Você está na página 1de 21

FISIOLOGIA

APLICADA A
FISIOTERAPIA

Mateus Dias Antunes


Neurofisiologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as estruturas anatômicas que compõem o sistema nervoso


com ênfase no neurônio e seu funcionamento.
„„ Discutir os mecanismos de ajuste e controle do neurônio e do sistema
nervoso diante a estímulos internos e externos.
„„ Relacionar as estruturas do sistema nervoso com a função de controle
do movimento humano.

Introdução
O sistema nervoso capacita o organismo para perceber as variações
do meio interno e externo, difundir as alterações que essas variações
estabelecem e executar as respostas adequadas para que seja mantido o
equilíbrio interno do corpo. Além disso, ele também é responsável pelos
sistemas envolvidos na coordenação e na regulação das funções corporais.
Existem também algumas estruturas no sistema nervoso que atuam
fortemente no planejamento e controle de movimento. Além disso,
a Neurofisiologia estuda a movimentação de íons por meio de uma
membrana e também a ação de neurotransmissores.
Neste capítulo, você vai aprender a identificar as estruturas anatômicas
que fazem parte do sistema nervoso central (SNC), os mecanismos de
ajuste e controle do neurônio a diversos estímulos, bem como quais são
as estruturas que controlam o movimento humano. É importante que os
profissionais estejam sempre atentos às atividades neurais e, principal-
mente, quanto ao funcionamento das estruturas nervosas.
2 Neurofisiologia

Estruturas anatômicas do sistema nervoso


O sistema nervoso é formado por um conjunto de ligações entre nervos
e órgãos do corpo, tendo como função captar informações, mensagens
e outros estímulos externos e internos e respondê-los. Além disso, ele é
o responsável por comandar todos os movimentos do nosso corpo, tanto
voluntários quanto involuntários. Controlar todos os sistemas fisiológicos
do corpo, como a respiração e os batimentos cardíacos, é uma de suas
principais funções.
O sistema nervoso permite a identificação, o armazenamento e a interpre-
tação de todos os estímulos externos (como gostos, cheiros, toques, imagens
e sons) e internos (como sensação de fome, sede e cansaço). Para iniciar essa
explicação, o sistema nervoso é dividido em duas partes: central e periférico.
O tecido nervoso apresenta dois principais tipos de células: os neu-
rônios, considerados células nervosas, e as neuróglias, que são células
gliais. Os neurônios são unidades estruturais do sistema nervoso espe-
cializadas em comunicação rápida e as neuróglias são células auxiliares
que têm a função de suporte ao funcionamento do SNC (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2004).
Um neurônio é formado por um corpo celular com prolongamentos: os
dendritos e o axônio (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). Os dendritos ex-
pressam os impulsos nervosos que entram e saem do corpo celular, enquanto
os axônios terminais realizam a sinapse (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).
As camadas de lipídios e substâncias proteicas formam uma bainha de mielina
ao redor de alguns axônios, fazendo com que a velocidade do impulso nervoso
aumente (Figura 1) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Desses inúmeros neurônios, existem diferentes tipos que podem ser classifi-
cados segundo a sua forma ou função. Na classificação de acordo com a forma,
eles podem ser neurônios multipolares que apresentam muitos prolongamentos
celulares, vários dendritos e um axônio. Já os neurônios bipolares apresentam
apenas dois prolongamentos, ou seja, um axônio e outro prolongamento que
pode se ramificar em dendritos e neurônios unipolares que têm apenas um
prolongamento: o axônio.
Na classificação segundo a função, eles podem ser neurônios sensitivos que
recebem os estímulos recebidos de fora do corpo e produzidos internamente,
transmitindo-os ao SNC. Já os neurônios motores recebem as informações do
SNC e as transmitem para os músculos e as glândulas do corpo. Eles também
podem ser neurônios integradores, os quais são encontrados no SNC e conectam
os neurônios, interpretando estímulos sensoriais (Figura 2) (COSENZA, 2013).
Neurofisiologia 3

Dentritos

Corpo celular

Núcleo

Axônio

Bainha de mielina

Terminal axonal

Figura 1. Anatomia do neurônio.


Fonte: Adaptada de Kicky_princess/Shutterstock.com.

Figura 2. Tipos de neurônios.


Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.
4 Neurofisiologia

O segundo tipo de célula são as neuroglias, também conhecidas como


células da glia, as quais são um número cinco vezes maior do que os neurônios.
Elas são formadas por células não neuronais e não excitáveis que constituem
um importante componente do tecido nervoso, apoiando, isolando e nutrindo os
neurônios. As células da glia fazem parte do sistema nervoso. Elas são células
auxiliares que têm a função de suporte ao funcionamento do SNC e diferem
em forma e função, sendo elas: oligodendrócitos, células de Schwann, células
ependimárias, astrócitos e micróglia (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Os oligodendrócitos são as células responsáveis pela produção da bainha de
mielina, os quais têm a função de isolante elétrico para os neurônios do SNC e
apresentam prolongamentos que se enrolam ao redor dos axônios, produzindo
a bainha de mielina (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
As células de Schwann apresentam função semelhante dos oligodendró-
citos, no entanto, estão localizadas ao redor dos axônios do sistema nervoso
periférico. Cada uma dessas células forma uma bainha de mielina em torno
de um segmento de um único axônio (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Já as células ependimárias são células epiteliais colunares que revestem os
ventrículos do cérebro e o canal central da medula espinal. Em algumas
regiões, essas células são ciliadas, facilitando a movimentação do líquido
cefalorraquidiano (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
Os astrócitos são células de formato estrelado com vários processos que
irradiam do corpo celular. Eles contam com feixes de filamentos intermedi-
ários formados pela proteína fibrilar ácida da glia que reforçam a estrutura
celular. Essas células ligam os neurônios aos capilares sanguíneos e a pia-
-máter (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004). A micróglia representa células
pequenas e alongadas, com prolongamentos curtos e irregulares, as quais são
fagocitárias e derivam de precursores que alcançam a medula óssea por meio
da corrente sanguínea, representando o sistema mononuclear fagocitário do
SNC. Além disso, participam também da inflamação e reparação do SNC,
secretam também diversas citocinas reguladoras do processo imunitário e
removem os restos celulares que surgem nas lesões do SNC (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2004).

Sistema nervoso central


O SNC é formado por duas partes básicas, o encéfalo e a medula espinal,
que integram e coordenam os sinais que chegam e saem, além de realizarem
funções mentais superiores, como o aprendizado e o raciocínio. O conjunto de
células nervosas do SNC é chamado de núcleo, como, por exemplo, o núcleo
Neurofisiologia 5

caudal. Os axônios (feixe de fibras nervosas do sistema nervoso) se unem aos


núcleos próximos ou distantes do córtex cerebral e formam um trato (MOORE;
DALLEY; AGUR, 2014).
O encéfalo está localizado no interior da calota craniana. Trata-se de uma
parte bastante complexa do SNC, visto que está relacionado com atividades
que incluem desde a razão e a inteligência, até o controle da pressão sanguínea
e da temperatura. O encéfalo se divide em três partes: cérebro, cerebelo e
tronco cerebral (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).
O cérebro é responsável por receber os sinais sensitivos e elaborar reações
motoras voluntárias. Ele ocupa quase toda a caixa craniana. O cérebro é dividido
em duas metades: o hemisfério direito e o esquerdo, sendo que ambos se ligam
por meio de um feixe de fibras brancas: o corpo caloso (SCHUNKE, 2007).
Cada hemisfério cerebral tem três faces e duas extremidades. As faces se
dividem em externa (convexa em relação à abóbada craniana), inferior (que é
irregular, fica acima da base do crânio e sobre o cerebelo) e interna (vertical,
plana e relacionada à face interna do hemisfério oposto) (SCHUNKE, 2007).
Em cada hemisfério, há uma cavidade que é o ventrículo lateral. Esses
ventrículos não se comunicam entre si diretamente, mas por meio do ventrí-
culo médio, também conhecido como terceiro ventrículo, o qual está entre
os dois hemisférios. O cérebro também é revestido pelas meninges, que são:
dura-máter (externa), aracnoide (média) e pia-máter (interna). Entre a camada
aracnoide e a pia-máter está o líquido cefalorraquidiano (SCHUNKE, 2007;
MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).

A face externa do cérebro se divide em quatro lobos, com suas respectivas circunvo-
luções. Esses lobos são: frontal, occipital, parietal e temporal. O lobo frontal é o que
ocupa a parte anterior do hemisfério, o lobo parietal fica depois da circunvolução
frontal ascendente do lobo frontal, o lobo temporal está situado na parte inferior da
face externa, abaixo do sulco lateral, e, por fim, o lobo occipital está na parte posterior
do hemisfério cerebral.

