação do próprio DNA, mais especificamente na posição 5 do anel
de citosina, que dificulta a interação com a RNA polimerase, impedindo
a transcrição.

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Citosina metilada na posição 5 do anel pirimidina. A metilação é a adição de um grupo metil (CH3)
de forma covalente. Enzima responsável DNA metiltransferase (DNMT).

As citosinas metiladas formam as chamadas ilhas CpG ou ilhas CG


(ilhas citosina- guanina); essa metilação não é reparada pela maquinaria
de reparo celular, não sendo transcrita e traduzida, constituindo assim
partes não codificantes. No entanto, essa metilação pode ser passada
para as células filhas no processo de replicação durante a multiplicação
celular, garantido a sua hereditariedade. Elas se localizam,
principalmente, próximas do sítio de início da transcrição de genes
constitutivos.

Nos eucariotos, ainda levando em consideração a regulação da


transcrição, existem ainda as sequências reguladoras, bastante
semelhante aos operadores dos procariotos. No entanto, nos eucariotos,
essas sequências podem estar localizadas a milhares de pares de
bases de distância do promotor.

Até agora vimos alguns fatores de regulação associados à transcrição


do DNA, mas a expressão gênica dos eucariotos pode ser regulada em
diversos outros pontos, como:

Maquinaria de reparo
A maquinaria de reparo é fundamental para a manutenção do DNA. É
capaz de consertar pares de bases que foram colocados em lugares
errados, reparar danos causados à fita, reajustar ligações erradas
etc. Ela serve para minimizar as mutações, impedindo erros na
replicação.

science No processamento pós-transcricional.

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science Na degradação do RNAm.

science Na tradução.

science No processamento pós-traducional.

science Na degradação e no transporte da proteína


gerada.

Como sabemos, os eucariotos são organismos bastante complexos,


existem milhares de diferentes interações. A cada dia, os cientistas
descobrem novos conceitos e novas formas de regulação gênica. Por
isso, vamos focar em algumas das regulações mais relevantes, como o
splicing alternativo e a maturação do RNAm, a nível de processamento
pós-transcricional, e nos recém-descobertos miRNA (microRNA) e
siRNA (small interference RNA), para degradação do RNAm.

Agora, já sabemos por que todas as células, mesmo


possuindo o mesmo DNA, têm especializações
diferentes. Entretanto, falta ainda entender a proporção
de DNA codificante e não codificante.

Temos apenas 2% de DNA codificante, será que é suficiente para dar


conta de toda complexidade de um organismo multicelular? A resposta
é sim. Afinal, estamos vivos, não é?

A chave para entender esse dilema está no splicing alternativo. Cada


célula possui um padrão de splicing (conjunto de informação de como
vai realizar esse processo) de acordo com suas funções, originando
assim proteínas diferentes a partir do mesmo gene. Após a transcrição
do gene, é formado um pré-RNAm, o qual é processado por um

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complexo de RNA e proteínas chamado de spliceossomo, onde,


dependendo do padrão de splicing celular no momento da transcrição,
alguns trechos do pré-RNAm são considerados éxons e outros são
considerados íntrons. Os trechos íntrons são removidos do pré-RNAm e
os trechos éxons são ligados pelo spliceossomo, gerando um pré-RNAm
formado apenas com éxons, de acordo com o padrão de splicing.

Splicing alternativo
O termo inglês splicing significa emendar, e “alternativo” se refere ao
fato de serem íntrons e éxons , logo, são emendados de forma
alternada.

Éxons
Trechos do pré-RNAm que serão aproveitados para o RNAm maduro.

Íntrons
Trechos do pré-RNAm que serão removidos do RNAm maduro.

Diferentes isoformas do RNAm.

Um mesmo gene pode dar origem a uma enorme quantidade de


diferentes RNAm e, por consequência, proteínas diferentes. Desse
modo, os eucariotos conseguem com uma quantidade relativamente

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baixa de genes codificantes gerar um número muito elevado de


diferentes proteínas.

Junto ao splicing alternativo, o pré-RNAm também precisa passar por


um processamento, que o torna capaz de sair do núcleo para chegar ao
ribossomo onde será traduzido. O pré-RNAm passa por duas etapas,
uma adição do cap 5’, ou seja, pela ligação de um nucleotídeo alterado, e
o GMP metilado (Guanosina monofosfato metilada), na ponta 5’ do
RNAm, por uma ligação trifosfato. O cap 5’ é fundamental para o
reconhecimento do RNAm maduro, a exportação do RNAm para fora do
núcleo e o endereçamento do RNAm em direção ao ribossomo. Ele
promove a ligação na organela, além de também ter ação protetora.

