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INTRODUÇÃO

A Hematologia é o estudo dos constituintes do sangue. O sangue é um tecido do


organismo, de coloração avermelhada, consistência líquida e que corresponde a cerca de 7 a
8% do peso vivo de um animal. Volemia dos animais:
 Canino: 8,5%;
 Felino: 6,5%.
O sangue consiste em uma parte sólida composta por glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
plaquetas e uma parte fluida composta pelo plasma. No interior dos vasos sanguíneos, o
sangue passa por diferentes tipos de vasos, artérias e veias, sendo que nas artérias o sangue é
chamado arterial e tem como características ser rico em oxigênio e estar no sentido do
coração para os tecidos, enquanto nas veias o sangue é chamado venoso, é rico em gás
carbônico e segue o sentido dos tecidos para o coração.
O volume sanguíneo ou volemia dos animais domésticos é regulado por quatro forças que
atuam nos líquidos intravascular e extravascular (ou intersticial).
As forças que atuam são: a pressão plasmática, que empurra o líquido para fora dos vasos
sanguíneos; a pressão do líquido intersticial, que empurra o líquido para dentro dos vasos; a
pressão osmótica coloidal (oncótica), que segura o plasma e puxa o líquido intersticial para
dentro dos vasos e a pressão coloide do líquido intersticial, que o mantém fora dos vasos e
tende a atrair o plasma para fora deles.
A pressão dos líquidos é regulada pela quantidade de proteína que possuem. No plasma, as
proteínas presentes são globulinas, fibrinogênio e albumina, esta responsável por cerca de
70% da pressão plasmática. No líquido intersticial, a quantidade de proteínas é muito menor,
em torno de um quarto da concentração da proteína plasmática, por isso há uma pequena
saída da albumina, que possui a molécula menor do que as globulinas.
Quando há perda de líquido pelo corpo, seja pela transpiração, respiração, micção ou
defecação, a maior perda ocorre no líquido intersticial, por isso, para compensar esta perda,
primeiramente ocorre saída do líquido intracelular para o meio externo e depois saída do
plasma para o interstício.
Com isso, o volume do plasma sofre redução e há um falso aumento do volume globular,
situação esta denominada hemoconcentração, que é reversível com a administração de
fluidos parenterais ou por ingestão.

SISTEMA HEMATOPOÉTICO

Vários órgãos estão envolvidos no processo de produção, denominado hematopoese, e


destruição, denominado hemocaterese ou hemólise. Em conjunto, estes órgãos compõem o
sistema hematopoiético-lítico, composto por: medula óssea, baço, linfonodos, timo, fígado,
tubo digestivo e rins.
A medula óssea, é o tecido existente no canal medular dos ossos longos e nas cavidades
trabeculares dos ossos esponjosos, classificada em dois tipos, vermelha ou
hematopoeticamente ativa, e amarela ou gordurosa, hematopoeticamente inativa. A medula
vermelha é predominante nos animais jovens e tem esta cor devido à grande quantidade de
eritrócitos e seus precursores, ela é formada por dois compartimentos, o vascular e
extravascular, sendo o extravascular onde ocorrem a eritropoese, a leucopoese e a
trombocitopoese. Também fornece células-tronco para os órgãos linfoides, onde são
produzidos e maturados os linfócitos. Além destas funções que compõem a hematopoese, a
medula óssea também concentra células do sistema monocítico fagocitário que retira
eritrócitos velhos da corrente sanguínea, fagocitando-os.
Os órgãos linfáticos, como o baço e os linfonodos participam tanto da hematopoiese quanto
da hemocaterese. O baço também armazena grande quantidade de eritrócitos. O timo, órgão
linfático ativo na juventude, participa da maturação dos precursores linfoides e dos linfócitos
T. Os linfócitos B não têm um local específico para a diferenciação nos mamíferos.
O fígado atua na hematopoiese e na síntese de hemoglobina, acumulando substâncias como a
vitamina B12, folato e ferro; além disso, sintetiza diversos fatores da coagulação, a albumina,
e provavelmente é o local de produção do precursor da eritropoetina, hormônio sintetizado
no rim e responsável pela eritropoese.
O sistema digestivo também participa da hematopoiese produzindo o ácido clorídrico, provoca
a redução dos complexos de ferro trivalentes ou bivalentes tornado sua absorção mais fácil.
Ele também produz um fator intrínseco que facilita a absorção da vitamina B12 e ainda possui
locais na mucosa intestinal onde esta vitamina, o folato e o ferro são absorvidos nas
quantidades necessárias. Os rins sintetizam a eritropoetina e também a trombopoetina, esta,
responsável pela trombocitopoese também participam da eliminação de parte da bilirrubina
através da urina, outra parte é eliminada nas fezes.

HEMATOPOESE

A hematopoiese compreende três processos: a eritropoese, que é a produção dos eritrócitos; a


leucopoese ou leucocitopoese, que é a produção dos leucócitos; e a trombocitopoese, que é a
formação das plaquetas.
Depois de adultos apenas a medula óssea dos ossos chatos e das extremidades dos ossos
longos se mantém ativa, nos demais ossos é substituída por tecido adiposo, em casos de
necessidade pode voltar a se tornar ativa, assim como os demais órgãos hematopoiéticos. Esta
situação, que geralmente ocorre em anemias ferroprivas importantes, é chamada de
metaplasia eritropoética ou regeneração extramedular da série vermelha.

ERITRÓCITOS

Glóbulos vermelhos ou hemácias e são as células mais numerosas do sangue de qualquer


animal, respondendo por cerca de 40% do volume sanguíneo. O éritron se refere ao conjunto
formado pelos eritrócitos maduros circulantes e por seus precursores presentes na medula
óssea e ocasionalmente em outros órgãos.
Os eritrócitos são compostos por água, hemoglobina, proteínas, carboidratos, lipídeos,
vitaminas e íons como sódio, potássio, fósforo, cloro, magnésio, manganês e zinco. A
hemoglobina é uma proteína responsável pela principal função dos eritrócitos, o transporte
dos gases respiratórios. Na hemácia, o oxigênio se liga à hemoglobina formando a oxi-
hemoglobina, presente no sangue arterial; e no sangue venoso, quem se liga a hemoglobina é
o dióxido de carbono ou gás carbônico, formando a carboxi-hemoglobina.
A membrana citoplasmática das hemácias é formada por proteínas, lipídeos e carboidratos.
Uma característica da membrana citoplasmática das hemácias, que complementa seu papel na
troca dos gases respiratórios, é a flexibilidade, permitindo que a hemácia passe pelos
sinusoides do baço e dos tecidos, seu período de vida que varia com a espécie animal, mas
geralmente está entre 60 e 120 dias.

ERITROPOESE

É o processo de formação dos eritrócitos que ocorre no interior da medula óssea e é


controlada por um hormônio estimulante chamado eritropoietina que é uma glicoproteína
produzida pelos rins nas condições de hipóxia tecidual, ou seja, quando há redução nos níveis
de oxigênio nos tecidos, também estimula a formação de plaquetas, mas não a de leucócitos.
Outras substâncias que estimulam indiretamente a eritropoese, por interferirem nos rins ou
fígado, são os hormônios andrógenos e as prostaglandinas (PGE1, PGE2 e PGI2). Opostamente,
os estrógenos atuam negativamente sobre a eritropoese, inibindo o fígado e os rins. Com isso,
machos tendem a ter mais eritrócitos do que as fêmeas. Outras substâncias acabam
estimulando a eritropoese porque elevam o consumo de oxigênio pelas células, como o
hormônio tireoidiano, hormônio adrenocorticotrófico, tirosina, tiroxina, corticoides, prolactina,
angiotensina e adrenalina. Além do estímulo da eritropoetina, o organismo de qualquer animal
precisa de diversas substâncias para produzir glóbulos vermelhos:
 Aminoácidos e proteínas provenientes dos alimentos, especialmente leite, ovos
e fígado;
 Vitaminas diversas, principalmente riboflavina (B2 ou G), piridoxina (B6),
niacina (B3, PP ou ácido nicotínico), ácido fólico (B9, M ou folacina), tiamina (B1
ou F) e cobalamina (B12 ou cianocobalamina), esta última indispensável nas
divisões celulares das fases nucleadas dos eritrócitos;

 Minerais, entre eles ferro, que é o principal componente do heme


(hemoglobina); cobalto, necessário na síntese da vitamina B12 e o cobre,
agente catalisador da eritropoese e cofator da enzima ALA- desidrase, que
participa da síntese do heme;
 Lipídeos, componentes da membrana citoplasmática dos eritrócitos, sendo que
o colesterol é o regulador da resistência osmótica da célula.

Em cães, estima-se que a renovação dos eritrócitos seja de aproximadamente 1% ao dia e em


gatos um pouco mais elevada do que isto, este valor garante a manutenção e o equilíbrio entre
os processos de destruição e formação de novas hemácias.
O tempo necessário para a maturação de um eritrócito é de aproximadamente sete dias e
envolve basicamente três mecanismos que acontecem em conjunto: primeiro, as mitoses para
multiplicação e que provocam diminuição do tamanho das células; segundo, a
hemoglobinização crescente, que reduz a basofilia e aumenta a acidofilia do citoplasma; e,
terceiro, a expulsão do núcleo, que se torna mais denso a cada fase, até ser eliminado. Esses
mecanismos de maturação determinam diferentes fases:
 UFC-E;
 Rubroblasto;
 Prorrubrócito;
 Rubrócito;
 Metarrubrócito;
 Reticulócito;
 Eritrócitos maduros.

METABOLISMO DO FERRO

O ferro é um dos principais elementos, se não o principal, da eritropoese, pois participa da


síntese da hemoglobina e também das moléculas de mioglobina, citocromos e de enzimas
hemáticas, peroxidase e catalase. A deficiência de ferro é considerada rara entre os animais, já
que a maioria dos alimentos possui quantidades suficientes deste elemento. O metabolismo
do ferro compreende sua absorção pela parede intestinal, sua circulação e armazenamento no
organismo animal e por fim, sua cinética na medula óssea.
A absorção do ferro ocorre no intestino delgado, especialmente no jejuno e no íleo, e é
facilitada quanto menor for o número de íons da molécula, assim os sais ferrosos bivalentes
são mais bem aproveitados do que os sais férricos trivalentes. Neste âmbito, o ácido clorídrico
e o ácido ascórbico têm papel fundamental, pois reduzem as moléculas trivalentes em
bivalentes, facilitando a absorção. Porém, substâncias como o suco pancreático e o ácido fítico,
encontrado em alguns cereais, formam compostos insolúveis com o ferro prejudicando sua
absorção.
Depois de ser absorvido pelas células intestinais, o ferro vai para o sangue e no plasma, liga-se
à proteína chamada transferrina. Contudo, essa ligação entre o ferro e a transferrina é
extremamente frágil e se desfaz com facilidade na medula óssea, liberando-o para os
precursores eritroides, onde é utilizado na síntese da hemoglobina.
O ferro não utilizado na síntese de hemoglobina fica armazenado no fígado, na forma de
complexo ferritina, no qual está ligado a molécula de apoferritina. Outra forma de
armazenamento do ferro, além da ferritina, é a hemossiderina. A primeira forma gera uma
reserva facilmente utilizável em casos de necessidade, pois a ligação com a apoferritina
reverte-se, o ferro volta a se ligar à transferrina e é conduzido até a medula óssea.
Na medula óssea, o ferro penetra o citoplasma dos precursores eritroides utilizando
receptores específicos, cerca de 90% é conduzido às mitocôndrias para ser incorporado à
molécula do heme e os outros 10% permanecem sob a forma de ferritina. Estes processos se
mantêm até a fase de metarrubrócito. Caso haja excesso de ferritina nos metarrubrócitos
estes são chamados de sideroblastos e se o mesmo ocorrer com eritrócitos adultos estes serão
denominados siderócitos.

METABOLISMO DA HEMOGLOBINA

A hemoglobina é uma proteína conjugada, composta pela globina, uma proteína simples, e por
um núcleo protético do tipo porfirina, o heme, que tem como principal elemento o ferro na
forma de ferro ferroso. Algumas substâncias agem no heme transformando o ferro ferroso em
ferro férrico e a hemoglobina passa à meta-hemoglobina, que não tem a capacidade de liberar
o oxigênio para os tecidos, provocando cianose. Substâncias capazes de agir na hemoglobina
desta forma incluem o acetaminofeno, anilina, sulfonamidas e nitratos.
O início da destruição e da reciclagem da hemoglobina começa no interior do macrófago,
ocorre o desmembramento da hemoglobina com a liberação do ferro, do heme e da globina e
formação da bilirrubina. A bilirrubina sai do macrófago e passa a circular no plasma onde se
liga à albumina plasmática, formando a chamada bilirrubina livre (bilirrubina indireta ou
hemobilirrubina), que circula pelo organismo do animal, mas não é capaz de ser eliminada pelo
rim, porque não atravessa o glomérulo. Uma característica importante da bilirrubina livre é
que ela é lipossolúvel.
Quando a bilirrubina livre chega ao fígado, ela abandona a albumina, e no interior dos
hepatócitos liga-se ao ácido glicurônico, formando o glicuronato de bilirrubina ou bilirrubina
conjugada (bilirrubina direta ou colibilirrubina). Esta sai dos hepatócitos e do fígado através
dos canalículos biliares, uma parte vai para o intestino e outra retorna à circulação pela veia
hepática. Opostamente à bilirrubina livre, a bilirrubina conjugada não é lipossolúvel e sim
hidrossolúvel.
A bilirrubina conjugada que chega ao intestino sofre a ação redutora de bactérias
transformando-se em urobilinogênio (cerca de 10%) e estercobilinogênio (cerca de 90%), os
que são eliminados pelos rins e pelo próprio intestino.

ANEMIAS

A anemia é uma situação patológica, em que o volume e o número de hemácias circulantes e


também a quantidade de hemoglobina estão reduzidos, os mecanismos envolvem redução da
volemia, hipóxia tecidual e a compensação do organismo. A redução da volemia ocorre,
obviamente, pela diminuição do número de eritrócitos, do volume sanguíneo circulante, que
prejudica a chegada do oxigênio aos tecidos levando à hipóxia. A partir do momento que a
hipóxia tecidual acontece, o organismo do animal coloca em funcionamento um mecanismo
compensatório em busca de maiores níveis de oxigênio. Esse conjunto de ocorrências leva aos
sinais clínicos geralmente observados nas anemias como: mucosas e conjuntivas pálidas,
dificuldades ao realizar algum exercício, manifestando cansaço além do esperado, cianose,
taquipneia (respiração acelerada) ou dispneia (respiração irregular).
Para o diagnóstico de anemia são realizados três exames: o hematócrito ou volume globular
(VG), a hemoglobinemia ou taxa de hemoglobina e a hematimetria ou número de eritrócitos
por mm3. Entre os três, o hematócrito é o mais simples e mais exato, ou seja, sempre que
estiver abaixo do normal significa que o animal está anêmico. A hemoglobinemia geralmente
acompanha o VG e também está diminuída na anemia, porém a hematimetria nem sempre
está diminuída. As alterações da contagem dos eritrócitos terão relação com a
regeneratividade da anemia, assim haverá redução nas anemias não regenerativas e no caso
das anemias regenerativas, a contagem poderá se apresentar dentro dos intervalos de
referência.

ANEMIAS – CLASSIFICAÇÃO QUANTO À MORFOLOGIA, CROMATICIDADE E REGENERATIVIDADE

Quanto à morfologia, as anemias são classificadas em três tipos:


 Microcítica: quando os eritrócitos têm tamanho menor do que o normal para a
espécie em questão;
 Normocítica: quando os eritrócitos têm tamanho normal para a espécie;
 Macrocítica: quando os eritrócitos são maiores do que o tamanho normal para
a espécie. Estas ainda podem ser reclassificadas como pseudomacrocítica e
macrocítica verdadeira.

A classificação quanto à cromaticidade está relacionada à quantidade de hemoglobina


presente em cada eritrócito, por isso é classificada em apenas dois tipos:
 Hipocrômica: quando os eritrócitos possuem quantidade de hemoglobina
menor do que o normal;
 Normocrômica: quando os eritrócitos possuem quantidade de hemoglobina
normal.

Não há classificação como anemia hipercrômica, pois a produção de hemoglobina é regulada


de modo que não há exacerbação.

Anemias Pseudomacrocíticas

São as mais comuns e podem ser observadas em processos hemorrágicos ou hemolíticos que
levam à diminuição do número de eritrócitos maduros e consequente hipóxia tecidual; assim a
medula óssea libera na circulação células jovens, como os reticulócitos, metarrubrócitos e até
rubrócitos, que são maiores do que as hemácias maduras que são maiores por serem jovens,
estas células também ainda não possuem a quantidade adequada de hemoglobina em seu
interior e serão classificadas também como hipocrômicas.

Anemias Macrocíticas Verdadeiras

Esse tipo de anemia se deve às deficiências de vitamina B12 (cobalamina ou cianocobalamina)


e vitamina B9 (ácido fólico ou folacina), essenciais à síntese do DNA, a falta destas vitaminas
prejudica as mitoses e estas cessam na fase de prorrubrócito; os processos de
hemoglobinização e expulsão do núcleo seguem normalmente, dando origem a células
maiores do que o normal, porém devidamente hemoglobinizadas, chamadas de
megaloblastos. Os megaloblastos estão presentes em anemias classificadas como macrocíticas
normocrômicas.
Nos animais as deficiências das vitaminas B12 ou B9 são incomuns. Cães e gatos são raramente
acometidos por este tipo de anemia, pois não dependem de um fator intrínseco para absorção
da vitamina B12, e nos casos dos cães, sua flora intestinal é capaz de sintetizar o ácido fólico.
Nas raras situações em que ocorre deficiência de uma destas vitaminas nos cães e gatos, a
anemia é normocítica normocrômica, pois os megaloblastos são retidos na medula óssea.

