Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Esses níveis não são sistemas motores individuais e normalmente não agem de maneira
individual ou independente. Os anatomistas continuam a ter dificuldade até mesmo para
definir os constituintes de alguns desses níveis (p. ex., corticospinal ou piramidal versus
núcleos da base ou extrapiramidal). Esses níveis são componentes do sistema motor como um
todo; todos fazem parte do complexo aparelho motor. Cada um deles dá sua parcela de
contribuição para o controle do neurônio motor inferior para o qual, como via comum final,
convergem todos os sistemas de controle motor.
O exame das funções motoras inclui a verificação da força muscular, a avaliação do tônus e
do volume muscular e a observação de movimentos anormais. O exame da coordenação e da
marcha está bastante relacionado com o exame motor. A coordenação costuma ser vista como
uma função cerebelar, mas a integridade de todo o sistema motor é essencial para a
coordenação normal e o controle dos movimentos motores finos.
Exame da Motricidade
O exame da motricidade pode ser dividido em exame da força muscular, do tônus, dos
reflexos, da coordenação e dos movimentos involuntários anormais.
Exame da Força Muscular
Para a avaliação da força muscular, solicita-se ao paciente que mostre a dificuldade
que apresenta tentando realizar movimentos com os segmentos afetados. Em seguida, os
movimentos devem ser realizados contra a resistência oposta pelo examinador (manobras de
oposição). Caso haja déficit de força ou dúvidas quanto à sua existência, utilizam-se manobras
deficitárias. A força muscular é graduada de 0 a 5, conforme a tabela 1.
Membros inferiores:
Em decúbito dorsal, o paciente deve executar movimentos de flexão e extensão dos pés,
pernas e coxas. Em seguida, o examinador opõe resistência aos movimentos e compara a
força entre segmentos simétricos do paciente.
A manobra de Mingazzini é a manobra deficitária mais utilizada nos membros inferiores. O indivíduo, em decúbito
dorsal, mantém as coxas fletidas, formando ângulo reto com o tronco, as pernas fletidas sobre as coxas, horizontalmente,
formando ângulo reto com as coxas, e os pés formando ângulo reto com as pernas na vertical. Normalmente, essa posição pode
ser mantida por 2 minutos. Em condições em que há déficit, ocorrem oscilações ou quedas progressivas do pé, da perna ou da
coxa, combinadas ou isoladas, caracterizando déficits distais, proximais ou combinados.
À manobra de Barré, o indivíduo, em decúbito ventral, mantém as pernas fletidas sobre as coxas. O déficit da
musculatura flexora da perna leva a oscilações ou à queda da perna parética.
Membros superiores:
A palpação dos músculos permite avaliar a consistência muscular. Nas miosites, por exemplo,
os músculos podem apresentar consistência endurecida. À movimentação passiva, o
examinador realiza movimentos das diferentes articulações, avaliando a resistência oferecida.
A amplitude do balanço passivo dos pés e das mãos, quando as pernas ou os braços são
movimentados pelo examinador, mostra se há hipotonia (movimentos amplos) ou hipertonia
(movimentos curtos ou ausência de movimentos, como se as partes estivessem soldadas).
Também podemos detectar a presença dos sinais da roda denteada e do canivete.
O exame dos reflexos divide-se em: exame dos reflexos profundos e exame dos
reflexos superficiais.
A) Reflexos profundos:
O estímulo para avaliar os reflexos profundos deve ser um estiramento rápido do músculo causado pela percussão do
tendão, realizada com o auxílio do martelo neurológico. O paciente deve manter os músculos bem relaxados e o
examinador deve comparar as respostas entre os dois hemicorpos.
Reflexo aquileu: estando o paciente em decúbito dorsal, uma das pernas é colocada em ligeira flexão e rotação
externa, e cruzada sobre a outra. O examinador mantém o pé em ligeira flexão dorsal e percute o tendão de Aquiles ou
a região plantar, observando como resposta a flexão plantar do pé.
