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Neurônios,
condução nervosa
e transmissão
sináptica
Leonardo Mateus Teixeira de Rezende
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O sistema nervoso é determinante para a manutenção da homeostasia corporal,
uma vez que coordena todas as funções orgânicas. É de conhecimento geral que
a estrutura do sistema nervoso é complexa, e seus órgãos são compostos por
dois tipos básicos de células: neurônios e neuroglia. Este capítulo focará nos
componentes estruturais e funcionais dos neurônios.
Os neurônios são compostos por corpo celular, dendritos e axônio. A membrana
plasmática dos axônios possui particularidades muito importantes, como a ca-
pacidade de gerar e conduzir potenciais de ação, que representam o sinal neural
que deve ser transferido para outros neurônios ou outros tipos de células por
meio da transmissão sináptica. Esse processo é fundamental para a manutenção
das atividades neurais.
2 Neurônios, condução nervosa e transmissão sináptica
Neurônio e
neuroglia
Neurônios
Os neurônios — também conhecidos como células nervosas — representam a
unidade funcional do sistema nervoso. São células especializadas na condu-
ção dos impulsos nervosos entre as estruturas do organismo. Por meio das
técnicas histológicas — sobretudo pelo processo de coloração —, cientistas
descobriram que os neurônios são compostos por duas partes distintas:
corpo celular (ou soma ou pericárdio) e neuritos (axônios e dendritos) (AIRES,
2013). É importante ressaltar que as estruturas internas dos neurônios são
separadas do ambiente externo por uma membrana neuronal. A membrana
dos neurônios não possui composição uniforme por toda a estrutura celular,
de forma que apresenta conteúdo proteico distinto no corpo celular, no axônio
e nos dendritos (DANGELO; FATTINI, 2005). De forma geral, as membranas
são estruturas lipoproteicas, formadas por uma camada lipídica dupla na
qual as proteínas estão imersas, sendo que algumas destas atravessam a
membrana, formando canais ou poros de contato com o ambiente externo.
Obviamente existe um controle sobre o transporte de substâncias por meio
desses canais ou poros, o que se dá por meio das condições químicas ou
elétricas do ambiente em que a célula está inserida. Sendo assim, você pode
notar que as membranas são fundamentais para proteção neuronal, para
excitação elétrica da célula, bem como para o transporte iônico (AIRES, 2013).
4 Neurônios, condução nervosa e transmissão sináptica
Dendritos
Terminações
axônicas
Bainha de mielina
Nódulo de Ranvier
Núcleo
Axônio
Corpo celular
Neuroglia
A neuroglia (ou células da glia) representa um componente importante do
tecido nervoso. Ela é fundamental no processamento de informação neuronal,
principalmente por agir no suporte aos neurônios e na gênese da mielina.
Existem alguns tipos de neuroglia, e o mais presente é o astrócito. Os astró-
citos ocupam o espaço entre os neurônios, controlando as concentrações
de substâncias — como potássio e sódio — que irão influenciar no funciona-
mento neuronal. Sendo assim, as células da glia influenciam diretamente na
composição química do ambiente extracelular aos neurônios. Outro ponto
importante a ser destacado é que eles têm a capacidade de retirar neuro-
transmissores da fenda sináptica, interrompendo o processo de comunicação
entre neurônios (HALL, 2017).
