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Hematologia

- O Sangue é um tecido fluído;


- Constituido por uma porção celular formada por globulos vermelhos(eritrócitos ou hemácias),
glóbulos brancos (ou leucócitos) e plaquetas, que circulam em suspensão em um líquido
extracelular, o plasma que circulam em suspensão em um líquido extracelular, o plasma;
- Porção acelular do sangue, denominada plasma sanguíneo, é constituída por água, minerais,
proteínas, vitaminas, eletrólitos, lipídios e carboidratos;
- A porção celular do sangue, denominada hematócrito, é formada quase que totalmente por
glóbulos vermelhos, além de glóbulos brancos e plaquetas, sendo que esses dois últimos juntos
representam um volume celular desprezível se comparado ao volume das hemácias

Funções

O sangue circula nos vasos sanguíneos (sejam eles artérias, arteríolas, veias ou vênulas); é
bombeado pelo coração; tem funções como nutrição e oxigenação dos tecidos, participa na
regulação da temperatura do corpo; recebe produtos metabólicos e os conduzem para os órgãos de
metabolização e excreção (rins, pulmões e fígado).

Transporte de:
- nutrientes: proteínas, carboidratos, vitaminas, lipídios;
- hormônios;
- oxigênio e gás carbônico.

- Eritrócitos ou hemácias: carreiam os gases sanguíneos;


- Leucócitos: participam da defesa orgânica;
- plaquetas: atuam no processo de hemostasia;

O volume sanguíneo total, ou volemia, equivale a 7,5% do peso corporal, variando segundo espécie,
idade, ingestão ou perda de água.

Hipovolemia
- Redução do volume sanguíneo;
- Quando há hemorragia, problemas renais ou desidratação, pode ocorrer hipovolemia (redução do
volume sanguíneo);

Hipervolemia
- Aumento dos fluidos sanguíneo;
- A hipervolemia ocorre em situações de ingestão, administração ou retenção de líquidos e sódio em
excesso;

As células sanguíneas têm período de vida curto e delimitado, e a quantidade dessas células na
circulação se mantém estável pela ação de tecidos e órgãos, que formam o sistema hematopoiético-
lítico, descrito abaixo:
- a. medula óssea: função na hematopoiese e no estoque de ferro para síntese de hemoglobina;
- b. baço: produção de linfócitos B e anticorpos, reservatório de hemácias e plaquetas, destruição de
hemácias, estoque de ferro;
- c. fígado: estoque de vitamina B12 e ferro, produção de proteínas e fatores de coagulação;
- d. rins: produção de eritropoetina e trombopoetina, degradação de hemoglobina excessivamente
filtrada;
- e. timo: diferenciação dos linfócitos T;
- f. Sistema Monocítico Fagocitário (SMF): destruição de células sanguíneas alteradas e degradação
de hemoglobina;
- g. estômago e intestino: produz HCl (ácido clorídrico) e facilita absorção de ferro, produz fator
intrínseco e facilita assim absorção de vitamina B12.

Na vida intrauterina, o saco vitelínico é o primeiro local de produção das células sanguíneas, e
depois essa função passa para o fígado, o baço e a medula óssea

À medida que o animal vai crescendo e chega à fase adulta, a produção de células do sangue ocorre
apenas na medula óssea

Em algumas situações, o fígado e o baço podem retomar seu potencial hematopoiético, sendo essa
função chamada de hematopoiese extramedular, que geralmente está associada a:
- hemoglobinopatias congênitas;
- anemias graves;
- desordens de substituição medular adquiridas como leucemias, linfomas, mielofibrose.

OBS: Como curiosidade, em camundongos o baço continua sua atividade hematopoiética após o
nascimento, ou seja, não se torna apenas um local de depósito e destruição de hemácias e plaquetas,
como nas outras espécies animais (SILVA; MONTEIRO, 2017).

Normalmente, em animais jovens, a atividade hematopoiética é mais intensa, com maiores valores
de hemácias, plaquetas e leucócitos quando comparados a valores observados em animais mais
velhos.

Uma célula-tronco pluripotente (Stem Cell) pode se autorrenovar como também dar origem às
distintas linhagens celulares. Uma célula-tronco, depois de 20 divisões celulares, pode produzir em
torno de 106 células sanguíneas maduras.

As células precursoras respondem a fatores de crescimento hematopoiéticos com aumento de


produção de uma ou outra linhagem celular (HOFFBRAND; MOSS, 2013).