O cerebelo é um órgão do sistema nervoso que deriva da parte dorsal do


mesencéfalo e se localiza dorsalmente em relação ao bulbo e à ponte. A sua
diferença em relação ao cérebro se refere ao fato de o cerebelo funcionar
6 Neurofisiologia

sempre de modo inconsciente e involuntário e de ter função exclusiva para o


movimento, quanto ao equilíbrio e à coordenação (LENT, 2005).
O tronco cerebral, também denominado tronco encefálico, é uma região do
encéfalo que está entre a medula espinal e o tálamo. Ele tem três estruturas:
bulbo, mesencéfalo e ponte. Essas áreas são responsáveis por funções básicas
e fundamentais para manutenção da vida, como os batimentos cardíacos, a
respiração e a pressão arterial.
A medula espinal é o alongamento do SNC que se localiza dentro da coluna
vertebral, nos canais vertebrais, ao longo do eixo crânio caudal. Ela tem início
na junção do crânio com a primeira vértebra cervical e entre a primeira e a
segunda vértebras lombares na pessoa adulta. Na medula espinal estão todos
os neurônios motores que inervam os músculos e os eferentes que direcionam
o estímulo nervoso até a execução do movimento. Ela também recebe todos os
estímulos de sensibilidade do corpo humano e alguns da cabeça, realizando
o processamento inicial da informação de todos esses impulsos nervosos.
A medula espinal é formada por uma substância branca e cinzenta, assim
como o encéfalo. Os corpos dos neurônios se encontram na parede interna e
formam a substância cinzenta. A substância branca, por sua vez, é formada
por sistemas de tratos de fibra intercomunicantes. Ao fazer um corte trans-
versal na medula espinal, a substância cinzenta está em um formato que
parece a letra H, encoberta em uma matriz de substância branca. Os braços
do H são chamados de cornos, dos quais dois são anteriores e estão na parte
ventral, e dois posteriores que estão na parte dorsal, ambos direito e esquerdo
(MARTIN, 1998).

Sistema nervoso periférico


O sistema nervoso periférico é formado por nervos, gânglios e terminações
nervosas (SCHUNKE, 2007). Esse sistema é responsável por conduzir os
estímulos para o SNC ou emitir respostas em órgãos específicos. Nesse sentido
você compreenderá, a seguir, cada estrutura que compõe esse sistema.
Os nervos e as fibras nervosas são revestidas por tecido conjuntivo, for-
mando várias camadas, que são epineuro, perineuro e endoneuro. Entre as
túnicas de tecido conjuntivo, o epineuro é a camada mais externa que envolve
todo o nervo. Ele é constituído de tecido conjuntivo denso modelado, rico em
vasos sanguíneos e composto por colágeno tipo I e fibroblastos. O perineuro
reveste cada fascículo nervoso e é derivado de invaginações do epineuro, sendo
formado por camadas concêntricas de fibroblastos envolvidos por lâmina basal
e unidos por junções de oclusão (barreira hemato-nervosa).
Neurofisiologia 7

O endoneuro rodeia cada fibra nervosa, é constituído por tecido conjuntivo


frouxo produzido pelas células de Schwann e composto por colágeno reticular
(tipo III) e alguns poucos fibroblastos. Além disso, também tem capilares em
seu interior, os quais são revestidos por endotélio — não fenestrado — e unidos
por junções de oclusão (SCHUNKE, 2007; MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).
Os nervos são resistentes e adaptáveis justamente devido ao revestimento
de tecido conjuntivo das fibras nervosas que os acompanham. Salientamos
que eles são divididos em 12 pares cranianos e 31 pares espinais (MOORE;
DALLEY; AGUR, 2014).
Os gânglios do sistema nervoso são aglomerados de corpos celulares de
neurônios que ficam do lado de fora do SNC. Os gânglios são apresentados,
geralmente, como pequenas dilatações em certos nervos. Eles funcionam
como estações de interligação entre os neurônios e as estruturas do organismo
e, por esse motivo, podem ser sensitivos e autônomos (SCHUNKE, 2007).
As terminações nervosas estão localizadas na extremidade periférica das
radículas nervosas e são classificadas como sensitivas e motoras. Nas termina-
ções nervosas sensitivas, os receptores estão na extremidade distal dos nervos
(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014). Quando estimulados adequadamente,
esses receptores captam os estímulos e os transformam em impulso nervoso
que percorre o organismo até o SNC.
Ao chegar ao SNC, esse estímulo é interpretado e cria uma percepção de
sensibilidade geral ou específica. As terminações nervosas motoras, por sua
vez, são responsáveis por conectar o sistema nervoso aos órgãos efetuadores ou
efetores, que são músculos, glândulas, vísceras, entre outros (SNELL, 2011).

