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EXAME DA MOTRICIDADE
VI CURSO DE REVISÃO DE FUNDAMENTOS EM NEUROLOGIA
EXAME DA MOTRICIDADE
PROF. JÚLIO SANTOS
INTRODUÇÃO
estritamente ligados ao exame do sistema motor e devem ser interpretados em conjunto. Tanto o
sistema nervoso central (SNC) quanto o sistema nervoso periférico (SNP) participam da execução
dos movimentos voluntários. Estes são mediados pela contração de músculos estriados que levam
cujos corpos celulares se localizam no corno anterior da medula (2° neurônio motor). O termo trato
configura uma imprecisão, uma vez que outras vias, como, por exemplo, o trato rubroespinhal,
também compõem o trato piramidal. Aproximadamente metade dos axônios que compõe o trato
corticospinhal se origina do córtex motor primário (giro pré-central), enquanto a outra metade se
substância branca profunda ou coroa radiada. Ao nível dos núcleos da base, este trato se compacta,
passando pela perna posterior da cápsula interna. O trato corticoespinhal continua pelos
pedúnculos cerebrais, no mesencéfalo, até a base da ponte e, a seguir, no bulbo, onde ocorre a
decussação de cerca de 85% de suas fibras. As fibras cruzadas constituem o trato corticoespinhal
lateral, enquanto as demais, não cruzadas, constituem o trato corticospinhal anterior. O trato
corticoespinhal continua pelo funículo lateral da medula até fazer sinapse com o 2° neurônio motor,
corticoespinhal anterior, em geral, não produzem déficit perceptível, enquanto lesões unilaterais do
O segundo neurônio motor emerge da raiz ventral da medula espinhal e percorre um nervo
espinhal misto ou um nervo motor puro, até fazer sinapse com um número variável de fibras
músculos inervados por uma raiz ventral e o de uma unidade motora, que é constituída pelo
neurônio motor alfa na medula espinhal (ou nos núcleos motores dos nervos cranianos) e as fibras
TROFISMO MUSCULAR
esquelético.
TÉCNICA DE EXAME
É composta pela inspeção, palpação, percussão e, por vezes, medida dos músculos,
desproporções. Nesta etapa do exame neurológico, é útil atentar para deformidades esqueléticas
que frequentemente acompanham disfunções do sistema motor, como escápula alada, hiperlordose
ALTERAÇÕES TRÓFICAS
A palpação visa determinar o volume e consistência dos músculos. Um músculo normal tem
resultar tanto de transtornos do neurônio motor inferior, quanto dos músculos. No primeiro caso, a
músculos aparentam estar pouco ou nada atrofiados e se revelam fracos. Por último, em casos de
atrofia por desuso (secundária à imobilidade, como, por exemplo, em casos de transtornos
deve a excesso de deposição de gordura ou tecido conjuntivo. Esta alteração, presente mais
verdadeira pode ocorrer tanto em situação fisiológica (p. ex.: atletas), quanto em doenças que levam
à contração muscular excessiva, como as miotonias congênitas, onde os pacientes podem
fasciculações, miotonia, rippling entre outros. Fasciculações são contrações involuntárias de uma
unidade motora, podendo ser percebidas pelo paciente (referido como “tremor” ou pulinhos na
carne”), ou visualizadas pelo examinador, constituindo um sinal importante de disfunção neuronal.
Em regra, a fasciculação é insuficiente para gerar movimento articular, exceto quando ocorre em
último gera movimento articular rítmico. A miotonia expressa o relaxamento lento do músculo. Pela
1. Aquela desencadeada pela contração (miotonia de ação) que pode ser observada em mãos e
músculo orbicular dos olhos. A fala pode sugerir miotonia da língua por alteração da dicção.