Eritrócitos

- Eritrócitos, hemácias ou glóbulos vermelhos são os elementos figurados mais abundantes no


sangue;
- São compostos por 61% de água, 32% de proteína, 7% de carboidrato e 0,4% de lipídio;
- A membrana isolada tem 20% de água, 40% de proteína, 35% de lipídios e 6% de carboidratos em
alguns animais;
- Nos mamíferos, são anucleadas, com formato bicôncavo com uma grande área de superfície e
tamanho relativamente uniforme, com diâmetro médio de 8 mm, e não apresentam organelas,
portanto, não sintetizam proteínas;
- Já em aves, répteis, anfíbios e peixes, o núcleo permanece durante toda a vida;

As hemácias podem facilmente sofrer deformações para se movimentarem por pequenos capilares
sanguíneos do sistema circulatório. A função primordial dos eritrócitos é transportar oxigênio, e
essa função é desempenhada pela hemoglobina (PUGLIESE, 2012).

A hemoglobina (Hb) contida no interior dos eritrócitos é essencial para a vida, uma vez que é
responsável pelo transporte de oxigênio (O2) dos pulmões para os tecidos e do dióxido de carbono
(CO2) recolhido dos capilares teciduais para os pulmões.
A sua estrutura é de uma proteína esferoide, quaternária, formada por quatro subunidades,
compostas de dois pares de cadeias globínicas, polipeptídicas, sendo um par denominado de cadeias
do tipo alfa (alfa e zeta) e outro de cadeias do tipo não alfa (beta, delta, gama e épsilon), compondo
um tetrâmero com formato globular

Cada cadeia (alfa e não alfa) é quimicamente unida a um núcleo prostético de ferro (heme) que
detém a propriedade de receber, ligar e/ou liberar o oxigênio nos tecidos. Em relação aos grupos
heme, cada um possui em sua composição ferro na forma ferrosa (Fe2+), para que a ligação com o
oxigênio seja possível.

A oxidação do ferro (Fe3+) leva à formação de meta-hemoglobina, sem função respiratória (ASSIS;
PUGLIESE, 2012).

Estudos mostram que as hemácias também participam da resposta imune por meio da ação
antimicrobiana da hemoglobina, modulação da proliferação de linfócitos T e produção de citocinas,
mas sua principal função ainda é o transporte de gases e, por isso, em mamíferos, o núcleo e as
estruturas citoplasmáticas foram substituídos por uma solução concentrada de hemoglobina
(PUGLIESE, 2012).

Eritropoiese

A produção de hemácias é chamada de eritropoiese, sendo iniciada ainda na vida uterina, e, nos
animais adultos, o principal tecido hematopoiético é a medula óssea.

As hemácias iniciam suas vidas na medula óssea, por meio de tipo único de células referido como
célula-tronco hematopoiética pluripotente, da qual derivam todas as células do sangue circulante
(GUYTON; HALL, 2011).

A correta produção e maturação das hemácias se dá em um ambiente medular íntegro, com presença
de precursores, fatores estimulantes nutricionais e hormonais. São fatores estimulantes:
- Interleucinas (IL);
- Eritropoetina (EPO);
- hormônios da tireoide;
- fatores de crescimento;
- andrógenos;
- hipóxia tecidual.

Drogas mielotóxicas, estrógenos, radiação ionizantes e algumas doenças infecciosas e neoplásicas


atuam como inibidores da eritropoiese

Fatores nutricionais como minerais, proteínas e algumas vitaminas (principalmente as do complexo


B) também são importantes para a produção de hemácias.

A EPO é um hormônio produzido nos rins (90%) e no fígado (10%) e ajuda na proliferação e
diferenciação das células precursoras, e na síntese de hemoglobina.

Nos cães, os rins são os únicos locais de produção da EPO. Em outras espécies, o fígado também a
produz a forma de um precursor inativo.

Em ratos, a vida média da EPO é de 2 a 5 horas e, em cães, de 7 a 10 horas (SILVA; MONTEIRO,


2017).
Nos animais, a partir da célula-tronco hematopoiética pluripotente formam-se os proeritroblastos,
que passam pelas diversas etapas de diferenciação na medula óssea.

Os eritroblastos ortocromáticos perdem os núcleos, e o que sobra das células sem núcleo é o
eritrócito jovem recém-formado no sangue periférico, rico em hemoglobina, também chamado de
reticulócito. Este vive cerca de três dias na circulação, transformando-se em eritrócito maduro.

A maturação dos reticulócitos acontece na circulação, porque eles contêm restos de ácido
ribonucleico, além de excesso de membrana citoplasmática e agregados de organelas (ribossomos,
mitocôndrias e complexo de Golgi).

Com a perda das organelas, os reticulócitos passam a ser denominados eritrócitos maduros.

A transformação de reticulócitos em hemácias maduras ocorre por ação da enzima pirimidina 5’-
nucleotidase (P5N), que degrada as organelas ainda existentes nos reticulócitos.

Tempo de vida e morfologia das hemacias

- O tempo de vida dos eritrócitos depende da espécie animal.


