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Aula 1 - Introdução a Patologia Clínica:

1 - Conceitos iniciais:

Função da P. Clínica: ajuda tanto no diagnóstico quanto a acompanhamento dos pacientes - as técnicas de analise são diversas, sendo
escolhidas de acordo com as suspeitas e condições do paciente.
PS: alguns sistemas do organismo (tegumentar, nervoso, esquelético e cardiovascular por exemplo) são relativamente fáceis de serem
avaliados no exame clinico ou por métodos de diagnóstico por imagem (exame físico, radiografia e ultrassonografia) // outros sistemas
orgânicos (sanguíneo, imunológico, urinário e endócrino) são mais bem avaliados por exames laboratoriais.

Papel do veterinário: deve estar capacitado a solicitar e interpretar os exames laboratoriais - patologistas clínicos veterinários são
especialistas nas disciplinas de patologia básica, hematologia (estudo do sangue), química clínica (estudo das reações fisiológicas e
bioquímicas), citologia (estudo das células) e patologia cirúrgica (estudo de doença por análise microscópica de amostras de tecido obtidas
durante cirurgia).

Definição - Patologia Clínica: subespecialidade da patologia que lida com o uso dos métodos laboratoriais (química clínica, microbiologia,
hematologia) para diagnóstico e tratamento de doença - é o estudo de doença no ambiente clínico por meio de exames laboratoriais.
PS - Patologia: ramo da medicina que lida com as bases das doenças, especialmente as alterações estruturais e funcionais em órgãos e
tecidos que causam uma doença ou são causadas por uma doença - em outras palavras é o estudo de doença.

Laboratórios: de forma geral disponibilizam os exames (1) hematológicos, (2) de química clínica, (3) urinálise e (4) histológicos ou
citológicos.
PS: outros exames ou procedimentos de diagnóstico laboratorial são oferecidos por laboratórios específicos - microbiologia,
histopatologia e toxicologia (supervisionados respectivamente por microbiologistas, histopatologistas e toxicologistas).

2 - Técnicas: métodos analíticos podem se basear em:

2.1 - Analise do Sangue: tecido fluído que circula nos canais vasculares, carreando substâncias necessárias para a vida das células e
recebendo os produtos do metabolismo para serem levados aos órgãos de excreção (sangue periférico serve como meio de transporte entre
medula óssea e tecidos) - existem diversas técnicas para a análise deste fluido.

I - Hematologia: analise da composição do sangue (elementos celulares do sangue) - plaquetas e fatores de coagulação; proteínas
plasmáticas; fibrinogênio...
II - Bioquímica Clínica: analise de sangue utilizando princípios da química para gerar informações quanto a presença/quantidade de
enzimas, metabólitos, hormônios e eletrólitos.

PS: a hematologia junto a bioquímica sérica representa quase 95% dos testes laboratórios utilizados na pratica.

(exemplos de valores normais nas espécies)

2.2 - Exame da Urina (Urinálise): visa a análise da urina para fins diagnósticos e prognósticos no que se refere as patologias do trato
urinário - envolve:
I - Exames físicos.
II - Exames químicos.
III - Exame de sedimentação.

2.3 - Exames de outros fluidos orgânicos (líquor, líquido sinovial, cavitários e linfa): podem se analisador por exames físicos, químicos e
citologia.
Aula 2 - Fundamentos de Hematologia:

1 - Sangue:

1.1 - Composição - Sangue: o sangue é um tecido formado por três tipos de células junto a um meio intercelular (plasma).

(a) Glóbulos vermelhos: também conhecidos como hemácias ou eritrócitos - são os elementos figurados do sangue, representando em
média 45% do total do sangue (em um hematócrito normal).

(b) Glóbulos brancos: também chamados leucócitos - estes podem ser granulócitos ou agranulócitos.
PS: no hematócrito ficam separados em uma região especifica - a capa leucocitária.

(c) Plaquetas: são fragmentos de citoplasma dos megacariócitos.

1.1 - Composição - Plasma: faz parte da composição do sangue junto aos elementos celulares - o plasma por sua vez é composto de:

(a) Água: equivale a cerca de 91,5% do plasma.

(b) Sólidos orgânicos: correspondem a 7,5% do plasma - entre os sólidos orgânicos se enquadram:
Proteínas (7%): tais como albumina, globulinas e o fibrinogênio e demais fatores de coagulação.
Outras substancias (0,5%): conjunto de substâncias nitrogenadas, gorduras neutras, colesterol, fosfolipídeos, glicose, enzimas e
certos hormônios.

(c) Sólidos inorgânicos: compõe a parte restante - enquadra minerais como Na, K, Mg, Cu e HCO3.

1.2 - Volume sanguíneo: o sangue é responsável por cerca de 7,5% do peso de um animal - esse valor mantém-se estável pela passagem de
líquidos intersticiais para o meio vascular e vice e versa.
PS: alguns fatores como a ingestão de líquidos, produção de água metabólica e perda de água corporal podem determinar variações
neste percentual.

2 - Sistema hematopoiético/lítico: as células do sangue possuem natureza temporária, apresentando um período de vida curto e limitado - os
sistemas hematopoiético e hematolítico atuam na manutenção de uma quantidade estável destas células na circulação (produzem e
destroem glóbulos do sangue e plaquetas, de modo a manter a população sempre constante).

2.1 - Componentes:
(a) Medula óssea: é o tecido existente no interior das cavidades ósseas, podendo ainda ser divido ainda em dois meios - meio
intravascular e meio extravascular (no último são produzidos os glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas).

(b) Sistema monocítico fagocitário (SMF): é um conjunto de células com poder fagocitário o qual atua de 3 formas
I - Destroem os eritrócitos velhos ou anormais.
II - Convertem a hemoglobina em globina e bilirrubina livre.
III - Armazenam o ferro.

PS: o SMF encontra-se espalhado por todo o organismo, porem se concentra nos órgãos linfáticos (especialmente o baço).
(c) Baço e Linfonodos:
I - Produzem linfócitos T e B (linfonodos), além de serem os locais de maior concentração do SMF.
II - Baço possui capacidade hematopoiética embrionária que pode ser mantida por toda a vida adulta - pode inclusive ser acionada
nos casos de anemias regenerativas.
III - Armazena e matura reticulócitos: estes podem atuar como reserva de eritrócitos - podem ser liberados em uma situação de
hipóxia por exemplo.
IV - Participa na hemocaterese: degrada a hemoglobina e armazena o ferro contido nesta.
PS: realiza remoção de hemácias parasitadas - também parte da hemocaterese.

(d) Fígado: possui funções importantes na hematopoiese


I - É o local de reserva de vitamina B12, ácido fólico e ferro - elementos vitais a hematopoiese e síntese de hemoglobina.
II - Atua como principal órgão de produção de eritropoietina em feto - em animais adultos ainda produz uma pequena quantidade
desta glicoproteína (eritropoietinogênio? - exceto no cão).
III - Também possui capacidade hematopoiética embrionária - pode ser reativada em animal adulto.
IV - Produz fatores de coagulação - importantes na manutenção da hemostasia.
V - Realiza o metabolismo das bilirrubinas.

(e) Mucosa estomacal: produz duas substâncias com atuação importante no processo de hematopoiese.
I - Produz ácido clorídrico: este libera o ferro das moléculas complexas.
II - Produz fator intrínseco: este possibilita a absorção da vitamina B12.

(f) Mucosa intestinal:


I - Absorve vitamina B12, folatos e ferro.
II - Elimina boa parte da bilirrubina.

(g) Rim:
I - Produz eritropoietina e trombopoietina.
II - Elimina uma parte da bilirrubina.

3 - Hematopoiese - Mecanismo: processo de produção de células do sangue - composta pelas etapas de eritropoiese, leucopoiese e
trombocitopoiese.

3.1 - Fases: pode ser dividida em duas fases - hematopoiese pré-natal e a hematopoiese pós-natal.
Hematopoiese pré-natal:
I - Hematopoiese extraembrionária: é o tipo que ocorre no embrião - as células sanguíneas são produzidas pelo saco vitelínico.

II - Hematopoiese fetal: é a que ocorre no feto, sendo iniciada final do primeiro terço de gestação - as células são produzidas pelo
fígado, baço e medula óssea.
Primeira fase (hepatica): a eritropoiese predomina no fígado e a leucopoiese se torna mais evidente.
Segunda fase (esplênica/linfática): quando estes acontecimentos têm lugar também no baço e linfonodos.
Última fase (medular): começa aproximadamente a metade da gestação e perdura por toda a vida.
Hematopoiese pós-natal: inicialmente ocorre na medula óssea de todos os ossos (durante a fase de crescimento) - com o tempo fica
restrita a ossos chatos (esterno, costela, crânio e ílio) e a epífise de ossos longos (fêmur e úmero).

I - Infantil: envolve a medula óssea de todos os ossos.


II - Adulta: atividade a hematopoiética se limita aos ossos chatos a às extremidades dos ossos longos - nesta fase as demais medulas
ósseas são tomadas por tecido adiposo e se tornam amarelas, porém em casos de necessidade a medula amarela pode voltar a ser vermelha e
recuperar sua atividade hematopoiética (semelhante aos demais órgãos que desempenharam funções a hematopoiéticas na vida pré-natal).
PS: nos ossos longos a medula vermelha se encontra nas cavidades da parte esponjosa deste.

3.2 - Tipos de hematopoiese:


(a) Hematopoiese extravascular: ocorre na maioria dos mamíferos - cães, leões, bovinos, ovelhas, gatos, suínos, equinos...
(b) Eritropoiese e trombopoiese intravascular // Granulopoiese extravascular: ocorre em aves, anfíbios, peixes e repteis - estes animais
possuem ainda as hemácias com morfologia distinta (são nucleadas).

3.3 - Mecanismo da Hematopoiese - Geral:


1ª - Células de linhagens diversas (eritrócitos, linfócitos e plaquetas) começam a se diferenciar a partir de células tronco e passam então
a ser maturadas - processo que ocorre por estímulos diversos os quais variam de acordo com cada tipo celular a ser gerado.

2ª - Após maduras (geralmente*) são liberadas nos seios venosos que penetram a medula, a partir dos quais ganham a circulação - em
alguns casos certa quantidade de células e alguns tipos celulares podem ser liberadas mesmo imaturas.
PS: em situação de demanda células nos estoques e em processo de maturação podem ser liberadas em maior quantidade - algumas
destas antes mesmo de completar seu processo de maturação.

3.3 - Mecanismo da Hematopoiese - Eritropoiese: processo de formação de eritrócitos - processo é feito a partir de células pluripotenciais
indiferenciadas na medula:
1ª - Ao se dividir a célula pruripotencial dá origem a duas células - uma igual a si própria (destinada a manter a população constante) e
a uma outra célula denominada Unidade Formadora de Colônias (UFC).

UFCe: formadora de linhagem eritrocítica;


UFCmg: formadora de linhagem megacariocítica;
UFCmm: formadora de linhagem mielomonocítica - esta por sua vez da origem as linhagens mielocítica (ou granulocítica) e a
monocítica.

2ª - Após formadas as UFCs seguem um processo de amadurecimento com várias divisões, dando origem a um clone de células de seu
grupo.

3ª - Especificamente no caso da produção de eritrócitos o fator estimulante para a produção é a eritropoietina - quando a oxigenação
nos tecidos é insuficiente, sensores renais localizados no aparelho justaglomerular dos rins sinalizam para que haja aumento na secreção de
eritropoietina, a qual é liberada na circulação: este hormônio atua sobre células tronco da medula óssea, determinando a sua divisão e a
produção de células para linhagens de eritrócitos (UFCe).

Efeitos da eritropoietina na medula óssea:


(a) Estimula a diferenciação dos progenitores.
(b) Estimula a mitose dos progenitores.
(c) Acelera a maturação dos progenitores.
(d) Aumenta liberação dos progenitores.

Fontes de eritropoietina: na maioria das espécies esta pode possuir duas origens:
(I) Produzida na medula renal: ocorre tanto na forma de eritropoietina ativa como de pró-eritropoietina - a segunda é ativada por
um fator sérico no momento da liberação.
(II) Nas células de Kupfer (fígado): produzem uma molécula precursora que é ativada em eritropoietina ativa por um fator renal.
Outros órgãos na modulação da eritropoiese (estimulo): existem ainda outras substâncias (por sistemas endócrinos) que atuam
indiretamente a eritropoiese, gerando interferência no funcionamento dos rins ou fígado.
Gônadas - Andrógenos: aumentam a liberação de eritropoietina.
Hipófise - Prolactina, TSH, ACTH e GH: aumentam a demanda de oxigênio nos tecidos, levando ao aumento indireto na liberação
de eritropoietina.
Tireóide - Tiroxina (T4): idem.

Outros órgãos na modulação da eritropoiese (inibição):


Gônadas - Estrógenos: diminuem a liberação de eritropoietina via inibição de fígado e rins.
PS: motivo pelo qual fisiologicamente machos tendem a ter mais eritrócitos do que as fêmeas.
Adrenal - Corticosteroides: diminuem a liberação de eritropoietina, inibindo o fígado e os rins.

PS1: tanto a divisão quanto a maturação dos eritrócitos podem ocorrer mesmo sob o estímulo de concentrações basais de
eritropoietina - em situações normais este nível basal fornece estímulos para reposição de eritrócitos perdidos, mantendo a proporção
normal destas células.
PS2: nos cães o rim é a única fonte de eritropoietina - em outras espécies está também pode ser gerada no fígado.
PS3: além da UFC-E sabe-se que a eritropoetina também estimula a formação de plaquetas (UFC-MG).

4ª - O amadurecimento das células tronco e precursoras ocorrem sob o estímulo de grandes concentrações de eritropoietina - as quatro
divisões que ocorrem (de rubroblasto até metarubrócito) são mitóticas e acontecem paralelamente com a maturação das células:
Processo: a divisão e maturação das células é caracterizada pelos eventos
(a) perda dos nucléolos.
(b) diminuição do tamanho da célula e do núcleo.
(c) aumento na condensação da cromatina nuclear.
(d) diminuição da basofilia nuclear e aumento na policromasia, seguida então de normocromasia e síntese de hemoglobina.
(e) por fim a célula perde sua capacidade mitótica.

5A - Proliferação: tem duração de 2 a 3 dias - composto pelas divisões da célula progenitora ate os rubrócitos policromáticos.

Rubroblasto (proeritoblasto): é a célula originada da UFCe - como características se tem que:


. É cerca de três vezes maior que o eritrócito maduro.
. Tem núcleo geralmente central, que ocupa quase toda a área da célula - este é formado por cromatina de aspecto delicado, onde
pode-se ver dois ou até três nucléolos.
PS: apresenta DNA e RNA em atividade, além da síntese proteíca - mas ainda não sintetiza hemoglobina.

Pró-rubrócito (eritroblasto): o rubroblasto origina (se divide em) duas destas células
. É um pouco menor que o rubroblasto.
. A cromatina é um pouco mais grosseira e os nucléolos menos evidentes.
PS: nesta fase se inicia a síntese de hemoglobina - a qual persiste até a fase de reticulócitos.

Rubrócito basófilo (eritroblasto basófilo): o pró-rubrócito origina (se divide em) duas destas células:
. Citoplasma se torna um pouco acidófilo - ocorre devido ao acúmulo de hemoglobina nele produzida.
. É bem menor que a célula anterior.
. Núcleo já não apresenta nucléolos e a cromatina é bem mais compacta.
Rubrócito policromático (eritroblasto policromatófilos): o rubrócito basófilo origina (se divide em) duas destas células:
PS: nesta fase ocorre a finalização da síntese de DNA - que por sua vez gera aumento da síntese de hemoglobina.

5B - Maturação: a partir deste estágio os progenitores não se dividem mais, apenas amadurecem.
Metarrubrícitos: o rubrócito policromático origina (se divide em) duas destas células:
. É a menor célula dos precursores nucleados dos eritrócitos.
. Neste estágio o núcleo é apenas uma mancha de cromatina compacta.

PS1: estágio representa o auge da produção de hemoglobina.


PS2: quando presente no sangue pode ser indicativo de (1) situações de regeneração, (2) hipóxias e (3) tumor de MO - só é
indicativo de regeneração se quando junto a presença de reticulócitos. (?).

Reticulócito: resulta do amadurecimento do metarubrócito -


. Célula perde o núcleo - apresenta apenas ribossomos, mitocôndrias e hemoglobina (20%).
. Quanto ao tamanho é um pouco maior que os eritrócitos adultos.
. Possui substância basófila (RNA) a qual pode se apresentar em formas de grânulos.
PS1: quando corados pelo novo azul de metileno ou outro corante vital esta substância basófila se precipita na forma de
retículos (daí o nome).
PS2: quando corados pelos métodos usuais os reticulócitos são vistos como células não nucleadas, apresentando certa
policromatofilia.

PS1: cerca de 20% da hemoglobina contida nos eritrócitos é sintetizada nesta fase.

PS2: este tipo de célula realiza maturação em outros tecidos além da medula óssea (após 2 a 3 dias sai da medula e termina de
maturar na circulação periférica e baço) - a presença ou não desta célula no sangue (e proporção quando presente) varia de acordo com as
espécies.
Em cavalos e ruminantes sadios: essas células não são achadas normalmente na circulação, pois toda a maturação
eritrocitária nestas espécies ocorre dentro da medula óssea.
Em suínos sadios: são observados cerca de 2% de reticulócitos na circulação.
Em cães e gatos sadios: podem ser encontrados em percentuais que variam de 0,5 a 1,5, sendo que nestas espécies tais células
podem se apresentar de duas formas - reticulócitos agregados e ponteados - cada uma refletindo diferenças significativas no estádio de
maturação e tempo de vida no sangue:
Reticulócitos agregados: apresentam a substância basófila de forma linear - esta forma se matura na forma ponteada.
Reticulócitos ponteados: apresentam apenas pequenos pontos de retículo, sem formações lineares (?).

PS3: ou seja, a contagem de reticulócitos pode ser usada na avaliação da resposta individual a anemia pela medula óssea na
maioria dos animais - exceto nos equinos, pois nesta espécie os reticulócitos só são liberados da medula após sua total maturação.

Eritrócitos (hemácias): resultam da maturação dos reticulócitos - sua função é carrear hemoglobina, que por sua vez transporta O2
dos pulmões para os tecidos e CO2 dos tecidos para os pulmões.
. São células anucleadas (na maioria das espécies) e sem inclusões de retículo.
. Possuem formato de disco bicôncavo, sendo desprovida das organelas celulares.
. São as células mais numerosas no sangue.
PS1: seu citoplasma é formado por 1/3 de hemoglobina e 2/3 de água.
PS2: possui membrana flexível, permitindo a deformação e passagem da célula pelos estreitos sinusóides do baço e dos tecidos - à
medida que a célula envelhece a flexibilidade vai diminuindo: quando estas não conseguem mais atravessar os sinusóides do baço elas são
retidas e então fagocitada pelo SMF.

Funções das Hemácias - Transporte de O2 para tecidos: no pulmão as pressões de gases levam a ligação do oxigênio com a
hemoglobina (cada hemácia possui várias centenas destas moléculas em seu interior) - ao chegar ao tecido as hemácias liberam este oxigênio
para que os tecidos possam realizar suas funções metabólicas.

Funções das Hemácias - Transporte de CO2 para pulmões: realizam transporte dos produtos resultante do metabolismo celular -
este processo só é possível pela ação da anidrase carbônica (presente nos eritrócitos) e a presença de hemoglobinas.
1ª - Os processos metabólicos nos tecidos levam a formação de CO2, o qual interage com a hemoglobina de três maneiras:
(a) Uma pequena parte permanece como CO2 dissolvido no citoplasma da hemácia;
(b) Uma quantidade um pouco maior reage com o grupamento amino dos resíduos de aminoácidos de hemoglobinas,
formando carbamino-compostos - se trata de uma reação muito rápida e que não requer catalisador especial.
(c) A maior parte do dióxido de carbono (cerca de 80%) combina-se com água formando o ácido carbônico (H2CO3) - reação
ocorre em decorrência da grande disponibilidade de enzimas anidrase carbônica no eritrócito, a qual acelera a reação de hidratação do
anidrido carbônico em até 100 000 vezes.
PS: essa reação ocorreria naturalmente na água, porem de forma muito devagar (incompatível com as trocas de gases que
ocorrem constantemente para a manutenção da vida).

2ª - No terceiro caso especificamente (via anidrase carbônicas) - o ácido carbônico formado tem tendência a dissociar
espontaneamente no próton H+ e em íons HCO3- (bicarbonato).

(a) A membrana plasmática das hemácias é permeável aos ânions de pequeno peso molecular, permitindo que o bicarbonato
difunda-se para fora da célula - a perda de carga negativa (bicarbonato) cria alteração no gradiente elétrico da célula, resultando na entrada
de outras cargas negativas para a substituição, neste caso ocorrendo com o cloreto: isto mantem neutralidade elétrica do plasma e a
negatividade intracelular das hemácias.

(b) O íon H+ permanece no interior das hemácias, porem deve ser tamponado pela hemoglobina para que se mantenha
alterações mínima no pH intracelular (se associa as hemoglobinas na forma desoxidada) - tal reação é favorecida pela simultânea
dissociação entre o oxigênio e a hemoglobina, que torna-se então um ácido mais fraco capaz de assimilar com mais facilidade o H+ oriundo
do ácido carbônico - a ocorrência deste tamponamento permite que continue ocorrendo conversão pela anidrase carbônica (e logo produção
de H+).

3ª - Ao nível dos capilares pulmonares ao invés de o sangue ser exposto a um ambiente rico em CO2 ela entra em contato com o
ar alveolar, que tem pouco gás carbônico e é rico em O2 - isso inverte o equilíbrio dessas reações bioquímicas que passam a ocorrer no
sentido oposto:
(a) Os íons H+ se desligam das desoxi-hemoglobinas para que estas possam carrear o O2 nos pulmões (se tornam oxi-
hemoglobinas).
(b) As anidrases carbônicas realizam a reação reversa utilizando este H+ recém dissociado junto ao bicarbonato (ultimo entra
na célula vindo do plasma) - como resultado da ação da anidrase é formado Co2 e H2O, sendo que o primeiro atravessa a membrana dupla
do pulmão para ser expelido na expiração.

PS: por intermédio do processo acima descrito, 90% do CO2 produzido são transportados dos tecidos até os alvéolos
pulmonares (e logo para a atmosfera).
4ª - Além disto o CO2 inalterado no plasma (etapa 1a - mais de 8% de todo o gás retirado dos tecidos) também é liberado no ar
expirado.

Funções das Hemácias - Tamponamento: relacionado a formação de bicarbonato a partir do Co2.


Na hipoventilação: leva ao aumento da pCO2 no sangue (principal ácido no sangue), o que gera acidoses respiratória.
Na hiperventilação: ocorre diminuição de ácidos voláteis, que leva à diminuição da pCO2 no sangue - gera alcalose respiratória

3 - Hematopoiese - Exigências Nutricionais: substratos são utilizados para síntese do material nucleico e para que ocorra a divisão celular
(I) Proteínas: são extremamente necessárias para a formação da globina

(II) Vitaminas: em especiais a riboflavina (vitamina B2), piridoxina (vitamina B6), niacina, ácido fólico, tiamina e a vitamina B12 -
sendo a última extremamente necessária à divisão das fases nucleadas das células.
Vitamina B6: importante para a síntese de bases nitrogenadas.
Vitamina B12: na sua falta ou a do ácido fólico ocorre falha maturação e divisão celular, com formação de macrócitos (?).
PS: nos bovinos é sintetizada a base de cobre.

(III) Minerais:
Ferro: o mais importante dos minerais na hematopoiese - é utilizado na síntese do grupo heme.
Cobalto: também de grande importância - necessário à síntese da vitamina B12.
Cobre: atua como co-fator da enzima ALA-dehidrase, a qual é necessária na síntese do grupo heme.

(IV) Lipídios: são integrantes da membrana do eritrócito // colesterol funciona como regulador da resistência osmótica da célula.

3 - Hematopoiese - Alterações da Eritropoiese:

Eritropoiese ineficaz: corresponde a quantidade de eritrócitos que morrem ainda no interior da medula, sem chegar à circulação - em
situações normais corresponde a cerca de 10% das hemácias (fisiológico na maioria das espécies), porem este percentual pode estar
aumentado em algumas doenças.

Eritropoiese anormal: ocorre pela ausência dos fatores apropriados a eritropoiese (nutricionais por exemplo) - pode levar a alterações
diversas na célula final sendo lançada na circulação.
. Eritrócitos com teor de hemoglobina incompleto.
. Células atípicas (alteradas quanto ao formato, coloração, tamanho, etc.).
. Redução (deficiência) no número de células liberadas.
PS: em alguns casos o contrário - pode ser produzido número excessivo de eritrócitos.
. Células com anormalidades fisiológicas.
4 - Hemocaterese: pode ocorrer decorrente de hemólise intravascular ou extravascular

4.1 - Mecanismo de Hemólise Intravascular: ocorre em algumas situações patológicas.


1ª - Células com instabilidade de membrana (com defeitos na síntese ou parasitadas por exemplo) podem sofrer hemólise intravascular.
2ª - Estas se rompem dentro dos vasos, liberando hemoglobina no plasma.
PS: parte da hemoglobina no plasma é convertida em metemalbumina (complexo de albumina e hematina).
3ª - A hemoglobina em excesso é filtrada nos rins e pode ser encontrada na urina do animal, a qual apresenta coloração diferente
também (vermelho escura) - na urinálise o animal apresenta hemoglobinúria e hemosiderinuria.

4.2 - Mecanismo de Hemólise Intravascular: onde a destruição de eritrócitos danificados, anormais ou envelhecidos ocorre pela fagocitose
via macrófagos do baço - estes percebem alterações quanto a deformabilidade: membrana, forma ou fluidez normal da hemoglobina.
1ª Nos casos das células envelhecidas especificamente, ocorre (1) redução da atividade metabólica e oxidação da hemoglobina e (2)
formação de agregados de proteína de banda 3.
2ª - Esses agregados são estabilizados por moléculas de hemoglobina oxidadas (hemicromos), as quais passam a participar dos
agregados na superfície da célula - estes agregados são reconhecidos por anticorpos e células de defesa, sendo retiradas da circulação para ser
enviadas ao baço e eliminadas (fígado em menor parte).

3ª - A hemácia nos macrófagos do sistema reticulo endotelial é quebrada em 3 componentes:


Globina: esta é quebrada em aminoácidos e liberada no plasma para ser reaproveitada.
Ferro: liberada no plasma e se liga a transferrina, a qual a transporta ao fígado ou baço para ser estocada (na forma de ferritina) -
quando em situação de demanda de novas células esse ferro volta a se ligar a transferrina no plasma para ser transportada a medula óssea.
Protoporfirina: é metabolizada em biliverdina dentro do macrófago, a qual é liberada no plasma como bilirrubina não conjugada -
esta é direcionada ao fígado e convertida a bilirrubina conjugada, que pode ser eliminada pela vesícula biliar no lumem do intestino.
PS: parte da bilirrubina ejetada pela bile se encontra como urobilinogênio, o qual é reabsorvido para a circulação e direcionado
aos rins (e logo a urina, onde da coloração amarela a esta) // outra parte é metabolizada por bactérias intestinais, gerando o
estercobilinogênio (este é eliminado nas fezes, dando cor amarronzada a estas).

5 - Hemoglobina - Processo de síntese:


4.1 - Composição: a hemoglobina é composta por proteínas conjugadas (96%) junto a um grupamento heme (4%) - este último é formado
por ferro e grupamentos porfirínicos.

4.2 - Síntese: como visto anteriormente este processo ocorre em várias etapas dentro da eritropoiese, da multiplicação até a maturação.
1ª - O ferro é um dos principais substratos para a síntese - este pode ter origem por duas fontes:
(a) Absorvido da nutrição - o que ocorre no intestino.
(b) Aproveitado da hemocaterese - após a degradação no baço os metabólicos (bilirrubina e ferro) presentes nas hemácias são
liberados na circulação, com o segundo sendo estocado no baço e fígado.
2ª - O ferro na circulação (independente da origem) e estocado dentro de macrófagos sobre a forma de ferritina (especialmente no
fígado) ou pode ser acumulada nos tecidos e fígado sobre a forma de hemossiderina (ocorre em hemorragias e não pode ser reutilizada).
PS: ainda existe pequena parte do ferro na transferrina que é eliminada do organismo via urina ou fezes.

3ª - Na necessidade de uso o ferro no fígado se liga à transferrina e é direcionado a medula óssea - nesta os precursores eritróides
realizam endocitose do ferro, incorporando-a em sua mitocôndria.

4ª - O ferro absorvido é incorporado à protoporfirina, formando o grupo heme da hemoglobina.

5ª - A partir do rubrócito basófilo já passa a ocorre a produção da hemoglobina - a partir desta etapa as células seguintes vão
diminuindo de tamanho o núcleo segue condensando sua cromatina (fica menor também), até que seja ejetado.

(em resumo)
Aula 3 - Coleta de Sangue e Exames:

1 - Introdução:
Funções: a partir da coleta de sangue a amostra pode ser utilizada para exames diversos
A - Hematologia: analise da composição do sangue - elementos celulares do sangue; plaquetas e fatores de coagulação; proteínas
plasmáticas; fibrinogênio...
B - Bioquímica Clínica: analise de sangue utilizando princípios da química para gerar informações quanto a presença/quantidade de
enzimas, metabólitos, hormônios e eletrólitos - geram informações relacionadas ate mesmo a outros sistemas (além do circulatório).

PS: de acordo com o propósito do exame podem ocorrer diferenças no processo de coleta da amostra.

2 - Hemograma: conjunto de testes laboratoriais que avalia quantitativa e qualitativamente os elementos celulares do sangue - hemácias,
plaquetas e leucócitos.

Utilidade: é um exame prático, barato e de alta utilidade clínica (se feito corretamente) - é o principal exame realizado dentro da
hematologia (pode detectar as três principais e mais comuns doenças no estudo da hematologia).
PS1: necessita de uma coleta perfeita para eficiência de diagnóstico.
PS2: também é de vital importância o conhecimento prévio sobre as características sanguíneas de cada espécies - valores, proporções
celulares e alterações de morfologias - para uma correta interpretação correta do exame.

Recomendações do hemograma (usos):


(a) Como exame de triagem para avaliar a saúde geral do paciente e identificar doenças - revela estados patológicos quanto a alterações
metabólicas e parasitárias.
(b) Monitoramento da progressão de um paciente que apresente alguma condição medica ou que esteja sobre tratamento com algum
medicamento - útil para avaliar e monitorar se o tratamento prescrito ao paciente está dando resultado.

(c) Como exame de rotina anterior a procedimentos cirúrgicos - ajudam a identificar diversas situações importantes para o
procedimento cirúrgico: algumas podem ser compensadas antes da cirurgia, ou em alguns casos levar ao adiamento/cancelamento do
procedimento
C.1 - Anemia: resulta em hipóxia no animal - por sua vez gera complicações anestésicas.
C.2 - Desidratação: hipotensão durante o procedimento é um fator de risco.
C.3 - Leucocitose: pode ocorrer por inflamação, estresse ou excitação (?).
C.4 - Leucopenias: determina maior dificuldade em promover resposta anti-inflamatória no pós-operatório.
C.5 - Trombocitopenia: a realização de contagem de plaquetas é vital no pré-operatório - já que um animal com baixa coagulação
teria hemorragia excessiva durante o procedimento.

Interpretação do hemograma: deve levar em conta os fatores:


I - Se deve analisar em conjunto com o histórico do animal - ao se relacionar a sintomatologia com as alterações clinicas se tem um
diagnóstico mais preciso.
II - Levar em conta as particularidades fisiológicas de cada espécie // além das particularidades individuais do animal (idade, sexo,
condições anteriores, etc).

PS: resultados does exame clínico indicam uma situação anormal quanto ao componente sanguíneo do animal, porem raramente leva a
um diagnóstico para a causa da situação.
3.1 - Técnica de punção (com seringa e agulha descartável): com o sangue coletado podem ser feito vários exames (hematológicos,
sorológicos, bioquímicos, montagem de esfregaços, etc).

1ª - Inicialmente deve ser feito a contenção do animal - sendo ainda que esta deve ser feita de tal forma a minimizar o stress do animal, já
que tal stress geraria interferência no resultado.

2ª - Realizar tricotomia e antissepsia no local da coleta (escolhido de acordo com a espécie) antes que a agulha seja introduzida na
veia - de preferência a área a ser puncionada deve ser depilada antes da antissepsia.
PS1: antissepsia pode ser feita com álcool a 70% ou álcool iodado a 1%.
PS2: na rotina a tricotomia nem sempre é feita - geralmente é utilizada em procedimentos que se necessite melhor visualização do vaso
a ser puncionado.
PS3: dependendo do caso pode ser feito um garrote para facilitar o processo - compressão da veia escolhida cranialmente ao local
desejado - caso for necessário pode-se ainda distender a pele sobre a veia, para que esse fique mais firme.
PS4: local de punção varia de acordo com a espécie, quantidade de sangue a ser colhido e a finalidade laboratorial da amostra.

Eqüinos: o local mais prático para a punção varia de acordo com a espécie e a situação - é feita com - com agulha hipodérmica 40x12 ou
40x16 (40 mm x 1,60 mm).
I - Veia jugular: principal local - para quando se deseja maiores quantidades.
II - Pequena incisão na borda de orelhas: útil para pequenas quantidades e pesquisa de hemoparasitas (esfregaço).

Bovinos: o local mais prático para a punção varia de acordo com a espécie e a situação - é feita com - com agulha hipodérmica 40x12 ou
40x16 (40 mm x 1,60 mm).
I - Veia jugular, mamaria ou coccígea: para obtenção de maiores quantidades.
II - Pequena incisão na borda de orelhas: também utilizado para pesquisa de hemoparasitas, realizando-se o esfregaço do sangue
obtido logo em seguida.

Ovinos e caprinos: feita com agulha hipodérmica 40x12 ou 40x16 (40 mm x 1,60 mm) - feita na veia jugular.

Cães: com agulha 25x7 ou 25x8.


I - Veia jugular, cefálica ou safena: para obtenção de maiores quantidades de sangue.
II - Pequena incisão na borda de orelhas: útil para quando se deseja realizar pesquisas de hemoparasitas ou alguns testes sorológicos
(da leishmaniose visceral por exemplo) - se realiza um pequeno corte na ponta da orelha, recolhendo o sangue em um papel de filtro no
segundo caso e realizando um esfregaço sangüíneo normal no primeiro.
Gatos: com agulha 25x7 ou 25x8.
I - Veia jugular, cefálica e safena: utilizadas para obtenção de maiores quantidades.
II - Pequena incisão na borda de orelhas: para pesquisas de hemoparasitas.

Suínos: com agulha 40x12 ou 40x16.


I - Veia cava anterior ou seio venoso orbital
II - Pequena incisão na borda de orelhas: para pesquisas de hemoparasitas.

Coelhos: feita na marginal da orelha - 25x7 ou 40x12.

Aves: na veia braquial e jugular

3ª - Coloque a agulha na seringa sem retirar a capa protetora - não toque na parte inferior da agulha,
4ª - Movimente o êmbulo e pressione-o para retirar o ar - retire a capa da agulha e faça a punção: solte o garrote assim que o sangue
começar a fluir na seringa.
PS1: quantidade de sangue coletada varia de acordo com a espécie e proposito da coleta.
PS2: bisel deve estar posicionado para cima.
PS3: em suínos pode ocorrer entupimento da agulha por tecido adiposo e coágulos de sangue quando é feito mais de uma punção no
mesmo local - isto ocorre também (em menor parte) em outras espécies, especialmente os pequenos.

5ª - Separe a agulha da seringa com o auxílio de uma pinça e descartar a agulha em local apropriado - caso necessário pressionar com
algodão a parte puncionada.

3.1.1 - Cuidados para se evitar hemólise e danos aos leucócitos: a hemólise extravascular ocorre como consequência da coleta e
processamento errado da amostra por motivos distintos - algumas dicas para se evitar danos a amostra sendo:

(I) Observar se a agulha possui diâmetro adequado à quantidade de sangue que se deseja e ao calibre da veia escolhida.
PS1: se a veia for traumatizada durante a punção o primeiro tubo obtido pode apresentar hemólise, enquanto os seguintes
costumam ser adequados.
PS2: não puncionar vasos de calibre muito pequeno ou realizar a punção “às cegas”.

(II) Deixar o sangue fluir para seringa com o mínimo de vácuo: retrair excessivamente o êmbolo de uma seringa pode causar suficiente
pressão para hemólisar a amostra.
PS1: outro efeito negativo da pressão excessiva pela seringa é o colabamento da parede da veia contra o bisel da agulha.
PS2: se o sangue parar de fluir rotacionar cuidadosamente a seringa e a agulha, procurando posicionamento mais adequado.
PS3: no caso do sistema a vácuo com coleta múltipla não existe tal risco.

(III) Retirar a agulha da seringa antes de despejar sangue no recipiente // escorrer o sangue lentamente pela parede do tubo.
(IV) Nos casos de homogeneização com anticoagulante o processo deve ser feito de forma suave.
(V) Não demorar na manipulação do material - processamento deve ser rápido (imediato no caso dos esfregaços sanguíneos).
(VI) Preencher os túbulos de forma adequada: alguns aditivos em alta concentração (fluoreto de sódio por exemplo) podem causar
graus variáveis de hemólise.
(VII) Não realizar coleta com seringas e agulhas molhadas e/ou quentes

Importância do controle da hemólise: gera interferência nos ensaios laboratoriais - isto depende da magnitude da hemólise, do analito a
ser determinado e da metodologia utilizada.
PS: em decorrência de sua alta prevalência (ocorre em até 3,3% do total das amostras de rotina) e do seu impacto nos resultados
laboratoriais, o médico solicitante deve ser capaz de diferenciar e reconhecer as causas de alterações mais importantes da hemólise.

Exames afetados: AST (TGO), ALT (TGP), fosfatase alcalina, GGT, bilirrubina, LDH, magnésio, fósforo, potássio, cálcio, CK,
troponinas, glicose, sódio, cloro, ferro, lipase, insulina, T4, proteína total, albumina, fosfatase ácida, dentre outros.

Diferenciação laboratorial de hemólise - In vivo vs por erro de coleta:


Hemólise in vivo:
(a) Ocorre um aumento da hemoglobina, do LDH, do índice de reticulócitos e da bilirrubina livre.
(b) Sem alteração dos níveis de potássio.
(c) Diminuição da haptoglobina.

Hemólise in vitro:
(a) Aumento paralelo de hemoglobina, LDH, potássio e AST (TGO).
(b) Sem alterações da haptoglobina e do índice de reticulócitos.
PS: levar em conta também se a amostra foi colhida via condutas inapropriadas (item 3.1.1)

3.2 - Técnica de punção (com sistema a vácuo e coleta múltipla): como principais vantagens este método (1) não precisa de controle no
volume de sangue sendo depositado nos tubos e (2) gera homogeneização automática das amostras - estes fatores levam a coleta de
amostras de maior qualidade no geral.

1ª - Desencape a agulha com trava de segurança no adaptador de coleta (canhão).


2ª - Insira o primeiro tubo de coleta dentro do adaptador e o pressione até o limite.
3ª - Ajuste o garrote e escolha a veia de acordo com a espécie finalidade da amostra (igual ao método com sistema aberto - com agulha) -
faça a antissepsia do local da coleta com algodão umedecido em álcool a 70% ou álcool iodado a 1% e não toque mais no local desinfetado.
4ª - Puxa a trava de segurança na agulha e desencape-a, insira está com o bizel voltado para cima - solte o garrote assim que o sangue
começar a fluir no tubo.
5ª - Segure o sistema pelo adaptador e troque o tubo dentro do adaptador a medida que cada um esteja preenchido com a quantidade que
se deseja.
6ª - Separe a agulha do suporte com o auxílio de uma pinça e descarte a agulha em recipiente apropriado.

Cuidados para se evitar hemólise e danos aos leucócitos: semelhante a como no método anterior.

4 - Armazenamento de amostras: após a coleta estocar o sangue colhido em em tubo de ensaio - o tipo de tubo (com ou sem coagulante)
varia de acordo com o elemento sendo analisado (soro ou plasma) e também do propósito do exame:
(a) Para análises hematológicas as amostras devem ser de sangue completo (tratado com anticoagulante).
(b) Para analises do soro estocar em tubos sem anticoagulante para a análise do soro.
4.1 - Estocagem com anticoagulante (exames hematológicos e bioquímicos):
1ª - Retirar a agulha e transferir o volume para um tubo com EDTA (tampa roxa), em seguida homogeneizar delicadamente por 30
segundos.
PS1: escorra delicadamente o sangue pela parede do tubo - este procedimento evita a hemólise da amostra.
PS2: coletar de 3 ml a 5 ml de sangue - tubos com volume insuficiente ou com excesso de sangue alteram a proporção correta de
sangue/anticoagulante, podendo levar a hemólise e resultados incorretos - geralmente no próprio tubo existe um pequeno traço que indica o
volume de sangue que deve ser armazenado.

2ª - Para exames hematológicos as amostras podem ser armazenadas por um período máximo de 6 horas à temperatura ambiente ou 24
horas na geladeira (refrigerados 4°C) - isto é feito evitar a degradação do material (ocorre alteração da morfologia celular, destruição das
hemácias e consumo de plaquetas in vitro).
PS1: estas amostras nunca devem ser congeladas.
PS2: após 24 horas sem processamento já passa a apresentar alterações.

PS1: para a hematologia de aves, répteis e peixes, indica-se a utilização de tubo com Heparina.
PS2: nas dosagens bioquímicas é preferível trabalhar com sangue heparinizada do que com sangue coagulado - facilita a manipulação
da amostra e favorece a conservação, além de diminuir o risco de hemólise.
PS3: ainda sobre as dosagens bioquímicas, estas podem ser realizadas tanto no soro (obtido a partir de sangue coletado sem
anticoagulantes) quanto no plasma - além disto as amostras (soro ou plasma) podem ser refrigerados por até 3 dias ou congeladas por vários
meses até a analise sem que haja interferência nos resultados.
PS4: caso a amostra seja utilizada para montagem de esfregaços, este devem ser preparados imediatamente.

4.1.1 - Anticoagulantes: existem diversos que podem ser utilizados na amostra:


EDTA: é o anticoagulante mais utilizado na rotina dos laboratórios - possuem um excelente poder preservador da morfologia e
características de coloração das células vermelhas e brancas.
PS1: se usado em excesso prejudica a determinação do hematócrito - provoca uma falsa diminuição deste devido ao efeito de
"encarquilhamento" celular.
PS2: na rotina laboratorial o tubo que o contém é identificado por uma tampa de borracha de cor roxa.

Mecanismo: atuam como quelantes, evitando a coagulação do sangue ao se combinar com o cálcio.
Dose: quantidade recomendada de 1 gota (0,1 ml) de uma solução a 10% para 5 ml de sangue // 1 mg de pó por ml de sangue.

Heparina: possui limitações - é utilizado na rotina como anticoagulante quando não se necessita de propriedades preservativas.
PS1: afeta de forma intensa e prejudicial as qualidades de coloração dos leucócitos - por isto é mais indicado para provas
bioquímicas (dosagem de Ca++ no sangue por exemplo).
PS2: tem um custo bastante elevado.
PS3: na rotina laboratorial o tubo que o contém é identificado por uma tampa de borracha de cor verde.
Mecanismo: evita a coagulação do sangue ao interferir na conversão de pró-trombina em trombina.
Dose: quantidades recomendadas são - 1 gota (0,1 ml) de uma solução a 1% para 5 ml de sangue.

Fluoreto de sódio: atua como anticoagulante e conservador de glicose - por isto usado quando se deseja a determinação da glicemia.
PS: na rotina laboratorial o tubo que o contém é identificado por uma tampa de borracha de cor cinza.
Dose: usar 1 gota de fluoreto de sódio para cada 3ml de sangue.

Citrato de sódio: usar 0,5 ml para cada 4,5 ml de sangue.

4.2 - Estocagem sem anticoagulante (exames sorológicos, hormonais e bioquímicos):


1ª - Retirar a agulha da seringa e transferir o volume para um tubo com ativador de coágulo ou tubo seco (tampa vermelha ou
amarela).
PS: para dosagem de glicose e ácido lático deve-se utilizar o tubo com Fluoreto (tampa cinza).

2ª - Após a coleta de amostras em tubos mantê-las em temperatura ambiente por 20 a 30 min para permitir a formação e retração do
coágulo, o qual é separado da amostra, gerando a completa obtenção do soro - após a retração do coagulo o soro pode ser separado por duas
maneiras (espontânea ou mecânica):
Separação Espontânea: utilizando de uma pipeta Pasteur ou automática, aspire e transfira cuidadosamente o soro para um tubo
limpo previamente identificado - guarde a amostra em geladeira por 72 horas (no máximo) ou em congelador a -20°C até que esta seja
enviada ao laboratório.
PS1: durante a separação cuidado para não tocar no coagulo - pode levar que as células se misturem novamente ao soro.
PS2: o resfriamento evita a hemólise da amostra.
PS3: toda amostra armazenada em geladeira ou congelador deve estar tampada e devidamente identificada.
Separação Mecânica: centrifugue o sangue por 10 minutos a 1.500 rpm e retire o tubo da máquina após a completa parada da
centrífuga - aspire e transfira cuidadosamente o soro e armazene este até o envio ao laboratório (da mesma forma que o anterior).
PS: como principal vantagem a separação mecânica possibilita a obtenção de maior volume do soro.

3ª - O processamento do material deve ser o mais rápido possível - as amostras podem ficar em temperatura ambiente (até o envio ao
laboratório) por no máximo entre 2 a 3 horas após a coleta (após este período pode ocorre hemólise) - caso a amostra não seja enviada nesse
período deverão ser refrigeradas de 2ºC a 8ºC até o momento da entrega ao Laboratório.

PS1: a única diferença analítica entre soro e plasma é que o soro não contém fibrinogênio (foi utilizado para a formação do coágulo -
rede de fibrina junto a células sanguíneas no fundo do frasco) - mesmo quando se considera a dosagem de proteínas totais este valor é tão
pequeno que pode ser desprezado.
PS2: a análise do soro deve ser feita em temperatura ambiente - motivo pelo qual os laboratórios clínicos devem ter temperatura 20°C
e 26°C, o que mantem a estabilidade das reações sorológicas e a confiabilidade dos resultados.

PS - Técnica de Colheita - Material e Exame da Medula Óssea:


Finalidade: o exame da medula óssea fornece informações a respeito do estado hematopoiético dos animais - entre as situações
esclarecidas pelo exame estão:
I - Anemias não regenerativas, neutropenias e trombocitopenias persistentes.
II - Alterações neoplásicas, intoxicação por drogas e radiação: são observadas células atípicas no sangue.
III - Diferenciação anemias ferroprivas e por inflamação crônica: colorações especiais fornecem ainda informações sobre os estoques de
ferro e ajuda na diferenciação entre as síndromes.

PS: é o único meio de avaliar a resposta a anemias em cavalos (?).

Locais de coleta: deve ser feita na medula óssea ativa (vermelha) - nos animais adultos a maioria das cavidades ósseas dos ossos longos são
preenchidas por medula amarela, estando a atividade hematopoiética reservada aos ossos chatos (costelas, pélvis, ossos da cabeça,
vértebras e extremidades dos ossos longos - são estes os locais escolhidos para a coleta):
I - Esterno: pode ser escolhido para este procedimento em grandes animais.
II - Porção dorsal da oitava a décima primeira costelas: também uma boa escolha em grandes.
III - Crista ilíaca: é um local adequado para colheita tanto em grandes animais como nos pequenos.
IV - Porção proximal do úmero e fêmur: local útil para coleta em pequenos.

Técnicas:
Aspiração: pela inserção de agulha nos locais citados e aspiração do material para dentro do êmbulo.
PS: no caso de obtenção do material por aspiração deve-se ter o cuidado de não aspirar mais que 0,5 ml de material - pode levar a
contaminação do material com sangue, o que pode dificultar ou até mesmo impedir o estudo do esfregaço com o material obtido (pela
mesma razão não se deve aspirar o material medular com muita força).

Biopsia: na maioria das vezes a aspiração do material medular já é adequada para a avaliação, porem em alguns casos é necessária a
biópsia:
I - Quando se desejam informações sobre a topografia e arquitetura medulares (principal motivo).
II - Quando não de obtém material após diversas tentativas de aspiração.
III - Quando há suspeita de mielofibrose.
PS: existem agulhas especificas anto para obtenção de material por aspiração ou para biópsia.
Aula 4 - Hemograma:

1 - Introdução: conjunto de testes laboratoriais que avalia quantitativa e qualitativamente os elementos celulares do sangue - dentro deste
tipo de teste está incluso a avaliação das hemácias (eritrograma) e dos leucócitos (leucograma - próximo MEC).

PS - Eritron: define a massa total de eritrócitos circulantes associado ao tecido eritropoiético da medula óssea.

