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Sistema nervoso

Neste sistema denominamos os componentes de estruturas, uma


vez que não caracterizam órgãos, rigorosamente, uma vez que não há uma
diversidade de tecidos em sua constituição, mas um predomínio do tecido
nervoso.

Este é o sistema que rege a orquestra, que coordena a atividade dos


demais sistemas orgânicos em organismos complexos, como o nosso.
Associado ao sistema endócrino atua como principal meio de comunicação
entre as células na determinação da homeostase, o equilíbrio interno do
corpo.

Além de controlar as atividades dos outros sistemas, o sistema


nervoso nos permite interagir com o meio em que vivemos, nos proporciona
condições de optarmos pelas melhores estratégias de vida que nos garantem a
auto-preservação física e emocional. É o agente de nossa habilidade mais
diferenciada, que é o raciocínio abstrato, produz e nos permite manifestar
emoções.

As células do sistema nervoso interagem e a se comunicam com as


demais células do organismo através de impulsos nervosos. Um impulso
nervoso é um potencial de ação em movimento. O potencial de ação é a
inversão da eletronegatividade, que é o potencial de repouso da célula para um
potencial eletropositivo tão acima do zero que pode ser transmitido a outra
célula, estimulando-a.

A célula especializada em produzir e transmitir impulsos nervosos é


o neurônio. Ela constitui a maior parte das estruturas nervosas. Porém, como
não faz outras atividades como fagocitar, produzir liquido cérebroespinal,
bainha de mielina, etc, existem outras células no tecido nervoso. Essas são
denominadas células da neuroglia.

O neurônio e demais células do tecido nervoso

O neurônio é uma célula especializada (Fig. 1). Portanto, não


retorna ao ciclo celular para dividir-se. Nem realiza outras funções. Sua
estrutura compõe-se de um corpo celular e prolongamentos. O corpo celular
contém um núcleo grande com um nucléolo proeminente. No citoplasma,
observam-se áreas escuras, denominadas áreas cromófilas ou substância
de Nissl e microfilamentos e microtúbulos. Estes servem de suporte para a
célula enquanto os microtúbulos transportam substâncias, como os
neurotransmissores, que serão necessários nas extremidades dos
prolongamentos. Os dendritos, convencionalmente conduzem o impulso
nervoso para o corpo celular. O axônio conduz o impulso nervoso do corpo

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celular. O neurônio é uma célula cinza. Corpos de neurônio só estão ou no
sistema nervoso central ou em gânglios, no sistema nervoso periférico. E não
são revestidos por mielina. A substância cinzenta que observamos no sistema
nervoso central, portanto, é composta de corpos de neurônio. A substância
branca é determinada por prolongamentos de neurônios revestidos por mielina.

Figura 1. Ilustração do neurônio. (Adaptado de Junqueira & Carneiro, Histologia


Básica, 10 ed).

Classificação dos neurônios, de acordo com a função

• neurônio aferente ou sensitivo: que leva o impulso do receptor para o


sistema nervoso central
• neurônio eferente ou motor: que traz a resposta do sistema nervoso
central para o efetuador
• neurônio internuncial: que encontra-se entre os neurônios

Sinápse

A forma de comunicação entre os neurônios é a sinapse (Fig. 2). É


uma estrutura em que um espaço entre os neurônios, a fenda sináptica,
permite que substâncias, os neurotransmissores, sejam liberadas.
Dependendo do tipo de substância e dos receptores que os neurônios
envolvidos apresentem, haverá ou não uma interação, com a transmissão do
impulso nervoso de um neurônio para outro.

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Figura 2. Ilustração de sinapse nervosa. (Adaptado de Junqueira & Carneiro,
Histologia Básica, 10 ed).

Neuróglia

As células da neuroglia (Fig. 3) são necessárias outras células para


desempenhar outras funções, no sistema nervoso. Essas células têm a mesma
origem embrionária dos neurônios, no tubo neural, estrutura que se desenvolve
do ectoderma. Mas desenvolvem-se diferencialmente.

Astrócitos: dão suporte é um dos componentes da barreira hemato-encefálica,


que seleciona aquilo que sai do sangue e entra em contato com o tecido
nervoso. Esta barreira é muito seletiva. Até mesmo os medicamentos têm
dificuldade de atravessar esta barreira.

