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LISTERIOSE – SEMINÁRIO INFECCIOSAS

INTRODUÇÃO

A listeriose é uma enfermidade infecciosa de origem alimentar, causada pelo Gênero Listeria.

Essa doença apresenta baixa prevalência, ou seja poucos casos, porém tem importância
significativa devido alta mortalidade – que é em torno de 20 a 40% nas populações, como: os
neonatos, animais idosos e imunossuprimidos
A bactéria causadora da listeriose foi descrita pela primeira vez no ano de 1926 por Murray e
colaboradores
Após essa descrição foi observado a presença de seis espécies desse gênero, conhecidas como:
Listeria monocytogenes, listeria ivanovii, Lis. Innocua, L. wlshimeri, L. grayi e L. seeligeri; sendo
as mais patogênicas a Listeria monocytogenes e a Listeria ivanovii

Esse agente causador da listeriose é descrita em: animais selvagens, domésticos, aves, peixes e
no homem, sendo assim uma doença zoonótica, sendo encontrada em produtos de origem
animal, como leite, carne bovina, suína, de aves, peizes e embutidos

Nos animais a listeriose causa: encefalite, septicemia e abortos.

ETIOLOGIA

Taxonomia: ler slide

A bactéria é um coco bacilo gram positivo

Intracelular facultativa

É aeróbico e anaeróbico facultativo

São organismos de catalase positiva e oxidade negativa

Não é formador de esporos e apresenta mobilidade através de seus flagelos

Apresente comprimente de 1 a 2 micrometros e largura de 0,5 micrometros

Esse microrganismo normalmente esta associada a outras bactérias saprofitas, presentes


na matéria orgânica em decomposição – sendo material fecal, alimentos, etc

A L. monocytogenes é extremamente resistente a condições adversas, assim sobrevivendo


por anos no solo, material fecal, água e alimento contaminado

Sua temperatura de crescimento possui grande variação, de 3° a 44°C, porém a


temperatura ideal é de 30° a 37°C

A listeria também tem crescimento em pH variado, entre 4,1 a 9,6

Possuem também alta tolerância a elevadas concentrações salinas e a desidratação

A L. monocytogenes possui diversos sorotipos, porém os mais importantes são o 1/2a e 4b


que são os causadores da encefalite nos animais
No meio de cultura, as bactérias são pequenas, lisas, brancas e com aspecto leitoso, além
de produzirem beta-hemolise em meio de ágar sangue

EPIDEMIOLOGIA

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- A listeriose ocorre a nível mundial, ou seja, é uma doença cosmopolita;

- Alguns surtos ao longo dos anos 80 e 90, ligados ao consumo de produtos animais atingiram
diretamente o ser humano, como:

 1981 Canadá: consumo de salada industrializada de repolho cru; 


 1983 EUA – Boston: ingestão de leite; 
 1983 e 1987 Suíça: ingestão de queijo; 
 1985 EUA - Califórnia: ingestão de queijo mexicano; 
 1989 e 1990 – Inglaterra: ingestão de patê; 

Estes surtos acabaram por exigir que medidas sanitárias se tornassem mais restritivas, o que
torna surtos nos dias de hoje mais improváveis.

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- Fonte de Infecção: Animais domésticos (principalmente ovinos, caprinos e bovinos) e


silvestres; 
- Via de Eliminação: Fezes, leite, urina, fetos abortados, descargas genitais;
- Via de Transmissão: Alimentos (silagem com pH> 5,5, vegetais, frutas), água, ar (aerossóis
contaminados), coito;
- Porta de Entrada: Trato digestivo (mais importante), trato respiratório, via transplacentária,
conjuntiva;
 - Susceptível: Todas as espécies domésticas, sendo mais comum em ruminantes, coelhos,
aves, porém menos comum em suínos, assim como equinos e carnívoros;

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Fatores predisponentes

- Estações do Ano – Inverno. Neste caso, nos países frios os animais ficam confinados no
inverno fazendo com que fiquem mais próximos às fezes, urina e descargas genitais uns dos
outros.
- Silagem – PH superior a 5,5; - O PH superior a 5,5 propicia ambiente favorável a multiplicação
bacteriana, sendo este o principal fator predisponente.
- Manejo – Estresse: fatores como estresse tem impacto na imunidade dos animais, assim o
sistema imune tem menor chance de debelar a infecção.
- Pastagem, feno, cama de frango – a contaminação causada pelo manejo sanitário deficiente
favorece a presença da bactéria;
- A troca de dente em animais jovens cria uma porta de entrada para a bactéria;
PATOGENIA