- Nos cães, o tempo de vida das hemácias varia de 110 a 120 dias, sendo semelhante ao período da
hemácia humana (120 dias).
- Em felinos, as hemácias duram de 65 a 76 dias;
- já nos equinos, de 140 a 150 dias.
- Nos bovinos, as hemácias duram em média 160 dias;
- nos caprinos, 125 dias;
- na galinha, 30 dias;
- e nos jacarés até 3 anos
(SILVA; MONTEIRO, 2017).

Quando as hemácias estão parasitadas, senescentes ou com alguma alteração enzimática ou


morfológica, elas são retiradas de circulação e destruídas por um processo chamado hemólise, que
ocorre com ruptura da membrana plasmática e liberação da hemoglobina.

A hemólise pode ocorrer de duas maneiras: intra e extravascular.

OBS:
A primeira observação microscópica de uma hemácia foi feita por Leeuwenhoek, que analisou o
próprio sangue. No reino animal, as hemácias variam em número, tamanho, morfologia, tempo de
vida, metabolismo e em resposta à anemia.

Morfologia

- A maioria dos mamíferos tem hemácias redondas, bicôncavas, de tamanho variado.


- As menores hemácias são as dos caprinos, enquanto a mais semelhante à hemácia humana é a
canina.
- Os camelídeos (camelos, dromedários, lhamas e alpacas) apresentam hemácias na forma elíptica.
- Em cervídeos, as hemácias são falciformes;
- já nos répteis, nas aves, nos anfíbios e nos peixes, apresentam formato elíptico

Algumas espécies apresentam hemácias menores, como os felinos, ovinos, caprinos, bovinos e
equinos, além de apresentarem pouca concavidade e pouca ou nenhuma palidez central.
Leucócitos

- Os leucócitos (glóbulos brancos) formam um grupo heterogêneo de células sanguíneas tanto pela
sua morfologia como pela sua fisiologia.
- Fazem parte do sistema imunológico, participando da resposta imune inata e específica, e estão
presentes no sangue, na linfa, em órgãos linfoides e em vários tecidos conjuntivos.
- São originados a partir de células precursoras da medula óssea.

Podem ser classificados em dois grupos devido à ausência ou à presença de grânulos


citoplasmáticos e em relação à morfologia do núcleo: grupos mononucleares e polimorfonucleares.

- Os polimorfonucleares, também chamados de granulócitos, possuem grânulos específicos


contendo enzimas hidrolíticas e núcleo polimorfo, com diferentes formas – feijão, alteres, lobulado,
circular e citoplasma. São exemplos em mamíferos: eosinófilos, basófilos e neutrófilos. Em outras
espécies, como répteis e aves, os heterófilos correspondem aos neutrófilos dos mamíferos.

- Os mononucleares ou agranulócitos possuem núcleo único de forma endentada ou arredondada,


não possuem grânulos e são representados pelos linfócitos e monócitos (PUGLIESE, 2012; SILVA;
MONTEIRO, 2017).

Os leucócitos são de suma importância para a defesa do nosso organismo contra doenças, e cada
tipo leucocitário desempenha funções bastante específicas e distintas entre si, sendo que, em
conjunto, estruturam o sistema imunológico.

São responsáveis pela resposta imune que protege contra microrganismos causadores de doenças,
identificam e destroem as células cancerosas, participam da resposta inflamatória e na cura de
feridas (PUGLIESE, 2012).

Os leucócitos são produzidos na medula óssea e liberados no sangue periférico, de onde migram
para os tecidos. Assim, as células brancas são distribuídas no organismo em três grandes
compartimentos: medular, sanguíneo e tecidual.

» Medular:
é dividido em compartimento mitótico (proliferação ou multiplicação) e de maturação
(armazenamento ou estoque).

» Sanguíneo:
parte aderida ao endotélio vascular (compartimento marginal) e outra fração no leite vascular
(compartimento circulante). Na coleta de sangue, são obtidas células do compartimento circulante.

» Tecidual:
corresponde ao total de leucócitos que migram, por diapedese, para os tecidos, onde desempenham
funções de defesa orgânica.

Leucopoiese

O processo de produção dos leucócitos é chamado de leucopoiese ou leucocitopoiese, que ocorre na


medula óssea a partir de célula pluripotente e, dependendo dos estímulos, origina diferentes
leucócitos.

A leucopoiese compreende a granulocitopoiese, a linfocitopoiese e a monocitopoiese.


Granulocitopoiese
- Na granulocitopoiese, são produzidos neutrófilos, eosinófilos e basófilos.

- Os neutrófilos são os mais abundantes em todas as espécies e participam como primeira linha de
defesa do organismo diante de processos infecciosos e inflamatórios.
- São estimulantes para a produção de neutrófilos os fatores quimiotáticos, as interleucinas, os
fatores estimuladores de colônia de granulócitos e monócitos, as linfocinas e as citocinas.
- Os neutrófilos, uma vez que saem do sangue para os tecidos, não retornam mais para a corrente
sanguínea; são destruídos nos tecidos ou perdidos por meio de secreções e excreções.

