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Ansiedade e

Distúrbio do Sono
Psicofarmacologia

Autoras: Cristiane Dill, Julia Clossi, Laysa Acunha e Tamara Nunes


Revisor: Professor João Victor Laureano
Sumário
INTRODUÇÃO..................................................................01
1. Ansiedade..................................................................02
1.1- O que é...............................................................02
1.2 - Diagnóstico.......................................................03
1.3 - Causas e interferências...................................04
2. Distúrbio do Sono..................................................05
2.1 - Fases do Sono.................................................06
2.2 - Alterações do sono ........................................07
2.3 - Tratamento .....................................................08
3. Classes Medicamentosas .....................................10
3.1 - Benzodiazepínicos.........................................15
3.2 - Não Benzodiazepínicos: Droga Z................17
3.3 - Principais Efeitos Colaterais........................18
4. Curiosidades..........................................................20
5. Referências.............................................................21
Introdução
A relação entre ansiedade e distúrbio
do sono é bidirecional, isso significa que
os problemas do sono podem causar
ansiedade e ansiedade pode atrapalhar o
sono.

Saber se estamos apresentando algum


ataque de ansiedade ou apresentando
sintomas relacionados à ansiedade ou
distúrbio do sono, é de extrema
importância para que você possa
procurar auxílio o mais rápido possível.

Ambos são transtornos muito comuns


e estão ligados à preocupação,
nervosismo e medo intenso. Ainda que
seja uma reação natural do corpo, é
preciso identificar se não está virando
um distúrbio capaz de atrapalhar as
tarefas cotidianas e nossa vida
psicológica.

Este E-Book irá apresentar


características de ambos os transtornos,
como identificá-las e as alternativas de
tratamento que, cada um, pode ser
submetido. Desejamos que seja uma
leitura elucidativa e proveitosa.
Ansiedade
Para Rey (2006) os transtornos envolvendo ansiedade são
os distúrbios mentais mais comuns. A ansiedade é um estado
desagradável de tensão, apreensão e inquietação – um temor
que se origina de fonte conhecida ou desconhecida. Os
sintomas físicos da ansiedade grave são similares aos do medo
(como taquicardia, sudoração, tremores e palpitações) e
envolvem a ativação simpática.

Os Transtornos de Ansiedade incluem


quadros como:

Transtorno do Pânico - intensa sensação


de medo e desconforto seguida por
alguns sintomas somáticos ou cognitivos.
Fobia Específica - medo excessivo e
persistente de objetos e situações
específicas.
Fobia Social - medo acentuado de
situações sociais ou de avaliação, ou
quando o indivíduo é exposto a pessoas
estranhas.
Transtorno Obsessivo-compulsivo(TOC)
- pensamentos, impulsos ou imagens
recorrentes e persistentes que são
experimentados pelo indivíduo como
intrusivos e inadequados, causando uma
intensa ansiedade ou sofrimento.
Transtorno de Estresse Pós-traumático - revivência de
evento traumático por recorrentes recordações aflitivas
do evento, sob a forma de pensamento, imagens ou
sonhos.
Transtorno de Ansiedade Generalizada - alta variedade
de preocupações excessivas e pressentimentos estão
presentes na maior parte do dia, no decorrer de pelo
menos seis meses

Diagnóstico
A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como
patológicos quando são desproporcionais em relação ao
estímulo do que se observa como norma naquela faixa etária
e interferem com a qualidade de vida do indivíduo. Tais
reações exageradas ao estímulo ansiogênico se desenvolvem,
mais comumente, em indivíduos com uma predisposição
neurobiológica herdada (Castillo, Recondo, Asbahrc e Manfro,
2001).
Castillo et al. também sinalizam
como podemos diferenciar:

Ansiedade normal
X
Ansiedade patológica:
A avaliação para essa diferenciação consiste
em observar se a reação ansiosa é de curta
duração, autolimitada e relacionada ao estímulo
do momento ou não.
Os transtor
nos ansioso
quadros clí s são
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sintomas sã e esses
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não são der , o u seja,
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condições p u tras
siquiátricas
(depressões
, psicoses,
transtornos
do desenvo
transtorno lv imento,
hipercinétic
o, etc.).

