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Unidade 1 - cocos gram-positivos e gram-negativos

Gênero Staphylococcus - https://www.youtube.com/watch?v=EEQM9qKGYlw&list=PL4aSQ7e5vANP8La-MqX-g76Q7oWWXPLLS&index=2

Morfologia e coloração
Cocos gram-positivos (violeta genciana), diâmetro = 0,5-1,5 μm. Aglomerados (tétrades,
sarcinas ou cachos de uva), cadeias curtas ou aos pares. Imóveis, sem flagelo. Ágar-sangue =
colônias arredondadas e grandes (3-5 mm). Cepas produtoras de biofilme são pretas no meio da
cultura em ágar vermelho-Congo. Oxidase negativos. Não esporulam → diminui resistência na
natureza, mas bactéria se protege em matéria orgânica (secreções purulentas).
S. aureus → pigmentos carotenóides = colônias douradas (outras spp. geralmente
brancas). Coagulase-positivo, causa hemólise em ágar sangue (coagulase ativa protrombina e
favorece coagulação do plasma). Catalase-positivo. Tem cápsula (maioria das cepas).

Cultivo
Meio de cultura mais adequado = ágar nutriente com 5-8% de sangue de ovelha.
Maioria anaeróbica facultativa, com melhor crescimento em condições aeróbias (podem ser
aeróbias, microaerófilas), e catalase-positiva. Fermentam glicose com produção de ácido em
aerobiose e anaerobiose. Podem se multiplicar em meios com alta concentração de sais (ex.: 7,5 %)
e com ampla faixa de variação de temperatura (7 a 47,8 °C = mesófilas).
Obs.: cepas de S. aureus anaerobius e S. saccharolyticus não se multiplicam na presença de O2, não produzem catalase.
Coagulase-positivos = S. aureus, S. intermedius, S. pseudintermedius, S. hyicus. Coagulam
plasma, tendem a não se disseminar no organismo.
Coagulase-negativos = S. epidermidis, S. felis, S. gallinarum. Não coagulam plasma.
Geralmente são de baixa virulência.
Obs.: S. hyicus é coagulase-variável.
Outras enzimas = lipase, esterase, desoxirribonuclease, estafiloquinase (= fibrolisina, ativa o
plasminogênio, gerando plasmina, que é capaz de dissolver a fibrina e, portanto, o coágulo),
hialuronidase, fosfolipase, penicilinase (capaz de destruir ação da penicilina). Percebe-se que
existem enzimas que podem atuar contra proteções naturais da pele do hospedeiro.
Resistência e habitat
Fazem parte da microbiota normal, comensais na pele e em membranas mucosas. Podem ser
oportunistas, causando infecções piogênicas (infecções secundárias - corte na pele).
Não formam esporos, mas podem sobreviver no ambiente por longo tempo (estáveis no
ambiente, maior oportunidade de infectar hospedeiros suscetíveis). Produzem catalase = degradam
peróxido de hidrogênio (água oxigenada) em água e oxigênio. Núcleo formado por espessa camada
de peptidoglicano unida por ponte de pentaglicina = resistência à lisozima (enzima bacteriolítica
liberada nos fagócitos).
Staphylococcus coagulase-positivos formam abscessos envoltos por proteínas plasmáticas
(pró-trombina, trombina, fibrinogênio e fibrina), estrutura protetora contra fagocitose, forma-se um
coágulo e as células de defesa do hospedeiro não conseguem combater.
S. aureus e S. epidermidis → produzem exopolissacarídeo PIA (polissacarídeo intercelular
adesina) que participa na formação de biofilme (limita a eficácia terapêutica dos antibióticos
convencionais → pensar na formação de biofilme no úbere das vacas, mesmo antibiótico local
teria ação limitada). S. aureus também tem cápsula, polissacarídeos capsulares limitam a fagocitose
(defesa primária contra todos os tipos de infecções estafilocócicas).
Biofilme → acúmulo de bactérias aderidas ao tecido hospedeiro (pele, mucosa); adere,
coloniza e agrega. Confere resistência aos desinfetantes → importante ter constância de
higienização (veterinários devem orientar na ordenha → reduzir incidência de mastites).
Resistência → 60 °C por 30 minutos; pH entre 4 e 9,5; toleram cloreto de sódio a 10%.
Luz solar direta (raios UV), desinfetantes (mas pouca ação em fezes e secreções purulentas →
bactéria fica protegida em matéria orgânica), hipoclorito de sódio, álcool, pasteurização (lenta,
rápida ou UHT), cristal violeta, sais biliares e alguns antibióticos podem combater.
Existe disseminada resistência aos antibióticos entre os Staphylococcus. Como são gram-
positivos, os principais antimicrobianos para o tratamento atuam na inibição da biossíntese da
parede celular (cefalosporina, vancomicina). PENICILINA É INEFICAZ, resistência
(penicilinase) → até pode usar semissintéticos, desde que tenha protetor de penicilina (ácido
clavulânico).

Estrutura antigênica e toxinas (mais informações em patogenia)


Toxinas alfa (hemolisina, lise total de eritrócitos suscetíveis, como do coelho), beta
(hemólise incompleta, exacerbada a 4 °C = hemolisina “quente-fria”) e delta (relacionado ao
sistema accessory gene regulator). Outras toxinas: esfoliativa, endotoxina, leucocidina, TSST-1.
Obs.: a maioria dos isolados de S. aureus de bovinos produz betatoxina. A produção de toxinas (hemolisinas?) se limita
mais às espécies coagulase-positivas.
Enterotoxinas → são termorresistentes (submeter alimento ao tratamento térmico não
significa eliminar as enterotoxinas = toxinfecção alimentar).
S. hyicus → toxina esfoliativa = dermatite suína. Também importante: mastite bovina.
S. intermedius → toxina esfoliativa = piodermatite canina.
Proteínas de superfícies (na camada de peptidoglicano exposta) capazes de se ligar ao
hospedeiro participam na colonização dos tecidos.
Em relação a estrutura antigênica dos Staphylococcus aureus, podemos afirmar: a proteína
A é um componente da parede celular de muitas cepas que se liga a porção Fc das moléculas de
IgG; a maioria das cepas possui coagulase ou um fator de aglutinação soro na superfície da parede
celular; as reações sorológicas têm utilidade limitada na identificação da bactéria; algumas cepas
possuem cápsulas que inibem a fagocitose pelos leucócitos polimorfonucleares (neutrófilos).
Patogenia
Fatores de virulência (capacidade da bactéria em se propagar dentro do organismo, causando
doença) do S. aureus: coagulase (fibrinogênio em fibrina, protege da fagocitose), catalase (lisa
peróxido de hidrogênio que algumas células de defesa produz), proteína A (liga-se a Fc da IgG,
impede opsonização), leucocidina (citotoxina), alfa-toxina (principal toxina na mastite gangrenosa,
é necrosante a causa espasmos na musculatura lisa), beta-toxina (esfingomielinase, danifica
membranas celulares), TSST-1 (toxina da síndrome do choque tóxico, tem atividade de
superantígeno), toxinas esfoliativas (degradam moléculas de adesão do epitélio cutâneo,
descamação), enterotoxinas (termoestáveis, gastroenterite, intoxicação alimentar por estafilococos)
e [lipase (quebra triglicerídeos), esterase, elastase, estafiloquinase (quebra fibrina, digere coágulos
formados pelo hospedeiro), desoxirribonuclease, hialuronidase (hidrolisa ácido hialurônico que une
células do tecido conjuntivo), fosfolipase].
Obs.: [ ] = enzimas que facilitam a disseminação e aumentam a toxicidade da bactéria.
Staphylococcus passa pela primeira linha de defesa (pele, gordura, pelos, secreções da
mucosa, lágrima, saliva) → vence e começa infecção benigna → quando fagocitose é driblada,
ocorre infecção maligna (multiplica-se no macrófago, leva à inflamação, pode ser local ou
disseminada). Qualquer infecção purulenta já é sugestiva de estafilococose. Animais infectados
podem atuar como reservatório para transmissão estafilocócica para humanos.
São bactérias piogênicas por causarem lesões supurativas. Pequenos traumas ou
imunossupressão predispõem à infecção. Doenças de destaque em animais domésticos = mastite,
piemia pelo carrapato, epidermite exsudativa, botriomicose e pioderma.
Mastite bovina por S. aureus é comum. A infecção ocorre principalmente na ordenha,
pelo contato com as bactérias presentes na mão do ordenhador, nas teteiras e/ou nos panos
usados para limpeza do úbere. Pode ser subclínica (maioria), aguda ou crônica, mas também
pode ocorrer as formas hiperaguda e gangrenosa (associadas a reações sistêmicas severas → risco
de morte). A multiplicação bacteriana ocorre principalmente nos ductos coletores (pouco nos
alvéolos). O influxo de fagócitos pode formar abscessos que resultam em fibrose → limita a
destruição dos MOs e a penetração dos antimicrobianos.
Piemia pelo carrapato por S. aureus é comum em cordeiros. Mais restrita às criações da
Grã-Bretanha e Irlanda. Cursa com linfadenomegalia e sepse. Picada de carrapato = pequeno
trauma → bactérias na pele entram → septicemia seguida de morte ou formação de abscessos
localizados em vários órgãos. Manifestações clínicas = artrite, paresia do posterior e atraso no
crescimento. Fazer esfregaço do material purulento das lesões, isolar e identificar S. aureus para
confirmar diagnóstico. Melhor é profilaxia = controle do rebanho e combate aos carrapatos (banho
carrapaticida).
Epidermite exsudativa por S. hyicus em leitões e suínos desmamados até 3 meses de idade
(mundial). Altamente contagiosa, secreção sebácea excessiva, esfoliação e exsudação na superfície
da pele (toxina esfoliativa causa separação das camadas intraepidérmicas e resulta em erosões
focais na epiderme). Sinais clínicos = anorexia, apatia, febre, dermatite não pruriginosa extensa com
exsudato gorduroso (doença do porco gorduroso ou eczema úmido). Agalactia materna, infecções
intercorrentes e desmame predispõem (estresse). S. hyicus está na mucosa vaginal e na pele de
matrizes saudáveis → leitões contaminados no parto (a partir de pequenas feridas na pele).
Diagnóstico = isolar e identificar S. hyicus. Essa espécie bacteriana também causa poliartrite
exsudativa.
Botriomicose por S. aureus em equinos após castração. Infecção do coto do cordão
espermático. Doença granulomatosa supurativa crônica. Lesão = massa de tecido fibroso com focos
purulentos e fístulas. Essa espécie bacteriana também pode causar em equinos celulite, foliculite,
furuncolose.
Staphylococcus coagulase-positivos são agentes etiológicos primários das piodermites
superficiais (ex.: foliculite bacteriana superficial) → enzimas, toxinas e componentes da parede
celular (produtos microbianos) causam resposta inflamatória piogênica (gera pus = leucócitos +
bactérias vivas ou mortas). Estão mais associados às lesões de pele e glândula mamária. Em cães,
também podem causar infecções oculares como blefarite (inflamação das bordas das pálpebras),
conjuntivite e dacriocistite (infecção do saco lacrimal), além de infecções do trato urinário.
S. pseudintermedius (+) → mastite, osteomielite e infecções de feridas em cães e gatos.
S. intermedius → celulite, foliculite, furunculose, impetigo e otite externa em cães.
S. aureus (+) → quando libera exotoxinas (TSST-1) no sangue, pode causar febre alta
abrupta, vômitos, diarreia, mialgia, hipotensão, insuficiência renal e cardíaca (casos mais graves);
choque séptico pode afetar rins, pulmão e coração (endocardite valvular). Além das infecções de
pele, pode estar associada à pneumonia, endocardite, osteomielite e gastroenterite (dependendo da
cepa). Abcessos, supurações, foliculites.

Bovinos → injeções de ocitocina na glândula mamária de vacas (para produzirem mais


leite) podem permitir a entrada de Staphylococcus a ponto de poder ocasionar endocardite (IV,
direto no sangue, vai para o coração).
Ovinos/caprinos → dermatite pustular na face, úbere, teto e abdome ventral (dermatite
estafilocócica) por S. aureus.
Suínos → síndrome MMA (metrite, mamite e agalaxia), distúrbio hormonal na
gametogênese.
Humanos → foliculite desenvolvida pelo contato próximo aos pets. Toxinfecções
alimentares por enterotoxinas estafilocócicas.
Tratamento → infecções locais devem receber tratamento local. Pensar nas vacas com
mastite: bactéria entra pelo canal do teto → deposita-se na glândula mamária → tratamento
sistêmico? → antibiótico é absorvido → cai no sangue → parte se liga em proteínas plasmáticas →
outra parte se distribui (fígado, rins) → grande porção é biotransformada e eliminada → chega
na glândula mamária e ainda precisa passar por barreira adiposa → conclusão: muito pouco do
fármaco atinge o tecido-alvo quando a aplicação é sistêmica.
Para tratar = antimicrobianos, drenagem dos abscessos/supurações, limpeza dos
equipamentos, higiene (pessoal, mãos, tetos), qualidade da água. Geralmente não são resistentes
a desinfetantes, mas matéria orgânica complica ação → hipoclorito de sódio age bem, mas não
deve ser aplicado em tecido vivo. Não comer enlatados com ferrugem, amassados nem
alimentos não inspecionados (evitar intoxicação) → proteínas dos ovos são favoráveis ao
desenvolvimento bacteriano (precisa processo térmico, não coma maionese que não tenha
origem industrial).

Diagnóstico
Principais testes diagnósticos = produção de coagulase e atividade hemolítica (testar catalase
e coagulase). Também, coloração de gram e cultura em ágar sangue (verificar hemólise).
Catalase: água oxigenada em água + O2.
Coagulase: fibrinogênio em fibrina, formando coágulo.
Em casos de suspeita de infecção em glândula mamária, pode-se coletar leite, colocar
amostra em frasco e enviar refrigerada. Fazer cultivo, antibiograma (testar penicilina, deve ser
resistente). Devemos conhecer o inimigo → prof. Geder fez prática com amostra de leite, fez
coloração de gram e encontrou bactérias coco gram-positivos = Staphylococcus. Também é
interessante lembrar que Staphylococcus pode ser eliminado no leite de glândulas infectadas, possui
gene que codifica enterotoxina = intoxicação alimentar se esse leite for consumido cru.
Imunidade
Fatores de virulência → cápsula (resistência à fagocitose, não permite degradar as
bactérias para apresentar antígenos ao sistema imune); peptideoglicano (ativa via alternativa do
complemento e resulta numa reação inflamatória); proteína A do S. aureus (interage com
porção Fc da IgG e provoca efeitos quimiotáticos, anticomplementar, antifagocitário, reação de
hipersensibilidade, lesão plaquetária e liberação de histamina); adesinas → bactéria se liga a
fibronectinas e lamininas do hospedeiro, aderem-se às membranas celulares.
Staphylococcus produzem mecanismos de defesa. Proteína A do S. aureus se liga com a
região Fc das imunoglobulinas (ao invés da Fab), de modo que, no soro, as bactérias se ligam às
moléculas IgG na orientação incorreta, impedindo opsonização e fagocitose. Logo, Staphylococcus
migra junto aos macrófagos no sangue, promovendo lesões entéricas como abscessos profundos
(conjunto de células mortas + fagócitos + bactérias encapsuladas → quando abscesso rompe
causa supuração; precisa de drenagem por punção, por exemplo).

Normal:

Superantígenos: ligam-se ao MHC de classe II (convencional) e à região VB do receptor


TCR de linfócitos, que são intensamente ativados, levando à tempestade de citocinas. Exotoxinas
pirogênicas produzidas por Staphylococcus aureus são superantígenos, estão envolvidas em muitas
doenças, tais como a síndrome do choque tóxico, intoxicação alimentar e síndrome da pele
escaldada estafilocócica.
As enterotoxinas estafilocócicas (EEs) são superantígenos. Não são processadas pelos
macrófagos e conseguem se ligar tanto ao MHC de macrófagos quanto aos receptores na
superfície de linfócitos Th. Muitos macrófagos e linfócitos Th são recrutados → grande
produção de IL-2 → TNF-α + outras citocinas por outras células → manifestações clínicas.

obs.: os linfócitos B e os macrófagos são dois dos principais tipos de células que funcionam como APCs para as células
T CD4+ auxiliares e expressam genes do MHC classe II.

Gênero Streptococcus - https://www.youtube.com/watch?v=v5XgIpaKvW8&list=PL4aSQ7e5vANP8La-MqX-g76Q7oWWXPLLS&index=2&ab_channel=Prof.DaniloStipp

Morfologia e coloração
Cocos gram-positivos (violeta genciana), célula esférica a ovóide. Dispostos aos pares ou
em cadeias (lembra colar de pérolas). Diâmetro ≃ 1 μm. Formam colônias pequenas, hemolíticas e
translúcidas em ágar-sangue. Imóveis. Algumas espécies produzem cápsula. Não formam esporos.
Também, há formas de parede celular deficiente (em “L”).
Obs.: Streptococcus γ não são hemolíticos (maioria não patogênica). Nas culturas novas, os Streptococcus apresentam
coloração gram-positiva. Nos exsudatos e em culturas mais velhas (> 18 h), com frequência, apresentam coloração
gram-negativa, possivelmente por causa dos efeitos do enfraquecimento das autolisinas da parede celular.

Cultivo
Bactérias fastidiosas (razoavelmente exigentes), requerem meios de cultivo enriquecidos
com soro ou sangue. Anaeróbia facultativa (podem ser microaerófilas). Catalase-negativa. Após
incubação por uma noite em temperatura de 37°C, os Streptococcus produzem colônias claras,
diâmetro inferior a 1 mm. As variações encapsuladas (ex.: S. equi ssp. equi) produzem colônias
mucóides maiores. Espécies patogênicas crescem melhor: 37°C, alto teor de CO2 (jarra de
anaerobiose ou incubadora de CO2).
Obrigatoriamente fermentativas (podem se multiplicar na presença de oxigênio, mas não o
utilizam; energia exclusiva da fermentação).

