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Neuroplasticidade Cerebral

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Constituição geral do sistema nervoso
O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso
periférico (SNP) e as células que compõem esses sistemas podem ser divididas em duas
categorias: os neurônios (unidade funcional do sistema nervoso) e as células da glia
(células de suporte ou sustentação). Os neurônios são células especializadas na
sinalização elétrica e se comunicam por meio de contatos especializados chamados de
sinapses, enquanto, as células da glia atuam promovendo auxílio a integridade e
função neuronal. Referente ao SNC, o nosso cérebro é uma estrutura capaz de realizar o
processamento consciente do pensamento e todas as funções intelectuais nos hemisférios
cerebrais, além do processamento de informações sensitivas e motoras somáticas
captadas e enviadas ao SNP (PURVES, 2010; MARIEB, 2014).

O sistema nervoso central


O SNC é responsável por diversas funções de comando e controle que são imprescindíveis
para o funcionamento do nosso organismo. Esse sistema é constituído pelo encéfalo e pela
medula espinhal.

O encéfalo compreende o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico, sendo a parte


responsável pela nossa memória, inteligência e emoções, por receber e processar
informações sensoriais, assim como enviar comando de reações motoras através de
movimentos musculares. A medula espinhal é uma estrutura conectora entre o
encéfalo e o restante do organismo, como os músculos, órgãos e glândulas.

As lesões do SNC são de grande importância social e econômica por acarretarem


incapacidade permanente em adultos, gerando também altos índices de mortalidade. As
consequências de uma lesão do SNC dependem, principalmente, do tipo da lesão, do local
lesionado e de sua extensão, visto que ela pode implicar na ausência ou interrupção da
transmissão neuronal para o restante do organismo, o que causa grandes impactos na
vida dos indivíduos (MACHADO, 1993).

Lesões do SNC e suas consequências


Diversas alterações encefálicas podem resultar nas lesões cerebrais, podendo ser devido a
interrupção do suprimento sanguíneo ao cérebro, como nos acidentes vasculares
encefálicos e nos traumatismos crânio encefálicos, deixando sequelas permanentes, leves
ou graves ao indivíduo. As consequências acabam por refletir em alterações nas áreas
motoras, cognitivas ou sensoriais, sendo que a perda da percepção, interpretação ou
integração da informação sensorial, poderá afetar intensamente a destreza, a segurança e
a habilidade manual, dificultando a execução das atividades e podendo levar à negligência
do membro afetado. Entre outras funções primárias, o sistema tátil também é responsável
pelo desenvolvimento emocional e social do indivíduo, sendo que as informações
sensoriais, especialmente aquelas provenientes da pele, são importantes para o
desenvolvimento de um modelo interno do corpo em ação e constituem, portanto,
ferramentas essenciais no desenvolvimento e utilização das habilidades motoras.

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Entretanto, a função motora preservada não é o único determinante para que o paciente
consiga realizar suas atividades. O desempenho da eficiência manual pode ficar
extremamente prejudicado se, erroneamente, compreendermos apenas a abordagem
motora como fator primordial no desenvolvimento da funcionalidade do indivíduo. A
melhora da sensibilidade tátil favorece a consciência corporal, facilitando a realização das
atividades cotidianas com maior segurança, prevenindo riscos de acidentes e evitando a
persistência da negligência corporal (RIBEIRO SOBRINHO, 1995; LENT, 2010).

Neuroplasticidade
Apesar de sua importância, os neurônios não sofrem divisão celular, pois grande parte dos
recursos celulares deles é dedicada à comunicação e ao transporte de mensagens
eletroquímicas para outros neurônios, não apresentando estruturas fundamentais ou
recursos para se multiplicarem.

Apesar de os neurônios conterem núcleo celular com organelas citoplasmáticas, eles não
possuem centríolos, que são organelas essenciais para a divisão celular. Sendo assim,
qualquer dano ou risco potencial ao sistema nervoso deve ser levado a sério, pois essas
células não sofrem replicação.

A neuroplasticidade ou plasticidade neuronal se refere à capacidade de modificação


das redes neurais por meio do crescimento e da reorganização morfológica e funcional em
resposta às alterações do ambiente. Na presença de lesões do sistema nervoso que
prejudiquem alguma função, tanto o SNC quanto o SNP se utilizam desta capacidade na
tentativa de recuperar funções perdidas e/ou, principalmente, fortalecer funções similares
as originais.

As lesões cerebrais são talvez as que provoquem maiores e mais extensos déficits
funcionais no ser humano. Elas provocam disfunções, paralisias e déficits, cognitivos,
sensitivos e motores, que acometem várias modalidades das inúmeras funções do cérebro
e do organismo humano. Contudo, apesar da gravidade que sejam as consequências
destas lesões, podem ser observadas melhoras espontâneas nos déficits funcionais ao
longo de semanas, meses e após vários anos, sendo este mecanismo denominado de
neuroplasticidade cerebral.

Ela é o meio pelo qual o organismo cria modificações funcionais duradouras permitindo a
acomodação entre os desafios do meio e as possibilidades do indivíduo e apesar dessa
capacidade regenerativa natural do sistema nervoso, estas recuperações funcionais são
parciais e funcionalmente pouco eficazes.