Após a infecção do animal através da ingestão, a bactéria na parede intestinal infecta as


células do sistema retículo endotelial (macrófagos), fazendo uma multiplicação intracelular. A
bactéria é fagocitada pelo macrófago e dentro dele, sintetiza uma proteína, a Listeriolisina
(LOO), que possibilita o rompimento dos fagossomos, e consequente multiplicação no
citoplasma dessas células. A Listeria exige um comportamento peculiar, pois através da síntese
de uma proteína oriunda do gene Act, promove a polimerização dos filamentos de actina do
hospedeiro para a formação de longas caudas para seu deslocamento no citoplasma que
possibilitam movimentação de célula a célula sem passar pelo meio extracelular. Proteínas
conhecidas como internalinas, possibilitam a penetração nas células do hospedeiro.

Dessa forma, a Listeria pode causar diversas lesões sem sistemas variados como SNC
(encefalites), abortos, hepatites e raramente septicemia.

Ainda não foi comprovado como a bactéria causa encefalite, mas diversas hipóteses já foram
sugeridas como via hematógena, já que as lesões cerebrais seguem o padrão vascular do
encéfalo, via cavidade oral pelos dentes, mas atualmente a hipótese mais aceita é via nervo
trigêmeo, onde pelo axônio, a bactéria chega até o gânglio trigeminal atingindo o SNC. No
encéfalo, já foram encontradas lesões em medula oblonga, ponte, diencéfalo e cerebelo.

A Listeria pode causar abortos. A bactéria por via hematógena atinge o útero causando
placentite com necrose de cotilédones, exsudato vermelho- amarronzado, feto autolizado com
lesões em fígado e baço. A septicemia é muita rara, e quando ocorre afeta animais neonatos
em razão de infecção intra-uterina ou fêmeas prenhes imunossuprimidas, onde são
encontradas lesões nodulares necróticas em fígado e baço.

SINAIS CLÍNICOS

SLIDE 1 – VACA COM A LINGUA DE FORA

A listeriose pode se desenvolver de 3 formas: a nervosa, abortiva e a septicêmica.

Na forma nervosa, o animal apresenta Meningoencefalite, um processo inflamatório que


envolve o cérebro e meninges, onde o organismo patogênico invade o SNC (sistema nervoso
central).

Esta forma é mais comum em ruminantes adultos, e dependendo da localização e severidade


das lesões no sistema nervoso, o animal apresentará diferentes sintomas. Os mais comuns são:
contrações musculares superficiais ou paralisia regional dos membros,
torcicolo, incoordenação motora e ataxia;

O animal também pode apresentar paralisia dos músculos faciais, perda da função motora ao
redor dos olhos. Com relação a paralisia dos músculos faciais, isto acarreta em uma dificuldade
de mastigação, salivação excessiva, desidratação, acúmulo de alimento na cavidade oral,
refluxo de alimento e aspiração do conteúdo rumenal, queda da orelha e do lábio inferior. Já a
perda ao redor dos olhos, pode acarretar em uma queratite (inflamação na córnea) secundária
em virtude da falta de reflexo palpebral.

SLIDE 2 – VÍDEO

Um sinal clássico da doença é locomoção sem uma orientação definida, com tendência
de deslocamento em círculos, sempre na mesma direção. Muitos animais também apóiam a
cabeça contra obstáculos e assim permanecem até a morte.

Em pequenos ruminantes, Os quadros de encefalite são mais agudos que nos bovinos e, em
dois ou três dias, estes animais costumam morrer. 

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A forma abortiva ocorre em todos os mamíferos, mas são mais comuns em vacas, ovelhas e
cabras. Em bovinos pode haver natimortos ou abortamentos em torno do sétimo mês de
gestação ou posteriormente, e quase sempre há retenção da placenta e febre.

Em ovelhas e cabras os abortamentos ocorrem da 12ª semana de gestação em diante, também


ocorrendo retenção de placenta. O feto geralmente está em decomposição. Alguns animais
podem abortar novamente em gestações subsequentes. O agente pode ser isolado a partir do
feto abortado e também do útero.

Na forma septicêmica, em animais jovens (cabritos, cordeiro, bezerros e leitões), a forma mais
comum é a septicêmica. A síndrome em geral compreende: depressão, fraqueza, emaciação
(perda de massa muscular e de gordura), febre, diarréia em alguns casos, apresentando
necrose hepática e gastro-enterite à necrópsia.