A fasciculação pode ser vista durante inspeção cuidadosa, tornando-se mais evidente pela
TÔNUS MUSCULAR
O tônus é definido pelo grau de resistência muscular à movimentação passiva e expressa dois
por sua vez, modula o tônus muscular. O componente muscular depende das condições
viscoelásticas do efetor. A distribuição das alterações do trofismo e tônus são fundamentais para a
elaboração de uma hipótese clínica adequada. Lesões do TCEL, cerebelo, núcleos da base, SNP e
TÉCNICA DE EXAME
passiva de suas articulações. Com o paciente relaxado, o examinador movimenta cada uma das
como flexão, extensão, adução, abdução e rotações. Em decúbito dorsal, pode-se realizar a manobra
de rolar passivo dos membros inferiores, atentando-se para os movimentos laterolaterais dos pés,
velocidade variável, obedecendo a um protocolo conhecido apenas pelo examinador, para que o
paciente não preveja quais movimentos serão realizados, facilitando o seu relaxamento. O paciente
ansioso ou apreensivo pode ter dificuldade em relaxar, simulando um aumento patológico do tônus.
É útil tentar distrair o paciente por meio de perguntas, fechamento dos olhos ou solicitando que ele
execute cálculos. É importante lembrar que dor, independente da causa, pode restringir o
Uma manobra interessante para observar o tônus dos membros superiores consiste em
mover rápida e alternativamente cada ombro para trás e para frente algumas vezes e observar as
oscilações dos braços, com o paciente em pé. O amplo balanço dos braços sugere hipotonia. O teste
paciente. Em condições fisiológicas, esta manobra desencadeia oscilações das pernas que diminuem
são aumentadas.
ALTERAÇÕES TONÍGENAS
cerebelares ou até em alguns casos de disfunção dos núcleos da base, como na coreia aguda. Nela,
correspondente.
A hipertonia pode ser do tipo plástico ou elástico. A hipertonia plástica decorre de disfunção
dos núcleos da base, sendo o aumento do tônus verificado ao longo de toda extensão do
possivelmente uma evidência indireta de tremor. Este sinal é mais facilmente identificado quando o
no início do movimento, tornando-se ainda mais intensa quando este é executado de maneira
início do movimento, seguido por relativa facilidade, conforme o segmento corporal avaliado se
aproxima de sua máxima amplitude. A espasticidade envolve de maneira diferente os grupos
musculares, sendo, portanto, eletiva: nos membros superiores resulta em hipertonia dos flexores
dos dedos e oponente do polegar (segundo ao quinto dedos fletidos sobre os polegares fletido e
aduzido – figa), flexores e pronadores do punho, flexores do cotovelo; e, nos membros inferiores os
As manobras deficitárias são especialmente úteis quando há suspeita clínica de lesão do SNC,
podem evidenciar déficit motor sutil, que, embora não seja capaz de reduzir a força muscular, afeta
Déficits motores verdadeiros e graves são mostrados pela incapacidade de adotar a postura
indicada.
direção e ordem em que ocorrem tais desvios. A execução de movimentos que requerem grande
precisão e velocidade também pode revelar déficit sutil por lesão do TCE. Entretanto, disfunção de
vias motoras indiretas, como as vias cerebelares e os núcleos da base, também interfere nas
MEMBROS SUPERIORES
olhos abertos, dedos abduzidos, preferencialmente sentado ou em pé. Esta prova foi descrita
originalmente por Mingazzini com as mãos pronadas, modernamente, é realizada com as mãos
supinadas, pois torna a manobra mais sensível e específica, uma vez que o aumento do tônus
pronador, que ocorre na disfunção piramidal sutil, é assim evidenciado. Em caso de paresia mais
significativa, o membro afetado desenvolve uma mudança lenta e gradual de posição na seguinte
ordem: adução dos dedos, pronação da mão, queda do punho, flexão do cotovelo e queda do braço.