Resistência e habitat
Suscetíveis à dessecação (“secura”). Inúmeras infecções estreptocócicas são oportunistas. A
maioria dos Streptococcus de interesse veterinário vive de modo comensal nos tratos respiratório
superior, alimentar e genital inferior. A maioria dos Streptococcus comensais de animais é alfa-
hemolítica, os patogênicos tendem a ser beta-hemolíticos. Espécies de Enterococcus são
Streptococcus entéricos presentes no intestino de humanos e animais.
Streptococcus beta-hemolíticos podem sobreviver em secreção purulenta seca durante
semanas. São mortos quando expostos a temperatura de 55°C a 60°C, por 30 min, e inibidos quando
expostos à solução de cloreto de sódio 6,5%, solução de bile 40% (exceto S. agalactiae), solução de
azul de metileno 0,1%, temperatura baixa (10°C) e elevada (45°C). As bactérias do gênero
Enterococcus toleram tais condições.
Em geral, os Streptococcus patogênicos são suscetíveis a penicilinas, cefalosporinas,
macrolídios, cloranfenicol e trimetoprima-sulfonamida; com frequência, são resistentes a
aminoglicosídeos, fluoroquinolonas e tetraciclinas. Sensíveis à luz solar e desinfetantes.
Estrutura antigênica e toxinas
Estreptolisinas O e S → hemolisinas lábeis (instáveis) ao oxigênio (O) e hemolisinas
estáveis ao oxigênio (S) são citolisinas que provocam lise de neutrófilos, macrófagos e plaquetas.
Estreptolisina S é responsável pela grande área de beta-hemólise verificada em placas de ágar-
sangue de ovinos. O espectro citolítico da estreptolisina S é amplo, inclui membranas de eritrócitos,
leucócitos, plaquetas, células de cultura tecidual e organelas (lisossomos e mitocôndrias). As
hemolisinas lábeis ao oxigênio e ativadas pelo tiol, estreptolisina O e suilisina O de S. suis, ligam-se
ao colesterol nas membranas e formam um complexo proteico hidrofóbico integrado na membrana,
com um canal hidrofílico formando o centro.
Estreptoquinase → é codificada em um prófago e ativa a transformação de plasminogênio
em plasmina (protease, atua nas fibrinas e, assim, degrada coágulos).
Superantígenos da toxina pirogênica estreptocócica (SPE) → produzidos por S. pyogenes
(Streptococcus do grupo A) são os mais estudados. (+ informações em imunidade).
Patogenia
Streptococcus provocam infecções piogênicas principalmente na pele, no trato respiratório,
no trato reprodutor, no coto umbilical e na glândula mamária. Septicemia pode ser decorrência da
propagação hematógena desde o local de infecção primário. Clinicamente, em geral as doenças
causadas são caracterizadas, em algum estágio, por sintomas de febre (sozinhos ou associados a
sinais de septicemia). No local da infecção → secreção purulenta, que pode estar drenando pela
lesão (quando há impedimento a essa drenagem se formam abscessos). Toxemia e lesões
imunomediadas são sequelas comuns da doença.
O mecanismo patológico básico se assemelha àquele da infecção estafilocócica; ou seja, a
lesão típica é um abscesso, um foco inflamatório no qual as células foram destruídas pelas ações
combinadas das atividades das células inflamatórias e bacterianas. Essa confrontação entre os
leucócitos e os microrganismos origina secreção purulenta, que é uma mistura de fragmentos de
células hospedeiras e bactérias vivas e mortas. No abscesso, o pus é circundado por leucócitos
íntegros e filamentos de fibrinas. A menos que o pus seja drenado, forma-se gradativamente uma
cápsula de tecido fibroso.
Streptococcus são transmitidos por meio de inalação e ingestão, por via sexual e de modo
congênito, ou indiretamente pelas mãos e fômites contaminados.
Fatores de virulência: enzimas e exotoxinas, como estreptolisinas (hemolisinas),
hialuronidase, DNase, estreptoquinase e proteases. A proteína M (uma adesina) é um importante
fator de virulência de S. pyogenes e S. equi ssp. equi. → liga-se ao fibrinogênio, confere
propriedades antifagocíticas, exacerba a fixação das bactérias nas células epiteliais da mucosa
nasal e pode estar associada à ocorrência de doença imune pós-infecção em equinos (púrpura
hemorrágica). A proteína FbsA é a proteína ligadora de fibrinogênio de S. agalactiae. PsaA
(pneumococcal surface adhesin) é uma lipoproteína presente em S. pneumoniae, S. equi ssp. equi e
S. equi ssp. zooepidemicus, responsável pela fixação das bactérias às células de revestimento das
vias respiratórias superiores e inferiores.
As infecções podem ser primárias, como ocorre na adenite equina (garrotilho), ou
secundárias, como observado em casos de pneumonia estreptocócica após uma infecção viral.
Linfonodos, trato genital e glândulas mamárias podem tornar-se infectados. A adenite equina, a
meningite em suínos e a mastite em bovinos são infecções estreptocócicas de grande relevância. As
vacinas para controle de infecções por estreptococos são, geralmente, inefetivas.
Adenite equina por S. equi ssp. equi é rinofaringite, altamente contagiosa. Doença febril que
afeta o trato respiratório superior, resulta em abscessos de linfonodos regionais. Surtos da doença
ocorrem, principalmente, em equinos jovens (menos de 1 ano). Aglomeração de equinos (eventos
equestres) aumentam o risco de transmissão da doença para equinos suscetíveis. S. equi subsp. equi
não é comensal → animais afetados = principal fonte de infecção. Animais infectados podem
eliminar a bactéria por ao menos quatro semanas após o desenvolvimento de doença clínica. A
transmissão ocorre por meio de exsudatos purulentos a partir do trato respiratório superior ou
de abscessos rompidos. Febre, apatia e anorexia, seguidas de descarga oculonasal (purulenta).
Normalmente, os linfonodos submandibulares são afetados e, eventualmente, rompem, liberando
um conteúdo purulento altamente infectivo. O empiema da bolsa gutural é um achado comum. Após
surtos da doença, as instalações e fômites utilizados devem ser lavados e desinfetados. Vacinas
vivas atenuadas, as quais reduzem a severidade dos sinais clínicos sem prevenir a infecção, estão
disponíveis comercialmente.
Explicação bonita: após a deposição nas membranas mucosas do trato respiratório superior, o S. equi ssp. equi se fixa às
células epiteliais pela ação de adesinas (proteína M, proteína ligadora de fibronectina, proteína ligadora de fibrinogênio,
Psa) e da cápsula de ácido hialurônico. A fixação estimula a internalização e subsequente localização nos espaços
subepiteliais. Os constituintes da parede celular e a exotoxina pirogênica (SPEH e SPEI) iniciam uma resposta
inflamatória aguda. Cápsula e proteína M protegem S. equi de opsonização e fagocitose. A estreptolisina pode destruir
as células hospedeiras por ocasionar dano às membranas. Os sinais clínicos sistêmicos podem ser decorrentes dos
efeitos do superantígeno de exotoxinas pirogênicas (SPEH e SPEI). Outras enzimas e toxinas podem contribuir no
processo de digestão de DNA (DNases), fibrina (estreptoquinase) e ácido hialurônico (hialuronidase). A doença é
caracterizada por secreção nasal serosa ou purulenta, aumento difásico da temperatura, dor local, tosse e anorexia. Nos
linfonodos regionais, desenvolvem-se abscessos que, em geral, rompem-se e drenam a secreção dentro de 2 semanas.
Em seguida, ocorre recuperação. A taxa de mortalidade total se situa abaixo de 2%. Entre as complicações, incluem-se
“garrotilho bastardo” (maligno), que resulta de metástase de S. equi ssp. equi para os linfonodos bronquiais, mediastinos
ou mesentéricos, os quais podem drenar seu conteúdo internamente. Pode ocorrer disseminação piêmica para meninges,
pulmões, pericárdio e vísceras abdominais ou se estender às bolsas guturais. Púrpura hemorrágica – um quadro de
hipersensibilidade do tipo III manifestada como tumefações subcutâneas (aumento de volume), hemorragia de mucosa e
febre – pode acompanhar uma doença aguda durante cerca de 3 semanas; está relacionada com taxa de mortalidade
(50%) relevante.
S. suis → meningite, artrite, septicemia e broncopneumonia em suínos de todas as
idades. Também, endocardite, morte neonatal e aborto. Suínos assintomáticos são portadores de
S. suis em suas tonsilas. Surtos da doença são mais comuns em suínos criados de forma intensiva e
submetidos à superlotação. Matrizes portadoras de S. suis podem transmitir o agente para sua
leitegada. Meningite em suínos → fatal; febre, tremores, incoordenação, opistótono (espasmo da
coluna vertebral) e convulsões. S. suis tende a se tornar endêmica, erradicação inviável.
Mastite por Streptococcus → S. agalactiae, S. dysgalactiae e S. uberis são os principais. S.
agalactiae é um patógeno obrigatório da glândula mamária, onde se multiplica e invade os
ductos lactíferos (multiplicação → influxo de neutrófilos na glândula mamária = reação
inflamatória → bloqueia ductos lactíferos → atrofia tecidos secretórios). S. dysgalactiae pode ser
encontrado na cavidade bucal, sistema genital e na pele da glândula mamária, causa mastite aguda.
S. uberis é comensal da pele, tonsilas e mucosa vaginal, importante causador de mastite clínica,
especialmente em vacas estabuladas. A contaminação do teto devido a falhas na higiene ambiental é
o principal fator predisponente no desenvolvimento de mastite causada por S. dysgalactiae e S.
uberis.
Equinos (+) → pneumonia/piotórax bacteriano quase sempre está associada a
Streptococcus beta-hemolíticos (S. equi ssp. zooepidemicus é mais comumente isolado). O processo
infeccioso é endógeno. Os microrganismos envolvidos são parte da flora normal do trato
respiratório superior, que, então, contaminam um pulmão comprometido (ex.: após pneumonia
viral). S. equi ssp. zooepidemicus também causa doença do trato genital, comumente cervicite e
metrite. Infecções em potros recém-nascidos, que frequentemente apresentam infecções umbilicais
(doença do umbigo, piossepticemia, doença articular e poliartrite), propagam-se, pela corrente
sanguínea, até as articulações e o córtex renal. Os microrganismos surgem do trato genital da mãe
(parte de sua flora normal). Streptococcus beta-hemolíticos: osteomielite, artrite, abscessos e feridas
(todas são doenças endógenas causadas por uma cepa infectante oriunda da flora normal).
Suínos (+) → linfadenite cervical de suínos (abscesso mandibular) é uma doença
contagiosa. Essa condição está associada a S. porcinus, sua característica mais prejudicial é a
condenação da carcaça. Às vezes, a ocorrência de pneumonia secundária em suínos está associada à
infecção por S. dysgalactiae ssp. equisimilis. S. suis, S. dysgalactiae ssp. equisimilis e estreptococos
pertencentes aos grupos L e U causam septicemia neonatal, broncopneumonia supurativa, artrite,
meningite, polisserosite, endocardite, problemas reprodutivos e abscessos; há relato da “síndrome
do suíno fraco” em grupos de suínos infectados; em geral, os animais apresentam sinais clínicos e
lesões macroscópicas relacionadas com o sistema respiratório ou o SNC, mas não em ambos. S. suis
capsular do tipo II tem potencial zoonótico. Causa infecções graves em humanos (causam surdez e
ataxia); o contato com o suíno infectado pode ser um fator predisponente à infecção.
Ruminantes (+) → O agente causador de mastite estreptocócica é S. agalactiae. Causas
menos frequentes são S. dysgalactiae ssp. dysgalactiae e S. uberis. Eles provocam mastite subaguda
crônica com exacerbações agudas periódicas. S. agalactiae (estreptococos do grupo B) é uma
importante causa de sepse e meningite em neonatos humanos e gestantes. No entanto, as cepas que
causam doença em bovinos não provocam doença em humanos.
Cães e gatos → pneumonia secundária em cães pode estar associada a S. canis. Essa
espécie bacteriana também pode causar septicemia em filhotes de cães recém-nascidos; síndrome do
choque tóxico estreptocócico (= STSS, falência múltipla dos órgãos) e fasciite necrosante (= NF,
celulite de rápido desenvolvimento em tecidos moles e fáscia, geralmente em um membro) em cães.
Os gatos tendem a ser mais resistentes às infecções estreptocócicas e quando tais infecções ocorrem
são mais comuns em filhotes de gatos ou em gatos com imunossupressão (infecções semelhantes às
em cães).
Diagnóstico
Procedimentos para diferenciar os Streptococcus: tipo de hemólise [beta-hemólise (completa
= halo claro) e alfa-hemólise (parcial = halo esverdeado ao redor da colônia)], grupo de Lancefield
e testes bioquímicos.
Critérios de identificação de isolados de Streptococcus incluem a presença de colônias
pequenas translúcidas (algumas podem ser mucoides). Cadeias de cocos gram-positivos, catalase-
negativa e o tipo de hemólise produzida em ágar-sangue podem indicar a presença de estreptococos.
A identificação definitiva requer testes para determinação do perfil bioquímico dos isolados, bem
como dos grupos de Lancefield.
A diferenciação de Streptococcus causadores de mastite é baseada no tipo de hemólise
produzido em ágar-sangue, hidrólise da esculina em meio Edwards, identificação do grupo de
Lancefield ao qual pertencem e por meio de testes bioquímicos. S. dysgalactiae e S. uberis
produzem alfa-hemólise. S. agalactiae produz beta-hemólise. A esculina é hidrolisada por S. uberis.
COLETA de AMOSTRA: aspirados de lesões fechadas, em seringas estéreis ou frascos
estéreis são as amostras preferidas. O envio de suabe em meio de transporte é aceitável. A amostra
de leite é coletada em frascos, em condições estéreis.
EXAME DIRETO (Geder fez prática): esfregaços de exsudato ou de sedimento de fluido
suspeito são fixados e corados pela técnica de Gram. Streptococcus = cocos gram-positivos, em
pares, em cadeias curtas e, em alguns casos, em cadeias muito longas (verificadas geralmente em
aspirado de pus obtido de linfonodos cervicais de equinos infectados por S. equi).
CULTURA: amostras de exsudato, leite, tecido, urina, aspirado transtraqueal e fluido
cerebroespinal são cultivadas diretamente em ágar-sangue de bovino ou ovino. Prefere-se incubação
em temperatura de 37°C em ambiente com 3 a 5% de CO2. As colônias se apresentam lisas ou
mucoides dentro de 18 a 48 h.
Teste Camp: reflete o sinergismo hemolítico entre a toxina β dos estafilococos e uma toxina
de S. agalactiae (proteína CAMP ou cocitolisina). Inocula-se a β-toxina estafilocócica, em cruz, em
uma placa de ágar-sangue de ovino ou bovino. Nos ângulos retos dessas linhas e, aproximadamente,
a 0,5 cm dela, faz-se a semeadura de S. agalactiae suspeito. Após incubação, a hemólise causada
pela bactéria CAMP-positiva é exacerbada na zona da β-toxina. A ação combinada dessas duas
toxinas em ágar-sangue ovino ou bovino origina zonas maiores e mais claras de hemólise que
quando se cultivam essas bactérias isoladamente.
Prova esculina: teste de ágar bile-esculina. avalia a capacidade da bactéria que tolera 40% de
sais biliares em hidrolisar a esculina, uma característica dos estreptococos que pertencem ao grupo
de Lancefield.
Prova optoquina: o crescimento de S. pneumoniae, mas não de outros estreptococos alfa-
hemolíticos, é inibido ao redor do disco impregnado com optoquina.

Imunidade
A cápsula polissacarídica de algumas espécies de S. equi possui atividade antifagocítica e as
proteínas M (de superfície) interferem na ativação do complemento.
Adesinas → proteínas de superfície que se ligam a diversas proteínas da matriz
extracelular do hospedeiro (fibronectina, fibrinogênio, colágeno, vitronectina, laminina,
decorina e proteoglicanos contendo sulfato de heparina). A proteína M ligadora de
fibrinogênio, propicia uma propriedade antifagocítica à bactéria. Acredita-se que o
revestimento de células estreptocócicas com proteínas do hospedeiro resulte em mascaramento
dos locais de ativação do sistema complemento (e, assim, diminua a opsonização).
Algumas espécies de Streptococcus produzem cápsula. As cápsulas dos grupos A e C são
constituídas de ácido hialurônico (também um constituinte do tecido conectivo de mamíferos), é
fracamente antigênico e não se liga facilmente aos componentes do sistema complemento (portanto,
é antifagocítico).
A parede celular gram-positiva contém proteínas e polissacarídeos de interesse médico. Os
ácidos lipoteicoicos e o peptidoglicano da parede da célula gram-positiva interagem com os
macrófagos, resultando na liberação de citocinas pró-inflamatórias.
As principais defesas contra as infecções estreptocócicas são as atividades fagocíticas; a
proteína M antifagocítica induz a produção de anticorpos protetores. Os animais que se recuperam
de garrotilho ou de linfadenite cervical ficam, pelo menos temporariamente, imunes à nova
infecção. Cápsulas de polissacarídeos de S. agalactiae e S. pneumoniae induzem a produção de
anticorpos opsonizantes. Na pneumonia estreptocócica, o surgimento desses anticorpos indica a
recuperação da infecção. Na mastite bovina, não se desenvolve imunidade protetora; as vacas, ao
menos que tratadas, permanecem infectadas.
Há disponibilidade de uma vacina com uma bactéria de célula total e com uma proteína M,
para vacinação contra garrotilho. Não é uniformemente efetiva e, com frequência, provoca reação
no local da injeção. Há disponibilidade de vacina viva avirulenta de aplicação intranasal que
estimula a produção local de anticorpos. O fornecimento de bactérias vivas avirulentas junto com o
alimento induz imunidade contra linfadenite cervical (abscesso de mandíbula) de suínos.
Existem toxinas que atuam como superantígenos: ligam-se simultaneamente a
importantes moléculas do complexo de MHC classe II e a moléculas de receptor dos linfócitos
T, originando uma região V-β particular → ativa muitas células apresentadoras de antígeno e
linfócitos T → libera altas concentrações de citocinas (sistêmico) → parte dos sintomas sistêmicos
observados nas infecções estreptocócicas.

Gênero Brucella - https://www.youtube.com/watch?v=6A_nUutwyqg&ab_channel=Prof.DaniloStipp

Morfologia e coloração
Pequenos cocobacilos gram-negativos únicos, em pares ou em pequenos grupos. As brucelas
não são móveis e não apresentam cápsula, tampouco formam esporos.
Brucelas lisas expressam LPS com cadeia lateral O (B. abortus, B. suis, B. melitensis).
Arredondadas, brilhantes, de coloração azul-esverdeada e não absorvem o corante cristal-violeta.
Brucelas rugosas têm LPS incompleto (B. ovis e B. canis). Aparência granular seca, cor amarelo-
esbranquiçada e se coram com cristal-violeta.

Cultivo
Aeróbias e capnófilas (↑ [CO2]). Catalase-positivas. Urease-positivas. Estáveis no
ambiente. Meios enriquecidos com sangue ou soro para o cultivo de B. abortus e B. ovis. Para
isolamento, são utilizados meios nutritivos como o ágar Columbia, suplementado com 5% de soro e
antimicrobianos apropriados. Muitas brucelas são capnófilas → incubar a 37°C sob 5 a 10% de
CO2 por até 5 dias.
Tiamina, nicotinamida e biotina também são necessárias para a multiplicação das bactérias.
A adição de 5 a 10% de soro ao meio de cultura pode estimular o crescimento bacteriano, mas sais
biliares, telurito e selenito inibem o crescimento. O crescimento em meio líquido frequentemente é
lento, a menos que se propicie vigorosa aeração. Em geral, as colônias se tornam visíveis em meios
sólidos após 3 a 5 dias, mas as amostras devem ser incubadas durante, pelo menos, 7 a 10 dias antes
de serem consideradas negativas.
Resistência e habitat
Embora cada espécie de Brucella possua seu próprio hospedeiro natural, B. abortus, B.
melitensis e biovares de B. suis podem infectar espécies de animais diferentes de seus hospedeiros
naturais. Sobrevivem quase que exclusivamente nos hospedeiros infectados, de preferência
instaladas nos compartimentos intracelulares das células fagocíticas, reticuloendoteliais e células
epiteliais especializadas. A maioria das espécies de Brucella é representada por patógenos
obrigatórios, pois não são comensais nem são encontrados em vida livre no ambiente. Em geral,
como se considera que o contato direto ou estreito seja necessário para a transmissão da bactéria, a
manutenção de brucelose em uma população animal ou humana com frequência requer infecção
contínua dos hospedeiros suscetíveis.
Animais infectados são reservatórios da infecção. Em animais sexualmente maduros,
tropismo por órgãos reprodutivos masculinos e femininos. MOs eliminados podem ficar viáveis em
ambiente úmido por muitos meses. Rota primária de transmissão = ingestão da bactéria por material
contaminado (fetos abortados e secreções após aborto ou parto).
Embora as bactérias do gênero Brucella possam sobreviver ao congelamento e ao
descongelamento, os ciclos de congelamento/descongelamento reduzem a viabilidade. A
sobrevivência prolongada em condições ambientais é maior em condições úmidas e frias, com
mínima exposição à luz ultravioleta. Brucella é suscetível à maioria dos desinfetantes indicados
para bactérias gram-negativas. Com frequência, em condições laboratoriais, utiliza-se a lise por
bacteriófagos para definir o tipo de Brucella. A pasteurização do leite é efetiva para matar Brucella.
A ausência de plasmídeos e fagos pode restringir a oportunidade de transferência
genética horizontal → resistência antimicrobiana ainda não tem emergido como um problema
no gênero Brucella.

Estrutura antigênica e toxinas


Uma proteína em todas as espécies tradicionais de Brucella pode atuar como uma lectina,
por se ligar à IgG de várias espécies animais; ademais, é capaz de causar hemaglutinação. Bactérias
do gênero Brucella e o LPS também são ativadores muito fracos do complemento.
Patogenia
Brucelose é zoonose de distribuição mundial. Principais manifestações no animal = abortos,
nascimentos prematuros, esterilidade e baixa produção de leite. No homem = incapacidade parcial
ou total para o trabalho. A brucelose humana é mais frequentemente uma doença de trabalhadores
rurais, veterinários e funcionários de laboratórios ou de abatedouros, mas também pode ser
ocasionada pelo consumo de produtos lácteos não pasteurizados. Contato direto com animais
infectados ou materiais associados a aborto pode provocar infecção em humanos, por meio da
penetração de partículas de aerossóis contaminadas nos tecidos do sistema respiratório, da ingestão
de bactérias ou da penetração oportunista em lesões de pele. Os veterinários também podem
desenvolver brucelose pela infecção por cepas vacinais de B. abortus ou de B. melitensis; a
perfuração acidental com agulha é causa frequente de infecção.
No caso de B. abortus e B. melitensis, a transmissão é principalmente horizontal, por meio
de fluidos ou tecidos associados a parição ou aborto de fetos infectados, ou há a transmissão vertical
à cria por meio da ingestão do leite. Não se considera importante a transmissão venérea.
A transmissão venérea é uma importante via de transmissão de B. suis, B. ovis e B. canis,
nos hospedeiros preferidos. B. suis e B. canis também podem ser excretadas na urina, no leite ou em
superfícies mucosas; B. canis também tem sido recuperada nas fezes. As fêmeas caninas podem
eliminar B. canis por 4 a 6 semanas após o aborto, e a secreção vaginal pode conter elevado número
de bactérias. Em geral, os animais infectados por B. suis e por B. canis transmitem Brucella,
efetivamente, por período mais longo que os animais infectados por B. abortus e por B. melitensis
por meio da excreção de bactérias em superfícies mucosas ou na urina.
Brucelas virulentas → fagocitadas em membranas mucosas → linfonodos regionais.
Brucelas se multiplicam no interior de macrófagos e em células trofoblásticas de placentas de
animais prenhes.
Em geral, Brucella atravessa as membranas mucosas e, inicialmente, instala-se nos tecidos linfáticos que
drenam o local de entrada. Se a bactéria não se instala no local e não é morta nos linfonodos regionais que drenam o
local de infecção, os microrganismos podem se replicar e se propagar para outros tecidos linforreticulares e aos órgãos,
por meio da linfa e do sangue. A distribuição aos tecidos reprodutores e mamários ocorre durante a fase de bacteremia.
Uma vez instalados em um ambiente imunologicamente privilegiado do útero prenhe ou do lúmen de ductos da
glândula mamária, os mecanismos imunes para eliminação de Brucella são severamente reduzidos.
Inicialmente, as bactérias do gênero Brucella internalizadas se instalam no interior dos fagócitos, no
fagossomo. A exposição a um ambiente acidificado induz a produção de um sistema de secreção que interfere na
maturação do fagossomo e interage com o retículo endoplasmático para neutralizar o pH do fagossomo. O fagossomo
modificado (“brucelossomo”) resiste à maturação do fagossomo e a sua fusão com lisossomos. Embora a maioria das
brucelas (aproximadamente 70 a 85%) seja destruída pela fusão do fagolisossomo, a formação de brucelossomos
possibilita a sobrevivência intracelular de algumas bactérias. A capacidade de Brucella em permanecer por longo tempo
no interior de macrófagos serve como base para sua capacidade de instalação e persistência de uma infecção crônica.
Durante a infecção persistente, algumas bactérias do gênero Brucella permanecem em estado latente, sem
replicação, nas células fagocíticas. Com frequência, bezerros infectados por B. abortus em idade jovem não apresentam
soroconversão antes de chegarem à puberdade.