Anemias Normocíticas

As anemias normocíticas são também normocrômicas e estão frequentemente associadas à


falta de resposta da medula óssea, seja por inibição ou pouco estímulo à eritropoese
(deficiência de eritropoetina).

Anemias Microcíticas

São indicadoras de prejuízo na síntese da hemoglobina, pois são consequência da interrupção


do processo de maturação celular, assim como da hemoglobinização na fase de rubrócito.
Além disso, ainda ocorre uma mitose adicional, acarretando a formação de células pequenas e
pouco hemoglobinizadas, chamadas micrócitos, e por isso, as anemias microcíticas são
também hipocrômicas. Entre as causas de anemia microcítica hipocrômica:
 Deficiência de ferro: de origem alimentar é rara, este mineral é muito
difundido, pode ocorrer em filhotes, pois o leite é pobre em ferro.
 Deficiência de vitamina B6 (piridoxina): provoca este tipo de anemia nos cães.
 Deficiência de cobre: nos cães produz anemia normocítica normocrômica.
 Hemorragias crônicas: que consomem quantidade significativa de sangue do
animal e consequentemente o ferro disponível, prejudicando a eritropoese.
 Intoxicação por chumbo: provoca este tipo de anemia também em cães.
 Inflamações crônicas: processos inflamatórios crônicos geralmente levam à
anemia normocítica normocrômica, mas também podem causar anemia
microcítica hipocrômica. Isto ocorre porque os neutrófilos utilizam ferro na
produção de lactoferrina, substância importante à função destas células.
 Infecções bacterianas: especialmente aquelas causadas por bactérias que
consomem o ferro para seu metabolismo, tais como Staphylococcus aureus,
Scherichia coli, Pasteurella multocida e Mycobacterium tuberculosis. Na
tentativa de defesa, o organismo diminui a absorção do ferro, diminui a
produção da transferrina e aumenta o sequestro do ferro pelos macrófagos.
Este sequestro do ferro produz um efeito bacteriostático que impede a sua
utilização pelas bactérias, prejudicando seu desenvolvimento, porém também
prejudica a eritropoese, pois o ferro não se encontra disponível.

ANEMIAS – CLASSIFICAÇÃO QUANTO A RESPOSTA DA MEDULA ÓSSEA

Anemias Regenerativas

São causadas por um aumento da perda de eritrócitos maduros, enquanto a produção das
células jovens na medula óssea continua normal ou pode até ser estimulada; o que decorre de
dois tipos de eventos: hemorragias crônicas ou aumento da taxa de hemólise. Nas anemias
regenerativas, o número de reticulócitos circulantes encontra-se aumentado, o que serve de
indicador da regeneração medular.

Anemias regenerativas hemorrágicas

Podem ser decorrentes de hemorragias agudas ou crônicas. As hemorragias agudas podem


ocorrer por diversos motivos, como trauma, atropelamento, cirurgias, úlceras
gastrointestinais; intoxicação por dicumarínicos (por exemplo, warfarina, que age como
antagonista da vitamina K); intoxicação por anil (Indigofera suffruticosa), planta comum no
Nordeste do Brasil; intoxicação por samambaia (Pteridium aquilinum), que possui
componentes cancerígenos capazes de causar neoplasia na bexiga e no trato gastrointestinal,
inibição da medula óssea causando pancitopenia e hematúria enzoótica; e devido à coagulação
intravascular disseminada (CID).
A hemorragia apresenta uma fase inicial aguda, onde a anemia é normocítica normocrômica
não regenerativa, com hematócrito normal, já que a perda de células é proporcional à perda
de plasma, mas com o passar do tempo, o VG começa a declinar devido ao líquido intersticial
migrar para o interior dos vasos sanguíneos buscando compensar a perda plasmática. Em um
intervalo de 72 a 96 horas, a medula óssea começa a apresentar sinais de regeneração e há
presença de reticulócitos circulantes.
Em cerca de 7 dias, a anemia já é macrocítica hipocrômica, e entre 2 e 3 semanas não há mais
sinais de regeneratividade, a não ser que o episódio hemorrágico não tenha sido devidamente
controlado. Quando a é hemorragia crônica o diagnóstico da anemia somente ocorre quando
esta já é regenerativa. Entre as diversas causas de hemorragia temos:
 Helmintos hematófagos: os vermes hematófagos importantes são do gênero
Ancylostoma em cães e gatos.
 Ectoparasitos hematófagos: principalmente carrapatos em pequenos animais,
pode ser agravada pela transmissão de hemoparasitos. Outros ectoparasitos,
como pulgas, piolhos e mosquitos, também podem induzir à anemia, mas esta
é geralmente mais leve do que aquela causada por carrapatos.
 Coccidioses: nas quais é comum que ocorra diarreia sanguinolenta.
 Sangramentos diversos: os sangramentos podem ser consequência de
distúrbios da coagulação do sangue (hemofilias), úlceras internas, feridas
crônicas ou neoplasias. Esses sangramentos são em geral suficientes para
causar anemia, mas não para levar o animal a óbito, a não ser que haja um
colapso hemorrágico ou traumatismo com corte ou ruptura de tecidos e vasos
sanguíneos.

Anemias decorrentes de hemorragias crônicas dependem a princípio da quantidade de ferro


disponível nas reservas orgânicas do animal, que farão o ajuste da medula óssea, para que esta
reponha os eritrócitos perdidos, fazendo com que a anemia seja do tipo macrocítica
hipocrômica. Conforme as reservas de ferro se esgotam e o processo hemorrágico não é
interrompido, a hemoglobinização torna-se mais complicada, fazendo-se necessária a adição
de uma mitose, originando micrócitos, que caracterizam anemia microcítica hipocrômica. Se a
causa da hemorragia crônica não for resolvida, a medula óssea pode se esgotar e a anemia se
torna arregenerativa.

Anemias regenerativas hemolíticas


A hemólise é um processo fisiológico do sistema hematopoiético-lítico, quando a taxa de
hemólise é maior do que a taxa de reposição dos eritrócitos ocorrem as anemias hemolíticas.
Nesses casos, a hemólise não se restringe às hemácias velhas e agride também os eritrócitos
maduros e normais, podendo ser causada por dois tipos de mecanismos, intravascular e
extravascular. Geralmente as anemias hemolíticas são mais regenerativas, apresentando mais
de 5% de reticulócitos circulantes, porque as hemácias são destruídas dentro do organismo do
animal e o ferro é rapidamente reutilizado na produção de novos eritrócitos.
No caso da hemólise intravascular, os eritrócitos são destruídos no interior dos vasos
sanguíneos, havendo liberação da hemoglobina no plasma, que provoca hemoglobinemia e
posterior presença de hemoglobina na urina, chamada de hemoglobinúria. Quando a
hemoglobina é liberada no sangue, ela se une a haptoglobulina formando o complexo
hemoglobina-haptoglobulina.
Este complexo não é eliminado pelos rins por ser excessivamente grande para passar pelos
glomérulos, o que acarreta falta de haptoglobulina para se conjugar a quantidade de
hemoglobina presente no sangue, assim esta hemoglobina livre é filtrada nos glomérulos e
reabsorvida nos túbulos proximais onde é catabolizada em bilirrubina livre (bilirrubina +
albumina) e enviada para o fígado e excretada pela bile. Caso a quantidade de hemoglobina
livre no plasma supere esses dois mecanismos, ela acaba sendo eliminada na urina e
acarretando a hemoglobinúria. Nos casos em que a hemólise intravascular não cessa e a
hemoglobinúria se instala de modo intenso, ocorre lesão do parênquima renal e consequente
insuficiência renal.
Outro mecanismo que ocorre na hemólise intravascular é a oxidação da hemoglobina livre em
meta-hemoglobina que se divide em heme e globina. O heme se liga a uma proteína
plasmática chamada hemopexina, forma o complexo heme-hemopexina, que é removido pelos
hepatócitos e também dá origem à bilirrubina. Caso o heme extrapole a hemopexina
disponível, ele pode se associar à albumina, formando metemalbumina, que também vai para
o fígado e é metabolizada em bilirrubina. Com aumento da bilirrubina circulante, há
pigmentação das mucosas e da pele, produzindo icterícia.
Na hemólise extravascular, os eritrócitos são removidos da circulação por apresentarem
alguma alteração da membrana, que pode ser causada por parasitos sanguíneos ou por ação
de imunoglobulinas. Essa remoção acontece por fagocitose no baço e outros órgãos, que eleva
as taxas de hemólise. Nos casos em que a hemólise extravascular é exclusiva, nem sempre
ocorre icterícia, pois geralmente há tempo para que a bilirrubina livre seja metabolizada e
eliminada pelo organismo. Entre as causas de anemias hemolíticas estão:
 Parasitos intraeritrocitários: determinam hemólise intravascular por ação direta
do hemoparasito e também hemólise extravascular das hemácias parasitadas.
 Dirofilariose: causada pelo verme nematódeo Dirofilaria immitis,
popularmente conhecido como verme do coração. Estes vermes se hospedam
no coração direito e artérias pulmonares, onde desencadeiam hemólise
mecânica.
 Leptospirose: as bactérias do gênero Leptospira acometem todos os animais e
produzem hemolisinas, substâncias capazes de provocar diretamente a
hemólise intravascular. Com a evolução da doença e a produção de anticorpos,
também pode ocorrer hemólise extravascular.
 CID: na coagulação intravascular disseminada, a fibrina localizada nas arteríolas
provoca fragmentação dos eritrócitos e estes são posteriormente fagocitados.
 Hemoglobinúria por frio: raramente em caninos. Ao ingerirem grande
quantidade de água gelada e serem mantidos em baias quentes, estes animais
desenvolvem hemólise.
 Destruição imunomediada: determina anemia, através de hemólise, mediada
pela presença de anticorpos contra os eritrócitos, o que decorre de diferentes
mecanismos:
 Anemia hemolítica autoimune (AHAI): trata-se de uma patologia na qual são
produzidos autoanticorpos contra os próprios eritrócitos. Tais autoanticorpos
agem como aglutininas, provocando a formação de grupos que são fagocitados
no baço. A ação dos anticorpos sobre a membrana das hemácias faz com que
elas assumam uma forma esférica, sendo chamados esferócitos; além disso,
nesse tipo de anemia geralmente há uma intensa regeneratividade, com
policromatofilia e presença de células nucleadas na circulação; apesar disso
também pode haver casos arregenerativos de AHAI. Outras alterações
presentes: eritrócitos de diferentes tamanhos, aumento do número de
leucócitos, especialmente dos neutrófilos. As causas da AHAI podem ser
diversas, doenças imunes que acometem os eritrócitos e consequentemente
bactérias, vírus, protozoários, hepatopatias e neoplasias.
 Anemia hemolítica imunodeterminada: ocorre quando são formados
anticorpos contra os eritrócitos devido a uma lesão na membrana destas
células. As lesões de membrana de eritrócitos acontecem por ação de drogas,
vírus ou toxinas bacterianas. Geralmente este tipo de anemia é acompanhado
por trombocitopenia, já que as alterações de membrana e ação dos anticorpos
também atingem as plaquetas.
 Transfusões sanguíneas incompatíveis: este tipo de problema geralmente não
ocorre em uma primeira transfusão, pois os animais não apresentam grande
quantidade de anticorpos contra eritrócitos. No entanto, em uma segunda
transfusão, o animal já terá produzido anticorpos e poderá reagir contra o
sangue do doador, desencadeando o processo hemolítico.
 Anemia hemolítica dos recém-nascidos: também chamada de isoeritrólise
neonatal; esse tipo de anemia é causado pela produção de anticorpos, ao longo
da gestação, por parte da mãe, contra os eritrócitos do feto, o que acontece
por incompatibilidade sanguínea entre os pais. O filhote nasce saudável, mas
ao ingerir o colostro recebe os anticorpos, que recobrem suas hemácias e
desencadeiam tanto hemólise extravascular quanto intravascular, quando há
participação do complemento.
 Anemias hemolíticas tóxicas: certas substâncias agem sobre os eritrócitos
causando anemias. Estas substâncias oxidam a hemoglobina e levam ao
aparecimento de corpúsculos de Heinz na superfície das hemácias, que serão
posteriormente fagocitadas pelo baço. Venenos, como os de cobra, também
provocam anemia hemolítica tóxica, mas por causarem hemólise intravascular.
 Fenotiazina: equinos;
 Metionina, fenazopiridina, ácido acetilsalicílico: gatos;
 Vitamina K3: cães;
 Acetaminofeno, azul de metileno, pomadas com benzocaína: cães e gatos;
 Cebola: bovinos, ovinos, equinos, cães;
 Anemia hemolítica congênita: essa modalidade de anemia é um tanto rara
entre os animais, é causada por um gene recessivo que leva à carência
congênita de isomerase, cursando com acúmulo de uroporfirina I, não
utilizável, e deficiência de uroporfirina II, utilizável. Os sinais clínicos incluem
porfirinemia (aumento dos níveis séricos das porfirinas, que são pigmentos
precursores da hemoglobina carentes de ferro), porfirinúria (eliminação das porfirinas
pela urina), osteo-hemocromatose (acúmulo de porfirina nos dentes e ossos) e
fotossensibilização especialmente nas áreas pigmentadas do corpo.

Anemias Arregenerativas

São também chamadas não regenerativas ou aplásicas, pois são causadas por hipoplasia da
medula óssea, ou seja, diminuição da produção dos eritrócitos por diminuição do número de
precursores eritroides. Essas anemias são classificadas em normocíticas normocrômicas e a
presença dos reticulócitos é geralmente nula. São mais incomuns do que as regenerativas e
mais difíceis de tratar. Dividem-se em primárias e secundárias; no caso das primárias há uma
disfunção inicial da própria medula óssea, enquanto nas secundárias, a origem da anemia está
em outro órgão ou parte do sistema que desencadeia problemas na eritropoese.

Anemias arregenerativas primárias

Há apenas um tipo de anemia aplásica primária e que é extremamente rara nos animais
domésticos. Ainda não se sabe o que causa a hipoplasia da medula óssea, mas há uma
diminuição progressiva da eritropoese e consequente queda do número de eritrócitos
circulantes.

Anemias arregenerativas secundárias

Estas anemias são causadas por processos patológicos que se iniciam em outros órgãos ou
partes do organismo, que não a medula óssea, mas afetam a eritropoese. As causas dessas
anemias podem ser diversas como falta de nutrientes importantes na formação dos
eritrócitos; ação de agentes físicos,
químicos ou biológicos; e também mecanismos nem sempre bem esclarecidos que envolvam
infecções ou processos degenerativos:
 Anemias carenciais: podem ocorrer por deficiência de inúmeras substâncias
participantes da eritropoese, tais como vitaminas, minerais, aminoácidos e
proteínas, as anemias ferroprivas e também outros casos.
 Ação de agentes físicos ou químicos: decorrentes do uso de radiação
(radioterapia) ou de produtos químicos, que determinam hipoplasia da medula
óssea, tais como benzeno, cloranfenicol, tetraciclina, aureomicina, penicilina,
estreptomicina, ácido acetilsalicílico, dipirona, sulfadiazina, vincristina,
cefalosporina, BHC (inseticida fitossanitário organoclorado persistente) e
álcool combustível. A lesão às células-tronco da medula óssea determinada por
estes agentes físico-químicos varia com a dose administrada, o tempo de exposição e
também depende da sensibilidade individual.
 Neoplasias: vários tipos de câncer são acompanhados por anemia, geralmente
do tipo aplásica, mas os mecanismos que a provocam não estão bem claros.
Anemias presentes nas leucemias, pois nestas, a proliferação de células
leucêmicas dentro da medula óssea substitui os locais antes ocupados por
células eritropoéticas.
 Distúrbios orgânicos: a insuficiência renal crônica pode levar à anemia por
deficiência na produção da eritropoetina e consequente falta de estímulo da
eritropoese. A insuficiência hepática crônica causaria anemia por mecanismos
semelhantes, já que se supõe que o precursor da eritropoetina é produzido no
fígado.
 Endocrinopatias: diversas endocrinopatias podem causar anemia
arregenerativa por mecanismos diferentes;
 Hipoandrogenismo: interfere na produção da eritropoetina;
 Hiperestrogenismo: inibe o fígado a produzir o precursor da eritropoetina e
atrapalha a ação desta;
 Hipopituitarismo, hipotireoidismo, hipoadrenocorticismo: hormônios como
ACTH, TSH, STH, T3 e T4 aceleram o metabolismo celular elevando as
necessidades de oxigênio e estimulando indiretamente a eritropoese, assim
suas deficiências também prejudicam a medula óssea. Outro fato é que a
deficiência de tiroxina prejudica a fixação de oxigênio nas hemácias, causando
hipóxia tecidual.
 Inflamações e infecções crônicas: nestes casos, vários mecanismos convergem
para agressão às hemácias. Estes mecanismos envolvem produção de
substâncias tóxicas que inibem a eritropoese, defeitos no metabolismo da
eritropoetina, diminuição da vida útil dos eritrócitos maduros, diminuição da
capacidade de regeneração medular, diminuição da capacidade de transporte de
ferro para a medula óssea e fagocitose deste mineral. Entre as principais inflamações
causadoras de anemia estão artrites e reumatismo; e entre as infecções estão
erlichiose monocítica canina, cinomose e parvovirose.
 Anemias virais: felinos com o vírus da leucemia felina (FeLV) ou da
panleucopenia felina. Nos gatos com FeLV há diminuição do ferro plasmático e
da reserva de ferro, levando à anemia aplásica; além disso também pode
ocorrer neoplasia como linfoma.