Oligodendrócitos: são os homólogos das células de Schwann no sistema


nervoso central, formando mielina em torno dos prolongamentos de neurônios.

Micróglia: são células pequenas que fagocitam elementos estranhos ao tecido


nervoso.

Células ependimárias: são as células que produzem o líquido cérebroespinal


a partir do sangue. Revestem os plexos coróides, que são tufos vasculares nos
tetos dos ventrículos, as cavidades que existem no encéfalo, e retiram do
sangue aquilo que pode compor o liquido cerebrospinal. Esse líquido vai
envolver o sistema nervoso central, diminuindo seu peso relativo e
amortecendo os efeitos de eventuais traumas físicos.

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Figura 3. Ilustração das células da neuroglia. (Adaptado de Junqueira &
Carneiro, Histologia Básica, 10 ed).

As meninges

O sistema nervoso central é envolto por camadas de tecido


conjuntivo: as meninges (Fig. 4). A mais delgada e interna, que fica justaposta
ao tecido nervoso é a pia-máter. Ela acompanha todo o relevo da superfície
das estruturas nervosas. A meninge intermediária é a aracnóide. Entre esta e a
pia-máter existe um espaço, o espaço subaracnóideo, por onde circula o
líquido cérebroespinal. A aracnóide tem esta denominação porque dela partem
inúmeros prolongamentos em direção à aracnóide, que se assemelham aos
fios de uma teia de aranha. A meninge mais externa é a dura-máter. Esta
meninge consistência mais firme e é mais espessa. Na cavidade craniana
determina dobras que constituem o esqueleto fibroso do encéfalo, criando
compartimentos que melhor acondicionam o encéfalo. E também proporciona
tubos de escoamento para a circulação de retorno, que são os seios venosos
da dura-máter.

No canal vertebral, a dura-máter determina um saco que se prende ao forame


magno e ao osso sacro, no chamado prolongamento terminal. Esse arranjo
proporciona maior estabilização à medula e também não limita a flexibilidade
da coluna vertebral. Como esse espaço é maior, permite a realização de uma
técnica anestésica, a anestesia peridural.

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A B

dura-máter

aracnóide
pia-máter

Figura 4. Meninges. A: esqueleto fibroso do encéfalo, determinado pela


duramáter; B: seios venosos da duramáter; C: pia-mater, aracnóide e dura-
máter. (Adaptado de Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed).

Organização do sistema nervoso

A organização do sistema nervoso pode ser analisada por diferentes


critérios. Vamos eleger dois: o anatômico, que nos permite saber onde estão as
estruturas e o funcional, que nos orienta quanto à função das estruturas. Não
podemos nos esquecer que se tratam das mesmas estruturas.
Anatomicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em: central e
periférico. Fisiologicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em:
somático e autônomo.

Sistema nervoso periférico

Composto por nervos, receptores e gânglios.

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Nervo: é uma estrutura de conexão entre um órgão qualquer e o sistema
nervoso central. Tem a aparência de um cordão esbranquiçado, de
consistência firme. É composto por prolongamentos de neurônios (Fig. 5)
envolto por bainhas de tecido conjuntivo, de forma semelhante ao músculo. As
bainhas conjuntivas aqui têm o nome de endoneuro, perineuro e epineuro,
envolvendo a fibra nervosa, seu conjunto e o todo. Também tem em sua
camada externa, capilares para nutrir o nervo.

Figura 5. Ilustração da estrutura de um nervo. (Adaptado de Junqueira &


Carneiro, Histologia Básica, 10 ed).

Os nervos têm uma bainha de mielina, que serve para aumentar a


velocidade de transmissão do impulso nervoso e impedir que um impulso mude
de fibra nervosa. É uma barreira isolante. Cada fibra nervosa ou cada
prolongamento de neurônio é envolvido por mielina. Consiste em uma
seqüência de células (os lemócitos, ou células de Schwann) que se enovelam
em torno do prolongamento do neurônio, jogando o citoplasma para a periferia,
junto com o núcleo. Como a membrana celular é lipoproteica, o lipídeo desta
composição funciona como um isolante para a transmissão do impulso
nervoso. Como estes pontos de isolamento são alternados com pontos
desnudos, o impulso caminha saltando, mais rapidamente.