Bacteremia intermitente resulta na disseminação e localização de brucelas em órgãos


reprodutivos e glândulas associadas em animais sexualmente maduros. Eritritol = fator de
crescimento para brucelas, presente na placenta de bovinos, ovinos, caprinos e suínos; glândula
mamária e epidídimo (todos alvos para brucelas). A instalação da bactéria no sistema genital ou na
glândula mamária está associada à doença mais grave e maior capacidade de transmissão da
infecção.
Brucelose bovina → B. abortus. Adquirida por ingestão, ocasionalmente por contato
venéreo, por meio da penetração por abrasões da pele, inalação ou transmissão transplacentária.
Aborto após o quinto mês de gestação (as próximas gestações tendem a chegar a termo; o
aborto é uma consequência da placentite envolvendo cotilédones e tecido intercotiledonário).
Uma grande quantidade de brucelas é excretada nos fluidos fetais durante duas a quatro semanas
após aborto e em partos subsequentes, embora bezerros infectados se apresentem normais.
Bezerros → infecção com duração limitada. Vacas → a infecção das glândulas mamárias e dos
linfonodos associados persiste por muitos anos. Brucelas podem ser excretadas por muitos anos
de forma intermitente no leite. Em machos reprodutores, as estruturas alvo de brucelas incluem
as vesículas seminais, ampola, testículos e epidídimos.
Brucelose caprina e ovina → B. melitensis. Caprinos mais suscetíveis que ovinos. Altas taxas
de aborto em rebanhos suscetíveis, orquite, artrite e higromas. A infecção que resulta em aborto
pode não induzir imunidade protetiva. O teste de aglutinação com o antígeno rosa Bengala e o teste
de fixação do complemento (TFC) são os principais métodos utilizados para detecção da infecção
por B. melitensis.
Brucelose suína → B. suis. Infecção por ingestão ou pelo coito e pode ser autolimitante.
Fêmeas → aborto, natimortos, mortalidade neonatal e esterilidade temporária. Cachaços que
excretam brucelas no sêmen podem ser clinicamente normais ou apresentar anormalidades
testiculares. A esterilidade pode ser temporária ou permanente. Lesões podem ser encontradas
em ossos e articulações. O teste de aglutinação em placa com o antígeno rosa Bengala e o teste
ELISA indireto são os métodos sorológicos mais confiáveis para diagnóstico da brucelose suína.
Brucelose canina → B. canis, é rugosa → baixa virulência, infecções moderadas ou
assintomáticas. Abortos, diminuição da fertilidade, redução no tamanho das ninhadas e
mortalidade neonatal. A maioria das cadelas que abortam têm gestações subsequentes normais.
Em cães machos, infertilidade associada à orquite e à epididimite. A infertilidade pode ser
permanente e cães com infecções crônicas são comumente aspérmicos. Animais utilizados para
fins de criação não devem ser tratados → cura completa é difícil de ser atingida. Testes
confirmatórios incluem um teste de aglutinação em tubo, ELISA e um teste de imunodifusão
em ágar-gel. No entanto, os testes sorológicos disponíveis são insuficientes quanto à
sensibilidade e especificidade, sendo que o diagnóstico confirmatório deve ser realizado
mediante cultivo bacteriológico positivo a partir de amostra de sangue.
Brucelose ovina → B. ovis, é rugosa. Epididimite em carneiros e placentite em ovelhas. As
consequências da infecção incluem fertilidade reduzida em carneiros, aborto esporádico em ovelhas
e mortalidade perinatal aumentada. B. ovis pode estar presente no sêmen cerca de três semanas após
a infecção. Os testes sorológicos mais eficientes e amplamente usados para B. ovis incluem o teste
de imunodifusão em gel de ágar, o teste da fixação do complemento e o teste de ELISA indireto.
Testes baseados em PCR para detecção de B. ovis em diversas amostras clínicas como sêmen,
lavados prepuciais e urina, têm sido descritos.
Brucelose equina → B. abortus. Acredita-se que a transmissão para equinos ocorra pela
ingestão de água e alimentos contaminados pelo microrganismo proveniente de descargas vaginais,
restos de abortos e placentas de fêmeas infectadas. O microrganismo tem predileção por bursas,
tendões, ligamentos, sinóvia e articulações, acarretando em severas inflamações nesses locais, e por
esse motivo é chamada popularmente por “Mal da Cernelha”. Quando ocorre infecção por B.
abortus e B.suis concomitantemente, é provocado inflamação na região escapular, atlantal ou
nucal. Material para diagnóstico = soro sanguíneo para o Teste do Antígeno Acidificado
Tamponado (AAT) → se positivo, Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) como confirmatório.
Brucelose em humanos → suscetíveis à infecção por B. abortus, B. suis, B. melitensis e,
raramente, B. canis. A transmissão por contato com secreções ou excreções de animais infectados.
Rotas de entrada = lesões de pele, inalação e ingestão. Leite in natura e produtos preparados a partir
de leite não pasteurizado = fontes de infecção. A brucelose em humanos, conhecida como febre
ondulante, apresenta-se como febre flutuante, mal-estar, fadiga, dores musculares e articulares. O
aborto não é uma caracterísitica de brucelose em humanos. A osteomielite é a complicação mais
comum. Gravidade: B. melitensis > B. suis > B. abortus > B canis.

Com exceção da brucelose canina, infecções em animais não são tratadas com
antimicrobianos. O controle está baseado em testes sorológicos para identificação de animais
infectados, abates sanitários dos positivos e vacinação. A terapia antimicrobiana é utilizada em
humanos.
Diagnóstico
O diagnóstico da brucelose depende de testes sorológicos e da detecção de espécies de
Brucella em amostras clínicas (cultivo bacteriológico, métodos moleculares) → manusear em
cabines de segurança biológica. Em amostras contendo células, as brucelas apresentam-se em
agregados.
As amostras microbiológicas ideais para o diagnóstico de brucelose incluem leite ou suabes
vaginais de animais vivos; conteúdo pulmonar e/ou gástrico de feto abortado; ou tecidos, como
útero, glândula mamária, tecidos do sistema genital de machos, tecidos linfáticos associados à
glândula mamária ou ao sistema genital obtidos durante a necropsia; ou fluido de bursite/higroma.
Embora o sangue coletado em tubo com anticoagulante possa ser útil para o isolamento de B. canis
e B. suis, geralmente não é uma boa amostra para a avaliação bacteriológica de outras bactérias do
gênero Brucella, dado o fato de que a bacteremia associada à infecção é com frequência de duração
muito curta.

Sorológico (médico veterinário habilitado e laboratório credenciado). Antígenos aprovados


pelo MAPA (transportados e conservados na temperatura entre 2 a 8 °C, protegidos da luz solar
direta). Identificação individual dos animais (brinco, tatuagem, registro genealógico).
Teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT):
materiais = antígeno + soros (amostra e controles - positivo e negativo) + pipetas de Bang +
micropipetador (30 μL) + ponteiras + placas com quadrados de 4 cm delimitados + misturadores de
plástico/metal + caixa com luz indireta (leitura) + agitador de placas (opcional).
precauções = antígeno entre 2 a 8 °C (armazenado) ou 22 °C ± 4 °C (em uso); constante
resfriamento/aquecimento resulta na perda de sensibilidade (dica → para poucos testes, dividir
antígeno em alíquotas; retirar da geladeira apenas o necessário). Misturadores devem estar
previamente limpos. Soros hemolisados devem ser desprezados (falso-positivos). Testar controles.
técnica = soros e antígeno em temperatura ambiente por 30 min. (equilibrar). Homogeneizar soros.
Identificar a localização de cada soro. Com auxílio de pipetador, dispensar 30 μL de soro por área
da placa (encostar a ponta da pipeta em ângulo de 45° com a placa). Agitar suavemente antígeno e
colocar uma gota (30 μL) ao lado do soro (ainda não mistura). Misturar com movimentos
circulares (círculo com 2 cm). Movimentar placa (oscilar, 30 movimentos por minuto → mistura
soro-antígeno lenta, por 4 min.). Colocar placa na caixa de leitura e anotar os resultados
(grumos = reagente; desconsiderar aglutinações que ocorrem após 4 min.).

Teste do Anel em Leite (TAL):


materiais = antígeno + amostra de leite + tubos de ensaio (10 mm x 75 mm ou 10 mm x 100 mm) +
grade para tubos + pipetas (1 ml) + micropipetador (30 μL) + estufa/banho maria (37 °C).
precauções = amostras colhidas de mistura de leite em latão (máx. 3 latões por amostra) ou em
tanque (máx. 1 tanque por amostra). Homogeneizar leite antes de colher amostra. Usar formol 1%
ou cloreto de mercúrio 2% para conservar a amostra (1 ml de conservante para cada 10 ml de leite).
Refrigerar leite e enviar ao laboratório (2 a 8 °C por até 2 semanas, manter estabilidade do leite).
Amostras de leite devem ser mantidas entre 2 e 8 °C por no mín. 24 h antes do teste. Não agitar
excessivamente (quebra gordura e interfere na formação do creme na superfície do leite). Mais de
45 °C reduz quantidade de Ac anti-Brucella na amostra (falso-negativos). Congelamento e
pasteurização do leite também levam a falso-negativos). Leite ácido, colhido recentemente,
contendo colostro, no período de secagem ou de vacas com mamite resulta em falso-positivos.
Quanto maior o rebanho, maior o volume da amostra (até 150 vacas em lactação - 1 ml de leite; 151
a 450 vacas - 2 ml; 451 a 700 vacas - 3 ml; mais de 700 vacas - dividir em lotes menores para o
teste). Testar amostras de leite controle (+ e -).
técnica = amostra de leite e antígeno em temperatura ambiente por 60 min. Homogeneizar amostras.
Para rebanho de até 150 vacas, colocar 1 ml de leite nos tubos (formar coluna de no mín. 2 cm).
Adicionar ao leite uma gota (30 μL) do antígeno. Tampar tubo e misturar por inversão várias vezes.
Deixar em repouso por 1 minuto e verificar homogeneidade (não deve ter antígeno nas paredes do
tubo). Incubar por 1 hora a 37 °C. Ler e anotar os resultados (anel de creme azul e coluna de leite
branca = reagente; anel de creme branco e coluna de leite azul = não reagente).

Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME):


materiais = antígeno + 2-Mercaptoetanol + salina 0,85% + fenicada 0,5% + amostra de soro + soros
controle (negativo, com título baixo, médio e alto) + tubos (10 mm x 75 mm ou 10 x 100 mm) +
grade para tubos + pipetas de Bang ou micropipetadores + dispensadores automáticos (1 e 2 ml) +
pipetas de 10 ml + caixa com luz indireta (leitura) + estufa (37 °C) + vidraria para diluição dos
reagentes.
precauções = diluição do antígeno para os tubos com 2-ME em solução salina 0,85% (sem edição
de fenol - interferiria) 12 horas antes do uso (conservar em 2 a 8 °C - até 1 semana). 2-ME é
sensível à luz e ao calor, deteriora-se na exposição ao ar (manter em frascos de cor âmbar,
hermeticamente fechados e sob refrigeração). 2-ME é tóxico (manusear em capela de exaustão).
Incluir um soro com alto conteúdo de IgM anti-Brucella, mas sem IgG detectável pelo teste 2-ME, e
outro soro reagente na soroaglutinação lenta e 2-ME. Incluir tubos de controle de antígeno (usar
soros testados positivos de título conhecido e soro negativo). Período de incubação = 48 ± 3 horas
(a 37 °C, máxima aglutinação). O teste 2-ME é incubado e lido junto ao teste de soroaglutinação
lenta em tubos (tubo da diluição 1:25 na prova 2-ME pode ficar opaco - não considerar negativo).
IgG indica infecção ativa (toda reação positiva no teste 2-ME a partir de 1:25). IgM predomina
nos animais vacinados e é sensível ao 2-ME (resultado negativo). Cuidado: animais no início da
infecção apresentam mais IgM → falso-negativos.
técnica = diluir 100 vezes o antígeno para soroaglutinação lenta em tubos em solução salina a
0,85% com 0,5% de fenol (concentração final = 0,045%). Diluir 50 vezes o antígeno para
soroaglutinação lenta em tubos em solução salina 0,85% sem adição de fenol (concentração final =
0,09%). Preparar solução de 2-ME a 0,1 M (misturar 7,8 ml de 2-ME em 992,2 ml de solução
salina 0,85% sem fenol - ou volumes menores, proporcionalmente). Para cada amostra de soro a
testar, 2 fileiras de 4 tubos (identificar o primeiro tubo de ambas as fileiras com o número do soro a
testar); a primeira fileira contém as 4 diluições do soro do teste de soroaglutinação lenta (marcar
letra T), na outra fileira se fará o teste 2-ME (marcar letra M). Com pipeta de Bang e dispositivo de
pipetagem (ex.: pêra) carregar amostra de soro até um pouco acima da graduação superior; limpar
extremidade com papel absorvente; escorrer soro até que o fundo do menisco no interior da pipeta
fique nivelado à graduação superior. Com a pipeta no fundo do primeiro tubo da primeira fileira,
escorrer 0,08 ml de soro; no segundo tubo, 0,04 ml; no terceiro, 0,02 ml; e no quarto, 0,01 ml (a
mesma quantidade de soro é depositada na segunda fileira de tubos); esse procedimento ocorre para
cada amostra de soro. Incluir os soros controle positivos com atividade aglutinante conhecida e o
soro controle negativo no teste do 2-ME. Com dispensador automático de 2 ml ou pipeta de 10 ml
adicionar, a cada tubo da fileira T, 2 ml do antígeno diluído 1:100 (0,045%) em salina fenicada
(0,5% fenol). Com dispensador ou pipeta adicionar, a cada tubo da fileira M, 1 ml de solução de 2-
Me 0,1 M (diluído em solução salina sem fenol). Agitar a estante para misturar bem e deixar em
repouso por 30 min. à temperatura ambiente. Após, adicionar a cada tubo da fileira M 1 ml do
antígeno diluído 1:50 (0,09%) em solução salina (sem fenol) - a concentração final do antígeno na
solução será 0,045% e a do 2-ME será 0,05 M. Agitar a estante para misturar bem e incubar a 37 °C
por 48 ± 3 horas. Para leitura, usar fonte de luz indireta contra fundo escuro opaco (com forte luz
que atravesse os tubos); interpretações consideram aglutinação do antígeno e firmeza dos grumos
após agitação suave dos tubos. Anotar resultados (reação completa = líquido da mistura soro-
antígeno translúcido e agitação suave não rompe grumos; reação incompleta = mistura soro-
antígeno parcialmente translúcida e suave agitação não rompe grumos; reação negativa = mistura
soro-antígeno opaca ou turva e agitação suave não revela grumos - interpretar segundo quadros).

Imunidade
Em geral, as respostas imunocelulares têm importante participação na proteção contra os patógenos
intracelulares, como Brucella. O desenvolvimento de imunidade adaptativa envolvendo a apresentação de epítopos
pelas células apresentadoras de antígenos, produção de citocinas do tipo Th-1 (interferona-γ, fator de necrose tumoral,
interleucinas 2, 12 e 18) e expansão clonal de linfócitos T CD4+ e CD8+ antígeno-específicos é a chave para o
desenvolvimento de imunidade protetora. Com frequência, considera-se que aqueles antígenos derivados da parte
externa da bactéria penetram na célula processadora de antígeno por meio de fagocitose, para sua destruição no
fagolisossomo, e são apresentados pelo complexo de histocompatibilidade principal (MHC) classe II ou por via
exógena. Por outro lado, os antígenos sintetizados no citoplasma da célula apresentadora de antígeno e transportados ao
retículo endoplasmático são apresentados pelo MHC classe I e processados por vias endógenas. A localização
intracelular ou a entrada do antígeno na célula é importante, pois as vias de processamento endógenas tendem a
estimular uma resposta de Th-1 associada a respostas imunes mediadas por células. No entanto, os antígenos
processados por vias endógenas tipicamente estão associados a uma resposta Th-2 não protetora. Isso pode explicar por
que as vacinas contra brucelose eficazes são compostas de bactérias vivas, enquanto as vacinas com bactérias mortas
geralmente falham na indução de uma proteção adequada. Com frequência, considera-se que os anticorpos têm mínima
participação na proteção a longo prazo contra brucelose, embora possam opsonizar as bactérias e facilitar sua
fagocitose, bem como ocasionar processamento/apresentação de epítopos de Brucella nas células apresentadoras de
antígeno. Linfócitos T citotóxicos podem ter importante participação na proteção in vivo mediante morte de células
infectadas e liberação de bactérias intracelulares nas células, para fagocitose e destruição por macrófagos ativados. A
proteção a longo prazo contra brucelose está associada à estimulação da imunidade celular, embora se considere que os
anticorpos tenham participação mínima na proteção. Embora atualmente não se conheça a relação específica da
imunidade protetora, acredita-se que a proteção seja mediada pelo subconjunto Th-1 de linfócitos CD4+ e esteja
associada à produção de IFN-γ e de outras citocinas relacionadas com a imunidade celular.

Antígeno O do LPS intacto (brucelas lisas) → bactéria capaz de impedir a fusão de


vacúolos contendo brucelas com os lisossomos (inibe fusão do fagolisossomo), principal
mecanismo de sobrevivência intracelular e determinante de virulência.
LPS de Brucella = lipídio A + núcleo de oligossacarídeos e de polissacarídeos O. O LPS
protege a bactéria da ação de peptídeos catiônicos, de metabólitos de oxigênio e da lise mediada por
complemento. O polissacarídeo O do LPS é altamente imunogênico e pode expressar os antígenos
A e/ou M, dependendo da espécie de Brucella. O envelope celular de Brucella, o LPS, as
lipoproteínas e as flagelinas exibem reduzido padrão molecular associado ao patógeno (PAMP) para
ser reconhecido pelo sistema imune inato, mais provavelmente dadas as partes hidrofóbicas da
membrana externa, incluindo lipídios ornitina. O PAMP de Brucella alterado falha na indução de
uma resposta imune inata potente, que contribui para a ação furtiva in vivo do patógeno.
A potente capacidade de B. abortus mortas pelo calor, de seu LPS e/ou lipoproteínas em induzir a produção de
betaquimiocinas e citocinas Th-1 e em estimular a expressão de moléculas estimulantes e de adesão nas células
apresentadoras de antígenos tem levado a se propor seu uso como adjuvante em vacinas contra HIV, para humanos.

Programas de erradicação nacionais são baseados na detecção e sacrifício de bovinos


infectados. Três tipos de vacinas atenuadas são utilizadas em bovinos: a vacina com a cepa 19 (S19,
vacina B19), a vacina com adjuvante 45/20 e a vacina RB51. A vacina B19 é administrada em
fêmeas jovens de 3 a 8 meses de idade (vacinação de animais adultos resulta na persistência de
títulos de anticorpos detectáveis em testes sorológicos). A cepa RB51 é uma mutante rugosa estável
que induz boa proteção contra aborto e não resulta em resposta sorológica detectável nos testes
utilizados pelos programas convencionais de vigilância para brucelose bovina.
Para cabritos e cordeiros → cepa B. melitensis Rev. 1, administrada por via subcutânea ou
conjuntival; até 6 meses de idade.

Unidade 3 - bacilos álcool-ácido-resistentes

Gênero Mycobacterium - https://www.youtube.com/watch?v=r1Ibd__GoaE&ab_channel=Prof.DaniloStipp


Morfologia e coloração

Bacilos. Embora citoquimicamente gram-positivos → elevado conteúdo lipídico e de


ácido micólico da parede celular previnem a entrada de corantes utilizados na técnica de
coloração de Gram → lipídeos da parede celular ligam-se à fucsina carbólica, não removida pelo
descorante álcool-ácido usado no método de coloração de Ziehl-Neelsen (ZN) → bacilos
vermelhos → álcool-ácido resistentes (BAAR) ou ZN-positivos. Aeróbias, imóveis. Esporos?
(dizem que não). Algumas produzem pigmentos carotenóides.

Cultivo
Cultivo de espécies patogênicas requer um complexo meio enriquecido, à base de ovo.
Espécies patogênicas crescem lentamente; colônias não são visíveis por ao menos três meses de
incubação. A multiplicação em ágar origina colônias de morfologia variável, porém geralmente são
secas e enrugadas.
As espécies de micobactérias patogênicas podem ser diferenciadas por seu aspecto colonial
em meios à base de ovo, pela influência do glicerol e piruvato de sódio nas taxas de crescimento e a
produção de pigmentos. A adição de glicerol aumenta a taxa de crescimento de M. tuberculosis e
micobactérias do complexo M. avium, enquanto a adição de piruvato de sódio acelera o crescimento
de M. bovis.

Resistência e habitat
São resistentes a condições ambientais adversas e desinfetantes químicos; são suscetíveis ao
tratamento por calor. Micobactérias ambientais encontradas no solo, vegetação e água; patógenos
obrigatórios podem sobreviver por meses no ambiente.
As micobactérias incluem espécies saprófitas ambientais e invasoras oportunistas até
patógenos obrigatórios. Patógenos obrigatórios, excretados por animais, podem sobreviver no
ambiente por períodos prolongados. As doenças micobacterianas em animais domésticos são
geralmente crônicas e progressivas.
Permanência em instalações, fezes, solos, pastagens até 2 anos. Água 1 ano. Carcaça 10
meses. Desinfetante = hipoclorito de sódio 5% (sem matéria orgânica). Calor: privilegiar
incidência solar; autoclavação 121 °C por 30 min.; pasteurização lenta ou rápida; fervura →
micobactéria é resistente a essas condições.
M. bovis é um microrganismo zoonótico que pode ser transmitido por meio de aerossóis, de
modo bidirecional, de animais para as pessoas e de pessoas aos animais, cuja causa mais frequente é
o leite não pasteurizado obtido de animais infectados (bovinos e outros ruminantes), os quais atuam
como a principal fonte de infecção. Vias de eliminação: gotículas e secreções respiratórias,
colostro/leite, sêmen, fezes, urina. Vias de transmissão: aerossóis, pastagens, água e alimentos
contaminados.
Estrutura antigênica e toxinas
As micobactérias apresentam várias macromoléculas antigênicas, inclusive proteínas,
lipídios, glucano e glicolipídios, as quais induzem imunidade humoral. No entanto, como as
micobactérias são patógenos intracelulares, a resposta humoral é ineficiente no controle da infecção
e surge no estágio intermediário ou final da doença. Desse modo, a resposta humoral apenas tem
importância diagnóstica para determinar se um hospedeiro está infectado, bem como para indicar a
progressão da doença.
Patogenia
As principais espécies patogênicas de Mycobacterium, as quais afetam animais domésticos,
exibem um considerável grau de especificidade ao hospedeiro. No entanto, elas podem produzir
doença esporádica em uma grande variedade de espécies animais. Doenças em animais domésticos
causadas por micobactérias incluem a tuberculose em aves e espécies de mamíferos,
paratuberculose em ruminantes e leprose em felinos. Outras condições clínicas, como a tuberculose
cutânea e a farcinose bovina e o granuloma leproide canino estão associadas à presença de bactérias
álcool-ácido resistentes em lesões. Animais sintomáticos: emagrecimento, hipertrofia ganglionar,
dispnéia, tosse seca.

Tuberculose em bovinos → M. bovis. Embora M. bovis possa sobreviver por vários meses
no meio ambiente, a transmissão ocorre principalmente por aerossóis oriundos de animais
infectados (bacilo também é eliminado na urina e fezes). Bovinos de leite em maior risco →
métodos de criação permitem contato direto entre animais durante a ordenha e quando
estabulados durante os meses de inverno. A mastite tuberculosa facilita a disseminação da
infecção para bezerros e gatos, sendo de grande importância na saúde pública. Reservatórios
silvestres de M. bovis são as principais fontes de infecção para bovinos criados a pasto, em alguns
países. Estão incluídos os veados, javalis e o texugo na Europa, marsupiais na Nova Zelândia e o
búfalo do Cabo e outros ruminantes na África. Essas espécies de animais silvestres podem agir
como hospedeiros reservatórios. A virulência de M. bovis relaciona-se à sua capacidade de
sobreviver e multiplicar-se no interior de macrófagos do hospedeiro. A sobrevivência no fagossomo
de macrófagos é promovida pela interferência na fusão deste ao lisossomo, resultando em falhas na
digestão lisossômica. Os sinais clínicos são evidentes apenas na doença avançada, e bovinos com
lesões extensas podem mostrar-se em bom estado de saúde. A perda de condição física torna-se
evidente à medida que a doença progride.