POLICITEMIAS

Também chamada de poliglobulia, é o inverso da anemia, é o aumento do número de


eritrócitos circulantes. Assim como na anemia, a policitemia raramente é primária e
geralmente decorre de outra patologia. Animais com policitemia podem manifestar congestão
de mucosas, congestão dos vasos da esclerótica e do fundo do olho e também aumento da
viscosidade do sangue. Sinais inespecíficos como
letargia, sonolência, dificuldades respiratória e cardíaca, também podem ocorrer aumento
dos parâmetros eritrocitários, com volume globular, hemoglobina e contagem de eritrócitos
maiores que o esperado para a espécie. As policitemias podem ser classificadas em falsas ou
verdadeiras e estas em primárias ou secundárias.

POLICITEMIA FALSA OU RELATIVA

É causada por hemoconcentração em consequência à desidratação. A desidratação provoca


perda de água do plasma, no entanto o número de células não se altera, provocando
hemoconcentração, aumento da densidade urinária e da PPT. Este é o tipo mais comum
de policitemia nos animais.
Outra causa de policitemia falsa é a esplenocontração, já que o baço armazena grande volume
de eritrócitos e, portanto, possui um reserva para situações de estresse onde há liberação de
adrenalina e a oxigenação dos tecidos precisa se elevar, o baço se contrai e libera eritrócitos na
corrente sanguínea. Um fator determinante na esplenocontração é a quantidade de
musculatura lisa existente na cápsula do baço dos animais, por isso cães e gatos são capazes
de aumentar em 6 a 15% a massa eritrocitária.

POLICITEMIA VERDADEIRA

Quando não há alteração significativa no volume de líquido intravascular e sim real aumento
do número de hemácias, devido à maior produção destas pela medula óssea. A policitemia
verdadeira pode ser dividida em primária e secundária:
 Primária: tem caráter neoplásico e até hoje só foi descrita em seres humanos;
 Secundária: é causada por oxigenação insuficiente dos eritrócitos e consequente
insuficiência cardiorrespiratória. Se a hipóxia estimula a produção e a ação da
eritropoetina, há maior produção de eritrócitos, exatamente como ocorre nas anemias
regenerativas, porém sem hemólise. O resultado destes mecanismos é o aumento do
número de eritrócitos e instalação real da policitemia.

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS ERITRÓCITOS

Policromatofilia ou Policromasia

Os policromatófilos são eritrócitos jovens, maiores do que os maduros, que já eliminaram o


núcleo, mas ainda apresentam basofilia pela presença de RNA, por isso esta alteração indica
resposta ativa da medula óssea, ou seja, ocorre nas anemias regenerativas.
Estas células também são chamadas de reticulócitos e algumas espécies apresentam a
policromatofilia como alteração normal e frequente, principalmente cães e gatos, sendo
necessária a contagem destas células para caracterizar ou não uma anemia como regenerativa.

Hipocromia e Microcitose

Quando os eritrócitos possuem menos hemoglobina do que o esperado, são chamados de


hipocrômicos e a alteração, hipocromia. Em consequência à falta de hemoglobina, o eritrócito
fica menor do que o normal da espécie, sendo chamado de micrócito e a alteração de
microcitose. As anemias de características microcíticas hipocrômicas quase sempre são do tipo
ferropriva.

Anisocitose

Presença de eritrócitos de tamanhos diferentes, o que acontece nas anemias regenerativas


quando há células de tamanho normal, policromatófilos e também micrócitos nas anemias
ferroprivas.

Rouleaux e Hemoaglutinação

São grupos de eritrócitos que aparecem formando cadeias ou pilhas de células no rouleaux ou
agrupamentos desorganizados na hemoaglutinação. Eles ocorrem quando a proteína
plasmática total (PPT) está aumentada, tanto em processos inflamatórios, neoplásicos,
infecções e até na gestação.
O rouleaux acelera a velocidade de hemossedimentação, que mede a capacidade dos
eritrócitos se sedimentarem, a hemoaglutinação não é normal em nenhuma espécie; são
apontadas como alterações e também podem ser classificadas de acordo com sua intensidade,
em discreta, moderada e intensa.
Poiquilocitose

Referente à diversas alterações na forma dos eritrócitos. Hemácias em alvo


Estes são eritrócitos nos quais houve concentração da hemoglobina na região central da
célula, fazendo com que esta reproduza a forma de um alvo. Estas células são também
chamadas de leptócitos, codócitos ou target cells. São associadas à talassemia, estados
homozigotos de disfunção da hemoglobina, situação não hemolíticas como icterícia obstrutiva,
após esplenectomia, e em doenças hepáticas ou esplênicas crônicas.

Excentrócitos

São eritrócitos que apresentam a hemoglobina concentrada em um de seus polos,


apresentando o outro polo pálido. Esta alteração se deve à oxidação da membrana celular do
eritrócito.

Esferócitos

São eritrócitos de forma esférica, que tem essa forma porque sofreram uma deformação de
sua membrana citoplasmática devido à ação de anticorpos antieritrócitos, são produzidos na
anemia hemolítica autoimune (AHAI) em cães, anemias hemolíticas causadas por drogas e
anemia hemolítica do neonato. Além da forma esférica, os esferócitos são menores do que as
células normais.

Hemácias – Fantasma

As hemácias-fantasma ocorrem por processos de hemólise intravascular e também estão


presentes nas anemias imunomediadas, como a AHAI, processos de intoxicação ou injúria aos
eritrócitos.

Acantócitos ou burr cells

São eritrócitos de forma irregular, que podem ser vistos na forma de estrela e serra circular,
estão presentes em doenças renais e esplênicas, hemangiossarcomas e na cirrose.

Crenação

É considerada a alteração mais comum dos eritrócitos, na maioria das vezes não se trata de
uma alteração patológica e sim um artefato de técnica, geralmente causado pelo
anticoagulante, o EDTA. A crenação artificial não deve ser confundida com poiquilocitose e
uma das formas de diferenciá-la da crenação real é sua presença maciça nos eritrócitos,
enquanto a crenação real ou qualquer outra manifestação de poiquilocitose atinge
parcialmente as hemácias. Eritrócitos realmente crenados também são chamados de
equinócitos e devem-se a distúrbios metabólicos.

Eliptócitos
Ou ovalócitos são eritrócitos de formato oval com ou sem área central de palidez, que quando
está presente também é oval. Seu significado parece estar relacionado à herança genética que
compromete o citoesqueleto das hemácias.

Estomatócitos
Apresentam a área central de palidez com o formato de fenda e não arredondada. Estas
células ocorrem por defeito na membrana e geralmente estão presentes nas anemias
hemolíticas.

Esquistócitos

São hemácias deformadas ou apenas fragmentos destas, que aparecem sob formas diversas.
Os esquistócitos são resultado de defeito na produção das hemácias ou destruição acelerada
destas, podendo estar presente em processos de vasculite, CID, doenças renais ou esplênicas
crônicas e também nas anemias ferroprivas.

Queratócitos

São hemácias que apresentam duas protrusões citoplasmáticas que se assemelham a cornos.
Em alguns casos, além das projeções, o citoplasma forma uma espécie de arco entre elas;
nestes casos, as hemácias são chamadas de vesiculadas.

Dacriócitos

São eritrócitos em forma de lágrima ou pera e estão geralmente ligados a problemas na


medula óssea ou talassemia.

Inclusões intraeritrocitárias:
 Corpúsculos de Howell-Jolly: esses corpúsculos são formados por resquícios de
núcleo no citoplasma, por isso denotam a liberação de células jovens na circulação e
estão presentes nas anemias regenerativas. Geralmente o baço acaba recolhendo
estas células da corrente sanguínea.
 Corpúsculos de Heinz: estes corpúsculos são formados a partir da oxidação da
hemoglobina, que é vista na forma de projeções pálidas ou refratárias à coloração na
periferia dos eritrócitos. Eles surgem após o animal ter recebido algum tipo de
sustância oxidante (anemias hemolíticas tóxicas); também podem aparecer em gatos
com enteropatias graves causadas por agentes tóxicos.
 Ponteado basófilo: trata-se da precipitação do RNA citoplasmático formando pontos
azuis ao longo da hemácia. Seu significado é o mesmo da policromatofilia, indica a
presença de um eritrócito jovem, um ponteado grosseiro, sem que o animal apresente
anemia ou esta seja muito discreta, indica intoxicação por chumbo, chamada
saturnismo, mais frequente em cães.
 Inclusões virais: são de tamanho variável. Além dos eritrócitos, os leucócitos
também podem apresentar estas inclusões. No caso da cinomose, as inclusões
são chamadas corpúsculos de Sinegaglia-Lentz.

Parasitos de Eritrócitos

As hemoparasitoses de eritrócitos dos animais são importantes por desencadearem


mecanismos de hemólise intra e extravascular. Consequentemente à hemólise, os animais
manifestam anemia e sintomas clínicos característicos:
 Caninos: Babesia canis; Mycoplasma haemocanis;
 Felinos: Mycoplasma haemofelis; Candidatus M. haemminutum; Cytauxzoon felis.

As babesias determinam hemólise intravascular por romperem as hemácias ao abandoná-las,


e também hemólise extravascular, já que muitos eritrócitos parasitados são fagocitados no
baço. Assim, na babesiose é comum que ocorra icterícia, hemoglobinúria e a anemia seja
regenerativa, com características morfológicas de hipocromia, microcitose e policromatofilia.
No caso das anemias causadas pelos micoplasmas hemotrópicos (Mycoplasma e Candidatus
Mycoplasma), estes se localizam na superfície dos eritrócitos e geralmente não as penetram,
mas causam erosão na membrana celular, aumentando a fragilidade osmótica e reduzindo a
vida útil das hemácias. Então ocorre hemólise imunomediada devido ao estímulo da produção
de anticorpos contra os próprios eritrócitos.
Na cytauxzoonose, doença grave, frequentemente fatal, que acomete felinos , a anemia é
normocítica normocrômica e decorrente de hemólise intravascular e destruição
imunomediada das hemácias.

LEUCÓCITOS

Os leucócitos ou glóbulos brancos são responsáveis pelos mecanismos de defesa do organismo


animal atuando conjuntamente em processos inflamatórios e imunológicos, compondo os
elementos celulares da inflamação.
São classificados em mielócitos, para aqueles que são formados na medula óssea e inclusive
têm origem na mesma célula (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos), e linfócitos, para
os que são formados nos órgãos linfáticos.
As características morfológicas dos mielócitos são:
 Neutrófilos: possuem núcleo segmentado, formado por 2 a 5 porções que se mantêm
unidas por filamentos de cromatina. O número de segmentações do núcleo
acompanha o envelhecimento desta célula, assim os mais jovens têm o núcleo em
forma de bastão, ainda não segmentado, por isso são chamados de bastonetes, e os
mais velhos podem apresentar mais de 5 segmentações, sendo chamados de
neutrófilos hipersegmentados.
 Eosinófilos: também possuem o núcleo segmentado e possuem grânulos no
citoplasma, porém estes têm afinidade pelos corantes ácidos, como a eosina.
 Basófilos: possuem o núcleo segmentado e grânulos citoplasmáticos, mas seus
grânulos têm afinidade oposta a dos eosinófilos, já que os basófilos têm afinidade por
hematoxilina.
 Monócitos: são morfologicamente classificados como mononucleares
agranulócitos, são maiores do que os segmentados, não apresentam grânulos e
o núcleo apesar de não ser segmentado pode ter formas irregulares.

Os únicos leucócitos que, portanto, não são mielócitos são os linfócitos. Os linfócitos são
células redondas ou ovais com núcleo que frequentemente acompanha o formato da célula e
pode ocupar quase a totalidade do citoplasma, possuem tamanho variável, sendo pouco
maiores do que os eritrócitos ou até mesmo do tamanho dos monócitos. As duas populações
de linfócitos, B e T, não podem ser distinguidas morfologicamente a partir de esfregaços
convencionalmente corados pelos corantes hematológicos, para isso são necessárias
colorações especiais baseadas em reações imuno-histoquímicas.

LEUCOCITOPOESE

Assim como a eritropoese, a leucocitopoese ou leucopoese ocorre no espaço extravascular da


medula óssea e tem início na célula-tronco que também dá origem as células que povoam os
órgãos linfoides e que posteriormente formarão os linfócitos.
Na medula óssea, as células precursoras dos leucócitos são divididas em duas populações. A
primeira é formada por células que sofrem mitose e a segunda por aquelas que já não se
dividem mais e apenas passam por processos de amadurecimento, sendo chamadas de
população ou compartimento de reserva. O mieloblasto é a primeira célula da granulopoese,
ou seja, o processo de formação e amadurecimento dos granulócitos. As etapas deste
processo, que demora em média 7 dias, são:
 Mieloblasto
 Promielócito
 Mielócito
 Metamielócito
 Bastão
 Segmentados

Na monocitopoese o processo de formação e amadurecimento passa pelas seguintes fases:


 Monoblasto
 Promócito
 Monócito

A leucocitopoese e a saída das células maduras para a corrente sanguínea são reguladas pelas
necessidades do organismo, mas a maioria da população leucocitária permanece no interior
da medula óssea. Normalmente, a quantidade de neutrófilos produzidos pela medula óssea é
equivalente à migração destas células para os tecidos, havendo um controle fisiológico e
patológico sobre o processo. Este controle é exercido por meio das seguintes substâncias:
fator estimulante de colônia (FEC), glicoproteína estimuladora de mitoses, sintetizada por
macrófagos, leucócitos e células endoteliais; anticalone, substância presente no soro e que
também estimula as mitoses; prostaglandina I2 (PGI2) e lítio, estimuladores da granulopoese;
fator inibidor de colônia (FIC), que age inibindo o FEC; calone, produzido pelos segmentados,
inibe o anticalone e consequentemente as mitoses; e prostaglandina E1 (PGE1), prostaglandina
E2 (PGE2) e lactoferrina, que inibem a granulopoese.
Na corrente sanguínea, os leucócitos formam duas populações distintas, a população marginal,
que se encontra aderida à parede dos vasos sanguíneos e migra a uma velocidade mais lenta; e
a população circulante, que migra a uma velocidade maior, juntamente ao plasma e aos
eritrócitos. Em cães, o número de células no compartimento marginal e no compartimento
circulante são equivalentes, enquanto no gato, a população marginal é duas a três vezes maior
do que a circulante.
Diferentemente dos demais leucócitos, a formação de linfócitos, denominada linfopoese ou
linfocitopoese, não ocorre no interior da medula óssea. Uma célula originária da célula-tronco,
e que não segue a linhagem mielomonocítica, migra para o timo, onde sofre uma
diferenciação, e em seguida migra novamente para os demais órgãos linfáticos, nos quais
origina uma população de linfócitos timo- dependentes, os chamados linfócitos T.
Uma diferença dos demais leucócitos é o fato de que os linfócitos podem entrar e sair da
corrente sanguínea mais de uma vez, e sua vida média é significativamente mais longa que a
deles. Outra especificidade é que mesmo depois de maduros, os linfócitos podem retornar
a blastos e se dividir, aumentando a população; isto ocorre especialmente nos casos
em que há estimulação destas células a partir de determinados antígenos.

FUNÇÕES DOS LEUCÓCITOS

A principal área de atuação é o processo inflamatório onde os leucócitos identificam,


neutralizam e destroem os antígenos de origem interna ou externa. As funções específicas de
cada leucócito são:
 Neutrófilos: quando estão maduros estes são liberados pela medula óssea para a
corrente sanguínea e dali migram para o foco inflamatório através do endotélio
vascular. Eles compõem a primeira linha de defesa celular contra microrganismos, são
responsáveis por fagocitose e possuem ação bactericida, incluindo a quimiotaxia
seguida de ingestão e degranulação, que provoca a morte bacteriana. Sua ação não se
limita a bactérias, também agindo sobre fungos, leveduras, algas, parasitas e vírus.
 Eosinófilos: possuem capacidade fagocítica e bactericida, assim como os neutrófilos,
porém são menos eficazes do que estes. Os eosinófilos aderem-se a helmintos
contribuindo na eliminação destes e são atraídos por mediadores químicos liberados
pelos mastócitos.
 Basófilos: estas células são fonte de mediadores do processo inflamatório, e
consideradas pouco importantes, inclusive por sua pequena presença do sangue.
 Monócitos: fagocitam e digerem materiais estranhos, debris celulares e células
mortas. Contra as bactérias são menos eficazes do que os neutrófilos. Os monócitos
deixam a circulação com ou sem a presença de processos inflamatórios, e uma vez
nos tecidos, eles se transformam em macrófagos, que contém maior número de
enzimas proteolíticas e grânulos, em relação aos primeiros. Raramente, os
macrófagos são vistos em esfregaços sanguíneos, o que pode ocorrer em doenças
como erlichiose canina, leishmaniose e histoplasmose.
 Linfócitos: compõem a primeira linha de defesa imunológica contra infecções e podem
ser de dois tipos, B e T. Os linfócitos T circulam entre os sistemas sanguíneo e linfático,
produzindo substâncias citotóxicas e mediadoras do processo inflamatório, enquanto
os linfócitos B permanecem mais fixos, especialmente nos tecidos linfoides,
produzindo os anticorpos.