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A B C

Figura 6. Organização das células da bainha de mielina. A e B: lemócito em


espiral na fibra nervosa (sistema nervoso periférico); B: oligodedrócito (sistema
nervoso central). (Adaptado de Junqueira & Carneiro, Histologia Básica, 10 ed).

Os nervos podem ser:

Sensitivos: levam impulsos deflagrados nos receptores para o sistema


nervoso central.

Motores: trazem resposta ou impulso motor até os efetuadores do tipo músculo


estriado esquelético, músculo liso ou glândula.

Mistos: conduzem ambos os tipos de impulso.

Receptores: pode ou não ser uma terminação nervosa. Algumas vezes, os


receptores são células de outros tecidos que se diferenciam para se tornarem
capazes de se sensibilizar com algum tipo de estímulo. O que caracteriza um
receptor é esta capacidade. São específicos para determinados tipos de
estímulo. E por isso se diferenciam.

Há diferentes tipos morfológicos de receptores. Os mais conhecidos são os


receptores que são:

• terminações nervosas livres: receptores da dor


• terminações encapsuladas
ü corpúsculos de Miessner: receptor do tato
ü corpúsculo terminal (de Krause): sensíveis ao frio
ü corpúsculo de Ruffini: sensível ao calor
ü corpúsculo de Pacini: sensível à pressão
ü fuso neuromuscular: receptor intramuscular, sensível ao grau de
contração muscular.
• órgão neurotendíneo
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Podemos classificá-los pelo tipo de estímulo que os sensibiliza; se mecânico,
físico, químico, etc.

Os mecânoceptores: estimulam-se com estímulos mecânicos.

Os termoceptores: estimula-se com estímulos de temperatura

Os quimiocepores: estimulam-se com estímulos químicos

Os fotoceptores: estimulam-se com ondas eletromagnéticas de reflexão da


luz.

Outra forma de classificá-los é pelo local onde se encontram; se na periferia do


corpo, no interior das vísceras ou no interior dos músculos articulações e
tendões, que é uma classificação especial.

Os interoceptores: encontram-se nas paredes das vísceras.

Os exteroceptores: encontram-se na periferia do corpo, na pele.

Os proprioceptores: encontram-se nos músculos, tendões, ligamentos e


demais estruturas articulares.

Gânglio: é uma estrutura arredondada e firme, composta de corpos de


neurônios. Os corpos de neurônios não se encontram dispersos pelo
organismo. Ou estão no sistema nervoso central ou estão em gânglios do
sistema nervoso periférico. Outro aspecto importante: não devemos confundir
gânglios nervosos com nódulos linfáticos.

Sistema nervoso central

Constitui-se de encéfalo e medula. A medula está no canal


vertebral e o encéfalo, em continuidade, na cavidade craniana. São as
estruturas mais nobres do sistema nervoso. Caso ocorra uma lesão a elas, as
seqüelas são amplas, limitantes e em alguns casos fatais.

A medula espinal

A medula se estende de C1 à L2. Desde o nascimento. Somente


durante o desenvolvimento embrionário existe uma equivalência entre a
extensão da coluna e da medula. Através dos forames intervertebrais os 31
pares de nervos espinais deixam a medula para inervar o pescoço, tronco,
membros superiores e inferiores. Esta diferença de tamanho da medula e do
canal vertebral determina um aspecto interessante no final do canal vertebral,
determinado pelos prolongamentos dos nervos espinais, mantendo sua relação
com os forames vertebrais por onde saem. Esta organização é denominada
cauda eqüina (Fig. 7B). Outro aspecto interessante é que essa região, livre da

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presença da medula tem sido usada para coletar líquido cérebroespinal para
exames de diagnóstico de hemorragia cerebral ou meningite. Também se
presta à punção em técnicas anestésicas.