Sistema nervoso autônomo


O sistema nervoso autônomo atua como regulador das funções neurovege-
tativas, cujo controle é involuntário, como, por exemplo, os sistemas cardio-
vascular, respiratório, renal, endócrino e digestório. Esse sistema apresenta
um importante papel em manter a homeostase a cada momento diante de
diferentes situações e desafios ambientais, podendo ser separado em simpático
e parassimpático.
O simpático é recrutado sempre que o organismo se encontra em uma
situação de emergência, como lutar ou fugir, ou seja, quando é necessário
gastar energia. Já a atividade parassimpática causa efeitos antagônicos sobre
um mesmo órgão inervado pelo simpático e está relacionado às funções de
economia e obtenção de energia (repouso e digestão). De qualquer maneira,
um determinado estado do organismo é uma consequência do balanço entre as
8 Neurofisiologia

atividades simpáticas e parassimpáticas que se integram e se complementam


(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).

Mecanismos de ajuste e controle


do sistema nervoso

Neurofisiologia do sistema motor


Todo movimento é gerado por padrões espaciais e temporais de contrações
musculares desencadeados pelo sistema nervoso, especificamente pelo encéfalo
e pela medula espinal. O sistema sensorial configura representações internas
do nosso corpo e do mundo externo. Uma das principais funções dessas
representações é orientar o movimento.
O movimento só é possível porque a região cerebral que o controla consegue
um acesso ao fluxo de informações sensoriais no cérebro. Os movimentos
podem ser de postura e equilíbrio, reflexo, rítmico, voluntário e involuntário
(SHOLL-FRANCO, 2009):

„„ Postura e equilíbrio: são os movimentos organizados no tronco ce-


rebral. Um exemplo para esse tipo de movimento é ficar em pé por um
período de tempo sem cair.
„„ Reflexos: são padrões involuntários de contração e relaxamento mus-
cular provocados por uma resposta involuntária por meio de estímulos
periféricos. Um exemplo para esse tipo de movimento é o reflexo de
retirada e o reflexo de estiramento.
„„ Rítmicos: são padrões de movimentos repetitivos espontâneos ou
desencadeados por estímulos periféricos. Um exemplo para esse tipo
de movimento é o ato de locomover, mastigar, engolir e coçar.
„„ Voluntários ou elaborados: são os movimentos complexos pré-ela-
borados para realizar. Um exemplo para esse tipo de movimento andar
ou pegar um objeto.
Neurofisiologia 9

O processamento elaborado de informações no SNC tem como produto


final a contração de músculos esqueléticos. Uma unidade motora é constituída
por um neurônio e pelo conjunto de fibras musculares que são inervadas por
ele. É variável a quantidade de fibras inervadas por um neurônio, porém, são
todas do mesmo tipo.
No estudo da Neurofisiologia, existe uma organização hierárquica do
movimento, sendo que cada nível apresenta circuitos que regulam e organizam
respostas motoras complexas (Quadro 1).

Quadro 1. Hierarquização neurofisiológica do movimento.

Responsável pelo planejamento


Córtex cerebral
e comando do movimento

Responsáveis pela formação do plano


Núcleos da base e cerebelo
motor e pelos ajustes motores

Responsável pelo controle do


Tronco cerebral
equilíbrio e da postura

Nível mais baixo da organização hierárquica,


Medula espinal o qual apresenta circuitos neurais que
mediam reflexos e automatismos rítmicos

Quando está em repouso, a membrana celular está polarizada, sendo que


dentro da membrana fica negativo e fora dela positivo. O impulso nervoso
é produzido pela despolarização da membrana. Um potencial de ação é re-
presentado por uma manifestação elétrica de uma onda de despolarização e
repolarização que percorre a fibra nervosa com uma velocidade que varia de
12 a 120 m/s (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).
Na despolarização, acontece uma modificação repentina da permeabilidade
ao sódio, favorecendo sua entrada no interior da membrana nervosa e a saída
dos íons de potássio de dentro para fora. Essa troca de eletrólitos é essencial
para realizar a despolarização e, consequentemente, potencializar a ação. Logo
em seguida, ocorre a repolarização, caracterizada pelo movimento dos eletró-
litos na direção contrária, recompondo o potencial da membrana (Figura 3)
(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).
10
Neurofisiologia

