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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS
CURSO DE MEDICINA / AÇÕES INTEGRADAS EM SAÚDE
PRODUTO DO MÓDULO - AIS VII
Resumo
Metodologia
Resultados e Discussão
O caso relatado é de uma paciente feminina, de 76 anos, natural e procedente de
Fortaleza, aposentada, casada e residente em Instituição de Longa Permanência (ILP), Lar
Torres de Melo, desde dezembro de 2021.
A paciente procurou a instituição juntamente com seu esposo, Damião, e possuía
como diagnósticos prévios Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Insuficiência Venosa e
Diabetes Mellitus (DM), todas sem tratamento, além da queixa de insônia crônica há dois
anos, com associação, segundo a paciente, à dor no tornozelo, interferindo na
deambulação. Antes de residir em uma ILP, refere nunca ter sido acompanhada
longitudinalmente por nenhum profissional da saúde, apenas frequentando consultas
pontuais.
Na formação profissional, refere que começou a ser professora de piano aos 15
anos de idade, mas só começou os estudos na área musical mais tarde, tendo concluído o
seu mestrado em Música na Universidade Estadual do Ceará (UECE) aos 24 anos. Relatou,
ainda, que deu aula de piano até os 55 anos, parando suas atividades devido a crises de
ansiedade recorrentes que tiravam dela a vontade de seguir sendo professora. Atualmente,
durante as consultas, mostra-se muito saudosa da época em que ensinava e tocava piano.
Apesar do contexto biopsicossocial e da idade da paciente, ela demonstra-se
extremamente lúcida e ativa em suas atividades de vida diárias, além de demonstrar vasto
leque cultural. Ao ser questionada sobre sua vida durante a adolescência, pôde-se concluir
que ela vem de uma família de alto poder aquisitivo e que ela era muito cobrada para ser
uma pianista profissional. Ao entrar no assunto, nota-se pensamento de grandiosidade
acerca da sua aptidão musical, e a empolgação ao falar sobre o assunto é rapidamente
notada.
Nesse contexto, destaca-se que, em dezembro de 2021, ou seja, com menos de um
mês de institucionalização, a paciente foi avaliada por psiquiatra e, a partir disso, passou a
ter o TAB como uma das hipóteses diagnósticas para a referida paciente. Em Maio de 2022,
a psiquiatra da ILP confirmou o diagnóstico de TAB. Nessa mesma consulta, a médica
prescreveu o antipsicótico Quetiapina 25mg para tomar 01 comprimido todas as noites, e
suspendeu outra medicação antipsicótica que a paciente tomava, a Olanzapina, a qual foi
receitada em sua primeira consulta psiquiátrica no Lar Torres de Melo, embora o diagnóstico
para TAB não tivesse sido estabelecido. Ainda nesse momento de consulta, levantou-se o
questionamento sobre a possibilidade do diagnóstico de Transtorno de Personalidade
Histriônico, sendo confirmado no mesmo mês em consulta subsequente, devido ao
comportamento de grandiosidade anteriormente percebido. A paciente, assim como seu
esposo, relatam que não houve nenhuma mudança exacerbada nas atitudes da paciente
nos últimos anos: “eu sou assim desde adolescente”, diz a paciente, e isso reforça a
hipótese de que o quadro da paciente já existe há bastante tempo, apenas não havia sido
diagnosticado.
Alguns fatores são vistos como colaborativos para o aumento da dificuldade em
estabelecer um alvo clínico, sendo eles: a falta de acompanhamento longitudinal capaz de
estabelecer um diagnóstico clínico, bem como a associação com outras comorbidades,
principalmente psiquiátricas. Além disso, a aparente manipulação de informações sobre
acontecimentos e vivências da paciente também dificultou o diagnóstico.
No que tange ao histórico familiar, a paciente refere que o pai possuía diagnóstico
de TAB e que a convivência com um paciente psiquiátrico foi conturbada, gerando sequelas
psicológicas em toda a família, inclusive nela. Ela relata que a manifestação dos estados
extremos de euforia e mania do seu pai geraram um sentimento contínuo de medo e
insegurança. É notório durante as consultas que a paciente, de fato, estudou sobre TAB,
haja vista que ela faz aplicação correta de alguns termos como “mania”, “euforia”, dentre
outros. Ela refere, ainda, que os irmãos gostavam de brincar de assustá-la quando eram
crianças, o que reforçou o medo que ela já sentia e que remetia a situação do seu pai.
(Apêndice 01: Genograma Familiar)
A respeito das consultas na instituição, o exame físico da saúde mental da paciente
se apresentava recorrentemente da seguinte forma: paciente logorreica, com vestimentas
adequadas e higiene preservada, cooperativa, consciente auto e alopsiquicamente, não
apresentando delirium e alucinações, memória imediata, recente e remota preservadas,
normotenaz e normovigil, hipertímica, pensamento de fluxo acelerado associado a
tangencialidade e fuga de ideias em seu discurso.
No que concerne à aplicação dos testes de saúde do idoso, na avaliação do
Miniexame do Estado Mental (MEEM), a paciente pontuou 29 em uma escala de 30 pontos,
com comprometimento apenas na atenção e cálculo. Assim, conclui-se que paciente não
apresenta alterações cognitivas. Já na Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage, a
paciente em questão pontuou apenas 1 em uma escala de 15 pontos, indicando quadro
psicológico sem alterações quanto à depressão. Também é válido ressaltar o Índice de
Vulnerabilidade Clínico Funcional-20 (IVCF-20), teste que avalia dimensões preditoras do
declínio funcional e cognitivo do idoso, no qual ela pontuou apenas no quesito faixa etária,
totalizando 1 em uma escala de 40 pontos, encontrando-se no grau máximo de vitalidade,
caracterizando, assim, uma idosa robusta.
Após novos diagnósticos e exames complementares, a paciente índice segue em
acompanhamento longitudinal e multidisciplinar no Lar Torres de Melo. Atualmente, para
controle do quadro psiquiátrico, está em uso de Clonazepam 2,5 mg/ml, na posologia de 3
gotas por noite; e Quetiapina 50 mg, 01 comprimido por dia. No que tange aos outros
diagnósticos clínicos, a paciente está em uso de Losartana 50 mg, 01 comprimido por dia e
acompanhamento do índice glicêmico sem medicação no momento, além de ser reforçado a
necessidade de mudança no estilo de vida.
Assim, a paciente foi orientada a usufruir dos serviços ofertados pelo Lar Torres de
Melo e que podem contribuir para um desfecho positivo no quadro abordado de forma
integral. Dentre eles, foi mencionado o serviço de psicologia, fisioterapia, atividades físicas
e convivência com outros residentes. Ademais, outra estratégia de intervenção para o caso
seria a reintrodução das práticas musicais no cotidiano da paciente como forma de sanar a
melancolia referente ao abandono do contato com instrumentos musicais, principalmente
com o piano.
Conclusão
Referências
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Agradecimentos
Apêndices
Figura 1: Genograma Familiar. Figura 2: Descritores do Genograma Familiar.