- Os eosinófilos também são produzidos e maturados na medula óssea.


- A interleucina 5 (IL-5) é a principal citocina que estimula a produção de eosinófilos.
- A IL-3 e o fator estimulante de granulócitos e monócitos também estimulam a eosinopoiese.

- Os basófilos são raros em muitos animais


- Sua produção ocorre em paralelo com os neutrófilos e eosinófilos, mas seu estoque na medula
óssea é mínimo.
- Várias citocinas estão envolvidas na proliferação e maturação dos basófilos, incluindo IL-5, IL-3 e
fator estimulante de colônia de granulócitos e monócitos.

Monocitopoiese
- Os monócitos sanguíneos, ao migrarem para os tecidos, recebem o nome de macrófagos
- Incluem vários tipos celulares: células de Kupffer, histiócitos, macrófagos alveolares e macrófagos
do baço, medula óssea e linfonodos
- A produção de maturação dos monócitos dura em média três dias e é estimulada por citocinas e
fatores de crescimento, como o fator estimulante de colônia de granulócitos e monócitos.
- Esses mononucleares, depois que saem da corrente sanguínea, não retornam mais.

Linfocitopoiese
- A linfocitopoiese ou linfopoiese ocorre na medula óssea e em órgãos linfoides, como timo,
linfonodos, baço, Bursa de Fabricius, placas de Peyer e tonsilas.
- Os linfócitos T e B são derivados da medula óssea e maturam no timo e na medula óssea,
respectivamente.
- Nas aves, a maturação do linfócito B ocorre na Bursa de Fabricius.
- Em um esfregaço sanguíneo, não é possível diferenciar linfócitos B e T a partir de características
morfológicas, sendo necessário usar anticorpos monoclonais que reconhecem marcadores celulares
expressos na membrana citoplasmática.

Alguns antígenos estimulam os linfócitos B a se transformarem em plasmócitos, que são células


produtoras de imunoglobulinas. Outros antígenos estimulam linfócitos T que produzem linfocinas e
participam da resposta imune celular.

Os linfócitos apresentam um longo tempo de vida e são os únicos que recirculam, ou seja, podem
retornar à corrente sanguínea. Isso é muito importante visto que essas células podem ser expostas a
um antígeno depositado em um local e serem transportadas a vários lugares no corpo para propagar
e montar uma vigorosa resposta imune.

Função dos Leucócitos do sangue periférico

Neutrófilos
- Participam de resposta inflamatória aguda,
- defesa contra agentes bacterianos, fungos, leveduras, algas, parasitas e vírus.
- São os leucócitos mais abundantes de cães e gatos.

Eosinófilos
- Ação fagocítica e bactericida, mas são menos eficazes nesses processos que os neutrófilos.
- São importantes na ação contra parasitas multicelulares e participam das reações alérgicas e
anafiláticas.
- Os eosinófilos de equinos são bem característicos e apresentam grandes grânulos citoplasmáticos.

Basófilos
- Funções ainda não totalmente estabelecidas, porém especula-se que participem de processos
alérgicos, juntamente com os eosinófilos.

Linfócitos
- Desempenham papel na defesa orgânica: linfócitos T na imunidade celular e linfócitos B na
imunidade humoral, dando origem aos plasmócitos que sintetizam anticorpos.
- Em ruminantes, os linfócitos são os leucócitos mais abundantes do sangue.

Monócitos
- Colaboram na fagocitose e eliminam tecidos mortos ou lesados, materiais estranhos, debris
celulares, destroem células cancerosas e contribuem para a regulação da imunidade do organismo.
- A medula óssea libera os monócitos no sangue periférico na ausência de inflamação ou em
resposta à inflamação.
- Após sua distribuição nos tecidos adjacentes, transformam-se em macrófagos.
- Estes raramente são encontrados no sangue, porém podem ser observados em esfregaço sanguíneo
de animais com erliquiose, histoplasmose e leishmaniose.

Leucograma e alterações quantitativas dos leucócitos

É a parte do hemograma que permite avaliar as alterações numéricas (quantitativas) e morfológicas


(qualitativas) em resposta a diversas condições clínicas.

Esse exame é muito utilizado na prática clínica e é de grande importância para o auxílio no
diagnóstico de doenças inflamatórias, parasitárias, bacterianas, neoplásicas, alérgicas, entre outras.

Além de doenças sistêmicas, situações de estresse agudo ou crônico também podem levar a
alterações na contagem global (leucócitos totais) e diferencial/específica (resultado expresso para
cada tipo celular) de leucócitos.