A - Eritrograma: por sua vez avalia os parâmetros


(a) Valor numérico: quantidade de eritrócitos/µl ou mm3.
(b) Concentração da hemoglobina: dado em g/dl.
(c) Hematócrito: em percentual (%).

B - Leucograma: foco do próximo resumo

C - Proteínas plasmática totais: exame reflete a relação entre albumina e globulinas - exame é feito com aparelho especifico (refratromico)
(?).
Utilidade:
I - Quando diminuída pode ser indicativo de disfunção hepática - visto que que grande parte das proteínas plasmáticas são
produzidas no fígado.
II - Pode também evidenciar quadros de desidratação.
III - Indica alteração no equilíbrio osmótico.
IV - Diagnostica alterações na produção de globulinas para anticorpos.
V - Dentre outros.

(valores de referência em cada espécie // aparelho especifico que gera os dados)

PS - Esfregaço sanguíneos: de certa forma podem ser considerados como método de contagem de eritrócitos, leucócitos e plaquetas (ou
seja, eritrograma e leucograma) - porem além do aspecto quantitativo gera ainda informações quanto a morfologia celular.

2.1 - Hemograma - Eritrograma: é a avaliação dos eritrócitos, hematócrito e da hemoglobina, assim como a contagem e avaliação dos
reticulócitos (nos casos necessários) - é um dos exames que compõe o hemograma.
PS: pode ser útil para a determinação de tipos de anemias por exemplo - tópico da próxima aula.

2.1 - Parâmetros avaliados (3): os métodos para a avaliação do estado funcional do eritron são:

(I) Contagem total de eritrócitos: pode ser feito por métodos manuais ou automáticos.
Manuais - Hematocitometro (Câmara de Neubauer): o método manual utilizado é o hemocitômetro (também chamado de camara de
Neubauer) - muito utilizado em pequenos laboratórios, onde o volume de serviços não justifica a compra de um aparelho para a contagem
por métodos automáticos.
1ª - Sangue é diluído 200x em soro e colocado sobre a lâmina.
PS: a diluição para observação de hemácias ou leucócitos varia - no segundo caso é de 20x apenas.

2ª - A lâmina é colocada sobre a camara de Neubauer e analisada quanto aos quadrantes - no caso de hemácias são contadas nos
quadrantes com a letra R (ver abaixo).
3ª - Os valores observados são então aplicados sobre a formula - gera estipulação do número total a partir do amostral.

PS1: este método apresenta taxa de erros de até 20%.


PS2: no caso de contagem manual de leucócitos a metodologia é um pouco diferente:
(1) As células são contadas dentro dos camarás laterais (marcadas com W).
(2) A diluição e feita em 20x (diluição de turkey) e não 200x, como ocorre nas hemácias.
(3) A formula utilizada é outra:

Métodos automáticos: pode ser realizada através de aparelhos fotoelétricos, eletrônicos ou a lazer - são mais comumente utilizados
em grandes laboratórios:
Fotoelétricos: medem a quantidade de luz que é transmitida através de uma suspensão de hemácias.
Eletrônicos: hemácias são diluídas em uma solução eletrolítica e passadas por uma abertura a qual apresenta certa resistência
elétrica - a alteração gerada na frequência elétrica é medida pelo aparelho, sendo esta representativa do número de células.
Aparelhos a laser: a difração da luz incidida sobre as células faz a contagem se baseando no tamanho e complexidade interna de
cada célula.

PS: estes métodos podem apresentar até 5% de erros.

(II) Teor de hemoglobina: reflete diretamente a capacidade do eritron como carreador de oxigênio - a determinação exata do teor de
hemoglobina não é fácil de ser obtida, pois algumas técnicas (especialmente as de comparação visual com algum padrão) não são
suficientemente precisas.
PS: a dosagem de hemoglobina é dada em gramas por % ou gramas por dl.

Métodos visuais: pela comparação da coloração da hemácia a partir de um padrão (célula saudável) - de acordo com a coloração ela é
então classificada em hipocrômica ou normocrômica (?).

Métodos químicos (método de escolha): são os mais utilizados na prática - a leitura é feita por espectofotometria, que possui precisão
suficiente para uma interpretação correta - nestes métodos é feito a conversão de todas as formas de hemoglobina presentes no interior do
eritrócito em cianometahemoglobina, cuja dosagem então é determinada pelo espectofotômetro.

Hemoglobina - Definição: se trata de uma proteína conjugada composta por uma proteína simples (a globina) junto a
um núcleo prostético do tipo porfirina (chamado heme) - o principal componente químico do grupo heme é o ferro.
PS: o grupamento heme é um composto metálico com um átomo de ferro em seu interior.

Hemoglobina - Proporção normal: a hemoglobina é responsável por até 90% do peso seco de um eritrócito adulto, corresponde a
aproximadamente 1 terço de seu conteúdo celular - a sua síntese ocorre no citoplasma dos precursores nucleados dos eritrócitos.

Hemoglobina - Estrutura química: é formada por um conjunto de quatro moléculas de heme ligadas a uma cadeia peptídica -
formam um conjunto de duas cadeias alfa e duas beta.

Hemoglobina - Tipos de hemoglobina: dentro de uma mesma espécie existem várias formas de hemoglobina dependendo de seu
estado no processo de transporte de gases ou ações enzimáticas:
(a) Oxi hemoglobina: hemoglobina quando ligada ao O2 (saturada) - tem cor vermelho-vivo, e ao passar pelos capilares parte do
O2 é liberado aos tecidos e a Hb é reduzida formando-se uma quantidade de desoxi-hemoglobina (ou hemoglobina reduzida).
(b) Meta hemoglobina: é formada quando o Ferro da molécula heme é oxidado do estado ferroso (Fe2+) para o estado férrico
(Fe3+), perdendo a capacidade de se ligar e transportar oxigênio - a metahemoglobinemia ocorre quando a hemoglobina é oxidada em uma
velocidade maior que a capacidade enzimática normal para a redução da hemoglobina, podendo ser decorrente de intoxicações diversas ou
deficiências enzimáticas congênitas
(c) Desoxi-hemoglobina: hemácia reduzida (não carrega O2) - possui cor azulada, a qual em condições normais não pode ser
percebida como alteração da coloração da pele.

PS: existem ainda diferenças entre as hemoglobinas fetais e adultas.

Hemoglobina - Mecanismo de Ação (Trocas gasosas via Hemoglobina): os grupamentos heme e polipepitídicos ligam-se através de
pontes que se abrem facilmente para fazer a ligação com o O2 ou com o CO2 - a prioridade de ligacao (com CO2 ou O2) é estabelecida de
acordo com a tensão de cada gás no local.
Nos capilares pulmonares: a tensão de O2 é elevada e de CO2 é baixa - desta forma favorece a ligação da hemoglobina com o O2
enquanto estimula a liberação de CO2.
Nos capilares dos tecidos: ocorre o contrário.

Hemoglobina - Mecanismo de Ação (Degradação da Hemoglobina):


1ª - O eritrócito quando no fim de sua vida útil perde a sua elasticidade, passando a não conseguir mais passar pelos sinusóides do
baço.
2ª - Os eritrócitos envelhecidos ficam retidos no baço, onde são fagocitados por macrófagos - no interior desta célula ocorre o
desmembramento da hemoglobina, com liberação do ferro da heme e da globina da hemoglobina.
3ª - Como produto desta reação é formado a bilirrubina, que abandona o macrófago e passa a circular no plasma - esta é
direcionada ao fígado para ser metabolizada e liberada na bile.

(III) Determinação do Hematócrito (HC): a palavra significa (literalmente) “separação do sangue”, sendo este valor um indicativo do
volume do sangue total que é ocupado pelas hemácias (massa vermelha).

Método do Microhematócrito: atualmente o de eleição para a determinação do volume globular por necessitar de menor quantidade
de sangue e ser rápido - o teste é realizado em 5 minutos e a leitura é feita comparando-se o tubo do microhematócrito com tabela especial.

1ª - Inicialmente o sangue e colocado em um túbulo com anticoagulante (?) - este é centrifugado, gerando divisão em 3 partes:
Plasma: componente líquido do sangue - esta parte conterá o anticoagulante, o que pode interferir em alguns exames.
Capa leucocitária: camada bastante fina branca ou acinzentada, formada por leucócitos e plaquetas - fica logo acima da
camada vermelha.
Massa vermelha: composta pelos eritrócitos - fica ao fundo do tubo de ensaio.

2ª - O microhematócrito e sobreposto em cima de um cartão de leitura (ver abaixo).

3ª - Os resultados do hematócrito são expressos em porcentagem, sendo representativo da proporção de células vermelhas no
sangue - de acordo com esta porcentagem é possível classificar a concentração sanguínea do animal em:

(a) Policitemia verdadeira: aumento na proporção de células da série vermelha no sangue, sendo decorrente do aumento de
produção de eritrócitos (?).

(b) Policitemia relativa: principalmente por casos de desidratação (pela perda de líquidos do organismo) - neste caso as
proteínas plasmáticas totais também estarão aumentadas, o que pode ser usado para diferenciar de aumentos reais no hematócrito
(policitemias verdadeiras).
PS: outra situação seria quando sangue é colhido em situações de excitação ou estresse - nestas situações o baço (que reserva
cerca de 1/3 do potencial de eritrócitos circulantes) sofre estimulo adrenérgico, com consequente contração do órgão e liberação de grande
quantidade de eritrócitos na corrente circulatória, o que pode causar alterações de 10 a 15% na determinação do hematócrito - isto pode ser
observado especialmente em equinos, porem também ocorre (em menor grau) em certas raças de cães de difícil manuseio.

(c) Anemia: diminuição na proporção de hemácias no sangue (ou de hemoglobina em cada hemácia - situação também
detectada em um eritrograma).
PS: pode ser um erro de exame nas situações em que (1) é utilizado EDTA em excesso na amostra colhida, (2) no uso de
amostras velhas e (3) na coleta de sangue com uso de anestésicos ou contenção química, levando a ocorrência de "encarquilhamento celular"
(diminuição do tamanho dos glóbulos).

(d) Normal: proporção entre plasma e eritrócitos é normal (dentro dos limites estipulados para cada espécie).
PS1: tais classificações serão abordadas com mais detalhes na próxima aula.
PS2: a determinação da condição do animal em comparação com os valores de referência varia entre espécies (ver tabela).

PS - Avaliação extra (Botão leucocitário): além da determinação da massa eritrocítica outras avaliações podem ser feitas a partir do
hematócrito - por exemplo caso o botão leucocitário esteja muito largo pode ser indicativo de excesso de leucócitos.

PS - Avaliação extra (Teor de proteínas plasmáticas totais): também é feito a partir de um microhematócrito - se deve quebrar o tubo
e despejar uma gota do plasma sobre o aparelho especifico para leitura (proteinômetro).

PS - Avaliação extra (Aspecto do plasma:) pode oferecer informações sobre o estado da amostra colhida:
I - Claro: estado normal - sem alterações.
II - Avermelhado: pode indicar hemólise.
III - Esbranquiçado: ocorre em lipemias.
IV - Amarelado: indicativo de icterícia.

PS - Avaliação extra (Presença de protozoários hemoparasitas): alguns podem ser observados macroscopicamente dentro do tubo do
hematócrito, logo acima do botão leucocitário - exemplos sendo:
(a) Trypanosoma equinum e T. equiperdum: encontrados no plasma de equídeos.
(b) T. Cruzi: ocorrência em cães e tatus.
(c) Larvas de helmintos: também podem ser observadas - especialmente as microfilárias dos gêneros Dirofilaria e Diptalonema no
plasma de cães habitantes de regiões litorâneas (onde existem insetos transmissores).

2.2 - Parâmetros Derivados - Índices Hematimétricos (3): os 3 anteriores por sua vez podem ser utilizados para o cálculo dos índices
hematimétricos (valores globulares médios) - estes valores são de importância particular na determinação do tipo morfológico das anemias,
servindo de guia para a determinação do tratamento e monitoração do paciente.
PS: em alguns equipamentos contadores automáticos estes índices também são gerados dentro do mesmo teste.

(I) Volume Globular Médio - VGM: indica o tamanho médio dos eritrócitos (volume do eritrócito) - se aumentado, normal ou diminuído
indica, respectivamente, se as células estão macrocíticas, normocíticas ou microcíticas - este índice é obtido através da formula:

PS: é indicativo (1) da produção de Hb nos eritrócitos e (2) da normalidade dos processos de divisão celular.

(II) Concentração hemoglobínica globular média (CHGM): medida da concentração de hemoglobina nas hemácias - se normal ou
diminuída, a alteração define morfologicamente se o eritrócito é normocrômico ou hipocrômico - determinado a partir da formula:

PS: é obtida considerando a taxa de peso da hemoglobina em relação a um dl de eritrócitos (não a um dl de sangue total).
(III) Hemoglobina globular média (HGM): indica o conteúdo hemoglobínico de cada hemácia (peso médio da hemoglobina em
cada célula) - calculado pela formula:

PS: é menos preciso que o CHGM, pois é calculado através dos dois índices menos sensíveis - dosagem de hemoglobina e contagem
total de hemácias - além disto possui pouco valor prático direto.

2.2 - Hemograma - Esfregaço sanguíneos: de certa forma podem ser considerados como método de contagem de eritrócitos, leucócitos e
plaquetas (ou seja, eritrograma e leucograma) - porem além do aspecto quantitativo gera ainda informações quanto a morfologia celular.

Utilidades:
I - Observação de alterações morfológicas/numéricas das hemácias são indicativas de alterações patológicas e/ou de produção - esta
análise é muito útil para a identificação do tipo (origem) de anemias por exemplo.
PS: dependendo do tipo de alteração que se deseja avaliar técnicas tintoriais especificas podem ser necessárias.

II - Pesquisa de hemoparasitas: tais como anaplasmose, babesiose, filariose, erliquiose, etc.


III - Alterações numéricas ou morfológicas de plaquetas e leucócitos.
PS: nos leucócitos também é feito a contagem diferencial (proporção de cada tipo de leucócito).

Método:
1ª - Inserir o tubo de microhematócrito levemente inclinado em uma amostra de sangue - o túbulo irá se preencher devido a ação da
gravidade: encoste o tubo sobre uma lâmina limpa, até que caia uma gota de sangue.

2ª - Espalhe esta gota com a lâmina extensora - escorregar a lâmina com movimento firme e único.
3ª - Corar a lamina de acordo com o propósito da observação - a técnica de coloração mais utilizada na rotina é a de panótico rápido,
porem diversos outros corantes podem ser usados para evidenciar alterações celulares importantes especificas - por exemplo com a de
Wright, Giemsa e o May-Grünwald Giemsa (MGG) - porem de forma geral estas técnicas são usadas apenas em projetos de pesquisa devido
ao maior tempo gasto.

4ª - Observar no microscópio a área apropriada (entre o corpo e a franja na lâmina) - ver abaixo:

PS: ao observar a lâmina mover o campo de observação em zigzag (ver baixo) - isto gera observação mais representativa e facilita
para que a pessoa não se perca na lâmina.

2.2.1 - Presença de alterações morfológicas e inclusões nas hemácias de um esfregaço: a forma normal dos eritrócitos depende do perfeito
equilíbrio entre as propriedades estruturais da membrana celular e hemoglobina e a influência dos meios intra e extracelulares - os
eritrócitos possuem forma definida por espécie e a mudança nesta forma pode interferir no funcionamento da célula (e portanto auxiliar no
diagnóstico em alguns tipos de anemia).
PS: vale lembrar porem que nem toda alteração de forma resulta em anemias // algumas das alterações que serão citadas são
encontradas em animais normais.

Forma normal: a forma mais comum das hemácias nas espécies é a do disco biconcavo - este pode ainda se alterar (deformar) durante a
passagem através da microcirculação (diapedese).
Formas alteradas:
A - Esferócitos: são eritrócitos pequenos e esféricos, sem o halo central por serem intensamente corados - aparecem como resultado
de deformação de membrana citoplasmática, geralmente ocorrendo como resultado da produção de anticorpos anti-eritrócitos (resultantes
de eritrofagocitose parcial).
PS: estas células possuem menor capacidade de deformação - por isto são prematuramente retirados da circulação pelo baço.

Causas: somente observadas em cães (?)


I - Ocorrem em anemias hemolíticas imunomediadas.
II - Após transfusões incompatíveis.

B - Aglutinação: ocorre também por anemias mediadas por anticorpos - células ficam aderidas umas às outras.

C - Acantócitos: são eritrócitos de contorno irregular, possuindo forma de estrela - podem ser resultado de disfunção de membrana
atribuído a alterações de colesterol e fosfolipídios.
PS1: estas células são removidas prematuramente pelo baço devido a sua maior facilidade a lise.
PS2: não devem ser confundidos com artefatos de técnica.

Causas:
I - Doenças renais e espenicas: na lipidose hepatica em gatos por exemplo.
II - Hemangiossarcoma: particularmente comum em cães.
III - Cirrose hepatica.

(acantócitos em destaque em A // esquisócitos em B)

D - Esquisócitos (fragmentos eritrocitários): são células deformadas ou pedaços de células que se destacam da célula - pode
apresentar forma de capacete ou de célula em gota.

Causas: a fragmentação ocorre como resultado de um defeito na produção ou na destruição acelerada de eritrócitos - são
encontradas em
. Casos de vasculite.
. Na coagulação intravascular disseminada (CID) - nesta a forma de capacete é característica.
. Também vistas em hemangiossarcomas.
. Também podem aparecer em doenças renais ou esplênicas crônicas (semelhante a como nos acantócitos).
. Podem ocorrer nas anemias ferroprivas.

E.1 - Inclusões - Pontilhado basofílico: são restos de ribossomos e polirribossomos que apresentam tom azulado formando agregados
finos e irregulares no eritrócito - a enzima pirimidina 5'nucleotidase que está presente nos reticulócitos cataboliza estes ribossomas e
polirribossomas.
Causas:
I - Ocorre nas intoxicações por chumbo - aparecem devido a enibição da enzima pelo chumbo.
II - Em respostas a anemia grave - quando junto a reticulócitos (?).

PS: aparecem nas anemias regenerativas em bovinos (?).

(agregação de ribossomos in vivo visível na célula no centro)

E.2 - Inclusões - Corpúsculos de Howell-Jolly: são inclusões esféricas de restos nucleares observadas em forma de pequenos pontos na
superfície do eritrócito (geralmente na periferia da célula) - possuem cor violeta, azul ou quase negros (?).
PS: não confundir com parasitas do gênero anaplasma (pp o Anaplasma marginale) - os parasitas estarão sempre em uma posição
fixa e terão o tamanho uniforme, enquanto que os corpúsculos apresentam localização variada e dimensões não uniformes.

Causas: sua presença indica resposta da MO ao estado anêmico.


. Podem aparecer nas anemias regenerativas.
. Presença pode indicar inefetividade esplênica ou esplenomegalia - visto que normalmente são rapidamente retirados de
circulação pelo baço.

PS: em sangue de gatos e cavalos sadios pode ter ocorrência de até 1%.

E.3 - Corpúsculo de Lentz: inclusão viral na forma de corpúsculo eosinofílico no citoplasma de hemácias/leucócitos - patognomônico
da Cinomose canina.
PS: mais comumente encontrado em neutrófilos.

E.4 - Corpúsculo de Heinz: são estruturas redondas na periferia da célula (membrana interna do eritrócito), as quais surgem por
consequência da desnaturação oxidativa da hemoglobina - sua formação pode ocorrer após a administração de alguns fármacos, anestésicos
ou substâncias químicas - como consequência o animal apresenta quadro de anemia hemolítica.
PS: quando encontrada em um animal com anemia hemolítica pode ser considerada como a causa da alteração, exceto no caso dos
gatos - nesta espécie até 50% de corpúsculos podem ser encontrados em um animal sem anemia ou hemólise clínicas.
Mecanismo de formação:
1ª - Ocorre pelo uso de substancia oxidantes no animal - estas levam a oxidação da hemoglobina em metahemoglobina.
PS - Exemplos de substancias oxidantes: cebola e drogas oxidantes por exemplo (acetaminofeno e benzocaína) - gatos são
mais sensíveis devido a devido a deficiência na atividade de enzimas glicuroniltransferase (?).

2ª - A metahemoglobina gera agregação de outras proteínas e precipita sobre a membrana dos eritrócitos sob forma de
hemicromos.
PS: como a metahemoglobina é insuficiente no transporte de oxigênio o animal pode apresentar quadros de dificuldade
respiratória, depressão, fraqueza, palidez de mucosas, cianose, dispneia, edema, etc.

3ª - Os hemicromos participam na formação dos Corpúsculos de Heinz - estas inclusões são reconhecidas pelo sistema fagocítico
mononuclear e os eritrócitos passam a ser retirados da circulação principalmente pelo baço e pelo fígado (hemólise extravascular).
PS1: ocorre também (em menor parte) a opsonização do corpúsculo por IgG e ativação do complemento - neste caso ocorre
ruptura de alguns eritrócitos na circulação (hemólise intravascular) e meta-hemoglobinúria.
PS1: a formação de metahemoglobina ainda é reversível, já os corpúsculos de Heinz formados não.
4ª - Animal pode apresentar quadro de anemia hemolítica.

Causas:
I - Ingestão de cebola (possui substancia oxidante n-propil dissulfeto)
II - Consumo de paracetamol em felinos (acetaminofeno): espécie é menos eficientes no metabolismo desse medicamento devido
à deficiência de glicuronidação e a capacidade limitada na via de sulfatação - como tratamento se tem as opções:

N-acetilcisteína (NAC): é o antidoto mais usado, o qual reduz a meia vida do paracetamol pela metade em gatos - ela (1) liga-
se diretamente com metabólitos do paracetamol para melhorar a sua eliminação e minimizar o dano celular; (2) serve como um precursor da
glutationa e (3) também ajuda a eliminar os radicais livres de oxigênio e pode reduzir a extensão da metahemoglobinemia.

Ácido ascórbico (vitamina C): funciona como antioxidante e pode converter metahemoglobina em hemoglobina (redução da
metahemoglobina) - sua utilização tem sido questionada pois pode causar alteração do trato gastrintestinal.

Metionina: atua como precursor de glutationa por via oral - substrato usada na conjugação (desintoxicação) do metabolito
toxico formado pelo paracetamol, porem vale lembrar que tem uso limitado pelo fato que a via do glucuronil é deficiente na espécie
(independentemente da quantidade de substrato disponível).
Azul de metileno a 1%: aumenta a reversão de metahemoglobina em hemoglobina - converte de volta o ferro para a
conformação ferrosa, revertendo a função da maioria das hemácias (não todas).

Cimetidina: atua na inibição da via de oxidação no fígado e pode ser útil na redução do metabolismo do paracetamol - de
forma geral diminui o efeito hepatotóxico pelo paracetamol, especialmente quando em associação com NAC e ácido ascórbico.
SAME: reduz efeito toxico hepático - pode ajudar num tratamento contínuo para lesão hepática provocada por paracetamol.

F - Dacriócito: forma similar à de uma gota - ocorrem por desordens mieloproliferativas.


G - Leptócito (codócitos): também chamado de célula em alvo (apresentam uma área de coloração aumentada no meio da área da
palidez central) - se formam em consequência de excesso de membrana em relação ao volume do citoplasma, como ocorre quando esta tem
excesso de lipídeos (colesterol).
Causas: são encontradas nas anemias crônicas e em situações de estase sanguínea.
PS: podem também ser decorrente do excesso de uso de EDTA na conservação da amostra (?).

H - Rouleaux: aparecem como aglomerados de células, semelhante a uma pilha de moedas - presente em desidratações (leva ao
aumento proteínas, inclusive fibrinogênio).
PS: em equinos pode ser fisiológico (?).

I - Crenação: hemácias em forma de engrenagem - pode ocorrer em casos de desidratação, porem também aparece em alguns casos
como artefato de técnica.
PS: ocorrência e comum (fisiológica) em bovinos.

J - Fusócitos: são hemácias em forma de fuso, nas quais a hemoglobina se polimeriza em forma de túbulos - são encontrados
normalmente em cabras de raça angorá.

K - Excentrócitos: condensação da hemoglobina na periferia da hemácia, as quais aparecem como projeções em brotamento na borda
destas células (hemácias com a hemoglobina deslocada para um de seus polos).

Causas: causado em geral por danos oxidativos, como os corpúsculos de Heinz.


. Encontradas em quadros hemolíticos como na ingestão de cebola em cães.
. Podem surgir em casos de hemoglobinúria pós-parto na vaca.
. Ocorre em animais que receberam drogas oxidantes - por exemplo a fenotiazina em cavalos ou paracetamol em gatos.

L - Equinócitos: são hemácias espiculadas com várias projeções regulares - geralmente não são relacionados a alterações no animal e
sim ao manuseio incorreto da amostra de sangue (aparecem geralmente como artefatos de técnica devido a estocagem do sangue).
Como artefato: no excesso de uso do EDTA ou uso de amostras antigas.
PS1: é considerado fisiológico em suínos.
PS2; também pode ocorrer em animais sobre exercício.

Causas patológicas: são situações mais raras - uremia, coagulação intravascular disseminada (CID), hemangiossarcoma,
desidratação celular, depleção de ATP, insuficiência renal e/ou hepática, picada por cascavel, glomerulonefrites e queimaduras graves.
PS: em gatos especialmente relacionado ao uso prolongado da doxorrubicina.
M - Eliptócitos (Ovalócitos): são hemácias com forma oval ou elipsoidal - ocorrem nas leucemias.
PS: fisiológico em espécies de camelídeos.

2.2.2 - Presença de hemoparasitas no esfregaço:


A - Rickettsias:
Gênero Haemobartonela: aparecem na forma de pequenos cocos ou bacilos escuros na periferia da hemácia - afetam gatos e cães.
Gênero Anaplasma: aparecem como pequenos pontos escuros no citoplasma da célula - encontradas nos eritrócitos de bovinos.
PS: a anaplasma marginale possui sempre localização periférica e é mais numerosa (enquanto A. centrale tem localização central).

B - Protozoários:
Gênero Babesia: também chamados de piroplasmas, pois possuem forma de chama de fogo - são encontrados no interior dos
eritrócitos na forma de gotas únicas ou duplas, unidas pelo vértice - podem ser observados no sangue de bovinos (B. bovis ou bigemina),
equinos (B. cabali ou equi) e cães (B. canis).
PS: em equinos podem estar presentes até quatro no mesmo eritrócito (Cruz de Malta).

Gênero Plasmodium: podem ser vistos no interior de hemácias de répteis, aves, cães, gatos e seres humanos.
Trypanosoma evansi:

C - Bactérias:
Mycoplasma haemofelis: aderidos na membrana externa na forma de bastonetes na superfície das hemácias

D - Helmintos:
Dirofilaria immits (microfilárias):
2.2.3 - Presença de Células em maturação:
A - Metarrubrícitos: são eritrócitos nucleados imaturos (?).
Causas:
I - Resposta a hipóxia com regeneração.
II - Tumor de MO

B - Reticulócitos: indicam regeneração quando junto a (?).


Aula 5 - Anemias:

1 - Introdução:
Conceito: se trata da diminuição do número de eritrócitos e/ou percentual de hemoglobina a abaixo dos valores de referência (os quais
variam estre as espécies).
PS1: o hematócrito também fica diminuído em anemias.
PS2: reconhecer a etiologia e tipo de anemia é de grande importância para o direcionamento de tratamento adequado.

Causas: são resultado de doenças primárias que levem a


- Destruição de hemácias;
- Perda de sangue por hemorragia;
- Menor produção de hemácias;

Sintomas:
. Dispnéia.
. Aumento da taxa cardíaca.
. Ocorrência de murmúrio (sopro anêmico): este decorrente do aumento da viscosidade do sangue (?).
. Aumento da taxa respiratória.
. Intolerância ao exercício.
. Membranas mucosas pálidas.

PS1: animal pode também apresentar sintomas mais atípicos - irritabilidade, cefaléia, déficit de concentração, anormalidades de pele e
pelos, perversão do apetite, sintomas neurológicos, icterícia, organomegalias, fraturas ósseas e anormalidades esqueléticas, endocrinopatias
e distúrbios de crescimento.
PS2: devido à resistência individual de alguns animais (de mesma espécie ou não) o quadro de anemia pode ser assintomático.

Diagnostico: ocorrência é determinada pela ocorrência de parâmetros diretos e derivados (eritrograma) abaixo dos valores normais
(contagem de eritrócitos, dosagem de hemoglobina e determinação do hematócrito) - estes valores normais ou de referência variam ainda de
acordo com a espécie, raça, sexo e idade.

PS1: outra forma de diagnóstico é a partir da observação do aspecto microscópico das células sanguíneas em esfregaços.
PS2: ao enviar um pedido ao laboratório sempre anotar a espécie sendo analisada, pois a variação dos valores do eritrograma entre os
animais pode ser muito grande.

Variações de eritrograma: valores de referência podem sofrer interferência por vários fatores:
(a) Espécie:
Exp 1: animais com eritrócitos menores podem ter uma maior quantidade de células por volume de sangue.
Exp 2: o conteúdo de hemoglobina está relacionado com a atividade animal - animais mais lépidos (cães e cavalos por exemplo)
tendem a ter conteúdo maior de hemoglobina que nos menos ativos (por exemplo um bovino).

(b) Condicionamento: mesmo animais de mesma espécie também apresentam variações - os cavalos utilizados para corrida apresentam
os eritrócitos maiores que os animais de trabalho ou tração por exemplo.
(c) Raça: os cães da raça Akita apresentam eritrócitos menores enquanto que os da raça Poodle apresentam eritrócitos maiores em
relação ao tamanho médio para a espécie.
(d) Idade: os animais recém-nascidos possuem eritrócitos maiores (ainda de origem fetal) - estes são substituídos gradativamente
durante as primeiras semanas de vida.
(e) Sexo: pode ocorrer variações durante a gestação devido a hemodiluição inerente a gestação.

Observações - Coleta de sangue: para avaliação adequada das anemias é importante que a amostra seja colhida e manuseada
corretamente (caso contrário os resultados podem ser alterados)..
(a) Não estressar muito os animais: especialmente nos cavalos e gatos a contração esplênica resultante lançará eritrócitos na corrente
sanguínea alterando o valor do eritrograma.
(b) Relação sangue-anticoagulante deve ser correta: volumes maiores do anticoagulante podem diluir a amostra e alterar a
característica das células - por exemplo o excesso de EDTA pode causar encolhimento dos eritrócitos.
(c) Estase prolongada: provoca hemoconcentração em leitos vasculares de acordo com a ação da gravidade.
(d) Pressão exagerada no êmbolo da seringa: causa hemólise da amostra - diminui o valor do volume globular e aumenta o valor da
hemoglobina, além de alterar a densidade ótica da amostra.
(e) Animal sem jejum: a lipemia pós-prandial pode aumentar a fragilidade osmótica dos eritrócitos tornando-os facilmente lisáveis.
2 - Classificação das anemias: as anemias podem ser divididas em relativas e absolutas.

2.1 - Anemias relativas: não há redução da massa celular - são decorrentes da expansão do volume plasmático.
Exemplos: decorrente da gestação, condição fisiológica em neonatos e em animais submetidos a fluidoterapia.

2.2 - Anemias absolutas (verdadeiras): onde verifica-se redução da massa celular - são classificadas ainda de acordo com a resposta
medular, morfologia, coloração dos eritrócitos e na patofisiologia.
PS: é o tipo mais comum/mais importante.

3 - Subclassificação das anemias absolutas: estas podem ser classificadas ainda de acordo com parâmetros diversos.

3.1 - Classificação baseada na resposta medular (3): muito relacionada com a resposta reticulocitária, que por sua vez depende da
produção e liberação da eritropoetina renal e ou hepática (variando ainda de acordo com a espécie) - de acordo com o tipo de resposta pela
medula as anemias podem ser classificadas em regenerativas, pouco regenerativas e arregenerativas.

(A) Anemias regenerativas: aquelas onde se verifica resposta satisfatória da medula óssea, caracterizada pela produção e liberação de
células jovens - ocorre em anemias hemolíticas e hemorragias (perdas sanguíneas por parasitas ou traumas por exemplo).
PS: recuperação medula óssea inicia 2 a 3 dias após perda

Características Morfológicas: podem ser observadas em um esfregaço sanguíneo:


(I) Eritrócitos apresentam anisocitose policromasia.
(II) Presença de metarubrícitos (?).

(III) Presença de corpúsculos de Howell-Jolly (?).

(III) Podem ser observados reticulócitos no esfregaço (?).


PS1: no final do processo de maturação as hemácias perdem os ribossomos e mitocôndrias - os reticulocitos
PS2: para a visualização e contagem dos reticulócitos é necessária uma técnica de coloração especifica (feita com corantes
supra-vitais - azul cresil brilhante ou novo azul de metileno) - estes corantes causam a agregação destas organelas residuais, as tornando
visíveis como pequenos ponteados no citoplasma das hemácias (retículos).
PS3: a avaliação reticulocitária deve ser relacionada com a espécie em questão, já que:
(a) são encontrados normalmente no sangue periférico de cães - resposta reticulocitária em cães é bastante acentuada
permitindo avaliar bem a resposta medular.
(b) raramente são encontrados em ruminantes - nesta espécie poucos reticulócitos já são patognomônicos de resposta
medular.
(c) não são encontrados em cavalos - a avaliação nos eqüinos é feito pelo exame da medula óssea e ainda, existem atributos
bioquímicos celulares nas células destes animais que podem ser medidas.

PS4: em felinos podem se apresentar tanto como pontuais ou agregados, cada um sendo indicativo do estagio de maturação do
eritrócito - já em cães ocorre apenas na forma

(aspecto em felinos)

(observar a evolução dos agregados para pontilhados nos felinos - )

(processo de maturação dos reticulócitos nos cães - como) (?)

1ª - Para a avaliação de reticulócitos são contadas mil hemácias e proporção deste tipo de célula dentro da amostra é
determinada pela formula:

2ª - Em seguida a porcentagem de reticulócitos deve ser corrigida para o grau de anemia:

3ª - A determinacao de situacao de reticulocitose deve levar em conta a especie em questao - ver tabela:

(B) Pouco regenerativas: aquelas nas quais se verifica diminuição dos precursores eritróides, havendo pouca resposta aos estímulos -
ocorre nas deficiências de vitamina B12 e ácido fólico, vitamina B6 e deficiência de ferro.
PS: geralmente são reversíveis, bastando corrigir a deficiência nutricional.
(C) Anemias arregenerativas: não se observam precursores eritróides medulares e não há resposta a estímulos - decorrente de
anemias aplásticas por exemplo.

Causas Primárias: a baixa produção de células sanguíneas sendo uma consequência de alteração direta na medula
I - Aplasia Eritróide: caracteriza-se por uma pancitopenia em sangue periférico e uma hipoplasia dos três tipos celulares na
medula óssea (eritróide, mielóide e megacariocítica), resultando na substituição do tecido hematopoiético por tecido adiposo - pode ser
resultante da destruição das células tronco ou das células progenitoras - como causas incluem-se as de origem infecciosa, induzidas por
drogas, associadas a toxinas e radiação.
PS1: existem ainda alguns casos nos quais a causa não é bem estabelecida, no entanto a aplasia é definida como idiopática
somente por exclusão.
PS2: ocorrência é relativamente rara em cães e gatos.

II - Doenças Mieloproliferativas: têm origem na medula óssea e acontecem quando as células-tronco maduras (adultas) sofrem
mutações e passam a se proliferar descontroladamente - faz com que as células doentes ocupem o lugar das saudáveis, sendo que
dependendo da célula sendo proliferada as hemácias podem ficar em menor proporção.
PS: neste sentido a radiação pode ser uma condição que leve a anemias.

III - Doenças Linfoproliferativas: semelhante ao anterior, porem as linhagens em proliferação descontrolada sendo em
linfócitos.

Causas Secundarias:
I - Anemia de Doença Crônica: é uma síndrome clínica que se caracteriza pelo desenvolvimento de anemia em pacientes que
apresentam doenças infecciosas crônicas, inflamatórias ou neoplásicas - dos vários mecanismos envolvidos na etiopatogenia da ADC, os três
principais são diminuição da sobrevida das hemácias, resposta medular inadequada frente à anemia e distúrbio do metabolismo do ferro.
PS: processo é modulado pela ativação de macrófagos e liberação de citocina diversas (IL-1, IL-6, TNF A, INF Y) os quais
interferem em progenitores eritrocitários.

II - Certos medicamentos: alguns podem gerar lesões a células tronco da medula - cloranfenicol (cães e gatos), estrógeno (?),
antineoplásicos quimioterápicos, fenilbutazona, sulfatrimetropina e imunossupressores (ciclofosfamida) como exemplos.

III - Insuficiência renal: visto que os rins são órgãos produtores da eritropoietina - cães são especialmente susceptíveis, já que
nesta espécie a produção de eritropoetina é somente de origem renal: na produção desta pode ocorrer depressão medular severa.

IV - Agentes Infecciosos: como exemplos podem ser citados o vírus da anemia infecciosa equina, a FeLV e a erlichia canis.
V - Deficiência nutricional (?).
VI - Intoxicações: por samambaia, estrógenos e chumbo por exemplo.

3.2 - Classificação baseada na morfologia: é baseada na morfologia do eritrócito e sua concentração de hemoglobina - é recomendado que
seja determinada de acordo com os índices hematimétricos VGM e CHGM, porem a análise microscópica via exame de hemácias (esfregaços
sanguíneos) pode ser um bom indicativo da situação das células quanto a tamanho e coloração.

Quanto a tamanho:
I - Normocítica: eritrócitos com tamanho normal.
II - Macrocítica: maiores que o normal.
III - Microcítica: menores que o normal.
IV - Anisocitose: com variações de tamanho

(formula utilizada para determinar a classificação das hemácias em cada classe de tamanho)

Quanto a coloração:
I - Normocrômica: coloração normal.
II - Hipocrômica: com coloração fraca - geralmente relacionado a deficiência de ferro.
III - Policromasia: com variações de cor.

(formula utilizada para determinar a classificação das hemácias em cada classe de coloração)
(tabela dos valores de referência em cada espécie - tamanho e cor)

PS: a partir destas alterações de cor e tamanho é possível se ter uma ideia da etiologia da anemia - veja a seguir

A - Normocítica e normocrômica: neste tipo de anemia verifica-se pouca ou nenhuma resposta medular (consideradas
arregenerativas ou pouco regenerativas).

Causas:
- Insuficiência renal.
- Anemia da doença crônica (inflamação crônica/neoplasia).
- Leucemias.
- Infecções por vírus (cinomose, parvovírus e leucemia felina por exemplo).
- Doenças parasitárias depressoras de medula (erliquiose e leishmaniose por exemplo).
- Lesão tóxica da medula óssea (por radiação por exemplo).

(células são normais quanto a tamanho e cor, porem em menor número)

B - Macrocítica e normocrômica: muito relacionada a deficiência de vit. B12 e ácido fólico - com a deficiência da vitamina não
há síntese normal de DNA, e logo as células não apresentarão divisões normais: decorrente desta menor taxa de divisão passam a ser
encontradas células maiores e em menor número na corrente sanguínea.

PS1: são características de células jovens (fisiológico no decorrer de sua maturação) - porem geralmente as células quando são
liberadas na corrente sanguínea não possuem mais tais características.
PS2: é fisiológico em cães da raça Poodle.

C - Macrocítica e hipocrômica: é sempre regenerativa - é decorrente de perda aguda de sangue ou anemias hemolíticas agudas.
PS: geralmente acompanhadas de aumento da produção de reticulócitos - além disto a reticulocitose contribui para o aumento do
VCM e diminuição do CHCM (?).
D - Microcítica e hipocrômica:
Causas:
- Deficiência de ferro em neonatos.
- Perdas crônicas de sangue: por tumores, ulceras e parasitas por exemplo.
- Nas deficiências de ferro, cobre e piridoxina (vitamina B6).

E - Microcítica e normocrômica: início da deficiência de ferro (anemia crônica ferropriva).


PS: é fisiológico em cães da raça Akita.

PS - Policromasia e Anisocitose: são características indicativas de células jovens.

3.3 - Classificação baseada no Mecanismo Patogênico:

A.1 - Anemia por hemorragia aguda:


Causas:
- Trauma e cirurgias.
- Defeitos da homeostase: por exemplo no envenenamento por samambaia, trevo doce, dicumarol e trombocitopenias.
- Úlceras gastrointestinais.
- CID.
- Defeito de fatores de coagulação.

Achados Laboratoriais: eritrograma aparentemente normal na primeira hora, porem em seguida são observados:
Dentro de 1 hora >> hipoproteinemia - decorrente de hemorragias externas.
Dentro de 1 hora >> diminuição dos parâmetros eritrocitários (dentro de 1 hora).
Dentro de 3 dias >> presença de reticulócitos.
Dentro de 3 dias >> anemia macrocítica hipocrômica - está sendo indicativa de resposta regenerativa.

A.2 - Anemia por hemorragia crônica:


PS1: a diferenciação entre aguda e crônica é feita com base na rapidez da instalação do processo.
PS2: um animal pode perder até 25% do seu conteúdo sanguíneo rapidamente ou cerca de 50% se esta perda for lenta (dentro de
cerca de 24 horas) sem comprometimento fisiológico.

Causas: de forma geral anemia que atuem por hemorragia crônica.


- Úlceras gastrointestinais // síndromes com hematúria.
- Infestação por ectoparasitas // endoparasitas gastrointestinais.
- Neoplasias vasculares.

Achados Laboratoriais: condizente a uma anemia por deficiência de ferro - anemia microcítica hipocrômica (ocorre pela divisão
contínua). (?)

B - Anemias hemolítica (hemólise intravascular ou extravascular): ocorrem por destruição acelerada dos eritrócitos - também pode
ser classificada em aguda ou crônica // geralmente tem caráter regenerativo. (?)
Causas:
I - Anemia hemolítica imunomediada (AHIM) - Reação a fármacos: certos medicamentos fazem ligação com a hemácia,
ativando o sistema imune para a destruição desta - penicilinas, cefalosporinas, trimetoprim e sulfametoxazol como exemplos)
I - Anemia hemolítica imunomediada (AHIM) - Reação a hemoparasitas: podem levar a hemólise extra ou intracelular -
babesia por exemplo.

II - Isoeritrólise neonatal (Eritroblastose fetal humanos): ocorre em mães RH negativas que tenham um feto RH positivo em
desenvolvimento.
1ª - Como na espécie existe circulação fetal algumas células sanguíneas são transmitidas ao sangue da mãe - caso o organismo
materno seja Rh negativo ela irá produzir anticorpos anti-Rh em sua circulação, ativando assim o sistema imune.
2ª - Uma vez produzidos esses anticorpos permanecem na circulação da mãe - caso ela volte a engravidar de um bebê com Rh
positivo, os anticorpos produzidos na gravidez anterior são direcionados a circulação do feto, destruindo as hemácias deste.
3ª - Para compensar a perda, são fabricadas mais hemácias - que chegam imaturas ao sangue (eritroblastos).
PS: o primeiro filho apresenta menos risco de desenvolver a doença do que os seguintes, já que a mãe Rh- ainda não foi
sensibilizada pelos anticorpos anti-Rh - no entanto na falta de tratamento esses anticorpos produzidos na primeira gestação podem destruir
as hemácias do sangue dos próximos fetos Rh.

II - Isoeritrólise neonatal (Isoeritrólise neonatal equina): ocorre quando o potro herda do pai os tipos de hemácias, sendo estas
de um tipo estranho aos da mãe.
1ª - Na espécie não existe circulação entre o feto e a mãe, porem em alguns casos a gestante pode entrar em contato com o
sangue (e antígenos) do feto, passando a desenvolver imunidade de forma similar a como ocorre nos humanos - tal situação ocorre por
hemorragias transplacentárias no final da gestação ou durante o parto.
PS1: os antígenos são produzidos apenas após várias semanas - portanto seu primeiro potro com estes tipos de hemácias
não será afetado, mas o próximo potro que herdar estes antígenos de seu pai será afetado se ingerir o colostro de sua mãe.
PS2: no entanto uma égua sensibilizada previamente devido a uma transfusão sanguínea ou outra forma de exposição a
sangue pode gerar um potro com isoeritrólise neonatal mesmo se na primeira gestação.
PS3: embora exista mais de trinta diferentes antígenos de tipos sanguíneos caracterizados nos eqüinos, a maioria dos casos
de isoeritrólise neonatal está associada a geração de anticorpos contra os antígenos Aa e Qa no potro - as éguas AA e Qa negativas podem
ser identificadas por tipagem sanguínea e retiradas da área de reprodução (já que correm maior risco de gerar potros acometidos).

2ª - Estes anticorpos são secretados no colostro no período próximo ao parto, sendo posteriormente ingeridos e absorvidos
pelo neonato - causam a lise de hemácias no potro, o qual pode apresentar icterícia, hemoglobinemia e hemoglobinúria.

III - Infecções bacterianas: na leptospira por exemplo - produzem toxinas que atuam como hemolisinas, além de gerar anemia
hemolítica imunomediada.
III - Infecções virais: na anemia infecciosa equina por exemplo - gera anemia imunomediada arregenerativa (de doença
inflamatória).
III - Infecções parasitaria (hemoparasitas): babesia canis, mycoplasma haemofelis, anaplasma e trypanosoma como exemplos.
IV - Intoxicações: ingestão de cebola por cães e gatos //drogas como acetominofen em gatos // azul de metileno em cães e gatos.
V - Anemias hemolíticas idiopáticas.

Sinais Clínicos:
- Hemoglobinemia/hemoglobinúria.
- Icterícia sem hemoglobinúria (nos casos que o SMF atua - ou seja, nas extravasculares)
PS: ausência de sinais clínicos de hemorragia.

Achados Laboratoriais:
- Características de resposta regenerativa.
- PPT normal.

C - Anemias depressivas: relacionado ao tipo de resposta medular.


Causas:
I - Nutricionais: deficiência de ácido fólico e vitamina B12, cobre, cobalto, ferro e vitamina B6.
II - Inflamações: as bactérias e os macrófagos utilizam ferro levando a depleção orgânica.
III - Parasitas: Ehrlichia sp, Babesia sp. e parasitoses intestinais crônicas.
IV - Aplasias idiopáticas ou adquiridas.
V - Doenças mieloproliferativas.
3 - Intensidade da anemia: a avaliação da intensidade da anemia é baseada no valor do hematócrito em relação as várias espécies - esta
intensidade nos direciona na avaliação da necessidade de reposição sanguínea.

Parâmetros de reposição sanguínea em pequenos animais:


I - Hematócrito abaixo de 15% para os cães
II - Hematócrito abaixo de 10% para os gatos

Parâmetros de reposição sanguínea em grandes animais: abaixo de 12%, mas a melhor avaliação da necessidade de reposição sanguínea
está na avaliação clínica.
Aula 6 - Policitemia e Eritrocitose:

1 - Introdução: as policitemias são caracterizadas pelo aumento do número de eritrócitos, da concentração dá hemoglobina e do volume
globular acima dos valores normais (quando comparado com os valores para cada espécie, raça, sexo e idade).

Consequências: com o volume globular acima de 50% o sangue já se torna mais viscoso, dificultando o transporte de oxigênio - quando
este valor supera 60% é considerado uma situação de policitemia.

Sintomatologia Clínica: a viscosidade sanguínea aumentada diminui o fluxo sanguíneo, promovendo distensão de capilares e pequenos
vasos - isto pode causar ruptura vascular e hiperemia de mucosas - consequentemente o animal apresenta hipóxia, trombose,
poliúria/polidipsia, distúrbios do SNC, hematemêse, epistaxe, hematoquezia e hematúria.

2- Classificação: dividido em policitemias relativas e absolutas:


2.1 - Relativas: tem como principal característica o fato que os valores podem voltar ao normal após a correção do evento - pode ser e
mecanismos de causa:
I - Redução volume plasmático: nas desidratações, diarréia, vômito e poliúria.
PS: nestes casos o diagnostico pode ser facilitado pela presença de perda da elasticidade da pele.
II - Por contração esplênica: ocorre após exercício e em animais excitados/com dor.

Mecanismo 1: diminuição do volume plasmático causado principalmente por desidratação - ocasiona aumento do volume globular, mas
a massa total de eritrócitos circulantes permanece inalterada.
Mecanismo 2: ocorre contração esplênica após stress ou dor, com injeção temporária de grande massa de eritrócitos na corrente
sanguínea.

Alterações Laboratoriais:
I - Hematócrito e proteínas plasmáticas aumentadas.
II - Volume plasmático diminuído.

2.2 - Absolutas: quando há aumento da massa celular circulante (eritrócitos) permanente sem diminuição do volume plasmático - são
divididas ainda em primarias ou secundarias.

Patogenia: fluxo sanguíneo fica reduzido devido a maior viscosidade do sangue - isto leva aos sintomas de distúrbios neurológicos,
maior risco de trombose, diminuição do débito cardíaco com cianose e congestão das mucosas, aumento da resistência vascular pulmonar.

Policitemia Primária (Vera): caracterizada pela elevação no número de eritrócitos circulantes devido a doença mieloproliferativa, com
excessiva proliferação das células tronco hematopoieticas da série eritróide - esta mieloproliferação é independente da produção de
eritropoetina.
PS: leucócitos e plaquetas também podem estar aumentados nestas situações.