No cérebro, dois tipos de neuroplasticidade podem ser citadas:

1. Neuroplasticidade funcional: capacidade do cérebro de mover funções de uma


área lesionada para outra não danificada.
2. Neuroplasticidade estrutural: a capacidade do cérebro de realmente mudar sua
estrutura física como resultado do aprendizado.

Ambas as mudanças variam desde novas conexões neuronais a ajustes sistemáticos,

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como remapeamento cortical. Embora a maior parte da capacidade do corpo de se
recuperar após um dano ao cérebro possa ser explicada pela melhora da área cerebral
danificada, estudos mostram que grande parte é o resultado da formação de novas
conexões neurais (neuroplasticidade) (RIBEIRO SOBRINHO, 1995; PURVES, 2010).

Modificações neurais
A lesão de um nervo por secção acarreta modificações no corpo celular dos neurônios, nos
segmentos proximal e distal à secção, no local da lesão e nos órgãos inervados. Na região
proximal à lesão, os axônios sofrem um processo de degeneração semelhante ao que
ocorre no coto distal, mas geralmente estendendo-se apenas ao nódulo de Ranvier mais
proximal. Em situações extremas, o processo de degeneração pode atingir o corpo celular
provocando a morte da célula, cujo mecanismo mais provável é a apoptose ou morte
celular programada. Se o processo de regeneração neuronal não ocorrer, alterações
podem se desenvolver nos órgãos-alvo (PURVES et al., 2010; KANDEL, 2014).

Regeneração do sistema nervoso


A regeneração do sistema nervoso é possível, no entanto, existem limites no processo de
regeneração que envolvem, de modo geral, três tipos de reparo que podem ocorrer
quando o tecido nervoso é lesionado:

1. Regeneração axonal: reparo no qual há um crescimento de novos axônios a partir


de neurônios em gânglios periféricos ou daquelas células no SNC cujos axônios que
se projetam perifericamente sofreram algum dano. Esse tipo de reparo requer uma
reativação dos processos tanto para o crescimento e direcionamento de axônios
quanto para a formação inicial de sinapses que ocorrem durante o desenvolvimento,
além de requerer mecanismos competitivos dependentes de atividade para um
pareamento quantitativo adequado entre os aferentes formados novamente e seus
alvos temporariamente desnervados. A regeneração axonal é comumente
observada quando nervos sensoriais ou motores são lesionados na periferia
(membros superiores ou inferiores), deixando intactos os corpos celulares nos
gânglios ou na medula espinhal, sendo esse o tipo de reparo mais facilmente
executado no sistema nervoso e o mais bem-sucedido clinicamente.
2. Restauração neuronal: reparo no qual há a restauração de células nervosas
lesionadas no SNC que, embora danificadas, sobrevivem. Para que esse reparo seja
realizado, é necessário que as células nervosas sejam capazes de restaurar seus
processos e suas conexões danificadas a um certo grau de integridade funcional.
Enquanto esse tipo de reparo compartilha muitas das necessidades para o reparo de
nervos periféricos, ele também requer um novo crescimento de células gliais
preexistentes que torne um ambiente mais complexo. Esse tipo de reparo é menos
comum que o reparo de nervos periféricos. Nele, há a perda do suporte trófico,
devida à lesão a axônios e dendritos, mais as ações de citocinas inflamatórias
(liberadas pelos macrófagos e por outras células do sistema imunitário em resposta
à lesão do tecido) que podem suprimir a reativação de mecanismos celulares
responsáveis pelo crescimento de axônios e dendritos e pela formação de sinapses.
3. Neurogênese: síntese de novos neurônios para substituir aqueles que foram

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perdidos. É um tipo de regeneração que raramente ocorre, pois para que esse
reparo seja possível, diversos critérios devem ser satisfeitos. Primeiro, o tecido
nervoso deve reter uma população de células-tronco neurais multipotentes, capazes
de originar todos os tipos celulares encontrados em um encéfalo maduro que então
poderão se diferenciar em novos neurônios.

Novos estudos ainda são necessários para que haja uma melhor compreensão da biologia
celular e molecular do sistema nervoso para que esse avanço possa levar

a tratamentos que promovam o reparo de tecido neural lesionado em mamíferos,


incluindo humanos (KANDEL, 2014; PURVES et al., 2010).

Desta maneira, a regeneração do sistema nervoso é essencial para a recuperação de


lesões e doenças neurológicas. Os processos de regeneração axonal, restauração neuronal
e neurogênese são mecanismos importantes que podem ser estimulados para promover a
recuperação do sistema nervoso, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

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Referências
KANDEL, E.R. Princípios de Neurociências. 5ª Edição, Porto Alegre, Editora MC HILL,
2014.

LENT, Robert. Cem Bilhões de Neurônios Conceitos Fundamentais de


Neurociências. 2ª Edição, Editora Atheneu, 2010.

MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. 2ª Edição, Editora Atheneu, 1993.

MARIEB, E. N.; WILHELM, P. B.; MALLATT, J. Anatomia humana. 7ª Edição, Editora


Pearson, 2014.

PURVES, D et al. Neurociências. 4ª Edição, Porto Alegre: Editora Artmed, 2010.

RIBEIRO SOBRINHO, José Brenha. Neuroplasticidade e a recuperação da função após


lesões cerebrais. Acta Fisiátrica, [S.L.], v. 2, n. 3, p. 27-30, dez. 1995.

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