Castillo, e
t al. (2001
)

Causas e Interferências
Não há uma única e exata explicação sobre a causa dos
Transtornos de Ansiedade. No entanto, certos fatores
podem contribuir para que algumas pessoas sejam mais
propensas a desenvolver esse quadro do que outras.

Esses fatores envolvem as seguintes questões:

Fatores físicos: problemas cardiovasculares, doenças


hormonais, problemas respiratórios, etc.
Fatores ambientais: situações estressantes, experiências
traumáticas, uso de substâncias químicas, etc.
Fator genético: histórico familiar.
Distúrbio do Sono
De acordo com o DMS-5 (2014), os transtornos do sono
são acompanhados de depressão, ansiedade e alterações
cognitivas, que deverão ser incluídos no planejamento e
no gerenciamento do tratamento.

Fases do Sono
De acordo com o Departamento de Pediatria da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, o sono é um
processo natural no qual há redução da consciência e das atividades
corporais. É dividido em duas fases: o sono não-REM e o sono REM,
que apresentam características e estágios diferentes.
O sono não-REM é caracterizado por atividade cerebral
menos intensa. É dividido em 4 estágios:

Estágio 1: Superficial e fugaz, mergulhamos no sono,


voltamos à vigília e podemos ser despertados com
facilidade.
Estágio 2: Nesse estágio nossos movimentos oculares
param, e nossas ondas cerebrais tornam-se mais lentas.
Estágio 3: Aqui começam a aparecer ondas extremamente
lentas, as chamadas ondas delta, intercaladas por ondas
menores e mais rápidas.
Estágio 4: As ondas são quase que exclusivamente de
frequência delta. É muito difícil acordar alguém durante os
estágios 3 e 4, que juntos são chamados de estágio delta
ou de sono profundo. Neste estágio, não há movimento
ocular ou atividade muscular. Pessoas acordadas durante
o sono profundo não se orientam imediatamente e,
frequentemente, sentem-se 'grogues' e desorientadas por
alguns segundos depois que despertam.

Após o quarto estágio o corpo caminha para o sono


REM. A atividade cerebral começa a acelerar e se torna tão
intensa que se assemelha à quando estamos acordados. É
nessa fase que acontece os sonhos, a fixação da memória
e o descanso profundo, essencial para a recuperação da
energia física para acordar disposto. As fases do sono irão
se alternar ao longo da noite.

Figura 1 - Fases do sono

Fonte: Almeida, R. & Ostetti, V. Quais são as fases do sono e como elas funcionam. Site Nexo Jornal, 2018.

Alterações do sono
Os motivos mais comuns de alteração do sono são a restrição
e a fragmentação. A restrição do sono pode resultar da demanda
de atividades no trabalho e/ou estudos, responsabilidade
familiar, uso de medicamentos, fatores pessoais e estilos de vida.
A fragmentação é o resultado de um sono de quantidade e
qualidade impróprias, consequência de condições médicas e/ou
fatores ambientais que o interrompem.
Algumas consequências da alteração do sono são: reduções da
eficiência do processamento cognitivo, do tempo de reação e
responsividade atencional; déficit de memória, aumento da
irritabilidade, alterações metabólicas, endócrinas e quadros
hipertensivos (Martins, Mello, & Tufik, 2001, p. 28)

Ansiedade &
Distúrbio do Sono

N T O
A M E
R A T
T
De acordo com Whalen, Finkel, & Panavelil (2016) episódios
de ansiedade leve são experiências comuns na vida e não
justificam tratamento. Contudo, a ansiedade intensa, crônica e
debilitante pode ser tratada com fármacos ansiolíticos (ou
antiansiedade) e/ou com alguma forma de psicoterapia. Como
muitos dos fármacos ansiolíticos causam alguma sedação, eles
podem ser usados clinicamente como ansiolíticos e como
hipnóticos (indutores do sono).

Entretanto, a higiene do sono é o primeiro recurso que deve-


se tentar em casos de insônia, uma das medidas terapêuticas e
não farmacológicas. Porém, nem sempre essas técnicas
conseguem obter uma boa resposta, por vários fatores entre
eles: a não adesão de forma correta ao tratamento ou
simplesmente por não surtir o efeito desejado.