Policitemia Secundária: pelo aumento da eritropoiese resultante de fatores que estimulam a produção de eritropoetina.
I - Secundário a hipóxias renal: neste caso chamado também de policitemia fisiologicamente apropriada, onde a concentração de
oxigênio nos tecidos renais diminui, aumentando a secreção de eritropoetina - pode ter como causas:
. Shunt atrio-ventricular
. Doenças cardiopulmonares crônicas
. Altitudes elevadas
. Obesidade acentuada
. Hemoglobinopatias
. Depressão do centro respiratório
. Tetralogia de Fallot.
II - Por tumores funcionais (cistos renais e tumores): ocorre por neoplasias produzindo substancia eritropoiéticas - nestes casos a
produção de eritropoetina ou outras substancias eritropoiéticas (tais como corticóides, andrógenos e prostaglandinas) ocorre sem estímulo
da hipóxia - pode ocorrer em carcinomas renais, linfossarcomas renais, hepatomas, tumores uterinos e da suprarrenal.

3 - Avaliação laboratorial:

Cuidados: algumas técnicas de laboratório e da colheita de material podem causar policitemias transitórias - tomar cuidados quanto a
(a) Homogeneização da amostra: se incorreto pode levar a erros de leitura da média do volume globular - processo é ainda mais
importante no caso dos equinos, que apresentam sedimentação mais rápida.
(b) Preenchimento correto do tubo capilar: concentração da amostra fica dificultada quando se preenche mais de 2\3 do tubo.

Diagnostico:

A - Pelo volume globular: é o exame mais importante - deve estar acima de 60%.
B - Medida dos gases arteriais: é útil para se verificar a oxigenação do sangue.
C - Dosagem de eritropoetina: importante no diagnóstico de policitemias secundárias.

Nas policitemias relativas: tanto a saturação de oxigênio (PO2) quanto os valores da dosagem de eritropoetina são normais.
Nas policitemias primárias: a saturação de oxigênio é normal e a dosagem de eritropoetina é ligeiramente abaixo do normal.
Nas policitemias secundarias fisiologicamente apropriadas: a saturação de oxigênio é baixa e a dosagem de eritropoetina é alta.
Nas policitemias fisiologicamente inapropriadas (tumores funcionais): a saturação de oxigênio é normal, porem a dosagem de
eritropoetina é alta.
Aula 1 - Introdução a Patologia Clínica:

1 - Introdução:
Conceito - Leucócitos: células de defesa - são divididos em polimorfonucleares e mononucleares
Função dos leucócitos: atuam como células de defesa do organismo, com mecanismo distintos de acordo com cada célula.

Composição do Sangue: é dividido em


(a) Parte Líquida: composta pelo plasma e pelo soro.
(b) Parte Celular: composta pelos eritrócitos, plaquetas e leucócitos - últimos sendo o foco da aula.

(detalhe de como os leucócitos ficam divididos dentro da capa leucocitária)

Leucócitos (glóbulos brancos): são células produzidas na medula óssea que fazem parte do sangue juntamente com os eritrócitos e as
plaquetas - são divididos em polimorfonucleares e mononucleares.
PS1: também são produzidos na medula óssea a partir de uma célula pluripotencial (célula tronco).
PS2: podem passar da circulação sanguínea para tecidos de acordo com a necessidade de sua atuação.

Função dos leucócitos: atuam como células de defesa do organismo - mecanismo de ação varia de acordo com cada célula.

Classificação dos leucócitos: são divididos em 2 grupos principais de acordo com a presença ou ausência de grânulos em seu citoplasma.
(a) Granulócitos: apresentam grânulos específicos em seu citoplasma e são classificados em três tipos de acordo com a afinidade dos
grânulos a cada tipo de corante - neutrófilos, eosinófilos e basófilos.
PS: os granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) são identificados pelas características de coloração de seus grânulos
secundários.
(b) Agranulócitos: podem ser monócitos e linfócitos.

2 - Leucopoiese: é o processo de produção de leucócitos, o qual ocorre a partir da medula óssea e é modulado por substancias diversas.
PS: processo é iniciado a partir do mesmo tipo de célula que origina os outros componentes celulares (eritrócitos e plaquetas) - a célula
tronco.
PS1: a maioria dos leucócitos vem da mesma linhagem que origina outros tipos celulares do sangue (linhagem mieloide) - as exceções
dentro dos leucócitos sendo os linfócitos, os quais possuem a linhagem especifica (linhagem linfoide).
PS2: os monócitos e neutrófilos possuem a célula progenitora em comum (UFC-GM).
PS3: as células unipotenciais dos granulócitos são morfologicamente identificáveis e são precursores conhecidos como mieloblastos - estes
se dividem, diferenciam e maturam nos granulócitos sanguíneos específicos.

Modulação: ocorre por vários mecanismos e fatores, com o principal sendo pela presença de citocinas especificas para a diferenciação de
cada linhagem.
PS: a produção de substancias por tecidos danificado e presença de agentes infecciosos no sistema também pode estimular o processo.

2.1 - Leucopoiese - Neutrófilos:


I - Compartimento de Proliferação: etapa da leucopoiese dos neutrófilos que ocorre exclusivamente dentro da medula.
1ª - Se inicia pela célula tronco, a qual se diferencia em UFC-GM - esta segue se diferenciando em mieloblastos, e então pro-
mielocitos.
2ª - Os pro-mielocitos formados passam a realizar mitoses, gerando suas células denominadas mielocitos - estes mielocitos também
realizam mitose, formando os metamielocitos.

PS1: um precursor neutrofílico no compartimento de multiplicação geralmente sofre 4 mitoses - uma no estágio de mieloblasto,
outra no de pró-mielócito e duas na fase de mielócito - em alguns casos a mitose pode ainda se manter ou mitoses adicionais podem ocorrer,
numa taxa de 3 a 7 mitoses.
PS2: este compartimento pode se expandir via acréscimo da granulopoiese efetiva em resposta ao consumo, gerando situação de
neutrofilia - esta resposta leva em torno de 3 a 4 dias no cão (um pouco mais nos bovinos).

II - Compartimento de maturação e estocagem: ocorre na medula óssea e parcialmente no sangue (?).


4ª - Os metamielocitos formados passam a se diferenciar em neutrófilos bastonetes - estes seguem se maturando (segmentando seu
núcleo) em neutrófilos segmentados.
5ª - Os neutrófilos maturo são os primeiros a migrar através das junções intercelulares dos sinusóides medulares, pois possui maior
capacidade de deformabilidade e motilidade.

PS1: alguns bastonetes podem ser liberados no sangue, onde terminam de maturar em neutrófilos (?).
PS2: o tempo de demora até que neutrófilos maturo sejam liberados da medula varia entre as espécies, podendo ainda estar
diminuído em qualquer espécie em situações de inflamação.

(valores em situação fisiológica)

PS3: este compartimento de reserva geralmente é extenso, podendo suprir a demanda do animal por vários dias quando em situação
de desafio (4 a 8 dias no cão por exemplo) - tais células são mobilizadas rapidamente na demanda, sendo que esta depleção dos estoques se
reflete clinicamente a uma situação de neutropenia com desvio à esquerda (?) da medula óssea e provavelmente também no sangue
periférico.
III - Compartimento circulante/marginal: composto pelos neutrófilos no sangue, estes podendo estar no pool circulante ou marginal -
em uma situação de demanda as células no pool marginal (?) são direcionadas aos tecidos em desafio.

Compartimento marginal: composto por leucócitos transitoriamente aderidos a parede de capilares e pequenos vasos sanguíneos - é
primariamente localizado no baço e pulmões.
PS1: pode ser mobilizado rapidamente sob a influência de epinefrina e corticóides endógenos - estes sendo liberados por estímulos
fisiológicos ou patológicos como estresse, exercício, traumas e infecções.
PS2: a proporção do pool marginal/circulante varia entre espécies - ver abaixo:

PS3: a adrenalina diminui a aderência dos neutrófilos por aumentar a produção de AMP cíclico.

Compartimento Circulante: é composto dos neutrófilos que livremente circulam pelo sangue, estes possuindo uma meia vida em
torno de 7 a 14 horas - estas células saem aleatoriamente da circulação para os tecidos e cavidades corpóreas, de onde normalmente não
retornam: eles podem permanecer nestes tecidos por 2 a 3 dias fisiologicamente (ou menos quando em processos patológicos).
PS1: a atração e migração transendotelial para os tecidos ocorre via fatores quimiotáticos.
PS: a exceção é para os neurófilos leucêmicos. (?)

Mecanismo de Ação - Estimulo na Inflamação: as etapas de proliferação e maturação dos neutrófilos (e leucócitos no geral) podem ser
aceleradas em situação de inflamação - isto ocorre especialmente pela ação dos macrófagos:

1A - Macrófagos ativados liberam citocinas diversas (IL-1 e TNF-α por exemplo), as quais atuam de diversas formas:
(a) Estimulam diretamente a medula óssea a produção e maturação de leucócitos.
(b) Estimulam células endoteliais, fibroblastos e linfócitos a produção de citocinas diversas - estas atuam na medula de forma
similar a ação direta das citocinas dos macrófagos.
1B - Linfocitos T podem ser ativados pela presença de antígenos no sistema, também levando a produção de citocinas - tem efeito
similar a como ocorre com os macrófagos.
2 - Medula estimulada aumenta a produção de granulócitos e agranulócitos - isto ocorre secundário a alterações diversas:
(a) Sistema de células tronco é estimulado (sofre hiperplasia), gerando maior produção de células progenitoras.
PS: este aumento pode levar a alterações toxicas nos mieloblasto (??).

(b) Compartimento de reserva na medula é liberado, causando situação de neutrofilia.


PS: algumas células ainda estão em processo de maturação, sendo assim ocorre desvio a esquerda.
(c) Células no sangue são deslocadas do pool circulante para o marginal - em seguida essas células realizam diapedese para serem
utilizadas no tecido inflamado.

PS1: alguns dos monócitos formados podem se tornar macrófagos (forma tecidual).
PS2: em decorrência desta inflamação o animal pode tanto apresentar neutrofilia quanto neutropenia, mesmo considerando que o
número de células liberas no sangue aumentou - a proporção destas células no sangue depende do balanço entre o aumento da
produção/liberação da medular e a taxa de consumo tecidual gerada pela inflamação.

Mecanismo de Ação - Formação dos Grânulos: os grânulos presentes no citoplasma dos neutrófilos são classificados em grânulos
1ª - Os grânulos primários são sintetizados já na etapa de proliferação, estando presentes no citoplasma do mieloblasto ou no pró-
mielócito.
2ª - Os grânulos secundários (também chamados de específicos) aparecem no estágio de mielocitos.
PS: processo ocorre de forma similar nos outros granulócitos (eosinófilos e basófilos).
(leucopoiese de neutrófilos e granulopoiese - em resumo).

Mecanismo de Ação - Desvio a esquerda: ocorre por situação de excessiva migração tecidual de neutrófilos maduros - leva a liberação de
células no compartimento de maturação na medula, as quais podem não estar completamente maduras: a presença de imaturas no sangue
(mielocitos, metamielocitos e bastonetes) é denominada desvio a esquerda. (?)

PS2: neutrófilos muito maduros (células velhas) se apresentam na forma hipersegmentada // já células extremamente jovens se
apresentam na forma de bastonetes (hiposegmentadas).

Funções dos Neutrófilos: são a segunda linha de defesa sobre a infecção, atuando especialmente via fagocitose bacteriana e ação
microbicida - a atuação destas células depende de várias capacidades celulares:
(a) Aderência: neutrófilos circulares aderem ou margeiam ao redor da superfície endotelial venular alterada.
1ª - Inflamação leva a expressão de receptores selectina no endotélio.
2ª - As selectina no endotélio se ligam a receptores de selectina no neutrófilo.
3ª - Integrinas inativas no neutrófilo se ativam e se ligam aos seus receptores no endotélio - a adesão fica mais firme, permitindo
que ocorra o rolamento da célula (migração transendotelial).

(b) Diapedese: células passam (emigram) através das junções intracelulares pela membrana basal, até penetrar no tecido - a adesão
de neutrófilos ao endotélio vascular e extravasamento são influenciados pelas moléculas de adesão da superfície da células (selectina no
endotélio e integrina nos leucócitos).
PS: depende da capacidade de deformabilidade do neutrofilo - células muito maduras podem se romper durante o processo.

(c) Quimiotaxia: movimento direcionado dos leucócitos a um alvo em particular (bactérias principalmente), o que ocorre pela
presença de substâncias quimiotáticas no local (toxinas, produtos degenerativos, produtos de coagulação e do complemento) - é um
processo ativo e envolve a participação de componentes citoesqueléticos e outras proteínas de mobilidade (como a miosina).

(d.1) Fagocitose: processo ativo de ingestão de uma partícula microscópica pelo leucócito via extensão de pseudópodes
citoplasmáticos ao redor do alvo.
PS1: pinocitose refere-se à internalização da vesícula fluída por células específicas.
PS2: células imaturas (bastonetes e metamielocitos) possuem menor capacidade fagocitária // mielócitos e precursores imaturos
são geralmente afuncionais na defesa do hospedeiro.
PS3: a aderência de opsoninas na superfície da bactéria e outras partículas estranhas alteram as suas características superficiais e
atuam como receptores para a fagocitose.

(d.2) Microbicida: grânulos lisossomais no interior dos vacúolos fagocíticos fundem-se com a membrana vacuolar (formada na
fagocitose) para formar um fagolisossomo, liberando seus componentes para matar e digerir a bactéria - estes componentes podem ser
diversos:
PS1: no caso de mortes oxigênio dependentes também é denominado como explosão respiratória -
PS2: a degranulação resulta da fusão e liberação de conteúdo dos grânulos lisossomais no vacúolo fagocítico.

(e) Exocitose: descarga extracelular de conteúdo celular através da fusão dos vacúolos fagocíticos com a membrana celular - pode
ocorrer com bactérias mortas, produtos de bactérias degradadas ou grânulos dos neutrófilos e seus componentes.

Morfologia dos Neutrófilos: podem ter pequena variação entre as espécies - tamanho celular, tamanho do núcleo (e número de
segmentações deste), coloração, etc.

(mais importante sendo o número de fisiológico de lóbulos em um neutrófilo maduro)

Alterações Morfológicas dos Neutrófilos (Fisiológicas):


(a) Corpúsculo de Barr: é um prolongamento característico do núcleo dos neutrófilos e representa a cromatina sexual da fêmea (um
dos cromossomos XX inativos), sendo de ocorrência normal e de grande auxílio na conferência do exame.
Alterações Morfológicas dos Neutrófilos (Patológicas): incluem aberrações de maturação, tamanho da célula, forma nuclear,
características dos grânulos e citoplasma (também chamadas de mudanças tóxicas) - são vistas em pacientes com severa infecção
bacteriana, septicemia, condição inflamatória aguda e extensiva destruição tecidual.
PS: efeitos tóxicos durante a granulopoiese são refletidos como basofilia citoplasmática, presença de grânulos tóxicos e corpúsculo de
Döhle, núcleo hipersegmentado e a produção de neutrófilos gigantes e bizarros.

(a) Basofilia citoplasmática: é o resultado da retenção de ribossomos e RER - ocorrem em processos infecciosos demorados.

(b) Grânulos tóxicos: grânulos citoplasmáticos primários - também causado por estímulo continuo à granulocitopoese (em processos
infecciosos persistentes): pela extensão e/ou duração de um processo inflamatório há diminuição dos prazos de maturação das células
precursoras, e os neutrófilos chegam ao sangue com persistência da granulação primária (própria dos pró-mielócitos, normalmente
substituída pela granulação secundária) tênue e característica.

(c) Corpúsculos de Döhle: são áreas na periferia dos neutrófilos, nas quais houve liquefação do retículo endoplasmático - são de rara
ocorrência, mas possuem interesse diagnóstico por refletirem infecções graves e/ou sistêmicas.
PS: são mais comuns em gatos do que em outras espécies animais.

(d) Neutrófilo bizarro:


(e) Vacuolização no citoplasma: vacúolos pequenos e discretos ou podem ser maiores - causas de vacuolização podem ser a toxicidade
alcoólica ou a exposição prolongada ao EDTA (artefato de conservação).

(f) Neutrófilos multisegmentados: normalmente predominam os neutrófilos com 2 a 4 lóbulos nucleares no sangue (havendo poucos
com cinco ou mais) - aumento deste tipo de célula indica maior permanência destes na circulação (desvio à direita) - podem ocorrer na
insuficiência renal crônica, neutrofilias de longa duração, tratamentos com corticóides ou estresse, defeitos genéticos raros, síndromes
mieloproliferativas.
PS: pode ocorrer pela degeneração em amostras envelhecidas (erro de analise).

2.2 - Leucopoiese - Eosinófilos: o maior sítio de produção de eosinófilos é a medula óssea, porem processo também pode ocorrer (em
menor grau) em outros tecidos como baço, timo e linfonodos cervicais.
PS1: em geral são produzidos em torno de 2 a 6 dias e adentram no sangue periférico aproximadamente 2 dias após a produção.
PS2: possuem meia vida intravascular de 4 a 6 horas em humanos e menos de 1 hora nos cães.

Morfologia:
. Núcleo pode ser bilobulado ou multilobulado
. Moderadamente maior que o neutrófilo
PS1: a espécie pode ser diferenciada pela forma, cor, tamanho e nº de grânulos.

Funções: não é bom fagócito - atuação principal pela liberação de enzimas:


Peroxidase: possui atividade parasiticida e citotóxica - a ação parasiticida dos eosinófilos ocorre por interação com mastócitos e
linfócitos:
1a - A infecção pelo parasita estimula a resposta humoral e celular.
(a) Os anticorpos IgG específicos produzidos podem se ligar ao parasita, fixar complemento, iniciar a reação inflamatória e
provavelmente infligir algum dano ao parasita.
(b) Os anticorpos IgE específicos se ligam aos mastócitos teciduais e causam a degranulação e liberação de substâncias bioativas
por estes - tais como a histamina, fator de anafilaxia quimiotático para eosinófilos (FQE-A) e fator de ativação plaquetária (FAP).
1b - Antígenos dos parasitas ativam linfócitos T a produzir linfocinas diversas - estas podem estimular a produção e liberação de
eosinófilos, sendo refletido no sangue como eosinofilia.

2ª - O influxo de eosinófilo da medula para o sangue é também influenciado pelos níveis circulantes de histamina resultante da
degranulação dos mastócitos nos tecidos.
3ª - Eosinofilia tecidual ocorre pela resposta a quimiotáticos como a histamina e componentes da ativação do complemento que
são gerados no local da infecção parasitária.

Histaminase: inativa a histamina

2.3 - Leucopoiese - Basófilos: comumente encontrados na pele ou nas mucosas em patologias que envolvem hipersensibilidade imediata,
como dermatites alérgicas por contato e rinites alérgicas.
PS1: também estão associados a alguns casos de hipersensibilidade tardia.
PS2: são raros no sangue e medula óssea.
PS3: são frequentemente comparados com os mastócitos por causa de algumas similaridades morfológicas e funcionais.

Produção: ocorre na medula óssea semelhante aos demais granulócitos.


PS: ocorre na medula óssea dentro de 2,5 dias - possui meia vida de 6hrs na circulação, podendo se manter funcional por ate 2
semanas quando nos tecidos.

Função: junto aos mastócitos contêm várias substâncias de importância biológica e podem sintetizar inúmeras substâncias
imunológicas e não imunológicas - seus grânulos são particularmente ricos em histamina, heparina, bradicinina e seratonina em algumas
espécies.

(a) Ativados nas reações inflamatórias de hipersensibilidade: quando estimulado antigenicamente sintetiza importantes fatores como
Fator ativador plaquetário (FAP), substâncias de reação à anafilaxia (SRA) e tromboxano A2 (TxA2).
(b) Atraem eosinófilos: importantes já que os grânulos liberados pelos basófilos possuem grande quantidade de histamina (lembrar
que os eosinófilos produzem histaminase).
PS: desta forma a basofilia e eosinofilia algumas vezes ocorrem simultaneamente.

PS: a composição dos grânulos varia entre espécies.


2.4 - Leucopoiese - Monócitos: faz parte do grupo dos agranulócitos (junto aos linfócitos).

Produção:

1ª - São descendentes da célula progenitora bipotencial (UFC-GM) - pode produzir tanto neutrófilos como monócitos.
PS: produção de monócitos pode ser estimulada por sua forma tecidual (macrófagos) - liberam interleucina 1 e TNF alfa, que
estimula células endoteliais e fibroblastos a produzir citocinas estimulantes de sua linhagem.

2ª - O monoblasto divide-se uma vez e o pró-monócito uma ou duas - o monócito normalmente não se divide na medula óssea.
3ª - Os monócitos são distribuídos no sistema vascular entre os compartimentos circulatório e marginal na proporção de 1 por 3,5.
5ª - Os monócitos migram para os tecidos através de regiões interendoteliais das paredes vasculares - no entanto a demanda é mais
suprida pela proliferação local de macrófagos que se dividem que pelos monócitos sanguíneos.

PS1: o tempo médio de produção dos monócitos na medula óssea é em torno de 2 a 2,5 dias - passa maior parte da sua vida passa na
forma tecidual (5 a 7 dias).
PS2: não há reserva de monócitos na medula óssea (como ocorre nos neutrófilos), no entanto monócitos jovens são rapidamente
liberados num período de até 6 horas.
PS3: a meia vida de sobrevida na circulação sanguínea é estimada em torno de 8 a 71 horas - período no qual geralmente deixam o
sangue para adentrar aos tecidos.
PS4: forma sanguínea é denominada monócito, enquanto a forma tecidual é chamada de macrófago - existem diversos tipos de
macrófagos de acordo com o tecido que é encontrado (células de langerhans, Kupfer, osteoclastos, micróglia, etc).
PS5: os macrófagos teciduais são originados dos monócitos, mas são mais numerosos que os monócitos circulantes - até 50x mais
macrófagos que monócitos.
Morfologia:

Função dos Monócitos:


(a) Limpeza e defesa: remoção fagocitária de restos celulares, endotoxinas e imunocomplexos.
(b) Hemocaterese.
(c) Secreção de citocinas: estas que participam na regulação da hematopoiese.
(d) Segunda linha de defesa sobre a infecção: apresentam antígenos ao sistema imune adaptativo via linfonodos.

2.5 - Leucopoiese - Linfocitos:


Produção:
1ª - Durante a vida intrauterina à célula tronco pluripotencial indiferenciada origina-se primeiro do saco vitelino e depois do fígado,
baço e medula óssea fetais.
2ª - Sob influência de apropriado microambiente e outros estímulos, estes progenitores linfoides originados na medula óssea
continuamente colonizam os órgãos linfoides primários:
(a) Bursa de Fabrícius nas aves ou medula óssea nos mamíferos.
(b) Timo.
3ª - Nestes sítios duas populações funcionais e fenotipicamente distintas de precursores linfocíticos desenvolvem-se - estas células
então migram para os órgãos linfoides secundários ou periféricos (como linfonodos e baço).
4ª - Tornam-se preferencialmente localizadas em porções típicas destes órgãos - em resposta a estímulo antigênico apropriado
iniciam à proliferação de subséries imunocompetentes de linfócitos T ou B, as quais podem ser liberadas no sangue.

Tipos: podem ser linfócitos B ou T.


Linfocitos B: se ativam em plasmócitos, secretando imunoglobulinas (anticorpos).
Linfocitos T: divididos nos auxiliares (CD4+) e citotóxicos (CD8+) - os auxiliares são divididos ainda em Th1 e Th2.

Distribuição: cerca de 50 a 70% dos linfócitos são do tipo T no sangue.


PS1: também podem ser encontrados distribuídos nos tecidos linfáticos.
PS2: as células circulando no sangue podem retornar aos linfonodos (via vasos linfáticos).
Morfologia:

Anormalidades Morfológicas - Linfócitos atípicos (reativos): presença geralmente está associada a uma resposta imune do organismo,
podendo estar presente em qualquer animal (especialmente nos mais jovens, recém vacinados ou em convalescência de doenças virais) -
apresentam tamanho variado, citoplasma mais basofílico (azulado), podem apresentar alguns vacúolos, núcleo pleomórficos e agregados de
cromatina.

PS: grânulos citoplasmáticos arroxeados (?)

3.1 - Diferencial de leucócitos:


1ª - Preparar um esfregaço sanguíneo - agitar o esfregaço até secá-lo completamente e identificá-lo com lápis na borda mais espessa do
esfregaço.
2ª - Corar a lâmina (panótico rápido por exemplo) e esperar que esta seque.
3ª - Colocar em objetiva de imersão (aumento de 1000x) e realizar observação minuciosa da morfologia e coloração dos leucócitos e
demais estruturas - realizar contagem diferencial de leucócitos em forma de “torre” a cada 3 ou 4 campos, até atingir o total de 100
leucócitos.
4ª - Transformar os dados relativos obtidos nesta contagem em dados absolutos, através da multiplicação dos percentuais parciais pelo
número total de leucócitos.
5ª - Comparar com valores de referência para cada espécie.
3.2 - Inclusões e Protozoários:
A - Inclusões - Corpúsculo de Lentz: corpúsculo eosinofílico no citoplasma de leucócitos patognomônico da cinomose canina.
PS: sua ocorrência se limita à fase de viremia do processo infeccioso - portanto, é de pouca sensibilidade diagnóstica.

B - Inclusões - Ehrlichia canis: mórula basofílica no interior de leucócitos característica da erliquiose.


C - Hepatozoon canis: inclusão semelhante a um cubo de gelo encontrada no interior de leucócitos de cães.
D - Outros: inda podem ser encontrados - Toxoplasma, Leishmania, Histoplasma e microfilárias (Dirofilária imitis e Diptalonema).

Aula 2 - Leucograma:

1 - Interpretação dos Parâmetros Leucocitários:


Variação dos parâmetros: na interpretação deve ser levado em conta as variações que podem ocorrer por motivos diversos.
(a) Interespécie e intraespécie: podem apresentar diferenças quanto a morfologia das células e fisiologia dos sistemas.
(b) Pela coleta da amostra.
(c) Influência da idade: parâmetros ficam aumentados ao nascimento e diminuem dentro de 2 a 12
(d) História e exame clínico: completam os resultados laboratoriais.

Classificação dos parâmetros Leucocitários:


Leucocitose: sufixo citose (cytosis) e filia (philia) indicam aumento no número de células - são mais comuns e menos graves quando
comparado as leucopenias.
Leucopenia: indica diminuição no numero de células.

1.1 - Informações sobre a morfologia dos leucócitos: maioria já abordadas na aula anterior.

1.1 - Valores relativos e absolutos do perfil leucocitário.


PS: a contagem diferencial de leucócitos pode ser apresentada em números relativos (%) e/ou absolutos (número por microlitro) - a
interpretação deve ser baseada de preferência nos números absolutos, principalmente nos casos em que a contagem global se apresenta
alterada.
1.1.1 - Desvios (neutrofilias e neutropenias): a ocorrência de concentrações anormais de leucócitos gera desvios - estes desvios são
classificados como a esquerda ou a direita.
(a) Desvio a esquerda: a demanda imediata de neutrófilos nos tecidos leva a:
I - Desvio das células no pool marginal para o circulante;
II - Liberação de células do compartimento de reserva na medula - algumas dessas ainda em maturação.
III - Aumento na taxa de granulopoiese e liberação acelerada dessas células - principal fator no desvio a esquerda.

PS1: normalmente o sangue periférico contém pequeno número de neutrófilos imaturos - em muitas espécies este consiste de
menos de 300 bastonetes/μl de sangue.
PS2: células mais maduras são liberadas do estoque primeiro, porem eventualmente as menos maduras também são.

(foto de um bastonete)

A.1 - Desvio à Esquerda Regenerativo: contagem total de leucócitos é moderadamente ou marcadamente elevada por causa da
neutrofilia (leucocitose e neutrofilia), onde o número de neutrófilos segmentados é maior que o de neutrófilos não segmentados - indica uma
boa resposta do hospedeiro e ocorre quando a medula óssea tem tempo suficiente (usualmente 3-5 dias) para responder à demanda tecidual
aumentada de neutrófilos.

A.2 - Desvio à Esquerda Degenerativo: neste tipo pode ocorre com leucopenia ou número normal de leucócitos ou leucocitose
(última mais rara), onde o número de neutrófilos segmentados é menor que o de neutrófilos não segmentados - indica que a medula óssea
teve seu compartimento de reserva esgotado quanto aos neutrófilos segmentados no momento, e consequentemente ocorre a liberação de
células imaturas, ultrapassando os neutrófilos maturo.
PS: em muitas espécies isso é um sinal de prognóstico desfavorável que requer um rigoroso protocolo terapêutico, no entanto em
bovinos o desvio à esquerda degenerativo é comum durante o estágio inicial de doenças infecciosas ou inflamatórias hiperagudas a agudas -
espécie tem compartimento de reserva limitado na medula óssea, e logo a situação só deve ser considerada como sinal sério no prognóstico
caso perdure por vários dias.

(b) Desvio a direita: caracterizada pelo aumento do número de neutrófilos hipersegmentados, o que ocorre decorrente do maior
tempo destas células na circulação - causado pelo aumento nos níveis de glicocorticoides na circulação (stress), o qual realiza regulação
inibitória de moléculas de adesão, impedindo a diapedese (como não entra nos tecidos fica tempo demais circulando no sangue).

1.1.2 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucocitoses (Neutrofilia): as mudanças na contagem total de leucócitos podem
envolver anormalidades de produção, liberação, distribuição intravascular, vida média e ingresso tecidual de vários leucócitos - são
divididas em fisiológicas, reativas e proliferativas:

(a) Fisiológica: ocorrem por (distribuição intravascular) - ocorrem na liberação de adrenalina e corticosteroides.
A.1 - Adrenalina: animal apresenta linfocitose e neutrofilia - a adrenalina (1) estimula a produção e liberação de linfócitos na
medula óssea e (2) desloca o equilíbrio do pool marginal de neutrófilos e/ou linfócitos para o circulante.
PS1: condição é comum em animais jovens e geralmente é desencadeada por distúrbios emocionais e físicos.
PS2: raramente o número de monócitos e eosinófilos aumenta nestas situações.

A.2 - Leucocitose induzida por corticosteroide ou stress: a leucocitose pode ocorrer em condição de saúde (fisiológica) e nas doenças
(patológica - hiperadrenocorticismo) - o leucograma de estresse é caracterizado por neutrofilia com desvio a direita // linfopenia e
eosinopenia.
PS1: em cães ocorre monocitose também - causa desconhecida.
PS2: como células são deslocadas do pool marginal e permanecem na circulação indefinidamente acabam ficando
hipersegmentadas.
PS3: glicocorticoide pode ser endógeno ou administrado terapeuticamente.
PS3: a linfopenia ocorre principalmente pela linfólise dos linfócitos T sensíveis a esteróides no sangue e tecido linfóide // a
eosinopenia ocorre principalmente pela diminuição da saída destas células da medula óssea (interfere no efeito quimiotático da histamina
nos eosinófilos).

(b) Reativa: ocorrem em infecção no geral (local ou sistêmica) - geram alterações na produção, liberação e ingresso tecidual de
leucócitos.
PS1: pode ocorrer com ou sem desvio à esquerda.
PS2: algumas doenças podem induzir resposta específica, porem geralmente o padrão geral de resposta dos leucócitos é
PS3: o grau de leucocitose varia com as espécies e geralmente é relativa a proporção neutrófilos: linfócitos (N:L) - animais com
alta relação N:L (cão e o gato por exemplo) apresentam maior resposta que animais com baixa relação N:L (equinos e bovinos).

Causas: pode ocorrer por:


I - Inflamações locais ou sistêmicas (bacteriana, fúngica, viral ou parasitaria).
II - Necrose tecidual.
III - Doenças imunomediada inflamatórias (artrite reumatoide) e não inflamatória (anemia hemolítica autoimune).
IV - Tumores.

PS: processos inflamatórios podem ocorrer sem neutrofilia em duas situações (1) na perda de mediadores na urina ou pele ou (2)
em locais que são protegidos da circulação de mediadores inflamatórios, como o cérebro e a medula.

Modulação: mediadores inflamatórios ganham a circulação sanguínea e chegam a medula óssea, onde estimulam a produção e
liberação de células.

Diferencial - Fisiológica: pode ocorrer junto a resposta induzida por corticosteroide (ou menos comumente, por adrenalina), porem
ela pode ser considerada reativa quando um ou mais dos seguintes itens são encontrados:
- Leucocitose com desvio à esquerda.
- Hiperfibrinogenemia.
- Monocitose em outras espécies que não o cão.
- Ausência de linfopenia ou eosinopenia.
PS: no cão a monocitose deve ser acompanhada de um ou mais dos outros quatro critérios - ou o valor da contagem absoluta de
monócitos deve ser duas vezes maior que o normal.

Diferencial da Neutrofilia - Inflamação Aguda x Crônica:


Neutrofilia inflamatória aguda: ativada pela necessidade tecidual, gerando neutrofilia via mediadores inflamatórios:
I - Proporção de bastonetes é alta, já que o compartimento de reserva é liberado de uma súbita vez.
II - Pool marginal aumentado devido a demanda nos tecidos.
III - Ocorre com depleção do compartimento de estoque.

Neutrofilia inflamatória crônica: caracterizada por hiperplasia granulocítica - no sangue a proporção de bastonetes não fica tão
altera, já que a medula compensa pela demanda com a hiperplasia do tecido de produção.
B.1 - Reação leucemóide: leucocitose inflamatória intensa onde a contagem absoluta de um tipo de leucócito fica aumenta.
PS1: pode ocorrer com acentuado a extremo desvio à esquerda sugestivo de leucemia - porém os resultados laboratoriais e a
avaliação do paciente revelam que a doença não é uma leucemia.
PS2: geralmente a reação leucemóide envolvendo os neutrófilos é similar ao desvio à esquerda regenerativo - em alguns casos
um severo desvio à esquerda degenerativo pode gerar esta indicação.

Causas:
I - Em lesões supurativas locais no geral: extremo desvio à esquerda regenerativo visto na piometra e peritonite ativa crônica
em cães por exemplo // ou ainda na prostatite, pneumonia, pleurite e pitórax.
II - Acentuada linfocitose em condições supurativas crônicas (reticulite traumática por exemplo).

(c) Proliferativa: resulta de alteração neoplástica de células pluripotenciais (leucemias).


PS1: as formas mais comuns de leucemias são as linfocíticas, mielógenas, mielomonocítica e monocítica - as leucemias eosinofílicas
e basofílicas são raras.
PS2: muitas vezes o câncer das células sanguíneas não manifesta uma leucocitose.

(em resumo)

1.1.2 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucocitoses (Linfocitose):

(a) Linfocitose inflamatória crônica: estimulação crônica por antígeno leva ao aumento de produção de linfócitos nos órgãos
linfoides.
(b) Linfocitose fisiológica: ocorre em resposta a ação da adrenalina - nestes casos o aumento no número de células está relacionado ao
deslocamento do pool marginal para o circulante.

(c) Linfocitose linfoproliferativa: por alteração neoplásica em tecido linfoide ou medula.

Exp - Leucose enzoótica dos bovinos: uma doença infectocontagiosa caracterizada pelo aparecimento de tumorações com
infiltração mononuclear em órgãos ricos em tecido linfóide (linfonodos, abomaso, coração, útero, baço e rins) - nela ocorrem alterações
hematológicas de leucocitose por linfocitose com aumento das formas linfocitárias atípicas.

1.1.2 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucocitoses (Eosinofilia):


Normal (cão): correspondem de 2 a 10% das células (100 a 1.250/μl).
Causas de aumento:
I - Parasitismo.
II - Condições alérgicas.
III - Doenças em certos tecidos corporais ou órgãos ricos em mastócitos (pele, pulmão, útero, intestino).
IV - Neoplasias de mastócitos
V - Leucemia eosinofílica.

1.1.2 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucocitoses (Basofilia): ocorrem em dermatites alérgicas, eczemas e reações de
hipersensibilidade, parasitas, neoplasias e na leucemia basofílica.
PS: geralmente ocorre associada com eosinofilia.

1.1.2 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucocitoses (Monocitose):


Normal (cão): de 3 a 10% (150 a 1.350/μl).
Normal (gato): de 1 a 4¨% (0 a 850/μl).
Causas:
- Corticosteróides em cães.
- Processo inflamatório crônico.
- Leucemia monocítica.
1.1.3 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucopenias (Neutropenia):

(a) Neutropenia inflamatória por infecção bacteriana hiperaguda: uma das principais causas de neutropenia, as quais ocorrem nas
infecções bacterianas agudas (septicemias, peritonite aguda, pneumonia aspiração) - neutropenia já é observada em algumas horas após
introdução do agente.
PS1: gera situação de desvio a esquerda.
PS2: nos bovinos é ainda mais grave, visto que o compartimento de reserva tem suprimento limitado na espécie.

Mecanismos de ação:
I - Reduz a sobrevivência dos neutrófilos na circulação.
II - Neutrófilos são liberados do CAN.
III - Gera estimulação da M.O. por citocinas (em até 2 dias).

(b) Neutropenia por endotoxemia: ocorre pela presença de bactérias gram negativas - suas endotoxinas geram deslocamento do
pool circulante para o pool marginal.

(c) Neutropenia secundária a produção reduzida:


Causas:
I - Infecções virais: na FELV e Parvovirose.
II - Infecções por riquétsias: ocorre na Ehrlichiose canina.
III - Toxicidade por drogas: estrógeno e agentes quimioterápicos.
IV - Radiação: gera mieloptise - destruição de células mielóides com deposição de tecido conjuntivo ou neoplásico.
IV - Nas leucemias (mieloides ou linfoides).

(c) Neutropenia secundária a produção inefetiva: ocorre em neutropenias imunomediadas, as quais resultam na sobrevivência
reduzida destas células - ocorre sem desvio à esquerda // compartimento de estoque se mantem normal.

(em resumo)

1.1.3 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucopenias (Linfopenias): ocorrem em certas infecções virais (Cinomose por exemplo).
II - Infecções sistêmicas: agudas, virais (cinomose por exemplo) ou bacterianas grave (toxoplasma, erlichia e leishmania).
III - Neoplasias: quando estas passam a produzir certa linhagem de células outras linhagens ficam prejudicadas, já que sua
produção pode estar sendo substituída por a das células neoplásicas.
IV - Inflamações crônicas.
V - Radiação.
(a) Linfopenia por Glicocorticóides (linfopenia de estresse): o cortisol (pelo uso de corticoides, hiperadrenocorticismo ou no stress)
possui efeitos linfotóxico diversos, gerando diminuição deste tipo de células no sangue - afetam tantos os órgão linfoides primários quanto
secundários.

Mecanismo: os corticóides (endógenos e exógenos) atuam de várias formas na linfopenia (consequentemente imunodepressão)
- Inibindo a mitose linfocitária
- Lisando linfócitos circulantes
- Reduzindo a liberação de histamina
- Estimulando o catabolismo proteico
- Reduzindo formação de anticorpos e recirculação (circulação sanguínea para a circulação linfática)

(b) Linfopenia por depleção: ocorre via efusão linfóide - extravasamento da linfa por rompimento de ductos.
PS: geralmente a linfa fica acumulada na cavidade torácica (quilotórax).

(c) Linfopenia por hipoplasia ou aplasia linfóide:


Causas: por substancias e agentes (químicos, físicos ou biológicos) que interfiram no tecido linfopoiético.
I - Drogas imunossupressiva.
II - Radiação.
III - Infecções virais
(d) Linfopenia inflamatória aguda: onde os mediadores do processo inflamatório agudo alteram a cinética dos linfócitos,
deslocando as celulas do pool circulante para o marginal (e logo aos tecidos, que estao sobre demanda).

(em resumo)

1.1.3 - Concentrações Anormais de Leucócitos - Leucopenias (Eosinopenia):


(a) Por Glicocorticóides:
Causas:
I - Estresse crônico (glicocorticóides endógenos);
II - Hiperadrenocorticismo;
III - Administração de esteróides

(b) Estresse agudo (adrenalina).


(c) Hipoplasia ou aplasia medular.

1.1.4 - Analise do Fibrinogênio: se trata de uma proteína de fase aguda da inflamação produzida no fígado
Importância: nos processos inflamatórios de várias causas, a concentração do fibrogênio pode se elevar - fica acima dos níveis
normais por entre 3 a 4 dias (ou por vários dias ou semanas como nas doenças crônicas).
PS1: em bovinos o fibrinogênio é um importante parâmetro a ser avaliado pois pode ser a única indicação de uma resposta
inflamatória ativa (já que neutrófilos não tem estoque).
PS2: nas doenças que ocorrem excessivo depósito de fibrinogênio tecidual sua concentração no sangue pode não estar elevada,
ficando entre os valores de referência ou até mesmo abaixo destes valores.

Mecanismo: na inflamação o sistema fagocítico mononuclear secreta citocinas (IL-1 e TNF principalmente) as quais atuam nos
hepatócitos estimulando a síntese do fibrinogênio.
PS: geralmente a resposta do fibrinogênio inicia-se com a resposta dos leucócitos, persistindo por mais tempo que os leucócitos.
AULA 1 - HEMOSTASIA

1 - Introdução e conceitos:

1.1 - Hemostasia: conjunto de fatores responsáveis pela manutenção do sangue no interior do espaço vascular de forma fluida - sendo
dependente da função de plaquetas, vasos sanguíneos e sistema de coagulação.

Objetivos:
I - Reparar lesões vasculares, fazendo o controle hemorragias - realiza isto através formação de coágulos.
II - Manter a fluidez do sangue. através da dissolução dos coágulos (após terem cumprido sua função).

Etapas: divido didaticamente em hemostasia primaria e secundaria - porem na pratica ocorrem de forma simultânea e interativa.

1.1.1 - Hemostasia primaria: fase caracterizada pela vasoconstrição reflexão e ativação/agregação plaquetária com formação do
tampão plaquetário.
1ª - Primeira etapa ocorre pela vasoconstrição reflexa do endotélio lesado, diminuindo possíveis perdas de sangue - a diminuição do
fluxo por sua vez possibilita a aderência e agregação de ainda mais plaquetas e formação do tampão plaquetário.
PS: ocorre principalmente via endotelina liberada pelo endotélio (plaquetas também contribuem com serotonina).

2ª - Ocorre atração de plaquetas pela exposição do colágeno, as quais se ligam ao endotélio (adesão) - estas liberam ainda citocinas,
as quais estimulam a vasoconstrição e adesão/agregação de mais plaquetas (via endotelina, seratonina, tromboxano A2 e ADP).
PS1: plaquetas são produzidas a partir de um precursor mieloide nas células tronco da MO - os fragmentos do citoplasma destes
megacariócitos são liberados na corrente (trombopoiese/megalocitopoiese).
PS2: plaquetas estão presentes em mamíferos - aves, repteis e anfíbios possuem trombocitos.
PS3: além da medula os megacariócitos podem ser encontrados (em menor proporção) no baço, fígado e pulmões.

PS - Endotelina (endotélio): tem efeito de vasoconstrição, sendo liberada durante a lesão do vaso.
PS - Seratonina (plaqueta): junto a lesão do vaso são responsáveis pela vasoconstrição.
PS - Tromboxanos A2 e ADP (plaquetas): responsáveis pela agregação plaquetária (ligação entre plaquetas, formando o tampão
plaquetário) - a redução do fluxo pela vasoconstrição também ajuda na formação do tampão.
PS - Calcio (plaquetas): participam em diversas etapas da cascata de coagulação.
PS - Fator tecidual (endotélio): liberado durante a injuria, o qual ativa uma das vias na cascata de coagulação.
PS - Trombopoietina (MO, células renais e hepáticas): liberada via estimulo de citocinas produzidas por macrófago ativado e
fibroblastos, atuando então na medula óssea estimulando a liberação de plaquetas - é inversamente proporcional a quantidade de plaquetas
no sangue, sendo importante já que estas estão em um processo de consumo constante.

3ª - Plaquetas se ligam umas às outras (agregação), formando assim o tampão plaquetário - na hemostasia secundaria este vai ser
estabilizado (consolidado) pela deposição da fibrina (produto da cascata de coagulação).

1.1.2 - Hemostasia secundaria: ocorre pela ativação da cascata da coagulação, a qual determina a consolidação do tampão plaquetário
pela fibrina - pode ser ativada pelo mecanismo intrínseco ou extrínseco:
1A - Sistema Intrínseco: ativado pela exposição do sangue ao colágeno do subendotélio da parede vascular traumatizada, a qual leva
a ativação do fator XII da coagulação - este segue ativando os outros fatores desta via em uma cascata enzimática (12 > 11 > 9 > 8).
PS: ativado quando o sangue entra em contato com uma superfície contendo cargas elétricas negativas no geral - pode ocorrer
com a parede de um tubo de vidro por exemplo (“ativação por contato”).

1B - Sistema Extrínseco: se inicia por lesão vascular com extravasamento de membrana denominada fator tecidual (tromboplastina
tecidual - proveniente de células da musculatura lisa, monócitos e fibroblastos extravascular próximos ao tecido lesado) - o fator tecidual
atua ativando o fator VII.
PS: a partir deste ponto, as duas vias encontram um caminho comum em que ocorre a conversão de protrombina em
trombina que, por sua vez estimula a transformação de fibrinogênio em fibrina

2 - Via comum:
1ª - Fator tecidual liberado na lesão junto aos fosfolipídios (PF3 - fator plaquetário 3) liberados pelas plaquetas ativam cascata de
coagulação - a cascata comum é iniciada no fator 5 (ativado pelo fator 7 ou 8), seguindo ativando os demais fatores em uma cascata
enzimática (10 > 5 > 2 > 1).

2ª - A cadeia de reações da cascata (ativações enzimáticas) resulta na produção de trombina, que converte fibrinogênio (fator I)
em fibrina.
3ª - Fibrina se incorpora ao tampão plaquetário, formando (estabilizando) o coagulo.

PS1: na ausência de FCs a formação de fibrina ocorre de forma retardada.


PS2: o cálcio atua em diversas etapas na cascata de coagulação (tanto na via comum quanto na intrínseca),

1.1.3 - Hemostasia Terciaria (Fibrinólise): mecanismo de controle da proliferação de coagulo na lesão - impede a formação de trombos
via destruição de coágulos.
Proposito: a dissolução do coagulo garante fluxo sanguíneo adequado e a restauração tecidual.
Mecanismo:
1ª - Tecido e endotélio lesado legam a produção de plasminogênio tecidual (t-PA)
2ª - Este plasminogênio (profibrinolisina) é ativado em plasmina (fibrinolisina) - a qual atua localmente no interior do coágulo
degradando a fibrina.
3ª - Após sua ação a plasmina é imediatamente removida da circulação por líquidos orgânicos sistêmicos // os produtos de
degradação da fibrina (PDFs - formados pela ação da plasmina sobre a fibrina) são removidos por macrófago.

PS1: a fibrinólise é ativada na mesma ocasião da coagulação, existindo um equilíbrio fisiológico entre as mesmas.
PS2: outras substancias atuam no equilíbrio entre pro e anticoagulantes - as proteínas da fibrinólise antitrombina e proteina XC
por exemplo (impedem a ação de alguns dos FCs e da trombina).

2 - Componentes:
2.1 - Plaquetas:
Funções:
(I) Adesão: corresponde a aderência das plaquetas no local da lesão - é efetuada por meio de seus receptores de superfície para o
colágeno e é possibilitada pelo fator de von willebrand (serve como ponte entre a plaqueta e o colágeno do subendotélio).
PS1: o fator de von willebrand é produzido por células diversas - células endoteliais, megacariócitos e plaquetas (principal).
PS2: este fator também atua na estabilização de um dos fatores de cascata (FC 8).

(II) Agregação: é uma resposta básica para a liberação de ADP (adenosina difosfato) na presença do cálcio e é mediada pelo
fibrinogênio presente no plasma - a compactação do agregado se dá pela contração dos filamentos de actinomiosina presentes no
citoplasma plaquetário, levando a ligacao de plaquetas umas às outras (pontes de fibrina) para a formação do tampão plaquetário.

(III) Liberação: secreção de várias substancias que atuam na hemostasia e cascata (já mencionadas) - fator plaquetário 3 por
exemplo, o qual participa na cascata de coagulação.
(IV) Retração do coágulo: tampão ajuda a fechar as feridas via formação de pontes citoplasmáticas entre as plaquetas (via actina e
miosina formando pseudópodes).

Remoção: ocorre naquelas onde a função foi comprometia - nas envelhecidas e parasitadas por exemplo (a. platys), sendo removidas
por macrófagos teciduais no fígado e baço.

Morfologia e fisiologia: são fragmentos de citoplasma de megacariócito, presentes na M.O, fígado e pulmões - morfologia não varia
muito entre espécies (porem o tamanho pode variar dentro de um mesmo animal).

Diâmetro: varia - em torno de 2-5 µm em média.


PS: anotar nos casos de presença de macroplaquetas no hemograma anotar - indica regeneração pela MO.