Na leucometria específica, o valor encontrado para cada leucócito é expresso como valor percentual
(contagem relativa) e valores absolutos.

A interpretação do leucograma deve ser realizada levando em conta os valores absolutos, pois são
mais confiáveis.

* No processo inflamatório agudo e nas infecções bacterianas, ocorre aumento na produção de


leucócitos, principalmente neutrófilos.

* Em doenças alérgicas e parasitárias, ocorre estímulo para proliferação dos precursores de


eosinófilos
* Nas infecções virais, pode ocorrer tanto aumento como redução no número de linfócitos no
sangue periférico.

As alterações quantitativas dos leucócitos são identificadas quando os valores excedem ou estão
abaixo dos intervalos de referência para a espécie.

As alterações numéricas do leucograma são designadas por termos técnicos. Os sufixos “filia” e
“citose” indicam aumento, e o sufixo “penia” indica redução.

Leucocitose

Aumento no número de leucócitos por volume de sangue circulante.

É mais comum que aconteça leucocitose devido a um linfocitose (aumento dos linfócitos) ou
neutrofilia (aumento dos neutrófilos), mas também pode ocorrer por aumento de eosinófilos
(eosinofilia) ou por aumento de monócitos (monocitose); basofilia (aumento nas contagens de
basófilos) é incomum.

A leucocitose pode ser patológica (em resposta a doenças infecciosas, inflamatórias, autoimunes,
parasitárias, alérgicas ou neoplásicas) ou fisiológica (situações de estresse agudo ou crônico).

O aumento dos níveis de corticoides endógenos e exógenos pode resultar em leucocitose, neutrofilia
madura (sem células imaturas), eosinopenia e linfopenia, caracterizando o chamado hemograma de
estresse.

Leucopenia

Redução do número de leucócitos, indicando que as defesas orgânicas estão diminuídas ou que a
medula óssea pode estar com sua atividade suprimida.

Como causas da leucopenia, temos: agentes químicos (medicamentos, substâncias mielotóxicas),


físicos (radiações) ou infecciosos.

Em doenças neoplásicas com metástase na medula óssea, o tecido hematopoiético é substituído por
células neoplásicas, podendo resultar em leucopenia, anemia e trombocitopenia.

OBS
Em doenças virais como cinomose, parvovirose e leucemia felina, pode-se observar leucopenia,
neutropenia e linfopenia.

Em infecções bacterianas severas, como septicemias, é frequente a ocorrência de leucopenia,


neutropenia e outras citopenias.

Neutrofilia
- Aumento dos neutrófilos no sangue, devido ao aumento da produção ou liberação da medula óssea
em decorrência de um estresse, ou em resposta à inflamação ou infecção moderada a grave.
- São possíveis causas da neutrofilia: excitação, medo, exercícios, convulsões, gestação, parto,
processos inflamatórios, intoxicação por chumbo, mercúrio, adrenalina e venenos.

Desvio à esquerda
- Resposta inicial da medula óssea aos processos infecciosos ou inflamatórios.
- É um aumento na produção de leucócitos, principalmente neutrófilo.
- O termo desvio à esquerda ou desvio nuclear de neutrófilos à esquerda (DNNE) ocorre quando há
aumento no número de neutrófilos em bastão ou precursores mais jovens no hemograma.

Desvio à esquerda regenerativo


- Presença de bastonetes e outras células jovens no sangue periférico sem a perda da relação de
produção, ou seja, o aumento de neutrófilos vem acompanhado de estímulo e liberação de células
jovens.

Desvio à esquerda degenerativo


- Ocorre quando o número de células jovens supera o número de segmentados ou quando ocorre
perda da proporção maturativa, indicando que a medula óssea está esgotada em sua reserva de
neutrófilos maduros, liberando células imaturas.
- Em bovinos, o desvio à esquerda degenerativo é comum durante o estágio inicial de doenças
infecciosas ou inflamatórias hiperagudas a agudas, mas, em outras espécies, o prognóstico é
desfavorável e requer atenção e tratamento rigoroso.

Desvio à direita
- É a observação de neutrófilos hipersegmentados (com mais de cinco lóbulos) em quantidade
aumentada no sangue periférico, indicando que a diapedese dos neutrófilos pode estar diminuída e
que essas células estão envelhecendo na corrente sanguínea.

Neutropenia
- Diminuição do número de neutrófilos no sangue em decorrência de grave infecção em pequenos
animais (cães e gatos).
- São causas da neutropenia: septicemia por agentes bacterianos, infecções pulmonares, torácicas,
peritoneais, intestinais e uterinas.

Eosinofilia
- Aumento do número absoluto de eosinófilos no sangue que pode ocorrer em casos de parasitismo,
hipersensibilidade (pneumonia, alergia a picada de pulga, atopia, hipersensibilidade alimentar),
granuloma eosinofílico felino e gastroenterites eosinofílicas.

