Microbiota da pele
FUNÇÕES DA PELE: -Como um microorganismo consegue penetrar na pele intacta e alcançar
-A pele é o maior órgão do corpo e funciona como barreira para proteger
contra o ambiente externo, como os agressores e diferentes antígenos.
-A pele e mucosa limitam o meio externo do interno.
-Esse órgão tem diferentes funções além da proteção, como por exemplo
o sistema imunológico (SI), primeira e segunda linha de defesa do corpo,
com as células do SI buscando por antígenos para proteção (defesa inata).
-A pele também participa da regulação térmica, do fluxo sanguíneo,
funções sensoriais pelas terminações nervosas (calor, frio, pressão, tato e
dor).
ESTRUTURA DA PELE:
Epiderme: camada mais externa e mais fina, possui diversas camadas de
células epiteliais.
-A camada córnea é a mais externa da epiderme com células epiteliais
mortas + queratina (proteína rígida que protege da perda de água,
impermeabilizando a pele).
Derme: camada mais interna, espessa, com glândulas sudoríparas,
sebáceas, músculo eretor do pelo e folículos pilosos, formada por tecido
conjuntivo.
Hipoderme: vasos sanguíneos e tecido adiposo.
-Quando a pele está íntegra, sem descontinuidades, funciona como
barreira física para proteção de patógenos e outras substâncias.
-A pele tem pH ácido, o que limita a proliferação de diversos micro-
organismos.
-A temperatura da pele é abaixo de 37,5°C, o que também limita a
reprodução de determinadas espécies de patógenos.
-A salinidade é outro fator a se considerar, pois o suor contém sal sendo
outro fator limitante, além de enzimas e proteínas que fazem parte dessa
defesa
-As excreções, como sebo e ureia também são fatores de proteção, e a
presença da microbiota residente que funciona para proteção, com
micro-organismos simbiontes.
-A própria microbiota produz substâncias antimicrobianas. Quando está
em equilíbrio, tudo funciona bem.
MICROBIOTA NORMAL DA PELE:
-Não é favorável para a maioria dos micro-organismos, porém alguns
conseguem se estabelecer.
-Para esses micro-organismos que conseguem se estabelecer, o sebo
localizado pela pele, serve como substrato para produção de ácidos
graxos, que irá inibir crescimento de outros micro-organismos.
-Áreas com maior umidade (axilas, região entre as pernas e dobras) terão
maior população de micro-organismos bem como sua permanência, por
conta do substrato que terão.
-Não há grande diversidade de micro-organismos na microbiota
residente, cerca de 103 a 104 micro-organismos por cm2 de pele e
folículos pilosos.
-Estão localizados na superfície da pele, principalmente os aeróbios ou
anaeróbios facultativos nos folículos pilosos
-Tem-se uma predominância por Cocos Gram-positivos: Staphylococcus e
Micrococcus, predominando o Staphylococcus epidermidis.
-Tem-se também bacilos difteroides, como Propionibacterium e
Peptococcus (anaeróbios – preferência pelos folículos pilosos,
responsáveis pela acne e produção de ácido propriônico que contribui
para que o pH da pele continue baixo) e Corynebacterium (aeróbios –
preferência pela superfície da pele).
-Além das bactérias temos fungos, vírus (bacteriófagos principalmente).
-Traumas, abração, picada, tudo o que causa uma descontinuidade da
pele pode levar a cândida para tecidos mais profundos e desenvolver
uma doença.
- Outra levedura frequente é a Malassezia, que possui capacidade de
crescer em secreções oleosas da pele.
tecidos mais profundos? Poros, folículos pilosos, glândulas. -Os
microrganismos que ficam nessas regiões, diante de uma situação
atípica, podem se proliferar e causar doenças.
-As bactérias da pele possuem maior probabilidade de serem gram-
positivas, justamente por se adaptarem, tolerarem mais concentrações
de cloreto de sódio.
INFECÇÕES BACTERIANAS DA PELE
-Infecções cutâneas: principais patógenos são os Staphylococcus e
Streptococcus (agrupam em cadeias ou pares).
STAPHYLOCOCCUS:
- Bactérias gram positivas
- Forma esférica (cocos)
- Arranjo em agrupamentos irregulares como cachos de uvas
- Imóveis (não possuem flagelos)
- Não formam endósporos.