Vida média: 8 dias


Valor normal médio: em torno de 300.000/µl - possui consumo contínuo (usado nos reparos de vasos).

PS: na avaliação do hemograma as hemácias devem estar com distribuição homogênea - caso seja verificado agregados de plaquetas
isto deve ser anotado, já que interfere na contagem por métodos automáticos (muito comum no felino, que tem a coleta dificultada e o
sangue pode coagular antes mesmo de ser colocado no tubo).

Regulação Megacariopoiese e Trombopoiese - Trombopoietina (MO, células renais e hepáticas): liberada via estimulo de citocinas
diversas, produzidas por macrófago ativado e fibroblastos, atuando então na medula óssea estimulando a liberação de plaquetas - é
inversamente proporcional a quantidade de plaquetas no sangue, sendo importante já que estas estão em um processo de consumo
constante.
PS: maturação das células demora de 2 a 10 dias.

2.2 - Fator de von Willebrand: glicoproteína plasmática produzida por vários tipos celulares (células endoteliais, megacariócitos,
plaquetas) - tem função de mediar a aderência e agregação plaquetária e de estabiliza o Fator VIII (complexo não covalente).

2.3 - Fatores de coagulação: maioria destes são sintetizadas no fígado (alguns liberados pelas plaquetas e tecidos lesados) - circulam no
plasma em sua forma inativa, prontos para participar em uma cadeia que resulta na conversão de protrombina (no plasma) em trombina:
que por sua vez converte fibrinogênio em fibrina.

(2 e 1)

Fatores produzidos pelo fígado: importante já que uma deficiência hepática (cirrose por exemplo) pode interferir na capacidade de
coagulação.
Fator I - Fibrinogênio (sist. comum)
Fator II - Protrombina (sist. comum)
Fator V - Proacelerina (sist. comum)
Fator VII - Proconvertina (sist. extrínseco)
Fator IX - Christmas (sist. intrínseco)
Fator X - Stuard-Prower (sist. comum)

Fatores vitamina K dependentes: sintetizados na forma de pro enzimas dos fatores - só podem efetuar sua atividade após a carboxilação
da molécula (processo vitamina K dependente).
Fator II (sist. comum)
Fator VII (sist. extrínseco)
Fator IX (sist. intrínseco)
Fator X (sist. comum)

PS: agentes cumarínicos são antagonistas da vitamina K - intoxicação leva a deficiência destes fatores.

Ativação dos fatores: a ativação dos fatores 2, 7, 9 e 10 se dá pela ação da vitamina-K (também chamada de vitamina da coagulação)
1ª - Os fatores de coagulação 2, 7, 9 e 10 são sintetizados no fígado em sua forma inativa (proteínas precursoras).
2ª - A vitamina K em sua forma reduzida participa como cofator na carboxilação (ação da carboxilase) das proteínas precursoras,
que recebem uma molécula adicional de COO-.
3ª - Como produto da reação da segunda etapa se tem a formação de proteínas completas (fatores de coagulação funcionais/
ativados) e a vitamina K na sua forma oxidada.
4ª - Após a ativação a vitamina K tem de voltar a sua forma reduzida para assim ter a capacidade de ativar mais fatores de
coagulação quando necessário.
PS: os monocumaróis e dicumaróis agem sobre esta etapa, impedindo a redução da vitamina K em vitamina K oxidada.
PS2: a vitamina K está presente no plasma.
2.4 - Proteínas Anticoagulantes: estão em equilíbrio com pró-coagulantes - são eles
(a) Inibidores dos fatores de coagulação (agentes fibrinolíticos)
(b) Antitrombina (AT)
(c) Proteína C

3 - Desordens hemostáticas:

Sinais clínicos: variam de acordo com o tipo de desordem (da hemostasia primaria ou secundaria).
Hemostasia primaria: ocorrem nas trombocitopenias, trombocitopatias e em lesões vasculares - geralmente resultam em púrpuras
(animal possui apresentação clínica de petéquias e equimoses na pele e mucosa).
PS: ocorrem principalmente por diminuição no número ou função de plaquetas.
Hemostasia secundaria: ocorrem por distúrbios na cascata de coagulação ou pela presença de inibidores da cascata em demasia
(coagulopatias) - levam a hemorragias, hematomas e hemartroses.
PS1 - Hemartroses: hemorragias dentro de articulações.

3.1 - Testes laboratoriais: utilizados no diagnóstico destas desordens.


A - Contagem de plaquetas: comparado ao padrão da espécie - pode ser feito por
(a) Contagem automática: feita por aparelhos específicos.
(b) Câmara de Neubauer: contagem é feita nos quadrantes azuis - estes são subdivididos em 16 partes.

(c) Contagem estimativa em esfregaço: estimativa pela lâmina - para cada 1 plaqueta visualizada por campo se estima cga de
20.000/μl.
PS: menos ideal dos métodos.

B - Tempo de sangramento da mucosa oral: constata a função plaquetária - geralmente feito na mucosa oral, com um corte de 0,5cm.
Tempo Normal: dentro de 1,7 min.
PS: no humano feito na orelha.

C - Avaliação de Medula Óssea: para se verificar a causa da trombocitopenia via presença ou não de megacariócitos - feito via aspiração
de medula.
Quando os megacariócitos estão presentes: indicativo de destruição ou consumo de plaquetas.
Quando os megacariócitos estão ausentes: indicativo de diminuição da produção ou destruição.

D.1 - TCA (Tempo de Coagulação Ativada): tempo entre o contato do sangue total com o tubo com ativador de contato (sílica neste
caso) até a formação do coágulo - avalia na via intrínseca e comum da coagulação, com o tempo normal sendo de 60 a 90seg (se aumentado
indica falta de FdCs).
D.2 - TTPa (Tempo de Tromboplastina Parcial ativado): também avalia na via intrínseca e comum da coagulação - tempo normal
sendo de 6 a 16seg.

Mecanismo: feito com kit especifico.


1A - Ao plasma coletado é adicionado um anticoagulante quelante de cálcio (citrato) - este impede que o cálcio na amostra ative a
coagulação.
1B - Também é adicionado um ativador de contato (caulim neste caso) - este ativam fatores de coagulação da via intrínseca (fator
12).
2ª - É adicionado também a reagente tromboplastina parcial (cefalina).
PS: parcial já que não contem o fator tecidual - a cefalina é um fosfolipídio pró-coagulante desprovido do fator tecidual, sendo
incapaz de ativar a via extrínseca.

3ª - Em seguida é adicionada cálcio é o tempo até formação do coagulo e avaliado.


4ª - Tempo após acréscimo de cálcio até formar o coágulo.
PS: como o plasma não contem hemácias o coagulo é visto como um coagulo branco (fibrina apenas) - tem de aspecto
gelatinoso.

D.3 - TP (Tempo de Protrombina): avalia a via extrínseca e comum da coagulação - tempo normal sendo entre 6 e 10 segundos.
Mecanismo:
1ª - Plasma é adicionado ao citrato - fica sem cálcio.
2ª - A tromboplastina completa (fosfolipídio e fator tecidual) ativa o fator 7 da via extrínseca.
3ª - Adicionado cálcio ao plasma com citrato e tromboplastina completa.
4ª - É medido o tempo após acréscimo de tromboplastina até a formação do coágulo.

E - PDF: mede os produtos da quebra da fibrina pela plasmina - o aumento de PDF é indicativo de excessiva fibrinólise.
PS: realização do teste é menos comum em laboratórios de patologia, já que é um teste imunológico (pelo método de aglutinação em
látex).

Causas de aumento: pode estar aumentado na CID, após cirurgia ou lesões extensas.
Valores de referência:
No cão < 4Oμg/ml
No gato < 8μg/ml

F - Fibrinogênio (FC I): se trata de uma proteína plasmática de fase aguda (fator de coagulação 1) - é produzido no fígado, estando
aumentado na inflamação e diminuído na CID.
Método:
1ª - Preparar 2 microhematócrito
(a) Com o primeiro fazer a leitura das proteínas plasmáticas com um refratômetro - centrifugar e quebrar no plasma,
derramando uma gota sobre o aparelho.
(b) Com o segundo deixar em banho maria por 3 minutos a 56º - em seguida centrifugar por 1 minuto.

2ª - O aquecimento do segundo fraco gera a desnaturação e precipitação do fibrinogênio - desta forma é feito a leitura pelo
refratômetro deste segundo frasco, que irá apresentar um valor menor.

3ª - A diferença dos valores da primeira e segunda medição representa a quantidade de proteínas que desnaturaram (ou seja, do
fibrinogênio).
Causas de diminuição: na CID por exemplo - fibrinogênio é esgotado.
Valores de referência:

3.2 - Tipos de distúrbios da coagulação: divididos quanto a origem em desordens plaquetárias, de fatores de coagulação e desordens
vasculares.

3.2.1 - Desordens plaquetária: podendo ser quantitativas (trombocitose e trombocitopenia) e/ou qualitativas.

A - Trombocitopenia:
Causa I - Por produção diminuída de plaquetas: nas alterações de produção na MO.
(a) Mieloptise: comprometimento de toda linhagem mieloide.
(b) Drogas: quimioterapia, estrógenos, trimetropim e sulfadiazina por exemplo.
(c) Destruição imunomediada de megacariócitos.

Causa II - Destruição/consumo (fora da medula): em causas infecciosas (a. platys na TCC dos caninos), neoplasias, destruição
imunomediada e CID (também consome plaquetas).

Causa III - Sequestro/perda:


(a) Nas intoxicações (endotoxinas) e infecções parasitarias -
(b) Em casos de transfusão incompatível - nestes dois casos (a e b) os macrófagos do baço e fígado sequestram células marcadas
com os anticorpos.
PS: animal também apresenta esplenomegalia, hepatomegalia.

(c) Em perdas massivas com sangramentos esternos.

B - Trombocitose:
Causa I - Trombocitose Primária (neoplasia hematológica): ocorre em doenças mieloproliferativas crônicas (ex.: policitemia vera) -
animal apresenta aumento na concentração e tamanho das plaquetas (quase do tamanho de hemácias), além do aumento de megacariócitos
na medula.

Causa II - Trombocitose Secundaria (reativa): relacionado a


(a) Situação de exercício extenuante e liberação de epinefrina - gera redistribuição de plaquetas do baço para o sangue
(b) Produção aumentada: ocorre nas inflamações (via produção de IL-6, que estimula produção de trombopoietina) ou em
neoplasias com tumores secretantes.
(c) Pós esplenectomia: sangue no estoque é liberado na circulação.

C - Trombocitopatia: relacionado a alterações na função da plaqueta (adesão e agregação por exemplo).


Causas Congênitas: geralmente percebidas em animais jovens.
(a) Doença de von Willbrand: ausência da produção do fator - pode afetar a produção pelas plaquetas, megacariócitos e células
endoteliais, lembrando que o fator é essencial para a adesão.

(b) Trombopatia trombastêmica dos caninos: afeta a agregação.


(c) Trombopatia do Basset hound e Spitz: também a agregação.

Causas Adquiridas:
(a) Uremia: os produtos nitrogenados interferem na agregação.
(b) CID: os PDFs bloqueiam receptores para fibrinogênio, interferindo na formação de pontes de fibrina (para agregação).
(c) Drogas: aspirina (inibe TxA2 - irreversível), iboprofen, fenilbutazona, sulfonamidas, penicilinas.
PS: o tromboxano liberado por plaquetas ativa a agregação - com o uso da aspirina ele só passar a estar presente em novas
plaquetas.
(em resumo)
3.2.2 - Coagulopatias: podem ser congênitas ou adquiridas
A - Congênitas: ocorrem por problemas de seleção genética - suspeitar em animais jovens

A.1 - Hemofilia A: ocorre por perda do fator VIII na via transplacentária- leva a hemartroses, hematomas e sangramento pelo
trato gastrointestinal e urogenital.
PS: mais comum em machos.

Diagnóstico:
I - Tempo de sangramento permanece normal - função plaquetária não é afetada.
II - TP normal - via extrínseca não é afetada.
III - TTPa prolongado - afeta via intrínseca e comum (já que afeta o fator 8).

A.2 - Doença de Von Willebrand: afeta o fator VIII (não é deficiência de F. VIII, este apenas não se estabiliza) - gera tanto
interferência na função de plaqueta (trombocitopatia) quanto uma coagulopatia.
PS: é a mais comum das coagulopatias congênitas.

Diagnóstico:
I - Tempo de sangramento prolongado - já que avalia a função de plaquetas.
II - TP normal.
III - TTPa prolongado.

A.3 - Hemofilia B: defeito do fator IX - ocorre em cães e gatos (raro), também sendo mais comum em machos.
Diagnóstico:
I - TP: normal.
II - TTPa: prolongado.

A.4 - Deficiência de fator XII: comum em Poodles, German Short hair Pointer, Sharpei e gatos.
A.5 - Deficiência de fator IX: afeta Cocker Spaniel e Jack Russel Terrier.
A.6 - Deficiência de fator VII: afeta Beagles e outras raças - afeta a via extrínseca (TP aumentado).

B - Adquiridas:
B.1 - Deficiência de Vit.K: leva ao bloqueio da produção de alguns fatores de coagulação.
Causas:
I - Uso de antagonistas da Vit.K: os rodenticidas por exemplo (Warfarin - cumarínicos).
II - Deficiência de sais biliares: a vitamina é lipossolúvel, precisando destes sais para ser absorvida.
III - Síndrome da má absorção.
IV - Pancreatite: devido a ausência de lipase.

Diagnostico: TTP e TP aumentados - interfere nas vias intrínseca e extrínseca.

B.2 - Doença hepática: ocorre em animais com problemas hepáticos severos - (1) animais com cirrose e (2) gatos na lipidose
hemática por exemplo.
PS: cerca de 50% dos gatos com lipidose hepática apresentam problema de coagulação - já que os hepatócitos participam na
produção e ativação de proteínas da cascata de coagulação.

Diagnóstico:
I - TP e TTPa prolongados.
II - Biópsia, aspirados, citologia.
III - Testes de função hepática
B.3 - Coagulação Intravascular Disseminada: doença secundária ao consumo - ativação não controlada da cascata de coagulação,
levando ao consumo de fatores, plaquetas e anticoagulantes.
Causas:
I - Aumento do contato com ativação do sist. intrínseco: em viremias e endotoxemias por exemplo.
II - Aumento da liberação de tromboplastina tecidual com ativação do sist. extrínseco: em traumas, necrose tecidual,
neoplasias disseminadas e hemólise intravascular.

Diagnóstico:
I - Contagem de plaquetas diminuída.
II - TTP/TCA prolongados.
III - TP prolongado.
IV - PDF aumentado.
V - Fibrinogênio diminuído.
VI - Tempo de sangramento prolongado: devido as plaquetas diminuídas e interferência nas pontes de fibrina pelos PDFs.
VII - Fragmentos de eritrócitos: podem ser vistos no esfregaço sanguíneo (poiquilócitos).

3.2.2 - Desordens vasculares: divididas em congênitas e adquiridas - são diagnosticadas pelo descarte de problemas plaquetários e
coagulopatias.
PS: ocorrência é mais rara que as coagulopatias e desordens plaquetárias.

A - Congênitas - Deficiência da produção de colágeno.

B - Adquiridas: por extensa lesão vascular por motivos diversos:


I - Desordens inflamatórias (bactérias e vírus diversos).
II - Desordens imunes.
III - Tumores.
IV - Traumatismos extensos.
AULA 2 - FÍGADO

1 - Introdução e revisão:

Anatomia:

. Possui células de Kuppfer como macrófagos de defesa.


. Tecidos organizado em lóbulos circulados a tríades portais - estas compostas por artéria hepática, veia porta e ducto biliar.
PS: o ducto biliar escoa a bile produzida nos hepatócitos (via canalículos biliares).

Funções:
(a) Síntese e estocagem de aminoácidos, proteínas, vitaminas e gorduras:
A.1 - Vitaminas A, D, K e B12.
A.2 - Ferro: na forma de ferritina.
A.3 - Gorduras: triglicerídeos.
A.4 - Glicogênio.

A.5 - Proteínas: participa na síntese de


I - Albumina.
II - Globulinas: alfa-globulina (eritropoietinogênio) e betaglobulina (fibrinogênio).
III - Lipoproteínas: estas sendo enviadas para a circulação e tecidos.
IV - Fatores de coagulação.

(b) Regulação de glicemia: via regulação do metabolismo de glicose.

(c) Drenagem da bile: função excretora do fígado - produzida a partir da bilirrubina enviada ao fígado, sendo então liberada no
intestino (onde atua na emulsificação de gorduras no intestino).

(d) Detoxificação:
De substancias endógenas: toxinas e metabólitos.
De substancias exógenas: biotransformação de fármacos ou agentes tóxicos.

(e) Sistema fagocítico mononuclear: realiza fagocitose de partículas estranhas.


(f) Circulação e filtração de sangue.
(g) Metabolismo de substancias diversas.

(h) Hematopoiese:
Hematopoiese pré-natal: produção ativa de células sanguíneas no período de gestação.
Fase pós-natal: atua no armazenamento de substâncias essenciais para a hematopoiese - vit. B12 e ferritina por exemplo.
Síntese de eritropoietinogênio: precursor da eritropoietina.

Utilidade da avaliação clínica:


I - Determinar a eficácia da terapêutica.
II - Realizar avaliação do grau de lesão tecidual.
III - Como exame pré-cirúrgico - fígado e rim são vitais na metabolização dos anestésicos utilizados.
IV - Diagnóstico diferencial das icterícias: entre a pré-hepática // hepática // pós-hepática.
2 - Metabolismo (fígado):
2.1 - Carboidratos: realiza
(a) Glicólise e gliconeogênese: quebra de glicose // formação de glicose a partir de esqueletos de carbono e A.As.
(b) Glicogenólise e glicogênese: quebra de glicogênio // formação de glicogênio (estocado no fígado e músculos).

2.2 - Proteínas: realiza reações de transaminações (transferência do grupamento amino entre A.As).
2.3 - Amônia: atua no ciclo da ureia (metabolização da amônia) - a excreção de produtos nitrogenados ocorre pelos rins.
2.4 - Lipídios:
(a) Oxidação de ácidos graxos.
(b) Síntese de triglicerídeos - no excesso de carboidratos por exemplo.
(c) Síntese de ácidos biliares: feito a partir do colesterol (precursor) - em seguida estes são liberados na bile.

3 - Alterações patológicas:
(A) Doença hepática primária: causadas por dano direto ao órgão.
I - Traumatismo.
II - Toxinas.
III - Agentes terapêuticos (paracetamol em cães e gatos por exemplo).
IV - Agentes infecciosos: hepatite infecciosa canina e leptospirose por exemplo.
V - Neoplasias hepáticas ou de ducto biliar.

PS: pode ou não ser acompanhada de icterícia.

(B) Doença hepática secundária:


I - Lipidose infiltrativa: comum em felinos por exemplo.
II - Doenças pancreáticas: devido à proximidade anatômica as enzimas extravasadas podem afetar o fígado.
III - Intoxicações: aflatoxinas (comum em aves) e senecio (em bovinos).

4 - Avaliação clínica de patologias do fígado: pode se dar por avaliação de enzimas séricas, substancias metabolizadas ou da funcionalidade
hepática.
PS: exames são feitos a partir de exames bioquímicos (feitos a partir do soro).

4.1 - Enzimas séricas: podem ser enzimas de vazamento (de hepatocitos) ou colestáticas (dos ductos biliares) - a liberação de enzimas dos
hepatócitos e ductos biliares ocorre por dano celular (na necrose celular, drogas hepatotóxicas e cirrose crônica por exemplo).
PS: estas enzimas geram alteração na permeabilidade celular dos tecidos da região, com consequentes reações de inflamatórias e
degeneração.

4.1.1 - Enzimas de vazamento:

A - ALT (alanina aminotransferase): presente no citoplasma de hepatócitos e células musculares - antigamente denominada TGP
(transaminase glutâmico-pirúvica).
Função: realiza transferência de grupamento aminos entre aminoácidos (transaminação) - atua na conversão de glutamato em
alanina nos músculos e fígado por exemplo.

Concentração ALT em outros tecidos:


Coração: possui 1/4 da quantidade hepática.
Rins: possui 1/10 da hepática.
Hemácias: possui certa quantidade da enzima.
PS: devido à presença de tal enzimas nas hemácias a ocorrência de hemólise na coleta pode alterar resultado - ALT da
hemácia contaminando o soro.

Interpretação: aumento dos níveis plasmáticos indica lesão hepática (quando passa do citoplasma do hepatócito para o sangue é
considerado como indicativo de dano hepático) - a analise deste tipo de enzima é mais indicada no cão, gato e primata, já que em tais
espécies a atividade da enzima no fígado é alta (de 4 a 8x maior que a de AST).
PS1: a quantidade sérica não está relacionada com a gravidade da lesão tecidual - por exemplo, em uma lesão subletal de vários
hepatócitos a ALT extravasada pela permeabilidade aumentada pode ser maior do que a de após necrose de alguns hepatócitos.
PS2: também possui atividade no músculo (porem menor) - por este motivo em lesões musculares os níveis séricos de ALT
também sofrem aumento, porem este é mais leve (além de acompanhado de significativo aumento da AST e CK).

Valores de referência:
Cão: 21 a 86 UI/L.
Gato: 28 a 83 UI/L.
PS: nestas espécies o aumento proporcional da ALT é maior que a AST (gera melhor diagnostico).

Meia-vida: de 1 a 5 dias.

Causas de aumento da ALT sérica:


I - Hepatites tóxicas (por medicamentos e toxinas).
II - Hepatites infecciosas (toxinas bacterianas).
III - Alterações metabólicas (acúmulo de lipídeos nos hepatócitos por exemplo).
IV - Hepatites virais.
V - Neoplasia hepática.
VI - Traumatismo hepático grave.
VII - Pancreatite aguda.
VIII - Hipóxia.

IX - Cirrose: na cirrose hepática os níveis de ALT e AST podem estar tanto levemente aumentados quanto normais ou
diminuídos - já que nestes casos ocorre substituição por tecido fibroso, e logo as enzimas podem estar diminuídas devido a esta substituição.

X - Lesão muscular esquelética: pesquisa por AST e CK é mais indicada nestes casos (aumento de ALT é pequeno).

B - AST (aspartato aminotransferase): encontrada nas mitocôndrias e citoplasma de células diversas (inclusive hepatócitos) -
antigamente denominada TGO.
PS: indicada para testes em ruminantes e equinos.

Função: realiza transaminação em células de músculos e fígado.


Concentração AST em outros tecidos: além do fígado também presente em músculos, coração e hemácias.

Interpretação: aumento dos níveis plasmáticos pode ser indicativo de lesão hepática, cardíaca ou do musculo esquelético.
PS: aumento de AST junto ao de ALT pode indicar severa lesão hepatocelular - como a maior parte da AST está presente na
mitocôndria (estrutura mais interna), está só é liberada em lesões mais graves.

Valores de referência:
Cão: 6,2 a 13,0 UI/L.
Gato: 6,7 a 11,0 UI/L.
Equino: 58 a 94 UI/L.
Bovino: 20 a 34 UI/L.

Meia-vida: 1-3 dias

Causas de aumento da AST sérica:


I - Lesão hepática: já citadas - ocorrem por fármacos (anticonvulsivantes e estrógenos), hepatopatias, substâncias tóxicas, etc.

II - Lesão da musculatura esquelética: neste caso se caracteriza pela atividade sérica de AST e LD aumentadas (a ALT pode se
manter normal ou levemente aumentada) - diferencial neste caso é feito pela presença ou não da CK (caso não seja possível pela análise dos
sinais clínicos do animal).
PS - CK: metaboliza a creatina fosfato presente na musculatura em creatinina, que então é eliminada por via renal - sua
presença junto a AST, LD e ALT é utilizada no diferencial entre lesão muscular ou hepatica.
III - Distúrbios miocárdicos (isquemia cardíaca): por endocardite, dirofilariose, trombose aórtica, infarto do miocárdio, etc.
IV - Esforço extenuante: equinos de corridas por exemplo.
V - Cirrose: nestes casos os níveis de ALT e AST podem estar levemente aumentados, normais ou diminuídos.
VI - Hemólise: já que pequena parte pode ser encontrada em hemácias.

C - SD (SDH - sorbitol desidrogenase): encontrada na mitocôndria e citosol de células - específica do fígado (mais do que a AST).
Interpretação: diagnostico diferencial para lesão hepática.
Meia-vida: de 8 a 12 horas - meia vida é muito curta, o que limita muito a sua utilização (útil somente em lesões continuas).

D - GLDH (glutamato desidrogenase): relacionada as mitocôndrias, sendo uma enzima hepato-específica em todas as espécies.
Interpretação: indicativo de lesão hepática - pode ser usada em substituição a ALT em grandes animais, principalmente em
equinos.
Meia-vida: ainda menos estável que a SDH.

E - LDH (Lactato desidrogenase): encontrada na mitocôndria e citoplasma de diversas células - indicada para testes em ruminantes e
equinos.
Tipos:
E.1 - LDH1 e LDH2: encontradas na musculatura cardíaca (alfa-hidroxidesidrogenase) - utilizada para diagnostico de infarto
do miocárdio em humanos.
E.2 - LDH5: presente em hepatócitos e musculatura esquelética - esta quando aumentada porem com a CK normalmente sugere
alteração de permeabilidade hepatocelular (lesão hepática).

4.1.2 - Enzimas colestáticas: os aumentos de FA GGT hepática são indicadores sensíveis dos processos colestáticos de interrupção de
fluxo biliar - precedendo até mesmo o aumento da bilirrubina sérica.
Causas de aumento: colangites, lesões na vesícula bilear ou ducto cístico - nestes casos o fluxo bilear é interrompido, levando ao
extravasamento de enzimas nos canaliculos pela pressão ou pela inflamação.

A - FA (fosfatase alcalina): isoenzimas produzidas por tecidos diversos como enzima associada a membrana (presente no fígado,
ossos, intestino, rins, placenta, etc.).
Interpretação: os aumentos séricos são sempre relacionados às isoenzimas hepáticas ou ósseas - as demais possuem meia vida de
apenas 3 a 6 minutos.
Causas de aumento:
I - Indução por corticoesteróides (glicocorticoides): mais comum em cães, podendo ser endógeno (hiperadrenocorticismo na
síndrome de cushing) ou exógeno (nos tratamentos com corticoides).
II - Animal em crescimento: possuem atividade da enzima até 3x maiores do que nos adultos devido à atividade óssea.
III - Doenças ósseas: periostites, fraturas e neoplasias ósseas por exemplo.

A.1 - Isoenzima hepática (FA): localizada na membrana de hepatócitos e canalículos biliares.


Meia vida: 3 dias no cão e até 6 horas no gato.
Valores de referência:
Cão: 20 a 156 UI/L.
Gato: 25 a 93 UI/L.
Equino: 143 a 395 UI/L.
Bovino: 0 a 488 UI/L.
PS: em grandes animais o intervalo de referência é muito amplo, o que dificulta o diagnóstico.

B - GGT (glutamiltransferase):
Interpretação: indicadora de doença hepática ou obstrução dos ductos biliares e canalículos (enzima colestática).
PS1: em gatos é mais indicada que a FA (já que esta possui meia vida muito curta) // também indicada nos equinos e
ruminantes, onde a FA teria intervalo de referência muito amplo.
PS2: o colostro possui grandes quantidades de GGT - animais recém-nascidos podem estar com GGT aumentada sem lesão
hepática.

Isoenzimas: presentes nos rins, pâncreas e intestino (porem pouco significativas em quantidade) - é uma enzima de membrana
associada a numerosos tecidos, exceto nos ossos.
Causas de aumento sérico: maior liberação pelo tecido hepato-biliar - por superfície canalicular dos hepatócitos e epitélio dos
ductos biliares (colestase por exemplo).
PS1: também presente em células dos túbulos renais, porem nos casos de dano tecidual o aumento de GGT ocorre na urina (não
no soro).
PS2: animais consumindo colostro podem apresentar aumento da enzima.
PS3: em pancreatites o aumento não é significativo.
Valores de referência:
Cão: 1,2 a 6,4 UI/L.
Gato: 1,3 a 5,1 UI/L.
Equino: 4,3 a 13,4 UI/L.
Bovino: 6,1 a 17,4 UI/L.

(em resumo - avaliação de enzimas séricas)

4.2 - Exames Funcionais: pela medição dos níveis plasmáticos de substâncias que são metabolizadas ou excretadas pelo fígado.

4.2.1 - Substâncias metabolizadas:


A - Proteínas:
Funções das proteínas:
. Formam a base da estrutura celular;
. Mantém a pressão osmótica;
. Catalisam reações bioquímicas;
. Atuam como transporte e carreadores;
. Participam na defesa humoral.

Interpretação das Hipoproteinemias: pode ter como causas (algumas não de origem hepática):
I - Falha na ingestão de substratos (déficit na nutrição)
II - Falha na absorção de nutrientes (mal funcionamento no intestino)
III - Falha na síntese (doença hepática)
IV - Perda proteica (doença renal)

A.1 - Albumina: produzida no fígado, sendo a principal proteína presente no sangue (de 35 a 50%) - possui função de transporte e
manutenção de pressão osmótica.
PS: animal pode apresentar ascites e hidrotorax na deficiência de produção desta.

A.2 - Fibrinogênio:
Interpretação:
I - Presente em processos inflamatórios, traumáticos e neoplasias (proteina de fase aguda).
II - Tem aumentada em moderado dano hepático.
III - Na insuficiência hepática esta diminuída.
PS: em bovinos é um melhor indicador de doença inflamatória do que a neutrófilia (segunda é menos frequente).

B - Amônia/Ureia: produtos nitrogenados em excesso (da nutrição ou metabolismo de bactérias) são convertidos a amônia - por ser
toxica ela deve passar pelo ciclo da ureia no fígado, a fim de ser excretada na urina.

Alterações de metabolismo da amônia:


I - Aumento da amônia na insuficiência hepática.
II - Aumento da amônia na deficiência congênita enzima ciclo-uréia (raro).
III - Aumento da amônia em ruminantes devido a ingestão de grandes quantidades de ureia na dieta (gera intoxicação por
amônia).
IV - Aumento de amônia por desvios (“Shunt”) portossistêmico: amônia é absorvida do intestino para o sangue de forma direta,
sem passar pelo fígado.
Mecanismo da intoxicação pela amônia:
1ª - Amônia aumenta na circulação e chega ao SNS.
2ª - No cérebro a amônia sequestra um intermediário no ciclo de Krebs, formando o glutamato - como consequência a produção
de ATP fica diminuída, gerando consequente déficit energético do SNC.
3ª - Animal apresenta convulsões e perda de consciência (encefalopatia hepática).

Diagnostico:
I - Amônia presente na urinálise como cristais (biurato de amônio).
II - Quantidade aumentada de amônia no sangue.
III - Quantidade diminuída de ureia no sangue.

C - Fatores de coagulação: testado via testes de tempo de coagulação (já visto) - maioria é produzida no fígado.
D - Glicose.

4.2.2 - Substâncias excretadas:


A - Bilirrubinas: produto da metabolização de hemácias senis ou alteradas via macrófagos - liberam a Hb (AAs) e grupamento heme
(pigmentos e ferro), do qual os segundos são convertidos a biliverdina e bilirrubina (indireta).

Processo fisiológico de metabolismo de hemácias senis:


1ª - A hemoglobina é metabolizada até bilirrubina, liberada no sangue e transportada até o fígado.
PS1: este transporte ocorre ligado a albumina.
PS2: a bilirrubina nesta etapa é a do tipo não conjugada (também chamada de indireta ou lipossolúvel).
2ª - A bilirrubina no fígado e conjugada e direcionada a vesícula biliar para ser eliminada no ID (bile).
3ª - No ID ela sofre redução por bactérias formando urobilinogênio e estercobilinogênio.
(a) Estercobilinogênio é eliminado nas fezes (da coloração marrom a estas);
(b) Urobilinogênio é reabsorvido pelo fígado e direcionado a circulação para ser eliminado na urina.

PS: falhas em qualquer uma destas etapas do metabolismo da bilirrubina levam a icterícias (hiperbilirrubinemia).

Alterações clinicas (acumulo de bilirrubinas): a mensuração da bilirrubina total inclui tanto a bilirrubina conjugada quanto a não
conjugada.
I - Plasma ictérico: coloração alterada do plasma - ocorre quando a concentração bilirrubina ultrapassa 1mg/dL (com o normal
sendo de 0,1 a 0,5 mg/dL).
II - Icterícia nos tecidos: quando concentração bilirrubina ultrapassa 2 a 3 mg/dL.
III - Urina alaranjada e com cristais (urinálise): outra possível consequência dos aumentos séricos.

Tipos de icterícia:
A.1 - Icterícia pre-hepatica (hemolítica): ocorre por hemólise e hemocaterese (destruição de hemácias) muito aumentadas,
excedendo a capacidade do fígado de conjugar e eliminar bilirrubina.
Clínica: no sangue se encontra altas concentrações de bilirrubina não conjugada (também chamada de indireta ou
lipossolúvel) e bilirrubina conjugada (também chamada de direta ou hidrossolúvel) um pouco mais elevada do que o nível normal.
PS: ambas aumentadas!
Causas: hemólise e hemorragias internas - babesia, AIE, leptospirose e isoeritrolise neonatal como exemplos.

A.2 - Icterícia hepática (de retenção): fígado está insuficiente, e logo, não elimina ou conjuga a bilirrubina de forma eficiente.
Clínica: no sangue se encontra altas concentrações de bilirrubina indireta e baixos níveis de bilirrubina direta.
PS: aumento da indireta e diminuição da direta!

Causas:
I - Redução ou destruição hepatócitos: nas hepatites infecciosas caninas (adenovírus), toxinas (senecio e aflotoxinas), etc.
II - Distúrbios de absorção/conjugação.

PS - No jejum e inanição em equinos (anorexia) por mais de 24 horas: não é secundário a patologia hepática - degrada
gorduras que competem com o sitio de ligação das bilirrubina nos hepatocitos (ligatina), esta que evitaria o retorno de billirubina para
circulação (resulta em maior quantidade de indireta na circulação).

A.3 - Icterícia pôs-hepatica (de regurgitação ou colestática): por obstruções canalículos ou ductos biliares, impedindo o fluxo da
bile e resultando na liberação de bilirrubina no sangue e tecidos (que normalmente seria liberada na urina e fezes).
Clínica: no sangue se encontra concentrações normais de bilirrubina indireta e altos níveis de bilirrubina direta.
PS: aumento da direta e indireta normal!
PS2: fezes ficam com coloração acidentada (sem pigmentos liberados nesta).
Causas: colangenite e colestase, cálculos vesicais (mais comum em humanos), tumores...
B - Ácidos biliares:
Mecanismo:
1ª - Hepatocitos fazem a síntese/conjugação, reabsorção e excreção dos ácidos bileares a partir do colesterol.
2ª - Estes são liberados na vesícula biliar, e logo ao duodeno, onde realiza recirculação hepática (95% deste é reabsorvido).
3ª - Na insuficiência hepática ele não é reabsorvido - passa a ser reabsorvido no íleo e colón, sendo direcionado a circulação
periférica (como consequência fica aumentado nos níveis séricos).

PS: também pode ocorrer por desvios (Shunts) portossistêmico - semelhante a como ocorre na amônia.

C - Amônia:
D - Colesterol:
E - Pigmentos: bilirrubina pp.

(em resumo - testes clínicos hepáticos)

5 - Alterações nos exames e patologias:


Afecção hepatobiliar colestática:
I - Aumento da atividade enzimas FA e GGT.
II - Enzimas de vazamento ALT e AST aumentadas: retenção de bile pode levar a dano toxico aos hepatócitos (lesão hepatocelular), o
que leva ao extravasamento das enzimas.
III - Testes de função hepática diminuídos: aumento de substâncias normalmente excretadas na bile - bilirrubina, colesterol e ácidos
biliares.

Doença hepática crônica (cirrose): leva a diminuição do órgão (atrofia).


I - Em testes de enzimas de vazamento: normais ou diminuídas
II - Testes de função hepática diminuídos: albumina e uréia diminuídas.
PS: animal pode estar acompanhado também de sinais neurológicos devido ao acumulo de amônia.
III - Aumento das enzimas de colestase FA e GGT: na cirrose o tecido fibroso pode comprimir os canalículos biliares, danificando estes.
IV - No hemograma:
a - Leucocitose e neutrofilia (desvio à esquerda em alguns casos) nos processos inflamatórios de hepatite.
b - Anemia arregenerativa na doença hepática crônica: decorrente tanto de (1) não armazenamento e falta de eritropoietinogênio
quanto (2) pela anemia de doença crônica.
AULA 3 - PÂNCREAS ENDÓCRINO:

1 - Introdução e revisão:
Funções:
Digestiva (exócrina): células assinais secretam enzimas para o ducto pancreático - as quais são liberadas junto a bile (ducto comum).
Hormonal (endócrina): mantém o equilíbrio nutricional do organismo via insulina e glucagon.

Anatomia: associado ao estômago, fígado e duodeno - dividido em corpo (na dobra cranial duodeno), lobo esquerdo (aderido ao estômago)
e lobo direito (aderido ao duodeno descendente).

2 - Fisiologia - Pâncreas endócrino:


Função: manter o equilíbrio nutricional do organismo - o que é feito via insulina e glucagon.

Mecanismo de Ação: função endócrina é desempenhada pelas Ilhotas de Langerhans - composto por células alfa, beta e delta.

(a) Células alfa (20%): produzem glucagon - possui efeito hiperglicemiante (aumento de glicose no sangue).
(b) Células beta (70%): produzem insulina - efeito de diminuir a glicose no sangue (hipoglicemiantes).

(c) Células delta (5%): produzem somatostatina - possui (1) função parácrina de inibir a liberação dos outros hormônios e (2) função
endócrina de reduzir contrações dos músculos lisos do trato alimentar e da vesícula biliar.
(d) Células PP (1%): produzem gastrina - inibe a secreção exócrina do pâncreas (de enzimas digestivas).
(e) Células F (1%): produzem polipeptídeo pancreático - leva ao aumento de produção do ácido clorídrico pelas células parietais do
estômago.

2.1 - Insulina (células beta): agem abrindo canais de glicose GLUT (1, 2, 3 e 4) via a interação com seus receptores - como resultado leva
ao influxo de glicose do sangue para o meio intracelular de diversos tipos celulares (efeito hipoglicemiante, já que esta sai do sangue).
PS: tem liberação direta na circulação, atuando em tecidos em outros locais (ação endócrina).

Regulação: síntese e liberação são reguladas pela glicemia (aumento da concentração de glicose sanguínea) - no consumo de alimentos
a glicose aumenta (e logo a insulina também), levando a captação desta pelas células para a geração de energia e armazenamento.

Tipos de canais (GLUT): a insulina se liga as subunidades externas destes canais, presentes na membrana - ao ser ativado desencadeia
sinais no interior da célula para abertura dos transportadores de glicose.
GLUT 1: presente na barreira hematoencefálica e células sanguíneas.
GLUT 2: fígado e rins.
GLUT 3: neurônios.
GLUT 4: músculos e tecido adiposo.
Ação da insulina em tecidos: tem efeito hipoglicemiante por vias diversas.

Ação geral: leva a entrada da glicose nas células, sendo ainda que a insulina ativa diferentes usos da glicose no interior desta:
I - A glicose que entrou pode ser quebrada em piruvato (glicólise), que em seguida e transformada em acetilCoA - este pode ser
utilizado nas mitocôndrias para a síntese de ATP via ciclo de Krebs.
II - Caso não exista demanda de energia na célula a glicose é energia é armazenada (1) glicogênio produzido e armazenado no tecido
hepático e musculo (2) gorduras.

Ação no fígado:
I - Aumento da síntese de glicogênio a partir da glicose em excesso.
II - Aumento da síntese ácidos graxos a partir do acetilCoA liberado da glicólise.
III - Pode estimular indiretamente a síntese proteica.

Ação nos Músculos: leva ao aumento da síntese de glicogênio.

Ação no tecido adiposo: de forma geral inibe a liberação de lipídios para energia - inibe lipólise e aumenta o armazenamento de
triglicerídeos.

2.2 - Glucagon (células alfa): síntese e liberação são reguladas pela concentração de glicose sanguínea - na queda de glicose ocorre o
aumento de produção pelas células alfa e liberação de glucagon, que age por mobilizar reservas de energia para evitar a hipoglicemia (efeito
hiperglicemiante).
PS1: sua atuação ocorre em equilíbrio com a da insulina.

Produção: ocorre por mais de um tipo celular


a - Células pancreáticas (principal fonte).
b - Células da parede do estômago.
c - Células do duodeno.

Ação do glucagon em tecidos: contrários do da insulina.


Fígado:
I - Diminui a síntese do glicogênio.
II - Aumenta a glicogenólise e neoglicogênese.

Tecido adiposo: estimula a lipólise, gerando aumento dos ácidos graxos livres.

3 - Distúrbios do pâncreas endócrino: as principais sendo a diabetes melito e os insulinomas

3.1 - Diabetes melito: tem efeito de hiperglicemia devido a disfunção da insulina, que pode ocorrer por motivos diversos (não produção ou
efeito alterado).
Etiologias:
I - Insuficiente produção de insulina pelo pâncreas.
II - Insuficiência na liberação de insulina pelo pâncreas.
III - Excessiva degeneração da insulina circulante.
IV - Resistência aos efeitos da insulina nos tecidos alvos.

Classificação:
Tipo I (Diabete Melito dependente de Insulina): ocorre pela destruição de células beta no pâncreas e consequente queda na produção
de insulina.
PS1: animais afetados geralmente são jovens e magros.
PS2: tratamento nestes casos é feito pela aplicação de insulina.

Tipo II (Diabete Melito não dependente de Insulina): ocorre pela resistência à insulina nos tecidos alvos ou na produção de insulina
não funcional.
PS: animais afetados geralmente são idosos e obesos (possuem predisposição).

Efeitos do diabetes nos tecidos (geral):


Fígado: organismo consome reservas.
I - Diminui a síntese do glicogênio.
II - Gera aumento da glicogenólise e neoglicogênese (organismo entende a situação como falta de energia já que a glicose não entra
nas células).
Músculos: menor utilização de glicose.
Adipócitos: ocorre o estimula a lipólise - gerando aumento dos ácidos graxos livres.

Causas e predisposições:
I - Destruição imunomediada do pâncreas: vista em animais jovens.
II - Pancreatites: destruição do tecido exócrino pode afetar secundariamente a parte endócrina.
III - Obesidade: leva a resistência à insulina.
IV - Associação a outras endocrinopatias: hiperadrenocorticismo por exemplo - outros hormônios diabetogênicos sendo glucagon,
catecolaminas, cortisol, GH e progesterona (possuem efeito antagonista ao da insulina).
V - No uso de drogas diabetogênicas: glicocorticoides e progesterona por exemplo
VI - Por predisposição genética: em Poodles e Pinschers por exemplo.

Fisiopatologia - Poliúria e Polidipsia:


I - Devido a não produção ou resistência à insulina ocorre o aumento da glicose plasmática.

II - O aumento da pressão oncótica no sangue pela hiperglicemia leva ao influxo de líquidos e glicose para a urina (glicosúria com
diurese osmótica).
III - Volume da urina fica aumentado (poliúria) - além disto o animal tende a ingerir mais água para recuperar o liquido eliminado
(polidipsia compensatória).
PS: quando o animal não consegue beber água a situação de hiperglicemia tende a aumentar, já que (1) o sangue fica ainda mais
concentrado com glicose e (2) a situação de hipovolemia prejudica a filtração glomerular, e logo a glicose em passa a ser eliminada em
menor quantidade na urina.

Fisiopatologia - Perda de peso: ocorre devido à quebra de gordura nos tecidos adiposos (lipólise), já que a insulina quando funcional
inibe a inibe lipólise e aumenta o armazenamento de triglicerídeos - ocorre por que apesar de existir glicose no sangue o sistema interpreta
que energia deve ser mobilizada de todas as fontes possíveis (glicogênio e gordura).
PS1: mesmo um animal obeso perde peso no início da sintomatologia.
PS2: pode evoluir a caquexia pela degradação de massa muscular.

Fisiopatologia - Polifagia: glicose não é captada no hipotálamo e com isto o centro da saciedade não é inibido, gerando polifagia.

Fisiopatologia - Catarata:
1ª - Cristalino é permeável a glicose mesmo sem a necessidade de insulina - logo, está se acumula na área.
2ª - Glicose acumulada é degradada em outros açúcares, como frutose e sorbitol - estes açucares acumulados levam ao influxo
osmótico de água.
3ª - A intumescência e agregação de proteínas geram a opacidade do cristalino (catarata).

Fisiopatologia - Cetoacidose diabética:


1ª - Já que a glicose não entra nas células os lipídios no fígado e tecidos adiposos são quebrados para a produção de Acetil-coa para o
ciclo de Krebs (alternativa para produção de ATP) - os triglicerídeos são quebrados e ácidos graxos e estes são enviados ao fígado para
sofrerem beta oxidação, que tem como produto o acetilCoA para o ciclo.
2ª - Porem também devido à baixa quantidade intracelular de glicose a gliconeogênese é ativada, sendo que um dos seus precursores
necessários para o processo é o oxalacetato (um dos substratos necessários para o ciclo de Krebs).
3ª - Na baixa do oxalacetato (que foi utilizado na etapa anterior) o acetilCoA não pode ser utilizado para a síntese de ATP pelo ciclo
de Krebs - por este motivo ele é então convertido a corpos cetônicos para ser utilizado como energia em outros tecidos (músculos, rins e
cérebro por exemplo).

4ª - Quando em excesso estes corpos cetônicos podem levam a acidose, e em casos mais graves ao coma acidótico.
PS: parte é eliminada na urina e leite - útil para o diagnostico clinico de quadros de acetose, especialmente em gestantes.

PS: além da diabetes a cetoacidose pode também ocorrer em jejum prolongado e na síndrome da cetose bovina.

Diagnóstico (Diabetes): ocorre através de


(a) Sinais Clínicos: pela presença de poliúria, polidipsia, perda de peso, polifagia, etc.

(b) Dosagem de Glicemia: animal apresenta hiperglicemia de jejum:


Método de teste:
1ª - Após jejum de 12 horas o sangue é coletado e adicionado a fluoreto - um anticoagulante que impede captação de glicose in
vitro.
2ª - Plasma é testado quanto a quantidade de glicose, que são comparados aos valores de referência.

(c) Urinálise: na qual o animal apresenta


I - Glicosúria.
II - Cetonúria.
III - Proteinúria.
IV - Bacteriúria (glicose serve como substrato para bactérias na urina).
V - Presença de hemácias e leucócitos.

(d) Painel Bioquímico:


I - Ocorrência de hiperglicemia (principal teste).
II - ALT e FA aumentada (pode ocorrer se a situação for acompanhada de pancreatite/hepatite).
V - Lipase e Amilase aumentadas (pode ocorrer se a situação for acompanhada de pancreatite).
IV - Uréia e Creatinina normais ou aumentada: segunda pode ocorrer por uma insuficiência renal primária ou por azotemia pré-
renal.
PS1: a ocorrência de insuficiência renal por diabetes é mais comum em humanos.
PS2: azotemia pré-renal pode ocorrer pela situação de hipovolemia secundaria a diabetes - substancias nitrogenadas passam a
ser eliminadas em menor quantidade devido a hipovolemia.

(e) Hemograma: geralmente normal, porem pode ocorrer leve policitemia relativa (pela desidratação) e leucocitose com neutrofilia e
neutrófilos tóxicos ou degenerativos/desvio à esquerda.
3.2 - Insulinoma: tumor funcional (secretante) das células β pancreáticas - leva ao hiperinsulinismo e hipoglicemias.
PS: ocorrência é rara, porém mais comuns em cães de meia-idade ou idoso (ainda mais raro em gatos).

Sinais clínicos: relacionados a neuroglicopênia (falta de glicose no SNC) - letargia, astenia (fraqueza), ataxia, síncope, convulsões e
coma.

Diagnóstico: feito a partir de


A - Sinais clínicos de hipoglicemia.
B - Aumento de insulina sérica: acima de 20μU/ml - exame feito em laboratórios especializados.
C - Ultrassonografia: gera identificação de massa pancreática.

(exemplo de condição clínica de um animal com diabetes)


AULA 4 - PÂNCREAS EXÓCRINO:

1 - Introdução e revisão:
Função digestiva (exócrina): células acinares secretam enzimas para o ducto pancreático - estas são liberadas junto a bile no duodeno via
ducto comum, atuando então na digestão do conteúdo alimentar no intestino.
PS1: são sintetizadas no pâncreas na forma de zimogênios inativos - protege o órgão da autodigestão pelas enzimas proteolíticas, que
são ativadas apenas quando no intestino.
PS2: também libera bicarbonato para o tamponamento do intestino (neutraliza ácido clorídrico na digesta estomacal) - importante já
que o PH ácido da digesta não é apropriado para a ativação e ação das enzimas pancreáticas.