Saiba mais

A palavra cap significa boné e, nesse caso, pode ser traduzida para
capacete 5’. Por isso, o nome cap 5’ ou capacete 5’, uma vez que esse
nucleotídeo alterado, protege a perda de informação contida no RNAm
oriunda da degradação pela ação de ribonucleases e fosfatases.

A segunda etapa do processamento do RNAm é uma adição de uma


cauda chamada de “poliA” na extremidade 3’ do RNA. A cauda tem esse
nome por ser formada de 80 a 250 resíduos de adenina. A cauda
também serve para proteger o RNAm de degradação enzimática durante
todo o processo de locomoção em direção ao ribossomo, a cauda poliA
é clivada por endonucleases quando o RNAm encontra o ribossomo.

Uma vez com a adição do cap 5’ e da cauda poliA, o RNAm se torna


maduro e pode ser traduzido pelo ribossoma no citoplasma. A regulação
desse processo se dá pela remoção de uma dessas adições. Caso a
célula não precise mais de determinada proteína, sinalizações
regulatórias são enviadas para o núcleo, onde são removidas e o RNAm
agora “não maduro” é degradado.

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Processamento do RNAm. Pré-RNAm recebe cap5' e cauda poliA, em seguida tem seus íntrons
removidos, originando RNAm maduro.

A última regulação genética que iremos estudar é a mediada por


pequenos RNAs: os miRNAs e os siRNA.

Os miRNAs apresentam cerca de 19 a 28 pb (pares de base), são


endógenos e formados a partir do pareamento imperfeito de uma fita
dupla de RNA (double stranded RNA, conhecido como dsRNA). Esse
pareamento gera uma estrutura em forma de grampo de cabelo,
conhecida como hairpin, que é clivada por uma endonuclease dicer
(endonucleases são proteínas que cortam a fita de RNA ou DNA de
forma precisa) formando os miRNAs.

Os siRNAs, com cerca de 22 a 23 pb, são exógenos (oriundos do RNA


viral) ou endógenos (oriundos de retrotransposons) e formados a partir
de um pareamento perfeito de uma dsRNA. Também são clivados pela
endonuclease dicer, gerando esses fragmentos de siRNA. A regulação é
dada pela ligação entre o miRNA ou siRNA no RNAm induzindo a
degradação deste ou impedindo sua tradução.

Retrotransposons
Componentes genéticos com capacidade de autorreplicação,
convertendo RNA em DNA. Estão presentes em eucariotos, porém,
sua possível origem é viral. Os retrotransposons ao longo da
evolução se estabeleceram no genoma eucarionte.

Mecanismo de ação do miRNA e siRNA.

Os siRNA e miRNA foram recentemente descobertos e possuem um


papel muito importante no controle da expressão gênica em eucariotos.
No entanto, ainda estamos tentando entender melhor como funcionam,
embora suas aplicações médicas pareçam ser muito promissoras.
Imagine, por exemplo, uma pessoa que tenha o metabolismo alterado
para produzir grandes quantidades de colesterol endógeno. Ela pode ter
diversos problemas de saúde oriundos do alto colesterol. No futuro,

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talvez seja possível construir siRNAs específicos para silenciar a


expressão de HMG-CoA redutase, principal enzima da síntese de
colesterol endógeno, abrindo possibilidades para uma nova terapia
genética.

Epigenética
A genética é o estudo dos genes, das características hereditárias de
determinados organismos, guardadas nas moléculas de DNA. A
epigenética é o estudo das características que vão acima dos genes,
pois “epi” deriva do radical grego que indica a posição superior. Essa
ciência estuda as variações nos traços fenotípicos pela ação de fatores
externos ou ambientais que afetam a expressão gênica de modo
reversível. A compreensão da epigenética pode nos ajudar a estabelecer
relações entre a forma com que vivemos e o surgimento de
determinadas doenças.

Relembrando o que estudamos anteriormente, como um


neurônio sabe que tem que ser um neurônio e não um
osteoblasto durante o desenvolvimento embrionário?

A resposta está nos fatores de transcrição específicos de cada


linhagem celular que leva a especialização destas células para a sua
forma final e nas marcas epigenéticas no DNA. As marcas epigenéticas
são características do material genético que possibilitam ou não sua
expressão, seja por metilação do DNA, modificação de histonas
(metilação ou acetilação) ou presença de mi e siRNA, que degradam o
RNAm.

A epigenética é tudo que está acima dos genes e estuda alterações na


expressão gênica que não alteram a estrutura primária da sequência de
nucleotídeos. Na verdade, explora modificações no DNA decorrentes da
interação do indivíduo com o ambiente.