Nesses casos as
medidas
farmacológicas
tornam-se uma
importante opção.
Uma das drogas mundialmente utilizadas no
tratamento de distúrbios do sono são os
benzodiazepínicos. Sua ação consiste em aumentar a
afinidade do GABA.

Benzodiazepínicos

Classes
Medicamentosas

Não
benzodiazepínicos

Outras drogas que auxiliam agem geralmente como


agonista parcial da subunidade alfa-1 do receptor
GABA-A ou ainda agonistas dos receptores de
melatonina, MT1 e MT2.
Para o tratamento da ansiedade, a primeira escolha
farmacológica são os antidepressivos inibidores
seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), como
fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopram e
escitalopran, pois eles ajudam na regulação do humor,
emoções, sono e apetite.

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Tabela 1 - Antidepressivos

Fonte: Peixoto, Vasconcelos, Sampaio & Ito (2008).

Tabela 2 - Benzodiazepínicos
Adjuvante ao tratamento com antidepressivos temos os benzodiazepínicos.

Fonte: Naloto, Lopes, Filho, & Lopes (2016).


Tabela 3 - Não Benzodiazepínicos

Fonte: Claudino, Moraes, Tufik & Dalva Poyares (2010).

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c os t a
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o d i az t a m e
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O s p a r a ao s
s a d o s a n t e
são u a d j u v
ô n i a ,
i n s s Z .
da m a c o
fár

Automedicação é uma prática


perigosa que pode levar a
morte.
Não devem ser utilizados
continuamente por mais de 4
semanas, pois podem causar

Benzodiazepínicos dependência e tolerância.

Com um baixo risco de toxicidade e com bom efeito


terapêutico.

Principais representantes da são: triazolam e o


midazolam (utilizados no tratamento da insônia inicial)
temazepam, estazolam e temazepam e estazolam
(insônia intermediária).

Drogas Z
Também muito

utilizadas na atualidade, são


agonistas mais específicos do que os
benzodiazepínicos atuando como agonista parcial da
subunidade alfa-1 do receptor GABA-A.
Entre seus representantes estão: zolpiden, um
hipnótico que serve para induzir rapidamente o sono
(utilizado para tratar a insônia inicial), a zaleplona, que
também provoca rápida indução ao sono ( não serve
para manutenção do sono, pois sua meia vida é
ultracurta) e o zopiclone e o eszopiclone utilizados no
tratamento de insônia inicial e insônia intermediária
(dificuldade em manter o sono).
Benzodiazepínicos
(BZDs)

Os benzodiazepínicos são uma classe medicamentosa psicoativa


conhecida no tratamento da ansiedade (ansiolítico) e no uso como
sedativos (provocando sono), hipnóticos e anticonvulsivantes.
Substâncias ativas:
Diazepam (Valium), Lorazepam (Lorax), Midazolam (Dormonid),
Clonazepam (Rivotril), Bromazepam (Lexotan), Alprazolam
(Frontal), Cloxazolam (Olcadil), Nitrazepam (Sonebon),
Flunitrazepam (Rohypnol), e Flurazepam (Dalmadorm).

Mecanismo de ação
O aumento da transmissão de GABA (ácido gama-
aminobutírico), principal neurotransmissor inibitório do
Sistema Nervoso Central (SNC), interagem com receptores
benzodiazepínicos através da abertura de canais de cloreto,
provocando a hiperpolarização da membrana neuronal, o
que reduz sua excitabilidade e altera as habilidades
cognitivas de quem o ingere.
Os BZDs ligam-se á proteínas plasmáticas e por serem
altamente lipossolúveis, esses medicamentos penetram
facilmente no SNC, o que explica o seu abuso e
consequentemente sua dependência.
Vale lembrar que os benzodiazepínicos não proporcionam
cura, somente o tratamento para os sintomas da ansiedade,
causando abatimento no sistema nervoso central,
suavizando crises de ansiedade.
No tratamento da insônia grave, os benzodiazepínicos
devem ser utilizados apenas como tratamento de curto
prazo, para que não cause dependência.

Para o Transtorno de Ansiedade Generalizada é


recomendado o uso dos BZDs por, no máximo, 1 mês.

Em pacientes idosos, as doses devem ser menores que as


habituais, visto que estes têm redução das funções do
metabolismo hepático e maios sensibilidade aos efeitos.