Anatomia:

Funções:
I - Secreção de Enzimas Digestivas:
(a) Amilase: secretada na forma ativa - realiza hidrólise de amido, glicogênio e outros carboidratos até trissacarídeos ou
dissacarídeos.
(b) Lípase pancreática: secretada na forma ativa, a qual realiza hidrólise de gorduras a ácidos graxos e monoglicerídeos - sua
atividade é exacerbada pelos sais biliares.
(c) Zimogênios inativos: como mecanismo de proteção contra a autodigestão as enzimas proteolíticas são sintetizadas, armazenadas
e secretadas como zimogênios inativos - o tripsinogênio é ativado pela enteroquinase no duodeno e segue se auto ativando / ativando outros
zimogênios em uma cascata enzimática.

PS1: enteroquinase é produzida pelos enterócitos do intestino.


PS2: proteínas são quebradas até peptídeos pelas enzimas ativas - outras enzimas (carboxipeptidases) seguem quebrando estes
peptídeos até aminoácidos, que podem então ser absorvidos.
II - Secreção de solução de bicarbonato de sódio: fluído seroso alcalino rico em bicarbonato, o qual neutraliza e tampona o quimo ácido
que chega ao duodeno.

(mecanismo de formação do bicarbonato pelas células acinares do pâncreas)

Regulação da secreção pancreática: ocorre por estímulos cefálicos, gástricos e intestinais.


I - Distensão do duodeno estimula o nervo vago (via Ach) a ativar a secreção de enzimas pelo pâncreas.
II - Secretina e CCK no intestino chegam ao pâncreas via circulação porta e estimulam a secreção de bicarbonato e enzimas
sucessivamente.

2 - Afecções do pâncreas exócrino: as principais sendo pancreatites, insuficiência pancreática e neoplasias.

2.1 - Pancreatite: quanto ao mecanismo pode ser classificada em pancreatite aguda (de surgimento súbito) ou crônica (em afecção
inflamatória contínua, levando a alterações morfológicas irreversíveis).
PS: no caso da crônica pode evoluir a insuficiência pancreática.

Fisiopatologia: envolve a ativação enzimas dos zimogênios, levando a autodigestão pancreática.


1ª - Por deficiência processos secretórios (de motivos diversos) os zimogênios não são liberados.
2ª - Ocorre a fusão de lisossomos com os grânulos de zimogênio, formando proteases lisossômicas que ativam as enzimas
pancreáticas.

3ª - Os zimogênios ativados ganham a circulação, tendo efeitos diversos.


Tripsina: gera coagulação e fibrinólise (CID).
Quimiotripsina: leva a produção de radicais livres - estes geram lesão de membrana das células pancreáticas.
Elastase: leva a lesão de parede de vasos.
Lipase: gera hidrólise lipídeos (de membrana por exemplo).
Fosfolipase A2: hidrólise de fosfolipídeos de membrana em células diversas.

4ª - Digestão pancreática também ocorre pelas próprias enzimas ativadas, gerando processo inflamatório secundário.

Etiologias:
. Nutrição: dietas ricas em gorduras e pobres em proteínas - obesidade.
. Medicamentos tóxicos ao pâncreas: sulfonamidas e tetraciclinas por exemplo.
. Obstrução dos ductos pancreáticos: doença do trato biliar com obstrução por tumor ou cálculos vesicais.
. Neoplasias pancreáticas.
. Traumatismo pancreático.
. Toxinas (a do escorpião por exemplo).

Diagnostico:
(a) Sinais clínicos: de dor abdominal, vômito, apatia, anorexia, diarreia e febre.
(b) Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda é característico - pode ocorrer ainda policitemia (hemoconcentração) pela
desidratação devido à má absorção.

(c.1) Painel Bioquímico - Amilase: ocorre aumento (de 3 a 4x) após 12 horas do início do processo.
PS1: possui isoenzimas produzidas em intestinos, rins, útero, ovários e testículos - motivo pelo qual o diagnostico só pode ser feito
em aumentos significativos, de preferencia junto ao aumento no teste de lipase.
PS2: certa quantidade de enzimas pancreáticas na cavidade abdominal e sangue é considerado normal, porem nas pancreatites e
injurias estas ficam consideravelmente aumentadas.

(c.2) Lipase: na hepatite ocorre aumento de 2x - permanece aumentada por mais tempo que a amilase.
PS1: possui isoenzimas em tecido renal e hepático - avaliar o conjunto de aumento de amilase e lípase para o diagnóstico correto.
PS2: pode ser medida pelo liquido peritoneal também - possui aumento maior na patologia.

Valores de referência:
Cães: 13-200 UI/L.
Gatos: 0-83 UI/L.

(c.3) Indicadores de danos ao fígado e vesícula biliar: importante pois tais órgãos podem estar lesados em uma situação de
pancreatite - ascendência das enzimas do pâncreas pode gerar hepatite.
I - ALT e FA aumentadas.
II - Hiper bilirrubinemia (seja por obstrução biliar ou por dano hepático).

(c.4) Hiperglicemia: presente caso já tenha ocorrido dano nas células beta pancreáticas.

(d) Urinálise - Azotemia: aumento de substancias nitrogenadas na circulação - pode ocorrer devido a hipovolemia ou pela liberação
de agentes vasotóxicos na pancreatite ou pela formação de microtrombos (CID).
PS1: pode evoluir a IRA.
PS2: lembrando que o próprio vazamento de tripsina pode levar a CID.

(e) Imunorreatividade Semelhante à Tripsina Sérica (IST): teste imunológico (menos usado).

2.2 - Insuficiência pancreática: ocorre pela perda severa de tecido acinar (85 a 90%) - levando a secreção insuficiente de enzimas
digestivas.
PS1: macroscopicamente se apresenta como alteração de atrofia do tecido endócrino.

Sinais clínicos: relacionados com a perda de capacidade secretora (sinais clínicos de má digestão e má absorção) - perda de peso,
polifagia/coprofagia, diarréia crônica, esteatorréia (pela falta de lipases), borborismos intestinais e flatulências, desconforto abdominal e
poliúria/polidipsia.
PS: poliúria e polidipsia quando presentes ocorrem pela afecção de diabetes concomitante - ocorre já que a perda do tecido
pancreático pode interferir na síntese de insulina.

Etiologia:
I - Atrofia Acinar Pancreática: causa mais comum no cão.
II - Obstrução ducto pancreático: ocorre em pancreatites e inflamação crônica do pâncreas.
III - Isquemias.
IV - Causas imunomediadas.
V - Pancreatite crônica: destruição progressiva do tecido pancreático.
VI - Causas hereditárias e congênitas.

Alterações Clinicopatológicas:
(a) Painel Bioquímico:
I - Amilase e Lipase aumentadas, normais ou reduzidas.
II - ALT aumentada (nas insuficiências de etiologia inflamatória do fígado).
III - Glicose pode estar aumentada (caso células endócrinas tenham sido afetadas).
PS: não gera diagnostico definitivo - geralmente feito junto ao exame de fezes.

(b) Hemograma: geralmente normal.

(c.1) Exame de fezes - Macroscópico: fezes volumosas, pálidas, odor fétido, com brilho (pela gordura), presença alimentos mal
digeridos.

(c.1) Exame de fezes - Microscópico:


I - Pesquisa de presença de gordura (com corante Sudan III).
II - Pesquisa de presença de fibras musculares - em carnívoros não é digerida.
III - Pesquisa de presença de amido (com corante Lugol).
(d) Provas de Função Pancreática: de forma geral constatam a presença ou ausência da tripsina - ausência indica insuficiência.

D.1 - Prova do filme de Raio X: testa a atividade da tripsina fecal


1ª - Preparar 3 tubos
` Tubo 1 (controle +): composto por 9 partes de bicarbonato 5% e 1 parte de fezes sabidamente normais
Tubo 2 (controle -): apenas bicarbonato 5%.
Tubo 3 (teste): composto por 9 partes de bicarbonato 5% e 1 parte de fezes animal teste

2ª - Incubar amostras junto ao filme (1h a 37ª C ou 2,5h a temperatura ambiente) - após o prazo verificar digestão do filme: caso
o tubo de teste esteja similar ao tubo 2 significa que a atividade enzimática é inexististe (ou seja, o animal apresenta insuficiência
pancreática).

D.2 - Prova da gelatina: também testa a atividade da tripsina fecal:


1ª - Preparar 2 partes de pó de gelatina com uma parte de fezes do animal em teste junto a bicarbonato.
2ª - Incubar por 1hr a 37graus e depois levar a geladeira.
3ª - Comparar com controles positivos e negativos - caso a tripsina esteja presente a gelatina não solidifica, já que esta realiza a
digestão do colágeno da gelatina.

D.3 - Teste de absorção de gordura: avalia função de lipólise e absorção de lipídios - utilizado ainda para a diferenciação entre
insuficiência pancreática e síndrome da má absorção

0ª - Em jejum de 12 a 24 horas (pré-prandial) o plasma fica naturalmente límpido (sem presença de lipídios).

1ª - Administrar 3 ml por kg de óleo de milho no animal sobre teste por via oral - esperar até 1 e 2 horas:
a - Se o plasma estiver turvo: a digestão e absorção estão normais (fica turvo já que o lipídio foi absorvido).
b - Se o plasma estiver límpido: o lipídio não foi absorvido - seja por síndrome de má absorção ou pela insuficiência
pancreática (com a etapa seguinte é possível diferenciar).

2ª - Repetir a prova com administração do óleo (etapa 1), porem desta vez também em conjunto com a administração de
pancreatina (kit especifico vem com composto pancreático com lipase) - esperar após 1 e 2 horas:
a - Se o plasma estiver turvo: a deficiência anterior estava relacionada a deficiência de lípase (insuficiência pancreática) já
que desta vez ao ser administrado junto com a enzima o lipídio foi digerido (e logo absorvido).
b - Se o plasma estiver límpido é indicativo de síndrome má absorção intestinal.

(em resumo - diferenças entre pancreatite e IP)

2.3 - Neoplasias Pancreáticas - Adenocarcinoma: tumor maligno no pâncreas, o qual pode ter origem em células acinares ou ductais - são
raros, porém mais comuns em animais idosos.
Sinais clínicos: são inespecíficos - perda de peso, anorexia, depressão, vômito...
PS1: pode ser acompanhada de diabete melito e insuficiência pancreática - caso a neoplasia gere destruição de células pancreáticas
exócrinas e endócrinas.
PS2: as metástases geralmente ocorrem para a parede duodenal, fígado, linfonódos locais e pulmões - células neoplásicas do tumor
pancreático tem rápido transporte pelos linfonodos.

Testes laboratoriais: alterações são não especificas


I - Amilase e Lipase aumentadas.
II - Fosfatase alcalina e bilirrubina aumentadas: ocorre devido a hepatopatia obstrutiva (colestase pela obstrução do tumor).
III - ALT aumentada (menos significativo).
AULA 1 - Urinálise:

1 - Coleta de material: uma boa colheita é um dos fatores principais para uma correta interpretação do exame de urina, podendo esta ser
feita por 3 métodos - micção natural, cateterização e cistocentese.
PS1: independentemente do método de coleta a urina deve ser colhida preferencialmente pela manhã - esta urina é mais eficiente para se
avaliar a capacidade de concentração tubular além de ser mais provável de conter elementos de significado diagnóstico (a ingestão de
líquidos durante o dia pode diluir alguns destes).

PS2: para todos os métodos se recomenda o uso de material limpo se possível estéril, colhendo-se em torno de 10 ml de urina.
PS3: nos casos de amostras enviadas para exames com cultura o recipiente deve sempre ser estéril.

1.1 - Métodos:
(A) Micção espontânea/natural: método mais prático e que pode ser feito pelo próprio proprietário, porem pode apresentar maior
número de contaminantes.
PS: é o método mais utilizado em grandes animais, principalmente devido a dificuldade de cateterização.

Procedimento:
1ª - Lavar bem a genitália externa (vulva e prepúcio) - isto diminui a contaminação da amostra pelo conteúdo uretral.

2ª - A micção propriamente dita pode ser estimulada de formas diversas de acordo com a espécie em questão.
(a) Cuidadosa compressão na região da bexiga: efetiva na maioria dos animais - no caso de felinos realizar de preferência em
animais sedados, o que deve ser realizado com muito cuidado para evitar rompimento da bexiga.

(b) Passeio com o animal: um bom estimulo em pequenos animais.


(c) Massagem prepucial e vaginal: método utilizado para grandes animais em geral.
(c) Aproximando uma égua em cio // levando a uma cocheira com cama: efetivo em equinos.
(d) Palpação retal da bexiga: possível em bovinos.
(f) Impedindo a respiração por cerca de 15 segundos: efetivo em ovinos e caprinos.

PS1: sempre desprezar os primeiros jatos da urina na coleta por micção natural, pois este pode possuir sujidades do trato
urinário que interferem nos exames (podem tornar a amostra não representativa) - este jato pode conter detritos celulares, bactérias,
leucócitos e exsudato provenientes da uretra, prepúcio e trato genital.
PS2: em animais despertos raramente se obtém sucesso na coleta por compressão manual da bexiga - além disso, este
procedimento pode induzir um refluxo vésicouretral que pode levar a ocorrência de pielonefrite ascendente caso a urina esteja contaminada

3ª - Armazenar a urina em recipiente adequado - amostras obtidas por micção natural devem ser coletadas em um frasco limpo,
tomando cuidado para se ter o mínimo contato possível da urina com o corpo do animal.
PS: uso de frascos providenciados pelos proprietários deve ser desencorajado - podem conter traços de detergentes, alvejante,
fármacos, cosméticos ou outros componentes que podem afetar os resultados dos testes.

(B) Cateterização: método de eleição de obtenção de urina para cultura bacteriana, sendo que pode ainda ser realizada em pacientes
acordados - indicado quando há necessidade rápida de colheita
PS1: animais agitados podem ser sedados para a realização do processo - isto diminui o risco de irritação do tecido do TGU.
PS2: em algumas situações pode ter efeito terapêutico - caso a sonda desobstruir o trato urinário em urolitíases (cálculos urinários)
por exemplo.
PS3: nas fêmeas (qualquer espécie) o processo é mais fácil pois a uretra é consideravelmente mais larga.

(posicionamento da uretra em relação a entrada da vagina em uma fêmea canina)

PS4: neste tipo de coleta espera-se encontrar na urinálise proteinúria, hematúria e presença de número moderado de células devido à
natureza do procedimento (alterações são iatrogênicas).
Procedimento:
1ª - Fazer higiene da região do meato urinário.
2ª - Escolher catéter específico de acordo com a espécie, sexo e tamanho do animal.
3ª - Utilizar lubrificante estéril na extremidade do cateter (estéril) - introduzir este na uretra avançando até a bexiga
PS1: a introdução do catéter deve ser cuidadosa, a fim de evitar lesão na mucosa uretral.
PS2: cuidado para evitar contaminação da amostra pelo uso em excesso do lubrificante - pode interferir na urinálise.
PS3: prestar atenção à facilidade em que a sonda é introduzida - pode fornecer informações úteis a respeito de animais com
disúria.

Sondas e espécies: existem catéteres urinários específicos para cada espécie, sexo e tamanho do animal.
Geral: existem sondas de número 4 a 10 flexíveis para machos e sondas metálicas para fêmeas - no caso dos machos procurar usar
sonda de calibre menor para evitar irritação.

Equinos (macho): pode se utilizar a sonda nasogástrica humana.


Equinos (fêmeas): pode-se usar a mesma sonda nasogástrica ou sonda rígida metálica.
Felino (macho): possuem sondas uretrais próprias de material flexível (tomcat) - porém nunca são atraumáticas, sendo que a
espécie deve sempre estar sedada e bem contida nestes tipos de procedimento.

Cuidados específicos (espécie dependentes):


Cuidado - Cão macho: tomar cuidado com 3 pontos ao inserir a sonda - (1) osso peniano na entrada da uretra, (2) curvatura do
arco isquiático e (3) afunilamento na entrada da bexiga urinaria.

Cuidado - Ruminante e Suíno macho: lembrar que o animal apresenta a flexura sigmoide que deve ser contornada durante a
inserção.

Cuidado - Bodes e Carneiros (macho): nestas espécies a uretra tem parte externa - processo uretral, também chamado de apêndice
vermiforme.
Cuidado - Bovino (fêmea): possuem divertículo suburetral - a sonda pode entrar nesta região ao invés da bexiga, caso ocorra
retroceder com a sonda alguns centímetros e tentar novamente.

(C) Cistocentese: é o melhor de escolha para a colheita de urina em cães e gatos, avaliando a amostra sem interferência de fatores
externos pois a urina é colhida diretamente do conteúdo vesical - tem baixo custo e alta confiabilidade no resultado do exame.
PS1: é o método mais indicado para a colheita de amostras para urocultura (testes de cultura e antibiograma), já que a chance de
contaminação é mínima (nestes casos fazer o armazenamento em tubo estéril também).
PS2: a bexiga cheia facilita a localização e colheita do material, porem deve ser esvaziada se estiver repleta para evitar possíveis
extravasamentos de líquidos para a cavidade abdominal.
PS3: tanto na cistocentese quanto na cateterização pode ocorrer hematúria iatrogênica.

Procedimento: punção direta da bexiga feito com seringas e agulhas normais - como desvantagens necessita de certa prática e só é
praticável quando a bexiga estiver com volume de urina suficiente, permitindo a punção sem riscos de injúrias aos órgãos abdominais.
1ª - O paciente é posicionado em decúbito dorsal - a palpação da bexiga é feita com uma das mãos auxilia na imobilização durante
a coleta.
PS1: a bexiga só é possível de ser puncionada quando cheia (facilita a localização e punção correta do local).
PS2: para facilitar a identificação do órgão (além de aumentar a segurança do procedimento) pode-se fazer a punção com
auxílio da ultrassonografia.

2ª - Realizar tricotomia e antissepsia da região da punção

3ª - A agulha deve ser posicionada em ângulo caudal, para que quando a bexiga esvazie a agulha permaneça no lúmen vesical.
PS1: no caso de punção inadvertida do cólon pode ocasionar contaminação bacteriana da amostra de urina - nestes casos uma
população mista de bactérias pode ser observada na cultura.
PS2: procedimento é realizado com uma seringa estéril de 10 ou 20 mL e agulha hipodérmica 25x7 ou 30x8.

4ª - Armazenar a urina em frascos limpos de boca larga (plástico ou vidro) e com tampa - para testes de cultura e antibiograma
devem ser utilizados recipientes estéreis.

Complicações: a hematúria iatrogênica pode ocorrer se a agulha entrar em contato com a parede oposta da bexiga - outras
complicações incluem punção do cólon, laceração da bexiga e laceração dos vasos sanguíneos dorsais da bexiga.

1.2 - Colheita de urina por 24 horas: nos casos em que a coleta deve ser constante pode se usar caixas de colheita (para os pequenos
animais) e bolsas amarradas no corpo (para grandes animais).
PS: em geral os cães produzem de 12 a 24 ml de urina por Kg a cada 24 horas --- os gatos produzem de 8 a 9 ml de urina por Kg.

1.3 - Conservação da Amostra: independente da forma de colheita:


1ª - A urina deve ser colhida em recipiente limpo de vidro ou plástico.
PS1: deve ser obrigatoriamente estéril se a amostra for submetida a isolamento bacteriano e antibiograma.
PS2: frascos escuros são preferíveis caso a amostra de urina não for analisada imediatamente após a colheita - já que a luz ambiental
pode ocasionar a degradação de certos constituintes da urina em menos de uma hora (bilirrubina e urobilinogênio por exemplo).

2ª - A urina deve ser preferencialmente analisada rapidamente após a coleta, de preferência em até 30 minutos após a obtenção - caso
isto não for possível deve ser imediatamente refrigerada (1 a 4°C) e armazenada por no máximo 12 horas.
PS1: temperaturas inferiores à de refrigeração podem elevar a densidade específica da amostra e podem degradar os constituintes
celulares.
PS2: frasco contendo a urina deve ser identificado, e enviado junto com a requisição devidamente preenchida.

3ª - Porem as urinas refrigeradas devem ser levadas à temperatura ambiente e completamente homogeneizadas antes da análise -
importante já que:
(a) Os aparelhos são calibrados para esta temperatura.
(b) A fita reagente com a baixa temperatura demora a responder a coloração.
(c) Apesar da refrigeração evite a proliferação bacteriana ela pode também causar aumento na densidade e a precipitação de cristais
amorfos.

Conservação química da Amostra: a melhor forma de conservação é a baixa temperatura, porem caso não for possível a realização
imediata da urinálise ou quando não houver condição de acondicioná-la adequadamente, pode-se utilizar substâncias conservantes de ação
antibacteriana (tolueno, timol e formalina por exemplo).
(a) Tolueno: usado em quantidade suficiente para cobrir a amostra.
(b) Formalina a 40%: quantidade de uma gota para cada 30 ml de urina.
PS: ao usar conservantes químicos podem ocorrer alterações na química urinária (torna inviáveis as provas químicas da urina).
Alterações de amostra - Refrigeramento inadequado: quando mantida a temperatura ambiente por tempo prolongado podem ser
verificadas alterações químicas e físicas em um breve espaço de tempo quando a amostra for deixada à temperatura ambiente - nestes casos
as bactérias, quando presentes, proliferam rapidamente e se forem redutoras de uréia irão alcalinizar a amostra (transformação da uréia em
amônia).
I - Alcalinização da amostra provocar resultados falsos positivo na observação dos elementos anormais de diversas formas - urina
alcalina tende a dissolver os cilindros e ocasionar a cristalização dos solutos alterando o aspecto macro e microscópico da urina.
II - Glicose na urina pode estar alterada pela utilização pelas bactérias.
III - Pode levar a presença de leucócitos e hemácias na urina.

PS: em temperatura ambiente a degeneração já passa ocorrer a partir de 2 horas - essas alterações são mais pronunciadas em tempos
longos de armazenamento e em altas temperaturas.

2 - Urinálise: está dividida em três partes - exame físico, exame químico e avaliação do sedimento urinário.

Função: o exame de urina é o processo mais importante na avaliação da função renal - o exame completo de urina consiste da avaliação
física, propriedades químicas e sedimento.

Conceitos Fundamentais:
Poliúria: volume aumentado da urina.
Polidipsia: ingestão aumentada de líquidos.
Glicosúria: aumento da glicose na urina.

Polaquiúria: micções frequentes com pouco volume de urina


Estrangúria: dificuldade de micção - geralmente por cálculo urinário.
Oligúria: produção diminuída de urina.
Anúria: não produz urina (secretora) ou não consegue urinar (excretora).
Disúria: dor ao urinar.

Azotemia: presença de composto nitrogenados no sangue, porém ainda sem sinais clínicos.
Uremia: compostos nitrogenados no sangue com sinais clínicos.

Sinais clínicos urinários:


(a) Dor localizada.
(b) Dificuldade de urinar (disúria).
(c) Irregularidades na frequência de micções e/ou quantidade de urina eliminada: na forma de poliúria, oligúria, polaciúria e
estrangúria - pode estar associado a aumento da ingestão de água (polidipsia).

Indicações para o exame de urina


(a) Animais com presença de sinais clínicos de doença renal ou urinária;
(b) Para acompanhamento de doença sistêmica;
(c) Como complemento no diagnóstico;
(d) Para exame de triagem pré-cirúrgicos.
(e) Para o acompanhamento de quadro clínico (prognóstico)

Informações complementares ao exame de urina: importante de serem levada em conta para o diagnóstico correto a partir do exame
. Animal apresenta sinais clínicos relacionados ao sistema? polidipsia, poliúria, oligúria, etc.
. Exame foi feito sobre jejum? interfere nos níveis de glicose por exemplo.
. Animal se encontra sobre tratamento por algum medicamento? alguns desses interferem na atividade renal ou são nefrotóxicos.
. Qual foi o método de colheita? micção normal, cateterização ou cistocentese.

2.1 - Exame Físico (4): composto pela avaliação do volume; densidade; odor e coloração.
2.1.1 - Volume: é a quantidade de urina que chega ao laboratório, sendo o volume mínimo para exames de 5 ml (ideal 10 ml) - teste é
indicado para a verificação da existência de poliúria, oligúria ou anúria.

Normal: o valor fisiológico varia de acordo com vários fatores:


I - Espécie, tamanho e peso do animal.
II - Ingestão de líquidos e dieta.
III - Perda fluído gastrointestinal
IV - Atividade física
V - Fatores ambientais (temperatura e umidade relativa do ar).
Método de análise: o volume representa a quantidade de urina formada em 24 horas, porem como na pratica a obtenção deste
parâmetro é muito difícil ele usualmente é calculado a partir da densidade urinaria (já que em condições de saúde, o volume urinário é
inversamente proporcional à densidade) - ou seja:
I - O aumento da quantidade de urina excretada (poliúria) está associado à densidade específica baixa;
II - A diminuição da quantidade de urina excretada (oligúria) está associado à densidade específica elevada.

Alterações de Volume:
(a) Poliúria: se caracteriza pela formação e eliminação excessiva de urina - é dividida ainda em poliúria fisiológica, farmacológica
e patológica.
A.1 - Poliúria Fisiológica (transitória): ocorre como resposta compensatória a ingestão de água.

A.2 - Poliúria Farmacológica: ocorrem pela interação com substancias exógenas, geralmente sendo estas para terapia - como
possíveis causas se tem:
I - Aumento da ingestão de um determinado sal (cloreto de sódio por exemplo).

II - Pelo uso de agentes diuréticos (furosemida por exemplo).


III - Pelo uso de glicocorticóides.
IV - Pela administração parenteral de fluidos (fluidoterapia).

A.3 - Poliúria Patológica - Diurese Aquosa: é caracterizada por uma densidade específica de 1001 a 1006 - tem como causas:
I - Diabetes insípidos central e nefrogênica.
II - Polidipsia psicogênica.

A.3 - Poliúria Patológica - Diurese de Solutos: tem densidade específica maior que aquela do filtrado glomerular - ocorre por
I - Diabetes mellitus.
II - Incapacidade de absorção de alguns sais (uréia, P, Na, K).
III - Hiperadrenocorticismo.
IV - Na piometra.

(b) Oligúria: diminuição da formação ou eliminação de urina.


B.1 - Oligúria Patológica: ocorre na:
I - Insuficiência Renal Aguda (IRA)
II - Doença do Trato Urinário Inferior: obstrução ureteral, uretral, neoplasias.

(c) Anúria: ausência total de urina - dividida em:


C.1 - Não formação de Urina: ocorre nos casos de destruição total do parênquima renal
C.2 - Não eliminação de Urina: ocorre nas obstruções totais do trato urinário inferior (por cálculos e neoplasias).

2.1.2 - Densidade: como dito anteriormente é inversamente proporcional ao volume urinário, sendo ainda utilizada para estipular o
volume urinário produzido pelo animal.

Metodologia: parâmetro estimado através do índice de refratometria, o qual indica a relação entre a quantidade de solutos em um
liquido e seu índice de refração - este parâmetro é refletivo da quantidade de solutos na urina (e logo a capacidade do rim concentrar urina).
PS1: o volume mínimo para a realização adequada do exame é de 10mL.
PS2: tiras reagentes para a determinação da densidade urinária não foram adequadamente validadas para o uso em medicina
veterinária, o que torna a refratometria o procedimento ideal.
PS3: a densidade deve ser analisada juntamente com os parâmetros das tiras de análise quanto a presença de solutos (glicose e
proteínas por exemplo) - já que quando há um aumento marcante destes a densidade da urina pode estar aumentada, o que pode conduzir a
uma interpretação errônea de que o paciente possui capacidade de concentração
PS4: variável deve ser interpretada associando-se o grau de hidratação, ingestão hídrica, dieta, peso, exercício, idade, condições
climáticas e metabolismo do paciente.
PS5: parâmetro não é afetado pela presença/quantidade de sedimentos na amostra de urina.

PS3: escala na esquerda (a maior) é especifica para a leitura de proteínas plasmáticas - usar a da direita para a urinálise (a menor).

Fisiológico: como dito em relação ao volume, pode variar bastante de acordo com características do animal e do ambiente, porem
sendo consideradas de maneira geral as densidades adequadas para animais saudáveis:

Alterações de Densidade em relação ao Volume:


(a) Densidade Urinaria Elevada: ocorre em urinas concentradas ou hipertônicas, estando estas associadas a condições que
determinem oligúria (baixa produção de urina) - como exemplos de possíveis causas se tem

A.1 - Fase oligúria da IRA: no início da insuficiência a densidade varia entre 1030 e 1060, já que o rim passa a ter dificuldade em
diluir a urina.
PS: com o desenvolvimento da insuficiência ocorre o contrário - animal apresenta poliúria com dificuldade em concentrar a
urina.

A.2 - Diabetes Mellitus: apesar do animal apresentar poliúria esta é do tipo osmótica - a urina apesar de ser produzida em maior
quantidade ainda é bastante concentrada d0evido a filtração de glicose.
A.3 - Nas desidratações: levam a menor produção de urina pela perda de líquidos - em vômitos, diarreias e sudorese por exemplo
A.4 - Febre: organismo passa a reter a água para o equilíbrio da temperatura.
A.5 - Edema: menor produção de urina secundário a retenção de líquidos no organismo.
A.6 - Choque: gera hipotensão - logo menor aporte de sangue fica disponível para ser filtrado pelos glomérulos.

(b) Densidade Urinaria Diminuída: ocorre em situações com poliúria por etiologias diversas:
PS: uma exceção à regra é o caso da diabetes mellitus - situação onde apesar do animal apresentar poliúria a densidade da urina
ainda é alta devido a glicose, e logo esta é caracterizada como aumento de densidade.

B.1 - IRA: com o decorrer da doença a insuficiência reflete em incapacidade dos rins do animal em concentrar a urina - esta é
determinada quando o valor de densidade é menor que 1030 (no cão) ou 1034 (no gato).
B.2 - IRC: perda de mais de 75% dos néfrons de forma definitiva.

B.3 - Diabetes Insípido: quanto a origem pode ser dividida em


Central: quando a Hipófise perda a capacidade de formar ADH
Nefrogênica: quando as células tubulares se tornam impermeáveis a ação do ADH

B.4 - Piometra: toxinas liberadas na infecção geram efeito de refratariedade a ação do ADH nos rins.
B.5 - Terapias medicamentosas ou de apoio: no uso de corticosteróides, diuréticos, fluidoterapia e nutrição parenteral.
Outras alterações de Densidade:
(a) Hipostenúria: definida como uma densidade menor que 1,008 e indica que a osmolaridade da urina é menor que a do plasma -
indica capacidade de diluição do filtrado glomerular, o que sugere que não há falência renal (já que animais com esta afecção não possuem
capacidade para diluir a urina a uma densidade menor que 1,008).
PS: a presença da hipostenúria indica condições que determinem poliúria ou a ocorrência polidipsia (difícil de serem
distinguidas).

(b) Isostenúria: definida por uma densidade entre 1,008 a 1,012 e indica que a osmolaridade urinária é igual à plasmática (indica
que os rins não alteraram a concentração do filtrado glomerular) - pode ser sugestivo de falha renal primária, porém pacientes com outras
causas de poliúria/polidipsia também podem apresentar densidade urinária dentro destes valores.
PS1: na doença renal ocorre quando há lesões que afetam mais de 66% do parênquima renal (insuficiência renal) - sendo ainda
que a azotemia não ocorre até que mais de 75% dos rins tenham sido lesionados (falha renal).
PS2: quando ausente em um paciente desidratado elimina a possibilidade de falha renal como causa da desidratação - porem de
forma geral já não é apropriado que um paciente desidratado apresente uma densidade urinária baixa.

Observações:
I - A densidade deve ser analisada antes da administração de fluidos intravenosos - um paciente com hipostenúria ou isostenúria
inesperada deve ter seu consumo hídrico quantificado para identificar uma possível polidipsia.
II - Ainda assim se deve ter em mente que mesmo pacientes saudáveis podem apresentar urina isostenúrica ou hipostenúrica -
uma única determinação fora destes limites não significa obrigatoriamente a ocorrência de alteração renal e como dito anteriormente o
valor deve ser interpretado também junto ao grau de hidratação e ingestão hídrica recente do animal.

2.1.3 - Cor: deve sempre ser considerada associada à densidade específica e volume urinário, já que a intensidade da coloração urinária
depende da concentração de urocromos e varia inversamente com o volume urinário - pode ainda variar de acordo com patologias existentes
no animal.
PS: apesar da relação a coloração da urina nunca deve ser utilizada para a determinação da densidade específica.

Fisiológico: pode variar do amarelo-palha ao âmbar claro - em equinos pode chegar à tonalidade amarronzada.

Alterações: podendo variar entre amarelo, amarelo palha a incolor, amarelo ouro a âmbar, amarelo avermelhado a vermelha.
(a) Alaranjada: ocorre pela alta concentração da urina com maior quantidade de urocrômos e urobilinas, estando associado a
oligúria - as causas são as mesmas citadas para aumento da densidade urinaria (febre, desidratação, diminuição de ingestão hídrica, fase
oligúrica de nefrite aguda, etc).

(b) Pálida: geralmente é uma urina diluída com densidade baixa e associada à poliúria - as causas são as mesmas citadas para
diminuição da densidade urinaria (doença renal terminal, ingestão excessiva de líquidos, diabetes insipidus, hiperadrenocorticismo,
piometra, etc).

(c) Vermelha: ocorre por hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria - a diferenciação entre a hematúria e os outros dois casos
podem ser feitos da seguinte maneira:
1ª - Centrifugar a amostra e verificar a sedimentação:
(a) Caso a alteração seja decorrente de hemácias estas ficam separadas da urina - os eritrócitos íntegros sedimentam no fundo
da amostra e o restante da urina passa se apresenta como um sobrenadante limpo.
(b) Caso a vermelhidão se manter significa que a alteração e resultante de hemoglobinúria ou mioglobinuria.
2ª - No segundo caso a diferenciação entre hemoglobinúria e mioglobinuria pode ainda ser feita, sendo necessário um kit de fitas
reagentes (ver em testes químicos).

PS: amostras de urina normal de equinos podem passar a apresentar coloração amarronzada após certo tempo (ocorre pela
oxidação por pirocatequina) - não confundir com a presença de sangue ou mioglobina.

(d) Amarelo-esverdeada ou verde escuro: forma uma espuma alaranjada ou esverdeada quando agitada e se relaciona com a
presença de pigmentos bileares (bilirrubina).
PS1: pacientes com bilirrubinúria tipicamente apresentam bilirrubinemia, porém bilirrubinúria sem hiperbilirrubinemia pode
ser observada em cães machos normais.
PS2: gatos com bilirrubinúria na ausência de hiperbilirrubinemia devem ser submetidos a avaliações seriadas de urina e
bioquímica sérica para monitorar o desenvolvimento de icterícia.

(e) Branco: pela presença de cristais de fosfato ou de exsudato.


(f) Azul-esverdeada: pode ocorrer devido ao azul de metileno, que comumente é encontrada na composição de antissépticos
urinários.
PS - Espumas: a urina normal quando agitada forma uma certa quantidade de espuma branca - a alteração desta espuma também
pode ser avaliada no teste:
I - Na proteinúria a quantidade de espuma é abundante e demora a desaparecer.
II - Na bilirrubinúria a espuma frequentemente apresenta-se esverdeada ou acastanhada.
III - Na hemoglobinúria a espuma apresenta-se avermelhada.

2.1.4 - Odor:
Fisiológico: também denominado como odor “Sui generis”, o qual varia de acordo com a alimentação da espécie - em herbívoros é
aromático, enquanto em carnívoros picante e aliácio.
PS: o odor da urina dos machos de algumas espécies pode ser mais pronunciado (repulsivo ate) - em suíno, felino e caprino por
exemplo.

Alterações:
(a) Amoniacal: observado na urina de animais com infecção bacteriana (cistite aguda).
(b) Adocicado: presença de corpos cetônicos - associado a diabetes melito ou acetonemia da vaca leiteira.
(c) Pútrido: indica necrose tecidual de vias urinárias.

2.1.4 - Aspecto: é estimado subjetivamente - quando presente a melhor forma de detectar a causa da turvação da urina é através do
exame do sedimento.

Fisiológico: a urina normal é límpida e transparente - assim como a cor também pode ser influenciada pela concentração
urinária (amostras concentradas estão mais propensas à turbidez do que as diluídas).

Interpretação: o aspecto ligeiramente turvo ou turvo ocorre quando há presença de partículas suspensas na urina, tais como células
epiteliais, hemácias e leucócitos, cristalúria, bactéria, lipidúria, muco, sêmen, lipídios, contaminação fecal, etc

PS1: a urina de equinos é naturalmente turva devido à presença de muco e cristais de carbonato de cálcio.
PS2: a urina normal de felinos apresenta glóbulos de gordura, que podem deixar a urina ligeiramente turva.
PS3: se recomenda que a observação da turbidez seja feita imediatamente após a coleta da urina, pois os cristais podem precipitar
durante o armazenamento e influenciar neste parâmetro.
2.2 - Exames Químicos (8): avalia a quantidade/presença de proteínas, glicose, corpos cetônicos, bilirrubina, urobilinogênio, sangue
oculto e sais biliares - também engloba a avaliação do PH.

Metodologia: a maioria dos parâmetros do exame químico da urina são realizados com o auxílio de fitas reagentes de química
seca, obtidas comercialmente para laboratórios humanos (atualmente especificas para veterinárias também) - no próprio kit existe também
uma tabela para a comparação visual entre a fita em que a urina do animal foi depositada e os valores de referência.

PS: é importante lembrar que uma baixa densidade urinária significa diluição dos constituintes químicos urinários.

2.2.1 - PH: pode estar alterado já que umas das funções dos rins é a manutenção do equilíbrio ácido-base
PS: tiras reagentes para detecção do pH não são acuradas em comparação aos pHmetros.

Mecanismo de manutenção: alterações do pH da urina ocorrem para a manutenção do pH sanguíneo constante entre 7,35 e 7,45.

Fisiológico: valor normal é particularmente influenciada pela dieta - ácido nos carnívoros (5,5 a 7,0) e alcalino (7,5 a 8,5).
I - Animais mantidos com dieta predominantemente vegetal apresentam urina alcalina devido à presença de bicarbonato de cálcio
solúvel.
II - Animais cuja alimentação é rica em proteínas e cereais apresentam urina ácida, devido à presença de fosfatos ácidos de sódio
e cálcio.
PS: animais em fase de amamentação apresentam pH urinário ácido, mesmo nos casos em que o adulto da mesma espécie
normalmente teria pH urinário alcalino.

Alterações de pH: geralmente indicam mais uma alteração sistêmica do que um processo localizado em nível de sistema urinário.
(a) Alcalinização: pode ocorrer como decorrência de:
I - Atraso no processamento e má conservação da amostra.
II - Cistite associada a bactérias produtoras de uréase (Staphylococcus sp. e Proteus sp.): pode acarretar na conversão de uréia
em amônia, alcalinizando a urina.

III - Administração de alcalinizantes (bicarbonato de sódio, lactato de sódio, citrato de sódio).


IV - Retenção urinária vesical: permite a decomposição da amônia em uréia.
V - Alcalose metabólica ou respiratória: resultam em reduzida excreção urinária do íon hidrogênio (H⁺).
VI - Pós-prandial (transitória): devido à secreção de ácido gástrico causa uma relativa alcalose.

(b) Acidificação: ocorre pela presença de fosfatos ácidos de sódio/cálcio e corpos cetônicos, o que varia conforme a patogenia e as
particularidades do metabolismo das diferentes espécies - ocorre na
I - Situações com catabolismo de proteínas orgânicas: febre, jejum e diabetes melito por exemplo.
II - Por acidose metabólica ou respiratória: principalmente na uremia ou diabetes melito (cetoacidose diabética) - induzem uma
maior excreção de H⁺.

III - Acidose ruminal.


IV - Em dietas hiperproteicas.
V - Pela administração de acidificantes: cloreto de amônio ou cálcio, DL-metionina e fosfato ácido de sódio como exemplos.
VI - Na hipocalemia: ocorre aumento na reabsorção renal de K⁺ que é acompanhada com um aumento na excreção de H⁺.

VII - Vômitos (acidúria paradoxal): ocorre em alcaloses metabólicas em animais com hipocloremia devido ao vômito - nesta
situação o vômito conduz a uma perda de ácido clorídrico (HCl) e K⁺, fazendo com que o sódio (Na⁺) seja reabsorvido com bicarbonato
(HCO₃⁻), resultando em uma urina com pH reduzido.

2.2.2 - Proteínas:
Metodologia: as tiras reagentes produzem resultados semi-quantitativo de proteinúria, detectando principalmente albumina
(insensíveis para globulinas e proteínas Bence-Jones).
PS1: pequenas quantidades de proteína podem ser consideradas normais na urina - em condições normais a quantidade de
proteína na urina é muito pequena e geralmente as tiras urinárias não as detectam.
PS2: proteinúria deve ser sempre interpretada em associação com a densidade específica e outros dados clínicos e laboratoriais.
PS3: o grau de proteinúria não é necessariamente proporcional à severidade da doença principalmente na proteinúria renal.

PS4: pH urinário elevado pode interferir o resultado desse método - nos casos em que o pH urinário for de acima de 7,5
recomenda-se os testes de precipitação ácida (ácido sulfosalicílico) para detecção de proteínas na urina.

PS5: eletroforese de proteínas do plasma e/ou urina pode ser usada para detectar distúrbios em proteínas plasmáticas além da
albumina.

Alterações - Proteinúria Fisiológica: associada a hipertermia, febre e/ou exercício extenuante - o histórico e o exame físico, em geral,
indicam esforço recente ou hipertermia.
PS: normalmente leve e transitória.

Alterações - Proteinúria Patológica: devem ser diferenciadas quanto a origem (pre renal, renal ou pôs renal).

(a) Proteinúria Patológica - Pré-Renal: aumento na quantidade de proteínas plasmáticas de baixo peso molecular - hemoglobina,
mioglobina e imunoglobulina de cadeia leve (proteína de "Bence Jones").
PS - Bence Jones: fragmentos de cadeia curta de globulinas que podem estar presentes em urina de animais com mieloma
múltiplo.

(b) Proteinúria Renal: ocorre em doenças glomerulares, tubulares e/ou intersticiais renais - como exemplos de causas se tem:
Glomerulonefrite: leva a perda proteica através dos capilares glomorelulares - por sua vez leva a ocorrência de cilindrúria.
IRA: gera proteinúria acentuada e cilindrúria.
IRC: ocorre com proteinúria variável e cilindros reduzidos.
Pielonefrite: proteinúria acentuada, com presença de hemácias e leucócitos em alta quantidade.
PS: no geral este tipo de proteinúria tem caráter persistente - ajuda no diagnóstico.

Procedimento: nestes casos é de grande importância:


I - Identificar se a causa é tratável: em distúrbios infecciosos, endócrinos ou neoplásicos por exemplo.
II - Avaliar a presença de sequelas: especialmente azotemia, hipoalbuminemia e hipertensão.

(c) Proteinúria Pós-Renal: é observada em infecções ou inflamações do trato urinário inferior - ureterite, cistite, uretrite, vaginite
e balanopostite.
Diagnostico: o histórico pode indicar micção anormal, sendo que sinais sistêmicos de doença são raros - o exame físico deve
incluir a palpação abdominal com atenção especial à bexiga (avaliando o seu tamanho e conteúdo), bem como a inspeção da genitália e o
exame do reto.
PS1: nestes casos o sedimento urinário costuma revelar a presença de eritrócitos e/ou células inflamatórias, além de grande
número de células epiteliais.
PS2: a hematúria só causa proteinúria significativa quando visível macroscopicamente.
2.2.3 - Glicose:

Metodologia: a glicosúria é detectada por uma reação enzimática específica para glicose - amostras de urina refrigeradas devem ser
aquecidas à temperatura ambiente para evitar falsos negativos, pois baixas temperatura inibem a reação.

Interpretação: a glicosúria pode ser causada por hiperglicemia ou lesão de túbulo proximal renal.
(a) Hiperglicemia: normalmente os túbulos contorcidos proximais reabsorvem a glicose filtrada, porem quando a concentração
sanguínea e a do ultrafiltrado excedem a capacidade de reabsorção a glicose pode passar a aparece na urina - como causas de hiperglicemia
podem ser citadas:
I - Diabetes melito (principal causa de glicosúria).
II - Hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing).
III - No tratamento parenteral com glicose e frutose // ingestão excessiva de açucares.
IV - Pancreatite necrótica aguda.
V - Pela administração parenteral de adrenalina.
VI - Diabetes gestacional e outras alterações renais próprias da gestação.

(b) Lesão tubular: diagnosticada quando ocorre glicosúria na ausência de hiperglicemia - ocorre em nefropatias congênitas ou
hereditárias e a doenças renais com comprometimento da porção tubular proximal: reflete em um defeito de reabsorção tubular em que o
rim falha em reabsorver a glicose do filtrado glomerular.

PS - Glicosúria falso-positiva: pode ocorrer por reação química cruzada após administração de certos antibióticos, substâncias
redutoras de açúcar e outros medicamentos.

Limiar renal: quantidade da glicose plasmática que ainda pode ser reabsorvida - limites podem ser ultrapassados quando nas
hiperglicemias:

2.2.4 - Corpos cetônicos: são produtos do metabolismo lipídico e normalmente estão ausentes na urina - a elevação destas substâncias
no sangue é denominada cetose ou acetonemia, o que ocorre em decorrência de distúrbios no metabolismo de ácidos graxos e carboidratos.

Tipos de corpos cetônicos: estes podem ser ácido aceto-acético, β-hidrobutírico e acetona.

Metodologia: as tiras de urina possuem nitroprussiato de sódio que reage com ácido acético e acetona, mas não detectam β-
hidroxibutirato - para o ultimo metabólito pode-se usar tiras específicas para determinação no leite, urina e liquido ruminal.

Etiologias: as causas de cetonúria variam conforme a patogenia e as particularidades do metabolismo das diferentes espécies.
I - Diabetes mellitus (cetoacidose diabética).
II - Inanição e jejum prolongado.
III - Cetose dos ruminantes: em vacas leiteiras e ovelhas a cetose ocorre por balanço energético negativo.
IV - Hepatopatias e lipidose hepática.
V - Febre em animais jovens.
2.2.5 - Bilirrubina: produto da degradação de hemácias, estando normalmente ausente na urina (exceto no cão).
PS: deve sempre ser interpretada em associação com a densidade específica da urina.

Mecanismo de formação: quando a hemoglobina é degradada a porção heme é convertida em bilirrubina, que por sua vez é conjugada
no fígado e excretada na bile - uma parcela desta bilirrubina conjugada escapa para a circulação e é filtrada pelo glomérulo, aparecendo na
urina.

PS1: o rim de cães tem capacidade de metabolizar hemoglobina em bilirrubina e secretá-la na urina, o que permite que uma
pequena quantidade seja encontrada em cães saudáveis (principalmente quando a amostra possui elevada densidade específica) - cães
machos têm esta capacidade secretória ainda maior em comparação com fêmeas.

PS2: a bilirrubina urinária está sempre na forma conjugada - a bilirrubina não conjugada liga-se à albumina e está usualmente não
atravessa a barreira glomerular em quantidades suficientes, exceto em casos de doença glomerular.
PS3: o limiar renal para a bilirrubina é muito pequeno, sendo que até mesmo um leve aumento na bilirrubina plasmática pode
conduzir à bilirrubinúria - assim, a bilirrubinúria é detectada antes da hiperbilirrubinúria ou da icterícia.

Etiologias da bilirrubinemia: a bilirrubinúria está relacionada a


I - Hepatopatias: hepatite infecciosa canina, leptospirose e neoplasias como exemplos.
II - Distúrbios hemolíticos: com a produção excessiva de hemoglobina ocorre também aumento na produção de BD.
III - Por obstrução das vias biliares com colestase intra e extra-hepática: gera aumento da BD já que esta não pode ser eliminada
para o intestino.
IV - Obstrução intestinal: lembrando que boa parte da bilirrubina é liberada na bile no intestino.

PS - Cristal de bilirrubina: podem ser vistos na análise microscópica da urina (faz parte do exame de sedimento da amostra) - são
feixes de espículas finas, alongadas e amareladas: podem ser vistos em urina muito concentrada de cães normais, mas se encontrados em
grande quantidade deve-se suspeitar de alterações no metabolismo de bilirrubina já citadas (anemia hemolítica severa, doença hepática ou
biliar severa).

2.2.6 - Urobilinogênio: é excretado nas no intestino e reabsorvido pela circulação porta retornando ao fígado e sendo eliminada pela
bile - o kit comercial de fitas reagentes é geralmente insensível ao urobilinogênio (para melhor interpretação deve-se realizar a prova de
Ehrlich).

Formação fisiológica:
1ª - O urobilinogênio é um cromógeno formado no intestino por ação bacteriana redutora de bilirrubina.
2ª - A partir deste ponto ela pode ter 3 destinos:
(a) Uma parte do urobilinogênio é excretada através das fezes.
(b) Parte dela é absorvida pela circulação porta e retornando ao fígado - esta é eliminada pela bile.
(c) Uma pequena quantidade de urobilinogênio atinge os rins através da circulação, sendo excretado pela urina.