- Formam colônias que podem ou não ter pigmentos (amarelo ouro) -
são importantes para a defesa dessas bactérias contra a ação dos raios
ultravioletas, os quais são antimicrobianos.
- Mesófilos (crescem bem em uma temperatura de 18 a 40oC).
- Aeróbios e anaeróbios facultativos, halotolerantes (7-10% de NaCl).
- Catalase-positivos (quebra o peróxido de hidrogênio em 2 moléculas de
água e oxigênio) e o peróxido de hidrogênio funciona como uma
substância antimicrobiana.
-É possível diferenciar Streptococcus e Staphylococcus pingando uma
gota de água oxigenada na amostra, se borbulhar significa que é catalase
+, ou seja, que é Staphylococcus e produz essa enzima que vai liberar
água e oxigênio quando atua no peroxido de hidrogênio.
-As espécies de Streptococcus são catalase - , então a partir desse teste
simples é possível tirar essa dúvida.
- O Staphylococcus aureus, é responsável por diversas infecções de pele
é coagulase +, essa enzima converte o fibrinogênio em fibrina e formam
um coágulo que ajuda a proteger as bactérias que tem esse fator de
virulência.
Staphylococcus Aureus:
-Mais patogênico, encontrado na nasofaringe.
-Faz parte da microbiota de 20% da população.
-Ao coçar o nariz e outras partes do corpo, é possível que o
Staphylococcus seja transportado e favoreça a colonização de outros
sítios.
-Produz colônias amarelo-ouro, devido pigmentos carotenóides
-Coagulase +: ajuda se proteger e se esconder do sistema imunológico
pois esse coágulo é formado com os componentes do próprio
hospedeiro, dificultando reconhecimento como estranho.
-Vários fatores de virulência:
Possuem cápsulas e escapam da fagocitose;
Produzem camada mucoide (como biofilme) que ajuda na proteção;
Possuem proteína “A” que se liga à porção FC dos anticorpos ->
impede que o sistema complemento se ligue ao anticorpo e seja
ativado a via clássica. Sistema complemento é importante, pois
quando ativado forma o MAC (complexo de ataque à membrana) e
libera fatores, como C3b, que funciona para opsonizar, favorecendo a
fagocitose.
Produzem muitas toxinas responsáveis pelas infecções:
Citotoxinas lisa membranas de diferentes células, principalmente dos
eritrócitos.
5% das cepas produzem toxina esfoliatinas, responsável pela
desenvolvimento síndrome da pele escaldada estafilocócica.
Enterotoxinas A causam intoxicação alimentar, é um superantígeno
que provoca resposta celular mais forte -> aumento da liberação de
citocinas -> causa colapso do corpo.
Toxina da síndrome do choque tóxico 1, que tbm funciona como
superantígeno - 90% das cepas são capazes de produzir essa toxina.
 Possui enzimas líticas que auxilia na disseminação de todas as formas e
dribla o sistema imunológicos:
Coagulase; lipases (hidrólise dos lipídeos);
Hialuronidase, fibrinolisina e nuclease são enzimas implicadas na
disseminação bacteriana dentro do corpo do hospedeiro.
Hialuronidase hidrolisa o ácido hialurônico (componente do tecido
conjuntivo), fibrinolisina dissolve coágulos de fibrina, e a nucleasse
hidrolisa o DNA das células mortas e isso vai diminuir a viscosidade.
Infecções Cutâneas por Staphylococcus aureus:
Por invasão direta e destruição tecidual:
-Impetigos
-Foliculite: muito comum, pode aparecer como uma espinha ou pelo
encravado, manifestando devido a uma infecção e inflamação do folículo
piloso. Decorre de uma obstrução do ducto do folículo piloso e da glândula
sebácea. O Staphylococcus aureus tolera ambientes com concentração de
HCl mais elevada e a lipase hidrolisa lipídios favorecendo o
desenvolvimento do microrganismo para desenvolver a foliculite, podendo
piorar e desenvolver furúnculo. Tratamento é a drenagem de pus
-Furúnculos: extensão da foliculite (“mais séria ou mais grave"), ocorre
formação de abcesso, com produção de pus. Possui tecido inflamado ao
redor, eritematoso e formando nódulos grandes e doloridos. Aparece em
axilas, nádegas e virilha - locais com mais umidade propícios para o
desenvolvimento do microrganismo, pode piorar e tornar um carbúnculo.