Em bezerros de 3 a 7 dias de idade pode ocorrer opacidade de córnea acompanhada por


nistagmo. A morte ocorre em torno de 12 horas.

DIAGNÓSTICO

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TÓPICO 1: O diagnóstico da listeriose é baseado no histórico epidemiológico, nos sinais


clínicos, nos achados anatomopatológicos de adultos, feto e placenta, além do isolamento do
agente, o que define o diagnóstico. A sintomatologia clínica é bem característica, com a
presença dos mesmos, é possível desconfiar de listeriose.

TÓPICO 2: Um dos pontos chave para o sucesso no diagnóstico da Listeriose é a necropsia,


forma mais eficiente de diagnóstico. Esta técnica é uma das etapas da investigação que
permite se elaborar um raciocínio diagnóstico a partir da relação entre a patogenia da doença,
o histórico do caso, a condição clínica do animal e as lesões encontradas. Além disso, é o
momento ideal para a obtenção de uma maior quantidade de amostras para o diagnóstico
laboratorial e definitivo da doença.
ANATOMOPATOLÓGICO:

FORMA NEUROLÓGICA: Nas alterações macroscópicas, animais afetados pela forma


neurológica, normalmente, não possuem lesões significativas. No entanto, quando estão
presentes há opacidade meníngea, necrose no tronco cerebral posterior, congestão cerebral e
um aumento no líquido cefalorraquidiano, que pode estar turvo pelo aumento de células
inflamatórias. Em encéfalos de ovinos, já foram encontradas áreas focais deprimidas, escuras e
amolecidas, na altura do mesencéfalo.

FORMA ABORTIVA: Em casos de suspeita de listeriose, a avaliação cuidadosa da placenta é


importante, pois a bactéria chega por via hematógena e coloniza ativamente os anexos fetais.
Geralmente, a placenta apresenta-se com sinais de inflamação e edematosa; as lesões
geralmente são pequenos pontos amarelos de focos necróticos, envolvendo as extremidades
dos cotilédones. 

FORMA SEPTICÊMICA: Já na forma septicêmica, há necrose focal hepática com pontos branco-


acinzentados em todo o fígado, sendo que as lesões também aparecem no baço, mas
raramente em outros tecidos. 

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TÓPICO 1: Microscopicamente: as lesões são reconhecidas pelo exame microscópico


convencional, coloração de hematoxilina e eosina (HE). As alterações do tronco encefálico
consistem em manguitos perivasculares (ao redor dos vasos sanguíneos do SNC, existe um
espaço chamado de espaço de Virchow-Robin. Quando há uma enfermidade, células reativas
conhecidas como manguito perivascular, que aparecem nesse espaço) e infiltrados
compostos por macrófagos, linfócitos e alguns neutrófilos nas meninges (caracterizando a
meningoencefalite)

Amostras de tálamo, telencéfalo caudal, cerebelo e medula espinhal cervical devem ser
coletadas e mantidas refrigeradas ou congeladas e encaminhadas para realização do
diagnóstico diferencial de raiva por imunofluorescência direta e prova biológica.

TÓPICO 2: Nos órgãos coletados e na placenta, a autólise pode obscurecer as alterações


microscópicas, além disso, nos casos de abortos e natimortos provocados por Listeria
sp.,muitas vezes as lesões podem não estar presentes, mesmo com o isolamento do agente.
Na microscopia, as lesões vistas macroscopicamente em fetos e natimortos bovinos
correspondem à hepatite purulenta ou necro-purulenta com distribuição multifocal; placentite
supurativa multifocal com focos de necrose e, menos frequentemente, meningite. Também é
encontrado necrose multifocal do baço, linfonodos, miocárdio, pulmões, adrenais, trato
gastrointestinal e encéfalo. Logo, as lesões microscópicas são caracterizadas por infiltrado de
células mononucleares, principalmente linfócitos, e alguns neutrófilos.
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O exame de imunohistoquímica é um exame importante para confirmar o diagnóstico de


Listeria monocytogenes em tecido nervoso central de ruminantes após o óbito, uma vez que o
exame histológico convencional e a observação dos sinais clínicos apresentados pelo animal
apenas sugerem a compatibilidade com a doença.