Exemplo
Um indivíduo fumante consome grandes quantidades de nicotina, cuja
molécula modifica o padrão metilação em diversos genes. Então, os
genes que, em condições normais, não estariam sendo expressos
passam a ser. E quais são as consequências dessa alteração na
expressão gênica?

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É difícil precisar todas as alterações causadas por determinada


substância no nosso organismo, temos milhares de diferentes células
expressando diferentes proteínas. Entretanto, a comunidade científica
estuda incansavelmente as diversas modificações genéticas causadas
por alimentos, comportamentos, drogas etc.

Agora, ainda utilizando o caso da nicotina como exemplo, é sabido que


o cigarro faz mal à saúde e, segundo estudos, podem reduzir em cerca
de 14 anos a expectativa de vida de adultos fumantes. Apenas nos
Estados Unidos, o cigarro tem algum tipo de relação com a morte de
400 mil pessoas por ano. As consequências de fumar incluem câncer,
doenças cardiovasculares e respiratórias. Muitas grávidas continuam
fumando durante a gestação, sendo a causa de morte infantil evitável
mais importante. O cigarro consumido pelas mães atrasa o
desenvolvimento neural e cardiopulmonar do embrião. Essas crianças
também tendem a ter uma maior frequência de doenças respiratórias
como asma. No entanto, estudos recentes mostram que mães fumantes
podem não só ter os filhos com asma, como também os netos, mesmo
que as filhas não fumem. Além disso, foram encontrados alguns
mecanismos epigenéticos nos filhos e netos de fumantes.

Os conceitos sobre hereditariedade genética evoluíram com o passar


dos anos, não apenas os genes são responsáveis por transmitir as
informações dos pais para os filhos, mas também os padrões
epigenéticos são fundamentais, os quais podem ser passados através
de gerações. Marcações no DNA e nas histonas (acetilações e
metilações) modificam o padrão de expressão genética, principalmente,
no período de desenvolvimento embrionário, causando uma
reprogramação gênica.

As modificações epigenéticas ocorrem não apenas pela exposição


recorrente a determinadas substâncias químicas, mas também devido a
fatores ambientais e comportamentais. O holocausto durante a Segunda
Guerra Mundial deixou marcas visíveis e invisíveis tanto nos que
sofreram o horror nazista quanto em seus filhos e netos. As marcas
invisíveis foram reveladas nos cromossomos, que representam um tipo
de memória biológica do nosso organismo. Os sobreviventes do
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holocausto tinham pesadelos frequentes, ansiedade, depressão,


dificuldade de ressocialização, entre outros distúrbios psicológicos. De
alguma maneira, esses traumas se internalizaram e foram passados
adiante, pois os descendentes da guerra tendem a ser mais vulneráveis
ao stress e propensos a desordens mentais, evento conhecido como
transmissão transgeracional de trauma (TTT). A TTT também já foi
descrita na literatura a partir de indivíduos que sofreram abusos,
refugiados, vítimas de tortura etc.

A compreensão da TTT trouxe avanços na vida de diversas crianças e


adultos que passaram por eventos traumáticos, permitindo o
diagnóstico e tratamento precoce das consequências do trauma, uma
espécie de medicina epigenética. É importante lembrarmos que os
mecanismos epigenéticos são maleáveis e podem ser alterados durante
a nossa vida, dependendo de fatores químicos e socioambientais, que
nos leva a boas perspectivas de tratamento.

Diversas outras associações epigenéticas têm sido testadas.


Compreender os ajustes finos desses mecanismos pode gerar uma
revolução na maneira com que enxergamos a medicina e a genética.

A terapia genética, com o uso de miRNA, siRNA e edição genética


parece muito promissora, mas ainda são estudos preliminares e temos
muitos mistérios a desvendar.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Estudamos as regulações gênicas nos procariotos e vimos que


existem operons, que são trechos responsáveis por alguma função
biológica. Leia as afirmativas abaixo e responda.

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I. Considerando o operon Lac, a expressão do gene I é constitutiva,


uma vez que não temos lactose sempre no meio intracelular.
II. Em procariotos, os genes com funções de uma mesma via
metabólica estão localizados próximos uns aos outros em um
operon e transcrevem para um RNAm monocistrônico.
III. O RNAm monocistrônico é capaz de ser traduzido em diferentes
proteínas de uma mesma via metabólica.
IV. O operon Lac tem seu funcionamento reprimido na presença de
glicose, mesmo que com altas concentrações de lactose.

Estão corretas as afirmativas:

A I, II e III.

B II e III.

C II, III e IV.