-Carbúnculos: vários furúnculos coalescem ou a infecção se estende para
tecidos subcutâneos mais profundos -> massa mais endurecida formando
carbúnculo. Pode levar ao desenvolvimento de sintomas sistêmicos como
febre e calafrios. Tratamento é a drenagem de pus pois o ATB tem difícil
acesso não conseguindo agir no local.
-Pneumonia
-Endocardite
Mediada por toxinas:
-Síndrome da pele escaldada estafilocócica: causada pela produção da toxina
esfoliatina pelo Staphylococcus aureus. Aparecimento abrupto de eritema
perioral com vermelhidão e inflamação que se espalham pelo corpo todo
em 2 dias (começa ao redor da boca -> nariz -> corpo todo). Essa toxina
tem função descamativa, onde a camada granulosa solta da camada
córnea.
Após 7-10 dias, o sistema imunológico adaptativo
produz Ac e células específicas. Com presença
desses anticorpos se tem início da formação de
novo epitélio, uma renovação, não deixa cicatriz.
Muito comum em recém-nascidos, neonatos,
crianças pequenas ou adultos
imunocomprometidos como portadores de HIV,
doença cardíaca ou DM, sendo mais susceptíveis
ao desenvolvimento.
-Impetigo não bolhoso ou crostoso: mais comum,
começa com feridas e lesões periorais e nos
membros. Sintomas resultam da resposta do
hospedeiro a infecção (ação do sistema imune).
As lesões se rompem e formam crostas de
coloração claras, amareladas, até crostas
melicéricas (lembra favo de mel). Altamente
contagiosa, se transmite pelo contato direto ou
indireto (brinquedos, roupas, etc). Tbm pode ser
causada por Streptococcus pyogenes (- comum).
-Impetigo bolhoso: causada pela toxina A,
localizada no sítio de infecção. É uma forma
localizada da síndrome da pele escaldada, com
características semelhante. Diferença é que no
impetigo bolhoso tem a presença tanto da toxina
quanto do microrganismo. O conteúdo da bolha
está cheio de microrganismo, sendo contagioso,
diferente da sd. da pele escaldada que é no
corpo todo e não contagiosa. Bolhas são bem
finas e doloridas. Característica no neonato.
-Síndrome do choque tóxico: doença toxigênica, com presença do
microorganismo e da toxina. Ação sistêmica provocada pela toxina da
síndrome do choque toxico 1 – TSCT-1 -> é um superantígeno. Causa
sintomas como febre alta, vômito, hipotensão, eritema difuso com
descamação da pele, destruição das células endoteliais levando
hipotensão e morte por falência múltipla de órgãos (5% dos casos).
Também pode ser causada por Streptococcus. Na década de 80 foi
relacionada com o uso de absorventes internos contaminados, venda
suspensa. Raro.
STREPTOCOCCUS:
-Gram positivas
-Dispostas em pares ou em cadeias
-Maioria são anaeróbios facultativos
-Produzem ácido lático, fermentando diferentes tipos de carboidratos.
-Tem exigências nutricionais complexas -> cultura de sangue ou soro para
isolar as colônias.
-Catalase-negativos
Classificação taxonômica de acordo com padrão hemolítico em
ágar-sangue:
• Alfa hemolíticos: causa hemólise parcial, formando zona esverdeada em
volta na placa
• Beta hemolíticos: causam hemólise completa, formação das zonas claras
em volta do microorganismo. Maioria são patogênicos.
• Gama hemolíticos: não possuem enzimas hemolisinas.
-2 tipos de estreptolisina: a “O” e “S”. São hemolisinas de tipos diferentes.
Classificação sorológica:
-Desenvolvida pela Rebeca Lancefield, 1933. Identificou diferentes tipos de
A até W. Alguns têm relevância clínica: grupos A, B, C, F e G (diferentes
cepas dos beta hemolíticos).