Eosinopenia
- Diminuição da contagem absoluta de eosinófilos no sangue em decorrência de uma resposta aos
glicocorticoides (leucograma de estresse).
- Pode também ocorrer em fase aguda de inflamação, estresse emocional, parto e atividade física
intensa.

Linfocitose
- Aumento absoluto no número de linfócitos no sangue, principalmente devido a questões
fisiológicas em que se observa uma resposta à epinefrina, particularmente em gatos, cavalos e
animais jovens.
- Também pode ocorrer após vacinação, nas doenças infecciosas, em casos de medo e ansiedade em
felinos, na fase crônica da inflamação, em protozoonoses, em fase de convalescença, e em casos de
linfoma e leucemia linfocítica.

Linfopenia
- Diminuição do número de linfócitos no sangue devido a administração de corticosteroides, fase
aguda das infecções virais, processos infecciosos graves, drogas imunossupressoras ou radiação e
perda de líquidos ricos em linfócitos (efusão quilosa).
Monocitose
- Aumento de monócitos no sangue em decorrência da fase de recuperação das inflamações, efeito
de esteroides (no cão), desnutrição, caquexia, inflamações crônicas inespecíficas, leucemia
monocítica, necrose tecidual e doenças causadas por protozoários.
- Resposta a estresse pode causar monocitose, em especial nos cães.

Monocitopenia
- Diminuição de monócitos no sangue.
- Os intervalos de referência podem baixar a zero, não apresentando significado clínico.

Basofilia
- Aumento do número absoluto de basófilos no sangue, sendo um achado raro, normalmente
associado à eosinofilia ou observado em doença mieloproliferativa crônica.
- Pode ocorrer basofilia em casos de dirofilária, lipemia e tuberculose.

Basopenia
- Não tem relevância devido à maioria dos animais saudáveis não apresentar basófilos, e o intervalo
de referência geralmente é zero; não tem significado clínico.

Plaquetas

- Em mamíferos, as plaquetas ou trombócitos são fragmentos celulares derivados de uma célula


encontrada na medula óssea, o megacariócito, que se origina da célula-tronco mieloide
- Na trombocitopoiese, o citoplasma do megacariócito se fragmenta formando as pró-plaquetas que
vão dar origem às plaquetas.
- Cada megacariócito origina em média 8.000 plaquetas.
- Os principais fatores estimulantes da produção de plaquetas são: fator estimulante de colônia
megacariocítica, fator estimulante da trombocitose, trombopoietina e interleucina 3.

A função das plaquetas consiste em formar o tampão plaquetário (coágulo) para ajudar a controlar o
sangramento após uma lesão da parede vascular, participando da hemostasia primária,
interrompendo momentaneamente a hemorragia antes da estabilização do coágulo.

Outras funções: manter a integridade vascular, modular a resposta inflamatória e promover a


cicatrização das feridas após lesão tecidual.

Em répteis e aves, os trombócitos são células típicas que possuem núcleo e citoplasma. Nessas
espécies, além de participarem do processo hemostático, as plaquetas também apresentam função
fagocítica.

Os grânulos citoplasmáticos das plaquetas liberam mediadores químicos necessários ao processo de


coagulação sanguínea.

Os trombócitos ou plaquetas possuem uma membrana, mas, por não possuírem núcleo, não têm a
capacidade de sofrer replicação e, se não forem utilizados, permanecem cerca de 8 a 9 dias na
circulação antes de serem removidos pelas células fagocíticas do baço (PUGLIESE, 2012).

- As plaquetas são células pequenas, na verdade incompletas, pois não apresentam material nuclear.
- Elas têm forma bastante variável e, quando são coradas e examinadas ao microscópio óptico, têm
aspecto pouco preciso.
- Observa-se uma coloração de fundo, praticamente homogênea, sobre a qual são reconhecidas
pequenas granulações.
- Porém, ao microscópio eletrônico, são elementos de constituição muito complexa, o que
corresponde à função desempenhada pelas plaquetas, que é também variada e muito importante.
- Possuem uma superfície externa de limites imprecisos, rica em mucopolissacarídeos e
glicoproteínas, que têm papel essencial nas funções de adesão e agregação plaquetária (PUGLIESE,
2012).

Alterações númericas das plaquetas


- O plaquetograma é a parte do hemograma que quantifica e avalia morfologicamente as plaquetas.
- A contagem total de plaquetas é a expressão em número de plaquetas por litro ou mililitro de
sangue.
- A redução do número de plaquetas é denominada trombocitopenia (plaquetopenia), enquanto o
aumento é chamado de trombocitose (plaquetose).

As trombocitopenias são alterações hematológicas muito comuns na veterinária e podem ocorrer


por redução na produção de plaquetas, aumento da destruição ou consumo e por sequestro ou perda
de plaquetas.