Reflexo patelar: estando o paciente sentado com as pernas pendentes ou em decúbito dorsal, com os joelhos em
semiflexão, apoiados pelo examinador, é percutido o ligamento patelar (entre a patela e a epífise da tíbia), observando-
se extensão da perna. Nos casos de hipotonia, como na síndrome cerebelar, pode-se observar resposta pendular, quando
a pesquisa é realizada com o paciente sentado.
Reflexo adutor da coxa: a pesquisa deve ser realizada com o paciente em decúbito dorsal com os membros
inferiores semifletidos, em ligeira adução, com os pés apoiados na cama ou sentado com as pernas pendentes. O
examinador percute os tendões no côndilo medial do fêmur, com interposição de seu dedo, e observa adução da coxa
ipsilateral ou bilateralmente.
Reflexo dos flexores dos dedos: com a mão apoiada, uma das maneiras de pesquisar esse reflexo é a percussão
da superfície palmar das falanges, com interposição dos segundo e terceiro dedos do examinador. A resposta esperada
é a flexão dos dedos
Reflexo estilo-radial: o antebraço semifletido é apoiado sobre a mão do examinador, com o punho em ligeira
pronação. A percussão do processo estilóide ou da extremidade distal do rádio provoca a Contração do braquiorradial,
produzindo flexão e ligeira pronação do antebraço.
Reflexo bicipital: o antebraço deve estar semifletido e apoiado, com a mão em supinação. A percussão do tendão
distal do bíceps, com intraposição do polegar do examinador, provoca flexão e supinação do antebraço.
Reflexo tricipital: com braço em abdução, sustentado pela mão do examinador, de modo que o antebraço fique
pendente em semiflexão. A percussão do tendão distal do tríceps provoca extensão do antebraço.
Reflexo glabelar é pesquisado por percussão da glabela e observação do fechamento das pálpebras.
Reflexo oro-orbicular: após percussão do lábio superior, na linha axial, observa-se a projeção dos lábios para frente,
por Contração dos músculos peribucais, principalmente do orbicular dos lábios.
Reflexo mandibular: há percussão do mento, com a boca entreaberta, e com interposição do dedo do examinador.
Observa-se elevação da mandíbula secundariamente à Contração dos masseteres.
B) Reflexos superficiais
Nesta classe de reflexos, os estímulos são realizados sobre a pele ou mucosas e provocam contrações
musculares, geralmente circunscritas aos grupos musculares da região excitada.
Reflexo cutâneo-plantar: a excitação da planta do pé, em sua margem interna
preferencialmente, no sentido póstero-anterior, provoca flexão plantar do hálux e dos artelhos.
Denomina-se o reflexo como cutâneo-plantar em flexão. A pesquisa deve ser realizada
estando o paciente deitado e relaxado, utilizando-se uma espátula ou um objeto de ponta
romba. O sinal de Babinski, que consiste na extensão lenta do hálux, é mais facilmente obtido
quando se estimula a parte lateral da planta do pé e é indicativo de lesão piramidal.
Reflexos cutâneo-abdominais: a estimulação cutânea, rápida, da parede abdominal,
no sentido látero-medial, provoca Contração dos músculos abdominais ipsilaterais, causando
desvio da linha alba e da cicatriz umbilical para o lado estimulado. Distinguem-se os reflexos
cutâneo-abdominais superior, médio e inferior, conforme a região estimulada (altura das
regiões epigástrica, umbilical e hipogástrica, respectivamente). Esses reflexos são abolidos
na síndrome piramidal aguda. Como a pesquisa é dificultada por obesidade, cicatriz cirúrgica
e flacidez, tem maior valor o encontro de assimetrias.
Reflexo cremastérico: a estimulação do terço superior da face medial da coxa, estando
o paciente em decúbito dorsal, com os membros inferiores estendidos e em abdução,
desencadeia Contração do cremáster e elevação do testículo ipsilateral.
Reflexo anal: Contração do esfíncter anal externo em resposta à estimulação cutânea
da região perianal.
Reflexo palmomentual: consiste de Contração ipsilateral do músculo mentual e oro-
orbicular após estímulo cutâneo na eminência tenar. Pode estar presente no envelhecimento
normal, e há maior valor diagnóstico se é unilateral.