Na medula, a substância cinzenta encontra-se no interior da branca,


formando um “H” central” (Fig. 7C). Os “cornos” anteriores deste “H” contêm
corpos dos neurônios motores que irão compor os nervos espinais. Os
“cornos” posteriores deste “H” contêm os corpos de neurônios sensitivos.
Não exatamente os que irão compor a porção sensitiva dos nervos espinais,
mas os segundos neurônios da via sensitiva. Os primeiros, que irão compor a
porção sensitiva do nervo, têm seus corpos em gânglios da raiz dorsal do
nervo espinal, que se localizam próximos aos forames intervertebrais
relacionados aos nervos (Fig. 7 D). Essa é uma regra em neuroanatomia: todo
neurônio sensitivo tem seu corpo em um gânglio. Compreende-se que cada
nervo espinal, dos 31 pares é misto (Fig. 7E).

cauda
equina

A B

ramo dorsal:
sensitivo

ramo ventral:
motor

D E

Figura 7. A: nervos espinais; B: cauda eqüina; C: substância cinzenta da


medula espinal; D: medula espinal no canal vertebral; E: composição do nervo
espinal. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia Humana 4 ed).

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O encéfalo

O encéfalo (Fig. 8A) é constituído pelo cérebro, cerebelo, tronco


cerebral e diencéfalo. Esse conjunto de cerca de 1,5kg contém espaços no
seu interior, denominados ventrículos (Fig. 8B). No interior dos ventrículos
estão os plexos coróides, onde é produzido o líquido cerebrospinal (Fig. 8C),
que na região dorsal do bulbo, porção inferior do tronco cerebral, deixa o IV
ventrículo para o espaço subaracnóideo.

cérebro

ventrículos
cerebrais

tronco
cerebelo
cerebral

A B

cérebro

diencéfalo
cerebelo
tronco
cerebral

Figura 8. A: encéfalo; B: ventrículos encefálicos; C: direção do fluxo do líquido


cérebroespinal. (Adaptado de de Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed
10 ed e Frank Netter – Atlas de Anatomia Humana 4 ed).

O cérebro

O cérebro (Fig. 9A e B) é a porção mais nobre do encéfalo. É


formado por dois hemisférios. Está na porção superior do encéfalo e constitui
seu maior volume e peso. Sua superfície ou córtex é composta de substância
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cinzenta ou por corpos de neurônios. Nesse local se processam as funções
conscientes, voluntárias: os sentidos especiais são interpretados, as funções
motoras esqueléticas são planejadas, a abstração (raciocínio) é elaborada e as
emoções são processadas.

A B

Figura 9. A: vista superior do cérebro; B: vista inferior do cérebro. (Adaptado de


de Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed).

A superfície cerebral apresenta giros e circunvoluções. Isso foi


uma estratégia evolutiva que proporcionou uma área maior de córtex cerebral
sem exigir um espaço maior da cavidade craniana.

A fissura mediana e lateral do cérebro são regulares, assim como


o sulco central. Isso quer dizer que em qualquer cérebro iremos observá-los
na mesma posição. Outros sulcos não são assim tão regulares. Algumas áreas
corticais têm função relativamente bem definida e conhecida, que permite um
mapeamento. O giro pré-central, aquele que se encontra diante do suco
central é motor. O giro pós-central é sensitivo. Nestes dois giros existe um
mapa projetado das áreas corporais correspondentes. Não existe uma
proporcionalidade, por exemplo: a área cortical motora da boca é muito maior
do que a área da perna. A área sensitiva da mão é muito maior do que a da
perna. Por esta razão a forma determinada é denominada homúnculo.

A fissura mediana em profundidade encontra uma estrutura de


associação inter-hemisférica: o corpo caloso (Fig. 10). Este conjunto de fibras
nervosas associa um hemisfério com outro, de maneira que podemos consultar
as informações e funções registradas em um dos lados através destas fibras.
Um exemplo para ilustrar esta questão é a escrita. Se somos destros,
conseguimos esboçar uma escrita com a mão esquerda acessando as
informações motoras necessárias registradas no outro hemisfério. Acima do
corpo caloso existe um grande giro cerebral, denominado giro do cíngulo.

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giro do cíngulo

corpo caloso

Figura 10. Vista lateral do cérebro, com o corpo caloso. (Adaptado de Frank
Netter – Atlas de Anatomia Humana 4 ed).

Para facilitar a localização das lesões o cérebro é dividido em


compartimentos, denominado lobos (Fig. 11A e B). Esses recebem nomes
relacionados aos ossos que estão próximos a eles e estão quase sempre
limitados por sulcos. Temos, na superfície cerebral os lobos: frontal, parietal,
occipital e temporal (Fig. 11A). Há, em profundidade à fissura lateral o lobo
da ínsula (Fig. 11B).
lobo temporal

lobo frontal
lobo occiptal

lobo temporal lobo da ínsula

Figura 11. A: lobos superficiais do encéfalo. B: lobo da ínsula. (Adaptado de


Frank Netter – Atlas de Anatomia Humana 4 ed).