Entre os mecanismos utilizados pelos leucócitos no processo inflamatório, estão:


 Fagocitose: mecanismo de ingestão de uma partícula sólida pela célula. Os leucócitos
fagocitários são os neutrófilos, eosinófilos e monócitos. Os neutrófilos são geralmente
os primeiros a chegar aos focos de inflamação, onde iniciam a fagocitose e se
concentram principalmente contra as bactérias. Em seguida, vêm os monócitos,
responsáveis por fagocitar partículas maiores, tais como fibrina, complexos antígeno-
anticorpo, detritos celulares e até mesmo os neutrófilos que morreram em função
da ação de toxinas bacterianas ou de suas próprias enzimas citolíticas. Já a fagocitose
realizada pelos eosinófilos é mais específica e vagarosa.
 Citotoxicidade: a citotoxicidade é o mecanismo que envolve a produção de substâncias
tóxicas às células patogênicas. Este mecanismo é de responsabilidade dos linfócitos T,
que migram até os pontos de inflamação, secretam estas substâncias, chamadas de
linfocinas, que atuam sobre bactérias, fungos, protozoários e células neoplásicas ou
parasitadas por vírus.
 Produção de anticorpos: este papel é desempenhado pelos linfócitos B, que quando
estimulados pelos antígenos, transformam-se em plasmócitos e secretam
imunoglobulinas, os anticorpos, responsáveis pela imunidade humoral.

Os leucócitos chegam ao foco do processo inflamatório por diapedese, isto é, passando por
espaços entre as células endoteliais da parede dos vasos sanguíneos. Para isso são necessárias
substâncias que atraem estas células para o foco inflamatório, tais como componentes do
sistema complemento, especialmente C5, eosina, produtos de bactérias, complexos antígeno-
anticorpo e inclusive os detritos de neutrófilos que já morreram.
Os neutrófilos são geralmente os mais mobilizados nos processos inflamatórios; dos quais os
primeiros a migrarem são aqueles que se encontram na população marginal dos vasos, depois
os do compartimento de reserva da medula óssea e por fim, os do compartimento mitótico
da medula, o que pode desencadear a liberação de células ainda imaturas na corrente
sanguínea.
Um neutrófilo maduro permanece entre 6 e 14 horas na circulação, antes de migrar para o
processo inflamatório. Ali, após sua ação fagocítica, os neutrófilos são destruídos tanto pela
ação de toxinas liberadas pelos agentes fagocitados como pelas substâncias presentes no
próprio vacúolo citoplasmático onde retém o agente, chamado fagossoma. Esta fase é
considerada aguda no processo inflamatório.
Após a fase aguda, é o momento da atuação dos linfócitos, que anteriormente tinham
dificuldade de acessar o foco da inflamação pela presença de corticosteroides, que atuam
como linfodepressores. Os
linfócitos são estimulados conforme o antígeno presente no foco, isto é se o antígeno induz
resposta imunológica tipo T, estes linfócitos migrarão, já se o antígeno é imunogênico para
linfócitos B, estes também serão atraídos, porém sempre em menor número, visto que a
atuação dos linfócitos B é muito mais sistêmica do que localizada.
Praticamente em conjunto à chegada dos linfócitos, também ocorre a chegada dos monócitos
ao sítio da inflamação. Nos tecidos, os monócitos diferenciam-se em macrófagos e agem sobre
as partículas maiores e restos celulares, como dito anteriormente. Assim, o aumento do
número de monócitos circulantes geralmente está relacionado ao término da fase crítica da
inflamação.
Quanto aos eosinófilos, estes estão geralmente ausentes na fase aguda da inflamação, sendo
mais frequentes com o passar do tempo ou ainda em processos inflamatórios desencadeados
por alérgenos (reação de hipersensibilidade) e parasitas, especialmente os que agridem
tecidos. Os basófilos são raros, tanto na corrente sanguínea como na inflamação, sendo sua
presença considerada rara, mas geralmente estimulada pela presença dos eosinófilos.

LEUCOPENIA E LEUCOCITOSE

As alterações quantitativas dos leucócitos na corrente sanguínea são chamadas de leucopenia,


quando ocorre a diminuição, e leucocitose, quando há aumento do número dessas células
circulantes. Ambas podem ser decorrentes de alterações numéricas de todos os tipos de
leucócitos, bem como de apenas um ou alguns deles, e os motivos para que estas alterações
aconteçam são diversos, como veremos adiante. As alterações quantitativas dos diferentes
tipos de leucócitos são:
 Neutrófilos: neutropenia e neutrofilia, diminuição e aumento do número de
neutrófilos, respectivamente (e assim será citado com os demais);
 Eosinófilos: eosinopenia e eosinofilia, para eosinófilos também se usa o termo
aneosinofilia, quando este tipo de leucócitos encontra-se ausente;
 Basófilos: basopenia ou basofilia;
 Monócitos: monocitopenia ou monocitose;
 Linfócitos: linfopenia ou linfocitose.

NEUTROFILIA

As neutrofilias correspondem ao aumento do número de neutrófilos circulantes, respondem


por até 98% das causas de leucocitose. A neutrofilia pode ser tanto fisiológica como
patológica. A neutrofilia fisiológica ou pseudoneutrofilia não está relacionada a nenhum tipo
de doença e ocorre pela liberação súbita de neutrófilos da população marginal para a
população circulante.
Ela pode ser observada após as refeições, durante o parto, após exercícios intensos ou
prolongados, vômitos, convulsões, estresse (medo), excitação ou durante taquicardia
paroxística. Estas situações comumente provocam a liberação de adrenalina, que age
diminuindo a adesividade dos neutrófilos à parede do endotélio. A neutrofilia fisiológica
geralmente se mantém por 3 a 4 hs, com um incremento de até 80% na quantidade de
neutrófilos circulantes, e devido à ausência de mobilização da medula óssea, não ocorre desvio
nuclear à esquerda.
Um segundo tipo de neutrofilia inclui aquelas induzidas pelos corticoides. A liberação
endógena de corticoides estabiliza a membrana destas células, impedindo sua migração aos
focos de processo inflamatório, contudo, o estímulo à medula óssea permanece e células do
pool de reserva são mobilizadas para o sangue, alguns bastões também podem ser
mobilizados produzindo desvio à esquerda regenerativo leve.
A ação conjunta destes dois mecanismos provoca um aumento do nº de neutrófilos
circulantes, que geralmente leva à neutrofilia por 12 a 24 horas. Nas condições em que o nível
de estresse se mantém por longos períodos, a neutrofilia tende a se tornar menos intensa com
o passar do tempo, especialmente devido ao esgotamento da medula óssea. As situações em
que este tipo de neutrofilia ocorre são:
 Dor;
 Trauma;
 Anestesia;
 Pós-operatório, que não deve ser confundido com infecção pós-cirúrgica;
 Intoxicações metabólicas, como uremia, acidose metabólica ou diabética e
eclâmpsia, hipocalcemia puerperal (Febre do Leite);
 Gota úrica (excesso de ácido úrico);
 Reações de hipersensibilidade ou neoplasias malignas.

Já a neutrofilia propriamente inflamatória ou patológica está presente nas infecções agudas,


principalmente naquelas desencadeadas por microrganismos piogênicos, como cocos,
espiroquetas, certos fungos e parasitas, e também em processos inflamatórios crônicos que
sofrem reagudização. As principais causas de neutrofilia patológica nos animais são:
 Bactérias como Staphylococcus, Streptococcus, Pseudomonas, Pasteurella,
Corynebacterium, Sphaerophorus, entre outras;
 Infecções por Clostridium, como C. sordelli, C. botulinum;
 Raiva, na fase inicial da doença. Obs: nas demais viroses geralmente ocorre
neutropenia na fase inicial e a neutrofilia somente ocorre quando há infecções
bacterianas secundárias;
 Piometra canina (empiema uterino);
 Envenenamentos por fósforo, chumbo, mercúrio, arsênico, estrógeno, digitalina e
venenos de artrópodes peçonhentos;
 Fase inicial da regeneração de hemorragias: o estímulo da medula óssea para
produção de eritrócitos pode ser acompanhado pela produção de neutrófilos, que leva
à neutrofilia, e também ocorre nas anemias hemolíticas;
 Necrose em órgãos como miocárdio, pâncreas, rins, fígado e tubo digestivo;
 Leucemia granulocítica, na qual ocorre elevação do número de neutrófilos maduros e
também de seus precursores;
 Enfermidades imunomediadas;
 Queimaduras;
 Doenças do colágeno;
 Outras causas, como neutrofilia idiopática crônica.

Nessas situações a necessidade de fagocitoses encontra-se elevada, porém se o processo


inflamatório ou infeccioso não se resolve, a medula óssea pode sofrer esgotamento, sendo
obrigada a liberar células ainda jovens na circulação. Como forma de compensação, a medula
óssea pode acelerar a granulopoese, que dura em média 7 dias, passando para 4 dias.
De maneira generalista, a intensidade da neutrofilia é regulada por fatores como a espécie
animal em questão, a localização do processo inflamatório e o tipo do agente envolvido. A
espécie interfere porque cães tendem a responder drasticamente, aumentando de modo
exorbitante o número de neutrófilos, apresentando neutrofilias com contagens de até 70 mil
neutrófilos/mm3 de sangue, já os gatos respondem com menor intensidade do que os cães.
Quanto mais localizado (focal) o processo inflamatório, mais intensa será a neutrofilia,
enquanto mais generalizado o processo menor a neutrofilia será. Piometra e abscessos
acarretam neutrofilias muito mais intensas do que uma septicemia. Bactérias gram-positivas
determinam neutrofilia mais intensa do que as bactérias gram-negativas, e todas as bactérias
determinam maior neutrofilia do que os vírus.

NEUTROPENIA

A neutropenia, diminuição do número de neutrófilos circulantes, é a causa mais comum de


leucopenia nos animais, ela é considerada um sinal de agravamento do quadro clínico e
quando apresenta características progressivas é tida como mal prognóstico. São observados
três mecanismos na neutropenia: sequestro, consumo excessivo e granulopoese ineficaz.
A neutropenia por sequestro ocorre em choques anafiláticos e nas endotoxemias, situações
em que os neutrófilos do compartimento circulante passam para o compartimento marginal
devido a um aumento da adesividade às células endoteliais. Após 4 a 6 horas, o processo de
marginação diminui e a neutropenia também, a normalização geralmente ocorre em 1 dia.
Como as endotoxemias também estimulam a mobilização de neutrófilos da medula óssea, o
número circulante destas células também pode se manter normal quando estas ocorrem.
O segundo mecanismo envolvido na neutrofilia, o consumo excessivo dos neutrófilos, ocorre
quando as necessidades teciduais exacerbam a capacidade de produção da medula óssea,
sendo esta incapaz de repor o número de neutrófilos no sangue. Nesses casos, a medula
óssea não está comprometida, apenas o tempo não é suficiente, o que normalmente se
estabiliza após 2 ou 3 dias, com o aparecimento de regeneratividade, isto é, a liberação de
células jovens da medula para a corrente sanguínea. Por isso, a neutropenia pode ser
regenerativa ou não.
No caso da neutropenia regenerativa, há redução de número de neutrófilos maduros, porém
há presença de células jovens indicando resposta efetiva da medula óssea com instalação de
hiperplasia granulocítica. Por outro lado, a neutrofilia sem sinais de regeneratividade pode
representar a estafa da medula óssea, ou seja, uma hipoplasia, o que em termos de
prognóstico é muito ruim.
Além da estafa também pode ocorrer ineficácia da medula, produzindo neutrófilos incapazes
de realizar fagocitose ou até mesmo células neoplásicas, que ficam retidas na própria medula
óssea. Situações que levam à neutropenia incluem:
 Infecções bacterianas como febre tifoide (Salmonella typhi), paratifoide
(Salmonella paratyphi), brucelose, tularemia (Francisella tularensis);
 Infecções bacterianas piogênicas de caráter hiperagudo, tais como pneumonia,
peritonite;
 Doenças causadas por riquétsias, como a erlichiose monocítica canina (Ehrlichia
canis);
 Viroses como cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa canina,
panleucopenia felina e AIE.
 Doenças causadas por protozoários como malária e leishmaniose;
 Infecções graves como tuberculose ou septicemias, especialmente em pacientes
imunossuprimidos;
 Iatrogênica, desencadeada por drogas ou agentes que induzem à hipoplasia medular,
tais como irradiação, cloranfenicol, benzeno, mostarda nitrogenada, antagonistas do
ácido fólico, análogos da purina e da pirimidina, vimblastina e colchicina;
 Sensibilidade individual a alguns produtos químicos, como aminopirina, fenotiazinas,
sulfonamidas, drogas antifoides, anticonvulsivantes, anti-histamínicos, tranquilizantes
e antimicrobianos;
 Disfunções hematológicas que provocam neutropenia em conjunto a uma anemia
arregenerativa;
 Cirrose hepática com esplenomegalia e lúpus eritematoso;
 Estados de debilidade e caquexia;
 Estágios iniciais de reações contra proteínas estranhas;
 Neutropenia cíclica, neutropenia hipoplásica, agranulocitose infantil e neutropenia
esplênica primária, todas hereditárias e bastante raras.

DESVIO NUCLEAR DOS NEUTRÓFILOS

É o nome dado a situações onde aparecem neutrófilos circulantes que não possuem o núcleo
com 2 a 5 segmentos; ele pode ser de 2 tipos:
 Aparecimento de células jovens, de núcleo pouco ou nada segmentado,
chamado desvio nuclear de neutrófilos à esquerda ou DNNE;
 Aparecimento de células velhas, com núcleo hipersegmentado, chamado
desvio nuclear de neutrófilos à direita ou DNND.

O DNNE também pode ser classificado quanto à quantidade de células jovens em relação ao
número de células maduras, isto é, de acordo com a regeneratividade, sendo dividido em 2
tipos:
 DNNE regenerativo: é o desvio que acompanha a neutrofilia, no qual o nº de bastões
ou outras células jovens (metamielócito, mielócito, promielócito e até mieloblasto) é
sempre menor do que o de neutrófilos adultos; esta condição geralmente representa
bom prognóstico e está de acordo com a evolução fisiológica dos processos
inflamatórios;
 DNNE degenerativo: pode representar um aumento do número de bastões sem
aumento ou até diminuição do número de neutrófilos maduros ou quando a
quantidade de bastões supera a dos neutrófilos adultos, independente de que estejam
normais ou alterados. O DNNE degenerativo pode ocorrer por aumento da velocidade
de destruição dos neutrófilos fazendo com que a medula óssea não tenha tempo hábil
para repor estes números ou por alguma interferência direta na medula óssea que
prejudica o processo de maturação destes segmentados; em qualquer um dos casos, o
prognóstico não é bom e deve ser considerado de reservado a ruim.

O DNNE, regenerativo ou degenerativo, ainda pode ser classificado em 3 outras formas, desta
vez conforme o tipo de célula jovem presente na corrente sanguínea do animal:
 DNNE discreto ou leve: esta forma de desvio nuclear de neutrófilos a esquerda se
refere à presença do número aumentado apenas de bastões;
 DNNE moderado: quando estão presentes bastões em número mais elevado que o
esperado e também há a presença de metamielócitos;
 DNNE acentuado ou intenso: nome dado à condição em que além da maior
quantidade de bastões há metamielócitos e mielócitos circulantes.

Algumas situações que podem provocar o DNND são: ocorrência de processo supurativo de
longa duração, no qual há um esgotamento da medula óssea, desencadeando tanto o desvio à
esquerda quanto o desvio à direita; corticoides endógenos ou exógenos, que agem sobre os
neutrófilos provocando a estabilidade da membrana destas células, dificultando e até
impedindo a diapedese, fazendo que estes permaneçam na circulação e sofram
hipersegmentação.

EOSINOFILIA

É o aumento do número de eosinófilos circulantes e não apresenta importância clínica tal qual
uma neutrofilia ou linfocitose, é observada quando há lesão em tecidos ricos em mastócitos,
como a pele, o tecido subcutâneo, o trato gastrointestinal, pulmões, trato genital feminino,
testículos, serosa peritoneal, e fígado (apenas nos cães).
Os mastócitos liberam histamina, substância vasoativa e quimiotática para os eosinófilos,
assim estes são mobilizados ao sítio do processo inflamatório e consequentemente também da
medula óssea para a circulação. As situações nas quais é observada eosinofilia são:
 Término da fase aguda de processos inflamatórios, a eosinofilia denota
recuperação do organismo;
 Reações alérgicas, em que há hipersensibilização, como asma brônquica,
edema angioneurótico, urticária e sensibilidade a medicamentos;
 Doenças na quais a eosinofilia é considerada uma característica importante,
por exemplo, miosite eosinofílica, granuloma eosinofílico felino e gastrenterite
eosinofílica;
 Dermatopatias parasitárias (sarna sarcóptica e outras), infecções parasitárias
com lesões teciduais profundas (triquinelose, equinococose, fasciolose),
dirofilariose e parasitoses intestinais;
 Dermatopatias como pênfigo;
 Infiltração eosinofílica pulmonar em doenças como aspergilose
broncopulmonar alérgica, pneumonia eosinofílica crônica e eosinofilia
pulmonar tropical;
 Doenças hematopoiéticas: como leucemia mielocítica, leucemia eosinofílica,
policitemias e doenças tipo Hodgkin;
 Enfermidades diversas: panosteíte (cães de grande porte, em fase de
crescimento), neoplasias acompanhadas de metástases, irradiação, artrites,
sarcoidose, envenenamentos, anomalia hereditária, e Síndrome Hipereosinofílico,
descrita em gatos, de causa desconhecida.