Aumento do Urobilinogênio: ocorre por


I - Icterícia hemolítica: aumento da produção de bilirrubina não conjugada (BI) tem como consequência maior formação de
urobilinogênio.
II - Distúrbios hepáticos: reflete em incapacidade funcional de remoção do urobilinogênio da circulação.
Ausência ou Diminuição do Urobilinogênio: ocorre por
I - Colestase intra e extra-hepática: não havendo a saída da bilirrubina conjugada (BD) para o intestino não haverá a formação do
urobilinogênio.
II - Aumento do trânsito gastrointestinal (diarreias):

2.2.7 - Sangue oculto: detecta a presença de hemácias, hemoglobina e mioglobina - normalmente ausentes.

Etiologias:
(a) Hematúria: presença de sangue total na urina - é encontrada em doenças do trato urinário inferior ou superior (infecção,
neoplasias, doenças inflamatórias ou idiopática).
PS: pode envolver sangramento do próprio rim.

(b) Hemoglobinúria: indica ocorrência de hemólise intravascular - como exemplos de causas se tem
I - Certas doenças infecciosas e hemoparasitas (leptospirose, piroplasmose e determinadas estreptococoses).
II - Fotossensibilização e plantas tóxicas.
III - Intoxicação por agentes químicos (cobre e mercúrio).
IV - Doenças autoimunes.
V - Transfusões sanguíneas incompatíveis.
VII - Doença hemolítica do recém-nascido.

PS: pode ocorrer quando eritrócitos intactos lisam em urina extremamente diluída (densidade menor que 1,008).

(c) Mioglobinúria: ocorre após rabdomiólise, seja por injúria isquêmica, traumática, tóxica ou necrose - como exemplos se tem os
acidentes ofídicos e a mioglobinúria paralítica dos equinos.

Diferenciação entre hematúria e mioglobinúria: primeiro passo de identificação em uma amostra de urina avermelhada, o que é feito
da seguinte forma: centrifugar a amostra e observar o sobrenadante urinário - este fica límpido na hematúria (como dito anteriormente as
hemácias integras tendem a se sedimentar no recipiente) // nos casos de mioglobinuria ou hemoglobinúria a superfície da amostra se
mantem homogeneamente avermelhada.

PS: as tiras reagentes detectam a porção heme da hemoglobina e da mioglobina - é necessário um procedimento especifico para a
diferenciação (ver a seguir).

Diferenciação entre hemoglobinúria e mioglobinúria: nos casos em que a amostra centrifugada apresente sobrenadante avermelhado
é necessário a diferenciação entre hemoglobinúria e mioglobinúria - as tiras reagentes não diferenciam as duas, porem elas podem ser
utilizadas com esta função da seguinte forma:
1ª - Saturar 5mL de urina com sulfato de amônio (± 2,8g) - o sulfato tem efeito de precipitar hemoglobina (caso esta esteja
presente).

2ª - Agitar fortemente a amostra e centrifugar a 2000 rpm por 10 minutos.


3ª - Usar a tira reagente no sobrenadante - os resultados sendo.
(a) Positivo na tira: indica presença mioglobina - como a hemoglobina foi precipitada na etapa anterior a mioglobina é a única
substancia na amostra que poderia levar a reação da tira.
(b) Negativo na tira: indica hemoglobina - esta não reagiu na tira já que se se precipitou no fundo da amostra (não fica no
sobrenadante).

PS: outro fator que ajuda na diferenciação seria caso o animal apresente sinal clínico de icterícia (ou alteração do plasma), o que é
um forte indicativo que a alteração da urina se trate de hemoglobinemia - além disto mesmo um nível elevado de mioglobina no sangue não
de altera a coloração do plasma, que pode ser analisado quanto a isto.
2.2.8 - Sais biliares: presença é indicativo de lesão colestática intra-hepática (ocorre na hepatite e cirrose).
PS: a presença de bile na urina é chamada colúria, enquanto que a de ácidos e sais biliares é chamada biliúria.

Metodologia: os sais biliares não são encontrados pela fita - teste a ser realizado para a sua confirmação é o teste de Hay
1ª - Uma flor de é depositada na superfície da amostra de urina e a boca do tubo é tampada com uma gaze - permite a saída do
enxofre, como se fosse numa peneira.
2ª - Os sais biliares diminuem a tensão superficial da urina, por isso quando presentes permitem que a flor de enxofre desça para o
fundo do tubo - a velocidade da descida da flor de enxofre está relacionada com a concentração de sais na urina.

Produção, Função e Eliminação:


1ª - Os ácidos biliares são sintetizados nos hepatócitos a partir do colesterol, sendo então liberados na bile.
2ª - No íleo a maior parte dos ácidos biliares retorna ao sangue - uma molécula de ácido biliar circula novamente várias vezes após
uma única refeição.
3ª - Normalmente o fígado é muito eficiente na remoção dos ácidos biliares da circulação portal - em doenças hepáticas e
colestáticas esta capacidade fica reduzida, levando ao acumulo destas moléculas na circulação.

Causas de Aumento:
I - Doenças hepáticas diversas: interferem na remoção dos sais bileares.
II - Menor excreção de ácidos biliares pelo sistema biliar: consequente leva a regurgitação a circulação sistêmica - em geral ocorre
por colestase, mas também pode ocorrer quando houver extravasamento do ducto ou da vesícula biliar;

PS: geralmente a ocorrência na urina é acompanhada de (1) icterícia hemolítica ou obstrutiva e (2) no comprometimento hepático,
ocorrendo acompanhando a bilirrubinemia.

2.3 - Sedimentoscopia: a terceira etapa da urinálise consiste na avaliação microscópica do sedimento urinário - os resultados do sedimento
urinário devem ser interpretados juntamente com o conhecimento do método de coleta, exame químico e exame físico.
PS1: sedimentos estão presentes mesmo em urinas normais (nestes casos os valores são mínimos).
PS2: levar em conta a interferência da densidade urinária no processo - se baixa pode levar a diluição do sedimento.

Metodologia:
1ª - Coletar amostra de 5 a 10mL de urina fresca.
2ª - Centrifugar a amostra a 1500rpm por 5 a 10 minutos.
3ª - O sobrenadante é então decantado e o sedimento ressuspenso em aproximadamente 1mL.
4ª - Uma gota é colocada sobre uma lâmina e coberta por uma lamínula - a leitura deve ser realizada em microscópio óptico em
objetiva de 40x (para aumentar o contraste deve-se abaixar o condensador).
PS: uma observação em menor aumento (10 ou 20x) deve ser realizada previamente à leitura, para verificar-se homogeneidade do
sedimento e macroestruturas como coágulos e pus.

5ª - Observar a presença/quantidade dos constituintes do sedimento:


(e) Bactérias: em pequenas quantidades é normal.
(b) Células sanguíneas: hemácias e leucócitos.
(a) Células epiteliais de descamação: tais como do epitélio renal, pelve renal, ureterais, vesicais, uretrais, vaginais (fêmeas),
próstata (macho).

(d) Cilindros: podendo ser hialinos, granulosos, mistos e céreos.


(c) Cristais: os tipos variam de acordo com o pH urinário (interfere na formação destes) - divididos em ácidos e básicos.

(d) Dentre outros:


Fungos ou leveduras: podem ocorrer em animais sobre queda muito intensa da imunidade.
Ovos de parasitas.
Artefatos, muco e espermatozoides.

2.3.1 - Bactérias: uma grande quantidade de bactérias em amostra de urina fresca sugere infecção bacteriana em algum ponto do trato
urinário (nefrites, pielonefrites, cistites e uretrites), especialmente quando associada a outros sinais de inflamação como piúria, hematúria e
proteinúria.
PS1: presença fica aumentada em amostras de urinas velhas (falsos positivos).
PS2: quando presentes em uma amostra levam também a diminuição da glicose (caso esteja presente), já que as bactérias a usam
como substrato para o seu crescimento - uma consequência indireta deste consumo de glicose é o aumento de PH da urina (se torna alcalino,
podendo estar entre 7,5 a 8,5).
PS3: nos casos de presença secundário a infecções ela pode ou não gerar resposta inflamatória no animal - caso ocorra a urina pode
apresentar leucócitos também.
PS4: leveduras e hifas podem ser identificadas ocasionalmente.
2.3.2 - Células sanguíneas: baixas quantidades de eritrócitos e leucócitos podem ser encontradas em urinas normais, além de pequeno
número de células epiteliais transicionais - porém em casos de irritação/inflamação da bexiga pode ser observado um aumento na
quantidade destas células.

Hemácias: presença ocorre por inflamações e hemorragias do trato urinário, as quais podem afetar a parte superior (rins e ureter) ou
inferior (bexiga, uretra e prepúcio) - considerado normal quando na quantidade de 1 a 2/campo de observação no microscópio e quando
superior a 5/campo pode ser considerado hematúria.
I - Inflamações do trato urinário: pielonefrite, ureterite, cistite, pielite, prostatite.
II - Traumas: cateterização, cistocentese, neoplasias renais vesicais ou prostáticas.
III - Congestão passiva renal e infarto renal.
IV - Por certos parasitas: Dioctophima renale, Sthefanurus sp, Dirofilariose.
V - Em intoxicação: por cobre e mercúrio por exemplo.
VI - Por distúrbios hemostáticos, estro e pós-parto.

Leucócitos: ocorrem por inflamação do trato urinário, sendo esta da parte superior (nefrite, pielonefrite, glomerulite) ou da inferior
(ureterite, cistite, uretrite, vaginite, balanopostite) - presença é considerada normal quando 1 a 2/campo (quando maior que 5/campo é
considerado leucocitúria ou piúria).
PS1: são células granulares maiores que as hemácias, porém menores que as células epiteliais.

PS2: em pH alcalino os leucócitos tendem a apresentar-se sob a forma de grumos.

I - Inflamações renais (nefrite, glomerulonefrite, pielonefrite).


II - Inflamações do trato urinário inferior (uretrite, cistite).
III - Inflamações do trato genital (vaginite, prostatite e metrite).

2.3.3 - Células epiteliais de descamação: normalmente sendo ausente ou presença discreta - quando em quantidade elevada (acima de 5
células/campo) podem indicar lesão local ou difusa.
PS: quando em situações de retenção urina ou quando há demora para se realizar o exame, as células podem apresentar-se
degeneradas.

Tipos: as células podem ser diferenciadas quanto sua morfologia como do (a) epitélio tubular renal, (b) pelve renal, (c) vesical, (d)
uretral e (e) vaginal.
2.3.4 - Cilindros: são constituídos primariamente de mucoproteínas e proteínas secretas pelas células epiteliais que forram as alças de
Henle, túbulos distais e ductos coletores - sendo ainda que estas mucoproteinas podem ou não se aderir a outras estruturas.

Morfologia: sua forma representa o molde dos túbulos onde são formados - principalmente na luz dos túbulos contornados distais e
túbulos coletores (alça de Henle em menor proporção).

Interpretação: a cilindrúria indica que há uma doença renal, porem esta não necessariamente uma falha renal - além disto a
cilindrúria também não indica que necessariamente o rim seja o órgão primário envolvido na doença (uma hipóxia associada a choque
hipovolêmico pode resultar em cilindrúria por exemplo).
PS1: a presença de cilindros na urina não discrimina entre doença glomerular, intersticial ou tubular.
PS2: os cilindros podem se desintegrar rapidamente em urinas velhas ou alcalinas (inclusive dentro da bexiga) - ou seja, a
ausência de cilindros não exclui a ocorrência de doenças tubulares renais.
PS3: os cilindros não se formam em baixas densidades ou em pH alcalino - a formação dos cilindros dá-se na porção renal tubular
onde a urina atinge concentração máxima e acidez, o que favorece a precipitação de proteínas e mucoproteínas.
PS4: embora presença indique alteração patológica renal, alterações podem ser apenas ligeiras e transitórias.
PS5: sua quantidade deve ser interpretada levando em consideração a densidade urinária.
PS6: apesar de normalmente ausentes na urina, indivíduos normais - principalmente após exercícios extenuantes, febre e uso de
diuréticos - podem apresentar pequena quantidade destes em sua urina (geralmente hialinos nestes casos).

Tipos: qualquer lesão tubular presente no momento da formação dos cilindros pode refletir na composição dos mesmos - deste modo
os cilindros são classificados conforme o material que contém.

(a) Cilindros hialinos: são os mais comuns, sendo compostos primariamente pela condensação de mucoproteínas (proteínas de
Tamm-Horsfall) secretadas por células epiteliais tubulares.

Interpretação: podem ser indicativos de forma leve de irritação renal.


Etiologias: como fatores que favorecem a sua formação se tem
I - Alterações com proteinúria: muitas vezes por processos transitórios e/ou em associação com distúrbios circulatórios - febre,
uso de diuréticos, exercício intenso e congestão renal como exemplos.
II - Decorrente de doença renal: nesses casos mesmo que a injúria glomerular cause aumento de permeabilidade glomerular a
proteínas plasmáticas, a maior parte da matriz que produz os cilindros ainda é a proteína de Tamm-Horsfall (embora a albumina e algumas
globulinas também sejam incorporadas).

PS1: podem ser considerados normais mesmo em animais saudáveis (se em pequenas quantidades) // também considerado
normal em quantidades maiores quando em situações como febre, desidratação, estresse e exercício físico intenso.

PS2: estes cilindros podem se aderir a diversos tipos celulares e debris, dando origem aos outros tipos de cilindros.

:
(secreção de proteínas de Tamm-Horsfall - pontos verdes - ilustrada na formação do cilindro hialino no DC)

(b) Cilindro Hemático (eritrocitário): ocorrem tipicamente por inflamação glomerular (glomerulonefrites) com liberação de
eritrócitos - etiologia envolve processos com hemorragia renal de forma geral.

(evolução do cilindro hialino pela deposição de hemácias)

(c) Cilindros leucocitários: mais comumente encontrados na pielonefrite aguda, porem podem também estar presentes na
glomerulonefrite e abcessos renais (inflamações renais de forma geral).
(d) Cilindros celulares (epiteliais): causado por processos com lesões nos túbulos renais de forma geral (levam ao aumento de
liberação de restos celulares) - quando estes permanecem nos néfrons por muito tempo antes de serem liberados na urina as células podem se
degenerar, levando a formação de cilindros granulares e posteriormente cilindros céreos.
PS: acredita-se que os cilindros granulares e céreos são derivados de cilindros epiteliais de células tubulares renais.

(e) Cilindro granuloso: indicativo de degeneração e necrose de células tubulares - podem estar presentes em doença renal
glomerular ou tubular e em algumas situações fisiológicas.

(f) Cilindro céreo: como dito anteriormente são formados a partir de permanência de cilindros (inicialmente celulares, os quais
posteriormente evoluem a granular) dentro do túbulo por tempo prolongado - formação pode ocorrer por insuficiência renal, rejeição a
transplantes e doenças renais agudas com estase do fluxo urinário.
PS1: cilindros largos emanam de túbulos danificados e dilatados - por isso encontrados no estádio final de insuficiências renais
crônicas.

PS2: no estádio final de doenças renais o sedimento torna-se escasso, pois os poucos néfrons remanescentes produzem uma urina
bastante diluída - ou seja, o número de cilindros céreos pode diminuir mesmo considerando que a doença na verdade evoluiu.

(g) Cilindro Gorduroso: indicativo de lesão tubular degenerativa, onde ocorre degeneração gordurosa do epitélio tubular (este é
formado por células de gordura) - geralmente associado à síndrome nefrótica e diabetes mellitus.
Fatores para a formação (geral): a formação dos cilindros é favorecida por 3 condições, todas as quais favorecem a desnaturação e
precipitação proteica (particularmente as de Tamm-Horsfall).
I - Baixo fluxo urinário.
II - Alta concentração de sais.
III - pH baixo.

Cilindroides: denominação especifica para os alguns cilindros proteicos - estes possuem cauda longa e fina, características decorrentes
do local de produção (são produzidos na junção entre a alça de Henle com o túbulo contorcido distal).

(em resumo)

2.3.5 - Cristais: tipo e ocorrência variam de acordo com as espécies e a dieta/pH urinário desta - a presença da maioria dos tipos de
cristais na urina pode não ser clinicamente significativa em animais saudáveis, porem deve ter sua importância considerada em animais
com histórico de urolitíase ou sinais clínicos relevantes.

Formação fisiológica: são os produtos finais da alimentação e metabolismo celular do animal, sendo que dependem do PH urinário
para a sua formação.

Fatores predisponentes: podem levar a maior ocorrência de formação de cristais:


I - Urina muito concentradas (principal fator): a formação de urina supersaturada por sua vez está relacionada com raça, porte,
volume de ingestão de água, tipo de ambiente do animal (apartamento p. ex.), grau de atividade física, dentre outros.

II - Urina com altas concentrações de substâncias cristalogênicas.


III - Paciente com taxa de fluxo renal reduzida.

Variações entre animais: vários fatores podem influenciar na formação de um ou outro tipo de cálculo:
(a) sexo e espécie.
(b) presença de infecção ou inflamação na bexiga.
(c) distúrbios em outros órgãos: distúrbios hepáticos por exemplo.
(d) tipo de alimento normalmente consumido.
(e) pH urinário.

Interpretação - Aumentos de Cristais:


I - Grandes quantidades de cristais podem estar acompanhadas da ocorrência de urolitíase, porem é importante se tem em mente
que os cálculos podem ocorrer sem cristalúria e vice-versa.
II - Dependendo do tipo de cristal pode ser indicativo de falhas ou alterações no metabolismo de sua substancia substrato -vale
lembrar porem que alguns cristais são considerados normais quando presentes (e outros normais se dentro de uma certa quantidade).

Cálculos (possível consequência) - Definição: os urolitos são formados a partir da aglomeração de um ou mais tipos de cristais - os
cristais por sua vez se formam quando a urina está supersaturada por grandes concentrações de minerais: estes se precipitam
secundariamente a fatores predisponentes relacionados ao indivíduo, aos seus hábitos alimentares, entre outros.
Cálculos (possível consequência) - Fatores predisponentes: de forma geral estão relacionadas aos mesmos fatores que favorecem a
formação dos cristais - como exemplos se tem:
- Alterações tóxicas do rim.
- Inflamação do parênquima renal.
- Inflamação da pelve renal.
- Deficiência de vitamina A.
- PH urinário.
- Concentração e quantidade de urina.

PS: de uma forma geral cães de raças de pequeno porte e gatos castrados que vivem em ambientes fechados apresentam maiores
chances de desenvolver cristais (e logo cálculos urinários).

Cálculos (possível consequência) - Complicações: os urolitos na pelve renal, ureteres e bexiga podem ser deslocados para a uretra,
promovendo obstruções com repercussões para todo o trato urinário, de acordo com suas dimensões e localização.
PS: animais com uretra muito estreita ou nos que tem osso peniano (cães) possuem maior chance de obstrução.

Cristais de pH alcalino (4):

(a) Fosfato Triplo (estruvita): compostos por fosfato amoníaco-magnesiano - podem ser encontrados em animais saudáveis, porem
também possuem grande importância como causa de formação de cálculos.

Importância: em cães e gatos é o tipo de cristal com comum como causa de urolitíase (oxalato de cálcio em segundo lugar) -
corresponde a aproximadamente 50% dos casos em cães e cerca de 33 a 43% - como causas menos frequentes se tem os cristais de urato
(4,8%), cristais de fosfato de cálcio (2,2%), cristais de sílica (0,9%), cristais de cistina (0,4%) e cristais mistos (6,5%).

Características do cálculo:
. Acomete animais jovens e fêmeas com maior frequência.
. Algumas raças de cães são predispostas - Schnauzer miniatura, Bichon frise, Lhasa apso, Shihtzu e Poodle miniatura.
. A bexiga é o sítio mais comum de aparecimento.
. Costuma apresentar alta taxa de recorrência (acima de 20%).

Etiologias: ocorrência está relacionada a retenção da urina na bexiga por motivos diversos: cistite crônica, paraplegia, aumento
prostático e retenção vesical como exemplos - com o tempo a urina retida passa a favorecer a formação dos cristais, os quais podem evoluir
a cálculos dentro da bexiga.
PS: cálculos de estruvita são uma das causas mais frequentes de doença das vias urinárias inferiores do gato - também
conhecida como síndrome urológica felina ou DTUIF: fragmentos do cálculo e cristais na bexiga se deslocam para a uretra e podem
facilmente obstruir o canal com um tampão devido ao afunilamento peniano presente na espécie.

(b) Carbonato de Cálcio: não possuem significado clínico, sendo normais em urina de eqüinos e bovinos.
(c) Fosfato Amorfo: aglomerado de grânulos finos formado por cristais de fosfato de cálcio - podem participar na formação de
cálculos, porem também aparecem em urina normal.
PS1: ficam aumentados na retenção de urina na bexiga (aumento da próstata por exemplo).
PS2: os sais de fosfato frequentemente estão presentes na urina de forma cristalina, como substâncias amorfas (sem forma
definida).

(d) Urato ou Biurato de amônio: são corpos esféricos castanho amarelados, com espículas longas e irregulares - podem aparecer na
urina secundário a formação de amônia na bexiga.
PS1: as formas de urato ou biurato geralmente ocorrem juntas.
PS2: podem aparecer também em urinas ácidas ou neutras.
PS3: em amostra em repouso se precipita e forma cristais de ácido úrico.

Interpretação: geralmente possuem pouco significado clinico, porem são considerados patogênicos quando presentes em urina
recém emitida, como ocorre em doenças hepáticas: podem ocorrer na derivação porto cava ou outras doenças hepáticas.

Cristais de pH ácido (5)


(a) Urato Amorfo: são numerosos em urinas fortemente ácida - só se apresentam como componentes normais nos carnívoros, não
possuindo significado clínico.

(b) Ácido úrico: o ácido úrico está entre as substâncias naturalmente produzidas pelo organismo, sendo o resultado da quebra de
moléculas de purina (proteínas endógenas e alimentares) - depois de utilizadas as purinas são degradadas e transformadas em ácido úrico
pela ação da enzima xantina oxidase.
PS1: nos seres humanos e primatas ele é liberado diretamente como ácido úrico na urina - nos outros mamíferos o ácido úrico é
ainda convertido em alantoína através de uma enzima hepática chamada uricase, só então sendo liberada na urina.

Interpretação: os níveis de ácido úrico sérico podem aumentar em diversas situações


I - Aumento da produção endógena ou na ingestão de alimentos ricos em purina (uso de rações e farinhas por exemplo).
II - Diminuição da excreção pela urina (insuficiência renal): nas nefrites crônicas por exemplo.
III - Insuficiência Hepática.
IV - Interferência do uso de certos medicamentos: tetraciclinas, aspirina, corticóides, entre outros.

V - Intoxicação por metais pesados: chumbo e zinco como exemplos.


V - Intoxicação por micotoxinas.

VI - Jejum hídrico.

VII - Exercício intenso (equinos): na espécie a concentração plasmática do ácido úrico também é considerada um bom
indicador da intensidade do exercício, já que provém da degradação do ADP quando este se acumula nas células.

Consequências: nos cães e gatos e outros mamíferos a hiperuricemia pode:


I - Prejudicar o funcionamento renal.
II - Causar formação de cristais e urolitíase: cálculos de uratos (ácido úrico) geralmente são formados quando o ácido úrico
está aumentado, especialmente em cães da raça Dálmata e aves: estes podem apresentar deficiência da enzima uricase, sendo que nestes
casos o ácido úrico tem maior facilidade de se acumular no organismo (já que é pouco solúvel em água) - eventualmente este ácido úrico em
excesso se deposita na forma de urato nos rins ou bexiga, formando cálculos.

III - Sobrecarregar o fígado.


IV - Levar a formação de gota (deposição de ácido úrico em excesso nas articulações): ocorre apenas nos humanos, aves e
repteis - esta deposição secundaria a hiperuricemia pode levar a uma reação inflamatória intensa e dolorosa (animal pode passar a evitar de
se movimentar e alimentar) - nestas espécies ele é usado como indicador de alteração renal.

(c) Cistina: se apresentam como placas hexagonais e incolores, sendo decorrentes de alterações do metabolismo proteico - presença
tem sempre significado clínico: ocorre na cistinose, cistinúria congênita, insuficiente reabsorção renal ou intoxicações hepáticas graves.
PS: mecanismo da cistinúria congênita envolve deficiência na reabsorção de cistina pelas células dos túbulos renais.

(d) Tirosina: aspecto de agulhas agregadas - podem aparecer nas enfermidades hepáticas graves ou em tirosinose.

(e) Leucina: esferas com estriações radiais e concêntricas - possuem significado patológico importante, sendo indicativos de
enfermidades hepáticas em fase terminal (cirrose, hepatite viral e atrofia amarela aguda do fígado como exemplos).
PS1: geralmente aparecem associados a cristais de tirosina nas doenças hepáticas.
PS2: assim como a leucina são aminoácidos do sistema, os quais podem formar cristais na urina.
PS3: também pode ser indicativa de severa lesão hepática - como nos casos de envenenamento por fósforo, tetracloreto de
carbono ou clorofórmio.

(f) Oxalato de cálcio: podem ocorrer em urina normal, porem o aumento pode estar relaci0onados a situações de hipercalciúria:
I - Aumento da ingestão ou suplementação de cálcio
II - Doença renal crônica
III - Ingestão de altas doses vit. C: o ácido oxálico é um derivado da degradação do ácido ascórbico e produz a precipitação de
íons de cálcio.

IV - Outras causas: intoxicação pelo etilenoglicol, por certas plantas, no diabetes mellitus e doença hepática.

PS: também ocorre em urinas neutras e alcalinas.

(g) Medicamentos - Cristais de sulfa: podem se formar nos tratamentos com sulfas extensivos - quando ocorrem possuem
aparência de agulhas em grupos unidas de forma concêntrica, de cor clara ou castanha.
PS1: as sulfas mais novas são muito mais solúveis em meio ácido - por este motivo atualmente não se observam mais estes
cristais na urina de animais sobre tratamento.

(g) Medicamentos - Contrastes radiográficos: podem cristalizar em urinas ácidas, também em forma de agulhas.
(g) Medicamentos - Ampicilina: pode precipitar em urina ácida, formando agulhas largas ou finas e incolores.

(h) Cristais de bilirrubina: quando presente tem forma de agulhas amarelas ou castanho avermelhado - interpretação deve levar
em conta a espécie animais e testes bioquímicos de função hepática.

G H

2.3.6 - Outros:
(a) Muco - filamentos mucoides: normal quando em quantidade discreta - aumentam em processos inflamatórios.
(b) Espermatozóides: normal no cão - em outras espécies, como no bovino, pode indicar distúrbio reprodutivo.
(c) Gotículas de gordura: sem interpretação clínica (pode ser artefato da sondagem).
a b c

(d) Bolhas de ar:

2.3.7 - Ovos de parasitas: alguns parasitas possuem fase no tecido renal - sendo assim seus ovos podem aparecer na urina.
(a) Dioctiophyma renale.
(b) Stephanurus sp: afeta rins de suínos.
(c) Capillaria sp: afeta cães e gatos.

(d) Dirofilaria sp: afeta cães (verme do coração).

(em resumo - interpretações dos testes de urinálise)


3 - Testes bioquímicos de função renal: estes testes sanguíneos podem ser realizados para o diagnóstico de doença renal e para a
monitorização do tratamento - importante que sejam interpretados junto ao exame clinico e a urinálise.
PS: importante que a amostra seja obtida sem anticoagulante - eventualmente algumas técnicas permitem o uso de plasma heparinizado
ou com EDTA.

Tipos de exames: as principais provas bioquímicas de função renal incluem a determinação da uréia e creatinina séricas/plasmáticas -
outras provas como sódio, potássio e fósforo séricos podem ser úteis no diagnóstico de doenças renais uma vez que são elementos excretados
normalmente pela urina.

3.1 - Uréia: parâmetro deve ser interpretado juntamente aos níveis de creatinina, proteína e densidade urinárias para a analise a função
renal.

Produção fisiológica:
1ª - A ureia é produzida no fígado através da arginase, sendo o principal produto final do catabolismo proteico.
PS: devido à natureza de sua produção ela pode ter aumento na circulação decorrente de alterações ou disfunções na nutrição -
devido a esta possibilidade de interferência por fatores extra-renais (ingestão proteica elevada e jejum prolongado) a uréia não é um bom
indicador do funcionamento renal quando analisada unicamente.

2ª - Por ser de baixo peso molecular a uréia difunde-se igualmente pelos fluídos orgânicos - a partir destes fluidos a uréia é excretada
através do filtrado glomerular, em concentração igual à do sangue:
(a) Parte dela (em torno de 25 a 40% de acordo com o fluxo urinário) é reabsorvida através dos túbulos.
(b) Cerca de 60% é eliminada através da urina.

3ª - Quando há maior velocidade de fluxo há menor absorção de uréia e vice-versa: motivo pelo qual a diminuição da filtração
glomerular gera maior retenção da uréia, com consequente aumento da concentração sanguínea - quando 75% dos nefrons de ambos os rins
estão afuncionais a situação é classificada como azotemia renal primária

3.2 - Creatinina: é formada através do metabolismo da creatina e fosfocreatina muscular.

Utilização da prova: o teste é bastante efetivo, especialmente quando utilizado em conjunto com a medição da ureia - possui sinergismo
devido as características de:
(a) Os níveis sanguíneos não são afetados pela dieta, idade e sexo embora elevado metabolismo muscular possa aumentar os níveis de
creatinina na circulação.
(b) Ao contrário da ureia a creatinina é totalmente excretada pelos glomérulos, não havendo a reabsorção tubular: por isso utilizada
como índice de filtração glomerular.

Alterações - Azotemia e Uremia: é diagnosticada através da interpretação dos resultados das provas de ureia e creatinina - são
diferenciadas a partir de suas características:

(A) Azotemia: ocorre aumento das concentrações séricas ou plasmáticas de uréia e creatinina, porém sem os sinais clínicos
característicos deste acumulo - como etiologias deste acumulo se tem:

Azotemia Extra-Renal: pode ter duas etiologias:


(a) Aumento na síntese de substâncias nitrogenadas: ocorre secundário ao consumo de altas quantidades de proteínas e em
hemorragias gastrointestinais.
(b) Por situações com catabolismo proteico aumentado: em febre, traumas generalizados (queimaduras p.e) e na aplicação de
alguns fármacos glicocorticoides e tetraciclinas por exemplo).

Azotemia Pré-Renal: relacionado a diminuição da taxa de perfusão renal, o que pode ocorrer por motivos diversos - a diminuição
do volume ou pressão sanguínea pode ocorrer na insuficiência cardíaca esquerda, desidratação, hipovolemia e choque, hemorragias, etc.

Azotemia Renal: ocorre na insuficiência renal aguda ou crônica - nestes casos o acumulo de ureia e creatinina está relacionado as
lesões glomerulares, disfunção tubular e as lesões da vasculatura renal.

Azotemia Pós-Renal: pode ter como causas


I - Ruptura da bexiga.
II - Obstrução do TUI: seja por cálculos, neoplasias ou corpos estranhos.

Uremia: ocorre pela evolução do processo de azotemia - surgem então os sinais característicos de enteropatia urêmica.
I - Sinais clínicos de hálito amoniacal, úlceras (cavidade bucal, língua e estomago), diarréia profusa até sanguinolenta e vômitos.
II - Concentração de uréia e creatinina é maior no sangue que na urina.

PS: no decorrer do desenvolvimento da azotemia o animal passar a urinar em um volume maior, porem com o passar do
tempo/com o desenvolvimento da uremia passa a acontecer o inverso - os rins do animal passa a ter dificuldade em diluir a urina,
apresentando sinal clinico de oligúrica e anúria - ver no gráfico abaixo.

3.3 - Outros testes bioquímicos: provas como sódio, potássio e fósforo séricos podem ser úteis no diagnóstico de doenças renais uma vez
que são elementos excretados normalmente pela urina - são menos utilizadas na pratica.
Aula 1 - Avaliação endócrina das glândulas suprarrenais:

1 - Introdução:

Anatomia: parênquima é divido em córtex e medula, cada uma possuindo funções fisiológicas distintas:
Córtex: produz 3 tipos de substancias endógenas, cada uma produzida por uma zona distinta - da parte externa para interna estas
zonas:
Mineralocorticoides (zona glomerulosa): desempenham papel importante no controle do equilíbrio hidroeletrolítico, e
consequentemente no controle da pressão arterial - o principal representante do grupo é a aldosterona, cuja síntese é controlada
principalmente pelo sistema renina-angiotensina e pelas concentrações séricas de potássio.

Glicocorticoides (zona fasciculada): ocupa 80% do córtex e produz glicocorticoides, principalmente o cortisol.

Esteroides sexuais (zona reticular): responsável pela síntese de andrógenos (testosterona) - responsáveis pelo principalmente pelo
desenvolvimento e maturação dos órgãos sexuais.
PS1: esteroides possuem também funções extras de inibira mitose epidérmica, diminuir produção de melanina e aumentam o
número de glândulas sebáceas.
PS2: zona também atua - em menor grau - na produção de glicocorticóides, estrógenos e progesterona.

Medula: produz noradrenalina e adrenalina.

Possíveis distúrbios endócrinos: a mal função da adrenal ou de seus sistemas de regulação pode levar a
(a) Hiperadrenocorticismo
(b) Hipoadrenocorticismo

2.1 - Hiperadrenocorticismo (Síndrome de Cushing): endocrinopatia envolvendo a adrenal, a qual cursa com o excesso de glicocorticóides
endógenos (espontâneo) ou exógenos (iatrogênico) - geralmente acomete cães de meia-idade a idosos.
PS: uma das endocrinopatias mais comum em cães (especialmente nos idosos) - em gatos é considerada rara.

Estimulo para glicocorticoides: importante se ter conhecimento, já que sua disfunção leva a um dos distúrbios endócrinos mais comuns (
1ª - Em situação de stress o hipotálamo é estimulado a liberar CRH (hormônio liberador da corticotrofina) - processo pode ocorrer por
alterações físicas, emocionais e químicas (como exemplos a dor, trauma, hipóxia, hipoglicemia aguda, exposição ao frio e cirurgias).

2ª - Este atua na hipófise anterior (adeno-hipofise), levando a produção e liberação de ACTH - este hormônio é responsável quase que
inteiramente pela regulação da liberação de glicocorticoides.

3ª - ACTH estimula o córtex da glândula adrenal a secretar glicocorticoides, mineralocorticoides e esteroides andrógenos - sendo que a
função primária deste é a estimulação da secreção de glicocorticoides.

4ª - O cortisol liberado na circulação atua como feedback de retroalimentação negativo, inibindo tanto a liberação de CRH como a do
ACTH.
PS: além do cortisol, os glicocorticoides sintéticos também podem inibir a secreção de ACTH

Etiologias (3): de acordo com a causa da disfunção é dividida em origem hipofisária, adrenal ou iatrogênica:
(a) Hiperadrenocorticismo hipófise dependente (HHD - origem hipofisária): ocorrem pelo desenvolvimento de tumores funcionais na
hipófise, os quais levam a liberação excessiva de ACTH na circulação - como consequências as adrenais são estimuladas em excesso, levando
ao aumento de produção e liberação de cortisol na circulação - é a causa mais comum de HAC espontâneo, sendo encontrado em
aproximadamente 80% a 85% dos casos.
PS1: nesses casos nas necropsias pode ser verificado alteração de hiperplasia bilateral das adrenais - ficam ambas aumentadas devido
ao estimulo difuso pelo ACTH.
PS2: ainda sobre a necropsia, estatisticamente se tem que o adenoma de pars distalis é o achado histológico mais comum - uma
porcentagem menor de cães é diagnosticada com adenoma de pars intermedia e apenas em alguns casos é decorrente de carcinoma de
hipófise funcional.

(b) Hiperadrenocorticismo adrenal dependente (HAD): ocorre por tumores funcionais na adrenal, levando a maior produção e liberação
de cortisol na circulação - o excesso de cortisol produzido por esses tumores suprime a concentração plasmática de ACTH circulante,
causando atrofia do córtex contiguo ao tumor e da adrenal contralateral.
PS1: na grande maioria dos casos os tumores são unilaterais, porem pode ocorrer como bilateral também:

PS2: nos casos de tumor em apenas uma das glândulas, na necropsias é verificado atrofia unilateral de uma das adrenais, com
hiperplasia da glândula oposta - como o cortisol no sangue aumenta o hipotálamo é hipófise sofrem feedback negativo, o que leva a
glândula sem tumor a atrofiar: porem como a glândula com tumor não necessita de estimulo para produzir ela segue se hiperplasiando
independentemente da ausência de sinais de modulação.

PS2: corresponde aos 15 a 20% restantes dos casos de HAC espontâneo.


PS3: adenomas e carcinomas adrenocorticais ocorrem com frequência semelhante.

(c) Hiperadrenocorticismo iatrogênico: ocorre pela administração externa de glicocorticoides (com cortisona e hidrocortisona por
exemplo) em doses inadequadas ou em tratamentos de longa duração - quando no sangue estas substancias geram feedback negativo no
hipotálamo e hipófise da mesma forma que as substancias endógenas fariam.

PS1: na necropsia é verificado atrofia bilateral das adrenais - ocorre já que um feedback negativo é gerado pelos fármacos.
PS2: dependendo do caso o feedback de regulação de glicocorticoides podem ser permanentemente desligado - nestes casos o uso de
glicocorticoides exógenos passa a ser terapêutico.
PS3: a terapia com tais medicamentos geralmente é realizada na tentativa de controlar distúrbios alérgicos ou imunomediados.

Sinais e achados clínicos: são semelhantes aos sinais de alta concentração crônica de cortisol sérico, que é o principal glicocorticoide
liberado pelas glândulas adrenais - se apresentam principalmente como alterações metabólicas e dermatológicas.

Sinais Metabólicos:
I - Poliúria e polidipsia: possivelmente ocorre pela diminuição da ação ou produção do hormônio antidiurético (vasopressina) por
atuação do cortisol // a polidpsia é secundária a poliúria.
II - Polifagia: pode estar presente - ocorre devido ao efeito anti-insulínico do cortisol.
III - Obesidade: ocorre pelo aumento/redistribuição do tecido adiposo a nível abdominal - em alguns casos o corpo do animal pode se
apresentar em “forma de barril”: esta distensão abdominal e resultado da combinação da obesidade com a ocorrência de hepatomegalia.
PS1: a hepatomegalia por sua vez é atribuída ao acúmulo de gorduras e carboidratos no fígado, secundário ao efeito dos
glicocorticoides no metabolismo lipídico e glicídico - alteração pode ser diagnosticada na necropsia ou técnicas de diagnóstico por imagem.

IV - Abdômen pênduloso: decorrente das alterações citadas na obesidade - vale citar que a alteração dérmica de perda de
elasticidade também é um fator da condição.

V - Fraqueza muscular: consequências do aumento dos glicocorticóides, os quais (1) inibem a síntese proteica e (2) favorecem o
catabolismo proteico - determinam a depleção da massa muscular.
V - Respiração ofegante e letargia: possível consequência da fraqueza e atrofia muscular.
V - Paralisia facial e miotomia: pelo catabolismo proteico muscular.

VI - Anestro prolongado e baixa libido: nos machos pode ocorrer também atrofia testicular.

Sinais dermatológicos:
I - Alopecia e hipotricose: é a alteração dermatológica mais comumente encontrada em cães com HAC - tem progressão lenta e se
inicia pelo tronco (posteriormente atinge os flancos, a zona perineal e o abdômen).
PS1: geralmente é bilateral e simétrica.
PS2: geralmente não possui caráter pruriginoso, porem o prurido pode estar presente devido a outros fatores concomitantes
(especialmente por infecções secundarias pela imunossupressão).

II - Pele fina e inelástica: principalmente no abdômen ventral - isto em conjunto com a distensão abdominal e com as alterações dos
vasos sanguíneos, torna possível a visualização da vasculatura subcutânea.
III - Distúrbios de cicatrização: ocorre pela inibição da proliferação de fibroblastos e da síntese de colágenos, o que predica na
cicatrização de feridas.
IV - Infecções secundarias: relacionado a imunossupressão causada pelas altas concentrações de cortisol, o que torna a pele mais
susceptível a infecções - como exemplos se tem as piodermites e dermatofitoses.

V - Outros (menos comuns): incluem seborreia, comedões, contusão, calcinose cutânea e hiperpigmentação da pele.

Outras complicações:
I - Efeito de Imunossupressão: possui efeito leucotoxico e de alteração cinética de leucócitos.

II - Hipertensão: ocorre em cerca de 59 a 86% dos cães com síndrome de cushing - mecanismos são diversos:
(a) Possuem atividade mineralocorticóide intrínseca.
(b) Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona.
(c) Aumento da atividade inotrópica.
(d) Aumento da sensibilidade vascular a vasopressores endógenos.
III - Diabetes melito: cerca de 10% dos pacientes com HAC desenvolvem - os glicocorticoides estimulam a gliconeogênese no fígado
e diminuem a taxa de utilização da glicose pelas células, com consequente aumento nos níveis glicêmicos do organismo.
PS: nesses casos são observados ainda os sinais clínicos decorrentes dessa condição.

IV - Dentre outras: pielonefrite, cálculos vesicais, nefropatias, insuficiência cardíaca congestiva, pancreatite, tromboembolismo
pulmonar e a síndrome do macrotumor hipofisário.

Predisposição: alguns fatores podem levar a uma maior taxa de ocorrência do hiperadrenocorticismo - como principais exemplos:
I - Idade: cães de meia idade e idosos são mais afetados - taxa com maior ocorrência sendo com 10 e 11 anos.
II - Sexo: cerca de 60 a 65% dos animais afetados são fêmeas.
III - Raça: várias raças de cão têm predisposição - poodle, dachshund, beagles, terriers, boxer.

Diagnóstico:
A - Anamnese: de grande ajuda especialmente nas de etiologia iatrogênica.
B - Exame clinico: avaliar a presença dos sinais citados.

C.1 - Exames complementares - Hemograma:


Eritrograma: a contagem de hemácias geralmente é normal, embora possa ocorrer policitemia moderada - ocorre como resultado do
efeito estimulador dos glicocorticoides sobre a medula óssea.
PS: trombocitose também pode estar presente.

Leucograma: apresenta leucograma de “stress” - leucocitose por neutrofilia com desvio a direita e monocitose (segundo apenas em
cães) // linfopenia e eosinopenia.
PS1: a neutrofilia ocorre devido aos efeitos dos glicocorticoides sobre a cinética dos neutrófilos, gerando desvio destes do
compartimento marginal para o compartimento circulante via inibição de produção de moléculas de adesão - processo pode dobrar a
concentração de neutrófilos do sangue - também devido a esta alteração os neutrófilos passam mais tempo na circulação, podendo se tornar
hipersegmentados (desvio a direita).
PS2: a linfopenia também resulta de alterações na cinética dos linfócitos - tanto pela diminuição da saída dos linfócitos dos
linfonodos como pela redistribuição destes na medula óssea // a linfólise pelos corticoides também influencia na ocorrência.
PS3: monocitose também ocorre pelo desvio de monócitos do compartimento marginal para o circulante.

C.2 - Exames complementares - Perfil bioquímico:


FA (fosfatase alcalina): exclusivamente em cães os glicocorticoides induzem a produção hepática de uma isoenzima da fosfatase
alcalina (FA), de maneira que as concentrações séricas de FA apresentam-se aumentadas em mais de 90% dos casos de HAC - o aumento da
FA é comumente de cinco a 40 vezes o valor superior de normalidade (determinação bioquímica mais sensível para o HAC).
PS1: importante ter em mente que se dentro dos valores de referência não exclui o diagnóstico de HAC // também que o aumento
de FA pode ocorrer por uma variedade de condições diferentes.
PS2: a indução desta isoenzima só foi verificada no cão até o momento.

ALT (alanina aminotransferase): em geral fica moderadamente aumentada (<400 UI) - ocorre secundariamente a lesão hepática
causada por hepatócitos tumefatos, acúmulo de glicogênio ou interferência no fluxo sanguíneo hepático
T3 e T4: cerca de 70% dos cães com hiperadrenocorticismo tem diminuições nas concentrações de T4 basal sérico - ocorre pois o
hipercortisolismo crônico (iatrogênico ou natural) suprime a secreção hipofisária do TSH, causando hipotireoidismo secundário.

Alanina aminotransferase (ALT): comumente fica elevada no HAC, porem o aumento geralmente é discreto - ocorre como resultado
de danos hepáticos causados pelo acúmulo de glicogênio nos hepatócitos.
Colesterol: aumento é comumente encontrado - os glicocorticoides causam lipólise e aumentam as taxas de triglicérides e colesterol,
sendo que mais de 50% dos pacientes apresentam aumento dessas variáveis
Lipídios: lipemia é comumente encontrada (cerca de 90% dos casos).

Glicose: geralmente está elevada (cerca de 45% dos casos) - hiperglicemia é causada pelo antagonismo à ação da insulina e pelos
efeitos gliconeogênicos que o excesso de glicocorticoide promove.
PS: uma pequena parte dos animais pode ate mesmo desenvolver diabetes (cerca de 10%).

C.3 - Urinálise: urinálise e a cultura da urina são essenciais em todos os casos suspeitos de HAC.
Densidade urinaria: fica diminuída, geralmente estando inferior a 1,015-1.020 em 85% dos cães - importante ter em mente porem que
esses animais podem concentrar a urina se forem privados de água.

Proteinúria: é um achado comum em cães com HAC ainda sem tratamento - pode estar associada com hipertensão sistêmica e
glomerular, glomerulonefrite ou glomerulonefrite induzidas pelo glicocorticoide.
PS: geralmente diminui e se resolve em resposta ao tratamento do HAC.
Cultura de urina: a infecção do trato urinário é comum nestes casos (cerca de 40 a 50% dos cães com HAC) - pode ser decorrente do
excesso de glicocorticóide resultando na imunossupressão // a retenção de urina que é comum em cães com poliúria grave e fraqueza
muscular também pode predispor infecções.
PS: recomenda-se fortemente a realização de urocultura e antibiograma a partir de urina obtida por cistocentese,
independentemente das alterações observadas na urinálise.

Glicose: cerca de 5 a 10% dos casos ocorre com glicosúria, o que indica que a diabetes mellitus está presente, o que requer
tratamento específico.

C.4 - Exames de Imagem:


Radiografia: as alterações abdominais mais consistentes nos cães com HAC são aumento do contraste abdominal secundário à
distribuição aumentada de gordura no abdômen - além disto pode ocorrer pela hepatomegalia e aumento da vesícula urinária (segunda
secundária ao estado poliúrico).
PS1: o achado mais importante (porem menos comum) seria uma massa de tecido mole ou calcificação na área da glândula
adrenal, sendo este indicativo de tumor na adrenal - raro porque apenas 10 a 20% dos cães com hiperadrenocorticismo possuem tumor
adrenocortical, sendo ainda que dentro desses apenas 50% estarão calcificados, permitindo visão radiográfica.
PS2: radiografias torácicas podem avaliar possível metástase pulmonar de um carcinoma adrenocortical.
PS3: também podem mostrar diminuição da densidade óssea e calcificação de tecidos moles devido aos efeitos do cortisol.

Ultrassonografia: é utilizada para avaliar o tamanho e forma das adrenais, além de para procurar anormalidades adicionais no
abdômen - nos casos de tumor na adrenal a ultrassonografia fornece uma boa estimativa do tamanho do tumor e pode revelar informações
sobre sua expansão - as informações citadas quanto a achados de necropsia podem ser evidenciados por este método:
(a) massa adrenal unilateralmente aumentada e a massa adrenal contralateral anormalmente pequena ou não visível é
evidência de tumor adrenocortical (HAD).
(b) ambas adrenais com tamanho relativamente igual (normal ou grande) em um animal com suspeita de síndrome de Cushing é
considerado forte evidência em favor de disfunção hipofisária (HHD).

Tomografia computadorizada e Ressonância Magnética: são métodos extremamente precisos e confiáveis para avaliação tanto das
glândulas adrenais como da hipófise - a TC permite a visualização de grandes tumores hipofisários, enquanto que a RM é mais precisa para
visualizar tumores hipofisários menores.

D - Testes de função: incluem o teste de estimulação pelo ACTH, de supressão com baixa dose de dexametasona (SBDD), de supressão
com alta dose de dexametasona (SADD) e mensuração da razão cortisol:creatinina urinária (RCCU).

Teste de estimulação pelo ACTH: consiste na mensuração da concentração de cortisol antes e uma hora depois da administração de
ACTH por IM ou IV (geralmente um análogo sintético) - resultados são interpretados da seguinte forma:
Hipofisário dependente (HHD): nesses casos as glândulas do animal têm capacidade de secretar quantidade de cortisol maior que
as de cães saudáveis, sendo assim o aumento nas concentrações de cortisol no soro pós a administração do ACTH é indicativo desta
alteração: igual ou maior que 22 µg/dL, sendo que o normal é 0,5 a 6µg/dL.
Adrenal dependente (HAD): as células neoplásicas não são necessariamente responsivas ao ACTH ou níveis de cortisol, sendo
assim os resultados por este teste são menos previsíveis - as concentrações de cortisol pós-ACTH podem estar acima, dentro ou raramente
abaixo do intervalo de referência - ou seja, o teste não diferencia HAD e HHD.
Hiperadrenocorticismo iatrogênico (HI): é o teste de escolha para o diagnóstico de condição, o qual possui sinais clínicos iguais
aos da síndrome adquirida - nesses casos a concentração normal de cortisol basal é baixa na primeira medição e não vai haver resposta ao
teste de ACTH - este é o único teste de triagem que diferencia o hiperadrenocorticismo de ocorrência natural do iatrogênico, que pode ser
útil caso o proprietário não perceba que o cão esteja recebendo medicações glicocorticóides.