É desaconselhável o uso de benzodiazepínicos em


gestantes, pois podem causar lesões ou deformidades
físicas no bebê.

Os BZDs também são contraindicados para portadores de


glaucoma, miastenia grave, pacientes alérgicos a
benzodiazepínicos, lactantes, pacientes que façam uso de
algum outro medicamento com ação depressora no SNC e
crianças com autismo ou distúrbios paranoicos. O uso
conjunto com a Eritromicina, Dissulfiram e com
anticoncepcionais pode estender o período da ação do
benzodiazepínico.

Não é recomendado o consumo de bebidas alcoólicas


durante o uso dos BZDs, pois seus efeitos podem ser
potencializados e causar uma depressão profunda no
sistema nervoso central.
Não Benzodiazepínicos
Drogas z
Os não-benzodiazepínicos ou drogas Z são uma classe
medicamentosa conhecida no tratamento de distúrbios do
sono, são agentes hipnóticos que atuam seletivamente no
receptor de benzodiazepínico subtipo ômega-1 (BZ1).

Esses agentes não formam metabólitos ativos, sendo


considerados hipnóticos de curta duração.

Os não benzodiazepínicos são moduladores alostéricos


positivos do receptor GABAA. Assim como os
benzodiazepínicos, eles exercem seus efeitos ligando-se e
ativando o local benzodiazepínico do complexo receptor.
Muitos desses compostos são seletivos para o subtipo,
proporcionando novos ansiolíticos com pouco ou nenhum
efeito hipnótico e amnésico e novos hipnóticos com pouco ou
nenhum efeito ansiolítico.

A farmacodinâmica dos não benzodiazepínicos


é quase inteiramente igual aos
benzodiazepínicos e, portanto, seus
benefícios, efeitos colaterais e riscos são
semelhantes. Porém, os não
benzodiazepínicos têm estruturas químicas
diferentes e, portanto, não estão relacionados
aos benzodiazepínicos em nível molecular
Principais
Efeitos Colaterais
Benzodiazepínicos
Diazepam: sonolência, tontura, confusão, redução das
habilidades motoras e do estado de alerta, emoções
entorpecidas, dor de cabeça e visão dupla.
Lorazepam: sonolência durante o dia, tontura, falta de
coordenação motora, dor de cabeça, visão dupla, alteração da
libido ou confusão mental.
Clonazepam: sonolência, tontura, cansaço, depressão,
problemas de memória, ou dificuldade para coordenar
movimento ou caminhar.
Bromazepam: sonolência, dores de cabeça, tontura, ataxia
(falta de coordenação motora).
Alprazolam: depressão, sonolência,
ataxia, alterações de memória,
tontura, dor de cabeça, prisão de
ventre, boca seca, fadiga e
irritabilidade.
Cloxazolam: sonolência, fadiga,
cefaleia, tontura, hipotonia
muscular, ataxia e distúrbio de
acomodação

Principais
Efeitos Colaterais
Drogas Z

Zolpidem: sonolência, cefaleia,


cansaço.
Eszopiciona: sabor desagradável,
cefaleia, náusea, tontura, sonolência.
Ramelteon: cefaleia, sonolência,
tontura.
Tiagabina: tontura, nausea.
Doxepina: cefaleia, tontura, náuseas
e fadiga.

Curiosidades
A atividade física também é considerada como uma
forma comum de tratar a ansiedade, pois, além dos
benefícios para o sistema circulatório, contribui para
aumentar produção de endorfina e melhorar os níveis de
serotonina e noradrenalina, neurotransmissores que
normalizam os níveis ansiedade e também ajudam a
regular o sono.
Referências
Whalen, K.; Finkel, R.; Panavelil, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.

Castilho, A. R. G. L., Recondo, R., Asbahr, F. R & Manfro, G. G. (2000). Transtornos


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Claudino, L. S., Moraes, W. A. S., Tufik, S. & Poyares, D. (2010). Novos sedativos
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Neves, G. S. M., Giorelli, A. S., Florido, P. & Gomes, M. M.(2013). Transtornos do


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Peixoto H. G. E., Vasconcelos, I. A. L., Sampaio, A. C. M. & Ito, M. K. (2008).
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