EOSINOPENIA OU ANEOSINOFILIA

A redução do número de eosinófilos circulantes (eosinopenia) ou até mesmo a ausência deste


tipo de leucócitos (aneosinofilia) ocorre quando há liberação endógena ou administração
exógena de corticoides, tais como:
 Fase aguda dos processos inflamatórios;
 Estresse emocional;
 Após exercício físico intenso;
 No parto;
 Na presença de toxemias, por exemplo, no coma diabético, uremia ou
processo hemolítico agudo;
 Choque e outras situações de anóxia;
 Cólicas de qualquer tipo;
 Síndrome de Cushing – hiperadrenocorticismo.
Os eosinófilos são inibidos pelos corticoides, pois estes agem como anti- histamínicos. Além
disso, há uma teoria, ainda não comprovada, de que os corticoides também exerceriam papel
lítico sobre os eosinófilos.

BASOFILIA

O aumento do número de basófilos circulantes, está geralmente associada à eosinofilia. Uma


causa comum de basofilia é a hemorragia interna, especialmente pela presença da heparina.

MONOCITOSE

Acontece em processos em que há formação de pus e presença de restos teciduais, já que


estas células agem fagocitando grandes partículas. Na fase aguda de processos inflamatórios, a
monocitose é comum apenas no cão, sendo ocasional no gato. Ocorre nas seguintes situações:
 Piometra, abscessos;
 Desnutrição e caquexia;
 Inflamações crônicas inespecíficas;
 Doenças de natureza crônica de causa bacteriana, como tuberculose, brucelose,
criptococose e endocardite bacteriana subaguda;
 Algumas doenças causadas por protozoários, como malária, tripanossomíases e
babesiose;
 Doenças causadas por riquétsias, como a Febre Maculosa (Rickettsia rickettsii) e a
erlichiose monocítica canina;
 Parvovirose, devido à necrose do epitélio intestinal;
 Distúrbios hematológicos como leucemia linfocítica, monocítica, mieloide, e
casualmente no linfossarcoma;
 Hemólise, principalmente a intravascular, em que os monócitos agem fagocitando
o estroma das células lisadas;
 Neoplasias de órgãos como ovários, estômago e glândulas mamárias;
 Necroses, que quanto maiores ou mais extensas no organismo, mais acentuada
será a monocitose;
 Doenças imunomediadas, como lúpus eritematoso e artrite reumatoide;
 Doenças granulomatosas como sarcoidose (doença granulomatosa sistêmica de
etiologia desconhecida), colite ulcerativa e enterite regional (Doença de Crohn);
 Envenenamento por tetracloroetano (narcótico tóxico ao sistema nervoso central e ao
fígado utilizado como solvente).

A monocitopenia não possui significado clínico.

LINFOCITOSE

O aumento do nº de linfócitos é desencadeado por situações como:


 Idade: animais jovens comumente apresentam linfocitose, pois nesta fase o
desenvolvimento do sistema imunológico é preponderante e intenso;
 Vacinas: após a administração de vacinas ou imunógenos é comum que o animal
responda com uma linfocitose transitória, independente da idade do animal;
 Infecções: especialmente as de natureza crônica, quando o agente não é
completamente eliminado mesmo com tratamento ou na fase de convalescência, tais
como tuberculose e brucelose;
 Viroses: nas quais o número de linfócitos tende a se elevar anteriormente ao que
faria em outras infecções, já que os vírus geralmente desencadeiam maior ação
antigênica e consequente maior resposta imunológica;
 Protozoonoses: como doença de Chagas e toxoplasmose, que se caracterizam por
apresentar linfocitose persistente, ainda que não exacerbada;
 Fase crônica ou de convalescência em processos inflamatórios;
 Subnutrição: em qualquer faixa etária, mas principalmente nos animais jovens;
 Leucemias: a linfocitose pode aparecer de modo persistente antes do
desenvolvimento de uma leucemia (em gatos, causada pelo FeLV) ou linfossarcoma,
conhecida como linfocitose pré-leucêmica, durante a própria leucemia;
 Linfadenopatias inespecíficas: causas diversas que levam a inflamações locais ou
generalizadas dos órgãos linfáticos e são acompanhadas por linfocitose.

LINFOPENIA

Relacionada a uma queda da resposta imunológica do animal e pode ser consequência de:
 Fase aguda de processo inflamatório: no período de incubação do agente e de
sua multiplicação exponencial geralmente há uma linfopenia transitória, que
pode estar associada a uma neutropenia também transitória. Posteriormente,
os valores quantitativos destas células voltam a se elevar, e no caso dos
linfócitos é comum até que ultrapassem os limites de referência nas fases
crônicas ou de convalescência da doença.
 Linfopenia de doenças crônicas e progressivas: cirrose hepática; tuberculose
linfonodular; neoplasias; doenças mieloproliferativas, como doenças tipo
Hodgkin, linfossarcomas, reticulossarcomas, leucemia linfocítica do tipo
aleucêmica; blastomicose, hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo.
 Linfopenia iatrogênica: causada pelo uso de antagonistas do ácido fólico,
drogas antineoplásicas como trietilemelamina, e uso prolongado ou excessivo
de corticoides.
 Comprometimento da produção de linfócitos por ação de quimioterápicos ou
irradiação.
 Enteropatias, pois os intestinos são drenados por inúmeros vasos linfáticos, que
levarão a uma perda acentuada de linfa e também de linfócitos.

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS NEUTRÓFILOS

Apenas o núcleo apresenta-se anormal.


O desvio nuclear de neutrófilos à esquerda é o nome dado à presença de granulócitos jovens
na corrente sanguínea, que por sua imaturidade apresentam hipossegmentação do núcleo.
No desvio nuclear de neutrófilos à direita, são neutrófilos com núcleo hipersegmentado, com
mais de cinco segmentos, também chamados de polilobócitos, por ação de agentes como
corticoides, que prejudicam a diapedese destas células fazendo com que elas envelheçam
dentro da corrente sanguínea.
Em geral, a presença de neutrófilos hipersegmentados associada à leucocitose refere-se à
presença de corticoide endógeno ou, principalmente, administração de corticoide exógeno. E
quando os neutrófilos hipersegmentados estão presentes em animais sem leucocitose ou com
leucopenia, é possível que já tenha se instalado um esgotamento da medula óssea.
A cromatina sexual, também denominada corpúsculo de Barr, refere-se à presença de uma
segmentação a mais no núcleo dos neutrófilos, em forma de baqueta, de tamanho menor do
que as outras segmentações. As baquetas se formam nos neutrófilos das fêmeas e não tem
relação com hipersegmentação nuclear.
A anomalia de Pelger-Hüet é uma doença de causa congênita, bastante rara, onde o núcleo
dos neutrófilos não se segmenta, permanecendo na forma de bastão, sem sofrer decréscimos
na sua funcionalidade ou na quantidade destas células circulantes.
Existem quatro tipos diferentes de alterações tóxicas dos neutrófilos:
 Basofilia citoplasmática;
 Vacuolização tóxica: casos mais graves de toxemia;
 Granulações tóxicas: infecções graves, neutropenia, queimaduras intensas, viroses,
toxemia e septicemia;
 Corpúsculo de Dohle: são alterações tóxicas que se apresentam na forma de
inclusão, pois se tratam de condensações da basofilia.

INCLUSÕES INTRANEUTRÓFILOS

As inclusões observadas no interior dos neutrófilos podem ser decorrentes de toxicidade,


como observado no corpúsculo de Döhle, mas também podem ser devido à presença de
microrganismos inespecíficos ou inclusões virais.
 Microrganismos fagocitados: alguns hemoparasitos que preferem os neutrófilos para
se desenvolver, devido à sua principal função, de fagocitose, os neutrófilos ingerem
inúmeros agentes, tais como bactérias, protozoários e até mesmo alguns fungos
unicelulares;
 Inclusões virais: na cinomose, as inclusões são chamadas corpúsculos de Sinegaglia-
Lentz.

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS MONÓCITOS

A única alteração morfológica descrita nos monócitos é a presença de vacúolos no citoplasma


destas células, que também pode se apresentar de forma mais irregular, como se tivesse
pseudópodes, quando há intensa vacuolização e maior basofilia citoplasmática, são descritos
como monócitos com tendência a macrófagos.

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS LINFÓCITOS

Presença de linfócitos circulantes que apresentam intensa basofilia citoplasmática, com ou


sem a presença de um halo claro ao redor do núcleo, que são geralmente maiores do que o
normal. Estes linfócitos, chamados atípicos ou reacionais, ocorrem após estimulação
antigênica destas células, nas vacinações ou doenças que induzem a resposta imune humoral.
Os linfócitos, assim como os eritrócitos e neutrófilos, também podem apresentar corpúsculos
de inclusão viral, como o corpúsculo de Sinegaglia-Lentz de cinomose.
Outra alteração que pode ser observada nos esfregaços sanguíneos, é a presença de um tipo
celular raramente observado no sangue periférico, os mastócitos.

PARASITAS DE LEUCÓCITOS

O primeiro hemoparasito a ser citado é o Hepatozoon canis, que se alberga em neutrófilos e


monócitos de cães, que se contaminam através da ingestão de carrapatos infectados. A
hepatozoonose pode se manifestar como uma doença discreta com poucos sinais clínicos ou
uma doença grave, que pode até causar a morte.
As demais hemoparasitoses que acometem os leucócitos são todas causadas por bactérias da
família Anaplasmataceae, tais como:
 Anaplasma phagocytophilum: agente da erlichiose granulocítica, que
acomete caninos e felinos. O agente tem preferência por eosinófilos e
neutrófilos, é observado na forma de mórula, e é transmitido por carrapatos.
Os sinais da doença incluem febre, letargia, anorexia, petéquias, icterícia,
edema pulmonar e de membros, ataxia, relutância para se movimentar e
claudicação;
 Ehrlichia canis: agente da erlichiose monocítica canina;
 Ehrlichia chaffeensis: agente da erlichiose monocítica humana que já foi descrita em
cães, sendo que os jovens são mais susceptíveis;
 Ehrlichia ewingii: causadora da erlichiosw granulocítica canina, doença que provoca
poliartrite aguda, febre, anemia, neutropenia, linfocitose e trombocitopenia.

ENFERMIDADES DE LEUCÓCITOS

São afetados por doenças que os atacam de modo direto e específico. Essas enfermidades
podem ter três causas diferentes: congênita, infecciosa ou neoplásica:
 Congênitas: são bastante raras, como a Anomalia de Pelger-Hüet onde ocorrem
neutrófilos com núcleo hipossegmentado com funcionalidade e quantidade
aparentemente normais. Outra enfermidade congênita dos leucócitos é a
neutropenia cíclica do Collie cinza. A célula-tronco de cães desta raça e desta pelagem
não consegue se diferenciar na linhagem granulocítica, provocando neutropenia,
assim estes cães morrem precocemente, em decorrência de infecções. A medula óssea
destes animais possui raros neutrófilos adultos ou estes estão ausentes;
 Infecciosas: hemoparasitose causada pela bactéria Ehrlichia canis, transmitida pelo
carrapato com período de incubação variável entre 8 e 20 dias e podem ser distintas
três fases da doença. Na fase aguda, os sinais clínicos incluem febre, depressão,
anorexia, perda de peso, mucosas pálidas, corrimento oculonasal e linfadenopatia. As
alterações laboratoriais desta fase englobam trombocitopenia associada ao aumento
do número de macroplaquetas; anemia, regenerativa ou arregenerativa e contagens
leucocitárias diversas. Leucocitose, monocitose e presença das mórulas nos
monócitos e linfócitos são consideradas características. Na fase subclínica, muitos
animais tornam-se assintomáticos, permanecendo, entretanto, portadores, podem
apresentar trombocitopenia, anemia, leucopenia variável, hiperglobulinemia
progressiva e proteinúria. Na fase crônica, emagrecimento progressivo, depressão,
mucosas pálidas, sensibilidade abdominal e tendência a hemorragias são as
principais manifestações clínicas. Frequentemente são observadas coinfecções,
especialmente com outros patógenos transmitidos por artrópodes, tais como
Babesia canis, Hepatozoon canis, Anaplasma platys e Mycoplasma
haemocanis. A pancitopenia é o achado mais característico da fase crônica;
Parvovirose canina, o agente desta infecção, tem predileção por células e tecidos em
atividade mitótica intensa, por isso o vírus se estabelece principalmente no epitélio
intestinal, nos órgãos linfáticos e na medula óssea, transmitida por via oral e produz
nos cães infectados quadro de gastrenterite hemorrágica aguda acompanhada de
severa leucopenia, neutropenia, basofilia e corpúsculos de Dohle nos neutrófilos.
Atinge as células hematopoiéticas, provocando efeito citotóxico sobre elas,
simultaneamente a uma redução do compartimento de reserva da medula óssea,
devido ao aumento do consumo de leucócitos, especialmente neutrófilos, pela
gastrenterite e endotoxemia que se instalam. A neutropenia se torna mais grave
porque o pool marginal se eleva e os macrófagos da medula óssea fagocitam os
neutrófilos. Além disso, a hemorragia intestinal pode provocar anemia, de caráter
agudo, geralmente moderada, o que nem sempre possibilita que a regeneração
medular se destaque;
Pancitopenia felina: causada por parvovírus felino, é bastante resistente no
ambiente, é transmitido por via oral e tem preferência pelas células epiteliais e
linfáticas do intestino, produzindo viremia e assim alcançando a medula óssea e
outros órgãos. Na medula óssea, sua ação sobre as células hematopoiéticas
determina panleucopenia, ou seja, redução do nº dos 5 tipos de leucócitos,
sujeitando o animal a infecções frequentemente fatais. Podem apresentar
hemoconcentração com aumento do volume globular e das proteínas plasmáticas
totais ou pancitopenia, redução das quantidades de todas as linhagens de células do
sangue;
Leucemia Viral felina: está associado tanto a afecções neoplásicas como não
neoplásicas. Este vírus é eliminado pela saliva, urina, lágrima e leite, podendo ser
transmitido durante o contato com qualquer uma destas secreções, seja por meio de
briga ou fômites, o FeLV inicia ua replicação em tecidos linfoides das tonsilas e
linfonodos, alcançando linfócitos, especialmente os B, e macrófagos. Há uma
disseminação por todo o corpo do animal chegando ao intestino, baço, demais
linfonodos e na medula óssea, a qual passa a liberar células já infectadas para a
circulação causando anemia, neutropenia, trombocitopenia e se houver neoplasia
podem aparecer células leucêmicas.
 Neoplásicas: há situações em que o nº de leucócitos ou de um de seus tipos aumenta
indiscriminadamente e sem objetivo real, estas são as neoplasias do sangue, chamadas
de leucemia, leucose ou doenças mieloproliferativas. As leucemias podem ser
classificadas de acordo com a presença e a quantidade de blastos, células precursoras
e jovens, na circulação sanguínea. Leucemias que apresentam grande nº de blastos
são chamadas de leucemias leucêmicas, aquelas com pequeno nº de blastos são
subleucêmicas e as que não liberam blastos para a corrente sanguínea são
denominadas aleucêmicas. As leucemias são também distribuídas conforme o tipo
celular mais afetado pela neoplasia. As mais frequentes são a linfocítica e a
mielocítica. A leucemia linfocítica também é conhecida como leucose, leucose linfoide,
linfossarcoma ou linfoma (utilizadas quando há o comprometimento dos órgãos
linfáticos, manifestando tumores sólidos, os quais podem ou não ser acompanhados
pela presença dos blastos na circulação). Os linfomas são a forma mais comum de
neoplasia hematológica nos animais, atingindo praticamente todas as espécies. Nos
felinos a causa mais comum dos linfomas é viral (FeLV), nos cães esse tipo de tumor é
comum. A manifestação desta neoplasia é semelhante nas espécies atingindo os
órgãos linfáticos (linfonodos, timo, baço), e depois fígado, rins, coração, pulmão, entre
outros. Os órgãos acometidos apresentam aumento de peso e volume, com perda da
cor habitual e pode ocorrer o derrame de líquidos no tórax e no abdômen. No linfoma,
a linfadenopatia, normalmente generalizada, pode chamar a atenção devido ao
aumento de tamanho extraordinário destes órgãos, porém estes não são quentes ou
doloridos ao toque, o que ocorre em processos de origem inflamatória. No
hemograma de um animal com leucemia linfocítica ou linfoma podem ser observadas
anemia não regenerativa com ou sem a presença dos linfoblastos. A leucemia
mieloide, também chamada granulocítica, tem incidência muito menor do que a
leucemia linfocítica, apesar disso, pode-se considerá-la como a segunda forma mais de
comum de leucemia nos animais. Os gatos são os mais afetados, especialmente
quando há infecção pelo FeLV, enquanto os outros animais são dificilmente
acometidos. Clinicamente ocorrem emagrecimento, hepatoesplenomegalia e febre
intermitente; a presença de coinfecções é comum devido à incapacidade de fagocitose
dos blastos, que agora são maioria na população granulocítica. Observa-se anemia
arregenerativa, trombocitopenia e no leucograma geralmente há leucopenia, já que
este tipo de leucemia é geralmente subleucêmica, com pequeno nº de mieloblastos
circulantes. O prognóstico é geralmente pior do que na leucemia linfocítica pela
presença frequente de infecções oportunistas.