Cerca de 2 a 3 semanas após a inalação do agente infeccioso → resposta imune mediada por
células e reação de hipersensibilidade retardada. Nessa fase, o hospedeiro destrói seus próprios
tecidos por meio da necrose de caseificação para conter o crescimento intracelular das
micobactérias. Com a mediação dos linfócitos T, ocorre a migração de novas células de defesa,
culminando com a formação dos granulomas.
Paratuberculose → doença de Johne. Enterite crônica, contagiosa e fatal. Afeta
ruminantes domésticos e silvestres. Causada pela infecção com M. avium subsp. paratuberculosis.
Infecção adquirida precocemente por bezerros → ingestão dos bacilos eliminados nas fezes ou
no colostro/leite (alimentação por mistura de colostro de diversas vacas = fator de risco).
Micobactérias ingeridas e fagocitadas por macrófagos, nos quais o agente sobrevive e se replica,
são encontradas, inicialmente, nas placas de Peyer (conglomerados linfonodulares). Reações
mediadas por células são as principais responsáveis pelo surgimento de lesões entéricas. Com o
progresso da doença, desenvolve-se uma reação granulomatosa imunomediada, com acentuado
acúmulo de macrófagos e linfócitos na submucosa e na lâmina própria. A enteropatia resultante leva
à perda de proteínas plasmáticas e à má absorção de nutrientes e de água. Em geral, os bovinos
afetados têm mais de 2 anos de idade quando os sinais são observados. Principal sinal clínico =
diarreia que se torna persistente e profusa. Perda de peso progressiva apesar do apetite inalterado.
Mucosa das áreas afetadas na porção terminal do intestino delgado e no intestino grosso de bovinos
geralmente espessada. Linfonodos mesentéricos e ileocecais aumentados e edemaciados. Doença
confirmada = abate imediato.
Cães e gatos → M. bovis, raramente M. avium. Cães são suscetíveis a M. tuberculosis. Trato
alimentar deve ser via de transmissão. Gatos → lesões cutâneas ulceradas, lesões oculares
(coroidite tuberculosa). Cães → lesões podem não apresentar configuração celular de tubérculo.
Ademais: síndrome da hanseníase felina, granuloma leproide canino, dermatite ulcerativa por
micobactérias de rápida multiplicação.
Equinos → raro. M. avium ssp. hominissuis. Em geral, a porta de entrada da infecção é o
trato alimentar, com complexos primários relacionados com a faringe e o intestino. É possível notar
lesões secundárias no pulmão, no fígado, no baço e em membranas serosas. As lesões de vértebra
cervical podem ser decorrentes de periostite hipertrófica inespecífica secundária. As lesões
macroscópicas são semelhantes a tumor.
Ovinos e caprinos → M. bovis > M. avium ssp. hominissuis. Doença similar à bovina.
Suínos → via alimentar, mas apenas M. bovis causa doença progressiva com as lesões
clássicas. As infecções causadas por M. tuberculosis não progridem além dos linfonodos regionais.
A infecção por M. avium ssp. hominissuis, a modalidade predominante em vários países, pode
disseminar-se a vísceras, ossos e meninges. As lesões não apresentam tubérculos organizados, mas
contêm material granulomatoso.
A importância econômica atribuída à doença bovina está baseada nas perdas diretas resultantes da morte de animais, da
queda no ganho de peso e diminuição da produção de leite, do descarte precoce e eliminação de animais de alto valor
zootécnico e condenação de carcaças no abate. Estima-se que os animais infectados percam de 10% a 25% de sua
eficiência produtiva. Existe ainda a perda de prestígio e credibilidade da unidade de criação onde a doença é constatada.

Diagnóstico
O método de coloração de ZN é utilizado para diferenciar micobactérias em relação a outras
bactérias. A diferenciação de micobactérias patogênicas se dá a partir de características de cultivo,
testes bioquímicos, inoculação em animais, análises cromatográficas e técnicas moleculares.
Fragmentos de tecido com lesões sugestivas de tuberculose (nódulos caseosos em
linfonodos, pulmão, fígado, etc.) podem ser enviados para exame histopatológico em frasco de boca
larga (plástico ou vidro), hermeticamente fechado, imersos em solução de formaldeído a 10%,
observando-se a proporção de uma parte de amostra para 10 de formaldeído. Amostras clínicas
apropriadas para a demonstração ou cultivo de M. bovis incluem linfonodos, tecidos lesados,
aspirados e leite. Em animais, especialmente ruminantes, as amostras incluem aspirados ou biópsias
de lesões ativas, lavagens traqueobrônquica e gástrica, linfonodos (torácicos e abdominais), urina
ou fezes e amostras de biópsia. Pulmão e linfonodos associados ao trato respiratório, inclusive da
faringe, e linfonodos do trato intestinal são locais comuns de lesões, e deles são obtidas amostras
seletivas no momento da necropsia, quando as lesões macroscópicas não são evidentes. O
congelamento das amostras durante o transporte ou a preservação do tecido em solução de borato de
sódio é um procedimento efetivo que mantém a viabilidade das micobactérias e reduz a
multiplicação de microrganismos contaminantes.
Em suspeita de paratuberculose → amostras para microscopia direta de animais vivos
incluem raspados ou biópsia por punção do reto. As fezes podem ser submetidas à cultura e o
soro para testes sorológicos. O teste de ELISA é, atualmente, o teste sorológico mais comumente
empregado. A detecção de respostas mediadas por células por meio de johnin, um análogo da
tuberculina PPD, pode ser realizada como um teste de campo. Os métodos de PCR em tempo real,
os quais são mais sensíveis, vêm sendo utilizados para uma rápida detecção do organismo a partir
de amostras de fezes.
Teste da tuberculina → com base na hipersensibilidade tardia (tipo IV) à tuberculoproteína
micobacteriana, é o teste padrão ante mortem para bovinos. A reatividade em bovinos é geralmente
detectável de 30 a 50 dias após a infecção. A tuberculina, preparada a partir da micobactéria e
denominada derivado proteico purificado (PPD), é injetada intradermicamente para detectar a
sensibilização. No teste intradérmico simples (prega da cauda; tem outros), 0,1 mL de PPD bovina é
injetada intradermicamente na prega da cauda, sendo o local examinado 72 horas após a inoculação.
Uma reação positiva é caracterizada por um aumento de volume endurecido ou edematoso.
Após a inoculação, a tuberculina é fagocitada e processada, e seus peptídeos são apresentados no complexo
principal de histocompatibilidade (MHC) do tipo II na superfície celular de macrófagos. A resposta específica inicia-se
quando linfócitos T sensibilizados reconhecem, então, os antígenos tuberculínicos e secretam citocinas, entre elas o
interferon gama. As células T envolvidas na reação de hipersensibilidade retardada são, em geral, do tipo CD4+ Th1.
Ao injetá-la em um animal infectado por micobactérias, portanto, sensibilizado para a tuberculina, ocorrerá uma
resposta de hipersensibilidade retardada com endurecimento e edema progressivo no local da inoculação, que atinge seu
máximo às 72 horas.
No teste intradérmico comparativo, 0,1 mL de PPD aviário e 0,1 mL de PPD bovino são injetados
intradermicamente em locais tricotomizados na lateral do pescoço a cerca de 10 cm de distância um do outro. A
espessura da pele no sítio de inoculação é medida com um cutímetro antes da inoculação e 72 horas após. Um aumento
na espessura do local de inoculação de PPD bovino que exceda o observado no local da inoculação de PPD aviário em 4
mm ou mais é interpretado como evidência de infecção, sendo o animal denominado reativo. A reação falso-positiva no
teste de tuberculina pode ser atribuída à sensibilização por outras micobactérias que não M. bovis. Resultados falso-
negativos podem ser verificados em bovinos testados antes do desenvolvimento de hipersensibilidade tardia frente às
tuberculoproteínas. Em alguns bovinos, um estado não responsivo, referido como anergia, pode ocorrer em casos de
tuberculose avançada (há um excesso de antígeno circulante que induz uma imunossupressão específica e, por
conseqüência, uma inibição da produção de citocinas necessárias à ativação de macrófagos participantes da reação de
hipersensibilidade retardada). As vacas podem não responder ao teste da tuberculina durante o início do período pós-
parto. Outros: dessensibilização (por inoculações sucessivas de tuberculina) ou animais com alimentação deficiente.

Isolamento do agente em meio Stonebrink e identificação bioquímica, detecção de DNA por


PCR (tuberculose bovina).
Composição da tuberculina: tubérculo-proteína oriunda do cultivo de M. bovis AN5 ou M.
avium D4. Tipos de tuberculinização: prega caudal (TPC; de triagem, apenas para pecuária de
corte), cervical simples (TCS; para pecuária de leite ou corte) e cervical comparativo (TCC;
confirma os anteriores; para pecuária de leite ou corte). Não testar com menos de 6 semanas
(passagem de linfócitos T pelo colostro). Propriedade certificada: refazer teste em 90 dias. Não
certificada: 60 d. Inconclusivo pode ser retestado (inconclusivo 2 vezes = abate).
● TPC → prega caudal, 6 a 10 cm da base da cauda. Inocular 0,1 ml de PPD bovino
na pele glabra. Leitura em 72 h. Reagente = aumento na prega inoculada. Região
caudal tem menos sensibilidade (manda menos células de defesa), mas alta
especificidade (poucos infectados, mas estes terão lesão).
● TCS → inocular 0,1 ml de PPD bovino, via ID, no terço médio da tábua do
pescoço, na região da espinha da escápula. Leitura em 72 h. Maior sensibilidade,
maior o número de animais infectados encontrados (maior mobilidade das células
de defesa).
● TCC → para rebanhos com ocorrência de reações inespecíficas. Inocular 0,1 ml
de PPD bovino e 0,1 ml de PPD aviário via ID (ao mesmo tempo). Leitura em
72 h. Interpreta-se o resultado pela diferença entre as reações ao PPD bovino e
aviário. Esse teste permite eliminar a maior causa de reações falso-positivas, que
são as infecções por micobactérias ambientais.
O animal classificado como reagente positivo DEVERÁ ser marcado a ferro candente com
letra P no lado direito da cara, isolado de todo rebanho e sacrificado (ou destruído) no prazo
máximo de 30 dias.
O teste da tuberculina, seguido de isolamento e abate de animais reatores é a base de muitos
programas nacionais de controle e erradicação da doença. A inspeção de carnes de rotina faz parte
de programas de vigilância para tuberculose bovina em todo o mundo.
Imunidade
As micobactérias se caracterizam por apresentar parede celular rica em lipídios, os quais
respondem pela característica acidorresistente e por algumas propriedades patogênicas e
imunológicas. Os micosídeos de superfície determinam as características das colônias, as
especificidades sorológicas e as suscetibilidades a bacteriófagos.
Com a entrada do microrganismo pela mucosa brônquica ou intestinal, os macrófagos
residentes, alveolares ou intestinais, são mobilizados para fagocitar a micobactéria patogênica.
Mycobacterium se esquiva de receptores dependentes de anticorpos, os quais normalmente
estimulam a ativação de macrófagos e a resposta bactericida, como acontece com várias bactérias
patogênicas. Desse modo, as micobactérias permanecem nos vacúolos dos fagócitos, impedindo a
ativação de fagossomos (produção de produtos intermediários reativos bactericidas) e a maturação
(p. ex., acidificação de fagossomo e fusão com lisossomos). Assim, os bacilos micobacterianos são
capazes de sobreviver e de se multiplicar nas células fagocíticas residentes.
Os monócitos (células fagocíticas do sangue) são, então, recrutados para o local da infecção,
o qual, por fim, progride para granuloma ou tubérculo. Essa estrutura arredondada focal é evidente
no exame patológico macroscópico como nodulação amarela próxima à entrada/saída dos vasos
sanguíneos dos órgãos envolvidos. O tubérculo contém macrófagos infectados em seu centro,
circundado por grandes fagócitos (células epitelióides), linfócitos e fibroblastos, envolvidos por
uma camada de colágeno. No centro da lesão, instala-se necrose caseosa.
Principal defesa do hospedeiro = ativação de macrófagos e produção de células T
citotóxicas. As micobactérias podem ativar os macrófagos para um primeiro nível de receptividade
por meio de um mecanismo imune inato mediado pela interação de produtos das micobactérias com
receptores das células fagocíticas. Isso resulta em células dendríticas e macrófagos que produzem o
polipeptídio mensageiro, IL-12, e promovem a apresentação de antígenos das micobactérias às
células T CD4+ auxiliadoras. Esse mecanismo de apresentação de antígeno requer degradação desse
antígeno no fagossomo e a associação de peptídios degradados com moléculas do complexo de
histocompatibilidade principal (MHC) classe II. Na presença de IL-12 e, possivelmente de outras
citocinas como a IL-17, essas células sofrem diferenciação e se tornam células TH1, com
capacidade de produzir IFNγ, que, adicionalmente, ativa os macrófagos, os quais são submetidos
à explosão respiratória. Isso ocasiona maior elaboração de produto altamente bactericida
denominado oxigênio reativo (ânion superóxido e peróxido de hidrogênio) e de intermediários
do nitrogênio (óxido nítrico [NO] e nitrito) → ação bactericida. As células TH1 ativadas por
IL-12 (IL-17) também secretam IL-2, a qual desencadeia a diferenciação de células T CD8+ em
células T citotóxicas. Sua função é provocar a lise de macrófagos infectados, os quais, então,
liberam bacilos intracelulares. Esses microorganismos podem ser adicionalmente fagocitados e
destruídos pelos macrófagos ativados.
Dependendo da condição imune do hospedeiro, não ocorre diferenciação de células CD4+ em células TH1. Os
macrófagos infectados secretam IL-10 e IL-4, em vez de IL-12. Esse processo ocasiona maturação de células CD4+
pela via TH2. As células TH2 secretam mais IL-4, a qual estimula a maturação das células B em células secretoras de
anticorpo. Infelizmente, a resposta humoral retardada dependente das células TH2 não induz proteção alguma e as
consequências são devastadoras para o hospedeiro. Por exemplo, na infecção tuberculosa, pode ocasionar tuberculose
disseminada (miliar) e grande quantidade de bacilos que comprometem vários órgãos, além do pulmão.

Unidade 4 - bactérias espiraladas

Gênero Campylobacter - https://www.youtube.com/watch?v=13qzDVxUxMU&ab_channel=Prof.DaniloStipp


Morfologia e coloração
Bastonetes gram-negativos encurvados, que não
formam esporos. Apresentam cápsulas e se movimentam
por meio de um flagelo polar, em uma ou em ambas as
extremidades. Quando duas ou mais células bacterianas se
posicionam juntas, podem apresentar formato de “S” ou
de “gaivota alada”, que podem parecer “espirais”.

Cultivo
Microaeróbicas e necessitam uma atmosfera que contenha de 3 a 10% de oxigênio e de 3 a
15% de dióxido de carbono. Todas as espécies crescem em temperatura de 37°C, mas algumas,
como C. jejuni, C. coli e C. lari, são termotolerantes e crescem bem em temperatura de 42°C – uma
característica frequentemente considerada no isolamento dos microrganismos nas fezes. A maioria
das espécies não se multiplica em temperaturas abaixo de 30°C, e sua quantidade é muito reduzida
pelo congelamento e descongelamento.
Resistência e habitat
Podem permanecer viáveis durante dias a semanas em matéria orgânica, como fezes, carne
ou leite, especialmente quando resfriadas.
Campilobacteriose venérea é uma doença mundial, que acomete principalmente bovinos de
corte concebidos por monta natural. O uso de inseminação artificial praticamente eliminou o
microrganismo em rebanhos de bovinos leiteiros, porque é facilmente inativado no sêmen e no
equipamento de inseminação.
As fezes de animais infectados são fontes de infecção para outros animais. Carnes de aves
domésticas contaminadas, bem como outros tipos de carne, cruas, mal cozidas e inadequadamente
manipuladas, leite cru e água contaminadas são fontes de infecção humana. O ceco de,
aproximadamente, 50% dos frangos contém C. jejuni. No abate, o microrganismo contamina o
ambiente e, como consequência, quase todas as carcaças de frangos à venda no comércio
encontram-se contaminadas. Animais de companhia e animais pecuários infectados são fontes
potenciais da infecção. Bactérias do gênero Campylobacter são encontradas nas fezes de animais de
companhia sadios.
C. fetus ssp. venerealis → principal reservatório é a cripta do prepúcio de touros portadores
de infecção persistente. Entre 1 e 2% das vacas tornam-se portadores persistentes do microrganismo
na vagina e também são considerados reservatórios.
C. fetus ssp. fetus → reservatórios são o sistema gastrintestinal e a vesícula biliar de
ruminantes infectados.
C. jejuni e Campylobacter intestinal → em ovinos portadores, os principais reservatórios
de C. jejuni são o sistema gastrintestinal e a vesícula biliar. Aves domésticas, vários pássaros,
bovinos, ovinos, cães, gatos e suínos também são carreadores de C. jejuni; suínos e aves domésticas
são os principais reservatórios de C. coli. Acredita-se que o reservatório de outras bactérias do
gênero Campylobacter seja o sistema gastrintestinal de animais infectados.
Transmissão → doença reprodutiva = infecção por C. fetus ssp. venerealis ocorre
predominantemente durante o coito, mas é possível a transmissão por meio de inseminação artificial
com equipamento e/ou sêmen contaminado. A infecção por C. fetus ssp. fetus e C. jejuni ocorre por
meio da ingestão de microrganismos em alimento ou água contaminada por fezes de ruminantes
carreadores ou mediante exposição a fluidos fetais e membranas de fetos abortados. Doença
intestinal = via oral, mediante ingestão de alimento e água contaminados.
Estrutura antigênica e toxinas

Parede celular → embora o componente lipídio A do lipopolissacarídeo (LPS) seja capaz


de se unir à proteína ligadora LPS no soro e estimular o sistema imune do hospedeiro, o LPS de C.
fetus tem atividade biológica muito discreta (importante infecção persistente). A extensão das
cadeias laterais do polissacarídio repetidas (antígeno O) do LPS é importante na resistência das
bactérias à morte no soro, pela ação do complemento.
Cápsula → circundando a membrana externa há uma cápsula de polissacarídeo altamente
variável. A cápsula auxilia a proteger o LOS (apresentação rugosa de LPS) da ação dos
receptores das células hospedeiras, como os receptores Toll-like, os quais ajudam a impedir a
estimulação da resposta imune inata. A cápsula tem participação na fixação de C. jejuni às células
epiteliais; isolados que não apresentam cápsula não colonizam eficientemente o intestino de aves
jovens. Os antígenos capsulares também são utilizados para sorotipagem. Uma microcápsula
proteica denominada camada S (surface layer) circunda C. fetus ssp. fetus, sendo um importante
fator de virulência. A camada S resiste à fagocitose e aos efeitos bactericidas do soro, por inibir a
ligação com o fator C3b do sistema complemento. Em ovinos, a camada S é necessária para causar
infecção sistêmica e aborto.
Adesinas → CadF é uma proteína da membrana externa altamente preservada em C.
jejuni e C. coli que se liga à proteína fibronectina da matriz celular e atua como mediadora na
fixação das bactérias às células hospedeiras. Peb 1 (ou CBF1) é uma adesina de C. jejuni presente
no espaço periplasmático que se liga a aspartato e glutamato. CapA é uma lipoproteína que
contribui para a fixação de C. jejuni às células epiteliais, sendo importante na colonização e no
estabelecimento de infecção persistente no intestino de aves jovens.
Flagelo → os flagelos de C. jejuni são fundamentais na motilidade bacteriana e na
quimiotaxia para mucina e para aminoácidos presentes em teores elevados no intestino de frangos,
os quais são importantes para a colonização intestinal. Invasão celular.
Toxina expansora citoletal (CDT) → produzida por C. jejuni, C. coli, C. lari, C. fetus e C.
upsaliensis, sendo a única toxina comprovadamente produzida por bactérias do gênero
Campylobacter. A toxina provoca apoptose celular. Em pessoas, a CDT estimula a produção de
interleucina-8, que recruta células dendríticas, macrófagos e neutrófilos, e, assim, exacerba a
inflamação.
Sistema de secreção tipo II → C. jejuni. Liga-se ao DNA livre no ambiente e o transporta ao
citoplasma. Uma vez no citoplasma, o DNA é incorporado no genoma ou, no caso de um
plasmídeo, pode se replicar livremente.
Sistema de secreção tipo IV (T4SS) → C. fetus ssp. venerealis. Responsável pela adaptação
de ao sistema genital de bovinos. Na ilha genômica, há genes para T4SS, que é um sistema que atua
como mediador na transferência de DNA e/ou proteína entre bactérias e/ou entre células
eucarióticas hospedeiras.
Patogenia
Doenças dos sistemas genital e gastrintestinal. As espécies de importância veterinária são
Campylobacter fetus, C. jejuni ssp. jejuni, C. coli, C. lari, C. hyointestinalis, C. sputorum, C.
helveticus, C. mucosalis e C. upsaliensis. C. fetus e C. jejuni são importantes causas de falha
reprodutiva em ruminantes. Várias espécies, especialmente C. jejuni e C. coli, são importantes
agentes etiológicos de gastrenterite em pessoas e menos importantes em animais. Há duas
subespécies de C. fetus: venerealis e fetus.
As bactérias do gênero Campylobacter são as principais causas de gastroenterite bacteriana
humana transmitida por alimentos. A maioria das infecções humanas se deve à ingestão de alimento
contaminado cru ou mal cozido, leite não pasteurizado ou água contaminada. O consumo de aves ou
de produtos aviários é o principal fator de risco de
enterite causada por Campylobacter em pessoas. A
diarreia em cães e em outros animais domésticos tem
sido atribuída a infecções por espécies de
Campylobacter, particularmente por C. jejuni.