A área da visão está no lobo occipital, nos lábios do sulco


calcarino. A área auditiva está no giro temporal transverso superior. A área
gustativa está na extremidade inferior do giro pós-central (Fig. 12A e B). A
área olfatória está no úncus do hipocampo, um giro do lobo temporal.

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As demais áreas corticais são áreas de associação. Quando há
lesão cerebral dessas áreas relacionadas, há uma certa previsibilidade de qual
serão as seqüelas. Mas isso não pode ser uma sentença. Porque há uma
plasticidade nas funções cerebrais. Dependendo da idade, especialmente,
outras áreas podem assumir a função de áreas lesadas, especialmente em
indivíduos jovens e em crianças.
área sensitiva

área motora

área visual
área auditiva
A B

Figura 12. A e B: áreas corticais relacionadas com interpretação de


sensibilidade. (Adaptado de de Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed).

O cerebelo

O cerebelo está localizado abaixo do cérebro, atrás da ponte e do


bulbo cerebral. Tem algumas semelhanças morfológicas com o cérebro: tem
dois hemisférios, seu córtex é cinzento e tem sulcos, na sua superfície. Porém,
os sulcos separam áreas longitudinais denominadas folhas cerebelares (fig.
13A e B).

A B

Figura 13. A: vista superior do cerebelo; e B: vista ventral do cerebelo.


(Adaptado de Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed).

As funções cerebelares diferem das cerebrais em um aspecto


básico: não são conscientes. E o cerebelo é especializado em função motora:
controla tônus muscular, equilíbrio e refinamento das funções motoras
estriadas esqueléticas. Esta região do encéfalo aumentou muito em volume
desde que nos tornamos bípedes. Nossos membros superiores ficaram livres

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para realizar muitos movimentos complexos, que exigiram mais área motora e
maior integração nervosa para equilibrar o corpo.

O tronco cerebral

A B

Figura 14. A: vista ventral do tronco cerebral; B: vista dorsal do tronco cerebral.
(Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia Humana 4 ed e ).

O tronco cerebral é composto pelo bulbo, ponte e mesencéfalo.


No seu interior encontram-se os núcleos (conjunto de corpos de neurônio no
interior do sistema nervoso central) dos 12 pares de nervos cranianos (Fig. 15).

A B

Figura 15. A: núcleos dos nervos cranianos no tronco cerebral. B: núcleo com a
origem aparente dos nervos cranianos no tronco cerebral. (Adaptado de
Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed e Frank Netter – Atlas de Anatomia
Humana 4 ed).

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Também no tronco cerebral estão centros nervosos importantes,
como o da respiração, freqüência cardíaca, tosse, deglutição e vômito.
Outra importante estrutura localizada no tronco é a formação reticular. É
formada por uma rede de neurônios que se distendem do diencéfalo até a
medula espinal. Conecta-se ao cérebro, ao cerebelo, aos núcleos dos nervos
cranianos, ao hipotálamo e à medula. Com toda essa extensão e conexões, a
formação reticular tem inúmeras funções. Destacam-se o SARA, sistema
ativador reticular ascendente, que é um “despertador” fisiológico que nos tira do
sono e nos coloca em vigília, todos os dias, aproximadamente no mesmo
horário, se dormimos um numero de horas suficientes para nos
recondicionarmos física e emocionalmente. Isso acontece porque o cérebro
está conectado à formação reticular. E nossos receptores estão sensíveis aos
eventos do meio, onde estamos, embora estejamos dormindo. Num
determinado momento, todos esses estímulos, concentrados pela formação
reticular determinam uma descarga no córtex cerebral, o que nos desperta.
Outra função da formação reticular é proporcionar uma seleção eferente das
aferências: nós somos capazes de focar nossa atenção, mesmo quando
estamos expostos a vários tipos diferentes de estímulos.

O diencéfalo

Esta região do encéfalo pode ser vista em cortes longitudinais, pois


o cérebro a encobre. A região é composta pelos tálamos, hipotálamo e
epitálamo.