RESPOSTA LEUCOCITÁRIA NOS ANIMAIS

A resposta leucocitária dos animais aos processos inflamatórios é semelhante, mas o quadro
leucocitário varia com a espécie animal. Esta variação se deve à leucometria diferencial normal
ser diferente entre as espécies de animais, as quantidades dos cinco tipos de leucócitos são
diferentes entre as espécies. Outro fator que diferencia a resposta leucocitária dos animais, é a
relação neutrófilo:linfócito em diferentes espécies é a seguinte:
 Cães: 3,5 (isto é, normalmente os cães apresentam três vezes e meia mais
neutrófilos do que linfócitos);
 Gatos: 1,8.

Na fase aguda da inflamação há um aumento na liberação endógena de corticoides, o que


desencadeia em cães leucocitose com neutrofilia, linfopenia, eosinopenia e também
monocitose, a resposta da medula óssea é imediata, elevando o número de mitoses das
células-tronco e reduzindo o tempo de maturação dos leucócitos. Assim, nesta espécie
dificilmente ocorre leucopenia, porque o número de neutrófilos é muito maior e a resposta da
medula é muito mais rápida, e mesmo com a migração para os tecidos, o número de
neutrófilos circulantes não reduz a ponto de ocorrer neutropenia ou leucopenia.
Outra diferença entre os animais no processo inflamatório está nos níveis de fibrinogênio, que
nos cães e gatos somente se elevam em situações específicas.
A evolução do processo inflamatório, também é variável conforme a espécie animal. Nos
carnívoros, as alterações observadas incluem:
 Fase aguda: leucocitose, neutrofilia, DNNE, linfopenia, eosinopenia, e
monocitose no caso de cães;
 Fase crônica: leucocitose, neutrofilia, DNNE discreto, linfócitos em quantidades
normais ou aumentadas, reaparecimento dos eosinófilos e monocitose;
 Fase convalescência: neutrófilos voltam ao número normal, linfocitose,
eosinófilos e monócitos em número normal ou aumentado.
 Nos cães, se o processo inflamatório tem caráter crônico e supurativo, primeiro
ocorre DNNE, depois com a estafa da medula óssea, os neutrófilos permanecem por
mais tempo na corrente sanguínea, sofrem hipersegmentação e ocorre DNND em
conjunto.

Quanto maior a demanda tecidual, mais intensa a neutrofilia; quanto maior a virulência do
patógeno, mais intenso o DNNE; apenas o cão apresenta monocitose na fase aguda de
processos inflamatórios; a neutrofilia na fase crônica não é tão intensa como na aguda; quanto
mais crônico o processo, maior a linfocitose.

PLAQUETAS

As plaquetas, também conhecidas como trombócitos, não são células e sim fragmentos do
citoplasma de sua célula precursora, o megacariócito.

Sua energia é obtida por glicólise anaeróbia e possuem três tipos de grânulos, os grânulos alfa,
os densos e os lisossômicos.Além destas, as plaquetas possuem as seguintes características:
 São muito frágeis e até mesmo o contato entre elas pode provocar seu
rompimento, por isso a coleta deve ser cuidadosa.
 Aderem-se ao vidro e ao colágeno, mas não ao plástico, silicone ou endotélio,
por isso, nas coletas para contagem de plaquetas deve-se coletar a amostra em
tubos de plástico ou vidro siliconado.
 Aderem-se entre si pela ação conjunta do cálcio, fibrinogênio, ADP (adenosina
difosfato), tromboxano A2, prostaglandina G2 e H2, e fator de Von
Willebrand (fator VIII da coagulação).
 Possuem antígenos específicos que são alvo de doenças imunomediadas como a
púrpura trombocitopênica.

As funções das plaquetas são basicamente relacionadas ao processo da coagulação, mas


podem ser mais detalhadas:

 Protegem o endotélio vascular: as plaquetas circulam próximas ao endotélio,


bloqueando a saída dos eritrócitos. Assim, nas reduções do número de plaquetas
(trombocitopenia) pode haver a saída dos eritrócitos e formação de petéquias ou
púrpuras.
 Carreiam fatores da coagulação: as plaquetas carreiam diversos fatores da
coagulação adsorvidos em sua superfície, elas também podem carrear a
adrenalina em suas membranas.
 Possuem fosfolipídios em sua membrana celular: que aumentam sua atividade
quando a fosfolipase A2 hidrolisa os ácidos graxos poli- insaturados presentes
nos fosfolipídios, liberando-os no citoplasma das plaquetas. O ácido graxo mais
importante é o ácido araquidônico, que através da ciclo-oxigenase origina o
tromboxano A2 e outras prostaglandinas capazes de amplificar a agregação
plaquetária.
 Produzem trombostenina: uma proteína de capacidade contrátil, útil para a
retração do coágulo.
 Possuem três tipos de grânulos:
 Grânulos alfa: estes grânulos contêm betatromboglobulina, capaz de
impedir a produção de prostaciclina I2 pelas células endoteliais, facilitando a
adesão e agregação plaquetária; fator de Von Willebrand, o qual promove a
adesão das plaquetas ao colágeno; fibrinogênio, promove a agregação
plaquetária e a coagulação em si ao ser convertido em fibrina; fibronectina,
substância capaz de promover a cicatrização; fator de crescimento celular,
estimulante da mitose do endotélio, da musculatura lisa e dos fibroblastos;
 Grânulos densos: contêm ADP, histamina, cálcio, serotonina (capaz de
provocar a vasoconstrição e aumentar a agregação plaquetária);
 Lisossomos: possuem hidrolases ácidas, entre elas a fosfatase ácida e a
betaglucuronidase.
 Fagocitam bactérias: especialmente as bactérias gram-negativas, pois as
plaquetas possuem betalisina, que é bactericida para as gram- negativas e
também é capaz de se ligar as endotoxinas.
 Formam o tampão plaquetário: o tampão plaquetário é o segundo mecanismo de
hemostasia utilizado pelo organismo, logo após a vasoconstrição.

MEGACARIOCITOPOESE
A megacariocitopoese é o processo de formação das plaquetas, que também é chamada
de trombocitopoese. As plaquetas são produzidas na medula óssea a partir da célula-
tronco e passa pelas seguintes etapas:
 Megacarioblasto;
 Promegacariócito;
 Megacariócito;
 Plaquetas: originadas de fragmentos do citoplasma de um megacariócito que
pode produzir de 2 a 8 mil plaquetas em um período de 3 a 12 dias.

A regulação positiva da megacariocitopoese é realizada através de uma trombopoetina,


aparentemente produzida pelos rins, denominada fator de estímulo da
trombocitopoese, a qual atua por feedback negativo, isto é, quanto menor o número de
plaquetas na circulação sanguínea, maiores os níveis desta trombopoetina, isto também
ocorre com a eritropoetina (citada anteriormente na eritropoese).
Já a inibição é realizada por um fator de inibição da trombocitopoese produzido no
baço, animais esplenectomizados apresentarão entre duas a seis vezes mais plaquetas do
que os demais. O baço também é capaz de armazenar entre 30 e 40% das plaquetas
circulantes, as quais podem ser liberadas em situações que levem à esplenocontração,
produzindo uma trombocitose temporária, por cerca de 30 minutos. Outros órgãos
capazes de reter plaquetas que podem ser liberadas em situações de necessidade são os
pulmões.
A trombocitopoese leva cerca de 3 dias em cães, já a vida média das plaquetas
formadas é de cerca de 5 dias.

HEMOSTASIA

A principal ocorrência da hemostasia é a transformação do fibrinogênio, proteína


circulante do sangue, em uma substância sólida e insolúvel, a fibrina. Mas para que essa
transformação e a hemostasia ocorram perfeitamente são necessárias diversas etapas,
que incluem a participação da parede dos vasos sanguíneos, a ativação das plaquetas, a
produção de fatores da coagulação e inclusive a dissolução do coágulo para que este não
se torne um trombo. Esta última ocorrência, da destruição do coágulo, é chamada de
fibrinólise, e é fundamental para o equilíbrio da hemostasia.
A hemostasia começa logo após ocorrer uma lesão na parede de um vaso sanguíneo,
chamada solução de continuidade. O primeiro evento a ocorrer é a retração da parede do
vaso, que se contrai visando reduzir o fluxo do sangue. Em seguida, as plaquetas
aderem-se ao endotélio vascular lesado formando uma barreira física ao
extravasamento do sangue, chamada de plug plaquetário. Então, além da adesão das
plaquetas, o fibrinogênio se transforma em fibrina produzindo uma rede e prendendo
também os eritrócitos e os leucócitos.

Vasos Sanguíneos na Coagulação

Os vasos sanguíneos mantêm o sangue no interior do sistema circulatório e assim


compõem uma barreira física, impedindo as hemorragias. Nas
necessidades de coagulação, assim que ocorre uma lesão à parede destes vasos, eles se
contraem (vasoconstrição), reduzem o extravasamento de sangue e facilitam a união das
bordas através da formação do plug plaquetário. A vasoconstrição exige em primeiro
lugar, que a parede do vaso sanguíneo ao redor do local afetado esteja normal e íntegra;
para isso, as terminações nervosas agem provocando a diminuição do espaço lesado
através da aproximação dos bordos. Outro estímulo à vasoconstrição é a presença de
adrenalina e tromboxano A2, os quais a mantêm entre 20 e 60 minutos.

Plaquetas na Coagulação

Apesar da vasoconstrição, o sangue consegue escapar em proporções variáveis, e as


plaquetas aderem-se ao colágeno subendotelial, principalmente sobre suas fibrilas; este
evento se inicia cerca de dois a três minutos depois da lesão. Para tal, as plaquetas
devem estar presentes na corrente sanguínea em quantidade e qualidade
(funcionamento) normais, a fim de que a hemostasia ocorra adequadamente. Além
disso, há o intermédio do fator de Von Willebrand (FvW), para que haja a adesão
entre o colágeno endotelial exposto e as plaquetas; e a liberação de ADP (adenosina
difosfato) pelo endotélio em contração, que na presença de cálcio promove a agregação
das plaquetas.
As contrações no interior da plaqueta também fazem com que ela libere substâncias
capazes de aumentar ainda mais sua adesividade e desencadear os mecanismos da
coagulação (substâncias vasoativas e agregantes). A principal substância secretada é o
fosfolipídio ADP, que atrai mais plaquetas para o foco e inicia a agregação plaquetária,
processo que inicia entre 10 e 20 segundos depois do ponto de partida e perdura por
até três minutos. Outras substâncias secretadas incluem a adrenalina, noradrenalina,
betatromboglobulina, serotonina, FP3, fibrinogênio, hidrolases ácidas, tromboxano A2,
entre outras.
Nessa fase há uma contínua agregação das plaquetas, promovida por diversas
substâncias, como cálcio, ADP, fibrinogênio, FvW, tromboxano A2, prostaglandina G2
e H2. Porém, esta agregação é reversível, visto que as plaquetas encontram-se
individualizadas, o tampão ainda é permeável, fraco e sozinho não consegue impedir
completamente o sangramento. A eficiência deste processo depende também do calibre
do vaso acometido, sendo mais eficiente nos vasos de menor calibre, principalmente os
capilares.
Justamente devido à fragilidade das plaquetas, elas se rompem e se fusionam, perdendo
a individualidade, isso sim torna o tampão impermeável e sem canalículos; esta fase é
chamada de metamorfose viscosa ou formação do tampão impermeável, na qual não há
mais sangramento. Todavia, este tampão ainda é precário e necessita da formação da
rede de fibrina para sua sustentação e manutenção.
Além disso, ocorre a liberação da PGI2 (prostaciclina) para limitação da adesão
plaquetária. A PGI2 é um potente vasodilatador e antagonista da agregação plaquetária,
ela se deriva do ácido araquidônico, a partir do endotélio que permaneceu íntegro.

Fatores da Coagulação

São proteínas circulantes do sangue, atuando como enzimas, mas que normalmente
encontram-se inativas. Todo o processo desencadeado por estes fatores da coagulação
depende da ativação de um fator para ativação do seguinte, por isso, este processo
também é denominado de cascata da coagulação. O objetivo final de todas as ativações
dos fatores é a transformação do fibrinogênio em fibrina, com a formação de uma rede e
consolidação do plug plaquetário em um coágulo de caráter mais duradouro do que o
primeiro.
Fator destacável em toda a cascata da coagulação é o papel essencial da vitamina K na
ativação dos fatores II, VII, IX e X. Esses fatores são ditos vitamina K- dependentes,
pois são sintetizados na forma afuncional, acarboxilada, e a partir de uma reação de
carboxilação, na qual a vitamina K atua como cofator, produzem um centro de ligação
para o cálcio e então passam a sua funcionalidade normal. Nesta reação, a vitamina K é
convertida em metabólito inativo, chamada vitamina K- epóxido; e esta sofre a ação da
enzima epóxido-redutase, que a recicla e a torna novamente ativa. Por isso, as
necessidades diárias de vitamina K são bastante reduzidas e ação de anticoagulantes
sobre esta vitamina produz sangramentos tão expressivos.

Fibrinólise

Depois da formação do coágulo e da interrupção da hemorragia, inicia-se a regeneração


do tecido lesionado. Por isso, este mesmo coágulo precisa ser removido a fim de que o
tecido se renove e a circulação sanguínea volte à normalidade, com a fluidez regular do
sangue. Este processo, de destruição do coágulo é chamado de fibrinólise ou hemostasia
terciária. Os mecanismos de controle da fibrinólise são realizados por dois tipos de
substâncias produzidas pelo organismo, os ativadores e os inibidores da fibrinólise.
A sequência de acontecimentos para dissolução do trombo ocorre da seguinte forma: o
plasminogênio é adsorvido à fibrina e incorporado ao coágulo em formação; localmente
há uma exclusão seletiva dos inibidores da plasmina; os ativadores do plasminogênio
infiltram-se e a fibrinólise ocorre.

ALTERAÇÕES DA HEMOSTASIA

As coagulopatias, também chamadas doenças hemorrágicas, podem ser causadas por


disfunções nas plaquetas, nos vasos sanguíneos e na cascata da coagulação, o que pode
acontecer isoladamente ou em conjunto. De modo geral, as coagulopatias de causa
plaquetária aparecem na forma de hemorragias petequiais (pequenos pontos
hemorrágicos) ou púrpuras (manchas arroxeadas, geralmente formadas por várias
petéquias), as quais podem se manifestar tanto na pele, nas mucosas como nos órgãos
internos através de sinais de sangramentosdo trato gastrointestinal e urinário e
deformidades nas articulações, resultado de hemoartrose. Outros achados importantes
são icterícia, febre, esplenomegalia, sinais de insuficiência hepática, hepatomegalia e
linfadenomegalia. A presença de ectoparasitos também deve ser verificada e incluir nos
exames a procura por hemoparasitos.

Número do Nome do fator Local de Dependência Meia vida


fator síntese da vitamina K plasmática
I Fibrinogênio Fígado - 1,5 a 6,3
dias
II Protrombina Fígado, + 2,1 a 4,4
macrófagos dias
III Tromboplastina Fibroblastos e -
tecidual ou tissular membrana
plasmática de
células
musculares lisas

IV Íons de cálcio - -
V Proacelerina Fígado, - 15 a 24
macrófagos, horas
megacariócitos
VII Proconvertina Fígado, + 1 a 6 horas
macrófagos
VIII:C Anti-hemofílico A Fígado - 2,9 dias
VIII:RA Fator de Von Células -
G Willebrand endoteliais e
megacariócitos
IX Fator de Christmas Fígado + 24 horas
(Anti-hemofílico B)
X Fator de Stuart- Fígado, + 32 a 48
Prower macrófagos horas
XI Antecedente da Fígado - 30 horas
tromboplastina (provável)
plasmática
(Anti-hemofílico C)
XII Fator de Hageman Fígado - 18 a 52
(provável) horas
XIII Fator estabilizador da Fígado - 4,5 a 7 dias
fibrina (provável)
Precalicr Fator de Fletcher Fígado - 35 horas
eína (provável)
Cininogênio de Fator de Fitzgerald Fígado - 6,5 dias
alto peso (provável)
molecular

Hemostasia Primária – Desordens Vasculares e Plaquetárias

As coagulopatias de causas vasculares ou plaquetárias, podem se dever a defeitos dos


vasos sanguíneos ou alterações quantitativas (trombocitopenias) ou qualitativas
(trombocitopatias) das plaquetas. As trombocitopenias, redução do número de plaquetas
circulantes, são mais comuns e podem acontecer por diminuição da produção pela
medula óssea ou por aumento na destruição ou utilização. As primeiras são chamadas
trombocitopenias hipoplásicas ou
aplásicas, enquanto as segundas são denominadas de trombocitopenias de consumo. As
trombocitopatias representam as disfunções plaquetárias e são menos comuns,
ocorrendo ainda que o número de plaquetas se mantenha normal.
Quando existem alterações estruturais (morfológicas) preexistentes ou alterações
decorrentes de processos imunomediados, tais como depósito de imunocomplexos ou
síndrome do anticorpo antifosfolípide, ou ainda devido a processos inflamatórios dos
vasos que levem à vasculite ou fragilidade capilar, haverá diminuição da capacidade de
resposta e de contração destes vasos.
As trombocitopenias podem decorrer de deficiências medulares, aumento na
destruição, aumento no consumo destas ou ainda aumento de seu sequestro por
determinados órgãos. Os sangramentos espontâneos geralmente ocorrem apenas quando
as contagens de plaquetas são inferiores a 50 mil por microlitro (µl) de sangue.
Valores normais de plaquetas nos animais:
 Canino: 200 a 500 x 1000/ul de sangue
 Felino: 300 a 800 x 1000/ul de sangue

Nas situações em que a medula óssea diminui a produção de plaquetas ocorrem as


trombocitopenias hipoplásicas e quando não há mais produção destes componentes do
sangue pela medula, diz-se que esta se encontra aplásica. As causas de trombocitopenias
hipoplásicas ou aplásicas podem ser:
 Tóxicas, devido à administração de drogas mielossupressoras, como
fenilbutazona, ciclofosfamida, vincristina, tolbutamida, clorpropamida,
clorpromazina, penicilina, tiazidas, estrógenos e cloranfenicol;
 Infecções, tais como a erlichiose canina ou a erlichiose equina;
 Radiação (Raio-X).