Ocorre redução na trombocitopoiese em situações como mieloptise (infiltração da medula óssea por
células tumorais), radiações e destruição imunomediada dos megacariócitos. Algumas drogas
podem causar redução na produção de plaquetas, como:
» fenilbutazona;
» estrógeno sintético;
» antibióticos;
» quimioterápicos.

Doenças infecciosas também podem resultar em trombocitopenia, como:


» erlichiose;
» babesiose;
» peritonite infecciosa felina (PIF);
» panleucopenia felina;
» leptospirose;
» salmonelose etc.

As plaquetas também podem ser destruídas em doenças autoimunes, como na anemia hemolítica
autoimune. Na esplenomegalia (aumento do tamanho do baço), pode ocorrer trombocitopenia.

Trombocitose, também chamada de plaquetose, é uma alteração hematológica menos frequente na


veterinária. Pode ser classificada em:

» Primária:
doença hematológica rara na qual ocorre proliferação neoplásica dos precursores plaquetários
resultando em aumento no número de plaquetas.

» Secundária (ou reativa):


ocorre por estimulação da medula óssea ou por redução do clearance esplênico. Nas doenças
inflamatórias, normalmente ocorre aumento do número de plaquetas, pois a trombopoietina pode
estar elevada nesses estados clínicos, como parte da reação de fase aguda. Nas anemias
regenerativas, pode ser observada trombocitose por estímulos inespecíficos sobre os precursores de
plaquetas.
Além das alterações numéricas, podem ocorrer alterações funcionais das plaquetas sendo estas
denominadas trombocitopatias, que podem ser decorrentes de alterações funcionais congênitas
(raras na veterinária), de ação de agentes infecciosos (erlichiose) ou devido à utilização de algumas
drogas, como:
» aspirina;
» ibuprofeno;
» acetominofeno;
» antibióticos;
» bloqueadores do canal de cálcio.

Acidentes ofídicos, uremia, doença hepática, neoplasias e algumas doenças infecciosas também
podem alterar a função plaquetária.

VALORES DE REFERÊNCIA NO HEMOGRAMA

O hemograma é um exame laboratorial que avalia as células sanguíneas, ou seja, as hemácias (série
vermelha), os leucócitos (série branca), a contagem de plaquetas, os reticulócitos e os índices
hematológicos.

O exame é requerido por um profissional para diagnosticar ou controlar determinada doença.

Os exames de patologia clínica ou de laboratório clínico são muitos e, geralmente, bastante


acessíveis. O hemograma é um exame realizado a partir de amostra de sangue, obtido por punção
com agulha em um vaso periférico. Esse exame é usado para triagem, avaliação de anemia, de
coagulação e de problemas plaquetários.

Faz parte do hemograma completo a contagem de hemácias, a mensuração da hemoglobina, o


hematócrito, o volume corpuscular médio, a concentração de hemoglobina corpuscular média, a
hemoglobina corpuscular média, as contagens totais e diferenciais de leucócitos e a contagem de
plaquetas, além das observações morfológicas de todos os tipos de células do sangue.

Uma das limitações desse exame é que suas alterações indicam ou sugerem uma doença, mas não
nos dão certezas sobre as causas exatas daquelas alterações.Por exemplo, revelam anemia, mas não
a causa da anemia. Por isso, é considerado um exame de triagem, sendo necessários, muitas vezes,
outros exames complementares para esclarecer as causas (ROCHA, 2011).

Contagem de hemácias (He) e sua morfologia

- Faz parte do hemograma e pode ser feita de forma manual ou eletrônica.


- Basicamente, serve para quantificar as hemácias e observar o tamanho e a forma dos eritrócitos.
- Alterações presentes nos eritrócitos podem indicar a presença de hemoglobinas anômalas.
- Além do tamanho, que pode ser variado dependendo da espécie, a grande quantidade pode
dificultar a contagem – são milhões de hemácias em cada milímetro cúbico de sangue.
- Como são muitas, é necessário fazer uma diluição da amostra antes da contagem.
- Depois da diluída, a amostra é colocada em uma câmara chamada de câmara de Neubauer, de
vidro e quadriculada, para facilitar a contagem, pois evita que a vista se confunda e conte duas
vezes a mesma célula.
- Quando as contagens das hemácias são feitas em aparelhos automáticos, a participação humana se
restringe a colocar a amostra no equipamento e esperar o resultado em um visor ou impresso.
- A rapidez, portanto, conta a favor da contagem eletrônica automatizada, em detrimento da
contagem manual. Em contrapartida, quando as máquinas apresentam defeitos, muitas amostras
podem ter suas contagens alteradas ou incorretas (ROCHA, 2011).