Figura 3. Sinapse.
Fonte: Nita_Nita/Shutterstock.com.
Neurofisiologia 11

O sistema nervoso apresenta dois tipos de nervos: os motores e os sensi-


tivos. Os nervos motores atuam na ordenação do movimento. Cada neurônio
motor e suas fibras que são inervadas por ele correspondem à unidade motora
(MARIEB; HOEHN, 2009). Os nervos sensitivos são responsáveis por conduzir
impulsos da musculatura para o SNC.
Para um trabalho de precisão, é preciso de 3 a 6 fibras musculares por
neurônio, enquanto para o trabalho de força são recrutadas até 100 fibras
musculares por neurônio. Existem alguns órgãos que são específicos para re-
cepção: os fusos musculares e o órgão tendinoso de Golgi. Os fusos musculares
estão fixados nos tendões das duas extremidades do músculo e são sensíveis
ao realizar um alongamento. Já o órgão tendinoso de Golgi está localizado nos
tendões, os quais são representados por uma rede de terminações nervosas em
formato de pequenos nós. Essas estruturas são sensíveis durante uma tensão
muscular (MARIEB; HOEHN, 2009; MOORE; DALLEY; AGUR, 2014).
Os reflexos são considerados formas especiais de controle nervoso dos
movimentos e das atividades e não dependem da consciência. Os reflexos são
automáticos e divididos em três partes: primeira parte é a estimulação, ou seja,
a impulso sensitivo, a segunda parte é quando os neurônios intermediários
levam a informação do neurônio sensitivo para o neurônio motor e a terceira
parte é quando ocorre o impulso final por meio do nervo motor para ativar
o músculo.
Os reflexos, porém, podem ser condicionados. Esse tipo de reflexo é respon-
sável por dominar com destreza uma dada operação e depende, principalmente,
da formação de reflexos novos, ou seja, um mecanismo de comando que não
depende de controle consciente, além disso, ele também grava combinações
de movimentos, como padrões em regiões de comando (MOORE; DALLEY;
AGUR, 2014).

Padrões de processamento neural


Os processamentos de entradas neurais podem ser em série ou em paralelo. No
processo em série, a entrada neural percorre no decorrer de um caminho para
um destino específico, enquanto no processo paralelo essa entrada trafega por
diferentes vias para ser integrada em várias regiões do SNC. Cada maneira
apresenta suas próprias vantagens para o funcionamento neural como um todo
(COSENZA, 2013). O encéfalo apresenta um poder de processar informações
que é derivado de sua habilidade de processar em paralelo.
12 Neurofisiologia

Processamento em série
No processamento em série, todo o sistema nervoso trabalha de uma forma que
pode ser prevista como tudo ou nada. Um neurônio estimula o próximo, que
ativa o seguinte, e assim sucessivamente, causando uma resposta antecipada
específica. Um exemplo de processamento de série são os reflexos espinais e
também as vias sensoriais diretas dos receptores até o encéfalo (COSENZA,
2013).
Os reflexos são rápidas e automáticas respostas aos estímulos, sendo que
um estímulo particular desencadeia sempre a mesma resposta. A atividade
reflexa, que realiza o comportamento mais simples, é estereotipada e depende
de um estímulo. Um exemplo disso é levar a mão para longe de uma panela
quente depois de ter encostado, assim como é desencadeado o fechamento dos
olhos quando um objeto se aproxima deles (COSENZA, 2013).
Os reflexos acontecem por vias neurais, nomeadas de arcos reflexos. Eles
têm cinco componentes essenciais: o receptor sensorial, o neurônio sensorial,
o centro de integração no SNC, o neurônio motor e o órgão efetor. Na Figura 4,
é possível ver um arco reflexo simples, no qual os receptores detectam as
mudanças no ambiente interno ou externo e os órgãos efetores são músculos
ou glândulas.

Figura 4. Arco reflexo simples.


