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3323
A B Types of shock
Arterial hypotension
62%
Distributive (septic)
Brain
Altered mental
Chronic state
hypotension?
Syncope Circulatory
(if transient) shock 4% 2%
Distributive Obstructive
Tachycardia
(nonseptic)
16% 16%
Skin Elevated Estimate cardiac
Cardiogenic Hypovolemic
Mottled, blood outout or Svo2
clammy lactate
Normal Low
or high
Kidney
Oliguria CVP
Low High
Figura 223.1 — Visão geral para o reconhecimento do choque e diagnóstico diferencial inicial. Atentar para as janelas da perfusão e
para exames laboratoriais simples, como o lactato, bem como para o uso liberal do ecocardiograma na avaliação inicial. Adaptada de
N Engl J Med 2013;369:1726-34.
Oligúria (diurese < 0,5 mL.kg-1.h-1) é outro achado do a estimulação beta-2-adrenérgica (com adrenalina
classicamente descrito como marcador global de má endovenosa ou beta-agonistas inalatórios), a depuração
perfusão tecidual e sua presença também está associada alterada do lactato devido à disfunção hepática e a ace-
a pior prognóstico. Contudo, pode ser bastante enganosa leração da via glicolítica (em especial em pacientes com
ao ser utilizada como meta terapêutica a ser perseguida, choque séptico). Os ensaios clínicos que avaliaram o uso
em especial nas fases mais tardias do tratamento, fato da terapia guiada por metas em sepse e choque séptico
que abordaremos adiante. utilizavam como um dos critérios de inclusão os valores
A hiperlactatemia é um importante achado laborato- de lactato arterial maiores do que 4 mmol/L, porém isso
rial que auxiliará na estratificação de risco dos pacientes não significa que esse valor deve ser utilizado de ma-
em choque. Classicamente, valores elevados de lactato neira estrita na prática do dia-a-dia. Alguns estudos de-
arterial (> 1,5 mmol.L-1) são atribuídos ao metabolismo monstraram que mesmo valores de lactato arterial entre
oxidativo celular anormal, que resulta em glicólise anae- 2-4 mmol.L-1estão associados à maior mortalidade em
róbia e aumento na produção de lactato. Este raciocínio pacientes em choque quando comparados a valores me-
habitualmente é válido nas fases iniciais do choque e, em nores do que 2 mmol.L-1 e, portanto, sugerimos conside-
especial, nos choques hipodinâmicos. Entretanto, vários rar valores maiores do que 1,5 mmol.L-1como alterados
outros motivos podem levar à hiperlactatemia, incluin- dentro de um contexto apropriado.1
Figura 223.2 — Sugestão de escolha escalonada de ferramentas de monitorização de acordo com a gravidade, momento e resposta à
terapia instituída em estado de choque. Essa sequência não necessariamente é estática. O uso do ecocardiograma deve ser liberal tanto
para o diagnóstico diferencial inicial quanto pode ajudar no manejo clínico dos pacientes ao longo de todo o espectro de gravidade
dos quadros de choque. PANI, pressão arterial não invasiva; FC, frequência cardíaca; ECG, eletrocardiografia; ScvO2, saturação venosa
central de oxigênio; gap CO2, gap veno-arterial de CO2; PAI, pressão arterial invasiva; PVC, pressão venosa central; CAP, cateter de
artéria pulmonar; DMOS, disfunção de múltiplos órgãos e sistemas; SDRA, síndrome do desconforto respiratório agudo.
Não
Sim
Ventilação
Não mecânica Sim
invasiva?
Figura 223.3 — Algoritmo para tomada de decisão para a administração de fluidos em pacientes com choque. Considerar que o
aumento de débito cardíaco é potencialmente necessário quando o paciente apresentar sinais de má perfusão tecidual.
MEPM: Manobra de Elevação Passiva dos Membros Inferiores; TOFE: Teste de Oclusão ao final da Expiração; DPP: variação da pressão de pulso; DVTI: variação da
integral velocidade-tempo; VVS: variação de volume sistólico.
Tabela 223.1
Fármacos vasoativos mais utilizadas na prática clínica para o manejo de pacientes com choque
circulatório. Essa tabela não é extensiva em termos das indicações e de todos os efeitos colaterais que
podem ocorrer.