Os tálamos são locais por onde todos os impulsos sensitivos,


menos os olfatórios (que são os mais primitivos e tem uma via nervosa própria)
passam antes de serem direcionados às áreas corticais de interpretação.

O hipotálamo (Fig. 16) é uma área importante para preservação da


vida vegetativa ou involuntária. Ai estão os núcleos que controlam atividades
importantes e vitais, como: temperatura corporal, fome, saciedade, ingestão
de líquidos, atividade gastrointestinal, atividade sexual, emoções como o
medo e a raiva. Está conectado com a hipófise, tendo uma estrita relação
com o sistema endócrino. Na sua anatomia de superfície estão os corpos
mamilares, o túber cinéreo, o infundíbulo e o quiasma óptico.

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hipotálamo

A B

Figura 16. A: hemiencéfalo, com hipotálamo; B: hipotálamo, destacando seus


núcleos. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia Humana 4 ed e
Sobotta – Atlas de Anatomia Humana 21 ed).

O epitálamo é composto por algumas estruturas menores dentre as


quais se destaca a pineal. Esta pequena projeção é considerada uma estrutura
endócrina, já descrita no sistema endócrino. Produz a melatonina, substância
envolvida nos mecanismos do sono. E produz outras substâncias envolvidas no
retardo do amadurecimento sexual masculino.

O sistema límbico

O sistema límbico é um conjunto de estruturas que, embora já


tenham sido comentadas no contexto do sistema nervos, estão assim
associadas por integrarem as funções emocionais.

O circuito básico desse sistema é denominado circuito de Papez,


integra o giro do hipocampo (um giro do lobo temporal), o fórnix (feixe de
fibras nervosas que relaciona o hipocampo ao corpo mamilar), o septo
pelúcido (membrana entre o corpo caloso e o fórnix), o corpo mamilar
(estrutura da anatomia de superfície do hipotálamo), o tálamo, o giro do
cíngulo (giro acima do corpo caloso) e fecha novamente no hipocampo. A ele
se associam diferentes áreas corticais, como a olfatória, a visual, a auditiva
entre outras. Vemos que o hipotálamo participa do sistema límbico, assim
como áreas visuais. Por esta razão, às vezes uma imagem, um som, um cheiro
pode nos despertar uma emoção que pode ser acompanhada de
manifestações orgânicas, como aceleração do peristaltismo do trato
gastrointestinal ou aumento de freqüência cardíaca, etc.

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Os nervos cranianos

Figura 17. Nervos cranianos. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia


Humana 4 ed).

São 12 pares de nervos craninanos (Fig.17): I- olfatório, II- óptico, III-


oculomotor, IV- troclear, V- trigêmio, VI-abducente, VII-facial, VIII-
vestibulococlear, IX-glossofaríngeo, X-vago, XI- acessório e XII- hipoglosso.

O I par, nervo olfatório (Fig. 18) é um nervo sensitivo puro. Vem


da mucosa nasal. Responsável pela sensibilidade ao cheiro.

Figura 18. Nervo olfatório. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia


Humana 4 ed).

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O II par, nervo óptico (Fig. 19) é um nervo sensitivo puro. Forma-
se na retina do globo ocular. É o nervo da visão.

Figura 19. Nervo óptico. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia


Humana 4 ed).

O III, IV e VI pares de nervos cranianos, nervos oculomotor,


troclear e abducente (Fig. 20) são nervos motores e estão relacionados com a
motricidade dos músculos extrínsecos do globo ocular, que movem o globo
para que possamos focar os objetos.

Figura 20. Nervos oculomotor, troclear e abducente. (Adaptado de Frank Netter


– Atlas de Anatomia Humana 4 ed).

O V par, o nervo trigêmio (Fig. 21) é um nervo misto. Seu


componente sensitivo é o principal da face. Tanto a dor de dente como a
sensibilidade na pele de todo o rosto é sentida pelo nervo trigêmio. Sua porção
motora se distribui para alguns músculos, como o grupo da mastigação.

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Figura 21. Nervo trigêmio. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia
Humana 4 ed).

O VII par é o nervo facial (Fig. 22). Este nervo é misto e tem uma
distribuição ampla no crânio: para glândulas salivares maiores submandibular e
sublingual, para glândula lacrimal, tem um componente sensitivo para gustação
na língua e é motor da musculatura da expressão facial.