Streptococcus pyogenes - beta hemolíticos do grupo A:
-Responsáveis por várias infecções: celulite, fasciíte necrosante, escarlatina,
erisipela, síndrome da pele escaldada, faringite estreptocócica, impetigo e
síndrome do choque tóxico estreptocócica.
- Fatores de Virulência:
Proteína M, cápsula e proteína F associado ao ácido lipoteicóico
(antifagocitários).
Exotoxinas A piogênicas (superantígeno): responsável pela síndrome do
choque tóxico estreptocócica
Exotoxina B: nos casos de fasciíte necrosante
Estreptolisina S: atuação mais próxima a superfície
Estreptolisina O: atuação em áreas mais profundas, visto que é
inativada pelo oxigênio
Toxina eritrogênica: causadora da escarlatina
Infecções por Streptococcus pyogenes:
-Impetigo: infecção purulenta localizada nas camadas superficiais da pele,
acomete crianças em idade escolar (2-5 anos). Estabelece após traumas,
contato direto e altamente transmissível. Qualquer lesão de pele pode ser
porta de entrada para o microrganismo se desenvolver.
-Erisipela: infecção aguda que afeta derme. Pele apresenta erupções que
manifesta como placas avermelhadas, bordas mais elevadas. Diferencia
erisipela da celulite por ser bem delimitada. Sinais e sintomas são dor
localizada, inflamação, aumento dos linfonodos e sinais sistêmicos. Pode
evoluir e destruir os tecidos locais, atingir corrente sanguínea e causar
sepse. Populações mais vulneráveis são crianças e idosos.
-Celulite: infecção aguda da pele, atinge o tecido subcutâneo, causa sinais
de inflamação local e sistêmica. Relacionado a traumas, lesões cirúrgicas,
queimaduras (portas de entrada). Não possui bordas elevadas e
delimitadas como na erisipela. Importante identificar o fator etiológico, pois
uma diversa gama de micro-organismos pode causá-la.
-Fasciíte necrosante profunda (gangrena estreptocócica): infecção da camada
profunda do tecido subcutâneo, com necrose extensa, destruição do
músculo e tecido adiposo. Primeiramente, começa como celulite, ou seja,
forma bolhas e necrose, podendo se estender aos tecidos adjacentes. Além
disso, a fasciíte se aproveita de uma porta de entrada (ex: ruptura da pele).
Produz exotoxina A que pode levar a choque séptico e falência de órgãos.
Alta taxa de mortalidade: >50%. Tratamento com antibioticoterapia +
desbridamento da lesão infectada (em alguns casos há necessidade de
amputação).
-Síndrome do choque tóxico estreptocócica:
inflamação do tecido no sítio da infecção.
Causa dor, febre, calafrios e mal-estar. Maioria
apresenta bacteremia e fascite necrosante
podendo gerar choque e falência múltipla de
órgãos (40%). Devido a exotoxina pirogênica, e
grupo de risco são os imunocomprometidos.

PSEUDOMONAS AERUGINOSA:
-Bacilo gram negativo, aeróbio
-Patógeno oportunista presente no solo e fontes de água
-Fatores de virulência:
Adesinas (auxiliam a adesão da bactéria à célula do hospedeiro)
Endotoxina: parte da estrutura da bactéria, as gram negativas possuem
na parede o LPS e o lipídio A, que é a endotoxina. Ao ser liberada,
causa diversos sintomas como febre.
Exotoxina A
Elastase e proteases: utilizadas pela bactéria para ajudar na
disseminação dentro do hospedeiro
Em cultura de Pseudomonas aeruginosa é liberado pigmento azul
esverdeado durante crescimento e multiplicação. Esse pigmento é
chamado de piocianina.
-Responsáveis por 10-20% das infecções hospitalares, devido resistência
aos antimicrobianos e desinfetantes mais utilizados.
-Forma biofilme em cateteres e outros dispositivos médicos, sendo preciso
retirar.
-Infecção em pacientes com queimaduras é bastante prevalente
-Pus possui coloração esverdeada devido pigmento piocianina.
-Geram dermatites e são autolimitadas.
-Prevalente em ambientes coletivos como clubes (banheiras, saunas e
piscinas), gerando surtos -> devido alta temperatura -> facilita a infecção,
pois água quente gera abertura dos folículos - porta de entrada para
bactéria.