Em outros casos, a medula também diminui a produção de plaquetas porque houve uma
substituição dos megacariócitos por outro tipo celular, condição chamada de metaplasia.
A metaplasia ocorre em diversos tipos de leucemias, linfoma, mieloma e mielofibrose.
Casos como estes, que ocorrem por acometimento da medula óssea, geralmente estarão
associados à pancitopenia, porque todos os tipos celulares serão afetados, a não ser nas
leucemias e o tipo celular leucêmico.
Outro fenômeno que ocorre na medula óssea é a trombocitopoese ineficaz, ou seja, há
produção normal de plaquetas, porém grande parte destas morre antes de alcançar a
corrente sanguínea; isto ocorre quando há deficiência de folato (vitamina B12).
Situações mais raras observadas entre as causas de trombocitopenia são a
trombocitopenia familiar e a primária. A trombocitopenia familiar é uma condição
congênita, de genética recessiva, muito rara nos animais; e a trombocitopenia primária
decorre de defeitos intrínsecos da medula óssea que afetem a trombocitopoese.
As trombocitopenias por aumento da destruição das plaquetas geralmente têm origem
imunológica, isto é, acontecem pela ação de anticorpos que atacam as plaquetas. Estas
trombocitopenias nem sempre estarão acompanhadas por pancitopenia e avaliação da
medula óssea será importante, para o tratamento e o prognóstico do animal. Esse tipo de
trombocitopenia pode ser causado por:
 Administração de drogas capazes de sensibilizar ou destruir a membrana da
plaqueta, tais como a quinidina, derivados da sulfa, oxitetraciclina,
estreptomicina, eritromicina, penicilina, fenilbutazona e tiazidas;
 Pela ação de aloanticorpos antiplaquetas (aloanticorpos são também chamados
de isoanticorpos, pois são produzidos contra antígenos provenientes de
indivíduos geneticamente diferentes, mas da mesma espécie), que surgem na
gestação ou após transfusões sanguíneas incompatíveis;
 Pela ação de autoanticorpos produzidos em doenças imunomediadas como o
lúpus eritematoso sistêmico, anemia hemolítica imunomediada e a púrpura
trombocitopênica.

Também ocorrem as trombocitopenias por aumento do consumo de plaquetas, situação


nas quais é comum que ocorram plaquetas gigantes (megatrombócitos), pois estas
representam plaquetas jovens e indicam regeneração medular da linhagem
megacariocítica. Entre as causas de trombocitopenias de consumo estão extensas
hemorragias; doenças infecciosas hemorrágicas como a leptospirose e a peste suína;
trombocitopenias por púrpura trombótica trombocitopênica, síndrome da uremia
hemolítica e CID.
Por fim, há ainda as trombocitopenias por elevação do sequestro das plaquetas, a qual
ocorre porque o baço é capaz de armazenar mais do que um terço das plaquetas
circulantes, o que ocorre fisiologicamente. Em situações de esplenomegalia, anestesia
por barbitúricos, hemoparasitoses, processos hemolíticos e neoplasias, uma maior
quantidade de plaquetas é sequestrada pelo baço causando trombocitopenia; o
sequestro pode chegar a 75% das plaquetas circulantes. Outro órgão capaz de armazenar
plaquetas e gerar quadros de trombocitopenia é o fígado, que age desta forma em
ocasiões de hepatomegalia. Situações de hipotermia, endotoxemia e neoplasias também
podem elevar o sequestro de plaquetas e produzir uma trombocitopenia.
O oposto a trombocitopenia, a trombocitose, ou seja, o aumento do número de plaquetas
circulantes em relação ao valor de referência da espécie em análise também ocorre. As
trombocitoses podem ser primárias ou secundárias, chamadas de reativas. Entre as
causas mais específicas de trombocitose estão:
 Trombocitose maligna: devido a uma leucemia granulocítica ou megacariocítica;
 Trombocitose transitória: devido à mobilização de plaquetas do baço ou do
pulmão, especialmente após exercícios;
 Trombocitose reativa: decorrente de doenças crônicas, deficiência de ferro,
hiperadrenocorticismo, neoplasias ou desordens do trato gastrointestinal ou
endócrino.

Nas trombocitopatias, não é necessário que o número de plaquetas encontre-se alterado,


podendo estar tanto normal quanto alterado. Porém, independente da quantidade de
plaquetas presentes na circulação, seu funcionamento é falho. As trombocitopatias
podem ser congênitas ou adquiridas. Entre as trombocitopatias congênitas ou primárias,
bastante raras, estão:
 Trombastenia de Glanzmann, doença congênita, autossômica recessiva, descrita
apenas em seres humanos e cães, que se deve à deficiência do receptor GP
IIb/IIIa, onde se liga o fibrinogênio.
 Deficiência de estoque ou produção de substâncias plaquetárias, como cálcio,
FvW, ADP e outras;
 Deficiência dos receptores de membrana;
 Deficiência do receptor GP IbIX, onde ocorre a ligação do FvW, chamada de
síndrome de Bernard-Soulier;
 Trombopatia do Basset Hound, que provoca falha na agregação
plaquetária;
 Síndrome de Chediak-Higashi, a qual prejudica a agregação plaquetária e já
foi descrita em bovinos e felinos.

Já as trombocitopatias adquiridas ou secundárias devem-se a distúrbios orgânicos como


uremia, disproteinemia (alteração dos níveis séricos das proteínas plasmáticas, que
afetam as membranas das plaquetas diminuindo sua aderência), hepatopatias, doenças
mieloproliferativas ou leucemias e também certas doenças infecciosas, como a
erlichiose.
A uremia causa trombocitopatia, pois nas nefropatias há retenção de derivados do
metabolismo da ureia, como ácidos guanidino succínicos e ácidos fenólicos, que têm
capacidade de diminuir a produção do tromboxano A2 e elevar a produção de
prostaciclina I2, levando a um prejuízo na agregação e na adesividade plaquetárias.
A administração de drogas também pode levar à trombocitopatia através de mecanismo
semelhante à uremia; estas drogas inibem a ciclo-oxigenase afetando a produção de
tromboxano A2 e acarretando diminuição da agregação plaquetária. Algumas drogas
acometem as plaquetas de modo irreversível, exigindo que haja nova produção destas.
Drogas que acometem as plaquetas de modo irreversível incluem o ácido acetilsalicílico
e outros anti-inflamatórios não esteroidais.
O buprofen, a fenilbutazona e o indomethacin causam inibição da agregação, porém de
modo reversível às plaquetas, enquanto sulfonamidas, penicilinas e tranquilizantes
prozamínicos causam respostas variáveis. Entre as doenças mieloproliferativas é
possível que ocorram duas situações. Na primeira, as células em maior número podem
ser eritrócitos ou leucócitos e há uma consequente trombocitopenia, por redução do
espaço intramedular destinado à megacariocitopoese. E outra situação é o que ocorre
nas leucemias megacariocíticas, quando há um aumento na produção de plaquetas,
porém estas são morfologicamente e funcionalmente alteradas.

Alterações Morfológicas e Parasitas de Plaquetas

Morfologicamente, não ocorrem diversas alterações nas plaquetas, assim como ocorre
com os eritrócitos ou leucócitos. Quanto ao hemoparasitos, há apenas um que determina
exclusivamente alterações na morfologia das plaquetas, que é o Anaplasma platys
(antigo Ehrlichia platys).
As macroplaquetas, também chamadas de plaquetas de estresse ou megaplaquetas, são
metabólica e funcionalmente mais ativas do que aquelas de tamanho normal. Elas são
geralmente liberadas quando há demanda maior da medula óssea. Apenas nos gatos, a
presença de macroplaquetas não é considerada uma alteração morfológica e pode
ocorrer em qualquer estado, independente de uma doença ou não.
A presença de plaquetas ativadas geralmente se deve à demora na coleta, emitem
pequenas e finas projeções que são os psudópodes.
Os agregados plaquetários, em grande parte dos casos também se deve à demora na
coleta e ativação das plaquetas no interior da seringa ou do frasco de coleta, porém
algumas doenças, como as hemoparasitoses, podem desencadear esse processo. Os
agregados são observados como amontoados de plaquetas, próximas umas às outras,
geralmente ativadas e de difícil distinção individual entre elas.
A bactéria Anaplasma platys é a única a produzir alterações morfológicas, ou seja, a
presença de mórulas exclusivamente nas plaquetas. A bactéria Ehrlichia canis também
é capaz de produzir mórulas em plaquetas, porém sua preferência é por leucócitos,
especialmente os monócitos e os linfócitos. Como morfologicamente as mórulas de
ambas são indistinguíveis não será possível diferenciá-las apenas a partir de um
esfregaço sanguíneo, sendo necessária a utilização de exames mais específicos, como a
PCR (reação em cadeia de polimerase) para diferenciação da espécie.
A Anaplasma platys é o agente da trombocitopenia cíclica em cães, é transmitida por
carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus.

Hemostasia Secundária – Desordens da Cascata da Coagulação

Disfunções hemorrágicas decorrentes de alterações na cascata da coagulação podem ser


genéticas (raras) ou adquiridas (comuns).
As coagulopatias chamadas hemofilias incluem as seguintes formas:
 Hemofilia A (Clássica): deve-se a uma alteração do fator VIII, transmitida por
um gene recessivo ligado ao cromossomo X, por isso a doença apenas se
manifesta clinicamente nos machos ou nos caso de intensa consanguinidade. A
hemofilia A já foi descrita em diversas espécies de cães, em gatos, equinos,
suínos e bovinos da raça Hereford. Os sinais clínicos incluem hemoartrose,
hematomas e sangramento pelo trato gastrointestinal e urogenital.
 Hemofilia B: bastante semelhante à hemofilia A, porém o defeito está presente
no fator IX; clinicamente, ocorrem hemorragias raras e discretas. A hemofilia B
já foi descrita em algumas raças de cães e de gatos, acometendo clinicamente
apenas os machos.
 Hemofilia C: nesta forma de hemofilia o defeito ocorre no fator XI e
clinicamente também são observadas apenas hemorragias raras e discretas;
somente em casos de cirurgias podem ocorrer sangramentos superiores a 24
horas. A hemofilia C já foi descrita em cães da raça Springer Spaniel, bovinos
holandeses e caprinos.
 Deficiência do fator XII: de sintomatologia semelhante às hemofilias. Afeta
Poodles, Pointer Alemão, Sharpei e gatos.
 Doença de von Willebrand (vWD): esta doença se caracteriza por hemorragias
imediatas às lesões, que podem ser intensas e até colocar em risco a vida do
paciente. Elas ocorrem após cirurgias ou mesmo simples punções venosas. Entre
10 e 60% dos casos de vWD deve-se a uma deficiência do FvW acompanhada
de mau funcionamento das plaquetas. Geneticamente, é transmitida por um gene
autossômico, portanto não tem relação com o sexo. A vWD já foi amplamente
descrita em seres humanos, na veterinária, já foi identificada em suínos e
mais de 54 raças de cães, especialmente das raças Dobermann, Pointer
Alemão e Scottish Terrier.

A deficiência do fator VII possui discreta tendência hemorrágica, que geralmente ocorre
após cirurgias. Afeta os Beagles mais comumente, mas já foi observada em outras
raças de cães. Laboratorialmente, essa coagulopatia se caracteriza por apresentar TAP
aumentado, enquanto as plaquetas e o TTPA se mantêm normais. As formas de
coagulopatias que acometem a cascata de coagulaçao são:
 Intoxicação por dicumarínicos: especialmente a varfarina, um veneno bastante
utilizado contra ratos, à base de dicumarol ou antivitamina K. Animais
intoxicados com varfarina apresentam hemorragias em cavidades corporais, no
trato gastrintestinal, nos músculos e também no tecido subcutâneo, dificilmente
formam-se petéquias e a contagem de
 plaquetas é geralmente normal. Em alguns casos, o TAP pode se apresentar
normal, o que levará à falha no diagnóstico. A administração de vitamina K
endovenosa dissolve o processo e geralmente normaliza o TAP em seis horas.
 Deficiência de vitamina K: esta deficiência raramente é de origem alimentar e
geralmente tem relação com dificuldades em sua absorção, já que sua natureza
é lipídica e depende da atuação regular dos sais biliares, assim quando estes sais
estão diminuídos ou há alguma obstrução que impede a chegada dos sais biliares
ao intestino fica reduzida a absorção de vitamina K. Outra situação que pode
levar à deficiência da vitamina K é a utilização prolongada de antibióticos,
eliminando a flora bacteriana normal do intestino, responsável pela produção
desta vitamina, ou em hepatopatias que podem prejudicar a utilizar desta
vitamina. Clinicamente, as manifestações e o tratamento são semelhantes à
intoxicação por dicumarínicos. A saber, os fatores da coagulação dependentes da
vitamina K para serem ativados são II, VII, IX e X.
 Hepatopatias graves: tendo em vista que o fígado é o principal local de produção
da maioria dos fatores da coagulação, caso este se encontre gravemente
comprometido, também estará comprometida a produção dos fatores da
coagulação. Clinicamente só ocorrem manifestações nos casos de hepatopatias
bastante graves. Um teste utilizado para avaliar esta condição é o teste de
depuração da bromosulfaleína, o qual aparece com tempo aumentado, e ainda a
determinação da atividade do fator VII (proconvertina), pois este é o fator da
coagulação que apresenta a vida média mais curta em comparação aos demais,
sendo útil no diagnóstico diferencial entre hepatopatias aguda ou crônica. É
válido citar que em gatos com lipidose hepática, as alterações nos fatores da
coagulação são observadas em cerca de metade dos animais.
 Deficiência do fator X: esta deficiência é transmitida por um gene recessivo.
Nos casos dos homozigotos, estes nascem mortos ou morrem logo após o
nascimento, devido a hemorragias no cordão umbilical ou nas cavidades
corporais. Os heterozigotos possuem defeito discreto, geralmente observado
apenas após cirurgias; neles, entre 10 e 65% têm atividade normal do fator X.
Afeta cães das raças Cocker Spaniel e Jack Russel Terrier.
 Deficiência do fibrinogênio: a deficiência do fibrinogênio geralmente se deve a
CID ou doenças graves do fígado. A deficiência congênita do fibrinogênio é
rara, mas já foi descrita em cães e caprinos, com sintomas de hemoartrose,
sangramento umbilical, nas mucosas e tecido subcutâneo. A intoxicação por
heparina pode disfarçar a deficiência do fibrinogênio.

Coagulação Intravascular Disseminada (CID)

É considerada uma síndrome adquirida, na qual ocorre a ativação conjunta dos


mecanismos de coagulação e também de fibrinólise no interior dos vasos sanguíneos,
por isso é considerada um indicador de mal prognóstico.
Sua ocorrência é sempre secundária à presença de outra patologia, geralmente grave,
como uma neoplasia, doenças metabólicas ou infecções que acompanham toxemia (pois
as toxinas bacterianas são capazes de ativar o fator XII da coagulação). A manipulação
excessiva dos órgãos com lesões vasculares significativas, como ocorre nas
queimaduras, cirurgias cruentas e determinadas viroses também podem desencadear a
CID, por estimularem a liberação da tromboplastina tissular (fator III).
Picadas de certos animais peçonhentos e hemoparasitos também podem desencadear a
CID por provocarem uma reação em cadeia por meio da liberação do ADP presente no
interior dos eritrócitos. ADP estimula a agregação plaquetária e a ativação das
plaquetas, o que ativa o fator XII e leva a uma coagulação exacerbada, pois não a
cessação do estímulo.
As lesões vasculares determinadas por estas causas provocam o início da coagulação no
interior dos vasos sanguíneos, e a fibrina formada logo estimula a fibrinólise.
Consequentemente a estes estímulos, agindo em conjunto e de modo desequilibrado,
podem ocorrer hemorragias importantes, localizadas ou generalizadas, em mucosas,
boca, trato gastrointestinal, urogenital e sistema neurológico, levando o animal a óbito.
Portanto, a instalação da CID representa risco de morte para o paciente, por isso ela
deve ser tratada como uma emergência e clinicamente, as petéquias podem ser o único
sinal observado. Nos exames laboratoriais são observados megatrombócitos (devido à
regeneração medular) e fragmentos de eritrócitos (devido à eritrólise provocada pelas
redes da fibrina no interior dos vasos) nos esfregaços sanguíneos. A contagem de
plaquetas encontra-se bastante diminuída em contraponto ao número de megacariócitos
presentes na medula óssea, que se encontra aumentado. Esta última característica faz
com que a CID seja designada por muitos como coagulopatia de consumo.
Além da diminuição drástica na contagem de plaquetas, na CID observa-se o TAP e
TTPA frequentemente aumentados, e deve-se proceder à pesquisa de PDFs
(produtos de degradação da fibrina) ou dímeros da fibrina na corrente sanguínea, o que
pode ser feito utilizando-se kits comerciais específicos.
PLASMA

É a porção líquida do sangue que permite inúmeras avaliações bioquímicas devido à


sua composição bastante heterogênea, contendo açúcares (especialmente glicose),
proteínas diversas, lipídios, hormônios, minerais e microminerais.
As avaliações do plasma realizadas simultaneamente ao hemograma são as
proteínas plasmáticas totais (PPT), o fibrinogênio (F) e índice ictérico (II). Essas
determinações são realizadas em conjunto ao exame de sangue devido à facilidade de
realização e aproveitamento do tubo capilar utilizado para aferição do hematócrito .