Figura 22. Nervo facial. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia


Humana 4 ed).

O VIII par é o nervo vestibulococlear (Fig. 23), um nervo


sensitivo puro responsável pela sensibilidade auditiva e pelo equilíbrio da
cabeça.

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A B

Figura 24. A: nervo vestíbulo coclear. Na perspectiva das estruturas do ouvido


interno dentro do osso temporal, na base do crânio; B: os receptores do ouvido
interno, determinando o nervo vestíbulo-coclear. (Adaptado de Frank Netter –
Atlas de Anatomia Humana 4 ed).

O IX par é o nervo glossofaríngeo (Fig. 25) é um nervo misto que


inerva a musculatura da faringe e a mucosa do terço posterior da língua, além
da glândula parótida.

Figura 25. Nervo glossofarígeo. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia


Humana 4 ed).

O X par é o nervo vago (Fig. 26), um nervo misto que tem uma
distribuição restrita na face, para a musculatura do palato, faringe e laringe,
mucosa das fauces e palato e maior para as vísceras do tórax e do abdome.

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Figura 26. Nervo vago. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia
Humana 4 ed).

O XI par, o nervo acessório (Fig. 27) é acessório do vago na


inervação da laringe. Também se distribui em músculos do pescoço.

Figura 27. Nervo acessório. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia


Humana 4 ed).

O XII par, o nervo hipoglosso (Fig. 28) é um nervo motor, para a


musculatura da língua.

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Figura 28. Nervo hipoglosso. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia
Humana 4 ed).

O sistema nervoso autônomo

O sistema nervoso autônomo (Fig. 29) é didaticamente descrito


como sendo uma parte do componente eferente (motor) do sistema nervoso.
Na verdade existe sim, a porção aferente. Temos receptores nas vísceras. Mas
este componente não tem vias nervosas tão especificamente distintas como o
componente aferente.

É composto pela porção simpática e pela porção parassimpática.


Em grande parte das vezes, a ação destes componentes no controle da
atividade dos órgãos é antagônica, mas melhor diríamos que são
complementares.

O componente eferente autônomo (involuntário) se distingue do


somático (voluntário) por apresentar dois neurônios. Como sabemos, o corpo
dos neurônios no sistema nervoso periférico deve estar em gânglios. Devemos
então conhecer alguns gânglios e cadeias de gânglios nesta organização
autônoma do sistema nervoso.

O componente simpático

Os primeiros neurônios do componente eferente (motor) simpático


têm seus corpos celulares localizados na substância cinzenta da medula, de

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T1 a L2. É uma localização tóraco-lombar. Os prolongamentos desses
neurônios deixam a medula e fazem sinapse em uma cadeia ganglionar
paravertebral. Esta cadeia tem gânglios desde a região cervical até a região
sacral. Assim, os axônios que não fizerem sinapse no mesmo nível que deixam
a medula podem fazer sinapse em gânglios que estão acima ou abaixo daquele
nível, garantindo que o componente simpático possa ser levado pelos nervos
espinais de todos os níveis, para os efetuadores da pele. Por exemplo, as
glândulas sudoríparas, sebáceas, músculo eretor do pelo e vasos sanguíneos.
Para as vísceras abdominais e pélvicas, o componente simpático faz sinapse
em gânglios que estão dispostos em uma cadeia ganglionar pré-vertebral. Em
um número menor de gânglios.

Para chegar aos efetuadores do crânio, o componente simpático faz


sinapse nos gânglios cervicais da cadeia paravertebral e “pegam carona” com
a artéria carótida comum, que se direciona para o crânio. Uma vez no crânio, o
componente simpático irá compor com os nervos cranianos que se distribuem
para efetuadores do tipo glândula e músculos lisos. Exemplo: iris, glândulas
salivares, glândula lacrimal, etc.

O neurotransmissor que o componente simpático libera junto ao


efetuador é a norepinefrina (adrenalina). Com exceção dos efetuadores da
pele. Neste local a acetilcolina é liberada.

Figura 29. Esquema da distribuição do sistema nervoso autônomo. (Adaptado


de Junqueira & Carneiro, Histologia Básica, 10 ed).

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O componente parassimpático

O componente parassimpático tem distribuição crânio-sacral.