PS1: pode ocorrer tanto falsos positivos quanto falsos negativos.


PS2: teste também pode ser utilizado para monitorar a terapia com mitotano.

Teste de supressão com baixa dose de dexametasona (SBDD): considerado o teste de escolha para o diagnóstico da HAC devido a sua
relativa acurácia - na maioria dos casos de HAD e em cerca de 90 a 95% dos casos de HHD em cães o teste é mais confiável para a
confirmação de HAC do que o de estimulação com o ACTH (próximo item).
1ª - A mensuração do cortisol é feita antes da administração de dexametasona.
2ª - A dexametasona é administrada por via intravenosa na dose de 0,01 a 0,015 mg/kg - esta dose suprime a secreção de ACTH
por mais de 24 horas nos casos de uma glândula hipófise saudável: a falta de secreção de ACTH leva à redução das concentrações de cortisol
no prazo de duas a três horas.
3ª - É feito novamente a mensuração do cortisol mais duas vezes - a interpretação diferencia entre animais normal e HAC:
PS1: é o teste mais sensível, porem também o menos específico e mais afetado pelo estresse - em cães cronicamente doentes e/ou
estressados os efeitos de supressão de dexametasona podem ser ofuscados pela estimulação do hipotálamo, resultando em um resultado
falso-positivo.
PS2: um resultado negativo neste teste indica que o diagnóstico de HAC é muito improvável (porem um positivo não gera certeza
da ocorrência).

Supressão com alta dose de dexametasona: mais efetivo em diferenciar o hiperadrenocorticismo dependente da hipófise de um tumor
adrenal do que o anterior - uma dose 10 vezes maior do que o SBDD é administrado por via intravenosa (0,1 mg/kg) e o protocolo de
amostragem de sangue é o mesmo.
1ª - Colher uma amostra de sangue antes do teste - realizar a dosagem do cortisol nesta.
2ª - Administrar dose de 0,1 mg/kg de dexametasona I.V - por ser similar ao cortisol ela gera feedback negativo na hipófise e
hipotálamo.
PS: apesar de ser similar ao cortisol a dexametasona não interfere com radioimunoensaio para dosagem de cortisol (passo
seguinte).
3ª - Colher novas amostras de sangue 4 e 8 horas após - dosar cortisol nas 3 amostras
Normal: cortisol abaixa a menos que a metade dos níveis da dosagem inicial após 4 horas, sendo que permanecem nesse nível
por oito horas após a administração de dexametasona - ocorre pois a substancia gera feedback negativo no hipotálamo e hipófise.
HHD: cortisol abaixa a menos que a metade dos níveis da dosagem inicial após 4 horas, porem volta a subir após 8 horas - a
substancia gera supressão variável da hipófise pelo FBN.
HAD: cortisol não é suprimido em nenhuma medição - produção tem origem tumoral e logo não depende do estimulo do ACTH
(esta já está suprimida inclusive).

Mensuração da concentração de ACTH endógeno basal: idem, sendo o teste mais preciso para diferenciação de HHD e HAD - não
existe sobreposição nas concentrações de ACTH entre cães com HHD e HAD, sugerindo 100% de acurácia.
HAD: a secreção de ACTH é suprimida e as suas concentrações no plasma são invariavelmente baixas (abaixo do limite de
detecção do ensaio - menor que 5 pg/mL).
HHD: secreção de ACTH é variável, mas as suas concentrações no plasma são normais ou elevadas - como o teste não
diagnostica o HHD em todos os casos ele não é indicado para a identificação inicial do hiperadrenocorticismo.

Relação cortisol/creatinina na urina: a quantidade urinária de cortisol é um reflexo da quantidade cumulativa de excreção de
cortisol durante um período de algumas horas - como a creatinina é relativamente estável quando os rins estão funcionando normalmente,
dividindo-se a concentração de cortisol urinário pela concentração de creatinina urinária elimina-se o efeito do volume urinário na
interpretação da concentração do cortisol urinário.

PS1: o teste não avalia a resposta do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal à estimulação ou supressão.


PS2: um resultado positivo na razão cortisol:creatinina urinária não ajuda a diferenciar o HAC de outras doenças.
PS3: determinações basais do cortisol plasmático obtidas aleatoriamente não são de valor diagnóstico.

Interpretação: a relação normal de cortisol/creatinina na urina descarta o hiperadrenocorticismo, mas o aumento dessa relação
não é exclusivo do hiperadrenocorticismo - é considerado um teste de baixa especificidade, porém elevada sensibilidade.
PS: teste poderia ser indicado nos casos de poliúria e polidipsia sem outros sinais clássicos de Cushing, porém se “positivo”
necessita exames posteriores adicionais.

Coleta: deve ser feita preferencialmente em casa pelo próprio dono (minimiza alteração pelo estresse, aumentando a especificidade
do teste) - são coletadas amostras em 10 manhãs consecutivas.

RCCU combinado: pode ser feito nos casos em que os resultados da SBDD ou a RCCU forem inconclusivos, porém ainda existe a
suspeita de HAC.
1ª - A urina é coletada pelo proprietário em dois dias consecutivos às 08:00 horas para mensuração basal de RCCU.
2ª - Imediatamente após a coleta da segunda amostra de urina, o proprietário administra 0,01 mg/kg de dexametasona por via
oral.
3ª - Depois de passear com o cão às 12:00 e 14:00 horas para garantir o esvaziamento da bexiga, o proprietário recolhe uma
terceira amostra de urina do cão às 16:00 horas - resultados da RCCU superiores a 1,0 x 10-6 são encontrados em cães com HDP.

Tratamento do hiperadrenocorticismo:
(a) Nos tumores hipofisários (HHD):
I - Tratamento clínico com mitotano (Lisodren®): é a principal solução - é um fármaco adrenocorticolítico que causa necrose
progressiva das zonas fasciculada e reticular, porem poupando a zona glomerulosa (consequentemente a secreção de mineralocorticóides) -
os cães tratados com mitotano sobrevivem em média 31,4 meses.
PS: nos primeiros dias da terapia é observada a redução do apetite, da ingestão de água e da produção de urina // nas primeiras
semanas o cão apresenta aumento de atividade //os outros sinais levam de semanas a meses para desaparecer (como abdome pênduloso e
melhora na pelagem).
II - Hipofisectomia: não é comumente realizada em cães.

(b) Nos tumores de adrenal (HAD):


I - Mitotano: também pode ser usado, porém os tumores adrenocorticais são mais resistentes ao efeito do fármaco em relação ao
tratamento do hiperadrenocorticismo dependente da hipófise.
II - Adrenalectomia: seria o tratamento ideal e resulta em resolução dos sinais clínicos, porem como o tratamento clínico com
mitotano é relativamente fácil o risco da cirurgia não é justificado - também é uma alternativa memnos viável nos casos de cães debilitados
ou com donos que não permitam a cirurgia.

(c) Terapia da diabetes mellitus: é concomitante com a síndrome de Cushing em cerca de 5 a 10% dos cães afetados - o tratamento é
igual os dos cães com HAC não diabéticos: como o hiperadrenocorticismo causa antagonismo a insulina a redução das concentrações
circulantes de cortisol devem reduzir a necessidade de insulina.

(d) Outros tratamentos - Cetoconazol: a administração de baixas doses de cetoconazol levam a uma redução significativa nas
concentrações de androgênio séricas (ocorre via interação do anel imidazólico com o citocromo P-450 constituinte de vários sistemas de
enzimas esteroidogênicas dos mamíferos) // em doses mais altas a secreção de cortisol fica suprimida - o cetoconazol é usado com mais
frequência para estabilizar cães antes da cirurgia.
PS1: o fármaco é administrado diariamente com doses crescentes até que o teste de estimulação com ACTH tenha cortisol
plasmático pré e pós ACTH menores que 5 µg/dL - a remissão clínica em geral exige 30 mg/kg de cetoconazol por dia, cronicamente.
PS2: a principal desvantagem é o medicamento é caro, sendo ainda que alguns cães não apresentam respostas e exige a
administração duas vezes ao dia indefinidamente.

(e) Outros tratamentos (sob pesquisa) - L-deprenil: aumenta a concentração de dopamina, causando regulação descendente dos
níveis de ACTH - de forma geral estes tratamentos são menos efeitos que os anteriores ou ainda estão sobre pesquisa.
(e) Outros tratamentos (sob pesquisa) - Mifepristona: também conhecida como RU486, sendo que inibe a ligação de cortisol
competitivamente na altura do receptor - o resultado é o bloqueio do efeito da retroalimentação de cortisol na secreção do ACTH, assim
como o bloqueio dos efeitos sistêmicos do cortisol: gera melhora em 50% dos pacientes com tumor adrenocortical, mas não nos dependentes
da hipófise (já que nestes casos o excesso de ACTH e do cortisol superam o bloqueio do receptor).
(e) Trilostano: interfere na biossíntese da esteroidogênese adrenal inibindo competitivamente a 3β-hidroxiesteróide desidrogenase -
é uma opção terapêutica para cães com HDH ou com tumor adrenocortical.

2.3. Hipoadrenocorticismo: é uma doença rara no cão, sendo causada pela produção adrenal deficiente de glicocorticóides e/ou
mineralocorticóides.

Tipos: a hipofunção pode ser dividida em


(a) Insuficiência adrenocortical primária (doença de Addison): sinais clínicos da insuficiência adrenocortical só ocorrem com a perda de
até 90% da capacidade funcional do córtex da adrenal - é mais comum que a secundaria nos cães.
Etiologias: causada pela destruição do córtex adrenal, seja autoimune ou idiopática - tem como consequência a deficiência de
produção de aldosterona e cortisol.

(b) Insuficiência adrenocortical secundária: ocorre devido à secreção hipofisária deficiente do ACTH - esta deficiência pode ocorrer de
forma direta ou indireta pela secreção reduzida de CRH - esta doença ainda não está bem descrita nos cães, tendo ocorrência mais rara de
forma geral.
Etiologias: determina deficiência de cortisol - como possíveis causas sendo:
I - Lesões na hipófise ou hipotálamo: podem estar associadas com neoplasia, inflamação ou trauma.
II - Origem iatrogênica: pode ocorrer decorrente da superdosagem de mitotano.

Anamnese:
I - Cadelas são mais acometidas que os machos: proporção de 7:3.
II - Maioria dos animais acometidos têm entre 2 e 7 anos de idade.
III - Algumas raças parecem ter maior risco: poodle standard, pastor alemão, dogue alemão, são bernardo e basset hound p.e.

Sinais clínicos: são vagos e inespecíficos, sendo compatíveis com outros distúrbios como doenças gastrintestinais, renais e
neuromusculares primárias - os sinais clínicos são basicamente devido à deficiência de glicocorticóide: as principais observações relatadas
pelo proprietário são anorexia, letargia, vômito, diarréia, perda de peso, calafrios e fraqueza muscular grave.
PS: os achados clínicos são inespecíficos e incluem letargia, desidratação, fraqueza, hipotermia e pulso fraco - além disso indivíduos
com deficiência glicocorticóide possuem uma taxa de filtração glomerular reduzida e são incapazes de secretar carga hídrica, provavelmente
devido à secreção aumentada do hormônio antidiurético (ADH).

Achados laboratoriais:
A - Hemograma: anemia normocítica normocrômica em 20 a 30% dos cães.
Leucograma: cerca de 20% dos cães apresenta eosinofilia absoluta e 10% apresentam linfocitose absoluta.
B - Alterações eletrolíticas: tais anormalidades eletrolíticas em um cão com letargia, fraqueza, anorexia, vômito e/ou diarréia poderiam
indicar hipoadrenocorticismo, embora não sejam específicas:
Hiponatremia e hipercalemia: gera desbalanço na relação Na:K sendo um achado clássico do hipoadrecorticismo primário
(hiponatremia ocorre em cerca de 83% dos cães) - resulta da deficiência de aldosterona (mineralocorticóide):
Perda de cloreto e água: idem - hipocloremia é encontrada em cerca de 46% dos casos, sendo um achado típico nos animais com
deficiência de aldosterona.
Acúmulo de potássio e hidrogênio: idem - hipercalemia pode ocorrer em cerca de 90% dos casos.

C - Bioquímica sérica:
Azotemia pré-renal: aumento das concentrações séricas ou plasmáticas de uréia e creatinina, porém sem os sinais clínicos
característicos deste acumulo - relacionado a diminuição da taxa de perfusão renal (a compensação vascular da hipovolemia fica
prejudicada e é possível colapso vascular).
Glicose: cerca de 20% dos cães com hipoadrenocorticismo estão hipoglicêmicos.

D - Urinálise: densidade urinaria fica diminuída (<1030).

E - Testes de função - Teste de estimulação do ACTH: é o único meio de diagnosticar o hiperadrenocorticismo (seja primário ou
secundário).
1ª - Colher amostra sanguínea inicial no animal.
2ª - Esperar uma hora e administrar 0,25 mg de ACTH sintético.
3ª - Esperar mais uma hora e colher uma terceira amostra
Insuficiência adrenal primária: deficiência de corticoides e mineralocorticoides é decorrente de distúrbio da adrenal, sendo assim a
aplicação endógena não gera resultado algum - não ocorre aumento em resposta ao ACTH exógeno.
Insuficiência adrenal secundária: é decorrente da falta de ACTH, porem as células adrenocorticais atrofiadas são incapazes de
responder a estimulação aguda com o ACTH exógeno.

PS1: em ambos os casos concentração do cortisol sérico de 2µg/dL ou menos após a estimulação confirma o diagnóstico do
hipoadrenocorticismo.

E - Testes de função -Nível plasmático de ACTH endógeno: útil para identificar a forma secundaria, excluindo a etiologia primaria - no
caso do hipoadrecorticismo secundário os níveis plasmáticos de ACTH ficam diminuídos.

E - Testes de função -Nível plasmático de Aldosterona: também para diferenciar - na forma primaria fica diminuído.
PS: uma terceira forma de diferenciar entre as etiologias são as alterações eletrolíticas - como dito anteriormente na forma
primaria (destruição de adrenal) ocorre a deficiência tanto de glicorticoides quanto de mineralocorticoides, sendo assim o equilíbrio
eletrolítico é afetado: a relação Na:K é um ótimo parâmetro para avaliar este equilíbrio.

F - Radiografia torácica: microcardia, veia cava caudal e aorta descendente estreitadas e hipoperfusão dos campos pulmonares. A
gravidade desses achados em geral correlaciona-se com o grau da hipovolemia.
PS: o megaesôfago é um achado raro.

G - Eletrocardiografia: pode ser usada para confirmar a suspeita de hipercalemia.

Tratamento de emergência da insuficiência adrenocortical: a insuficiência requer tratamento imediato - se o diagnóstico tentativo for feito
com base nas anormalidades clínicas, eletrocardiográficas ou eletrolíticas a terapia apropriada deve ser iniciada.
I - Fluidoterapia: a de escolha é feita com solução de NaCl a 0,9%, resultando em redução acentuada na concentração do potássio
sérico - importante efeito na restauração da perfusão renal e correção da acidose.
II - Tratamento com corticóides: é importante e deve ser feito com hemisuccinato de hidrocortisona ou fosfato de hidrocortisona,
ambos por via intravenosa - a hidrocortisona possui efeitos de glicocorticoide e mineralocorticóides.

Tratamento a longo prazo: varia de acordo com a etiologia:


Hipoadrenocorticismo primário: o tratamento por via oral é instituído após a estabilização do paciente e quando ele estiver comendo
normalmente e não estiver mais vomitando - é necessária a suplementação tanto de mineralocorticóides quanto de glicocorticóides.
I - Mineralocorticóides: a reposição pode ser feita com acetato de fludrocortisona ou pivalato de desoxicorticosterona.
II - Glicocorticóides: apenas 50% dos cães com fludrocortisona requerem glicocorticóides adicionais - caso necessário pode ser feita a
prednisona ou prednisolona.

Hipoadrenocorticismo secundário: é necessária apenas reposição de glicocorticóides - feito com prednisona ou prednisolona.
Aula 2 - Avaliação endócrina da glândula tireoide:

1 - Introdução: a tireoide é a glândula endócrina mais importante na regulação do metabolismo animal e produz hormônios que possuem
inúmeros efeitos metabólicos - a tireóide é composta por dois lobos situados abaixo da laringe, um em cada lado da traquéia e unidos por
uma porção estreita de tecido denominado istmo.
PS: presente em todos vertebrados.

Hormônios secretados pela tireóide


Hormônio T4: corresponde a 90% da proporção do hormônio no sangue - importante já que o T4 atua como um reservatório na
corrente sanguínea do animal, sendo convertido em T3 conforme a necessidade metabólica do sistema.
Hormônio T3 (triiodotironina): corresponde aos 10% de hormônio restantes - possui função metabólica e atua promovendo as ações da
tireoide.

Anatomia da tireoide: se encontra localizada caudalmente à traqueia, entre o primeiro e segundo anéis traqueais - a tireoide se divide em
dois lobos, ficando um de cada lado da traqueia e conectadas por um istmo.

Histologia: é formada por estruturas denominados de


Folículos tireoideanos: são as unidades anatômicas funcionais da glândula tireóide - são compostos por uma camada de células
foliculares distribuídas em arranjo circular: estas células foliculares secretam para o interior do folículo uma substância gelatinosa
denominada coloide, que é a principal forma de armazenamento dos hormônios tireoidianos tiroxina (T4) e triiodotironina (T3).
Células parafoliculares: preenchem o espaço entre os folículos (junto ao parênquima) - estas células são responsáveis por secretar a
calcitonina, hormônio associado ao metabolismo do cálcio.
2004).

Modulação da produção: a regulação das concentrações dos hormônios tireoideanos é controlada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireóide
1ª - Hipotálamo libera TRH (hormônio liberador da tiroxina) - este atua na hipófise anterior, estimulando a liberação de TSH
(hormônio estimulador da tireoide).
2ª - O TSH atua na glândula tireoide estimulando a liberação de T3 e T4.

3ª - No sangue estes hormônios podem alternar entre as formas de hormônio livre e conjugado, o que ocorre de acordo com a
necessidade do sistema - as moléculas na forma livre podem:
(a) Interagir com as células, tendo efeitos diversos.
(b) Atuar no hipotálamo e hipófise, gerando feedback negativo - diminuem a secreção de TRH e TSH.

Produção e ação dos hormônios: para o processo de síntese dos hormônios tireoideanos são necessárias duas moléculas importantes - a
tirosina e o iodo.
1ª - Incialmente é necessário que os precursores estejam disponíveis no sistema para o uso pela tireoide:
Tirosina: é parte de uma grande molécula chamada tireoglobulina, que é formada dentro da célula folicular e secretada para dentro
do lúmen folicular.
Iodo: é ingerido na alimentação, sendo convertido em iodeto no trato gastrintestinal para que sua absorção seja possível - a partir da
circulação o iodeto é transportado até a tireóide, onde é retido pelas células foliculares por mecanismos de transporte ativo da membrana
plasmática basal.

2ª - Os precursores devem ser absorvidos para o uso pela glândula:


(a) Na tireoide o iodeto é capturado via mecanismos de transporte ativos da membrana plasmática basal da célula folicular - esta
absorção resulta em uma concentração intracelular de iodo de 10 a 200x maior que a sérica.
PS: processo é potencializado pela interação do TSH (hormônio estimulador da tireoide).

(b) Também na glândula, sob estímulo do TSH (hormônio tireotrófico) o colóide contendo tirosina é absorvido para dentro da célula
tireoideana e é incorporado ao iodeto - se uma molécula de iodeto se acopla a uma molécula de tirosina ele passa a ser chamado de
monoiodotirosina (MIT) // se ele se acoplar a duas moléculas ele é chamado de diiodotirosina (DIT).
3ª - Os hormônios são sintetizados a partir de duas moléculas de tirosina conectadas, que contem três (T3) ou quatro (T4) moléculas de
iodo - ou seja, dependendo dos componentes substratos sofrendo ligações moleculares as moléculas de MIT e DIT podem formar dois tipos
de produtos:
Tetraiodotironina (T4): pela formação de ligações moleculares entre duas moléculas de DIT.
Triiodotironina (T3): entre uma molécula DIT e uma MIT.

4ª - O T4 é sintetizado e secretada pela tireóide, sendo o tipo de molécula tireoideana encontrada em maior proporção na circulação -
no sangue o T4 pode ser encontrado sobre duas formas, que variam de acordo com a demanda do sistema:
T4 conjugado: é a forma predominante no sangue, estando ligada a proteínas plasmáticas - esta atua como reservatório e tampão
para manutenção adequada do hormônio livre no plasma.
Forma livre (fT4): parte restante do hormônio, o qual é biologicamente ativa e capaz de entrar na célula e exercer o feedback
negativo no eixo hormonal.

5ª - Embora todo o T4 seja secretado pela tireóide, este é rapidamente desiodado nas células-alvo para formar a T3 ativa ou T3r
reversa - processo ocorre por meio da remoção do iodeto pela enzima 5’-monodesiodinase (os tecidos que tem maior concentração dessas
enzimas são o fígado, rins e musculatura), sendo que a maior parte da formação de T3 ocorre fora da glândula tireóide pelo processo de
desiodação de T4.
T3 ativa: é produzida durante estados metabólicos normais - apesar de estar em pequena quantidade é o hormônio metabolicamente
ativo capaz de exercer maiores efeitos fisiológicos, com uma capacidade de 3 a 5x vezes maior que o fT4 de entrar na célula e se ligar aos
receptores.
T3 reversa: é biologicamente inativa, sendo produzida somente pelo processo de deiodação - aumento tem causas extratireoideanas,
ocorrendo durante estados doentios, inanição ou catabolismo endógeno excessivo.

6ª - Dentro das células a T3 ativa (resultante da deiodação de fT4) interage com receptores nucleares, modulando a síntese de RNA
mensageiros - estes por sua vez:
(a) Estimulam organelas e proteínas intracelulares, com consequente aumento de consumo de O2 e taxa de metabolismo na célula.
(b) Estimulam a produção de proteínas e hormônios por esta célula, os quais atuam em outros sistemas tendo efeitos diversos.

Funções - Efeitos de T3 e T4: de forma geral são responsáveis por estimular o metabolismo, atuando de formas e em tecidos diversos -
sendo assim possuem uma ampla variedade de efeitos fisiológicos:
(a) Metabolismo celular: estimulam a respiração a oxidação nas mitocôndrias de todas as células.
(b) Metabolismo tecidual: aumentam a taxa metabólica, produção de calor e consumo de oxigênio de quase todos os tecidos.
PS: possuem efeito sobre o coração, musculatura e gordura.

(c) Crescimento: essenciais para o crescimento e desenvolvimento normais dos sistemas neurológico e esquelético - em associação com o
hormônio do crescimento os hormônios tireoidianos são necessários para um crescimento e desenvolvimento normal, já que participam no
aumento de captação de aminoácidos por tecidos e sistemas enzimáticos envolvidos na síntese proteica.
PS1: também importante no desenvolvimento embrionário - influencia no crescimento corporal e desenvolvimento do SNC.
PS2: importante no sistema esquelético pois auxilia na maturação dos centros de crescimento ósseo e remodelação em adultos.
PS3: também participa na maturação pulmonar.

(d) Efeitos cardiorrespiratórios: todos estes possuem função de suprir a demanda do metabolismo aumentada a nível celular e tecidual:
I - Geram marcante ação inotrópica no coração (aumenta o DC).
II - Estimulam a eritropoiese e (3) estimulam a ventilação e trocas gasosas no pulmão -
III - Eleva a frequência respiratória - importante para a eliminação do CO2, que tem sua formação aumentada.
IV - Aumenta a síntese de surfactantes pelos pneumócitos.

(e) Sistema nervoso: participa no desenvolvimento do SNC e acentua o estado de vigília e alerta.

(f) Sistema Renal:


I - Gera aumento geral na função renal e excreção de ureia - útil na eliminação dos metabólicos do sistema, que estão aumentados.
II - Acelera a absorção de glicose.
III - Estimula a produção de eritropoietina.

(g) Hepático:
I - Aumenta o número de receptores LDL no fígado - tem efeito de diminuir o colesterol circulante.
II - Estimula a lipólise.
III - Auxiliam na formação de glicogênio // em doses maiores estimulam a glicogenólise.

(h) Metabolismo de carboidratos: estimulam este por diversas vias, incluindo:


I - Interferência na absorção intestinal de glicose e facilitação do armazenamento de glicose pelas células adiposas e musculares.
II - Facilitam a captação de glicose via insulina: auxiliam na formação de glicogênio // doses maiores estimulam a glicogenólise.
(i) Pele: participa na manutenção do ciclo de crescimento e maturação da epiderme, folículos pilosos e unha.

Distúrbios da tireoide: podem ocorrer como hipotireoidismo ou hipertireoidismo.

2.1 - Hipotireoidismo: caracterizada pela deficiência na produção e secreção de hormônio da tireóide T4 e T3 (tiroxina e triiodotironina), o
que leva a redução das funções metabólicas - as endocrinopatias estão entre as doenças mais comumente diagnosticadas na clínica de
pequenos animais, sendo que entre estas o hipotireoidismo é uma das principais afecções (especialmente em cães).
PS: é a doença endócrina que mais afeta os cães, ocorrendo devido ao desequilíbrio em qualquer parte do eixo hipotálamo-hipófise-
tireoide.

Predisposição:
Idade: é relatado mais frequentemente em cães de meia idade, entre 4 e 10 anos.
Porte: ocorre mais em raças grandes.
Raças: uma grande quantidade destas são predispostas - porem qualquer raça pode apresentar.
Castração: cães castrados de ambos os sexos parecem ter um risco significativamente maior de hipotireoidismo que os não castrados.
Continente: no brasil o hipotireoidismo em cães é cerca de 10 a 30 vezes mais frequente (6,5%) que em países da europa (0,64%) e EUA
(0,2%) - este fato vem sendo atribuído a elevados níveis de iodo nas rações de cães.

2.1.1 - Tipos (etiologias): disfunção pode ocorrer devido a uma anomalia em qualquer parte do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide,
podendo pode ser classificada como:

A - Hipotireoidismo primário: o tipo mais comum, correspondo a cerca de 95% dos casos clínicos - processo é desencadeado quando
ocorre destruição do tecido glandular da tireoide, resultando em deficiência na produção dos hormônios - como principais causas se tem:
I - Tireoidite linfocitária (tireoidite autoimune): se caracteriza por uma infiltração de linfócitos na glândula tireoide com progressiva
destruição secundária dos folículos tireoidianos - pode ser diagnosticada pela presença de anticorpos contra a tiroglobulina ou outros
componentes da célula folicular.
PS1: a destruição progressiva da glândula leva três a quatro anos para se tornar completa - acredita-se que os sinais clínicos do
hipotireoidismo são notados quando mais de 75% da glândula é destruída (maior parte do período de destruição não possui sinais).
PS2: condições imunomediadas de forma geral têm sua etiologia muito associada a um componente genético, o que determina o
fato de que certas raças podem apresentar maior predileção ou resistência a sua ocorrência.

II - Atrofia folicular idiopática.


III - Destruição neoplásica: por tumores tireoidianos.
IV - Tireoidectomia.

Independente da causa o resultado final é a destruição progressiva da glândula tireoide e a consequente deficiência dos hormônios
tireoidianos na circulação.

B - Hipotireoidismo secundário: correspondem a cerca de 5% dos casos, sendo desencadeado pela diminuição da secreção de TSH -
dentre as causas podem ser citadas tumores e malformação das pituitárias (hipofise).
PS1: resulta em atrofia folicular secundária.
PS2: geralmente está associada a neoplasias e hiperadrenocorticismo adquirido.

C - Hipotireoidismo terciário: ocorrência é rara - resulta de uma falha de liberação do TRH produzido pelo hipotálamo - esta falha pode
estar associada a uma má formação do hipotálamo ou destruição do mesmo pela presença de neoplasias, abcessos ou inflamações severas.

Outros tipos (etiologias): outro tipo de classificação utilizada se baseia na forma de desenvolvimento - congênita ou adquirida - sendo
ainda que a origem pode ser também nutricional (não se enquadra em nenhuma classificação anterior).

X - Hipotireoidismo congênito (ou cretinismo): raramente é diagnosticado nos cães ao nascimento, sendo que suas causas já relatadas
incluem deficiência de iodo, disgenesia tireoidea e disormonogênese // também pode ser secundário devido à deficiência da produção
hipofisária de TSH.

Y - Hipotireoidismo Nutricional: causado por uma alimentação desbalanceada de iodo (todo iodo ingerido pelo animal é destinado à
síntese de hormônios tireoidianos).
Deficiência de iodo: é um problema raro no cão hoje em dia, visto que de forma geral as rações comerciais possuem três vezes mais
iodo do que a exigência mínima.
Excesso de iodo: pode ser uma das causas do hipotireoidismo em cães - estudo experimental indica que tanto rações comerciais
quanto dietas caseiras que contenham elevados teores de iodo são capazes de induzir hipotireoidismo em cães.
PS1: apesar de já estar bem documentado que o excesso de iodo na alimentação de animais e humanos é uma das causas do
hipotireoidismo, este fator ainda não se encontra relacionado dentre as etiologias descritas (não se enquadra em nenhuma classe).
PS2: filhotes sobre nutrição inadequada são especialmente sensíveis ao desenvolvimento por esta etiologia.
PS3: ocorre em função do efeito Wolf-Chaikoff, pelo qual níveis elevados de iodo impedem a sua própria captação pela tireoide.

2.1.2 - Sinais clínicos: ocorrem por distúrbio multissistêmico, sendo assim os sinais clínicos são generalizados, variáveis e bastante
inespecíficos, o que dificulta seu diagnóstico (ocorrência é bastante subnotificada) - não existe um sintoma patognomônico que defina e
diagnostique o hipotireoidismo.
(a) Diminuição do metabolismo: pode levar aos sinais de letargia e apatia (70% dos casos), ganho de peso sem consumo alimentar
aumentado (60%), intolerância ao frio (15%), bradicardia e pulso fraco (10%), intolerância ao frio e alteração no nível de consciência.

(b) Alterações dermatológicas: ocorre em cerca de 80 dos casos - pode ocorrer como
I - Alopecia não pruriginosa, bilateralmente simétrica no tronco (mais comum).
II - Aspecto de calda de rato: também bastante comum - ocorre pela alopecia e alterações de pelagem na região da calda.
III - Pelo seco e quebradiço.
IV - Hiperpigmentação: devido à queda na metabolização de hormônios melanotróficos.
V - Mixedema: uma ptose que ocorre secundário ao acúmulo dérmico de mucopolissacarídeos na região facial, que pode levar a um
edema não penetrante - responsável pela expressão facial trágica clássica associada ao hipotireoidismo (ocorre em cerca de 20% dos casos).
VI - Piodermites secundarias.

(c) Alterações comportamentais: podem ocorrer comportamentos anormais associados a doença, geralmente na forma de agressão e
“mal humor”, especialmente vindo de animais que nunca tiveram tal comportamento - ocorre pois:
I - O hipotireoidismo afeta o turnover da serotonina, que é um neurotransmissor envolvido no controle da agressividade.
II - Além dos baixos níveis de serotonina alguns pacientes com hipotireoidismo têm também os níveis de cortisol (hormônio do
estresse) bem elevados, o que leva à um estado de tensão constante - essa tensão é associada a depressão e a função mental deficiente.

(d) Outras: são menos comuns em ocorrência:


I - Neuropatias generalizadas ou miopatias.
II - Megaesôfago.
III - Anormalidades do sistema nervoso central.
IV - Nanismo.
V - Anormalidades reprodutivas.
VI - Diabetes melito insulino resistente.
VII - Anormalidades oculares.
VIII - Coma.
2.1.3 - Diagnostico: o diagnóstico do hipotireoidismo é baseado nos sinais clínicos, achados laboratoriais, testes de função da tireóide e na
resposta da terapia de reposição hormonal.

Sinais clínicos e histórico: a associação dos sinais de diminuição da taxa metabólica com as anormalidades dermatológicas aumenta a
suspeita clínica de hipotireoidismo - porém o diagnóstico presuntivo leva em conta também os achados dos exames físico e laboratoriais.

Achados laboratoriais: as alterações laboratoriais relacionadas com o hipotireoidismo são bem caracterizadas e estão intimamente
correlacionadas à severidade e cronicidade da doença - apesar de não serem patognomônicas a presença destas alterações no paciente com os
sinais clínicos da doença ajuda a direcionar o diagnóstico.

(a) Painel bioquímico: pode ocorrer aumento de leve a moderado em suas atividades, porem são sinais não patognomônicos - como
exceção os níveis de colesterol aumentados são um indicativo importante de hipotireoidismo.

A.1 - Hiperlipidemia (Hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia): é a alteração mais clássica associada ao hipotireoidismo, sendo
encontrada em até 75% dos pacientes - é decorrente principalmente de uma hipercolesterolemia, sendo que vários mecanismos estão
envolvidos com este aumento plasmático de lipídios:
I - A falta de hormônios da tireoide ocasiona uma menor síntese e degradação de lipídeos, porém com o efeito de menor síntese
sendo mais marcado - isto predispõe o acúmulo de colesterol e triglicerídeos no plasma.
PS: a diminuição na síntese de lipídios por sua vez também tem o efeito de diminuir a taxa de excreção do colesterol biliar.
II - Redução de lipólise lipoprotéica periférica: como consequências as moléculas de LDL e HDL ficam aumentadas na
circulação.

III - Interferência nos receptores de LDL:


1ª - Este receptor media a endocitose de LDL (que é rico em colesterol) - sendo assim sua presença mantem os níveis
plasmáticos adequados de LDL.
2ª - Na redução nos hormônios tireoidianos ocorre diminuição da expressão de receptores de LDL no fígado - este receptor
está presente em todas células nucleadas, porém o fígado é o principal órgão de remoção de lipídios (remove até 70% de todo LDL da
circulação)
3ª - A ausência destes receptores leva a permanência destes lipídios na circulação.

PS: elevações pronunciadas no exame podem indicar hipotireoidismo, apesar de outras doenças também causarem aumento no
colesterol (diabetes mellitus e o hiperadrenocorticismo como exemplos).

A.2 - FA e ALT: podem ter aumento discreto, porem ocorrência é incomum - relacionado ao distúrbio do metabolismo lipídico no
fígado
A.3 - Creatinina quinase: idem - ocorre secundário a miopatia induzida pela própria doença.
A.4 - Calcio: em alguns cães com hipotireoidismo congênito pode ser observada hipercalcemia leve.

(b) Hemograma: a anemia arregenerativa normocítica normocrômica discreta é um achado de menor consistência (pode ocorrer em
30 a 40% dos cães com hipotireoidismo) - ocorrência está relacionado à ausência de efeito estimulatorio direto dos hormônios tireoidianos
nos precursores eritróides na medula óssea e a queda nas demandas periféricas pelo oxigênio.

(padrão de apresentação - normocítico e normocrômico)

(c) Histopatologia - Biópsias de pele: são geralmente realizadas em caninos com suspeita de alopecia endócrina, especialmente se os
testes diagnósticos de triagem (incluindo testes de avaliação da função da glândula tireóide) não identificarem a causa - entre as alterações
consideradas específicas do hipotireoidismo estão o aumento de espessura de pele, aumento de conteúdo de mucina dérmica, comedões:
constituem uma indicação para uma avaliação subsequente da função da glândula tireóide.

(c) Histopatologia - Biópsia tireoidiana: é um método extremamente útil e confiável para o diagnóstico do hipotireoidismo e
diferenciação das formas primaria e secundária, sendo ainda especialmente efetivo para identificar tireoidite linfocíticas e atrofia severa da
tireoide - é considerado o método conclusivo para a identificação da doença, porem possui algumas desvantagens e observações a serem
feitas:
Desvantagens:
I - Procedimento é invasivo e pode levar a paralisia de laringe e/ou lesão de tecido da paratireoide.
II - Também dispendioso e que necessita de disponibilidade de tempo por parte do veterinário.
III - Não possui garantia de que produzirá um diagnóstico definitivo.
IV - As variações da aparência histológica da tireoide podem ser confundidas com casos de hipotireoidismo secundário.
V - Nem sempre é capaz de fornecer dados claros sobre o estado funcional da glândula, principalmente quando os sinais clínicos
ou testes de função não são evidentes.

(d) Exames de imagem - Raio X convencional: não é um procedimento de rotina para a avaliação de hipotireoidismo canino, porem
pode identificar:
Interpretação:
I - Visualização de metástases: nos casos em que o hipotireoidismo se desenvolveu a partir e um tumor invasivo da tireóide
II - Cães com hipotireoidismo congênito podem mostrar anormalidades ósseas: atraso no fechamento das epífises, disgenesia
epifiseal, corpo vertebral diminuído, entre outras.

(d) Exames de imagem - Ultrassonografia: resultados são variáveis e incluem:


I - Hipoecogenicidade do parênquima comparado com a musculatura ao redor.
II - Decréscimo no tamanho e volume dos lobos e de toda glândula.
III - Superfície irregular da cápsula.

PS1: resultados sugestivos na ultrassonografia podem ser úteis juntamente com os testes endócrinos para diferenciar cães
hipotireoideos de cães eutireoideos com doença não tireóidea.

(e) Urinálise: não revela alterações.


(f) Leucograma: é tipicamente normal e a contagem de plaquetas pode estar normal ou aumentada.
(g) Cintigrafia nuclear: consiste na determinação da absorção do iodo radioativo pela glândula tireóide num determinado período de
tempo - em cães normais o pico da absorção (48-72 horas após a administração) é de 15% da dose administrada // a absorção de menos de
5% da dose caracteriza um cão com hipotireoidismo primário.
PS: teste é relativamente insensível para o hipotireoidismo, sendo impraticável para o uso de rotina.

Testes específicos da função tireoidiana: o melhor teste disponível no mercado atualmente é um painel completo que abrange 8 tipos de
análise para a amostra de sangue coletada, as quais identificam todas as alterações possíveis no funcionamento tanto da hipófise quanto da
tireoide: este analisa T3 livre e T4 livre, T3 total e T4 total e anticorpos (contra hormônios, TSH ou TRH).
PS1: é o tipo de teste mais indicado e utilizados para avaliar a função da tireóide em cães suspeitos de hipotireoidismo.
PS2: lembrar porem que apesar da alta sensibilidade, possuem baixa especificidade - motivo pelo qual o hipotireoidismo pode ser
facilmente diagnosticado erroneamente (falso positivos).

Existem inúmeros testes laboratoriais para avaliar a função tireoidiana, com os principais sendo:

(a) Concentração sérica basal de T4 total: um dos principais testes utilizados, já que a doença é tipicamente caracterizada por baixos
níveis do hormônio tiroxina da tireoide (T4) e da sua fração livre (T4 livre), além de aumento dos níveis de TSH - o teste da concentração
total de T4 inclui tanto a mensuração da T4 livre quanto da T4 ligada às proteínas do sangue.
PS1: determinação é realizada pela técnica de radioimunoensaio (RIA), já que é mais exata do que o método ELISA.
PS2: gera importante informação para o descarte do diagnóstico de hipotireoidismo, porem pode levar a falsos positivos (valores
de animais eutireóideos e hipotireoidismo podem acabar se sobrepondo) - pode ocorrer devido a flutuação sérica normal de T4 por variação
de idade, raça, presença de doença não tireóidea e influência de certas drogas.

Interpretação: como o hormônio T4 tem sua produção restrita a glândula tireoide, cães hipotireoideos podem na maior parte dos
casos, serem diferenciados de animais saudáveis apenas analisando a queda decorrente
na concentração sérica de T4 - porem lembrar que outras situações podem gerar falsos
positivos.

Eutireoidismo: entre 2 e 4 µg/dl.


Hipotireoidismo: abaixo de 0,85 µg/dl.
PS1: não utilizar somente por um valor arbitrário de T4 sérico para distinguir o eutireoidismo do hipotireoidismo - valor deve
ser interpretado com base na anamnese, no exame físico e outros dados clínicos patológicos.
PS2: outra forma de confirmar o diagnóstico de hipotireoidismo com um teste dinâmico da função tireoidiana - teste de
estimulação com TSH ou TRH como exemplos.

(b) Concentração sérica basal de fT4 (ou T4L): é melhor que a mensuração de T4 total para avaliar a função da glândula tireóide
pois a concentração da fT4 é menos afetada por fatores que alteram a ligação proteica, além de que parece ser menos afetada por doenças
não tireóideas e pelo uso de drogas do que a T4 total - o melhor método para determinação sérica de fT4 é a diálise de equilíbrio modificada
(MED).
PS1: caso presentes os anticorpos anti-hormônio da tireóide circulantes não interferem nos resultados de ft4 determinados pelo
método de MED.
PS2: a técnica MED é considerada um método é difícil e demorado, sendo muitas vezes substituído alternativamente por
radioimunoensaios próprios para o uso humano - porem estes geram resultados menos fidedignos (mais afetado por doenças não
tireoideanas e fármacos).

Interpretação (MED):
Eutireoidismo: acima de 1,5 ng/dl.
Hipotireoidismo: abaixo de 1 ng/dl (pp. inferiores a 0,5 ng/dl)

PS: admitindo-se que a anamnese, o exame físico e as anormalidades laboratoriais também sejam consistentes com a doença.

(c) Concentrações de T3 total: essa mensuração não é recomendada para o diagnóstico de hipotireoidismo pois concentrações de T3
podem aparentar normais em muitos cães hipotiroideos -
PS: concentrações elevadas de T3 e T4 em cães com suspeita de hipotireoidismo podem ser consistentes com a presença de
anticorpos contra os hormônios tireóideos.

(d) Concentração Séricas de Tirotropina (TSH): atualmente existem duas provas de TSH canino (TSHc): o teste imunorradiométrico
e um teste caseiro - independente do tipo este teste possibilita a melhor compreensão do eixo hipófise-tireoide.
PS1: como os hormônios T3, fT3 e rT3 em sua grande maioria é formada em locais extratireoidianos a mensuração das
concentrações séricas de T3, fT3 e rT3 não é recomendada para avaliação da glândula tireóide nos caninos - ou pelo menos não é um teste de
primeira escolha ou de avaliação única.
PS2: a concentração sérica de TSH pode aumentar em cães eutireoideos com enfermidade não-tireoidiana - ou seja, é possível
ocorrência de falsos positivos.
PS3: cerca de 20 a 40% de caninos hipotireóideos podem ter concentrações de TSHc normais (inferiores a 0,6 ng/dl) - FNs.

Interpretação: a concentração de TSHc fica aumentada na maior parte dos casos de hipotireoidismo primário devido à perda da
retroalimentação de T3 e T4 na glândula hipófise, porem este parâmetro deve sempre ser interpretada em conjunto com as concentrações
séricas de T4 e fT4:
I - TSHc alto junto a T4 ou fT4 baixas em um animal com histórico e exames compatíveis - diagnostico de HpoT primário.
II - Concentrações normais de TSHc, T4 e fT4 - descarta o hipotireoidismo.
III - Qualquer outra combinação de concentrações séricas TSHc, T4 e fT4 é de difícil interpretação.

(e) Teste de estimulação com TSH e TRH: avaliam a resposta da tireóide frente à administração exógena de TSH e TRH - literatura
recomenda inúmeros protocolos de estímulo com TRH, porem se tem que doses acima de 0,1mg/kg podem provocar efeitos colaterais como
sialorréia, micção, defecação, vômito, miose, taquicardia, taquipnéia.

Indicações:
I - Identificação de hipotireoidismo primário.
II - Diferenciação entre hipotireoidismo e síndrome do eutireoideo doente em cães que apresentam baixas concentrações de
hormônio da tireóide por outras condições que reduzem os níveis de T4.
III - Também indicado quando o diagnóstico da enfermidade não ficou bem estabelecido depois do histórico, achados no exame
físico, dados clinicopatológicos; quando as concentrações dos hormônios tireóideos não foram esclarecedoras.

Interpretação:
I - Eutireoidismo: apresentam concentrações séricas de T4 superiores a 3 µg/ml após a administração de TSH exógeno.
II - Hipotireoidismo primário: apresentam concentrações inferiores a 1,5 µg/ml - estimulação não gera efeito (ou pouco efeito) já
que a alteração é da hipófise ou hipotálamo.
Hipotireoidismo terciário e secundário: têm diferentes respostas a administração do TSH exógeno - resposta depende da duração
da doença e da severidade da atrofia da glândula tireóide.
(f) Anticorpos anti-tireoglobulina (TgAA): testes especifico para a identificação de hipotireoidismo primário por tireoidite
linfocíticas - em caninos com tireoidite linfocítica os autoanticorpos contra Tg (TgAA) foram identificados mais vezes do que para auto
anticorpos contra T3 e T4 - sendo assim a determinação de TgAA se mostrou um melhor teste para triagem da tireoidite linfocítica.
Observação: a presença de TgAA significa alteração na glândula, mas não proporciona informações sobre a gravidade ou a
natureza progressiva da resposta inflamatória ou a extensão do envolvimento da glândula - sendo assim este parâmetro não deve ser
utilizado isoladamente no diagnóstico de hipotireoidismo: valores de T4T, T4L e TSH devem ser agendadas para monitoramento.
Indicações: a mensuração de TgAA não é um indicador sensível da disfunção da tireoide, mas a sua boa especificidade confere
benefícios como uma segunda linha de teste de diagnóstico, particularmente se as concentrações de TSH canino e T4 total não são
confirmatórias.
Interpretação: a presença de auto anticorpos anti-hormônios da tireóide e antitireoglobulina (Tg) circulantes parecem estar
correlacionados com a presença de tireoidite linfocíticas, sendo encontrado em cerca de 50% dos casos no hipotireoidismo primário -
lembrar porem que a sua correlação com o hormônio TSH e o tratamento do animal assintomático somente pelo aumento de TGAA ainda
não estão claros.

(f) Anticorpos anti-T3 e anti-T4: presença de auto anticorpos anti-hormônios também pode ser indicativo de tireoidite linfocíticas,
sendo encontrado em cerca de 50% dos casos no hipotireoidismo primário.
PS: quanto a presença de anticorpos anti-hormônios tireóideo, quando medidos pelo RIE representam problemas práticos e
interpretativos sérios - podem estar sub ou superestimando as concentrações séricas de T3 e T4, porem a diálise de equilíbrio é o único
método confiável para a determinação da fração hormonal livre.

2.1.4 - Diagnósticos diferenciais: incluem hiperadrenocorticismo, hipersensibilidade alimentar, demodicose, dermatofitose e quadros de
imunossupressão.

2.1.5 - Tratamento do hipotireoidismo (geral): tem como objetivo a terapia de reposição do hormônio tireoideo e a anulação da deficiência
de hormônio tecidual, imitando o padrão natural de secreção e metabolismo do hormônio tireoideo - o tratamento de escolha é feito com
A-tiroxina ou levotiroxina sódica (T4 sintético): em geral a terapia é necessária por toda a vida do animal - utilizado a fim de restabelecer os
valores séricos normais dos hormônios T3 e T4 para a espécie.

Posologia: tratamento é feito por via oral na dose inicial de 0,02 a 0,04 mg/Kg/dia - a frequência de administração inicial é BID, porem
quando se obtém resposta no tratamento pode ser reduzido a SID (a cada 24 horas).

Prognostico: iniciado o tratamento de maneira correta observa-se melhora do quadro dermatológico do animal com 4 a 6 semanas de
medicação instituída - sinais clínicos relacionado ao sistema reprodutor pode demorar vários meses de tratamento para cessar seus sinais.
PS: caso o tratamento for arresponsivo deve-se reavaliar o quadro clínico do animal e recalcular a dose e a frequência especifica.

2.1.6 - Ocorrência em felinos: apesar de o hipotireoidismo ser considerada a doença hormonal mais comum de cães, os felinos raramente
desenvolvem esta doença de forma espontânea.

Etiologias:
I - Hipotireoidismo iatrogênico primário: é a causa mais comum de hipotireoidismo em felinos - ocorre pela destruição ou retirada das
tireoides após tratamento com iodo radioativo ou cirurgia para hipertireoidismo.

II - Hipotireoidismo congênito: ocorrência natural pode estar associada a um problema congênito - agenesia, disgenesia ou
disormoniogênese como exemplos.

Sintomas na forma congênita: filhotes com hipotireoidismo congênito podem apresentar redução na taxa de crescimento após quatro
semanas de vida, nanismo desproporcional, letargia, retardo mental, bradicardia, hipotermia, constipação e perda de peso - além disso,
orelhas pequenas, dificuldade na erupção dos dentes permanentes e retardo no fechamento das epífises podem ser observados.