PROTEÍNAS PLASMÁTICAS TOTAIS (PPT)

Referem-se a todas as proteínas do plasma, que são compostas pela albumina e pelas
globulinas. As determinações das proteínas plasmáticas totais em acompanhamento ao
hemograma são úteis para avaliação dos líquidos e eletrólitos, e ainda no diagnóstico de
anemia.
A albumina é a proteína mais abundante do plasma, pois representa entre 35 a 50% de
todas as proteínas encontradas. Ela é sintetizada pelo fígado, assim como a maioria das
demais proteínas, em uma taxa diária de 150 a 200 mg/kg em todas as espécies de
animais domésticos, a meia vida emcães é de 8 dias; a taxa de produção da albumina
nunca é elevada, mas pode haver diminuição em problemas hepáticos, por exemplo. As
funções da albumina são:
 Manter a pressão oncótica do plasma, onde se pode dizer que a albumina é
responsável por cerca de 75% da manutenção dos líquidos no interior dos vasos
sanguíneos;
 Servir como o maior reservatório de aminoácidos do organismo;
 Transportar a maior parte dos componentes do plasma, exceto aqueles que
possuem substâncias específicas para seu transporte, por exemplo, o ferro e o
cobre.

Já as globulinas são proteínas que migram conjuntamente em campos elétricos através


de eletroforese em acetato de celulose constituindo famílias, divididas em alfa (α), beta
(β) e gama (γ) de acordo com seu tamanho e carga elétrica. As proteínas são em geral
negativas, sendo a albumina fortemente negativa e as globulinas fracamente negativas.
As principais globulinas são:
 Alfa (α): antitripsina, que inibe a tripsina; HDL (lipoproteína de alta densidade),
VLDL e LDL (lipoproteína de baixa densidade), todas transportam lipídios; α2-
macroglobulina que se liga à insulina; eritropoetina, que estimula a eritropoese e
a trombopoese; ceruloplasmina, transportadora do cobre; e haptoglobina, que se
liga à hemoglobina livre.
 Beta (β): transferrina, que transporta o ferro; hemopexina, que se liga ao heme
(da hemoglobina); C3 e C4, fatores do sistema complemento; plasminogênio,
componente da fibrinólise; e o fibrinogênio, participante da coagulação e
processos inflamatórios.
 Gama (γ): são as imunoglobulinas, ou seja, os anticorpos. São diversos
anticorpos, diferenciados conforme as espécies animais e outras características.

A importância da avaliação da PPT em um exame de sangue deve-se especialmente às


suas alterações quantitativas, referidas como hiperproteinemia, quando o nível de
proteínas circulantes no plasma é maior do que o esperado; e, hipoproteinemia, quando
ocorre o oposto, ou seja, o nível de proteínas é menor do que o esperado. Outro fator
que influência significativamente este parâmetro é a idade do animal:
 Canino com menos de 3 meses: 4,0 a 6,0 g/dl
 Canino entre 3 e 6 meses: 5,0 a 6,5 g/dl
 Canino entre 6 e 12 meses: 5,0 a 7,0 g/dl
 Canino com mais de 1 ano: 6,0 a 8,0 g/dl
 Felino até 6 meses: 4,5 a 7,8 g/dl
 Felino com mais de 6 meses: 6,0 a 8,8 g/dl

A gestação desencadeia uma diminuição dos níveis de albumina e um aumento nas


globulinas, o que pode levar a um resultado final de aumento na PPT. Estas globulinas
produzidas a mais têm a finalidade de ser encaminhadas para o colostro, o que ocorre
com o término da gestação. De acordo com a migração das globulinas para o colostro e
o retorno gradativo da albumina ao ser valor normal, a PPT também se restabelece,
voltando aos valores encontrados anteriormente.
Já entre as causas patológicas de alteração da proteína temos aquelas que levam à
hiperproteinemia e aquelas que levam à hipoproteinemia. Entre as causas patológicas de
hiperproteinemia estão:
 Desidratação: a perda de líquidos acarreta um aumento relativo, isto é, falso, das
proteínas plasmáticas; nessas situações também há aumento relativo do número
de hemácias, levando a uma hemoconcentração.
 Processos infecciosos: especialmente os crônicos, os quais elevam a PPT
proporcionalmente à resposta imunológica que induzem.
 Processos imunomediados: que desencadeiam a elevação da PPT por aumento
da(s) globulina(s) envolvida com o processo imunomediado em questão.
 Pós-vacinação: as vacinas estimulam a resposta imunológica do animal, assim
aumentos da PPT podem ocorrer devido a este estímulo, que não é
necessariamente patológico.

A concentração elevada de outros metabólitos do sangue como a glicose, ureia, sódio ou


cloretos pode causar um falso aumento da PPT. Sendo necessária esta informação para
avaliação do quadro real do animal. Já a hipoproteinemia pode ocorrer em diversas
ocasiões, entre elas:
 Desnutrição: nas situações de desnutrição, nas quais o animal não adquire
proteínas suficientes em suas fontes alimentares para atender a demanda do
organismo, não há sinterização adequada nem da albumina nem das globulinas.
 Insuficiência pancreática: do tipo exócrina, na qual o animal pode até se
alimentar adequadamente, mas como não consegue absorver as proteínas sofre
de hipoproteinemia. Na pancreatite ocorre deficiência da tripsina, enzima
responsável por desdobrar as proteínas em aminoácidos no trato gastrointestinal
para que estas possam ser absorvidas.
 Insuficiência hepática: suficiente para causar hipoproteinemia somente quando
pelo menos 80% do parênquima hepático encontram-se afuncionais, impedindo
a síntese adequada de proteínas, principalmente a albumina.
 Hemorragias agudas ou crônicas: as quais levam à perda de todos os
componentes do sangue, inclusive as proteínas.
 Enfermidades exsudativas: que levam à perda de líquidos corporais sem que
ocorra necessariamente a perda de células sanguíneas em conjunto, por
exemplo, queimaduras da pele, que quanto mais extensas, pior ou em
gastroenteropatias com perda proteica na diarreia.
 Nefropatias: os rins são responsáveis por impedir a perda de proteínas pela
urina, no entanto quando estes já não funcionam devidamente, há a perda de
proteínas pela urina, conhecida como proteinúria.
 Outras situações que podem levar à hipoproteinemia são neoplasias invasivas ou
situações de imunodeficiência que levem o animal a ausência ou diminuição da
produção de anticorpos, conhecidas respectivamente como agamaglobulinemia
ou hipogamaglobulinemia.

FIBRINOGÊNIO

O fibrinogênio plasmático é uma betaglobulina produzida e estocada nos hepatócitos,


com vida média no plasma de três dias e meio. Sua principal função é participar da
coagulação, como o fator final, que responde a ativação em cascata de todos os outros,
transformando-se em fibrina. Outra função do fibrinogênio é participar dos processos
inflamatórios ou infecciosos, agindo como uma barreira física, que restringe o processo,
evitando que haja sua disseminação pelo organismo. As alterações quantitativas do
fibrinogênio são chamadas de hiperfibrinogenemia, quando este se encontra elevado, e
hipofibrinogenemia, quando este se encontra diminuído. Situações que elevam os níveis
plasmáticos do fibrinogênio, causando hiperfibrinogenemia, incluem:
 Desidratação: que acarreta um aumento falso, ou seja, relativo, do fibrinogênio.
 Processos inflamatórios: consideram-se todos, tanto de origem bacteriana,
química ou traumática, e inclusive fraturas e neoplasias; pois o fibrinogênio se
mantém elevado desde a fase aguda a crônica de um processo como estes.
 Cão: no cão existem algumas patologias, nas quais é mais frequente que ocorra a
hiperfibrinogenemia, são elas: piometra, cinomose, parvovirose (na fase
bacteriana), erlichiose, insuficiência renal, pneumonia, necrose pancreática,
leptospirose e peritonite.
 Gato: no gato, as patologias em que mais ocorre hiperfibrinogenemia são
piometra, peritonite, obstrução uretral e otite interna.

A hipofibrinogenemia é causada por outras alterações, tais como a presença de coágulo


no amostra; a presença de hepatopatia severa, que compromete no mínimo 80% do
parênquima hepático tornando-o afuncional e incapaz de sintetizar o fibrinogênio; ou
ainda a ocorrência de CID, que leva à hipofibrinogenemia por excesso e rapidez de
consumo do fibrinogênio, assim como das plaquetas e demais fatores da coagulação.
Outro fator considerado importante por muitos autores é a relação que existe entre as
proteínas plasmáticas e o fibrinogênio, a chamada relação PP:F. Esta relação é utilizada
como indicador de desidratação ou processo inflamatório nos casos de aumento do
fibrinogênio, servindo para diferenciá-los e esclarecer se o aumento é falso ou
verdadeiro. Vale ressaltar que a relação PP:F só tem valor quando há
hiperfibrinogenemia.

ÍNDICE ICTÉRICO

Refere-se à cor do plasma, cuja coloração normal é amarelo pálido ou quase


transparente. O principal pigmento encontrado no plasma é a bilirrubina, oriunda da
destruição regular dos eritrócitos, a qual pode ser observada como bilirrubina direta
(BD) ou indireta (BI). Por isso, este tom amarelado pode se tornar mais intenso nos
processos de icterícia, tais como:
 Icterícia pré-hepática ou hemolítica: ocorre quando há um aumento da
destruição dos eritrócitos e consequente aumento da quantidade de BI
formada. No entanto, parte desta bilirrubina não consegue ser conjugada pelo
ácido glicurônico nos hepatócitos permanecendo em excesso no sangue. Assim,
a BD (hidrossolúvel) recém-formada migra para o intestino, forma os
bilinogênios e é excretada pelas fezes (estercobilinogênio) e pela urina
(urobilinogênio), enquanto a BI não consegue ser eliminada por ser lipossolúvel.
Nesses casos observa-se: BI elevada no sangue, urobilinogênio elevado, mas
sem bilirrubina na urina (urina acolúrica).
 Icterícia hepática: nesta forma de icterícia o número de eritrócitos destruídos é
normal, portanto a quantidade de BI também é normal, no entanto, o fígado
encontra-se alterado (por um processo inflamatório, tóxico ou degenerativo) e
não consegue conjugar adequadamente a BI que chega a ele, provocando sua
elevação no sangue. Além disso, a porção de BD que foi conjugada com o ácido
glicurônico não consegue deixar o fígado através dos canalículos biliares
(tumefeitos ou necrosados) e acaba retornando para o sangue, provocando
aumento da BD circulante também, só que a BD é hidrossolúvel e consegue ser
eliminada diretamente pelos rins. Parte da BD que acessa o intestino é
convertida e eliminada na forma de bilinogênios. Portanto, nesses casos observa-
se: BD e BI elevadas no sangue, urobilinogênio normal ou diminuído, com
bilirrubina na urina (urina colúrica).
 Icterícia pós-hepática ou obstrutiva: aqui não há alterações na destruição de
eritrócitos ou no fígado, mas sim no ducto biliar, que se encontra obstruído
parcial ou totalmente por um tumor, cálculo ou parasito. Assim, toda BI formada
é devidamente conjugada em BD, porém esta não consegue deixar o fígado,
retornando ao sangue. A BD em excesso é eliminada pela urina, enquanto pouco
ou nenhum dos bilinogênios é formado no intestino. As observações nesses
casos são: BD elevada no sangue, urobilinogênio diminuído ou ausente, e urina
colúrica.

As outras alterações observadas na cor do plasma incluem a ausência de cor, a hemólise


e a lipemia. A ausência de cor ou o plasma incolor ocorrem quando a destruição de
hemácias está muito reduzida, o que acontece em situações de depressão da medula
óssea, quando a produção é diminuída e consequentemente a destruição também. Na
hemólise, o plasma torna-se avermelhado devido à liberação da hemoglobina, no
entanto é necessário diferenciar se a hemólise ocorreu no animal (in vivo) ou no
tubo de coleta (in vitro).
A lipemia é o índice da quantidade de gordura no sangue. Ela pode acontecer após a
ingestão de alimentos, até duas ou 12 horas após, chamada de lipemia
pós-prandial; nas hepatopatias, quando não ocorre o metabolismo da gordura; na
diabetes mellitus, porque a deficiência de insulina prejudica o uso da glicose pelos
tecidos e organismo busca uma nova fonte energética através da gliconeogênese.

COLETA DA AMOSTRA

A coleta de uma amostra de sangue é tão importante quanto a realização do exame em si, pois
uma coleta mal feita pode levar à rejeição da amostra por um laboratório ou pela obtenção de
resultados não confiáveis. O nome técnico para a punção de uma veia é flebotomia.

ANTICOAGULANTES
O EDTA, cuja sigla significa ácido etileno diamino tetracético, realiza o sequestro de cálcio
impedindo a coagulação sanguínea. A contagem dos eritrócitos, leucócitos ou reticulócitos, a
dosagem de hemoglobina e o hematócrito não mostram variações por até 48 horas em
sangues coletados com EDTA mantidos sob refrigeração.
A heparina impede a conversão da protrombina em trombina e mantém o sangue efetivo por
10 a 12 horas, porém uma de suas desvantagens é o custo, mais caro que o EDTA. A heparina
pode ser usada para as contagens de eritrócitos, mas não é recomendada para leucócitos, pois
interfere sobre eles causando sua agregação, alterando sua morfologia e dificultando sua
contagem. Este anticoagulante não é recomendado para testes de coagulação devido ao seu
mecanismo.
O citrato de sódio 3,8% não é utilizado para hemogramas, pois provoca deformação
morfológica das células sanguíneas. Os outros anticoagulantes são utilizados com outros fins,
que não a realização de hemogramas, entre eles estão o fluoreto de sódio, oxalato de cálcio,
oxalato de potássio, oxalato de amônia, entre outros.

COLETA AS DIFERENTES ESPÉCIES

As principais veias utilizadas para coleta de sangue nos animais são a jugular, localizada no
pescoço; a cefálica, localizada nos membros anteriores e a safena, localizada nos membros
posteriores. Contudo, esta preferência varia com a espécie e o porte do animal em questão.
O volume globular, isoladamente, também serve como critério para determinar a
necessidade ou não de um animal receber uma transfusão sanguínea. Para isso são tomados
valores como indicadores da necessidade de transfusão, os quais variam entre as espécies:
 Gatos: Ht ≤ 10%;
 Cães: Ht ≤ 12%.

INTERPRETAÇÃO DE HEMOGRAMAS

Caninos

 Possuem o maior eritrócito entre os animais domésticos (VGM entre 60 a 77 fl.) e


apresentam fisiologicamente uma pequena anisocitose, observada na forma de
policromatofilia (até 1,5% dos eritrócitos circulantes dos cães podem ser reticulócitos);
 Situações que levam à perda de sangue geralmente desencadeiam respostas
rápidas da medula óssea, com incremento do número de células jovens;
 A poiquilocitose é observada inespecificamente em diversas doenças;
 O hematócrito deve ser interpretado cuidadosamente em função da agitação do
animal no momento da coleta e uma possível esplenocontração;
 Elevação do número de neutrófilos devido à agitação durante a coleta (migração de
células do pool marginal para o pool circulante); no cão, essas populações de células
são equivalentes;
 Neutrofilia com número de linfócitos próximo ao limite inferior (situação conhecida
como leucograma de estresse) ocorre especialmente em circunstâncias de liberação
prolongada de corticoides, como internações, por exemplo;
 Respostas rápidas e exacerbadas aos processos inflamatórios, alcançando neutrofilias
superiores a 20 mil células, com presença de bastões ou metamielócitos (o desvio
nuclear à esquerda é mais comum no cão do que nas demais espécies);
 A toxemia dos neutrófilos é geralmente observada na forma de basofilia
citoplasmática;
 Tratamentos longos com corticoides geralmente acarretam linfopenia persistente (pois
os linfócitos dos cães são particularmente mais sensíveis à ação destas drogas),
monocitose constante e presença de neutrófilos hipersegmentados.

Felinos

 Possuem eritrócitos significativamente menores do que os cães (VGM entre 39 e 55


fls.);
 A presença de esporádicos eritrócitos nucleados ocorre devido ao grande nível de
estresse desses animais (esplenocontração durante as coletas), presença de maior
número destas células é observada em anemias ferroprivas ou mielopatias;
 Os corpúsculos de Heinz são frequentemente observados e nem sempre representam
alterações;
 Gatos respondem prontamente às alterações ambientais com respostas leucocitárias;
 Situações de estresse levam à leucopenia e eosinopenia;
 Excitações levam à leucocitose, com linfocitose que pode ultrapassar o número de
neutrófilos;
 A neutrofilia observada nos gatos pode superar aquela vista nos cães, pois o pool
marginal destes é três vezes maior do que o circulante, contudo, o desvio à esquerda
geralmente não é tão evidente como no cão;
 A toxemia é geralmente observada nos neutrófilos na forma de corpúsculos de
Döhle.

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