Doença reprodutiva em bovinos → C. fetus ssp.


venerealis se instala em uma fêmea suscetível por meio
de um touro infectado, durante o coito. Os
microrganismos se multiplicam na vagina, mas não
penetram no útero antes do final do cio, possivelmente
em razão do alto número de neutrófilos no útero durante
o estro. No útero, ocorre multiplicação adicional e,
possivelmente, invasão ativa da bactéria, resultando em
endometrite. A infecção não interfere na fertilização, mas
origina um ambiente inapropriado para a sobrevivência
do embrião. Em geral, a fêmea retorna ao cio após um
intervalo superior a 25 dias (o normal é 21 dias). O processo se repete, por si só, até que a fêmea
induza uma resposta imune suficiente para eliminar os microrganismos do útero. Em seguida, a
endometrite regride, e a vaca torna-se prenhe e leva a gestação até seu final. Em média, as vacas
infectadas passam por até cerca de 5 ciclos estrais antes de levar a gestação a termo. Sinais =
repetidos acasalamentos, ciclos estrais irregulares, aumento dos intervalos entre partos e aumento da
taxa de vacas que não emprenham. A aplicação de dose dupla de duas doses de vacina, com
intervalo de 3 semanas, elimina a infecção persistente por C. fetus ssp. venerealis em touros. O uso
sistêmico de estreptomicina, a aplicação tópica de estreptomicina e o uso tópico de neomicina e
eritromicina podem ser efetivos no tratamento de touros; entretanto, se não vacinados, tornam-se
suscetíveis à nova infecção. A vacinação anual é efetiva no tratamento e na prevenção da doença
em fêmeas. Campilobacteriose venérea bovina é mais bem controlada por meio de prevenção. O uso
de touros virgens oriundos de rebanhos sabidamente negativos, evitando a reposição no rebanho de
fêmeas com histórico desconhecido, e o não compartilhamento de pastagem são bons métodos de
prevenção. A inseminação artificial é um meio muito efetivo de controle e de eliminação da doença.
Doença reprodutiva em ovinos → após ingestão, C. fetus ssp. fetus e C. jejuni alcançam a
corrente sanguínea; na ovelha prenhe, instala-se na placenta. Isso resulta em placentite, infecção
fetal e aborto, comumente 3 a 4 semanas após a infecção, mas pode demorar tanto quanto 2 meses.
Placenta, fluidos uterinos e feto contêm grande quantidade de microrganismos. Em geral, os abortos
ocorrem na segunda metade da prenhez. Ocasionalmente, o fígado do feto contém focos de necrose
marrons a avermelhados, frequentemente com aparência semelhante a alvo ou rosquinha.
Geralmente, em vacas e cabras infectadas por C. fetus ssp. fetus e C. jejuni ocorre aborto como
casos isolados e esporádicos. É cada vez mais comum a constatação de aumento da resistência de
C. jejuni à tetraciclina → alternativas medicamentosas potenciais incluem tilmicosina,
eritromicina, tilosina e florfenicol. A vacinação com bacterinas de C. fetus ssp. fetus e C. jejuni
em surtos de abortos tem auxiliado na redução da taxa de abortos. A vacinação antes do
acasalamento auxilia a evitar a doença.
Doença intestinal → C. jejuni adere e invade células epiteliais da parte distal do intestino
delgado e do cólon. Ocorre transferência de bactérias pelo epitélio da lâmina própria. A invasão de
C. jejuni lesiona o epitélio e ocasiona hemorragia e inflamação, com recrutamento de neutrófilos e
produção de interleucinas e prostaglandinas. Em animais e em pessoas, os sinais clínicos incluem
febre, cãibras abdominais e diarreia aquosa a sanguinolenta, que, geralmente, regride
espontaneamente dentro de alguns dias a semanas. Os efeitos bactericidas do soro inativam a
maioria das bactérias do gênero Campylobacter que alcançam os vasos linfáticos e a circulação
sanguínea sistêmica. A exceção é C. fetus ssp. fetus, no qual quase todas as cepas são resistentes à
morte pelos efeitos antimicrobianos do soro e pela fagocitose. Consequentemente, C. fetus é mais
importante como causa de doença sistêmica. Em geral, a enterite causada por C. jejuni e por outras
espécies de Campylobacter é autolimitante, mas ocasionalmente requer tratamento. Antibióticos
macrolídios são os medicamentos de escolha. Em hospitais veterinários e canis, o controle requer o
emprego de medidas higiênicas rigorosas, como lavagem das mãos, limpeza e protocolos de
desinfecção.

Diagnóstico

Coleta de amostras → Doença reprodutiva (bovinos) = mais provável que as amostras


obtidas de machos sejam positivas que as amostras coletadas de fêmeas. Obtém-se esmegma ou
raspado de prepúcio por meio de aspiração na extremidade de uma pipeta de inseminação. As
amostras de fêmeas são coletadas utilizando-se um tampão colocado na parte anterior da vagina. As
amostras devem ser resfriadas, mas não congeladas; caso não seja possível enviá-las ao laboratório
dentro de 6 a 8 h, devem ser colocadas em um meio de transporte, como o meio Clark ou Lander,
ou em caldo de tioglicolato. Deve-se obter amostras de todos os touros ou de 20 fêmeas ou de 10%
do rebanho, o que for maior. Doença reprodutiva (ovinos) = fluido abomasal, pulmão e fígado de
feto abortado são as melhores amostras. A contaminação dificulta muito o isolamento dos
microrganismos da placenta. Doença intestinal = utilizam-se amostras de fezes para o diagnóstico
das infecções causadas por Campylobacter.
Exame direto → Doença reprodutiva (bovinos) = em razão do baixo número de bactérias, é
muito improvável a visualização direta de C. fetus ssp. venerealis em esfregaços corados, obtidos de
touros e/ou vacas infectadas. Preparações com anticorpos corados fluorescentes são úteis e, às
vezes, são empregadas em combinação com a cultura bacteriológica para aumentar a sensibilidade
do teste. Doença reprodutiva (ovinos) = as preparações de conteúdo estomacal de feto abortado
coradas pela técnica de Gram ou com corantes do tipo Romanovsky frequentemente contêm
pequenos bastonetes curvos. Uma característica das bactérias do gênero Campylobacter é a rápida
movimentação “em espiral ou em saltos” que pode ser observada em preparações úmidas de
conteúdo abomasal, em microscópio de campo escuro ou de contraste de fase. A detecção de focos
necróticos arredondados ou em formato de alvo no fígado também sustenta um diagnóstico
presuntivo de infecção por Campylobacter. Doença intestinal = em esfregaços de fezes corados,
notam-se vários bastonetes gram-negativos curvos delgados, sangue, muco, neutrófilos e
fragmentos celulares.
Em razão da dificuldade de diferenciação das espécies de Campylobacter, também se têm
utilizado métodos moleculares, como PCR espécie-específica, fingerprinting genômico e
sequenciamento dos genes de RNA ribossômico.
Sorodiagnóstico → C. fetus ssp. venerealis não induz à produção de anticorpos detectáveis
no soro, mas os anticorpos presentes no fluido vaginal são utilizados para o diagnóstico. O teste de
aglutinação do muco vaginal identifica cerca de 50% das vacas infectadas, o que é útil para o
rebanho, mas não para o diagnóstico individual da vaca. O título de aglutinação é maior 30 a 70 dias
após a infecção e persiste por, aproximadamente, 7 meses. As amostras devem ser coletadas 1 a 2
dias antes ou 4 a 5 dias após o cio, a fim de evitar diluição excessiva dos anticorpos pela maior
quantidade de secreção durante o cio. A presença de sangue invalida os resultados do teste; o exame
não possibilita diferenciar animais infectados de vacinados. Os anticorpos do muco vaginal também
podem ser detectados por imunoensaio enzimático (ELISA), que apresenta maior sensibilidade e
especificidade. O teste ELISA pode ser utilizado para detectar IgA e diferenciar bovinos infectados
de vacinados.
Imunidade

Doença reprodutiva (bovinos) → a imunidade protetora contra C. fetus ssp. venerealis se


desenvolve no útero, e, embora a IgM seja inicialmente produzida, a imunidade se baseia
principalmente na ação de IgG. Os anticorpos revestem a bactéria e iniciam a cascata do
complemento, resultando em lise bacteriana. Os anticorpos IgG também atuam como opsonizadores
e se ligam aos antígenos capsulares, resultando em fagocitose e destruição das bactérias. As
moléculas de IgA, IgG e IgM secretadas se ligam aos antígenos de superfície e impedem a fixação
dos microrganismos às células epiteliais. Todos os isótipos de anticorpos específicos contra
antígenos flagelares impedem a transferência da bactéria da vagina para o útero. Na vagina, tem-se
principalmente uma resposta de IgA não opsonizante, que é menos efetiva na eliminação dos
microrganismos que a resposta de IgG no útero. A maioria das vacas destrói C. fetus ssp. venerealis
do útero dentro de 2 a 3 meses; entretanto, frequentemente demora 6 meses, ou mais, para destruir
as bactérias presentes na vagina. A eliminação dos microrganismos da vagina raramente demora
mais que 10 meses; todavia, entre 1 e 2% das vacas se tornam portadores persistentes da bactéria na
vagina. Touros com menos de 4 anos de idade raramente permanecem infectados por mais que
alguns dias, porém os mais idosos podem permanecer infectados pelo restante da vida, a menos que
tratados. A explicação mais comumente aceita é que as criptas prepuciais de touros mais velhos são
mais profundas e mais receptivas que as de touros mais jovens. A resposta imune estimulada pela
infecção natural não é efetiva na eliminação da bactéria de touros. No entanto, a vacinação estimula
a produção de anticorpos IgG específicos no soro e na secreção mucosa, podendo impedir ou
eliminar a infecção em machos e fêmeas.
Ovelhas ficam imunes após aborto ou vacinação, principalmente pela presença dos
anticorpos IgM e IgG na corrente sanguínea e nos tecidos. Isso resulta em remoção dos
microrganismos pelas células fagocíticas e iniciação da cascata do complemento, culminando em
lise bacteriana.
Doença intestinal → após a fixação e a invasão da mucosa intestinal pela bactéria, ocorre
produção de anticorpos circulantes e de anticorpos de mucosa. Isso resulta na eliminação de
Campylobacter da mucosa intestinal, mas não do lúmen intestinal. A resposta imune não impede
nova colonização do intestino, mas auxilia na prevenção dos sinais clínicos.

Gênero Leptospira - https://www.youtube.com/watch?v=13qzDVxUxMU&ab_channel=Prof.DaniloStipp


Morfologia e coloração
Espiroquetas, espirais finos. Gram-negativas, mas fracamente coradas, essas bactérias
requerem exame em microscópio de campo escuro ou de contraste de fase, para sua visualização.
As espirais são mais bem-observadas em microscópio eletrônico. As células típicas apresentam uma
espécie de gancho em cada extremidade, o que confere à bactéria um formato de S ou C.
Preparações úmidas revelam que esses microrganismos apresentam alta mobilidade.
Cultivo
Aeróbias obrigatórias. Temperatura ideal = 29°C a 30°C. O tempo médio para produção de
colônias é cerca de 12 h. Meio tradicional essencial é soro de coelho (< 10%) em soluções
compostas desde salina normal até misturas de peptonas, vitaminas, eletrólitos e tampões. Não há
necessidade de proteína. Diferentemente da maioria das células procarióticas, as leptospiras não são
capazes de sintetizar suas próprias pirimidinas; desse modo, adiciona-se 5-
fluoruracila ao meio de cultura, a fim de inibir o crescimento de outras
bactérias. A maioria dos meios é de aspecto fluido ou semissólido (0,1% de
ágar). No meio fluido desenvolve-se pequeno grau de turvação. Em meio
semissólido, o crescimento se concentra em um disco de, aproximadamente,
0,5 cm, abaixo da superfície denominada zona de Dinger.
São oxidase-positivas e catalase-positivas; várias delas exibem
atividade lipase. Algumas produzem urease. A identificação além do gênero
se baseia em exame sorológico. PCR.
Resistência e habitat
Frágeis. São destruídas por dessecação, congelamento, calor (50°C/10 min), sabão, sais
biliares, detergentes, ambiente ácido e putrefação. Persistem em ambiente úmido, de temperatura
temperada e pH neutro a ligeiramente alcalino. As chuvas e o clima quente proporcionam as
condições ideais para a multiplicação das bactérias desse gênero. Portanto, as áreas com maior
ocorrência estão diretamente relacionadas com as condições de saneamento básico.
Os reservatórios animais são cronicamente infectados nos rins pelos diferentes sorovares de
Leptospira. Este é um dos locais de predileção da bactéria. Assim, a transmissão da leptospirose
ocorre através da eliminação de leptospiras na urina havendo a contaminação de água e solo, sendo
a água o principal veículo de transmissão da doença ou ainda, as leptospiras podem persistir no trato
genital, sendo desta forma eliminadas pelo sêmen e secreções vaginais e, portanto transmitidas pela
cópula ou inseminação artificial.
As bactérias do gênero Leptospira colonizam os túbulos renais de mamíferos (reservatório).
Roedores são os carreadores mais frequentes de Leptospira, seguidos de carnívoros selvagens.
Nenhum mamífero pode ser excluído da condição de possível hospedeiro.
Transmissão → a exposição à bactéria ocorre por meio de contato de membrana mucosa ou
pele com água, fômites ou alimentos contaminados com urina. Outras fontes incluem leite de vaca
com infecção aguda e secreção genital de bovinos e suínos, machos ou fêmeas.
Epidemiologia → a transferência mais direta ocorre por meio de aerossóis de urina em
salas de ordenha e em abrigos de bovinos ou pelo hábito de “cortejo” dos cães, fato que pode
explicar a propensão do macho em adquirir leptospirose canina. Acúmulos de água
contaminada são importantes fontes de infecção aos animais de produção, aos mamíferos
aquáticos e às pessoas. Manipuladores de animais, encanadores, trabalhadores rurais, mineiros e
veterinários têm alto risco de exposição.

Estrutura antigênica e toxinas


Na parede celular há uma endotoxina relativamente lábil. Uma hemolisina, a
esfingomielinase C, está presente em alguns sorovares, e sua citotoxicidade tem sido demonstrada
in vivo. As manifestações clínicas e patológicas sugerem a participação de mecanismos tóxicos.
Filtrados de fluidos teciduais de animais experimentalmente infectados contêm fatores citotóxicos
que causam lesões vasculares.
Os principais componentes de leptospiras relacionados aos danos teciduais tóxicos são os
lipopolissacarídeos presentes na parede celular, que induzem a adesão de neutrófilos, a ativação
plaquetária e a síntese de citocinas, principalmente interleucina-1 (IL-1) e interferon (IFN), a partir
da ativação de macrófagos. Fatores de virulência como esfingomielinases, hemolisinas e porinas
também são expressos durante a infecção.
Patogenia
Os animais domésticos mais comumente acometidos são cães, bovinos, suínos e equinos.
Aborto em final de gestação é a manifestação característica em qualquer fêmea prenhe, inclusive
em mulheres, exposta a Leptospira pela primeira vez. Os quadros clínicos mais comuns na
leptospirose canina são de natureza septicêmica, hepática e renal. Em bovinos e suínos, a doença
séptica praticamente se limita aos animais jovens, enquanto aborto é a principal manifestação nas
fêmeas adultas. Aborto e uveíte recorrente equina ou cegueira noturna são os sinais clínicos mais
comuns em equinos. As infecções clínicas, que manifestam sintomas evidentes, devem-se
principalmente às infecções causadas por sorovar não adaptado ao hospedeiro.
Sorovares importantes na América do Norte e seus principais hospedeiros e os hospedeiros
clínicos (entre parênteses):
● Leptospira icterohaemorrhagiae: roedores (cães, equinos, bovinos e suínos + humanos);
● Leptospira grippotyphosa: roedores (cães, bovinos e suínos);
● Leptospira canicola: cães (suínos e bovinos?);
● Leptospira pomona: bovinos e suínos (equinos, ovinos e leões-marinhos);
● Leptospira hardjo: bovinos;
● Leptospira bratislava: suínos (equinos e leões-marinhos).
Os espiroquetas penetram na corrente sanguínea após a inoculação do microrganismo na
membrana mucosa, ou no trato reprodutivo, e colonizam, particularmente, o fígado e os rins, onde
causam lesões degenerativas. Pode haver envolvimento de outros órgãos, como músculos, olhos e
meninges, com instalação de meningite não supurativa. Leptospira lesiona o endotélio vascular,
resultando em hemorragias. Todos os sorovares ocasionam essas lesões, em graus variáveis.
Os microrganismos disseminam-se pelos organismos por meio da corrente sanguínea,
porém, a partir do aparecimento de anticorpos, aproximadamente 10 dias após a infecção, são
eliminados da circulação. Algumas leptospiras podem evadir a resposta imune e persistir no
organismo, principalmente nos túbulos renais e também no útero, olhos e meninges.

Cães → L. icterohaemorrhagiae e L. canicola (mais comum). Tem-se relatado aumento dos


casos de insuficiência renal aguda decorrentes de infecções causadas por L. grippotyphosa. A
apresentação aguda mais comum acomete principalmente filhotes de cães, provoca febre sem a
localização de sintomas e, comumente, ocasiona morte dentro de alguns dias. Com frequência,
observam-se hemorragias nas membranas mucosas e na pele, antes da morte do paciente, ou o
paciente manifesta epistaxe (sangramento nasal) ou fezes e vômitos tingidos de sangue. Não se
constata icterícia. A progressão da doença ictérica é mais lenta, e as hemorragias são menos
evidentes. Icterícia é marcante. A localização renal causa retenção de nitrogênio, enquanto cilindros
renais e leucócitos surgem na urina. O tipo urêmico, cujos alvos são os rins, deve-se à natureza da
infecção descrita anteriormente ou pode se desenvolver em sua ausência. Pode ser aguda e
rapidamente fatal, com sinais de distúrbios gastrintestinais, expiração de ar com odor urêmico e
úlcera no trato digestório anterior; pode ter um curso lento, com início retardado.
Bovinos → a manifestação predominante na leptospirose bovina é aborto, geralmente no
final da gestação. O aborto se deve mais à morte do feto primária do que à infecção placentária.
É comum notar retenção fetal com autólise progressiva. O aborto atribuído a L. hardjo, o
sorogrupo adaptado ao hospedeiro para bovinos, é principalmente um problema de novilhas
leiteiras, em razão das práticas de manejo diferentes entre os bovinos de corte e os bovinos leiteiros.
As infecções por L. hardjo se instalam no feto e provocam aborto ou a “síndrome do bezerro fraco”.
Com frequência, essas infecções são subclínicas ou podem levar à “síndrome da queda na produção
de leite”, falha reprodutiva e infertilidade. Infecção renal crônica e excreção de Leptospira na urina
são ocorrências comuns. Leptospirose aguda causada por L. pomona acomete principalmente
bezerros e, às vezes, bovinos adultos. É caracterizada por febre, hemoglobinúria, icterícia, anemia e
taxa de mortalidade de 5 a 15%. Em alguns países, Leptospira grippotyphosa, L.
icterohaemorrhagiae e L. canicola causam leptospirose em bovinos.
Suínos → L. pomona, L. icterohaemorrhagiae, L. canicola, L. tarassovi, L. bratislava e L.
muenchen. À semelhança do que acontece na leptospirose bovina, septicemia com icterícia e
hemorragia acomete principalmente leitões, enquanto aborto e infertilidade são verificados em
porcas.
Equinos → L. pomona, L. grippotyphosa e L. icterohaemorrhagiae. Os sinais clínicos das
infecções naturais são febre, icterícia discreta e aborto. Provavelmente, a leptospirose está
envolvida em casos de iridociclite recorrente equina (oftalmia periódica).
Outros animais → em pequenos ruminantes, a leptospirose, geralmente causada por L.
pomona, é semelhante à infecção por Leptospira manifestada por bovinos. Também ocorrem
infecções por L. hardjo e L. grippotyphosa. Epidemias ocasionadas por L. pomona têm provocado,
periodicamente, alta taxa de mortalidade em leões-marinhos da Califórnia.
Humanos → suscetíveis a todos os sorovares, sem identificação de cepas adaptadas ao
hospedeiro. As infecções provocam febre, icterícia, dores musculares, exantemas e meningite
não supurativa. Essas manifestações são variáveis de acordo com os sorovares envolvidos. Uma
apresentação maligna, mais frequentemente associada a L. icterohaemorrhagiae, pode provocar
doença hepática ou renal mortal.
Tratamento e controle = Leptospiras são sensíveis a penicilina, tetraciclina, cloranfenicol,
estreptomicina e eritromicina. O tratamento, para ser efetivo, deve ser instituído no início da
doença, possivelmente mesmo de modo profilático nos casos de exposição conhecida à bactéria.
Doxiciclina é utilizada no tratamento de pacientes humanos, de modo profilático. Estreptomicina e
diidroestreptomicina é rotineiramente utilizada com intuito de eliminar a condição de animal
portador. No entanto, não é rara a persistência da infecção por Leptospira nos rins e no trato
reprodutor de bovinos, após o tratamento antibiótico, sugerindo, novamente, a formação de biofilme
pelas leptospiras. Em geral, a vacinação evita a doença. Não impede a infecção, tampouco a
excreção da bactéria.
Explique a ação de antimicrobianos nos locais de manutenção???? Locais de manutenção
das leptospiras nos portadores = rins → glomérulo de Malpighi. A cada momento de estresse a
bactéria é liberada pelos túbulos renais → bexiga → ambiente. Os antimicrobianos atuam na via
hematógena. Rins retiram água da corrente sanguínea → colocar fármaco com ligação química
estável (ex.: diidroestreptomicina, que tem 2 hidrogênios). A estreptomicina apresenta facilidade
de penetração renal o suficiente para destruir as leptospiras presentes nos túbulos renais, devido
a sua excreção urinária sendo a maior parte por filtração glomerular. Para os testes in vivo a
ampicilina, cefotaxima, mexalactam, foram efetivas na eliminação das leptospiras dos rins.
Entretanto, a dihidroestreptomicina surge como a melhor droga para este mister, o que se deve à
combinação de sua ação bactericida e habilidade em persistir no tecido renal.
Diagnóstico

Coleta de amostra → realizam-se exames de amostras de sangue, de urina, de fluido


cerebroespinal, de fluido uterino e de cotilédones placentários. Em geral, o exame de sangue é
negativo após a primeira fase febril. Leite destrói as leptospiras e não é uma amostra promissora
para cultura bacteriológica. Amostras de urina sempre devem ser examinadas. Em cadáveres,
inclusive fetos abortados, é mais provável que os rins abriguem leptospira. Nos casos de morte por
septicemia (inclusive em fetos abortados), vários órgãos podem conter a bactéria, em especial o
fígado, o baço, o pulmão, o cérebro e os olhos. A cultura bacteriológica é realizada imediatamente
após a coleta da amostra.
Exame direto → métodos de constatação visual direta envolvem preparações úmidas
examinadas em microscópio de campo escuro (ou em microscópio de contraste de fase),
colorações imunofluorescentes e impregnação do tecido fixado por prata. A microscopia de
campo escuro de rotina deve se limitar ao exame de urina. Em exames diretos, os resultados
negativos não excluem a possibilidade de leptospirose. Têm-se utilizado anticorpos
fluorescentes no exame de fluidos, de cortes teciduais, de homogenatos, imprints obtidos de órgão
e, mais efetivamente, em fetos bovinos abortados, nos quais o exame do rim é mais satisfatório.
PCR para a detecção de Leptospira nos fluidos e tecidos de animais.
Sorologia → mais comum. Teste de aglutinação microscópica que utiliza antígeno vivo.
Outros exames laboratoriais incluem teste de aglutinação em tubo e macroscópico de placas,
bem como fixação de complemento e testes imunoenzimáticos. Amostras pareadas são as
preferidas: uma amostra é obtida no início da manifestação da doença, e outra, 2 semanas
depois. Se há infecção por Leptospira nesse intervalo, observa-se um aumento de quatro vezes, ou
mais, no título de anticorpos contra a bactéria. No caso de aborto bovino, isso pode não ocorrer. O
motivo é a infecção de bovinos por L. hardjo estimular uma resposta imune muito fraca,
provavelmente decorrente de sua adaptação a essa espécie animal. Os anticorpos persistem por
longos períodos após a infecção. Os títulos pós-vacinais são mais baixos e diminuem bem antes da
imunidade induzida pela vacinação. O título de aglutinação é específico do tipo de bactéria.
Imunidade
A recuperação de leptospirose aguda coincide com a cessação de septicemia e o
aparecimento de anticorpos circulantes, geralmente na segunda semana de infecção (tempo
necessário para soroconversão). O anticorpo protetor é o isótipo IgG e IgM e é direcionado
principalmente aos antígenos da bainha externa.
Os mecanismos imunológicos podem estar relacionados com algumas das seguintes
características da leptospirose: a anemia hemolítica, característica de leptospirose septicêmica
causada por L. pomona em ruminantes, está associada à presença de hemaglutininas frias, sugerindo
uma condição autoimune. A nefrite intersticial crônica canina é comum e pode ser uma lesão
subsequente à infecção por Leptospira → a evidência de formação de biofilme poderia explicar a
degeneração crônica do tecido renal e a excreção intermitente de leptospira em animais sadios.
Casos de iridociclite equina recorrente (uveíte, oftalmia periódica e cegueira noturna) se devem, em
parte, à cultura positiva de leptospira em fluido dos olhos de equinos enfermos, ao resultado
positivo no teste PCR de amostras de humor aquoso e aos títulos de leptospirose no soro de equinos
acometidos.
Imunidade artificial → em cães, utilizam-se vacinas com bacterinas (vacina bivalente,
contendo L. icterohaemorrhagiae e L. canicola; ou vacina multivalente, na qual se adicionam L.
pomona e L. grippotyphosa à vacina bivalente). Em bovinos e suínos, utiliza-se, pelo menos, uma
bacterina pentavalente contendo L. hardjo, L. pomona, L. canicola, L. icterohaemorrhagiae e L.
grippotyphosa. A proteção é temporária e específica para o sorovar, havendo necessidade de
reforços, pelo menos, anualmente. A vacinação evita a doença evidente, mas não necessariamente a
infecção.