Fármaco Possíveis indicações Dosagem Ligação a Receptores Efeitos Colaterais
Catecolaminas
Noradrenalina (NA) Vasopressor de 1a escolha 0,01-3 mg.kg-1.min-1 a1 (4+/4+) > b1 (+/4+) Arritmias, bradicardia, isquemia
periférica
Dopamina Vasopressor de 2a escolha; bradicardia 2,5-20 mg.kg-1.min-1 DA > b1 > a1 Arritmias ventriculares, isquemia
sintomática Efeitos variam com a dose cardíaca ou periférica, taquicardia
Adrenalina Alternativa à NA como vasopressor; 0,01-0,1 mg.kg-1.min-1 a1 (4+/4+) ∼ b1 (3+/4+) Arritmias ventriculares, isquemia
Útil para choque refratário com baixo (Até 0,2) cardíaca, taquicardia
DC; bradicardia sintomática
Dobutamina Inotrópico de 1a escolha 2,5-20 mg.kg-1.min-1 b1 (4+/4+) > b2 (2+/4+) Arritmias ventriculares, isquemia
> a1 (+/4+) cardíaca, hipotensão, taquicardia
Inibidores de Fosfodiesterase
Milrinone Baixo DC (IC descompensada, Ataque: 50 mg.kg-1 em 10-30 N/A Arritmias ventriculares, isquemia
pós-cardiotomia); Falência de VD + minutos; Infusão 0,375-0,75 cardíaca, hipotensão
Hipertensão Pulmonar mg.kg-1.min-1
Agonistas da Vasopressina
Vasopressina Alternativa à NA como vasopressor; 0,01-0,04 U/min V1: musculatura lisa vascular Isquemia periférica, baixo débito
útil para choque com vasodilatação (Dose fixa 0,033 U/min) V2: ductos coletores renais cardíaco (se doses > 0,4 U/min)
refratária
Sensibilizadores de Cálcio
Levosimendan IC descompensada; pouco estudado Ataque: 12-24 mg.kg-1 em N/A Taquicardia, hipotensão
em estados de choque 10 minutos; Infusão
0,05-0,2 mg.kg-1.min-1
Hiperfibrinolise TXA:
(no trauma grave/choque ou EXTEM ML >15%) 15-20 mg/kg
Anticoagulação?
(Aspirina, clopidogrel, plaquetas 5-10 U +/– desmopressina 0.3 µg/kg
varfarina: PCC 25 IU/kg ou FFP 15-20 ml/kg
Heparina: protamina 1 mg/100 IU heparina)
Gatilhos fisiológicos
(TC > 35 oC; pH >7,2; Cai >1 mmol/l; Hb ~7-9 g/dl)
Intervenções cirúrgicas
(Bandagem compressiva, compressão pélvica, controle do dano cirúrgico, embalagem)
Figura 223.4 — Pirâmide do tratamento da coagulopatia no choque hemorrágico. Atentar que o uso de hemocomponentes deve vir após
intervenções mais básicas, como intervenções cirúgicas, correção de anormalidade fisiológicas, reversão do uso de anticoagulantes e
correção de hiperfibrinólise, em especial no trauma.
Adaptada de Intensive Care Med (2015) 41:712–714.
O manejo transfusional e da coagulopatia é também plaquetas se houver plaquetopenia; e (7) reservar a trans-
uma medida de suporte para pacientes com choque he- fusão de fator VII ativado apenas para casos que sejam re-
morrágico. O fundamental no tratamento dessa condi- fratários às medidas anteriores. Pacientes exsanguinando
ção consiste na remoção da causa do sangramento. Esse podem se beneficiar do protocolo de transfusão maciça
tratamento pode ser cirúrgico em pacientes com trauma ou da terapia guiada por metas viscoelásticas (com o
contuso abdominal, pode ser simplesmente a compres- tromboelastograma). Por fim, o tratamento da causa do
são pélvica em pacientes com trauma pélvico, podendo sangramento deve ser a prioridade maior no manejo des-
incluir a radiologia vascular intervencionista em algumas ses pacientes, sem o qual as medidas de suporte não serão
ocasiões com a embolização de focos de sangramento, ou efetivas.
pode ser a cirurgia de controle de danos em pacientes
exsanguinando. Pacientes com hemorragia digestiva, por Fundamentos do Tratamento do Choque Obstrutivo
outro lado, não devem ter a endoscopia digestiva alta pos-
tergada devido à instabilidade hemodinâmica, pois a de- O choque obstrutivo não apresenta uma gama muito
mora no tratamento pode levar à morte. Nessa condição, grande de possíveis causas, porém deve entrar no diag-
o serviço de endoscopia deve ser acionado enquanto se nóstico diferencial inicial, pois o seu tratamento precoce
realizam as medidas para reverter o choque hemorrágico. pode interromper imediatamente o desenvolvimento de
Em resumo, o manejo do choque hipovolêmico não outras disfunções orgânicas.
hemorrágico deve focar na administração de cristaloides Pacientes com pneumotórax hipertensivo podem ser
isotônicos. Pacientes com choque hemorrágico devem ter reconhecidos facilmente à beira-do-leito, sendo o seu
o adequado suporte transfusional com concentrado de diagnóstico clínico. O tratamento consiste na punção
hemácias e o manejo da coagulopatia de forma progres- imediata do segundo espaço intercostal ipsilateral na
siva,42 através de um racional fisiopatológico que envolve, linha hemiclavicular com um dispositivo cateter-sobre-
nessa ordem: (1) manter as pré-condições para a coagula- -agulha (Gelco®), seguido pela drenagem de tórax.
ção corrigidas (calcemia, pH, temperatura); (2) reversão O tamponamento cardíaco é uma outra causa de cho-
de fármacos antitrombóticos que o paciente vinha em que obstrutivo. Pode ocorrer em pacientes com trauma,
uso; (3) reversão da hiperfibrinólise, quando existente; bem como em pacientes com causas diversas de peri-
(4) reposição de fibrinogênio quando houver deficiên- cardite, como a pericardite neoplásica a pericardite tu-
cia deste; (5) reposição de fatores da coagulação quando berculosa, ou mesmo a pericardite lúpica. Hoje, além do
houver evidências de deficiência destes; (6) transfusão de quadro clínico clássico, mas inespecífico, de dispneia,