Sintomas em adultos: semelhante aos dos cães


I - Aumento de peso e/ou obesidade sem alterações alimentares.
II - Sinais dermatológicos: também podem ocorrer, porem são menos comuns quando comparado a em cães - gatos com início
adulto da doença apresentam principalmente seborreia seca, pelos sem brilhos e que despelam facilmente // alopecia é um achado pouco
comum, e quando presente restringe-se à pina // ocorrência de mixedema também pode ser observada.

III - Alterações neurológicas: podem ou não ocorrer - depressão, confusão, estupor, intolerância a mover-se, etc.
IV - Alterações cardíacas: idem - diminuição dos batimentos cardíacos, hipotermia ou alterações a nível do coração.
V - Sinais neuromusculares: idem - debilidade, falta de vontade de caminhar ou brincar, atrofia das muscular de extremidades.
VI - Alterações reprodutivas: cios mais longos, infertilidade, atrofia testicular em que quase desaparece o saco escrotal, diminuição
do desejo sexual.

Diagnóstico: similar ao do cão.

2.2 - Hipertireoidismo: também conhecido como bócio tóxico, tireotoxicose ou doença de graves - é uma doença causada por uma
glândula de tireoide muito ativa que libera o hormônio de tireoide em excesso: como consequência gera aumento da taxa metabólica do
animal afetado.
PS: por ser uma doença silenciosa e progressiva é essencial o diagnóstico precoce a fim de evitar complicações e aumentar a expectativa
de vida dos animais afetados.

2.2.1 - Epidemiologia:
Felinos: é a doença endócrinas mais comuns em felinos domésticos de meia idade a idosos (neoplasias e hipertireoidismo são problemas
frequentes em gatos senis).
I - Ocorre em cerca de 10% dos pacientes felinos com mais de 10 anos.
II - Pode ocorre em gatos entre 4 e 22 anos, sendo que 95% dos felinos acometidos têm mais de 10 anos de idade.

Cães: ocorrência em cães e bastante rara.

2.2.2 - Etiologia:
Gatos: quase sempre é causado por uma disfunção autonômica da tireóide, raramente rendo por uma alteração no hipotálamo ou na
hipófise - a maioria dos casos de hipertireoidismo é causada pelo adenoma tireóideo ou pela hiperplasia adenomatosa multinodular,
afetando um ou mais comumente, ambos os lobos da glândula tireóide.
PS1: menos de 2% dos casos ocorrem como resultado de carcinoma tireóideo funciona.
PS2: as causas para o desenvolvimento não são completamente entendidas e podem ser multifatorial - fatores imunológicos,
nutricionais e ambientais que podem, tanto sozinhos como associados, levar a alterações moleculares que podem contribuir com a doença.

Cães: como dito anteriormente a existencia de hipertireoidismo em caninos é extremamente rara, porem quando ocorre está associada
ao desenvolvimento de carcinomas de tireoide - estes são um tipo de uma neoplasia bastante comum dentre os tumores de tireoide, porém
os tumores de tireoide representam apenas cerca de 2% de ocorrência frente a todos demais tumores.

2.2.3 - Sinais clínicos: maioria dos sinais clínicos ocorre devido a uma taxa metabólica basal acelerada, afetando vários órgãos e levando a
um aumento do consumo de oxigênio pelos tecidos - os sinais mais comuns são emagrecimento com perda acentuada de massa muscular,
taquicardia, polifagia, polidipsia, poliúria, diarreia êmese e hiperatividade // em mais de 80% dos casos resulta na ocorrência de bócio
(aumento da glândula tireóide).
PS1: a perda de peso é secundária ao aumento do metabolismo basal, que requer maior demanda calórica e acarreta uma ingestão
maior de alimentos (polifagia).
PS2: o aumento da frequência de defecação e a diarreia são secundários à hipermotilidade intestinal.
PS3: em alguns casos (raros) o animal pode apresentar letargia e falta de apetite.

Diagnósticos diferenciais: diabetes mellitus e doença renal crônica.

2.2.4 - Diagnostico: normalmente realizado usando-se a combinação de sinais clínicos, palpação da tireóide, testes laboratoriais ou de
imagem.

Sinais clínicos e anamnese: presença dos sinais clínicos indicados e animal com histórico compatível.

Exame clínico: neste podem ser encontrados


I - Aumento nas taxas respiratórias e cardíaca pela auscultação.
II - Glândula de tireoide palpável ocorre em alguns animais: deve-se palpar a tireóide sempre que houver suspeita dessa afecção -
caso o nódulo não seja evidenciado inicialmente, pode-se mudar a posição da cabeça e palpar duas a três vezes em cada lado deslizando os
dedos lateralmente à traquéia.
PS1: um ou mais lobos tireóideos aumentados no exame físico não pode definir se o animal é hipertireóideo, pois o aumento da
tireóide ocasionalmente pode ser encontrado em gatos sem alterações clínicas e sem evidência laboratorial da doença.
PS2: apesar de alguns gatos com aumento da tireóide permanecerem eutireóideos por longos períodos de tempo, muitos eventualmente
desenvolvem o hipertireoidismo.

III - Perda de massa muscular perceptível na inspeção externa e palpação.


IV - Alteração de pelame na inspeção (opaco).
V - Ocorrência de hipertensão é possível.

Achados laboratoriais:
(a) Painel bioquímico:
A.1 - Ureia, creatinina e fosforo (azotemia): frequentemente ficam aumentadas nestes pacientes - nenhuma nefropatia específica é
atribuída ao hipertireoidismo, no entanto acredita-se que o aumento da pressão do capilar glomerular e da proteinúria em gatos com
hipertireoidismo possa contribuir para a progressão da doença renal.

A.2 - Enzimas hepáticas (ALT, AST e FA): aumento ocorre em 90% dos casos, no entanto estas retornam para os valores de
referência após o tratamento: provavelmente ocorre em decorrência da má nutrição, da insuficiência cardíaca congestiva, da anóxia
hepática e do efeito tóxico direto dos hormônios tireoidianos no fígado.
A.3 - Bilirrubina total: também pode estar elevada - mesmo motivo que a das enzimas hepáticas.
A.4 - Desidrogenase Lática (LDH): aumento pode ocorrer, sendo indicativo de lesão muscular - as alterações musculares são
frequentes em pacientes com distúrbios da tireoide, sendo um diagnóstico diferencial das miopatias.

(b) Hemograma: a alteração hematológica mais frequente é a eritrocitose com leve policitemia, o que ocorre em cerca de 47% dos
gatos hipertireóideos - alteração é ocasionada pelo elevado consumo de oxigênio e pelo estímulo B-adrenérgico sobre a medula óssea e
aumento na eritropoietina, ambas elevando a taxa de eritropoiese.
PS: células sanguíneas possuem alteração morfológica de macrocitose.

B.1 - Hematócrito: geralmente elevado - ler acima.


B.2 - Leucograma: apresenta leucograma de “stress em cerca de 20% dos casos - leucocitose por neutrofilia com desvio a direita //
linfopenia e eosinopenia - ocorre como resposta de tensão a hiperatividade (tensão) de diversos sistemas pelo excesso do hormônio.

(c) Diagnóstico por imagem - Cintilografia da tireoide: é um procedimento de medicina nuclear que demonstra visualmente o tecido
tireoidiano funcional baseado na captação seletiva de radionuclídeos pelo tecido tireoidiano - o mapeamento da tireóide com
radionucleotídeo (Tecnécio-99) fornece uma fotografia de todo o tecido tireóideo funcional, permitindo o delineamento e a localização de
áreas da tireóide funcional e não-funcional: se trata de um método que pode diagnosticar o hipertireoidismo antes mesmo de os testes
laboratoriais estarem anormais.

Indicações: considerada como padrão ouro no diagnóstico de hipertireoidismo leve ou oculto


I - Gatos com apresentação clínica compatível com hipertireoidismo porem com concentrações séricas de T4 normais.
II - Para identificar presença de tecido tireóideo ectópico em gatos com sinais clínicos de hipertireoidismo e hipertiroxinemia,
mas com ausência de nódulos palpáveis.
III - Pode também excluir o diagnóstico de hipertireoidismo em gatos saudáveis que apresentam elevações de T4 total ou livre
(falsos positivos).

Interpretação - normal:
I - Glândulas tireoidianas aparecem como duas áreas focais, ovoides e bem definidas de radionuclídeos acumulados na região
cervical, cranial, média.
II - Os dois lobos tireoidianos são simétricos no tamanho e formato e se localizam lado a lado.
III - As glândulas tireoidianas e salivares devem se apresentar igualmente cintilantes.
IV - Porcentagem de captação do indicador radioativo pela tireoide pode ser calculada e comparada com parâmetros padrões.
V - Relação tireoide/glândula salivar também pode ser calculada e comparada - últimos 2 parâmetros estão fortemente
relacionados com a concentração de hormônios tireoidianos circulantes e promovem um meio extremamente sensível de diagnóstico do
hipertireoidismo.

Desvantagens: apesar de ser considerado o melhor meio de contraste de imagem de emprego na rotina diagnóstica dessa
enfermidade em gatos, tem seu uso limitado devido a vários fatores:
I - Possui alto custo e à necessidade de um equipamento computadorizado sofisticado.
II - Necessidade de licença especial para realizar uma imagem nuclear, sendo que poucos veterinários têm acesso ao
equipamento necessário para se obter imagens da tireoide.
III - O serviço não existe no Brasil.

(d) Urinálise: importante já que o sistema renal pode ser comprometido no hipertireoidismo - como já foi dito acredita-se que o
aumento da pressão do capilar glomerular e da proteinúria em gatos com hipertireoidismo possa contribuir para a progressão de doenças
renais.

(e) Exames histológico e citológico: geralmente feitos quando a opção terapêutica escolhida é extirpação cirúrgica da glândula -
nestes casos esta deve sempre ser encaminhada para análise histopatológica devido à possibilidade deste tumor ser um carcinoma, já que
nestes casos o prognóstico e a terapia serão diferentes.

Testes específicos de função tireoidiana:


(a) Determinação de T4 total: comumente é a mais utilizada para confirmar o diagnóstico de hipertireoidismo
Interpretação: valores aumentados são extremamente específico para o diagnóstico da enfermidade, porem um resultado dentro da
normalidade não permitirá que se descarte o hipertireoidismo, uma vez que podem ocorrer flutuações circadianas dos valores séricos de T3 e
T4 ou diminuição nas concentrações de T4 total no soro decorrentes de enfermidades concomitantes não tireoidianas (nefropatia, diabete
melito, neoplasia, hepatopatia e outras afecções crônicas como exemplos).
PS: felinos com sintomas iniciais de hipertireoidismo podem apresentar T4 total ainda em níveis normais (2 a 10% dos casos),
podendo ocorrer falsos negativos - se recomenda que animais suspeitos de hipertireoidismo tenham seus níveis de T4 total reavaliados após
2 semanas.

(b) Determinação de T4 livre: é feita por diálise, sendo um teste diagnóstico bastante útil em gatos com grande suspeita de
hipertireoidismo onde a concentração de T4 total está dentro dos valores de referência.

Interpretação: um valor de T4 total médio a ligeiramente elevado associado ao valor elevado de T4 livre é consistente com
hipertireoidismo, mas um T4 total baixo associado ao valor elevado de T4 livre é associado à doença não-tireoidiana.
PS1: importante ter em mente que somente a alta concentração de T4 livre não pode determinar o diagnóstico definitivo, já que
entre 6 e 12% dos casos pode haver falso positivo devido à alta sensibilidade deste - a mensuração de T4 livre deverá ser avaliada sempre
em conjunto com T4 total para evitar tais falsos positivos.

PS - Interpretação em gatos com insuficiência renal crônica (IRC) e bócio: o hipertireoidismo só é possível de ser identificado nos
casos em que estejam apresentando T4 total e T4 livre no limite superior dos valores de referência, pois a IRC pode suprimir a concentração
de hormônio tiroxina - isto pode resultar em uma inabilidade de diagnosticar quadros de hipertireoidismos leves a moderados.

(c) Teste de supressão do hormônio tireóideo: feita com a administração de T3 (liotironina) - em animais normais esta gera inibição
da secreção do TSH hipofisário via regulação hipófise-tireoide em resposta as concentrações circulatórias elevadas do hormônio tireoideo.
1ª - Administrar a T3 (liotironina) nas doses de 25 mg/Kg-1 a cada 8 h durante - feito por 3 dias, totalizando 7 administrações.
2ª - Medir as concentrações de T3 e T4 de 2 a 4hrs após a administração da última dose (?).
Normal: a administração do hormônio tireoideo reduz a secreção do TSH pela pituitária - quando o T3 exógeno é administrado
em gatos normais, tem como consequência a redução nas concentrações séricas da T4 (<1,5 μg/dl)
Hipertireoidismo: quando a função tireoidea é autônoma, a administração do hormônio tireoideo possui pouco ou nenhum efeito
sobre a função tireoidea, já que a secreção do TSH já foi suprimida de forma crônica (invariavelmente verdadeiro no hipertireoidismo
felino) - nas mensurações ocorre aumento nos níveis séricos de T4 (> 2 μg/dl).

Desvantagens: o teste é relativamente longo em duração (três dias) e os proprietários devem administrar doses múltiplas da
liotironina (sendo que os gatos precisam engolir os comprimidos) - se a liotironina não for administrada adequadamente as concentrações de
T3 circulante não se elevam o suficiente para reduzir a secreção do TSH hipofisário: nestes casos o valor do T4 sérico não fica suprimido
mesmo se o eixo hipófise-tireóide estiver normal (gera falso positivos em gatos normais ou com doenças não tireoidianas).

Avaliações adicionais: podem ser necessárias para confirmar o diagnóstico e avaliar a condição geral do animal, uma vez que o
hipertireoidismo pode ocorrer juntamente com outras condições médicas, afetando outros órgãos - exame completo do coração, rins e outros
sistemas de órgãos do seu gato são essenciais.
2.2.5 - Tratamento: a terapia deve ser individualizada e levar em conta vários fatores, tais como idade, severidade da tireotoxicose,
presença de doença concomitante, potenciais complicações, custo e aceitação do tratamento pelo proprietário - existem três opções de
tratamento para o hipertireoidismo: uso do iodo radioativo, de fármacos antitireoidianos e procedimento cirúrgico.

metimazol
PS: após o início do tratamento, um esquema gradual com a realização dos exames deve ser realizado até que T4 total chegue ao
nível normal - nesse caso, a dosagem do T4 total, hemograma e bioquímica sérica devem ser avaliados a cada 4 a 6 meses.

Tratamento preliminar: importante em animais hipertireóideos acometidos por doença renal - utilizados para estabilizar o animal antes
do tratamento definitivo (evita descompensação da IRC):

(a) Iodo radioativo - Iodo 131: é o radionucleotídeo de escolha para o tratamento de hipertireoidismo causado por tumores funcionais
da tireóide, sendo também uma boa opção para lobos tireóideos bastantes aumentados bilateralmente, para gatos com massas tireóideas
ectópicas hiperfuncionais e em casos de carcinoma de tireóide
Posologia: é administrado por via intravenosa, concentrando-se na tireóide e destruindo células foliculares funcionais sem lesar
estruturas adjacentes.

Desvantagens:
I - Aplicação se limita a locais específicos licenciados.
II - É a opção mais cara.
III - Necessita de hospitalização prolongada.
Resultados: cura do paciente ocorre em 80% dos casos - 10% não respondem ao tratamento e 10% desenvolvem hipotireoidismo.

(b) Fármacos antitireoidianos: possui as vantagens de não ser necessária anestesia geral, ser a opção mais barata e não requerer
hospitalização.

Opções: os fármacos antitireoidianos disponíveis pertencem à classe das tionamidas - propiltiouracil, metimazol, carbimazole
Propiltiouracil: é o mais potente deste, mas possui efeitos colaterais mais sérios.
Metimazol: é o fármaco mais utilizado atualmente.

Mecanismo: inibem a síntese do hormônio da tireóide, porém, devido ao fato de não haver efeito antitumoral a glândula tireóide
continua aumentando de volume.

Desvantagens:
I - Necessitam de administração da medicação continuamente e de monitoração constante dos hormônios tireoidianos.
II - Não ocasiona na diminuição do bócio.
III - Frequentemente gera efeitos colaterais.

Posologia - Metisazona: deve ser iniciado em doses baixas, de 1,25 a 2,5mg duas vezes ao dia, para verificar se a concentração de T4
poderá ser seguramente normalizada sem causar descompensação renal - após este período pode se aumentar a dose para 5mg duas a três
vezes ao dia, dependendo da severidade da tireotoxicose.

Colaterais - Metisazona: avaliações mensais devem ser realizadas durante os três primeiros meses, pois esse é o período em que os
efeitos colaterais normalmente ocorrem - se houver qualquer efeito colateral, o tratamento deve ser interrompido.
I - Alterações hematológicas discretas, tais como eosinofilia, linfocitose e leucopenia ocorrem em 10% dos gatos.
II - Alterações menos comuns, porém mais sérias, incluem trombocitopenia, neutropenia e anemia hemolítica.
III - Hepatotoxicidade ocorre um em pequeno número de gatos (2%) - nestes casos é indicado a descontinuação e início de terapia
de apoio: geralmente após uma semana da descontinuação desse fármaco, as enzimas hepáticas retornam ao seu valor de referência, no
entanto, é comum a recidiva com o reinício do tratamento.

PS1: - ocorrem em 18% dos casos e incluem discrasias sanguíneas, escoriação facial e hepatoxicidade - nesses casos realiza-se a
descontinuação do tratamento medicamentoso e preconiza-se outra forma de tratamento.
PS2: outros efeitos colaterais menos severos são letargia, vômito e anorexia, que ocorrem em 15% dos gatos - geralmente
desaparecem com o uso contínuo da droga.

(c) Tratamento cirúrgico (Tireoidectomia): é uma opção efetiva de tratamento para gatos com hipertireoidismo, pois oferece cura
permanente sem tratamento medicamentoso contínuo, além de não necessitar de equipamento especializado - possui baixa incidência de
complicações quando realizada por um cirurgião experiente: a taxa de recorrência é baixa e ocorre principalmente devido à existência de
tecido tireóideo ectópico hiperplásico.
PS1: utilizar protocolo anestésico com mínimo efeito cardiovascular adverso ao paciente e realiza-se a estabilização pré-operatória, a
fim corrigir principalmente a hipocalemia e as alterações cardíacas.
PS2: gatos severamente afetados devem ser tratados no pré-operatório com metimazole com o intuito de estabilizar o animal,
diminuindo os riscos cirúrgicos - dosar novamente a concentração de T4 total após duas a quatro semanas de tratamento, se normal o
procedimento cirúrgico pode então ser realizado.

Potenciais complicações: incluem:


I - Mudança na vocalização.
II - Síndrome de Horner.
III - Paralisia da laringe.
IV - Hipoparatireoidismo: ocorre em casos de tireoidectomia bilateral em que houve desvascularização ou remoção inadvertida de
toda a paratireóide.

Monitoração de cálcio sérico: deve ser realizada após 18 a 24 horas da tireoidectomia bilateral, não sendo essencial em casos de
procedimento unilateral ou bilateral associado ao reimplante da glândula paratireóide em duas etapas, pois apenas uma glândula
paratireóide é suficiente para manter a normocalcemia - alterações clínicas precoces de hipocalcemia incluem letargia, anorexia, relutância
em se mover, fasciculações faciais (principalmente das orelhas), tremores musculares, tetania e convulsões.
PS: normalmente a hipocalcemia ocorre dentro das primeiras 24 horas, entretanto a dosagem da concentração do cálcio sérico
deve ser feita por no mínimo dois dias de pós-operatório.

2.2.6 - Prognostico: muitos gatos que são diagnosticados a tempo podem ser tratados com sucesso, porem felinos com hipertireoidismo
sem tratamento geralmente têm prognóstico desfavorável - gera predisposição a doenças concomitantes, tais como nefropatias,
cardiomiopatias, hepatopatias e hipertensão arterial sistêmica.
Aula 1 - Líquidos Cavitários

1 - Introdução: as cavidades corporais são normalmente banhadas por ultrafiltrado do plasma, que é responsável pela lubrificação entre as
paredes e os órgãos contidos nestas cavidades - a manutenção da quantidade deste filtrado depende de um perfeito equilíbrio entre os
fatores que governam sua produção e absorção: as pressões oncótica e hidrostática e a permeabilidade dos vasos sanguíneos.

Distribuição normal: o volume de água corporal nos animais corresponde a cerca de 65% do peso total.
PS1: percentagem está bastante relacionada a massa dos tecidos magros - animais magros possuem maior % de água que os obesos.
PS2: também varia de acordo com os tecidos e órgãos.

1.1 - Compartimentos: a distribuição de água é divisível em dois compartimentos - líquido extracelular e intracelular.

(a) Líquido extracelular: corresponde a aproximadamente 24% do total de água corporal - inclui o plasma (4%), líquido tissular (ou
intersticial - 15%) e líquido transcelular (5%).

Plasma: junto a fase intercelular líquida do sangue contém numerosos e variados cristalóides e proteínas plasmáticas, sendo que
estes as proteínas não deixam o sangue em quantidades significativas sob condições normais - apenas a água e os cristalóides têm livre
acesso aos tecidos conjuntivos.

Líquido Transcelular: aquele que ocorre em cavidades corporais, vísceras ocas, olhos e nos produtos de secreção de várias glândulas.

Liquido Tissular: é o plasma desprovido da maioria de suas proteínas características (cristalóides e proteínas plasmáticas não deixam
o sangue em quantidades significativas sob condições normais) - a menor parte deste, que é drenada por capilares linfáticos passa a ser
chamado de linfa.
PS1: a linfa não contém quantidades significativas de proteínas, porem as proteínas plasmáticas que adentram o interstício
retornam indiretamente para a circulação geral pelos vasos linfáticos.
PS2: metabólitos e o oxigênio devem atravessar o líquido tissular antes de atingir as células - os produtos residuais do
metabolismo atravessam o líquido tissular e são transportados no sangue para os seus locais adequados de excreção (rins) ou troca
(pulmões).

(b) Liquido intracelular: corresponde aos cerca de 2/3 restantes dos fluidos totais no animal.

1.2 - Gradiente de concentração: as substâncias dissolvidas no sangue se movem a favor do seu gradiente de concentração (difusão) de
forma aleatória, para fora ou para dentro do compartimento vascular através das fenestras das células endoteliais - sendo assim o
movimento do fluído e de substâncias é governado pelas relações entre a pressão hidrostática e oncótica que regulam o delicado equilíbrio
líquido do organismo, além da drenagem linfática do percentual remanescente no tecido.

Manutenção: o movimento e a distribuição de fluídos no organismo depende do balanço de quatro fatores, os quais governam a direção
e quantidade de líquidos que são movidos e/ou mantidos nos vários locais - esses fatores são a pressão hidrostática do capilar, a pressão
hidrostática intersticial, a pressão coloidosmóstica do capilar e a pressão coloidosmótica intersticial.
1ª - A filtração e resultante das diferenças entre parâmetros de pressão na microcirculação:
(a) Pressão hidrostática arteriolar: iniciada e mantida pela força mecânica do coração - embora a PH capilar caia apreciavelmente
no lado arterial dos capilares para 30mmHg, esta pressão ainda é maior que que a hidrostática intersticial (de 8mmHg).
(b) Pressão hidrostática venular: no lado venoso há uma queda na pressão hidrostática capilar para 17mmHg, sendo que as
demais pressões mantêm-se aproximadamente nos mesmos valores - a pressão resultante desta vez ocorre a favor da entrada de líquido para
o interior dos vasos, em torno de 6 mmHg (também chamada de pressão de reabsorção).
(c) Pressão coloidosmotica: a perda de líquido do espaço vascular seria contínua se a pressão oncótica das proteínas plasmáticas do
leito vascular não recuperasse os líquidos do espaço intersticial de volta para o espaço intracapilar - as proteínas plasmáticas,
principalmente a albumina contribuem para a manutenção desta: ela é de aproximadamente de 25mmHg no lado arterial do leito capilar,
comparado com aproximadamente 10mmHg no líquido tissular, levando a uma pressão resultante de 7mmHg no leito capilar arterial
(também chamada de pressão 0 de filtração, que é a favor do líquido para o tecido).

2ª - Como resultado destes 2 parâmetros ocorre reabsorção para o leito vascular de cerca de 90% do líquido filtrado para o tecido
conjuntivo.

PS: a permeabilidade seletiva da célula endotelial impede (exceto por uma pequena quantidade) o transporte de macromoléculas
(proteínas) por meio desta barreira.

3ª - Caso os 10% restantes do líquido não retornarem para o leito vascular ocorreria desequilíbrio entre essas correlações de filtração
e reabsorção - para que tal desequilíbrio não ocorra o sistema linfático atua drenando esta pequena quantidade de líquidos e proteínas,
resultante da diferença de 1mmHg entre a filtração e a reabsorção.

2 - Alterações fisiológicas: relacionadas a alterações nos fatores que realizam a manutenção das quantidades de filtrado (pressões oncótica e
hidrostática e a permeabilidade dos vasos sanguíneos) - como consequência destas alterações ocorre o acúmulo de líquido e as manifestações
clínicas que advém deste acumulo.

2.1 - Edema (consequência): é decorrente da retenção e acúmulo de líquido tissular, resultante da transformação da pressão hidrostática
intersticial em um valor positivo - importante ter em mente que as condições edematosas sistêmicas e/ou regionais não ocorrem facilmente,
já que existem mecanismos específicos proporcionam uma margem de segurança para o acúmulo de fluídos:

I - Substância fundamental: gera propriedade intrínseca de absorção do tecido conjuntivo - pode absorver cerca de 30% de líquido
além do seu conteúdo normal.
II - Mecanismo de fluxo linfático: proporciona uma margem de segurança adicional - gera um mecanismo que requer um aumento de
70% da pressão hidrostática capilar antes que o edema seja observado // ainda é necessário que haja uma redução aproximada de 70% da
pressão coloidosmótica do capilar antes que seja atingida uma condição edematosa, porem apesar destes fatores de segurança a ocorrência
de edema ainda é possível.

Sendo assim a manifestação clínica o edema geralmente é resultado de sérios processos patológicos - as causas são as mais variadas e
vão desde trauma até hipoproteinemia, alterações mórbidas em algum órgão vital (tais como coração ou fígado), por ruptura de vísceras
(bexiga), infecção ou até mesmo alterações neoplásicas.

2.2 - Etiologias do Edema: vários fatores podem influenciar e alterar o delicado equilíbrio que existe entre os componentes líquidos dos
compartimentos do sistema vascular, do sistema linfático e do tecido conjuntivo - se tem que quatro mecanismos básicos provocam a
formação excessiva de líquido tissular:

(a) Obstrução linfática: impede a reabsorção dos líquidos e proteínas no interstício - dois fatores estão envolvidos em sua patogênese
I - Inicialmente a obstrução linfática impede o retorno dos cerca de cerca de 10% de líquido tissular que não são recaptados na
porção venular da microcirculação - como este liquido não volta para a circulação ocorre aumento gradual e contínuo de líquidos no tecido
conjuntivo, o que aumenta a pressão hidrostática do líquido tissular.
II - A obstrução também gera acumulação progressiva de proteínas no tecido conjuntivo, elevando a PO no local - isto resulta em
uma tendência para atrair e reter mais água.

Causas: alterações que gerem bloqueio ou incapacidade de atuação dos vasos linfáticos.
I - Retirada cirúrgica de cadeia linfática
II - Tumores e/ou metástases.
III - Abscessos
IV - Linfangite e linfoma
(b) Diminuição da pressão osmótica (oncótica) capilar: está associada à baixa concentração de proteínas plasmáticas - este tipo de
deficiência resulta na diminuição da habilidade do sangue de remover fluídos do tecido conjuntivo: gera tanto o aumento da secreção na
porção arteriolar do leito capilar quanto a diminuição do retorno na parte venular, excedendo a capacidade de drenagem do interstício pelo
linfático.

Causas: a hipoproteinemia pode ser resultado de


I - Distúrbios hepáticos.
II - Distúrbios renais: levam a perda excessiva de proteínas na urina.
III - Distúrbios intestinais: podem interferir na absorção de proteínas.
IV - Desnutrição proteica.
V - Parasitismo.

Etiologia Renal: gera edema por 2 vias


I - Perda excessiva de proteínas na urina com consequente hipoalbuminemia e queda da PO.
II - Como dito também pode levar a retenção de sódio e água elevando a pressão hidrostática no leito capilar.

(c) Aumento da permeabilidade capilar: ocorre mediado por citocinas inflamatórias, as quais tem efeito principalmente de aumento da
pressão hidrostática - a inflamação tem como efeito o aumento da filtração tecidual com consequente edema.

Mecanismo: três fatores contribuem para o acumulo em uma inflamação:


I - Elevação da permeabilidade capilar resulta no vazamento de plasma para o compartimento do tecido conjuntivo.
II - Inflamação também gera aumento da pressão coloidosmótica intersticial devido ao excesso de proteínas direcionadas ao tecido
conjuntivo, o que também resulta em aumento da quantidade de líquido tissular.
III - Diminuição da capacidade do sangue para atrair a água de volta para os capilares na parte venular da microcirculação.

Causas: podem ser processos inflamatórios, reações alérgicas, substâncias tóxicas e venenos e queimaduras.

(d) Aumento da pressão hidrostática capilar: obstrução venosa resulta na elevação da pressão hidrostática capilar - quando esta pressão
hidrostática excede a pressão coloidosmótica capilar, os líquidos passam a ficar retidos no tecido conjuntivo.
Causas: como principais exemplos.
I - Insuficiência cardíaca congestiva esquerda: leva a edema pulmonar em especial.
II - Insuficiência cardíaca congestiva direita.
III - Hipertensão portal
IV - Cirrose.
V - Inflamação ou obstrução de vasos: por trombos, tumores ou nódulos como exemplos.

Etiologia - Cardíaca:
1ª - Doença do miocárdio tem como consequência redução de contratilidade e consequentemente DC - esta redução tem 2 efeitos:
(a) Redução do volume arterial gera ativação do simpático e SRAA, com consequente aumento da retenção de sal e água - estes
por sua vez contribuem no aumento da pressão hidrostática nos vasos.
(b) Também gera aumento da pressão capilar pulmonar pela estase sanguínea, gerando aumento de pressão venosa na região.
2ª - Ambos casos determinam elevação da pressão hidrostática no leito capilar, com consequente edema.

Etiologia - Renal: lesão renal leva a redução da taxa de filtração glomerular, consequentemente diminuindo a excreção de água e sal
na urina - isto eleva a pressão hidrostática no leito capilar e gera hipertensão arterial, ambas resultando em edema.
PS: como dito anteriormente também leva a uma perda excessiva de proteínas na urina com consequente hipoalbuminemia e
queda de pressão oncótica - também contribui para o edema.

Etiologia - Hepatica: ocorrência de edema é decorrente de 3 mecanismos


(a) Ocorre redução da síntese de albumina, o que diminui a PO.
(b) Gera vasodilatação periférica secundário a estase sanguínea no sistema portal, com consequente ascite.
(c) Redução do volume arterial via vasodilatação periférica gera ativação SRAA, com consequente maior retenção de sal e água.

3 - Coleta e análise de líquidos cavitários:


3.1 - Coleta: pode ser feita a partir de diversas técnicas - abdominocentese, lavagem abdominal, toracocentese e pericardiocentese.

3.2 - Analise: o conhecimento do tipo de fluido acumulado, juntamente com uma anamnese e exame clínico bem feitos levarão na maioria
das vezes ao diagnóstico definitivo - a análise laboratorial completa da efusão é de grande valia na identificação geral ou específica do
processo que causou seu acúmulo: esta é feita através de exame físico, químico e citológico.
PS1: os fluídos devem ser examinados o mais rápido possível - caso não seja possível devem então ser mantidos sob refrigeração até o
momento do exame (este tempo não deve ser superior a 24 a 36 horas).
PS2: manipular com muito cuidado, pois em algumas ocasiões os fluidos podem conter material infeccioso.
3.3.1 - Exame físico: avaliação macroscópica quanto ao volume, cor, aspecto e densidade.
(a) Volume:
I - Fica aumentado em transudatos.
II - Diminuído em exsudatos.

(b) Aspecto: classificado em límpido, ligeiramente turvo ou turvo - turbidez está relacionada a celularidade e presença de sangue.
(c) Densidade - Concentração total de proteínas (CTP): pode ser estimada através do uso do refratômetro ou pelo uso de métodos
bioquímicos, sendo que na rotina o uso do refratômetro é indicado - importante já que algumas doenças podem causar efusões corporais
com grandes concentrações de proteínas totais, enquanto em outras está concentração pode ser pequena.
PS1: em amostras turvas se deve sempre centrifugar nos casos de analise por refratômetro - as partículas causam difração da luz,
levando a obtenção de uma CTP falsamente aumentada.
PS2: fluidos que se mantem turvos mesmo após a centrifugação devem ter sua concentração de proteínas determinada por
métodos bioquímicos.
PS3: junto com a contagem de células nucleadas é um parâmetro de grande importância, já que possibilitam listar as possíveis
causas do acúmulo.

(indicação da escala especifica para líquidos cavitários - a esquerda)

(d) Cor: pode ser clara (normal) // amarelo, âmbar, leitosa ou vermelha - ocorrem em exsudatos, transudatos modificados e na
ruptura de linfáticos.

(e) Odor: este pode ser inodoro ou pútrido.

3.3.2 - Exame químico:


(a) Tiras bioquímicas: utilizadas para identificar:
I - Presença de proteínas (sangue oculto e hemoglobina).
II - Glicose.
III - Mensurar o PH.
(b) Contagem total de células nucleadas (CTCN) e Quantidade de eritrócitos: estas mensurações podem ser realizadas de forma
manual (através de câmara de Neubauer) ou de forma automatizada através de contadores celulares automáticos - em associação com a
CTP é utilizada para classificar as efusões corporais: as células nucleadas que a serem observadas são leucócitos, principalmente neutrófilos
e linfócitos, células mesoteliais, macrófagos e células neoplásicas.

(c) Dosagens Bioquímicas: avaliar quanto a presença de


I - Creatinina e Uréia: creatinina é duas vezes maior no fluído peritoneal do que no soro indica possibilidade de uroperitônio.
II - Bilirrubina (VB): sugere peritonite bilear nos casos em que a bilirrubina mensurada no fluido é 2x maior que a do soro.
III - Colesterol: na efusão pseudoquilosa a contração de colesterol é de 2x maior no líquido da efusão do que no soro.
IV - TAGs: quando a concentração de triglicerídeos é maior na efusão do que no soro do animal a suspeita é de efusão quilosa (na
ruptura de rupturas de vasos linfáticos no tórax).
V - Amilase/lipase: ocorrem em ascites que estejam associadas a pancreatite.

3.3.3 - Citologia da efusão: contagem pode ser feita em camara de Neubauer ou por esfregaço.

Preparo da lâmina: vai depender da característica do líquido.


Em amostras turvas: recomenda-se a realização do esfregaço pelo método de squash.
Em fluidos não turvos: devem ser realizados esfregaços de sedimento, onde o líquido é centrifugado e posteriormente feito esfregaço
de rotina ou squash com o pellet de fundo adicionado a 0,5 mL de líquido.
Em líquidos de baixa celularidade: pode ser realizado o esfregaço de concentração linear - procedimento é semelhante ao esfregaço
de rotina, porém durante a confecção na metade da lâmina (antes de se formar a cauda) se deve interromper o processo e retirar a lâmina
extensora, fazendo com que as células se concentrem sobre a linha formada.
PS: outra opção nos casos de baixa celularidade é o uso de citocentrifugadora - concentra as células diretamente sobre as lâminas
sob uma velocidade operacional entre 200 e 2000 rpm.

Coloração: as mais utilizadas na veterinária incluem colorações de base alcoólicas - romanowsky, may grunwald giemsa (MGG),
wright e panótico rápido.

Analise: as principais considerações que devem ser realizadas são a determinação do predomínio celular, observação das alterações
citomorfológicas, microrganismos, estruturas cristaloides, amorfas ou proteináceas sugestivas ou compatíveis com tipos específicos de
efusões.

Analise - Contagem diferencial: pode ser feita de diversas maneiras:


I - Sem diferenciar
II - Diferenciando em três partes de 100 células (células mononucleadas grandes, células mononucleadas pequenas e neutrófilos).
III - Diferenciando todos os tipos celulares observados em 100 células.

Interpretação - Contagem diferencial: diversos tipos de células podem ser visualizados em efusões corpóreas, incluindo neutrófilos,
células mesoteliais, linfócitos, eosinófilos, mastócitos, hemácias e células neoplásicas - as proporções destas células nos líquidos analisados
vão depender da causa do acúmulo deste líquido.

(a) Neutrófilos: estão presentes na maioria das efusões e predominam em líquidos com origem inflamatória - citologicamente
devem-se classificar estas células em degenerados ou não degenerados. Algumas toxinas bacterianas causam degeneração hidrópica nos
neutrófilos por alterar a permeabilidade da sua membrana celular (COWELL et al., 2009).

(a) Hemácias: podem ser vistas nas efusões tanto por hemorragias quanto por contaminação com sangue periférico - a distinção
entre ambas pode ser realizada através dos sinais clínicos e pela presença de eritrofagocitose e plaquetas nessas efusões, o que a caracteriza
como efusão hemorrágica.
(b) Células mesoteliais: revestem as cavidades pleural, peritoneal, pericárdica e a superfície de vísceras, sendo a célula
predominante em transudatos puros e modificados - podem ser vistas individualizadas ou em aglomerados de vários tamanhos: elas
possuem o citoplasma claro e em casos de reatividade apresenta-se grande e com um citoplasma basofílico.
(c) Linfócitos: estão presentes em várias efusões e podem ser a célula predominante em efusões quilosas e linfomatosas - estas
células normalmente apresentam um anel fino de citoplasma levemente basofílico e um núcleo redondo // núcleo praticamente ocupa toda a
célula, sendo a proporção núcleo citoplasma (N:C) uniformemente alto.

(d) Eosinófilos: podem ser vistos em efusões secundárias a mastocitoma, dirofilariose, reações alérgicas e hipersensibilidade a
resposta paraneoplásica.
(e) Mastócitos: possuem grânulos vermelhos arroxeados, sendo comumente observados em pequenos números nas efusões de cães e
gatos - podem estar associados a diversas desordens inflamatórias.
(f) Macrófagos: são células mononucleares com citoplasma de cinza claro a azul claro abundante e o núcleo varia de redondo a
forma de feijão - normalmente possuem vacúolos ou células previamente fagocitadas em seu citoplasma.
3 - Classificação dos acúmulos de líquidos Cavitários: pode ser feita de acordo com o local em que ocorre o acumulo ou pelas características
físicas e químicas do liquido em questão.

3.1 - Quanto ao tipo de liquido (Classificação geral): feita a partir das características físicas, químicas e citológicas citadas - podendo ser
transudato puro, transudato modificado e exsudato (asséptico ou séptico).

(a) Transudato puro:


Cor: podem ser límpidos e incolores (cães e gatos) ou amarelados (herbívoros).
Proteina: abaixo de 2,5 g/dl (baixa quantidade).
PH: alcalino.
Densidade (DE): abaixo de 1.017.
Bactérias: ausentes.
Células totais (CTCN): abaixo de 1.500 por µL - com as células predominantes sendo mesoteliais, poucos linfócitos e neutrófilos
íntegros e raros macrófagos e hemácias.

Causas: envolve a diminuição da concentração das proteínas plasmática (PO capilar) - ocorre por nefropatia, hepatopatia crônica,
enteropatia e deficiência nutricional.

Nomenclaturas:

(b) Transudato modificado:


Cor: são de aparência clara ou discretamente turvos/sanguinolentos ou âmbar.
Proteina: moderada - entre 2,5 a 7,5 g/dl.
Densidade: baixa a moderada celularidade - entre 1.018 e 1.025.
Bactérias: ausentes.
Células totais: entre 1.000 e 7.000 por µL, com celularidade similar ao do sangue - a citologia do transudato modificado depende da
sua origem, mas geralmente apresenta neutrófilos não degenerados em pequena quantidade, células mesoteliais reativas ou nao, pequenas
quantidades de linfócitos e macrófagos, poucas hemácias // presença de eritrofagocitose e ausência de plaquetas.
Causas: relacionadas a
Aumento da PH capilar: ruptura de bexiga, ureter e uretra, insuficiência cardíaca, ruptura (bexiga ou ducto biliar), crescimento
neoplásico, hérnia diafragmática, hemorragias intracavitárias, bloqueio das veias que drenam os tecidos, torção pulmonar.

Bloqueio/ruptura do sistema linfático: por massas, tumores e outros - quiloperitonio, uroperitônio e quilotórax.
PS: também levam ao aumento da PH capilar indiretamente.

PS1: afecções promovem aumento da permeabilidade vascular e aumento da pressão hidrostática do sangue ou linfa, permitindo
assim a saída de proteínas intravasculares.
PS2: pode ainda ocorrer uma fase intermediária entre o transudato e o exsudato.

Nomenclatura e local de formação:

(c) Exsudato: possui formação ativa e origem inflamatória, com presença de substâncias vasoativas e quimiotáticas, que aumentam
respectivamente o conteúdo de proteínas e células do líquido - para a coleta deste tipo de liquido se deve utilizar frascos com anticoagulante
(coagulam fora do sistema).
Cor: são normalmente turvos e/ou sanguinolentos - cor amarelada, leitosa ou vermelho.
Proteina: acima de 2,5 g/dl.
PH: acido.
Densidade: CTCN acima de 1.025.
Células totais: acima de 7.000 por µL - em equinos 10.000 - o tipo celular mais frequentemente encontrado são os neutrófilos; mas
podem ser encontrados muitos macrófagos, eritrócitos, plasmócitos, células mesoteliais, eosinófilos e mastócitos.
Causas (geral): por inflamação e necrose - ocorrem em grande quantidade de condições patológicas.

Tipos:
C.1 - Asséptico: não possui bactérias - na citologia são evidenciadas células mesoteliais, grande quantidade de neutrófilos (em sua
maioria íntegros - acima de 60%), macrófagos, poucos linfócitos e hemácias.
Causas: relacionadas ao aumento da permeabilidade capilar com origem não infecciosa - uroperitônio, peritonite biliar,
neoplasias, pancreatite necrótica, corpos estranhos estéreis, traumas, ruptura de órgãos.

C.2 - Exsudato Séptico: um grande número de microrganismos pode levar a formação de exsudatos sépticos - estes microrganismos
advém dos tratos urinário, respiratório, de corpos estranhos ou por via hematógena (podem ser vírus, bactérias aeróbias ou anaeróbicas,
fungos e protozoários): na citologia são evidenciadas neutrófilos degenerados, macrófagos fagocitando debris, células mesoteliais, hemácias.
PS1: em alguns casos os micros organismos também podem ser vistos no esfregaço corado.
PS2: por ter aparência purulenta, já que é constituído por neutrófilos segmentados em quase sua totalidade.
Causas: por aumento da permeabilidade capilar de origem infecciosa (agentes bacterianos e fúngicos).
(tipos e características da classificação geral - em resumo)

3.2 - Quanto ao tipo de liquido (Classificação especifica): através da classificação geral é possível, dentro de algumas patologias, fazer uma
classificação especifica - esta classificação pode ser utilizada para as efusões que apresentem coloração, aspecto citológico próprios e testes
auxiliares específicos positivos: essas efusões podem ser de hemorragias, urina, quilotórax e efusões neoplásicas.

(a) Efusão quilosa: o quilotórax ocorre quando há ruptura do ducto linfático torácico, levando ao extravasamento da linfa - pode ser
classificada em peritoneal ou pleural, de acordo no local em que ocorre.
PS: entre as espécies domésticas o gato é aquela de maior predisposição.

Cor: branca ou rosa - devido a presença de hemácias.


Proteínas totais: de 2,0 a 6,5 g/dL.
Células nucleadas: de 1.000 a 17.000/μL - predominantemente linfócitos, podendo estar presentes neutrófilos e macrófagos.
Outras características:
I - A concentração de triglicerídeos no fluido é maior que no soro.
II - A concentração de colesterol do fluido menor que no soro.

Causas:
Doenças do sistema linfático: inflamação, má formação, estrangulamento mesentérico e neoplasias (linfomas e
linfoangiossarcomas).
Outras: dirofilariose, compressão veia cava, cardiomiopatias, doenças do pericárdio e neoplasias torácicas.

Mecanismo: liquido é irritante a superfície da serosa, gerando esfoliação de células e gera aumento do influxo de neutrófilos - por este
motivo com o passar do tempo ganha aparência exsudativa e com hemácias.

(b) Uroperitônio: pode-se suspeitar de ruptura de bexiga se o paciente apresenta anúria, ascite, apatia ou uremia.
Cor: pode variar - de amarelo claro a amarelo escuro ou serosanguinolento
Aspecto: varia de acordo com o desenvolvimento da doença - é límpido em um processo agudo, tendo características de transudato
modificado, porem passa a ficar turvo de acordo com a cronicidade do processo (ganha características de exsudato devido a irritação do
peritônio).
Bactérias: ausentes.
Celularidade: neutrófilos presentes em abundância.
Outras características: na dosagem bioquímica apresenta aumento de creatinina (até 2x a do o soro) e ureia.
Causas: causado pela ruptura de bexiga, uretra, ureter e rim - ocorre em traumas, neoplasias, urolitíases e procedimentos cirúrgicos
(iatrogênico).

(c) Efusão Biliar (peritonite bilear): ocorre pela ruptura da vesícula ou ducto biliar - ocorre como transudato modificado ou exsudato.
Cor: verde ou marrom-ouro
Proteína: acima de 3,0 g/dL
Densidade: acima de 1.025
Bactérias: variável
Células Totais: acima de 5.000/µL - neutrófilos predominantes na fase aguda e poucos linfócitos.
Outras características:
I - Cristais de bilirrubina são visíveis na análise microscópica: material granular marrom ouro, as vezes dentro de macrófagos.
II - Bilirrubina aumentada na dosagem química: a do fluido é maior que a no soro.

(d) Efusões neoplásicas: ocorrem porque os tumores podem tanto (1) esfoliar células quanto (2) causar hemorragias - portanto pode
ocorrer como transudatos modificados ou exsudatos:
PS1: são visíveis inúmeras células neoplásicas ao esfregaço corado.
PS2: alguns tumores além de esfoliar células causam irritação na camada serosa, sendo assim muitas efusões neoplásicas contêm
elevados valores de proteínas totais e células nucleadas.
PS3: deve-se ter o cuidado de não fornecer resultado falso positivo de malignidade por confundir células mesoteliais transformadas
com células neoplásicas.

(e) Hemorragias: dependendo da duração da hemorragia as contagens de células nucleadas e dosagem de proteínas podem ser as
mesmas que do sangue, podendo ser diferenciada deste apenas pela relativa ausência de plaquetas - podem ser causadas por
I - Trauma ou torção de um órgão ou víscera;
II - Por alterações de coagulação.
III - Erosão de vasos por neoplasias.

3.3 - Quanto ao local do acumulo (Classificação Anatômica):

(a) Efusão pleural:


Causas: varia de acordo com o tipo de liquido sendo acumulado.
Transudato: insuficiência cardíaca esquerda e edema pulmonar.
Exsudato: em pneumonias e neoplasias
Sinais Clínicos: tosse, dispnéia

(b) Efusões Pericárdicas: liquido formado pode ser transudato, transudato modificado (geralmente hemorrágica*) ou exsudato.
Sinais Clínicos: fraqueza, dispnéia, abafamento de sons cardíacos
Causas - Gatos: causas mais comuns são ICC (28%) e PIF (17%).
Causas - Cães: neoplasias (41-58%) ou idiopáticas (infecção, IC, uremia, traumatismo, corpo estranho e pericardite).

(c) Líquido Peritoneal: pode ser causado por uroperitônio, efusão biliar, pleurais, pericárdicas e quilosa.
Sinais Clínicos: aumento do volume abdominal e dificuldade respiratória (pois comprime o diafragma).
Causas: as mais comuns sendo insuficiência hepática, severa hipoalbuminemia, secundária a insuficiência cardíaca direita.
PS: em equinos também pela colite (pode gerar peritonite).

4 - Diagnóstico das efusões: varia um pouco de acordo com a espécie e tipo de acumulo.
I - Em pequenos animais: a presença de efusão acumulada no abdome é facilmente diagnosticada, principalmente se há acúmulo rápido,
pois há notável abaulamento do abdome e a prova do balotamento é positiva.
II - No acúmulo abdominal em grandes animais /// forma insidiosa nos pequenos // acúmulos em outras cavidades: na maioria das vezes
são de diagnóstico mais difícil - nestas ocasiões suspeita-se da presença do fluido pelos sintomas apresentados pelo animal tais como
dispnéia, letargia e adnamia, bem como por sinais clínicos de auscultação ruidosa, diminuição dos sons cardíacos, alterações nos
diagnósticos por imagem e alteração nos sons de percussão.

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