Fonte: Marieb e Hoehn (2009).
Neurofisiologia 13

O processamento paralelo
Nesse tipo de processo, são segregadas as entradas em várias vias e a infor-
mação que passa em cada uma delas é empregada simultaneamente pelas
diferentes partes do circuito nervoso. Um exemplo comum é quando você
cheira uma lata de milho (entrada sensorial), o que pode fazer você lembrar
da colheita de milho na zona rural, ou de que você não gosta de milho, ou
que precisa comprá-los na feira, ou talvez trazer todos esses pensamentos ao
mesmo tempo (LENT, 2005).
Em cada indivíduo, o processamento dispara em paralelo a algumas vias que
são únicas. O mesmo estímulo — cheirar a lata de milho, conforme exemplo
anterior — promove inúmeras respostas, além da simples consciência do cheiro.
O processamento em paralelo não é apenas uma repetição, cada circuito faz
ações diferentes com a informação, mas cada canal é decodificado em relação
a todos os outros, gerando um todo integrado (LENT, 2005).
Pense, por exemplo, sobre o que ocorre quando você pisa em um prego ao
caminhar descalço. O reflexo de retirada, processado em série, causa a retirada
instantânea do seu pé machucado do prego, por meio de um estímulo doloroso.
Ao mesmo tempo, impulsos nocivos e de pressão rapidamente ascendem para
o encéfalo em vias paralelas, o que concede a você decidir pelo simples ato de
esfregar a região dolorida para o alívio ou até mesmo correr para uma unidade
de saúde (COSENZA, 2013).
Esse tipo de processamento é muito importante para as funções mentais
superiores por reunir as partes para entender o todo. Um exemplo comum é
que você pode reconhecer um euro em uma fração de segundos, tarefa que
se fosse executada por um computador com processador em série poderia
levar um período muito maior de tempo. Isso acontece pelo fato de você
usar o processamento em paralelo, o que possibilita que um único neurônio
envie informação para muitas vias e não apenas uma, favorecendo, assim, o
processamento rápido de muito mais informações.

Produção do movimento pelo sistema nervoso


Diferentes regiões do sistema nervoso estão envolvidas na produção e tam-
bém no controle dos movimentos voluntários realizados. O planejamento do
movimento acontece, principalmente, no lobo frontal, mas também envolve
o córtex parietal posterior, os núcleos da base e o cerebelo (COSENZA, 2013)
14 Neurofisiologia

Algumas regiões do lobo frontal que estão relacionadas com o planejamento


motor se destacam: o córtex pré-frontal e o córtex motor. O córtex pré-frontal
atua no planejamento de comportamentos complexos, detalhando o objetivo
para o qual os movimentos devem ser conduzidos. O córtex pré-frontal também
é responsável por levar as informações para o córtex motor, que organiza as
sequências de movimento apropriadas à atividade (LENT, 2005).
Além disso, o córtex parietal posterior realiza um importante papel no
planejamento motor. Essa região recebe aferências somatossensoriais, visuais
e proprioceptivas, empregando essas informações para definir a posição do
corpo e do alvo no espaço.
Outra característica do córtex parietal é a produção de modelos internos do
movimento, chamados de engramas motores, antes de ativação do córtex pré-
-motor e do córtex motor. Devido a essa relação dos lobos parietais com áreas
pré-frontais e atividade dessas regiões na tomada de decisão, eles representam
o maior nível de integração na hierarquia do controle motor (LENT, 2005).
Duas áreas principais dividem o córtex motor, conforme a Figura 5: córtex
motor primário (área 4) e outra região que é subdividida em área motora
suplementar e área pré-motora, ou chamada de córtex pré-motor (área 6). A
área pré-motora está relacionada à escolha de movimentos específicos ou às
sequências de movimentos a partir do conjunto de movimentos da pessoa. A
região motora suplementar é responsável pelo planejamento e começo dos
movimentos com base em experiências prévias (COSENZA, 2013).
Nesse sentido, os córtices parietal pré-frontal e posterior lançam infor-
mações para área 6, que vai determinar as características do movimento que
será efetuado. Logo depois, a informação é levada para área 4. Os axônios
dos neurônios do córtex motor primário vão até a medula espinal, emitindo
a informação para os neurônios motores da medula espinal que ativam os
músculos específicos ou grupos musculares para realização da tarefa desejada
(LENT, 2005).
A decisão de bater palmas, por exemplo, é seguida pelo aumento de ativi-
dade elétrica no córtex pré-frontal, a qual é responsável por enviar impulsos
nervosos para o córtex motor. O córtex motor, por intermédio das informações
fornecidas pelo córtex visual, planeja o trajeto ideal para o membro superior
encontrar as duas mãos para bater a palma.
Neurofisiologia 15

Córtex motor primário


Córtex somestésico primário

Figura 5. Córtex motor.


Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock.com.

Para a garantir movimentos rápidos, coordenados e precisos na ação, o


sistema nervoso deve constantemente receber informações sensoriais e utilizá-
-las no ajustamento e na correção do trajeto do membro e na modulação da
força dos músculos para realizar as palmas. Esses ajustes que você aprendeu
até agora são efetuados pelo cerebelo e também pelos núcleos da base.

Núcleos da base
Os núcleos da base são grupos de células nervosas que ficam no prosencéfalo
interconectados: núcleo caudado, putâmen, globo pálido, núcleo subtâlamico e
substância negra. Essas estruturas herdam projeções do neocórtex, abrangendo
o córtex motor, e do sistema límbico (COSENZA, 2013).
Os núcleos da base atuam na iniciação e na regulação da força muscular
necessária para realizar o movimento. Lesões nessas estruturas são comuns,
sendo assim, é possível observar no cotidiano as pessoas com a Doença de
Parkinson.
16 Neurofisiologia

O núcleo da base controla a atividade motora, um exemplo disso é a marcha.


Acesse o link a seguir e veja um vídeo que aborda detalhadamente todas as estruturas
neuroanatômicas e o funcionamento do núcleo da base.

https://goo.gl/vwhPTt

Cerebelo
O cerebelo deriva da parte dorsal do mesencéfalo e fica dorsalmente em rela-
ção ao bulbo e à ponte. Ele se posiciona na fossa cerebelar do osso occipital,
como você pode ver na Figura 6, e se liga à medula espinal e ao bulbo por
meio do pedúnculo cerebelar inferior e à ponte e ao mesencéfalo mediante os
pedúnculos cerebelar médio e superior, respectivamente.

Figura 6. Cerebelo.
Fonte: udaix/Shutterstock.com.
Neurofisiologia 17

Os córtices somatossensorial, motor e parietal posterior encaminham


projeções para os núcleos localizados na ponte que se conectam ao cerebelo
por meio das vias cortiço-pontocerebelares. A peça via núcleo ventrolateral
do tálamo conecta o cerebelo ao córtex motor. Observe uma pessoa com
lesão cerebelar para que você compreenda o papel do cerebelo na realização
do movimento. As pessoas com essa lesão têm mudanças no equilíbrio e na
coordenação dos movimentos (COSENZA, 2013).
O controle da duração e da sequência do movimento é feita pelo cerebelo.
O cerebelo recebe uma transcrição de toda a informação que é levada a partir
dos receptores sensoriais para o córtex somatossensorial e do movimento
desejado pelo córtex motor. Depois da realização do movimento, ele manda
informações sobre força, duração e direção do movimento ao córtex motor.
Dessa forma, o cerebelo pode computar o erro e dizer ao córtex motor como
ele deve consertar o movimento na próxima execução (LENT, 2005).
Neste capítulo, foi possível conhecer as principais estruturas anatômicas
que fazem parte do SNC, os mecanismos de ajuste e controle do neurônio
a diversos estímulos, bem como quais são as estruturas que controlam o
movimento humano.

Um exemplo geral deste capítulo é quando você está caminhando e visualiza um buraco
na sua frente e rapidamente desvia. Isso é um exemplo clássico de como o seu sistema
nervoso planejou e controlou o seu movimento para que não caísse dentro do buraco.

COSENZA, R. M. Fundamentos de neuroanatomia. 4. ed. São Paulo: Guanabara Koogan,


2013.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 10. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2004.
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2005.
18 Neurofisiologia

MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MARTIN, J. H. Neuroanatomia: texto e atlas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
SCHUNKE, M. Prometheus: atlas de anatomia: cabeça e neuroanatomia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007.
SHOLL-FRANCO, A. et al. Corpo humano I. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ,
2009. v. 2.
SNELL, R. S. Neuroanatomia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

Leituras recomendadas
BARRETT, K. et al. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. (Lange).
MONTEIRO, M. D. Núcleos da base: completo. Youtube, 2014. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=zL08noPjm9c >. Acesso em: 21 out. 2018.
RAFF, H.; LEVITZKY, M. G. Fisiologia médica. Porto Alegre: AMGH, 2012. (Lange).
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Conteúdo:

Você também pode gostar