Se o número de hemácias estiver diminuído, teremos um caso de anemia, mas se, ao contrário,
houver um maior número de hemácias do que o esperado para a idade e o gênero, teremos outro
problema, o inverso da anemia: a policitemia.

Tanto nesta quanto na anemia, o excesso de hemácias também caracteriza problema de saúde.

Trata-se de um desequilíbrio que pode levar a dificuldades na circulação, com aumento da


viscosidade e predisposição tanto para coagulação como para sangramentos (ROCHA, 2011).

Hemoglobina (Hb)

- A hemoglobina é um dos componentes da hemácia, e sua função principal é transportar oxigênio


para as células do organismo.
- Seu baixo teor normalmente acompanha a baixa contagem de hemácias e, por si só, é considerada
anemia.
- É a hemoglobina que dá a cor vermelha ao sangue.
- Quimicamente, cada molécula de hemoglobina é constituída de quatro átomos de ferro (no estado
ferroso Fe2+), cada um deles podendo se ligar a uma molécula de oxigênio.
- A hemoglobina é responsável por “pegar” o oxigênio do ar atmosférico e levá-lo para todos os
tecidos do organismo.
- O oxigênio não é a única molécula a se ligar a hemoglobina; o dióxido de carbono, resultante do
metabolismo celular, é eliminado do organismo pelo transporte no sentido inverso ao do oxigênio
(ROCHA, 2011).

OBS
A determinação da concentração de hemoglobina (Hb) é obtida por método espectrofotométrico da
cianometaemoglobina e expresso em g/dL. A cianometaemoglobina é o resultado da conversão da
hemoglobina pelo reativo de Drabkin.

Hematócrito (Ht)

- O hematócrito é mais um componente do hemograma completo e trata-se de um exame rápido e


bastante adequado para avaliar qualquer alteração relacionada à quantidade de células circulantes
- Homogeneíza-se o sangue total com anticoagulante, preenche-se o micro-hematócrito com sangue
até que ¾ do volume seja atingido, veda-se com massinha para vedação dos capilares e coloca-se na
centrífuga por cinco minutos.
- Todos os componentes sólidos se precipitarão pela força centrífuga e, na superfície do tubo, restará
a parte líquida do sangue, o plasma.
- O hematócrito é a parte sólida em relação à parte líquida e expressa-se em porcentagem. Por
exemplo, se, após a centrifugação, tivermos metade do volume do sangue em células e outra metade
em plasma, então teremos um hematócrito de 50%. A diminuição do hematócrito é considerada
anemia (ROCHA, 2011).

Índices hematimétricos

- Nos índices hematimétricos, são analisados Volume Globular Médio (VGM), Hemoglobina
Globular Média (HGM) e Concentração de Hemoglobina Globular Média (CHGM), que oferecem
informação sobre tamanho, conteúdo e concentração de hemoglobina, respectivamente.
O VGM, CHGM e HGM são calculados a partir de fórmulas matemáticas que usam os valores
obtidos para hemácias (He), hematócrito (Ht) e hemoglobina (Hb).

As fórmulas para os cálculos dos índices hematimétricos são:

» VGM ou VCM (fL) = VG (%) ou hematócrito x 100 / nº de hemácias (milhões/µL)


fL = fentolitros;

» HGM ou HCM (pg) = hemoglobina (g/dL) x 10 / nº de hemácias (milhões/µL)

pg = pictogramas;

» CHGM ou CHCM (g/dL) = hemoglobina (g/dL) x 100 / VG ou hematócrito (%)

g/dL = grama por decilitro.

Leucograma

É a parte do hemograma usada para avaliar a série branca, ou seja, os leucócitos. O leucograma é
composto pela contagem global e diferencial de leucócitos.

Contagem Global de Leucócitos (CGL) é um exame que determina a quantidade de leucócitos em


um volume de sangue (x 103/µL). A quantificação pode ser feita por meio de métodos manuais
(contagem de hemocitômetro) ou em equipamentos automatizados.

Contagem diferencial de leucócitos, também chamada de leucometria específica, quantifica cada


tipo leucocitário em valores relativos (%) e absolutos (x 103/µL).

Plaquetograma

Plaquetograma ou trombograma é o exame de contagem das plaquetas no sangue.

As plaquetas são computadas, e seu tamanho médio e variações de volume são determinados (PDW
– Amplitude de Distribuição de Plaquetas; e VPM – Volume Plaquetário Médio).

Essas análises são seguidas por microscopia após coloração para avaliar as características e/ou
alterações morfológicas.

A contagem das plaquetas pode ser feita de duas maneiras:

» direta:
a amostra diluída é contada em câmara conta-glóbulos ou aparelho eletrônico;

» indireta:
plaquetas são contadas em uma extensão sanguínea e relacionadas com o número de hemácias por
mm³ de sangue.

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