Reflexo córneopalpebral: consiste na oclusão de ambas as pálpebras quando uma das
córneas é ligeiramente estimulada com uma mecha fina de algodão. A via aferente do reflexo
é o nervo trigêmeo ipsilateral à córnea estimulada, e a via eferente é o nervo facial bilateral.
A integração ocorre na ponte.
Exame da Coordenação
Força e potênciamotora:
A fraqueza é uma anormalidade comum e pode ter muitos padrões. A terminologia pode
causar problemas. Por exemplo, a fraqueza pode ser generalizada ou localizada, simétrica ou
assimétrica, proximal ou distal, do neurônio motor superior ou do neurônio motor inferior.
Muitas vezes, o termo focal é usado para indicar assimetria; diz-se que um paciente com
hemiparesia tem uma paresia focal. O termo generalizado costuma ser usado para indicar
simetria, embora a fraqueza possa não ser realmente generalizada. Uma doença pode causar
fraqueza em determinada distribuição com simetria bilateral (p. ex., as síndromes
escapuloumerais), mas geralmente não é considerada focal, embora o acometimento seja
muito localizado.
Fraqueza generalizada
A fraqueza pode acometer os dois lados do corpo, de maneira mais ou menos simétrica. Na
fraqueza generalizada verdadeira, também há acometimento das funções motoras bulbares.
Quando as funções bulbares estão intactas e há fraqueza dos dois braços e das duas pernas,
diz-se que o paciente tem tetraparesia; se a fraqueza acomete apenas as pernas, o paciente
tem paraparesia. As causas prováveis de fraqueza dos quatro membros são mielopatia,
neuropatia periférica, distúrbio da junção neuromuscular ou miopatia. Quando a causa é a
mielopatia e o déficit é incompleto, com frequência é possível reconhecer o acometimento
mais intenso dos músculos preferencialmente inervados pelo trato corticospinal. Em geral, os
reflexos estão aumentados (embora possam estar diminuídos ou ausentes nos estágios
agudos), é comum haver alguma alteração da sensibilidade, às vezes há um “nível” sensorial
espinal delimitado, os reflexos superficiais desaparecem e pode haver disfunção intestinal e
vesical.
Fraqueza localizada
Quando o braço e a perna de um lado do corpo estão fracos, diz-se que o paciente tem
hemiparesia. Esse distúrbio pode variar da intensidade muito leve, caracterizada apenas por
desvio pronador e diminuição do controle motor fino, até a paralisia total. A monoparesia é a
fraqueza de apenas um membro, como a perna contralateral a um acidente vascular cerebral
da artéria cerebral anterior. Os reflexos – geralmente aumentados, exceto se o processo for
agudo – e a perda de sensibilidade associada ajudam a identificar essa fraqueza focal como
de origem central. Uma mononeuropatia, como a paralisia do nervo radial, ou uma lesão de
raiz nervosa espinal, como na hérnia de disco, causa fraqueza limitada à distribuição do nervo
ou da raiz acometida. A plexopatia pode causar fraqueza de todo o membro ou apenas na
distribuição de alguns componentes do plexo. Nessas doenças do neurônio motor inferior
geralmente há diminuição dos reflexos, muitas vezes associada à perda da sensibilidade. A
localização da fraqueza focal por doença da raiz, do plexo e do nervo periférico requer
excelente conhecimento de neuroanatomia periférica. A doença do neurônio motor é um caso
especial. Na esclerose lateral amiotrófica (ELA) característica, há acometimento tanto dos
neurônios motores superiores quanto dos inferiores. Causa um quadro clínico de fraqueza e
atrofia muscular por acometimento dos neurônios motores inferiores no corno anterior da
medula espinal, combinada a fraqueza e hiper-reflexia por acometimento dos neurônios
motores superiores no córtex cerebral que deu origem ao trato corticospinal. Há fraqueza do
neurônio motor superior (doença do córtex cerebral) superposta à fraqueza do neurônio motor
inferior (doença da medula espinal)