Unidade 2 - bacilos gram-positivos e gram-negativos: esporulados e não esporulados

Gênero Bacillus - https://www.youtube.com/watch?v=oOGxwJsqdXw&list=PL4aSQ7e5vANP8La-MqX-g76Q7oWWXPLLS&index=5&ab_channel=Prof.DaniloStipp

Morfologia e coloração
Bastonetes anaeróbios facultativos gram-positivos que produzem endósporos (formam-se no
meio da célula). Grosseiramente retangulares, não móveis, com extremidades em ângulo reto. É
comum verificar cadeias de bastonetes (resistir à morte opsonofagocítica). Os esporos são
produzidos no interior das células durante condições de privação de nutrientes. Uma cápsula é
formada em meio de cultura suplementada com bicarbonato e mantida em atmosfera com alta
concentração de CO2. B. anthracis têm cepas com cápsulas bastante espessas e resistentes
(potencializa a sobrevivência da bactéria tanto no ambiente - na forma vegetativa - quanto no
organismo animal).
Cultivo

Alta capacidade de adaptação, sobrevivem tanto em aerobiose quanto em anaerobiose →


dimorfismo colonial a depender das condições atmosféricas. B. anthracis é um anaeróbio
facultativo que se multiplica em meio de cultura comum, em temperatura de 15°C a 40°C. As
colônias alcançam o diâmetro de 2 mm, ou mais, em 24 h, em 37°C. As bactérias não produzem
zona de hemólise. A esporulação requer oxigênio e não ocorre enquanto presente em um animal
hospedeiro vivo. Nos tecidos ou fluidos infectados expostos ao ar (ou seja, carcaça aberta), os
microrganismos esporulam após várias horas.
Crescimento em aerobiose → 12 a 44 °C (37 °C). Ágar sangue é meio comum. Colônias
irregulares, friáveis (frágeis), formadas por fileiras de cadeias de bactérias (colônias do tipo
“cabeça de Medusa”). Sem cápsula mucóide.
Crescimento em anaerobiose → 15 a 40 °C (37 °C). 24 a 48 horas. 20% CO2. Meios
seletivos, com 0,7% bicarbonato. Colônias mucóides (encapsuladas → essas formam biofilme).

Aerobiose = Anaerobiose =
Resistência e habitat
Forma vegetativa também tem grande resistência ao ambiente, forma biofilme. Geralmente
habitam solo e água, são onipresentes na natureza e comumente são isolados de ampla variedade de
superfícies, solos e subprodutos oriundos de animais. Durante os períodos de privação de nutrientes,
a célula de Bacillus passa por um processo conhecido como esporulação, por meio do qual produz
um espesso endósporo resistente. Os endósporos são resistentes ao calor, à dessecação, à radiação
ultravioleta e ionizante, aos desinfetantes e a vários outros fatores ambientais adversos. Eles podem
permanecer viáveis no solo e na água por décadas, à espera de nutrientes ou, no caso de bactérias
patogênicas do gênero Bacillus, da entrada de esporos em seus respectivos hospedeiros.
Um solo rico em cálcio e nitrato, com pH de 5 a 8, favorece a esporulação e a proliferação
das bactérias em temperatura acima de 15,5°C, especialmente após inundações. A geografia e a
sazonalidade dos surtos refletem tais condições. Em bovinos, ovinos e, possivelmente, equinos, os
surtos se iniciam com alguns casos cuja contaminação foi oriunda do solo. Após a disseminação da
contaminação do local com excreções e secreções, depois da morte do animal, surgem novos casos
da doença. Enchentes e efluentes industriais de fábricas que industrializam carcaças de animais,
curtumes, tecelagem de carpetes, fábricas de escovas, ou onde quer que haja manipulação de
carcaças, podem contaminar as áreas. Farinha de osso, um suplemento alimentar de origem animal,
é um veículo comum de contaminação em áreas não endêmicas. Carnívoros (martas) geralmente são
contaminados pelo consumo de carne contaminada. Contaminações humanas ocorrem em
atividades que lidam com animais e seus derivados como, couro, lã e ossos.
Foram identificadas cepas nas quais esse gene é ativado e induz resistência à penicilina. Em
carcaças fechadas, as bactérias na variante vegetativa podem sobreviver por até 1 a 2 semanas, mas
os esporos podem permanecer em ambiente estável seco durante décadas. Os esporos são mortos
em autoclave (121°C, por 15 min) e em calor seco (150°C, por 60 min), mas não pela fervura
(100°C) por menos que 10 min. Não são muito sensíveis aos desinfetantes fenólicos, alcoólicos e
aos à base de amônio quaternário. Aldeídos, desinfetantes oxidantes e clorados, b-propiolactona e
óxido etileno são mais efetivos. Os esporos são eficientemente inativados pela exposição à solução
de cloro a 10%. A fixação de esfregaço da amostra ao calor não mata os esporos.
O solo é a fonte de infecção de antraz para herbívoros. Outras espécies, inclusive as pessoas,
são expostas por meio de animais e produtos de origem animal infectados. Transmissão → o esporo
é o modo de infecção, a qual geralmente ocorre após ingestão de alimento ou água
contaminados. Pode ocorrer exposição por meio de ferimentos infectados e picadas de
artrópodes. Infecções humanas sucedem a exposição aos esporos de pele infectada ou de outros
produtos animais e ao solo ou a exposição ao sangue ou ao tecido animal infectado.

Estrutura antigênica e toxinas


Os esporos são as variações infectantes de B. anthracis. São imunogênicos e tem se
mostrado que a adição de esporos inativados aumenta o grau de imunidade contra cepas altamente
virulentas de B. anthracis, em modelos de infecção em animais. Como o exósporo é a estrutura
mais externa do esporo, é provável que tenha importante participação nas interações com o
ambiente e com o sistema imune do hospedeiro. Relata-se que o exósporo de B. anthracis participa
na limitação de acesso a indutores de respostas de citocinas, in vitro, nos macrófagos.
A toxina consiste em três componentes antigênicos: antígeno protetor, fator de edema e fator
letal. O antígeno protetor age como uma molécula de ligação à célula do hospedeiro para o fator de
edema e o fator letal. O fator de edema é uma adenotilato ciclase, a qual aumenta os níveis de
cAMP na célula, resultando em desequilíbrio homeostático. Por fim, o fator letal é uma zinco
metaloprotease que atua em macrófagos, células dendríticas, neutrófilos e algumas células epiteliais
e endoteliais. Em doenças de ocorrência natural, os efeitos locais dessa toxina incluem aumento de
volume e escurecimento dos tecidos devido ao edema e à necrose. Quando ocorre septicemia há
aumento da permeabilidade vascular e hemorragia extensa, induzindo um quadro de choque e
morte. Para o animal morrer, precisa que a bactéria tenha os fatores I e III no plasmídeo. Para a
vacina proteger, precisa dos fatores II e III.
Fator antígeno protetor (PA) → fator II. Enzimas que potencializam as outras frações,
sendo inativadas quando sozinhas.
Toxina letal (LeTx) → fator III ou letal. A LeTx é uma toxina binária composta de
“antígeno protetor” (PA) e “fator letal” (LF). O PA é responsável pela ligação de LeTx às
“células-alvo”, enquanto o LF é responsável por sua atividade tóxica. LF resulta na apoptose das
células acometidas. A LeTx ocasiona colapsovascular (edema pleural e choque agudo). A
exposição à LeTx pode resultar em rápida lise de macrófagos e produção de citocinas
inflamatórias.
Toxina do edema (EdTx) → fator I ou edematoso. EdTx é uma toxina binária que
contém o receptor PA, o qual liga a subunidade e o “fator edema” (EF). EF é uma adenilil
ciclase dependente da calmodulina que aumenta o teor de cAMP nas células acometidas. Isso
altera as vias de sinalização celulares, resultando em alterações fisiológicas específicas ao tipo
celular. Em modelos de infecção animal, a EdTx purificada causa lesões hemorrágicas em
múltiplos órgãos, acompanhadas de hipotensão e bradicardia. Relata-se que a EdTx suprime a
agregação plaquetária induzida pela trombina e a coagulação.
Patogenia
Bacillus anthracis é um patógeno zoonótico; é o microrganismo causador de antraz, ou
carbúnculo hemático. Os esporos são adquiridos do ambiente (p. ex., do solo e de produtos animais)
e são fagocitados por macrófagos ou por células dendríticas. Os esporos germinam no
compartimento do fagolisossomo. As bactérias na variante vegetativa escapam da ação dos
fagolisossomos e, posteriormente, das células fagocíticas. Durante a replicação intracelular, as
células fagocíticas se deslocam para os linfonodos regionais. A liberação da bactéria possibilita o
acesso dos microrganismos na corrente sanguínea.
Nos tecidos, os esporos germinam e a variante vegetativa prolifera, causando edema
gelatinoso. As reações inflamatórias são mínimas. A infecção se dissemina a locais
reticuloendoteliais, e, quando estes se saturam, ocorre bacteriemia terminal, com grande quantidade
de microrganismos na circulação sanguínea. Não se constata lesão patognomônica consistente e
observam-se lesões com semelhanças consideráveis com as de outras causas tóxicas e infecciosas
de morte aguda. Os achados pós-morte incluem hemorragias disseminadas; baço friável, congesto e
escuro; sangue com aspecto de alcatrão, sem coagulação; e ausência de rigor mortis. É comum notar
hemorragia nos orifícios naturais do corpo.
Ruminantes → a progressão da enfermidade, após um período de incubação de 1 a 5 dias,
varia desde algumas horas até 2 dias. Alguns animais morrem sem manifestar sinais clínicos
evidentes. Outros desenvolvem febre alta, agalaxia e pode ocorrer aborto. Observa-se congestão
de membranas mucosas, hematúria, diarreia hemorrágica e, com frequência, edema regional, as
quais, em geral, são apresentações fatais da doença. Ocasionalmente, alguns animais são
acometidos de edema apenas localizado ou lesão cutânea ulcerativa e se recuperam.
Equinos → manifestam cólica e diarreia.
Também, desenvolvem edema, especialmente de
partes dependentes e nos locais de infecção (p.
ex., intestino ou garganta), podendo provocar
morte por asfixia. De modo alternativo, a
progressão da doença pode ser septicêmica, como
acontece em ruminantes.
Suínos → a instalação das bactérias nos
tecidos faringeanos é típica. Uma lesão ulcerativa
na porta de entrada do microrganismo está
associada a linfadenite regional. Edema obstrutivo
pode provocar morte. Às vezes, é possível notar
enterite ulcerativa hemorrágica e linfadenite
mesentérica.
Carnívoros → raramente infectados. Quando infectados, o padrão da doença é
semelhante ao verificado em suínos, embora a ingestão de grande quantidade de carne estragada
possa ocasionar septicemia.
Humanos → Antraz cutâneo = mais comum, contaminação de escoriações ou feridas
cutâneas, pústula maligna recoberta por uma crosta (escara) escura, possíveis complicações
incluem edema subcutâneo e septicemia. Antraz pulmonar = “doença do classificador de lã”,
inalação de esporos, uma condição altamente fatal, se não tratada; sintomas semelhantes à
influenza, edema pulmonar, pneumonia hemorrágica e meningite. Antraz pulmonar →
bioterrorismo.
B. anthracis normalmente não apresenta resistência aos antibióticos. O tratamento deve ser
mantido por, pelo menos, 5 dias. Em algumas regiões, administra-se antissoro, simultaneamente. O
descarte de carcaças envolve incineração (preferida) ou enterramento profundo (> 2,0 m) sob uma
camada de cal virgem (óxido de cálcio anidro). Os animais sobreviventes são isolados e tratados. O
rebanho suscetível é vacinado. As propriedades ficam sob quarentena durante as 3 semanas
subsequentes ao último caso diagnosticado. O leite de fêmeas infectadas é descartado, adotando-se
cuidados apropriados. Celeiros e cercas são desinfetados com barrela (hidróxido de sódio a 10%). A
fervura de utensílios durante 30 min mata os esporos. A descontaminação da superfície do solo com
esporos é realizada pelo tratamento com solução de ácido peracético a 3%, no volume de 8 l/m2.
Alguns outros materiais podem ser esterilizados a gás, com óxido de etileno. A prevenção de
exposição ao antraz por contato com produtos de origem animal importados de regiões endêmicas
requer a desinfecção desses artigos, como pelos e lã, com formaldeído. Farinha de osso é
esterilizada por calor seco (150°C durante 3 h) ou por vapor (115°C durante 15 min).

Diagnóstico

Coleta de amostras → secreções sanguinolentas presentes nos orifícios naturais do


organismo. Material do baço (se a carcaça foi aberta). Normas rígidas de posse ou transporte.
Exame direto → esfregaços de sangue e de órgãos são corados com o corante de Gram e
com um corante de cápsula, como o azul de metileno de McFadyean. As cadeias de bastonetes
encapsulados gram-positivos, não formadores de esporos, são sugestivas de B. anthracis. As
espécies de Bacillus contaminantes geralmente não apresentam cápsula, tampouco a aparência
retangular do bacilo de antraz.
Isolamento e identificação → B. anthracis cresce em meio de cultura laboratorial comum.
Não há evidência de zonas de hemólise ao redor das colônias, embora essa característica seja
verificada em alguns outros Bacillus contaminantes. A identificação definitiva é realizada pela
sensibilidade ao γ-bacteriófago. Inocula-se o material suspeito por via subcutânea, em animais
experimentais (camundongos, porquinhos-da-índia). A morte por antraz ocorre 24 h após a
inoculação. As lesões incluem hemorragias, exsudato gelatinoso próximo ao local de inoculação e
congestão do baço. A bactéria encapsulada é verificada no sangue e nos tecidos.
Técnicas moleculares → PCR voltados ao pXO1, ao pXO2, bem como ao gene
específico do cromossomo-alvo.

Imunidade
Na imunização de animais pecuários têm-se empregado, principalmente, vacinas de esporo
vivo modificado, as quais, atualmente, são produzidas com mutantes avirulentos (não
encapsulados). A de utilização mais ampla é a vacina Sterne (uma cepa de B. anthracis que não
contém o plasmídio pXO2). Em pacientes humanos expostos ao antraz industrial, em pesquisadores
que trabalham com B. anthracis ou em vítimas de acontecimentos com suspeita de bioterrorismo
envolvendo B. anthracis, tem-se utilizado uma vacina livre de célula, constituída de um filtrado de
cultura concentrado.

Gênero Clostridium - https://www.youtube.com/watch?v=BYQrhFLdaqg&list=PL4aSQ7e5vANP8La-MqX-g76Q7oWWXPLLS&index=6&ab_channel=Prof.DaniloStipp

Morfologia e coloração
As bactérias do gênero Clostridium são bastonetes anaeróbios
gram-positivos que formam esporos, caracterizados pela produção de
potentes toxinas extracelulares.
C. chauvoei é um bastonete gram-positivo, anaeróbio
obrigatório, móvel e que produz esporos.
C. botulinum é um bastonete gram-positivo anaeróbio
obrigatório que forma esporos. Em pH próximo e acima da
neutralidade, produz esporos ovais.
C. tetani é um bastonete gram-positivo anaeróbio obrigatório, que forma esporos. Uma
característica morfológica distinguível de C. tetani é o formato esférico e a posição terminal de seus
esporos (coxa de galinha ou raquete de tênis).