Os corpos dos primeiros neurônios do componente eferente (motor)
parassimpático estão nas colunas de substância cinzenta do tronco cerebral
(núcleos dos nervos cranianos) e na substância cinzenta da porção sacral da
medula espinal. No crânio fazem sinapse com o segundo neurônio que está
dentro dos gânglios ciliar, pterigopalatino, ótico e mandibular (Fig. 30).
Todos esses gânglios estão próximos de ramos do nervo trigêmio, que tem
uma ampla distribuição no crânio e permite que o componente parassimpático
“pegue carona” na composição desses ramos nervosos e chegue aos
efetuadores. O nervo vago, o X par craniano traz o componente parassimpático
para os efetuadores do tórax e abdome. Nesse caso, a sinapse com o segundo
neurônio é feita em gânglios menores, próximos ou dentro da parede das
vísceras. A mesma coisa com relação à porção sacral. O segundo neurônio
está próximo ou na parede das vísceras. O primeiro, como dito anteriormente,
está na substância cinzenta da medula.

gânglio ciliar

gânglio ptérigopalatino
A B

gânglio ótico

gânglio submandibular

C D

Figura 30. Gânglios parassimpáticos cranianos. A: ciliar; B: pterigopalatino; C:


ótico; D: submandibular. (Adaptado de Frank Netter – Atlas de Anatomia
Humana 4 ed).

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A medula da supra-renal funciona como um gânglio do
componente simpático em situações extremas, que necessitam de grande
vigor físico. Nestas ocasiões, o estímulo à medula da supra-renal leva à
liberação de norepinefrina e epinefrina diretamente na corrente sanguínea, o
que via prepara o corpo para atividades vigorosas: vasoconstrição periférica e
cerebral, vasodilatação nos músculos, miose, broncodilatação e aumento da
produção de glicose hepática. Essa é a reação de “lutar ou fugir”. Qualquer
uma das opções exige vigor físico.

O neurotransmissor entre o neurônio pré e pós-ganglionar em


ambas as porções do sistema nervoso autônomo é a acetil-colina.

As diferenças entre a porção simpática e parassimpática

Simpático

• anatômica: neurônio pré-ganglionar curto e pós-ganglionar longo


• bioquímica: neurotransmissor junto ao efetuador é a nor-epinefrina
(adrenalina)

Parassimpático

• anatômica: neurônio pré-ganglionar longo e pós-ganglionar curto


• bioquímica: neurotransmissor junto ao efetuador é a acetil-colina

Atividade 4
Sistema nervoso
Pesquise sobre a depressão. Como essa condição está presente na
população, quais são os fatores etiológicos, predisponentes e desencadeantes.
Quais são os diagnósticos diferenciais, em que outras doenças ela está
associada como um dos sintomas e como deve ser tratada.

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Bibliografia recomendada

http://www.histo-embrio.uerj.br/histologia.gif

http://www.radiocentercuritiba.com.br e B:redetec.org.br

http://4.bp.blogspot.com

http://auladeanatomia.com/generalidadesdd.jpg

Cormak, D. H. Fundamentos de Histologia. 2003. Guanabara Koogan, Rio de


Janeiro, Brasil.

Douglas C. R. Tratado de fisiologia aplicada às ciências médicas, 6ª Ed. Robe


Editorial, 2005. São Paulo, Brasil.

Goss, C. M. Gray Anatomia. 37ª. Ed. Guanabara Koogan, 1995. Rio de Janeiro,
Brasil.

Junqueira, L. C.; Carneiro, J. Histologia Básica, 10ª. Ed. Guanabara Koogan,


2004. Rio de Janeiro, Brasil.

Machado, A. Neuroanatomia Funcional. 4ª. Ed. Manole, 2008. São Paulo,


Brasil.

Moore, K. Anatomia orientada para a clínica. 5ª. Ed. Guanabara Koogan, 2007.
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Netter, F. Atlas de anatomia Humana. 4ª. Ed. 1999. Atheneu, São Paulo.

Sobotta. Atlas de Anatomia Humana. 23ª. Ed. Guanabara Koogan, 2009. Rio
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Spence, A. P. Anatomia Humana Básica. 3ª. Ed. Manole, 2000. Porto Alegre,
Brasil.

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