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1 Deficiência Física Neuromotora

Pessoas deficientes são aquelas que têm impedimento de longo prazo de


natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais esbarram em diversas barreiras
que podem dificultar sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas (Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, 2007).
Define-se deficiência física como uma grande variedade de condições orgânicas
que, de alguma forma, causam alterações no funcionamento normal do aparelho
locomotor, comprometendo a movimentação e a deambulação (andar a esmo,
passeando- Aulete Digital) do indivíduo. Tais alterações podem ocorrer em vários
níveis: ósseo, articular, muscular e nervoso. Entre esses níveis, pode-se observar não
apenas alterações anatômicas, mas, também, alterações fisiológicas do aparelho
locomotor, sendo grande a variedade de patologias e problemas que alteram a
motricidade.
A terminologia “neuromotora” direciona-se às deficiências ocasionadas por
lesões nos centros e vias nervosas que comandam os músculos, que podem ser causadas
por infecções ou lesões ocorridas em qualquer momento da vida do indivíduo ou por
uma degeneração neuromuscular, em que as manifestações exteriores consistem em
fraqueza muscular, paralisia ou falta de coordenação.
Dentre os principais quadros motores apresentados pela pessoa com algum tipo
de deficiência física, fica difícil estabelecer uma classificação que inclua todos os
possíveis distúrbios motores. Sendo assim, os quadros neuromotores de maior
incidência são:

 Lesão cerebral (paralisia cerebral ou deficiência neuromotora).


 Lesão medular (paraplegia/tetraplegias).
 Deficiências neuromusculares - Miopatias (distrofias musculares).

As principais características desses quadros neuromotores são:

 Amputação – quando o indivíduo tem perda total ou parcial de um


determinado membro ou segmento de membro.
 Paraplegia – ocorre quando se tem a perda total das funções motoras dos
membros inferiores.

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 Paraparesia – caracteriza-se pela perda parcial das funções motoras dos
membros inferiores ou superiores.
 Monoplegia – vem a ser a perda total das funções motoras de um só membro,
seja ele inferior ou superior.
 Monoparesia – vem ser a perda parcial das funções motoras de um só
membro, seja ele inferior ou superior.
 Tetraplegia – caracteriza-se quando ocorre a perda total das funções motoras
dos membros inferiores e superiores.
 Tetraparesia – caracteriza-se quando ocorre a perda parcial das funções
motoras dos membros inferiores e superiores.
 Triplegia – caracteriza-se quando ocorre a perda total das funções motoras em
três membros.
 Triparesia – caracteriza-se quando ocorre a perda parcial das funções motoras
em três membros.
 Hemiplegia – caracteriza-se quando ocorre a perda total das funções motoras
de um hemisfério do corpo, que pode ser o direito ou o esquerdo.
 Hemiparesia – caracteriza-se quando ocorre a perda parcial das funções
motoras de um hemisfério do corpo, podendo ser o direito ou o esquerdo.
 Ostomia – vem a ser uma intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura,
ostio) na parede abdominal, para que se possa adaptar de bolsa de fezes e/ou
urina, ou seja, é uma cirurgia que cria um caminho alternativo e novo para a
eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo humano (colostomia:
ostoma intestinal; urostomia: desvio urinário).

 Paralisia Cerebral – caracteriza-se como uma lesão de uma ou mais áreas do


sistema nervoso central que causa alterações psicomotoras, que pode ter ou não,
como resultado, a deficiência mental e/ou intelectual.

1.1 Organização do Sistema Nervoso

O sistema nervoso é responsável pela maioria das funções de controle em um


organismo, coordenando e regulando as atividades corporais. Esse sistema tem, como
unidade funcional, o neurônio, que se comunica por meio de sinapses e propaga os
impulsos nervosos. Anatomicamente, o neurônio é formado por: dendrito, corpo celular
e axônio. A transmissão ocorre apenas no sentido do dendrito ao axônio.

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Fonte: Estrutura de um neurônio. Ilustração: Designua / Shutterstock.com [adaptado]

1.1.1 Sistema Nervoso Central - SNC

O Sistema Nervoso Central pode ser dividido, dessa forma, os principais


componentes do Sistema Nervoso Central e suas respectivas funções:

Fonte: http://www.infoescola.com/biologia/sistema-nervoso/

 Medula espinhal
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A medula espinhal é o centro dos arcos reflexos e é organizada em segmentos
(região cervical, lombar, sacral, caudal, raiz dorsal e ventral). Tal estrutura é
subordinada ao cérebro, porém, pode agir independentemente dele.