Cultivo
Clostrídios são anaeróbios, mas a exata necessidade anaeróbica varia entre as espécies. Em
geral, os clostrídios se caracterizam pela simplicidade de suas necessidades de multiplicação, ou
crescimento, embora alguns necessitem de meio relativamente rico e complexo; a ocorrência de
sangue no meio é benéfica. A temperatura ideal é 37°C. A multiplicação é observada entre 1 e 2
dias. Com frequência, as colônias apresentam forma e contornos irregulares. Vários clostrídios se
agregam em meio de cultura de ágar úmido, sem formação de colônias. A maioria dos clostrídios
produz hemólise em ágar-sangue. Em meio líquido, os clostrídios frequentemente se multiplicam no
ar disponível, contendo um agente redutor (pedaços de carne cozida e tioglicolato), embora a
multiplicação das bactérias se dê apenas nas áreas anaeróbicas do meio de cultura.
A maioria dos clostrídios apresenta metabolismo altamente ativo, sendo especializada em
metabolizar carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos. Em geral, as culturas de clostrídios
exalam um odor pútrido em decorrência da produção de ácidos graxos voláteis e de sulfeto de
hidrogênio durante a degradação fermentativa de carboidratos e proteínas. Reações bioquímicas e
seus produtos finais propiciam a base para a identificação da espécie.
C. tetani se multiplica em ágar-sangue, em condições anaeróbicas de rotina. Pode ocorrer
agregação bacteriana. Suas reações diferenciais (fermentação de carboidrato, proteólise e produção
de indol) variam de acordo com o meio utilizado.
Resistência e habitat
Sua predisposição para formar esporos é crucial para a persistência das bactérias no intestino
e no ambiente. Além disso, contribui para a dificuldade de seu controle. A variante vegetativa é tão
suscetível ao estresse ambiental e aos desinfetantes como são outras bactérias. Os endósporos
propiciam resistência à dessecação, ao calor, à irradiação e aos desinfetantes.
C. chauvoei habita intestino, fígado e outros tecidos de espécies animais suscetíveis e
resistentes. Carbúnculo sintomático ocorre em regiões endêmicas, mundialmente, nas quais se
acredita que a infecção seja adquirida do solo, inclusive de solo contaminado com fezes de animais
carreadores. A infecção do trato intestinal é seguida da disseminação do microrganismo aos tecidos
pelo fígado; a bactéria, na forma de esporo, sobrevive nos músculos de todo o corpo. O
microrganismo também pode ser introduzido em ferimentos traumáticos, a partir do solo; neste caso
pode provocar gangrena gasosa.
C. botulinum → o calor úmido em 120°C durante 5 min geralmente é letal. Há exceções.
O pH baixo e a alta salinidade exacerbam o efeito da esterilização pelo calor. Sal, nitrato e
nitrito suprimem a germinação dos esporos nos alimentos. O aquecimento a 80°C durante 20
min inativa a toxina. Os 7 tipos de toxinas diferem quanto a antigenicidade, resistência ao calor
e letalidade, nas diferentes espécies animais (provavelmente relacionadas com a quantidade de
receptores na superfície do neurônio motor). Os reservatórios de C. botulinum incluem solos e
sedimentos aquáticos. As fontes de intoxicação são materiais oriundos de animais e plantas
contaminados. Quando os animais morrem, os esporos de C. botulinum, comumente presentes no
intestino e nos tecidos, germinam e produzem toxina, a qual pode contaminar o ambiente onde os
animais são criados. Além da toxina ingerida, a ingestão de esporo e a contaminação de ferimento
podem provocar botulismo. Os tipos A e B são encontrados em todos os solos, inclusive em solos
virgens; os tipos C, D, E e F estão presentes em ambientes úmidos (solos lamacentos ou sedimentos
aquáticos).
C. tetani → os esporos resistem à fervura por até 1,5 h, mas não à autoclavagem (121°C,
por 10 min). A desinfecção pelo uso de alguns compostos halogênicos (solução de iodo 3%)
pode ser efetiva por várias horas. Todavia, as concentrações usuais de fenol, lisol e formalina
não são efetivas. C. tetani está amplamente distribuído no solo e, com frequência, sua presença no
intestino é transitória. Os esporos são introduzidos em ferimentos. Ferimentos penetrantes em pata
ocasionados por prego, realização de cirurgia em curral, uso de fitas de borracha para castração e
caudectomia em ovinos, colocação de brinco, injeção, ferimentos de tosquia, infecção uterina pós-
parto, infecção umbilical do neonato, briga entre pequenos animais e amarração de membros
predispõem ao tipo de lesão e à contaminação fecal e do solo associada ao tétano.
Estrutura antigênica e toxinas
Há considerável diversidade antigênica intraespecífica celular, bem como reação cruzada
interespecífica, mas isso é menos importante que as propriedades antigênicas das toxinas, pois estas
últimas são fundamentais para a imunidade.
C. chauvoei → alfatoxina é uma hemolisina estável em ambiente com oxigênio. DNAase
(“betatoxina”) e neuraminidase (sialidase) removem os resíduos de ácido siálico de glicoconjugados
da parede celular de células eucarióticas, desarranjam a matriz intercelular. Chauveolisina
(“gamatoxina”) é uma citolosina ligadora de colesterol, liga-se a microdomínios que contenham
colesterol na membrana da célula eucariótica para formar um poro, o que resulta na morte da célula.
C. botulinum → produz várias proteínas com atividade “tóxica” (toxina botulínica, toxina
C2 e exoenzima C3), mas apenas a toxina botulínica tem participação fundamental na
ocorrência de botulismo. Há 7 tipos de toxina botulínica (BoNT), são endopeptidases de zinco,
cujas atividades são idênticas, ou seja, provocam hidrólise das proteínas de ligação necessárias
para a fusão das vesículas que contêm neurotransmissores com a membrana pré-sináptica.
Embora o resultado final seja o mesmo (bloqueio da liberação de neurotransmissor), os vários
tipos de BoNT hidrolisam diferentes proteínas de ligação. Após a hidrólise, a sinapse se
degenera e sua regeneração pode demorar semanas a meses. BoNT se liga às células do nervo
colinérgico; cada tipo de BoNT se liga a um diferente receptor. Após a ligação, a toxina é
internalizada por meio da endocitose mediada por receptor. Vesículas que contêm BoNT
permanecem na junção neuromuscular. Após a clivagem, a cadeia leve (endopeptidase de zinco)
atravessa a membrana da vesícula e alcança o citosol da célula nervosa, onde hidrolisa as
proteínas de ligação.
C. tetani → produz duas toxinas (tetanolisina e toxina tetânica = tetanoespasmina), embora
somente a toxina tetânica (TeNT) tenha importância clínica. TeNT, uma endopeptidase de zinco,
que hidrolisa as proteínas de ligação necessárias para a fusão das vesículas que contêm
neurotransmissores com a membrana pré-sináptica. TeNT se liga às células do nervo colinérgico
por meio de receptores diferentes daqueles identificados por BoNT. Após a ligação, a toxina é
internalizada por meio de endocitose mediada por receptor. As vesículas que contêm TeNT são
transportadas por uma via axônica retrógrada até os interneurônios inibidores do corno ventral da
medula espinal. Após a clivagem, a cadeia leve (a endopeptidase de zinco) se desloca através da
membrana da vesícula para o citosol da célula nervosa, onde hidrolisa as proteínas de ligação
envolvidas com as vesículas que contêm os neurotransmissores ácido gama-aminobutírico e glicina.
A tetanolisina promove lise das hemácias, impede que o O2 chegue = microaerofilia e anaerobiose,
ativação da tetanospasmina.
Patogenia
Infecções clostridianas são graves dadas as potentes toxinas produzidas pelos clostrídios.
C. chauvoei causa miosite endógena necrosante
enfisematosa (carbúnculo sintomático ou blackleg), em bovinos.
Carbúnculo sintomático → coloração enegrecida característica
do músculo acometido, com enfisema decorrente da produção
de gás por C. chauvoei, no centro do músculo necrosado. A
disseminação de esporos oriundos do intestino pelos tecidos,
especialmente aos músculos esqueléticos, precede a ocorrência
da doença em bovinos. Condições que favorecem a germinação
dos esporos, com subsequente multiplicação bacteriana e
produção de toxina, ocasionam lesões locais manifestadas por
edema, hemorragia e necrose miofibrilar, bem como toxemia
sistêmica. Anoxia muscular (por lesão, por exemplo) = ativação de
esporos (germinação). A alfatoxina necrosante, juntamente com outras
exotoxinas mencionadas, é responsável pelas lesões iniciais. O
metabolismo bacteriano com produção de gás utilizando a fermentação
pode ser um fator contribuinte. Os centros das lesões tornam-se secos,
escuros e enfisematosos, em razão da natureza necrosante da infecção,
enquanto a periferia das lesões é edematosa e hemorrágica. Um odor de
manteiga rançosa é típico. Clinicamente, constatam-se febre alta,
anorexia e apatia. É comum o desenvolvimento de claudicação aguda. As
lesões superficiais provocam tumefações visíveis, nas quais se observa
crepitação ao serem palpadas. Embora o carbúnculo sintomático, em
geral, acometa um dos principais músculos dos membros, às vezes, o
local da infecção envolve músculos menores, como diafragma, miocárdio
ou língua. Alguns animais morrem subitamente, outros dentro de 1 ou 2
dias. Inicialmente, deve-se administrar penicilina, por via intravenosa,
prosseguindo o tratamento com preparações de uso intramuscular. Nas regiões endêmicas, os
bovinos são vacinados contra carbúnculo sintomático aos 3 a 6 meses de idade e, em seguida,
anualmente. A vacinação deve preceder a época de exposição em, pelo menos, 2 semanas. Durante
um surto, todos os bovinos são vacinados e tratados com penicilina de longa duração.
C. botulinum causa botulismo, uma intoxicação
neuroparalítica caracterizada por paralisia flácida. A
intoxicação é provocada por qualquer uma das sete
proteínas que atuam como neurotoxinas (A a G). 1 mg
da toxina pode matar uma pessoa. A BoNT ingerida é
absorvida na região glandular do estômago e no
intestino delgado anterior e distribuída pela corrente
sanguínea. Ademais, liga-se aos receptores e penetra
nas células nervosas, após endocitose mediada por
receptores. A sinapse se degenera e resulta em
paralisia flácida dada a ausência de neurotransmissor
(acetilcolina). Quando isso acomete os músculos
respiratórios, o paciente morre em decorrência da
insuficiência respiratória. Não há lesões primárias. Os
sinais clínicos refletem a inibição da liberação de
acetilcolina no seu local de ação, incluem não
coordenação muscular que leva ao decúbito, protrusão
da língua e distúrbios de preensão de alimentos, de
mastigação e de deglutição. Não ocorre alteração da
consciência. A temperatura permanece normal, a
menos que haja infecção secundária, como pneumonia
por aspiração. Nos casos não fatais, a recuperação é
lenta e os sintomas remanescentes podem persistir
durante meses. Caso se suspeite de ingestão recente de
material infectado, são úteis o esvaziamento do
estômago e o emprego de purgantes (laxantes). Às
vezes, o tratamento com antitoxina após o início dos
sintomas é benéfico, especialmente em martas e patos,
mas prefere-se, infinitamente, a prevenção pelo uso de vacina. Martas e outros animais em risco
devem ser vacinados com toxoides (tipos A, B, C e D).

C. tetani → a germinação dos esporos requer um ambiente anaeróbico, como aquele


verificado em tecidos desvitalizados por contusão, queimadura, laceração, comprometimento ao
suprimento sanguíneo (p. ex., coto umbilical ou restos placentários) ou infecção bacteriana.
Nessas condições, C. tetani prolifera e sua toxina se difunde pelos canais vasculares ou de troncos
nervosos periféricos. A toxina se fixa aos receptores do nervo colinérgico mais próximo e é
internalizada em uma vesícula, que se desloca em direção retrógrada no interior dos axônios, até os
corpos celulares dos cornos ventrais da medula espinal. A cadeia leve da toxina se desloca através
da membrana da vesícula para o citosol, onde hidrolisa as proteínas de ligação e suprime a liberação
de substâncias mensageiras inibidoras aferentes (glicina e ácido gama-aminobutírico), fazendo com
que os músculos inervados permaneçam em espasmos clônicos ou tônicos, sustentados. A toxina
também se desloca da medula para outras partes, envolvendo outros grupos de músculos. Após a
hidrólise das proteínas de ligação vesiculares, as sinapses degeneram; sua regeneração demora
várias semanas. A enfermidade relatada (“tétano ascendente”) é característica de animais que não
são muito suscetíveis à toxina tetânica (p. ex., cães e gatos). “Tétano descendente” (uma toxemia
generalizada) é típico de espécies altamente suscetíveis (equinos e humanos). Os sintomas iniciais,
após um período de incubação de alguns dias a várias semanas, incluem rigidez, tremores
musculares e maior sensibilidade aos estímulos. Em equinos, ruminantes e suínos, os quais
geralmente desenvolvem tétano descendente, constata-se retração da terceira pálpebra (em razão de
espasmos de músculos oftálmicos), orelhas eretas, ranger de dentes e rigidez de cauda. Em
ruminantes, é comum a ocorrência de timpanismo. A alimentação torna-se impossível (“trismo
mandibular”). A rigidez das extremidades ocasiona postura “de cavalete” e, por fim, decúbito.
Inicialmente, os espasmos tetânicos se manifestam como uma resposta ao estímulo e posteriormente
tornam-se permanentes. Observa-se retenção de fezes e urina, sudorese e febre alta. Opistótono. O
paciente permanece consciente. Cordeiros e leitões morrem em decorrência da parada respiratória,
na primeira semana; os animais adultos morrem entre 1 e 2 semanas. A recuperação completa
demora de semanas a meses. Em carnívoros, o período de incubação tende a ser mais longo e, com
frequência, o local (ascendente) de tétano (rigidez e tremores) é notado próximo ao ferimento
original. A progressão pode ser mais lenta que em animais ungulados, mas os sinais clínicos e o
curso da doença são semelhantes. O tratamento objetiva neutralizar a toxina circulante, suprimir a
produção de toxina e manter a vida e aliviar os sintomas do paciente. O tratamento do ferimento e a
aplicação parenteral de penicilina ou metronidazol objetivam cessar a produção de toxina. O
tratamento de suporte inclui o uso de sedativos e relaxantes musculares e a prevenção de estímulos
externos. Pode ser necessária alimentação artificial por meio de um tubo estomacal ou por injeção
intravenosa, após a fase de hiperestesia. Os cuidados de enfermagem são os mais importantes.

Diagnóstico
C. chauvoei requer condições anaeróbicas rigorosas e meio de cultura rico em cisteína e
vitaminas hidrossolúveis. Fermenta sacarose, mas não salicina, e não se multiplica em temperatura
de 44°C. O uso de primers de DNA para ampliar as regiões espaçadoras 16S-23S do DNA (por
meio de PCR) possibilita diferenciar C. septicum de C. chauvoei. Esse teste também pode ser
utilizado para detectar microrganismos nos tecidos.
O diagnóstico de botulismo requer a constatação da toxina no plasma ou nos tecidos, antes
da morte do paciente ou em carcaça de animal morto recentemente. O isolamento do
microrganismo, especialmente do conteúdo intestinal, ou detecção de toxina após a morte não é um
achado definitivo. A detecção de toxina em alimentos, conteúdo estomacal fresco ou material de
vômito sustenta o diagnóstico de botulismo.
Um esfregaço de ferimento suspeito corado pela técnica de Gram pode revelar uma bactéria
típica, “em formato de raquete de tênis”. Sua ausência não exclui a possibilidade de tétano, e sua
presença é meramente sugestiva, quando a morfologia não é característica. Faz-se a semeadura do
exsudato da ferida em ágar-sangue, em ambiente anaeróbico. O aumento do conteúdo de ágar (até
4%) inibe a agregação das bactérias, enquanto a colocação de uma gota de antitoxina inibe a
hemólise nesta área da placa. Também
podem ser utilizados primers preparados
para ampliar o gene que codifica a toxina
tetânica (por meio de PCR), a fim de
confirmar o isolamento de C. tetani.

Imunidade
Anticorpos circulantes contra toxinas e componentes celulares parecem determinar a
resistência a C. chauvoei. As vacinas comerciais com formalina e adjuvante incluem componentes
de até 6 outras espécies de clostrídios (Clostridium haemolyticum, C. novyi, C. perfringens tipos C e
D, C. septicum e C. sordellii).
A resistência ao botulismo depende da antitoxina circulante. Alguns animais se alimentam
de cadáveres, como abutres, que parecem adquirir imunidade mediante repetidas exposições
subletais à toxina.
TeNT é antigenicamente homogênea. A resistência adquirida ao tétano depende da
antitoxina circulante. Em ruminantes sadios, tem-se detectado pequena quantidade.
Surpreendentemente, mas, dada sua alta toxicidade, os pacientes que sobrevivem ao tétano, com
possível exceção de cães e gatos, são suscetíveis a nova infecção. Em cães e gatos, às vezes, a
quantidade de toxina necessária para causar tétano é grande o suficiente para induzir uma resposta
contra a toxina. As proteções passiva e ativa são obtidas pela administração de antitoxina e de
vacina contendo toxóide, respectivamente Na imunização ativa, emprega-se toxoide formalizado,
em duas doses, com intervalo de 1 a 2 meses e, em seguida, anualmente; todavia, é cada vez mais
comum um sistema de imunização menos frequente. Todas as espécies altamente suscetíveis, em
especial equinos, humanos e ovinos, devem ser vacinadas contra tétano. As recomendações contidas
na bula devem ser obedecidas. Ao se administrar toxoide, ocorre transferência de imunidade passiva
da égua imunizada ao potro recém-nascido, propiciando proteção durante cerca de 10 semanas.

Família Enterobacteriaceae - https://www.youtube.com/watch?v=1x8H6Y6SYR4&list=PL4aSQ7e5vANP8La-MqX-g76Q7oWWXPLLS&index=8&ab_channel=Prof.DaniloStipp

Importância: distribuição mundial (solo, água,


alimentos), flora intestinal dos animais.
Bacilos gram-negativos. Não esporulados. Pilli
(transferência de informação genética - resistência a
antibióticos). Anaeróbios facultativos. Catalase positivas.
Oxidase negativas. Fermentadoras de glicose. Reduzem
nitrato a nitrito.
Transmissão: ocupacional ou fômites (E. coli,
Enterobacter). Alimentos contaminados (Salmonella,
Shigella, Yersinia).
Provas bioquímicas pesam no diagnóstico → fermentação de
carboidratos (em anaerobiose) para diferenciar gêneros (apenas cultivo
bacteriológico e microscopia são insuficientes para diferenciar). Exemplo de
CHO testados = lactose, sacarose, xilose (lisina), glicose etc.

Gênero Salmonella

Morfologia e coloração
Bacilos curtos gram-negativos. Aeróbias facultativas. Não encapsuladas. Flagelo peritríquio
(mobilidade - exceto S. pullorum e S. gallinarum, imóveis) e fímbrias (adesão). Inúmeros sorovares,
cujo principal = S. typhimurium. Apresentam plasmídeos de virulência.
Resistência e habitat
Sistema gastrintestinal de animais de sangue quente e de sangue frio. Fontes de infecções
incluem solo, vegetação, água e alimentos oriundos de animais contaminados (como osso, carne e
farinha de peixe), em especial aqueles que contêm derivados de leite, carne ou ovos, bem como as
fezes de indivíduos infectados.
As salmonelas são transmitidas principalmente por via orofecal, frequentemente por meio da
ingestão de alimento e água contaminados. A consequência da interação entre hospedeiro e
Salmonella depende do estado de resistência à colonização do hospedeiro, da dose infectante e das
espécies ou dos sorotipos particulares de Salmonella. Após a ingestão da bactéria pode ou não
ocorrer doença. Caso ocorra, pode ser imediatamente depois ou em algum momento após a
ingestão. Neste último caso, a interação inicial pode resultar em colonização (sem doença) do
hospedeiro; contudo, no caso de alteração do ambiente intestinal provocada, por exemplo, por
estresse ou pelo uso de antibiótico (condições que interferem na flora normal), a doença pode
progredir.
Estrutura antigênica e toxinas

Antígenos: somático (O) → LPS da parede celular, alteração do sorovar, aspecto colonial
(lisa vs rugosa). Flagelar (H) → proteínas lábeis/suscetíveis ao calor, flagelinas. De virulência (Vi)
→ apenas na S. typhi (febre tifoide em humanos).
Enterotoxina: Stn, sem evidência de que seja enterotoxigênica, mas parece participar na
manutenção da integridade da membrana da bactéria.
Patogenia
Diarréia (mais comum) e septicemia. Os fatores associados ao hospedeiro incluem idade,
condição imune, doença concomitante e composição da flora normal (ou seja, que propicia
resistência à colonização).
As células-alvo são as células M do epitélio associado ao folículo, que reveste o tecido
linfático associado ao intestino, na parte distal do intestino delgado e na porção superior do intestino
grosso. A carência de flora competitiva resultante de deficiência nutricional, de estresse ou do uso
de antibiótico pode reduzir potencialmente a dose infectante. Após a adesão, as salmonelas são
internalizadas. A célula-alvo é irreversivelmente danificada por esta interação, progredindo para
apoptose. Neste momento, as salmonelas são encontradas nas células-alvo, nos linfonodos e em
tecidos da submucosa. Inicia-se uma resposta inflamatória pela liberação de várias quimiocinas
pelas células hospedeiras infectadas, bem como pela liberação de citocinas pró-inflamatórias após a
interação da célula hospedeira com o LPS da parede celular da bactéria – condição que resulta em
influxo de leucócitos polimorfonucleares (PMN) e macrófagos. Fagocitose eficiente se sistema
imune competente. Diarreia devido à secreção de íons cloreto e água. Se a cepa infectante de
Salmonella tiver propriedades que possibilitem sua disseminação pode ocorrer septicemia. A
probabilidade de isso acontecer é maior quando a condição imune do hospedeiro encontra-se
prejudicada. As salmonelas se disseminam e crescem no interior das células fagocíticas
(principalmente nos macrófagos), nos fagossomos. Após a disseminação sistêmica da salmonela,
podem se instalar septicemia e choque endotóxico. Cepas que causam esse tipo de doença se livram
dos mecanismos de destruição do hospedeiro e crescem nos macrófagos do fígado e do baço, assim
como no ambiente intravascular. Salmonelas invasoras são capazes de secretar um sideróforo, a
salmoquelina, que remove ferro das proteínas ligadoras de ferro do hospedeiro. O crescimento
descontrolado do microrganismo resulta em endotoxemia, lesão vascular grave e morte do paciente.
Se a infecção se limitar ao sistema gastrintestinal, a lesão consiste em uma inflamação
fibrinossupurativa, necrosante e hemorrágica na parte distal do intestino delgado e no intestino
grosso. O fígado frequentemente apresenta inflamação necrosante multifocal aleatória, a qual reflete
a disseminação bacteriana pela veia porta e a fagocitose pelas células de Kupffer, sem a morte
efetiva das bactérias. Na apresentação septicêmica da doença pode haver alteração fibrinóide nos
vasos sanguíneos de vários órgãos, bem como vasculite, tromboembolismo, hemorragias e infarto.
Ruminantes → salmonelose acomete animais jovens (em geral, com 4 a 6 semanas de
idade) e animais adultos, embora os bezerros neonatos também possam ser afetados,
especialmente os de rebanhos leiteiros. Os animais mantidos em confinamento e os de rebanhos
leiteiros são comumente infectados. A doença pode se manifestar sob a apresentação de
septicemia ou se limitar a uma condição de enterite ou de enterocolite. Pneumonia, adquirida
por via hematógena, é um sintoma comum da doença em bezerros com septicemia causada por
S. Dublin. A septicemia pode ser acompanhada de aborto. S. Typhimurium, S. Dublin e S. Newport
são os sorotipos comumente isolados de bovinos; S. Typhimurium é o principal sorotipo que
acomete ovinos.
Suínos → septicemia aguda fulminante ou doença intestinal debilitante crônica. A
doença é mais frequentemente observada em suínos submetidos a estresse. Tal condição é
notada com frequência em suínos de engorda, um grupo etário no qual é comum a ocorrência
de salmonelose. S. Typhimurium e S. Choleraesuis são os sorotipos predominantes.
Equinos → adultos (comum). Diarreia ou septicemia. Cólica, cirurgia gastrintestinal e
medicamentos antimicrobianos predispõem os equinos ao desenvolvimento de sinais clínicos. S.
Typhimurium e S. Anatum.
Cães e gatos → rara. Quando ocorre na forma de surto, geralmente está associada a uma
fonte comum, como ração de cães ou “petiscos” (p. ex., orelhas de porcos desidratadas)
contaminados. Em gatos com sinais de septicemia, Salmonella deve estar no início da lista de
diagnósticos microbiológicos diferenciais.
Aves domésticas → salmonelose paratifóide, pulorose, tifo aviário, arizonose aviária.
Cuidado de enfermagem é o principal procedimento terapêutico para a apresentação entérica
de salmonelose. O uso de medicamentos antimicrobianos é controverso. A salmonelose é controlada
por meio de atenção rigorosa aos protocolos destinados a restringir a disseminação de qualquer
microrganismo contagioso presente nas fezes aos animais suscetíveis. Tem-se tentado o tratamento
e a prevenção de endotoxemia provocada pela forma sistêmica da doença por meio da
administração de soro contendo anticorpos contra o núcleo do LPS.
Diagnóstico
Meios seletivos: Salmonella-Shigella Ágar (para esses gêneros) e Ágar
MacConkey (para gram-negativas, menos seletivo). 37 °C.
Características bioquímicas: Salmonella fermentam citrato (fica azul/escuro).
Transformam nitrato em nitrito. Não produzem indol nem urease. Fermentam glicose.

Nos casos de infecção intestinal, coletam-se amostras de fezes; na doença sistêmica, coleta-
se uma amostra de sangue para hemocultura padrão. Amostras de baço e de medula óssea são
submetidas à cultura para salmonela, quando é necessário o diagnóstico pós-morte de salmonelose
sistêmica. Amostras de fezes frescas são depositadas em meios nutrientes, por exemplo, ágar-
sangue, e em um ou mais meios seletivos, incluindo ágar MacConkey, ágar xilose-lisina
desoxicolato (XLD), meio entérico de Hektoen e ágar verde-brilhante. Em meios que contêm
lactose, as salmonelas se apresentam como colônias não fermentadoras de lactose. Como a maioria
dos sorotipos de salmonela produz H2S, em meios de cultura que contêm ferro (p. ex., ágar XLD),
as colônias apresentam um centro preto. As colônias suspeitas podem ser testadas diretamente com
antissoro polivalente anti-Salmonella ou ser inoculadas em meios de diferenciação, e, em seguida,
ser testadas com antissoro. A identificação definitiva da bactéria requer a determinação dos
antígenos somáticos e flagelares e, possivelmente, do tipo de bacteriófago. Reação em cadeia da
polimerase (PCR) foram desenvolvidos para a identificação da bactéria, bem como para sua
detecção em amostras (alimento, fezes e água) que contenham outros microrganismos.
Imunidade
A proteção depende tanto da imunidade adaptativa quanto da imunidade inata. Floras
competitivas auxiliam na redução da quantidade de patógenos pela competição por nutrientes,
indisponibilizando receptores e produzindo compostos tóxicos. Microbianos adicionados
diretamente ao alimento, como algumas cepas de Lactobacillus acidophilus ou outras bactérias,
podem auxiliar na prevenção de infecções por meio de exclusão competitiva do patógeno. No
entanto, apenas é possível propiciar proteção completa mediante a resposta imune adaptativa na
forma de anticorpos específicos e células T. Os anticorpos específicos para as estruturas da
superfície de Salmonella, possivelmente adesinas, impedem a adesão do microrganismo às células-
alvo. O neonato obtém proteção passiva por meio da ingestão de colostro com sIgA ou IgG1
(bovinos) específica. O animal imunologicamente maduro é protegido pela secreção ativa de
imunoglobulinas específicas (IgM, IgG ou IgA) no lúmen intestinal por plasmócitos, na lâmina
própria, o que impede a adesão e penetração da bactéria nas células epiteliais do intestino.
Os anticorpos circulantes atuam como opsoninas e promovem fagocitose do microrganismo.
A destruição de salmonelas fagocitadas resulta na ativação imune dos macrófagos por linfócitos
especificamente estimulados (células TH1). Células NK fazem a lise das células infectadas por
Salmonella. Imunidade adquirida → após a interação inicial entre salmonela e macrófago, ocorre
liberação de IL-12 pelos macrófagos infectados. A IL-12 ativa o subconjunto TH1 de células T
auxiliadoras. Esse subconjunto secreta, dentre outras citocinas, a interferona-γ, a qual ativa
macrófagos. Os macrófagos ativados são eficientes matadores de salmonelas presentes no
compartimento intracelular.