Quando a prova é realizada com os olhos fechados, estamos avaliando não só a motricidade, como
também a propriocepção, acrescentando dificuldades na interpretação dos resultados, pois desvios
posturais podem ocorrer exclusivamente por disfunção proprioceptiva. Daí termos preferido
Manobra de Raimiste
Esta manobra é executada em decúbito dorsal ou sentado, 10 com os braços ao longo do corpo e
cotovelo fletido a 90°, posição neutra do punho (semipronada) e dedos maximamente abduzidos, como se
as palmas das mãos estivessem em espelho. A prova é mais sensível quando realizada com o paciente em
decúbito dorsal horizontal. Em caso de paresia, ocorre adução dos dedos, seguida de flexão do punho e
posterior queda do braço.
Manobra do Rolamento
antebraços, hora no sentido horário e após no sentido anti-horário, ou vice-versa. Em caso de lesão unilateral,
o lado envolvido não se move com a mesma amplitude e velocidade que o contralateral. 19 Variante desta
MEMBROS SUPERIORES
Manobra de Mingazzini
Paciente permanece em decúbito dorsal, flexão do quadril sobre o tronco e flexão do joelho e tornozelo,
todos a 90°. Nas plegias, há incapacidade de adotar a posição de prova; nas paresias, ocorrem oscilações e
queda gradual do membro afetado, em geral do distal para o proximal.
Manobra de Barré
Com o paciente em decúbito ventral, o examinador flexiona os joelhos do mesmo. Em sua descrição
2. Caso o primeiro tempo não revele alterações, mas persista a hipótese de déficit motor, o
os glúteos com os pés. O lado afetado não consegue manter a posição no tempo de dois
minutos;
havendo queda gradual do membro do lado. A manobra de Barré exige mais da musculatura
flexora da coxa, isto a torna especialmente sensível, tendo em vista que a disfunção piramidal
decúbito dorsal, o examinador flete suas coxas e pernas, mantendo a região plantar apoiada sobre
o leito e segurando o dorso dos pés do paciente. Em caso de déficit, quando o examinador solta as
pernas do paciente, ocorre abdução da coxa seguida por extensão da perna. A queda gradual e
simétrica dos membros inferiores é esperada em paciente incapaz de cooperar. Em caso de paresia,
o membro afetado apresenta queda mais rápida e abdução mais significativa que o contralateral.
Esta manobra também é útil para detectar assimetrias em c asos de paraparesia de intensidade grave
articulação, que não o movimento que está sendo avaliado. Por exemplo, quando se avalia a força
do bíceps, o cotovelo deve estar apoiado pelo examinador, e a mão deve ser mantida
completamente supinada. Caso contrário, um paciente com fraqueza do bíceps pode fazer a
semipronação do punho, e o bíceps aparenta ter força normal, quando, na realidade, a fraqueza
estará sendo compensada. Com o antebraço em posição neutra, o principal músculo envolvido na
cooperação por parte do paciente, como: alteração do nível de consciência, deficiência intelectual
ou transtornos de humor. Na presença de doença sistêmica grave, a avaliação pode ser prejudicada
tanto por caquexia muscular, quanto por uma redução da capacidade cardiopulmonar. Nestes
exame neurológico que não requeiram vigor físico. A ocorrência de assimetrias ou gradiente
músculo de força moderada de maneira mais acurada, inicia-se a avaliação com o músculo
maximamente encurtado. Para testar um músculo muito forte é útil colocá-lo em situação de
desvantagem mecânica, mantendo-o maximamente alongado. Esta regra pode ser empregada,
quando o paciente e o examinador apresentam composição corporal distinta, sendo esperado que
condições normais, apresente força inferior à do examinador, como no caso de uma paciente que
apresente idade mais avançada ou peso corporal muito inferior, os músculos devem ser avaliados
na posição maximamente encurtada. O oposto deve ocorrer quando, por exemplo, uma médica
A escala de força mais utilizada é a do Medical Research Council (MRC) (Quadro 9-1). A seguir,
o leitor encontrará instruções que o capacitarão a avaliar a força dos principais grupos musculares.