 Cérebro
O cérebro relaciona-se com a maioria das funções do organismo, tais como a
recepção de informações visuais nos vertebrados, movimentos corporais que requerem
coordenação de grande número de partes do corpo. O cérebro encontra-se protegido
pelas meninges: pia-máter, dura-máter e aracnoide.

O encéfalo dos mamíferos divide-se em: telencéfalo (cérebro), diencéfalo


(tálamo e hipotálamo), mesencéfalo (teto), metencéfalo (ponte e cerebelo) e
mielencéfalo (bulbo).

 Bulbo ou medula oblonga


O bulbo relaciona-se com a respiração e é considerado um centro vital,
relacionado ainda com os reflexos cardiovasculares e com a transmissão de informações
sensoriais e motoras.

 Cerebelo
O cerebelo é o grande responsável pelo controle motor do corpo. Sua organização
básica é praticamente a mesma em todos os vertebrados, diferindo apenas no número de
células e no grau de enrugamento.

 Ponte
A função da ponte é a transmissão das informações da medula e do bulbo até o
córtex cerebral, fazendo conexões com os centros superiores.
Já o córtex sensorial coordena os estímulos oriundos de várias partes do sistema
nervoso, sendo responsável pelas ações voluntárias, e o córtex de associação está
relacionado com o armazenamento da memória.

1.1.2 Sistema Nervoso Periférico - SNP

O Sistema Nervoso Periférico divide-se em: voluntário e autônomo.

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 Sistema Nervoso Voluntário
O Sistema Nervoso Voluntário relaciona-se com os movimentos voluntários. Os
neurônios levam a informação do SNC aos músculos esqueléticos, inervando-os
diretamente. Pode haver movimentos involuntários.

 Sistema Nervoso Autônomo


Relaciona-se com os movimentos involuntários dos músculos como o não-
estriado e o estriado cardíaco, o sistema endócrino e o respiratório, dividindo-se em
simpático e parassimpático, os quais possuem a função

antagônica um sobre o outro, sendo controlados pelo sistema nervoso central,


principalmente pelo hipotálamo e atuam por meio da adrenalina e da acetilcolina.

 Arco reflexo
Os atos reflexos são reações involuntárias que envolvem impulsos nervosos,
percorrendo um caminho chamado arco reflexo.
Um dos exemplos mais comuns de arco reflexo é o reflexo patelar, onde o
tendão do joelho é o órgão que recebe o estímulo e, ao receber, por exemplo uma
pancada, os dendritos dos neurônios excitam-se, transmitindo o impulso para os
neurônios associativos através de sinapses, que por sua vez transmitem o impulso aos
neurônios motores. Então os neurônios associativos levam a informação ao encéfalo e
os neurônios motores excitam os músculos da coxa, fazendo com que a perna se
movimente.

Fonte: http://www.bio.miami.edu/~cmallery/150/neuro/c7.48.4.kneejerk.jpg

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1.2 Neuroplasticidade cerebral

Por muito tempo acreditava-se que o cérebro se desenvolvia somente durante a


infância, tornando-se inflexível durante a vida adulta. Contudo, descobre-se que
ocorrem várias mudanças no cérebro pelo decorrer da vida,mudanças essas que
resultam da própria atividade, podendo-se afirmar que o cérebro se altera através de
estímulos e de novas aprendizagens cerebrais.
Baseado em estudos começou a se falar em neuroplasticidade ou plasticidade
cerebral, que nada mais é que a capacidade do cérebro de se reorganizar, conforme sua
utilização, ou seja, as conexões das células nervosas se reorganizam, permitindo que se
continue a aprender e desenvolver capacidades e habilidades, memorizar e adaptar-se
através das experiências vividas no ambiente que cerca o indivíduo.
Segundo a Dra. Joenna Driemeyer (2010, s/p): "a mudança qualitativa (como, o
aprendizado de uma nova tarefa) é mais crítica para o cérebro mudar a estrutura do que
o treinamento contínuo de uma tarefa já aprendida".
O que se sabe sobre a neuroplasticidade ainda é novo e desconhecido, mas já se
pode dizer que tratamentos baseados nessa perspectiva quanto a lesões e doenças
neurológicas ainda não são tão utilizados, pelo fato da não existência de evidências da
sua eficiência.