Gênero Escherichia

Morfologia e coloração
Escherichia são bastonetes gram-negativos cilíndricos retos, com extremidades
arredondadas. A parede celular contém lipopolissacarídeos (LPS), proteínas de membrana externa,
lipoproteínas, porinas e uma fina camada de peptidoglicano. Flagelo peritríquio (móveis). Fímbrias
(adesão) e pilli (troca de informações genéticas).
Cultivo (mais em diagnóstico)
Fermentam a glicose e outros açúcares e são oxidase-negativas. São catalase-positivas, não
formadoras de esporos e anaeróbias facultativas, as quais crescem bem em ágar MacConkey
(colônias róseas). Mesófilas. Hemolíticas em ágar-sangue.

Resistência e habitat
Escherichia coli é a única espécie que inclui importantes patógenos de animais. Várias cepas
de E. coli são comensais do sistema digestório, especialmente de intestino grosso; no entanto, várias
cepas também são patógenos oportunistas ou primários. E. coli encontra-se amplamente distribuída
em cepas diarreicogênicas e extraintestinais.
As cepas de E. coli capazes de causar doenças habitam o sistema digestório inferior e são
abundantes nos ambientes em que os animais são criados. Acredita-se que a transmissão ocorra por
via fecal-oral. O sistema digestório inferior tem sido considerado como “habitat principal” e o
ambiente externo do animal o “habitat secundário” de E. coli. Isso reflete a importância do sistema
digestório inferior no fornecimento de nutrientes necessários e temperatura adequada para que haja
uma condição apropriada para o crescimento de E. coli (um mesófilo) e, também, a possibilidade de
sair de um hospedeiro para infectar um novo hospedeiro, para completar o seu “ciclo biológico”.
Estrutura antigênica e toxinas
As células que apresentam uma camada completa de LPS geralmente expressam um
antígeno O, embora nem todas sejam passíveis de sorotipagem. As células podem expressar cápsula
(antígeno K), flagelo (antígeno H) e adesinas (antígeno F, fimbrial) → inúmeros sorotipos.
E. coli produz quatro diferentes enterotoxinas e outras. LT é sensível quando aquecida a
70°C durante 10 min, enquanto ST e STb são resistentes à temperatura de 100°C por 15 min.
Enterotoxina sensível a calor (LT) → culmina em secreção excessiva de íons Cl– e
bicarbonato (HCO3–) no lúmen intestinal → potencial transmural ocasiona difusão de Na+ ao
lúmen do intestino → aumento da concentração de Na+ no lúmen intestinal resulta em elevação
da pressão osmótica e difusão correspondente de água ao lúmen intestinal = diarreia. Um
segundo mecanismo pelo qual a LT pode causar diarreia secretora é por meio do estímulo à
síntese de prostaglandinas do tipo E (p. ex., PGE2) e do fator de ativação plaquetária (PAF) →
no intestino, as prostaglandinas, inclusive a PGE2, apresentam efeitos pró-secreção e
antiabsorção, por meio da indução de absorção de Ca2+, ativação da proteinoquinase C e
aumento de cAMP intracelular nas células-alvo, como neurônios e células epiteliais. Ademais, a
PGE2 provoca aumento na transcrição de citocinas pró-inflamatórias, como de interleucina-6
(IL-6). Um terceiro mecanismo pelo qual LT pode causar diarreia secretora é mediante a
estimulação do sistema nervoso entérico (SNE) → provoca liberação de polipeptídio vasoativo
intestinal (VIP) → efeitos pró-estimuladores e antiabsorção.
Enterotoxina-a resistente a calor (STa) → STa é ativa nos enterócitos de várias espécies (p.
ex., em seres humanos, camundongos, suínos e bovinos) e provoca acúmulo de fluidos em alças
intestinais ligadas de camundongos e de suínos neonatos e como doença natural causa
principalmente diarreia em animais neonatos.
Enterotoxina-b resistente ao calor (STb) → acredita-se que STb esteja envolvida apenas
com doença em suínos. Provoca aumento do teor de cálcio, que regula as atividades das
fosfolipases A2 e C, e a liberação de ácido araquidônico pelos fosfolipídios das membranas, com
produção de PGE2 e serotonina. A PGE2 e a serotonina, no intestino, apresentam efeitos pró-
secretores e antiabsorção. STb provoca secreção de HCO3– e Cl– (mas especialmente do
primeiro) pelos enterócitos, o que resulta na difusão de Na+ e acúmulo osmótico de água no
lúmen intestinal = diarreia.
Toxina 1 de E. coli enteroagregativa resistente a calor (EAST1) → ainda há necessidade de
esclarecimentos sobre sua participação como causa de diarreia, além da participação em outras
manifestações clínicas da doença.
Toxina Shiga → o efeito clínico patológico da lesão tecidual mediada por Stx é notado
principalmente no paciente humano e se manifesta como diarreia sanguinolenta causada por
colite hemorrágica e SUH (síndrome urêmica hemolítica). A maioria dessas reações se deve aos
efeitos diretos e indiretos da Stx (apoptose de endotélio e expressão de citocina suprarregulada
por monócitos, macrófagos e outras células). Devido à similaridade da verotoxina com a toxina
Shiga da disenteria shigellar, ela também é denominada Shiga-like Toxine I e II.
Fator de necrose citotóxica (CNF) → provoca reorganização do citoesqueleto de actina,
com formação de fibras de estresse, ondulação da membrana e filopodia. As células tornam-se
achatadas e multinucleadas e aumenta sua atividade fagocítica. CNF também ativa NF-κB,
resultando em maior expressão de citocinas pró-inflamatórias e proteção das células contra
estímulo apoptótico. CNF1 = meningite em crianças. CNF-2 é produzido por E. coli isolada de
intestino de bezerros com diarreia ou de sangue de bezerros ou cordeiros com bacteremia.
Toxina de distensão citoletal (CDT) → cessação do desenvolvimento na fase GM2/M do
ciclo celular e, por fim, provocam a morte celular.
α-hemolisina (αHly) → exotoxina proteica formadora de poro produzida por um sistema
de secreção tipo I. É comumente sintetizada por cepas de E. coli extraintestinal isoladas de
pessoas e animais. Hly causa hemólise. Neutrófilos expostos à concentração sublítica de Hly
apresentam prejuízo à capacidade de responder aos estímulos quimiotáticos, de realizar fagocitose e
de ocasionar morte bacteriana. Além disso, a exposição de neutrófilos a concentrações sublíticas de
Hly ocasiona liberação de mediadores inflamatórios que podem provocar lesão tecidual e aumento
da capacidade das bactérias em se livrar da barreira epitelial.
Êntero-hemolisina (Ehx) → suas características de virulência são praticamente as mesmas
mencionadas para α-hemolisina.
Citolisina A (Cly) → hemolisina críptica, proteína formadora de poro. Considerando que
a proteína tem atividade hemolítica, presume-se que, in vivo, tenha uma participação potencial
na liberação de ferro dos eritrócitos.
Uma medida de variabilidade de E. coli consiste na composição antigênica das unidades de
antígenos O repetidos (tipo de subunidades de açúcar; como as subunidades se encurvam
concomitantemente; e o comprimento da cadeia), na composição da proteína flagelar (flagelina) e
na composição da cápsula. Os antígenos O, H e K são utilizados na sorotipagem de um isolado
bacteriano em particular.
Patogenia
E. coli diarreicogênicas são patógenos
economicamente importantes em bezerros, cordeiros e
leitões neonatos. As infecções diarreicas pós-desmame
também são importantes em suínos. As infecções
extraintestinais comumente se instalam no sistema
urinário, no umbigo, no sangue, no pulmão e em
ferimentos em quaisquer locais, e estas infecções
acometem a maioria das espécies animais. E. coli causa
septicemia em neonatos da maioria das espécies, porém,
especialmente em bezerros, leitões, cordeiros, potros,
filhotes de cães e filhotes de gatos, e provocam
septicemia oportunista em animais mais velhos que
apresentam imunossupressão. Nas espécies aviárias, E.
coli é uma importante causa de saculite, pneumonia, septicemia e onfalite.
Diarreia enterotoxigênica → acomete leitões neonatos, bezerros e cordeiros e leitões
recém-desmamados. Tem sido relatada em cães e equinos. Após a ingestão pelo hospedeiro, as
cepas de E. coli enterotoxigênicas aderem às células-alvo, crescem e secretam enterotoxina. Fluidos
e eletrólitos se acumulam no lúmen do intestino, resultando em diarreia, desidratação e
desequilíbrios eletrolíticos. Com o tempo, a cepa infectante se desloca distalmente para longe da
célula-alvo, e a doença cessa, provavelmente por causa, em parte, da interrupção da expressão de
adesina, juntamente com a diminuição do substrato disponível após um crescimento quase que
explosivo da cepa no intestino delgado. A menos que se adotem medidas para corrigir o
desequilíbrio hidroeletrolítico, a doença responde por alta taxa de mortalidade. A diarreia é aquosa e
não sanguinolenta. Há alterações inflamatórias mínimas, se presentes, no intestino delgado.
E. coli extraintestinal → a contaminação de animais suscetíveis (geralmente um neonato
que recebeu quantidade inadequada de colostro ou colostro de baixa qualidade) por cepas de E.
coli com alguma capacidade para invadir o epitélio intestinal e são capazes de sobreviver fora do
intestino, pode ocorrer pela via conjuntival, pelo umbigo tratado inapropriadamente ou por
meio de ingestão. Em seguida, alcançam os vasos linfáticos e, após, a corrente sanguínea →
instala-se endotoxemia. Se a terapia antibacteriana, o sistema imune ou ambos não eliminam os
microrganismos, o hospedeiro morre. Elas podem se livrar da fagocitose e da lise mediada por
complemento. Nos exames histopatológicos, observam-se alterações inflamatórias no fígado, no
baço, nas articulações e nas meninges. Pode haver hemorragias no pericárdio, nas superfícies
peritoneais e no córtex adrenal. Infecções extraintestinais localizadas em animais adultos, muitas
vezes decorrentes de invasão oportunista, podem envolver o trato urinário, a glândula mamária e o
útero.
E. coli enteropatogênica (EPEC) → causam diarreia em todas as espécies animais,
inclusive em seres humanos. Mais notavelmente, provocam lesões de aderência/achatamento
(A/E) no intestino delgado de pessoas, com colonização dessa parte do intestino. Nos animais,
EPEC coloniza e provoca lesões A/E tanto no intestino delgado quanto no grosso. A lesão
característica é assim denominada porque as microvilosidades se apresentam achatadas e nesses
locais de achatamento as bactérias se fixam firmemente à membrana plasmática apical.
E. coli produtora da toxina Shiga (STEC) → os bovinos são os hospedeiros reservatórios
de STEC. Os pacientes humanos são altamente suscetíveis aos efeitos de Stx, enquanto os
bovinos não. Humanos são suscetíveis a necrose vascular, trombose e infarto no intestino
grosso, que se manifesta como colite hemorrágica. Aproximadamente de 5 a 10% desses
pacientes desenvolvem sequelas após a diarreia, condição denominada síndrome urêmica
hemolítica (SUH). Clinicamente, a SUH é caracterizada por anemia hemolítica
microangiopática, trombocitopenia e uremia. Os pacientes humanos se infectam
principalmente após a ingestão de alimento e água contaminados ou por contato direto com
hospedeiros reservatórios (todos os ruminantes). Animais de zoológicos tornaram-se uma fonte
de infecção. Em abatedouros, a superfície da carcaça é contaminada por microrganismos fecais.
Geralmente as superfícies de corte da carne oriunda de carcaça contaminada são
apropriadamente descontaminadas pelo cozimento.
Doença do edema → enterotoxemia aguda frequentemente fatal que acomete suínos
desmamados. A doença se caracteriza pela ocorrência de edema subcutâneo, edema subseroso e
sintomas neurológicos que refletem infarto no tronco cerebral. Essas lesões são causadas pela
absorção de Stx2e do intestino. As cepas, em geral, expressam α-hemolisina e fímbrias F18ab. A
expressão da fímbria F18ab favorece a colonização de bactérias na porção distal do intestino
delgado. A Stx2e presente no intestino é absorvida, alcança a corrente sanguínea e se liga,
predominantemente, à superfície de eritrócitos ricos em Gb4. Acredita-se que os eritrócitos,
assim, liberem a toxina que atua nas células endoteliais, as quais também expressam o receptor
Gb4. A Stx2e penetra nas células endoteliais, como descrito, e ocasiona toxicidade celular por
meio da inativação dos ribossomos e do prejuízo à síntese proteica, provocando a morte da
célula. Extravasamento vascular e trombose resultam em edema e infarto, respectivamente, em
diferentes tecidos e órgãos. Macroscopicamente, os suínos geralmente exibem edema
subcutâneo na fronte, nas pálpebras e, também, na parede do estômago, no mesocólon e em
outras partes.
E. coli patogênica a aves (APEC) → colibacilose em aves domésticas. APEC são cepas de
E. coli extraintestinal invasivas. No caso de infecção de ovos, a superfície destes pode ser
contaminada com cepas potencialmente patogênicas por ocasião da postura. A bactéria penetra
pela casca e contamina o saco da gema. Caso a bactéria se desenvolva, o embrião morre,
geralmente na fase final de desenvolvimento. O embrião que sobrevive pode morrer logo após,
com ocorrência de perda tão tardiamente quanto 3 semanas após a eclosão do ovo. Uma
manifestação clínica muito importante em aves é a doença respiratória septicêmica. A doença
pode ser rapidamente fatal ou progredir como enfermidade crônica, que se manifesta com
debilidade, diarreia e angústia respiratória. Saculite e pneumonia são manifestações comuns.
Outras síndromes clínicas causadas por APEC incluem celulite, sinovite, pericardite, salpingite e
pan-oftalmia.
E. coli aderente-invasiva (AIEC) → foi isolada em cães com colite ulcerativa histiocítica.
AIEC adere e penetra nas células do epitélio intestinal. A penetração nessas células depende da
produção de microfilamentos de actina e da agregação de microtúbulos. Em seguida, as
bactérias penetram nos macrófagos presentes abaixo da camada epitelial, no interior dos quais se
replicam nos vacúolos endocíticos, sem matar a célula hospedeira. A infecção dos macrófagos
induz tais células a produzir grande quantidade de TNF-α. Acredita-se que essa
suprarregulação da produção de citocina exacerbe significativamente a inflamação e a lesão
tecidual.
O tratamento de um animal que apresenta diarreia de causa infecciosa se destina à correção
dos desequilíbrios hidreletrolíticos. Se o animal não manifesta sintomas de choque decorrente de
colapso cardiovascular, a administração de fluido e eletrólitos (bicarbonato de sódio, KCl) é
realizada por via intravenosa; caso contrário, administram-se soluções eletrolíticas por via oral. Se o
animal apresenta acidose, inclui-se bicarbonato de sódio. A adição de glicose à solução de
eletrólitos administrada por via oral aumenta a absorção de íons sódio, os quais estão sendo
excretados com a diarreia. A administração de antimicrobianos não absorvíveis (como a neomicina)
reduz suficientemente a quantidade de E. coli na parte superior do intestino delgado, possibilitando
a correção do desequilíbrio hidreletrolítico. Há necessidade adicional de medicamentos
antimicrobianos, fluidos e eletrólitos para o tratamento efetivo de doença septicêmica causada por
cepas de E. coli invasivas.
A prevenção e o controle de doenças intestinais causadas por cepas patogênicas de E. coli
são semelhantes. A chave é a adoção de boas práticas de manejo. É importante que a mãe seja
exposta aos determinantes antigênicos de vários fatores de virulência expressos em cepas
infectantes. A exposição pode ser natural, por meio da introdução da mãe no ambiente em que
ocorrerá a parição, ou pode ser artificial, por meio da vacinação das mães com preparações que
contenham os determinantes antigênicos que podem representar risco para o recém-nascido. Podem
ser administradas, por via oral, ao animal neonato, preparações comercialmente produzidas que
contenham anticorpos monoclonais contra adesinas (para ETEC). Embora esse procedimento não
reduza significativamente a ocorrência de diarreia, minimiza a gravidade da doença e a taxa de
mortalidade. Um ambiente limpo e aquecido deve ser fornecido para animais recém-nascidos.
Ainda, quanto à doença do edema: medidas preventivas devem ser realizadas a fim de minimizar
fatores de risco, tais como: limpeza e desinfecção rigorosa da granja, respeitar o período de vazio
sanitário (mínimo 5 dias), a transferência de animais deve ser realizada nas horas mais frescas do
dia, homogeneização dos lotes, evitar medidas de manejo que provoquem estresse como novas
misturas de lotes. A vacinação também se mostra como um eficaz meio de controlar a doença na
granja.
Diagnóstico
Demonstração de cepas de E. coli enterotoxigênicas → detecção de genes de virulência, ou
seja, de fímbria e de enterotoxina, em isolados de colônias de E. coli em placas de cultura, por
meio de PCR. Os isolados bacterianos selecionados para PCR primeiramente devem ser cultivados
em meio nutriente (p. ex., ágar-sangue), a fim de assegurar a pureza e remover possíveis inibidores
da DNA polimerase. Os exames histopatológicos de animais enviados para necropsia devem ser
realizados, preferivelmente, naquele paciente acometido pela forma aguda da doença e que tenha
sido submetido à eutanásia. A constatação de fixação da bactéria aos enterócitos do intestino
delgado é um achado patognomônico. No entanto, há necessidade de cultura para a detecção do
patógeno específico envolvido, com base na produção do fator de virulência. Culturas em ágar-
sangue e em ágar MacConkey são técnicas padrão para o diagnóstico de ETEC. Pode-se utilizar um
teste imunoenzimático (ELISA) para determinar diretamente a presença de bactérias que expressam
as adesinas F4 e F5 nas fezes. Técnicas que empregam anticorpos marcados fluorescentes ainda
representam métodos fáceis de detecção de fímbria. Colônias de bactérias ou esfregaços de raspados
de intestino delgado são banhados com antissoros específicos para várias adesinas. Após o
tratamento com antissoro secundário marcado com corante fluorescente, as preparações são
examinadas à procura de bactérias marcadas aderidas às células epiteliais. A produção de
enterotoxina-STa ou LT por cepas isoladas de E. coli pode ser detectada pelo ELISA.
Demonstração de cepas extraintestinais → constatação de E. coli em locais normalmente
estéreis (articulações, medula óssea, baço ou sangue). Em aves, os mesmos locais são submetidos à
cultura, além daqueles macroscopicamente acometidos (pulmões, sacos aéreos). Embriões mortos
ainda no ovo que não eclodiu são submetidos à cultura. Deve-se evitar a cultura de fígado.
Demonstração de cepas EPEC e STEC → exames histopatológicos podem possibilitar a
detecção de bactérias que causam lesões de aderência/achatamento (A/E), mas não propiciam a
identificação definitiva do patógeno. Atualmente estão disponíveis protocolos específicos e
meios especiais para isolamento de E. coli de amostras de fezes ou do intestino. Nos casos de
infecção animal, uma vez obtido o isolado de E. coli com suspeita de ser STEC (p. ex., que
apresenta fenótipo próprio em meio cromogênico), a detecção de genes ETEC por meio de PCR é o
método preferido para a confirmação desse microrganismo como sendo uma cepa STEC.
Demonstração de cepas causadoras da doença do edema → depende do isolamento e da
constatação de alguns sorotipos que têm sido mostrados como participantes na patogênese dessa
doença. As alterações teciduais micro e macroscópicas características tornam o diagnóstico
patológico dessa doença relativamente mais fácil que o diagnóstico microbiológico. Pode ser
realizado através do isolamento de bactérias E. coli oriundas de amostras coletadas de fragmentos
de alças intestinais e linfonodo mesentérico ou de animais sentinelas (animais que não consumiram
nenhum tipo de antibiótico durante pelo menos 5 dias) enviados ao laboratório para necropsia e
exames complementares. Após o isolamento é realizado o antibiograma, que indica o melhor
antibiótico a ser utilizado na granja.
Imunidade
A defesa imunológica contra doenças causadas por E. coli patogênica ocorre em dois níveis:
no local de aderência da bactéria à célula-alvo e por meio da destruição das bactérias ou da
neutralização de seus produtos.
Diarreia enterotoxigênica → o anticorpo antiadesina específico (sIgA e sIgM) presente no
colostro e no leite impede a aderência de bactérias aos enterócitos do intestino delgado.
Também, o anticorpo anti-LT específico neutraliza a enterotoxina-LT, embora a importância
desse efeito não seja completamente compreendida. Demonstrou-se que a LT é diretamente
liberada nos enterócitos pelas bactérias, podendo comprometer a ação dos anticorpos do lúmen
intestinal.
Doença extraintestinal → o neonato adquire imunidade da mãe e a proteção difere em
função do isótipo de imunoglobulina (IgA, IgG ou IgM). Nas primeiras 36 h de vida, ou mais, as
moléculas de IgG e IgM ingeridas se ligam aos receptores da superfície das células epiteliais do
intestino delgado. Após a ligação, ocorre transferência dessas imunoglobulinas, da célula para a
circulação sistêmica. Caso os anticorpos sejam específicos para um determinante de virulência,
pode não haver desenvolvimento da doença se o neonato entrar em contato com uma cepa
patogênica que expresse aquele determinante de virulência.
Infecções causadas por EPEC e STEC → estudos com uma vacina secretada tipo III para
STEC O157:H7 têm demonstrado sua efetividade em bovinos. Em neonatos, acredita-se que as
moléculas de sIgA e sIgM presentes no colostro e no leite previnam a adesão das bactérias aos
enterócitos.
Doença do edema → o anticorpo específico contra Stx2e impede lesão endotelial e
vascular, além de prevenir lesões isquêmicas. É fundamental, portanto, que a mãe seja exposta,
natural ou artificialmente, aos microrganismos e seus determinantes de virulência, antes da
parição. Tal exposição possibilita a formação de anticorpos e sua secreção no colostro e no leite.

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