Os músculos omitidos neste texto são aqueles, cuja avaliação clínica é pouco prática ou de menor
músculos a examinar depende das hipóteses possíveis para o caso em questão, entretanto, uma
PALPAÇÃO DE NERVOS
pacientes com suspeita de neuropatias periféricas. A pesquisa é feita por meio de palpação gentil
do nervo em sentido transversal ao seu trajeto. Podemos palpar os nervos em suas porções mais
superficiais: ulnar na fossa cubital, mediano medialmente e acima da inserção do bíceps, fibular
são roliças, tenras e palpáveis, apenas em pequenas porções de seu trajeto. Quando anormal, o
Não raro está presente o sinal de Tinel. Além da palpação dos maiores troncos nervosos, os
ramos cutâneos são de particular interesse, sendo acessíveis: nervo supraorbitário (região
cutâneo dorsal do ulnar (região inferodorsal à apófise estiloide da ulna); n. sural (atrás e ligeiramente
PADRÕES DE FRAQUEZA
acometimento completo do trato corticoespinhal lateral acima da decussação das pirâmides leva à
déficit pode ser ainda desproporcionado, acometendo mais intensamente um segmento em relação
aos outros (p. ex., predomínio braquiofacial). O acometimento do trato corticoespinhal lateral
também pode provocar monoparesia, como, por exemplo, no Acidente Vascular Cerebral que
manifesta por fraqueza ipsolateral à lesão. As lesões medulares podem ser bilaterais, causando
superior na via piramidal se expressa preferencialmente nos músculos distais. O aumento do tônus
e exaltação dos reflexos de estiramento muscular são características das lesões do trato
corticoespinhal lateral. A exceção constitui a fase aguda da lesão, que pode-se manifestar por
hipotonia e abolição de reflexos (em geral até 4 semanas). A lesão do segundo neurônio pode gerar
padrões de fraqueza muito diversos. A região acometida apresenta hipo ou arreflexia com atrofia
precoce. É importante examinar múltiplos músculos dos segmentos corporais, pois o padrão de
fraqueza identificado pode respeitar o território de uma raiz, plexo (completo ou incompleto) ou
simetria, afetando inicialmente apenas os membros inferiores. Quando os sinais e sintomas evoluem
ao nível dos joelhos, as mãos também apresentarão anormalidades. As polineuropatias podem
delas. Com relação ao calibre das fibras sensitivas afetadas, a neuropatia pode ser preferencial ou
Nas doenças de junção neuromuscular, os exames de oposição de força e reflexos podem ser
consultório médico após perceber que ele apresentava problemas para deambular corretamente,
projetava o corpo para frente e não conseguia segurar alguns brinquedos pouco mais pesados.
Segundo relato da mãe, por volta dos 3 anos, CFL tinha dificuldades para levantar o próprio corpo
quando era posto em decúbito dorsal, bem como quedas frequentes, mas ela não procurou auxílio
médico por achar que não era um problema efetivo e não ter casos de doenças desse tipo na família,
sendo suas duas filhas clinicamente normais, ultrapassando a primeira e a segunda décadas de vida.
A mãe relata que o paciente aparenta ter traços de deficiência intelectual, retificados pela professora
U/I). Além disso, a biópsia muscular mostrou a falta de distrofina. Mediante o exame físico, foi
complementares foram pedidos e confirmaram o diagnóstico para tal condição. Ademais, foi traçado
o heredograma familiar e viu-se que a mãe possui o alelo para a doença, bem como a avó do
paciente.
força foi classificada como grau três e em outro grupo muscular como grau dois. Assinale a
gravidade abolida
e força que eles mais atuam. Assim, existem várias funções que os músculos em nosso corpo
realiza o movimento.
4. Um menino de 4 anos de idade chega ao posto médico com queixa principal de quedas
musculatura da cintura pélvica e escapular além de realizar a manobra Gowers para levantar-
a) Paralisia Cerebral.
b) Mielomeningocele.
c) Osteogênese imperfeita.
e) Doença de Charcot-Marie-Tooth
a) Poliomielite.
b) Síndrome de Turner.
c) Distrofia de Duchenne.
d) Paralisia Cerebral.