1.3 Conhecendo o Aluno com Deficiência Física Neuromotora

Uma criança com deficiência física tem, como aspecto mais relevante, a sua
dificuldade de se locomover e de se movimentar, e, em alguns casos, além disso se tem
alguns déficits associados a essa deficiência, tais como: sensorial, cognitivo, perceptivo,
de fala, de socialização.
Deve-se avaliar a motricidade humana de forma sistêmica, considerando em que
condições o movimento é concedido e quais as consequências referentes a qualidade da
informação sensorial e as funções dos diferentes sistemas biológicos, especialmente do
sistema nervosos central, que é o grande responsável em receber os estímulos e
processar as informações, dando respostas adequadas ao estímulo recebido.
O movimento é algo essencial para o desenvolvimento de diversas habilidades e
capacidades humanas, uma vez que, primeiro o sujeito aprende a mover-se e,
posteriormente, utiliza-se dessa mobilidade para aprender. Portanto, quando falamos de

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uma criança com deficiência física, ela tem seus movimentos limitados, o que
transforma-se em obstáculo para o seu desenvolvimento. Essa situação confirma-se
quando se acredita em uma concepção de que o

movimento é o que conduz os processos de desenvolvimento e aprendizagem de


diversas capacidades e habilidades, através da exploração do meio, que é indispensável
para se adquirir conceitos e desenvolver capacidades físicas e cognitivas durante o
desenvolvimento humano.
Tendo como base a concepção acima citada, pode-se afirmar que as experiências
sensoriomotoras vivenciadas no início da vida do indivíduo, serão essenciais e
fundamentais para o desenvolvimento de várias capacidades que prepararão esse sujeito
para atingir e concretizar todos os estágios do desenvolvimento, até chegar ao estágio
das operações.

Pode-se afirmar que o desenvolvimento humano acontece numa relação dialética


entre processos internos e externos que são mediados pelo meio social em que se vive.
Sendo assim, chega-se à problemática central referente a criança com deficiência física,
pois a oferta de estímulos externos concedidos à mesma é bastante precária, em
decorrência da incapacidade motora ou ainda da não oferta de oportunidades motoras,
alegando-se o não interesse da criança em movimentar-se e desenvolver atividades
motoras cotidianas para uma criança. Em alguns casos ocorre a limitação da
participação em atividades lúdicas, por desacreditar na possibilidade dessa criança em
participar e se interessar por tais atividades.
Em suma, como a possibilidade de exploração, pela criança, do mundo que a
cerca é muito precária, ocasiona experiências sensoriomotoras pobres, que influenciam
negativamente no desenvolvimento global dessa criança.
Segundo o que se estabelece na LDB, Lei 9394/96, todos tem direito ao acesso à
educação, tendo como premissa o compromisso de que as diferenças e dificuldades
apresentadas pelo estudante sejam diagnosticadas, avaliadas e

atendidas pelos profissionais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem,


estabelecendo práticas pedagógicas diferenciadas e diversificadas para o estudante,
levando em consideração todo o seu contexto. Para tanto, estabelece em seu artigo 59,
capítulo V, que os sistemas de ensino assegurem currículos, técnicas, métodos e
recursos educativos com ou sem adaptação que atendam o estudante em suas
necessidades, dificuldades, capacidades e habilidades específicas, visando sua efetiva
participação no que se refere a aprendizagem:
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[...] as diferenças existem, devem ser reconhecidas e assumidas e não
escondidas. Somos natural e biologicamente diferentes. Isso não quer dizer
que, necessariamente, devamos ser desiguais. Diferença e desigualdade não
são a mesma coisa (CLAUDE LÉVI-STRAUSS, apud BRASIL, 2002, p.13).

As palavras de Claude Lévi-Strauss levam a refletir sobre as diferenças que


existem entre as pessoas, que são muito maiores que apenas uma diferença de cunho
físico, como cor de pele ou de cabelo, pois aqui se fala de diferenças individuais que
fogem do padrão estabelecido, mas que devem ser tratadas com especial atenção quando
nos referimos a um estudante com deficiência física neuromotora, pois esse necessita de
condições diferenciadas e adaptadas, de complexidade variada, de acordo com a
deficiência física apresentada. A diferença aqui tratada não pode e nem deve ser
entendida como desigualdade.

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Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. LDB 9394/96 - Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Sub-secretaria de Edições
Técnicas. Brasília, 1997. 48 p.

BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da


Educação Inclusiva. In: Revista Inclusão. V.4, nº1, janeiro/junho. Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Especial. Brasília, 2008.

Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção na Área das


Necessidades Educativas Especiais – Conferência Mundial Sobre
Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade. UNESCO. Salamanca,
Espanha, 1994

Norma Brasileira, ABNT 9050/04, disponível em:


http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfiel
d_generico_imagens-filefield-description%5D_24.pdf

Secretaria de direitos humanos, Convenção sobre os direitos da pessoa com


deficiência, 2007, disponível em:
http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/conv
encaopessoascomdeficiencia.pdf

Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, Acessibilidade: direito de todos,


responsabilidade de cada um. MEC/SEESP, disponível em: http://tre-
se.jusbrasil.com.br/noticias/137438074/acessibilidade-direito-de-todos-
responsabilidade-de-cada-um

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