No método de IHQ (imunoistoquímica) para diagnóstico de listeriose, o critério para a leitura


das lâminas, coradas pela IHQ, é a presença de Listeria monocytogenes no tecido nervoso, a
qual apresenta forma baciliforme, apresentação característica em forma da letra “v” com
coloração marrom contrastando com as estruturas azuladas adjacentes.

Esses achados tornam-se ainda mais relevantes quando analisamos o potencial zoonótico da
doença.

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Há ainda a possibilidade de ser feito o diagnóstico clínico de listeriose através do isolamento


e identificação da bactéria. O diagnóstico microbiológico pode ser feito através do cultivo de
amostras de sangue, de liquor (líquido cefalorraquidiano), do líquido amniótico, da placenta
e/ou do feto, sendo que tal isolamento deve ser feito preferencialmente em ágar sangue, onde
as colônias apresentam-se planas e ligeiramente achatadas, não possuem pigmentação e há
presença de β-hemólise.

É interessante ressaltar que o isolamento de Listeria spp. por meio da placenta e líquido
amniótico, associado aos sintomas clínicos, podem sugerir a forma de listeriose neonatal.

Além disso, é possível visualizar a bactéria pelo método de coloração de Gram, onde a bactéria
apresenta-se em forma de bacilos curtos com extremidades arredondadas, podendo ocorrer
isoladamente ou em cadeias curtas e em menor frequência em longos filamentos, não formam
esporos ou cápsula.

Não é interessante ser feito culturas de L. monocytogenes a partir de fezes já que o


microrganismo pode ser eliminado por portadores sadios.

Entretanto, estes métodos de detecção convencionais são trabalhosos, levando vários dias
para sua identificação final, além do custo ser relativamente caro.

TRATAMENTO
Os tratamentos dos casos de encefalite são efetivos apenas quando diagnosticados
precocemente, mas muitas vezes os animais já apresentam um quadro avançado em que os
danos cerebrais são muito extensos. Então, nestes casos, o tratamento deve ser avaliado de
acordo com o grau pois as chances de sucesso são muito pequenas. Em relação aos ovinos e
caprinos que são acometidos a fatalidade pode ser alta mesmo quando o tratamento é
realizado de forma precoce.

Formas de tratamento:

- Antibioticoterapia parental (principal forma de tratamento nos casos de listeriose


encontrados no rebanho)

- Pode ser administrado também anti-inflamatórios, fluidoterapia, transfusão de suco de


rúmen e o fornecimeto de vitaminas do complexo B.

- Nos casos de encefalite, a Penicilina (22.000 a 44.000 UI/kg/IM 4x ao dia) ou Oxitetraciclina


(20mg/kg/IV 1x ao dia são os antibióticos mais frequentemente utilizados, embora tenham
sido relatados alguns casos de insucesso.

- A terapia deve se estender por 2 a 4 semanas para completa resolução e diminuição dos
casos de recidiva.

PREVENÇÃO E CONTROLE

Cuidado com o manejo alimentar, principalmente com o armazenamento de silagem (comum


em rebanhos confinados- ficar atento a qualidade desse silo, silagens com pH abaixo de 5,5
inibem o crescimento bacteriano de Listeria), em casos de mofo ou mudança de odor, o
material deve ser descartado. Após fornecido, os restos devem ser retirados e o comedouro
deve ser limpo. Tomar cuidado não só com a silagem, mas qualquer outro tipo de alimento
fornecido, visto que é comum a ocorrência de listeriose nos períodos quentes do ano, talvez
pelas altas temperaturas propiciarem um ambiente ótimo pra proliferação bacteriana.

Em relação ao estresse, sabemos que um animal estressado irá apresentar altos níveis de
cortisol e consequentemente haverá imunossupressão. Se preocupar com o bem estar geral,
evitando e neutralizando situações que causem incomodo ao animal (calor, ruídos e sons altos,
espaços pequenos, etc).

Existem vacinas que vem sido desenvolvidas e algumas apresentam bons resultados como
diminuição da incidência ou severidade dos casos. Mas, por ser uma doença esporádica e pela
falta de interesse da indústria veterinária não estão disponíveis comercialmente.

Em relação a prevenção dessa doença em humanos, há um protocolo imposto pelo MAPA –


ministério da agricultura e abastecimento.

1. Coletar amostras nos estabelecimentos fabricantes e inspecionar


2. Avaliar instalações, equipamentos, hábitos higiênico sanitários e funcionários.
3. Avaliar matéria prima e tecnologia utilizada
4. Avaliar métodos de desinfecção usados

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