D I e IV.

E Apenas IV.

Parabéns! A alternativa D está correta.

O operon Lac é responsável por expressar as proteínas da via


metabólica de degradação da lactose, quando esta não está
presente o gene I é expresso para não ter gasto fútil de energia. O
RNAm dos eucariotos, transcrito a partir de diferentes genes de
uma mesma via, é chamado de RNAm policistrônico e é capaz de
ser traduzido em diferentes proteínas de uma mesma via
metabólica. A presença de glicose impossibilita a formação indutor
CRP-cAMP, logo, não ocorre a transcrição do operon Lac, mesmo
quando temos a lactose.

Questão 2

A epigenética estuda como componentes externos e ambientais


modificam nosso genoma através de determinadas marcações. São

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exemplos de marcadores epigenéticos que podem modificar a


expressão de genes:

I. Metilação do DNA, metilação de histonas e presença de miRNAs.


II. Acetilação do DNA, splicing alternativo e presença de miRNAs.
III. Ubiquitinação de proteínas, metilação de histonas e nicotina.
IV. Metilação do DNA, stress e presença de miRNAS.

Estão corretas as sentenças:

A I e II.

B I.

C III e IV.

D II.

E II, III e IV.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Metilação da citocina, presente no DNA, na posição 5’ pode


silenciar trechos do DNA. A metilação das histonas torna a região
condensada, impedindo a transcrição, e a presença de miRNAs
induz degradação do RNAm, impedindo a tradução. São três
diferentes vias de controle epigenético. A acetilação do DNA não é
uma estratégia de controle de expressão genética. A nicotina não
pode ser considerada um marcador epigenético. O stress também
pode alterar controle de expressão gênica através de mudanças
epigenéticas, porém ele próprio não é um marcador epigenético.

Considerações finais
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Conhecemos como a Biologia Molecular foi estabelecida como ciência a


partir da descoberta do DNA e do RNA, explorando principalmente a sua
estrutura e a sua função. Além disso, vimos a teoria mais aceita,
atualmente, para explicar como a vida surgiu no nosso planeta.
Aprendemos como o material genético nos eucariotos e procariotos e
como esses grupos se organizam e os diferentes mecanismos de
regulação da expressão gênica. Por fim, todos os conceitos aprendidos
sobre os eucariotos foram concatenados para termos uma noção sobre
o que é a epigenética. A epigenética é uma ciência recente que estuda o
comportamento de todos os componentes que estão presentes
influenciando no genoma e, por consequência, influenciando na
expressão gênica.

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espécies pela realidade aumentada.

Explore +
Para explorar mais os seus conhecimentos a respeito do assunto,
recomendamos as seguintes leituras:

Cientistas encontram possível sinal de vida em Vênus, matéria de


divulgação científica da revista Exame, escrita pela jornalista
Tamires Vitorino. Nessa matéria, é abordada a descoberta do gás
fosfina metabólito bacteriano em Vênus, indicando possível sinal de
vida.

Michael Russell demonstrou que existem fontes de águas termais


no fundo dos oceanos, aquecidas pelo manto da Terra, que jorram

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água alcalina. Essas fontes são ricas em minérios de ferro, níquel e


enxofre dissolvidos. Para conhecer mais, leia o livro Questão vital:
Por que a vida é como é?, de Nick Lane e Talita Rodrigues.

Para conhecer um pouco mais sobre os avanços da epigenética na


área biomédica, leia o livro Epigenética aplicada à saúde e a doença
de Elsner e Siqueira.

Para conhecer um pouco mais sobre a história da Biologia


Molecular, visite a matéria do Rogerio Meneghini Os genes e o gene,
publicada na revista FAPESP.

Qual foi papel de Roselind Franklin no modelo da dupla hélice do


DNA de Watson e Crick? Para saber mais, visite o artigo As
controvérsias a respeito da participação de Rosalind Franklin na
construção do modelo da dupla hélice, de Marcos Rodrigues da
Silva.

Referências
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BMI in an Arab population. Clinical epigenetics, v. 8, n. 1, p. 13, 2016.

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gênica em nível transcricional e suas implicações. Ciências Biológicas e
da Saúde, v. 34, n. 2, p. 125-136, 2013.

DUBEY, R. C. D. K. ATB of microbiology. New Delhi: S. Chand & Company,


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DNA III, p. 529-553, 2015.

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nightmares be inherited. Isr J Psychiatry Relate Sci, v. 50, n. 1, p. 33-39,
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complex life. WW Norton & Company, 2015.

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structure for deoxyribose nucleic acid. Nature, v. 171, n. 4356, p. 737-
738, 1953.

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