Outros tipos fundamentais de neuroglia são os oligodendrócitos (pre-
sentes no SNC) e as células de Schwann (presentes no SNP). Essas células
são responsáveis por sintetizar a substância responsável por promover o
isolamento e a proteção dos axônios dos neurônios — a mielina —, que envolve
os axônios formando a bainha de mielina. Além da proteção, a mielina tem
a função de acelerar o processo de propagação dos impulsos nervosos ao
longo do axônio. Contudo, a bainha de mielina não é contínua, de forma que
ela apresenta espaços que expõem a membrana do axônio. Esses espaços
são conhecidos como nódulos de Ranvier, que são determinantes para a
8 Neurônios, condução nervosa e transmissão sináptica
Potencial de ação
Espaço extracelular
Célula
+40
Potencial de ação
membrana (mV)
Voltagem da
–70 –70
Potencial de repouso
Repolarização
exemplo, uma pessoa, ao tentar chamar atenção de outra, toca em seu ombro,
e a pressão gerada pelo toque será responsável por estimular fibras nervosas
sensitivas da pele, que darão início a uma sequência de eventos que levarão
essa informação ao SNC. Dessa forma, ao sofrer o toque, existe um estiramento
das membranas nervosas da pele, que serão despolarizadas, permitindo o
influxo de Na++ na célula em função do gradiente de concentração (ver Figura
3). Isso levará à despolarização da membrana e à modificação da condição de
carga entre os meios celulares interno e externo. O processo de repolarização
é consequência do efluxo de íons K+, o que direciona ao retorno da condição
elétrica para os valores de repouso (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
Contudo, para que esse processo se transforme em um potencial de ação
de fato, se faz necessário atingir um nível mínimo de despolarização, alcan-
çando o limiar de despolarização. Ao atingir/ultrapassar o limiar, o potencial
de ação é gerado. Para fins didáticos, o exemplo apresentado trabalha como
se um potencial de ação fosse gerado por vez, entretanto, sabemos que a
corrente elétrica disparada é capaz de gerar vários impulsos nervosos con-
comitantemente. Entretanto, fibras diferentes são responsáveis por gerar
esse combinado de potenciais de ação; a mesma fibra não é capaz de gerar
um novo potencial imediatamente após o disparo de um impulso nervoso, o
que é conhecido como período refratário absoluto (duração de pelo menos
1 ms) (MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009).
Você pode estar se perguntando como é a passagem desses íons pela mem-
brana plasmática, uma vez que essa estrutura é fundamental na separação
dos ambientes interno e externo, conferindo proteção à célula. Lembre-se
de que a membrana é composta por uma bicamada lipídica embebida por
diversas proteínas que criam canais e poros específicos para o transporte
de substâncias (DANGELO; FATTINI, 2005). Entre esses canais e poros estão
a bomba de sódio e potássio (Na+/K+) e os canais de Na+ e de K+. A bomba de
Na+/K+ é fundamental para manutenção do equilíbrio elétrico de repouso, e
sua abertura durante o estímulo será etapa primária para o estabelecimento
do potencial de ação. Existe uma tendência de fluxo iônico a favor do gra-
diente de concentração, ou seja, do meio mais concentrado para o menos
concentrado. Levando em consideração a carga negativa do interior celular
durante o repouso, a abertura dos canais conduzirá ao influxo de íons a favor
do gradiente, tornando o interior da membrana positivo. Vale ressaltar que,
durante o repouso, a membrana é permeável apenas ao potássio, o que fa-
vorece o efluxo de íons, contribuindo para o estabelecimento das condições
elétricas de repouso (HALL, 2017).
Neurônios, condução nervosa e transmissão sináptica 11
Transmissão sináptica
A transmissão sináptica é etapa fundamental do processo de comunicação
neural. Os impulsos nervosos são gerados e propagados pelas membranas
excitáveis. No entanto, a propagação ao longo de um único neurônio não é
capaz de suprir as necessidades impostas pelo agente causador do disparo
da informação; se faz necessária a troca de informações entre neurônios
especializados. Retomando o exemplo do toque no ombro, uma resposta
efetora somente será realizada se houver despolarização da membrana e
disparo do potencial de ação, que será conduzido pelo canal nervoso sen-
sitivo (aferente), no entanto, será necessário transferir essa informação
para os centros nervoso superiores, que determinarão qual ação deverá ser
tomada e direcionarão uma resposta via neurônios motores da via eferente.
A transferência do impulso de um neurônio para outro é, então, essencial
no processo de comunicação neural, e esse processo é conhecido como
transmissão sináptica.
A sinapse é o processo de comunicação entre neurônios ou entre neurônio
e outra célula de tecidos periféricos, e a informação é transferida do neurônio
pré-sináptico para a célula-alvo, denominada pós-sináptica. Todo esse pro-
cesso acontece em uma região especializada e preparada especificamente
para a troca de informação neural, conhecida como fenda sináptica (química)
ou junção comunicante (elétrica) (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
Neurônios, condução nervosa e transmissão sináptica 13
Exocitose
Figura 5. Endocitose.
Fonte: Adaptada de Aldona Griskeviciene/Shutterstock.com.
Referências
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18 Neurônios, condução nervosa e transmissão sináptica
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