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APLICADA À
FISIOTERAPIA
Introdução
Os neurônios são as células do sistema nervoso central (SNC) e possuem a
capacidade de estabelecer conexões entre si quando recebem estímulos
advindos do ambiente externo ou do próprio organismo. Os neurônios
estimulados geram impulsos de natureza elétrica e liberam íons e subs-
tâncias químicas que, lançadas nas sinapses, estabelecem ligações entre
eles. A cada novo estímulo, a rede de neurônios se recompõe e reorganiza,
o que possibilita uma diversidade enorme de respostas.
Plasticidade neuronal é o nome dado a essa capacidade que os neu-
rônios têm de formar novas conexões a cada momento. Por isso, pessoas
que sofreram acidentes, por exemplo, com perda de massa encefálica,
déficits motores, visuais, de fala e audição, se recuperam lentamente, e,
dependendo do grau da agressão, podem chegar à idade adulta sem
sequelas, ou com sequelas moderadas a graves.
Resumindo, a plasticidade neuronal pode ser definida como uma
mudança adaptativa na estrutura e nas funções do sistema nervoso (SN),
que ocorre em qualquer estágio da vida, como função de interações com
o ambiente interno ou externo ou, ainda, como resultado de injúrias, de
traumatismos ou de lesões que afetam o sistema neural.
Neste capítulo, você vai identificar a capacidade de adaptação do SN
frente a diferentes estímulos e como ocorre o processo de plasticidade
neural; relatar as adaptações que ocorrem no SN íntegro e lesionado e
2 Plasticidade neural
O SNC possui uma rede neural complexa, com células altamente espe-
cializadas, que fazem milhares de conexões a todo momento e determinam
a sensibilidade e as ações motoras, traduzindo-as em comportamento. Na
presença de lesões, há um desarranjo nessa rede neural e o SNC inicia seus
processos de reorganização e regeneração (CURI; ARAÚJO FILHO, 2009).
A análise dos aspectos plásticos do SNC permite-nos relacioná-los a vários
fatores, como influência do ambiente (o ambiente terapêutico deve fornecer
condições adequadas para o aprendizado ou reaprendizado motor do paciente),
o estado emocional (motivação e depressão), o nível cognitivo (indivíduos
com menor déficit cognitivo respondem de maneira mais adequada à terapia),
entre outros, que interferem direta ou indiretamente na plasticidade do SNC
e, consequentemente, na reabilitação do paciente neurológico.
Desenvolvimento
Aprendizagem
Alterações no encéfalo
Antigamente, acreditava-se que após uma lesão cerebral as conexões neu-
rais eram totalmente perdidas e nada se podia fazer a respeito. Contudo, um
paciente que experimenta os fenômenos da recuperação após lesão cerebral
possui um SNC anormal ou atípico, não só em termos das disfunções alteradas
ou perdidas, mas também em termos de conexões sinápticas, circuitos e vias
destruídas ou modificadas, devido à reorganização do SNC. Essa reorganização
é também responsável pelas modificações que são observadas clinicamente no
sistema neuromuscular dos pacientes. Por esses meios, diz-se que o indivíduo
pode reaprender atividades desenvolvidas por ele previamente de forma es-
pontânea e harmoniosa. Porém, esse processo é lento e gradual, devendo ser
valorizados os pequenos progressos de cada dia (CURI; ARAÚJO FILHO,
2009; BARRETT et al., 2014).
A neurogênese no cérebro adulto é modulada por vários mecanismos
fisiológicos e patológicos. Exercícios físicos e aprendizado são tidos como
estimulantes da neurogênese, enquanto privação de sono e ingestão crônica
de álcool e drogas de abuso são fortes inibidores. A epilepsia é uma condição
patológica na qual ocorre estimulação da neurogênese (TEIXEIRA, 2008).
Várias desordens afetivas parecem estar relacionadas com a inibição da
neurogênese. Estudos de imagem em pacientes com depressão maior unipolar,
transtorno de humor bipolar e doenças crônicas associadas a distúrbios psi-
quiátricos, como transtorno de estresse pós-traumático e doença de Cushing,
têm sistematicamente descrito atrofia hipocampal (TEIXEIRA, 2008).
A reabilitação do cérebro lesado pode promover reconexão de circuitos
neuronais lesados. Quando há uma pequena perda de conectividade, tende-se
a uma recuperação autônoma, enquanto uma grande perda terá lesões perma-
nentes da função. Também existem lesões potencialmente recuperáveis, mas
que, para tanto, necessitam de objetivos precisos de tratamento, mantendo
níveis adequados de estímulos facilitadores e inibidores. As mudanças orga-
nizacionais dependem da localização da lesão e são encontrados em ambos os
hemisférios cerebrais, dependendo de áreas lesadas e íntegras pré-existentes
e do processamento de redes difundidas e organizadas sem a formação de
novos centros (COSTANZO, 2011).
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10 Plasticidade neural
Embora a característica mais relevante do cérebro que está envelhecendo seja a dimi-
nuição dos neurônios, as descobertas recentes de que não ocorre perda extensiva de
neurônios corticais em decorrência da idade em humanos enfraqueceram a premissa
da perda neuronal no envelhecimento. Seguindo essa perspectiva, pesquisas indicaram
que uma das principais causas da diminuição do cérebro humano velho é a perda
da substância branca das fibras mielinizadas localizadas nos hemisférios cerebrais.
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